Fiquei maravilhado com a conjuração de um fenômeno tão vasto, ainda mais porque foi feito por apenas uma pessoa. Parecia provável que a General Varay já estivesse exausta, mas o trabalho fora bem executado.
Estava curioso para saber o tipo de estratégia que Virion e o resto do Conselho haviam planejado para utilizar este campo de gelo. Recebi informações mínimas sobre as formações, desdobramentos e manobras específicas das tropas antes de deixar o castelo. Esperançosamente, o General Bairon ajudaria a esclarecer os detalhes.
— Pronto para subir, General? — Curtis perguntou.
Assentindo, segui o príncipe até o único lance de escadas que levava ao andar de cima, Sylvie logo atrás de mim. No topo da escada, entramos no que presumi ser o centro estratégico para a batalha aqui, e fui imediatamente lembrado das salas de situação de meu tempo como Gray na Terra.
Havia fileiras de mesas com pessoas sentadas em frente a grandes pilhas de pergaminhos de transmissão em vez de computadores. Eles estavam todos virados para o centro da sala circular com uma visão do General Bairon, que estava em um pódio elevado que estava olhando para uma grande mesa de barro com uma superfície irregular e um grande orbe de vidro empoleirado no topo de um artefato intrincado. Ao redor deste artefato havia mais de uma dúzia de magos em espera.
Enquanto estava curioso sobre o propósito do orbe claro, interessava-me mais a mesa de barro, que rapidamente percebi ser uma representação aproximada do futuro campo de batalha. Um mago anão estava ao lado da mesa, as mãos erguidas sobre ela manipulando a terra para a forma apropriada.
O general Bairon Wykes, irmão mais velho de Lucas Wykes, estava discutindo algo sobre a marcha. Quando finalmente se virou para olhar para mim, sua expressão estava controlada, embora uma ligeira contração em suas sobrancelhas sugerisse a profunda animosidade que, tenho certeza, ainda turvava sob a superfície. Ainda assim, considerando que tentou me matar quando nos conhecemos, e teria conseguido se Olfred não o tivesse impedido, senti como se estivéssemos fazendo grandes avanços.
— General Bairon. — cumprimentei secamente, caminhando até a mesa de guerra.
— General Leywin. — respondeu ele, sem se preocupar em descer do pódio.
Estudei o layout da mesa de guerra, notando as pequenas figuras de barro que representavam as tropas.
— Estou presumindo que essas informações não são em tempo real, certo? — perguntei.
— Não, não é, General Arthur. — o anão respondeu respeitosamente. — Eu só sou capaz de avaliar e rastrear aproximadamente o progresso dos relatórios que recebemos via rolagem de transmissão.
— E o que é este orbe gigante? — perguntei, olhando para Bairon em busca de uma resposta.
— É um artefato que funciona como um meio para os adivinhos presentes. — respondeu ele.
— Como os adivinhos estão obtendo informações do campo de batalha?
— Esses magos que você vê aqui são desviantes de elite, capazes de adivinhar, compartilhando sentidos com suas bestas ligadas. Os adivinhos serão capazes de extrair imagens das mentes dos videntes e projetá-las no orbe. — respondeu Bairon, estreitando os olhos com suspeita. — Há mais alguma coisa que eu possa explicar para você, General Leywin?
— Não se preocupe, vou me juntar às outros Lanças no campo de batalha. Já recusei sua posição. — disse sarcasticamente, irritado com a atitude da Lança.
— Pelo menos você teve o cérebro para recusar. A vida de dezenas de milhares de soldados depende das escolhas feitas nesta sala. — retrucou Bairon. — Se você não consegue nem mesmo manter sua própria família viva, como evitará que os soldados morram desnecessariamente?
— O que você disse? — gritei, a raiva que carregava dentro de mim desde o momento em que vi os restos mortais de meu pai instantaneamente fervendo.
— Você me ouviu, garoto. — respondeu Bairon, um sorriso presunçoso aparecendo em seu rosto geralmente sério.
— Vocês dois, parem. — meu vínculo exigiu, ficando entre nós. — E retraiam suas manas.
Olhando em volta, pude ver que a pressão que Bairon e eu estávamos exercendo estava forçando as pessoas presentes na sala, todas as quais olhavam para nós com medo. Acalmando-me, olhei para Bairon enquanto erguia a mão.
— Dê-me os documentos de avaliação que você recebeu do Conselho e seguiremos nosso caminho.
Bairon relutantemente me entregou a pasta. Nele havia dezenas de páginas destacando informações relevantes e vários pergaminhos de transmissão.
Ansioso para sair da presença do general, fiz meu caminho até a saída, parando um pouco antes da porta que levava às escadas, Curtis e Sylvie ao meu lado.
— E o general Bairon? Para que os homens aqui não tenham a impressão errada, quero assegurar-lhes que estamos do mesmo lado. Todos cometemos erros e sofremos perdas. Nós dois perdemos membros da família nesta luta, não é?
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Passei pelas altas muralhas da cidade que marcavam a orla de Etistin empoleirado nas costas de Sylvie. Fui virado para trás, usando meu corpo como um quebra-vento para que pudesse ler as notas delineando a batalha que se aproximava. Abaixo de nós, fileiras de soldados marchavam pelas colinas que desciam para a baía de Etistin. Acima de nós, nuvens baixas e cinzentas estavam soprando, e eu podia sentir a umidade no ar.
Algo não está batendo certo, pensei comigo mesmo, meus olhos vasculhando o número estimado das forças Alacryanas que se aproximavam.
— O que há de errado? — Sylvie respondeu, percebendo minha preocupação.
