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O Começo Depois do Fim – Cap. 232 – Pilar Vacilante

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Meu tempo com Sylvia passou pela minha mente, e revivi o tempo que passei com ela em um instante. Os poucos meses que passamos juntos formaram laços que geralmente não seriam construídos em tão pouco tempo.

Talvez seja porque havia pouco que eu tinha reencarnado nesse mundo, mas para um homem adulto nascido no corpo de uma criança, Sylvia se tornou meu consolo. Na frente dela, poderia realmente agir como eu mesmo, e para ela, mesmo combinando minha idade das duas vidas, ainda era apenas uma criança.

Até hoje, um dos meus maiores arrependimentos foi deixar Sylvia. Era jovem e fraco na época, mas ainda pensava nisso, o que teria acontecido se eu tivesse ficado. Ela estaria viva hoje? Ainda estaria comigo agora?

No começo, não queria nada mais do que vingança por ela. A mensagem que ela transmitiu para mim sobre aproveitar esta vida fez pouco para diminuir a raiva que eu sentia do ser demoníaco responsável por sua morte. No entanto, com o passar do tempo, a sede de vingança foi se dissipando lentamente.

Mentia para mim no começo, pensando que não poderia fazer nada porque era muito fraco. Então, treinei e treinei. Fui à academia para treinar e aprender e até mesmo fui a Epheotus para aprender com os Asuras. Contudo, estando cara a cara com o responsável por tudo isso, senti muita culpa e raiva.

Estava com mais raiva de mim mesmo, por pensar pouco em Sylvia atualmente, do que com a Foice na minha frente, o responsável pela morte de Sylvia.

— É você. — fervi, segurando o punho da minha espada para manter minhas mãos firmes. — Aquela noite! Você foi aquele que…

Minhas próximas palavras congelaram dentro da minha boca quando olhei para trás da Foice em uma parede mais distante. Perto dela, a forma inclinada de Virion, mortalmente pálida e imóvel, estava esparramada sobre uma pilha de escombros. Bairon sentou-se ao lado dele e estava perdendo a consciência.

— Eles estão vivos, por enquanto. Disse a Foice.

Dei outro passo em frente, pressionando a Canção do Amanhecer contra a garganta acinzentada dele. Uma aura geada cobriu minha lâmina junto com magias de vento e raio conforme eu alimentava mais e mais meu feitiço.

O Foice permaneceu imperturbável enquanto as auras elementais irradiavam da minha arma logo abaixo de sua mandíbula afiada, em vez disso, estava me estudando com interesse.

— É impressionante ver você empunhando mana em um grau tão proficiente, mesmo que seja devido a Lady Syl…

Seu corpo borrou a alguns metros de distância, esquivando-se da explosão elemental liberada da minha lâmina com velocidade e precisão desumanas. O castelo retumbou em protesto quando suas paredes reforçadas por mangueiras racharam e se estilhaçaram.

— Não se atreva a dizer o nome dela. — Gritei, preparando-me para atacar novamente.

Gavinhas de mana se enrolaram no meu entorno, sua intensidade refletindo minhas emoções. O chão embaixo de mim desmoronou com a pressão balançando mais uma vez, desenhando um arco azul-petróleo no ar.

Meu oponente ficou parado, porém, deixando minha lâmina cortá-lo, ou assim pensei.

O corte que minha espada havia feito em seu pescoço ardeu em chamas antes de fechar em ferida como se não existisse.

Por meio de Realmheart, pude dizer que ele estava manipulando suas chamas negras em um grau tão alto que podia se tornar quase intangível, como fumaça.

— Arthur! — Sylvie gritou através de nosso vínculo telepático, acabando de chegar.

— Sylv! Ajude Virion! — Pedi, meu olhar mudando para frente e para trás entre o avô de Tessia e a Foice parado a apenas alguns metros na minha frente.

— E você? Você não pode vencê-lo sozinho! — respondeu.

— Virion vai morrer se você o deixar assim! — Querendo manter a atenção da Foice em mim, comecei uma onda de ataques, não apenas com minha espada, mas com todos os elementos que havia em meu arsenal. Lancei rajadas de vento, de raios, de fogo azul, mas nada parecia feri-lo.

Após um momento de hesitação, Sylvie correu em direção a Virion e Bairon.

Tudo que conseguia pensar era em ganhar tempo enquanto meu vínculo curava os outros. Juntei tanto mana ambiente quanto minha mana em minha mão para acender uma chama branca. Com o poder e controle que ganhei com o núcleo branco, liberei o feitiço, congelando o Foice em uma tumba de gelo.

Ele, com seus mais de dois metros de altura, vestido com uma armadura negra reluzente, estava envolto em uma tumba de gelo. Sua expressão, mesmo congelado, permaneceu arrogante e indiferente.

Com um grito, disparei um raio de relâmpago no meu oponente congelado, despejando energia e poder no feitiço até que toda a sala foi coberta por uma névoa de gelo.

Se não fosse por Realmheart, não teria visto a Foice atacar diretamente no meu rosto.

Esquivei, xingando em minha cabeça.

Cada luta anterior contra um dos Retentores tinha deixado eu e Sylvie quase mortos. A luta contra Uto teria nos matado se não fosse pela Foicea, Seris. Mas desta vez era diferente.

Mesmo contra uma Foice, seres divinos capazes de usar artes de mana conhecidas apenas pelos Asuras dos clãs do basilisco, estava sendo capaz de me virar.

Esquivar-se do punho revestido de fogo da Foice, no entanto, fez-me perceber que ele parecia estar se segurando. Não tive tempo de considerar o porquê, apenas para aceitar que era verdade e tentar capitalizar sobre isso.

O mundo mudou de um tom monocromático para sua versão negativa conforme acendi o Vazio Estático, parando o tempo. Ignorei o doloroso estresse causado pelo uso da habilidade e me reposicionei para ficar atrás dele.

Sabia que isso não era suficiente. Não importava se não pudesse se esquivar do meu ataque, ele não precisava.

As partículas de mana na atmosfera eram todas incolores, incapazes de ser usadas no vazio do tempo congelado, o que fazia com que as partículas roxas do éter se destacassem ainda mais.

Lady Myre me disse que, embora eu pudesse sentir o éter devido à minha afinidade com todos os quatro elementos, talvez eu nunca fosse capaz de controlá-lo conscientemente sem o poder emprestado do Vazio Estático.

Ficando sem tempo e sem ideias, tentei mesmo assim. Por mais louco que pareça, chamei as partículas flutuantes de éter para me ajudar de alguma forma. Gritei, implorei, rezei dentro do reino congelado e apenas quando pensei que nada iria funcionar, algumas das partículas começaram a se reunir em torno da Canção do Amanhecer, revestindo sua lâmina com uma fina aura roxa.

Com medo de que esse poder se dissipasse em breve, imediatamente liberei o Vazio Estático e balancei minha lâmina revestida de éter.

Apesar de parar o tempo, a Foice parecia saber exatamente onde eu estava, como se esperasse que eu usasse o Vazio Estático.

O que ele não esperava, no entanto, era que meu próximo ataque fosse infundido com éter.

A Canção do Amanhecer brilhou em um crescente roxo. O próprio tecido do espaço parecia deformar em torno da minha lâmina passando pela Foice, deixando um grande corte oco.

Seu olhar de indiferença azedou enquanto grunhia de dor. Apertou o peito e o sangue jorrou entre seus dedos.

Só com aquele ataque, minha mente girou e meus braços ficaram pesados. Uma dor arrepiante irradiou do meu núcleo de mana, mas fui capaz de levantar minha espada a tempo de bloquear o golpe de uma mão envolta em chamas negras.

O Foice agarrou a Canção do Amanhecer em sua mão em chamas, olhando para mim com olhos cheios de fogo negro e ódio.

Tentei puxar minha espada de seu alcance, mas não tive força. Só pude assistir enquanto o mesmo fogo se espalhava da mão dao Foice para a Canção do Amanhecer, e sua brilhante lâmina verde-azulada se embotava e ficava cinza.

Assim que as chamas negras a envolveram completamente, se estilhaçou na mão do Foice.

— Isso é pelo ferimento. — disse com raiva.

Afastei-me, colocando alguma distância entre nós agarrando o punho quebrado de minha amada espada.

A Foice não perseguiu. Em vez disso, virou-se para onde Sylvie, Bairon e Virion estavam.

— Suas artes do éter ainda não são fortes o suficiente para curar suas feridas, Lady Sylvie.

— Cale-se! — Bati, conjurando e condensando várias camadas de gelo para fazer uma espada.

— Embora eu esteja confiante de que serei capaz de derrotá-lo, temo que este castelo entre em colapso durante o processo. — afirmou ele, olhando de soslaio para mim. — Abandone esta fortaleza e eu recuperarei o fogo da alma que está consumindo suas vidas.

Meu corpo ficou tenso, sem vontade de acreditar nele.

— Você só vai nos deixar ir?

Tinha certeza de que Sylvie e eu poderíamos nos defender contra ele, mas uma batalha prolongada significaria a morte certa para Virion e Bairon.

— Já completei minha tarefa aqui, e já faz muito tempo que um ser inferior conseguiu me ferir.

— Arthur. Ele tem razão. Eu não posso curá-los e usei muita força antes tentando salvar o Ancião Buhnd.

Apesar das palavras do meu vínculo, não baixei minha guarda. Com Realmheart ainda aceso e minha espada de gelo conjurada pronta para atacar o Foice, fiz a ele a única pergunta que realmente importava:

— A Princesa Tessia Eralith, Alice Leywin e Eleanor Leywin ainda estão vivas?

O sorriso predatório dele enviou calafrios na minha espinha.

— A princesa, junto com sua mãe e irmã, estão seguras. Você descobrirá mais no momento apropriado, se decidir aceitar minha oferta.

A espada de gelo se dissipou e eu liberei Realmheart. Suas palavras se acomodaram em meus ombros com o peso do castelo em colapso, quase me deixando de joelhos.

Meu maior medo havia se concretizado. Meus entes queridos foram levados, ferramentas para serem usadas contra mim nesta guerra, e foi inteiramente minha culpa.

— Onde eles estão? O que você fez com eles? — queria que fosse um comando, mas minha voz saiu como um gemido.

— Não é minha função dizer a você. Disse ele, virando-se de mim e caminhando em direção a Virion e Bairon.

 

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Voei em silêncio ao lado de Sylvie, que carregava Virion e Bairon em suas costas. O castelo foi ficando menor e menor atrás de nós enquanto abandonávamos seus destroços em ruínas, derrotados.

— Arthur, sua família vai ficar bem. — Sylvie me assegurou, seus pensamentos eram gentis e consoladores.

Cerrei meus punhos para evitar que tremessem.

— Tenho que salvá-los, Sylv. Não importa o que aconteça, não posso deixar o que aconteceu com meu pai acontecer com minha mãe, com … com Ellie.

— Eu sei. Vamos fazer tudo o que pudermos.

Acampamos em uma área remota a alguns quilômetros a nordeste de Etistin, perto do rio Sehz. A visão de nós, duas lanças e o comandante, no estado em que estávamos criaria pânico em massa.

Fiz uma fogueira e conjurei uma tenda de pedra para me proteger enquanto Sylvie começava a curar Virion e Bairon novamente. Depois de cerca de uma hora ou mais, a respiração dos dois foi ficando mais regular até que simplesmente adormeceram. Sylvie e eu sentamos lado a lado em frente ao fogo, perdidos na dança da chama.

Superficialmente, tudo parecia calmo, mas, por baixo, eu era uma confusão de emoções agitadas, selvagens e raivosas. Sentar e fazer nada além de esperar me consumia, mas nós dois estávamos perdidos.

Nenhum de nós disse nada por um longo tempo. O sol havia se posto; nosso acampamento estava iluminado apenas pela luz laranja do fogo. Cutuquei com um pedaço de pau, não porque precisava, mas porque ficaria louco se não estivesse fazendo algo.

— O que faremos agora? — Sylvie perguntou baixinho, lendo meus pensamentos.

— Encontrar Tess, Ellie e minha mãe. Respondi.

Meu vínculo se voltou para mim, seus olhos brilhantes de topázio refletindo a luz do fogo. Podia sentir sua incerteza e, apesar de seus melhores esforços para evitar que seus pensamentos vazassem, pude ouvir a pergunta que ela queria fazer: A guerra acabou?

Era quase impossível mentir para alguém quando vocês compartilhavam os sentimentos e podiam ouvir os pensamentos um do outro. Entre nós havia uma teia de emoções confusas, e era difícil dizer onde meus pensamentos terminavam e os dela começavam.

Um gemido de dor chamou nossa atenção nos fazendo virar nossas cabeças para o rumo da tenda.

Era Virion. Ele esfregou a cabeça por um momento antes de se levantar rapidamente. Uma aura sinistra o envolveu enquanto acendia sua vontade de fera.

— Virion. Virion! Está tudo bem. — disse, meus braços erguidos diante de mim.

Desorientado, o comandante levou um momento para inspecionar os arredores antes de finalmente perceber que não estávamos no castelo.

— O que… o que aconteceu, a Foice! — ele engasgou. — Meu filho! Tessia! Buhnd! Temos que ajudá-los.

Passei meus braços em volta de Virion, abraçando-o com força. Lutou, tentando se livrar do meu aperto, freneticamente me dizendo que precisávamos voltar.

Quando se acalmou, Virion chorou. O comandante, o próprio pilar de Dicathen, quebrou completamente.

Pensei na pergunta não feita de Sylvie quando abracei Virion, com lágrimas escorrendo dos meus olhos também.

Se a guerra não estava acabada, com certeza tinha um sentimento de que estava. Parecia que os Alacryanos haviam vencido. Não apenas parecia que eles tinham vencido, mas também como Agrona havia nos superado em todas as jogadas. Eu fui tão arrogante…

O que foram meras duas vidas mortais de experiência quando comparadas com a vida intelectual e repleta em sabedoria de um antigo Asura?

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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