— É que, se eu fosse o general Alacryano, não haveria nenhuma maneira de iniciar uma batalha em grande escala como esta.
Podia sentir a confusão do meu vínculo, então elaborei o que estava em minha mente.
Pelo que descobrimos, os Vritra estavam se preparando para esta guerra há muitos anos, desde o contrabando de espiões como a Diretora Goodsky à envenenamento e corrupção das bestas de mana. Eles manipularam os anões para apoiá-los e secretamente instalaram portões de teletransporte nas masmorras da Clareiras das Bestas.
Tudo isso aconteceu bem debaixo de nossos narizes, muito antes que Dicathen soubesse que outro continente existia!
Considerando isso, parecia contraintuitivo para eles abandonar repentinamente suas maquinações e nos encarar de frente.
Se os números que me foram fornecidos estivessem corretos, sua força era enorme e, como estavam chegando de navio, seus recursos eram limitados. A jornada aqui já deve ter esgotado seu suprimento de comida e água em uma quantidade considerável. Eles não tinham como reforçar ou reabastecer suas tropas, e não havia para onde recuar se nós reivindicássemos a vantagem.
Claro, seus magos especializados eram uma força militar mais bem lubrificada e coesa do que nossos soldados, dando-lhes uma vantagem em combate. Nós os superávamos em número, embora levasse tempo para mobilizar todas as nossas forças.
Estava pensando demais nas coisas? Talvez os Alacryanos só quisessem encerrar isso. Já sabia que Agrona queria evitar uma contagem desnecessariamente alta de mortes de ambos os lados, já que sua luta real era contra os Asuras em Epheotus, então talvez pensasse que alcançar a vitória em uma batalha formal como essa encerraria a guerra de forma limpa?
— Talvez você devesse ter assumido a posição de general estratégico. — sugeriu Sylvie depois de absorver todos os meus pensamentos sobre as informações que recebi. — Você tem uma mente estratégica mais forte do que Bairon, e nossos soldados merecem líderes que passarão suas vidas com sabedoria. Depois do que aconteceu na Muralha—
— Não. Bairon é um verdadeiro bastardo, mas ele não é nenhum Trodius. Ele é uma Lança e está certo. Não tenho uma mentalidade estável o suficiente para tomar esse tipo de decisão agora, não quando sei que cada uma de suas mortes seria causada pelas escolhas que faço.
Não poderia jogar xadrez usando a vida de nossos soldados como peões quando já me sentia responsável pela morte de meu pai.
— Concentre-se, Arthur. Temos uma guerra para terminar. — disse em voz alta, batendo em minhas bochechas.
Com o general Bairon comandando a batalha, eu era apenas um soldado com uma missão. De certa forma, isso era mais fácil. Minhas mãos ficariam ensanguentadas em vez de minha alma.
— Voe um pouco mais baixo, Sylv. — enviei para o meu vínculo, fechando a pasta que Bairon me dera e me virando.
Sylvie dobrou as asas e mergulhou até que pudesse ver as formas dos soldados marchando abaixo.
Com um aceno de meus braços, lancei uma rajada de fogo, em seguida, fios de raios entrelaçados através das chamas e, finalmente, conjurei uma série de lâminas de vento que perseguiram umas às outras em volta da conflagração, criando um espetacular show de luz elemental no céu.
Percebendo o que eu estava fazendo, Sylvie ergueu a cabeça e abriu sua grande mandíbula para soltar um rugido ensurdecedor.
Ouvindo os aplausos e gritos das tropas abaixo, não pude deixar de sorrir.
— Isso foi um pouco infantil da nossa parte, não? Perguntou meu vínculo, sua risada profunda vibrando pelas minhas pernas.
— De forma alguma, Sylv. A moral é um dos aspectos mais esquecidos, mas importantes, das batalhas em grande escala. — respondi.
Pouco depois, chegamos à baía de Etistin.
A primeira coisa que notamos foi a temperatura. Ao nos aproximarmos do campo conjurado de neve e gelo, senti um frio cortante comendo a fina barreira de mana que criei para me proteger sempre que voava.
Varay estava realmente em outro nível em comparação com o resto das outras Lanças. Embora eu gostaria de dizer que poderia derrotar Varay em uma batalha um contra um, não tinha certeza se conseguiria. Tinha a vontade de dragão de Sylvia, era um conjurador quadra elemental e minha destreza de luta talvez fosse incomparável em Dicathen, mas o poder de Varay e o controle sobre sua mana pareciam absolutos. Tê-la como aliada era incrivelmente reconfortante.
Sylvie pousou na soleira onde as praias costeiras se tornaram gelo. Era como se um terreno baldio congelado tivesse caído do céu, enterrando metade da baía no processo e deformando a terra ao redor; nuvens de hálito gélido ergueram-se das fileiras de infantaria já reunidas ao longo da praia enquanto permaneciam em silêncio tenso. O clima estava sombrio e havia um pressentimento sinistro pairando no ar frio.
Mesmo com os capitães gritando de encorajamento e tentando levantar o moral, quase pude ver o peso da morte que carregavam em seus ombros. Com tantos olhos em mim, aparentemente permaneci impassível, mas meu estômago revirou ao ver aqueles soldados todos alinhados, esperando para lutar e morrer. Tentei não insistir nisso. Tentei trazer de volta aquele estado desapegado e sem emoção em que confiei tanto durante minha vida como Rei Grey.
Alguns dos soldados pareciam tão jovens, muitos até mais jovens do que eu, e foram os rapazes e moças em particular que olharam para mim como se me implorassem para lhes transmitir forças para enfrentar a batalha que estava por vir. Encontrei seus olhos, tantos quanto pude, dando-lhes acenos de cabeça e sorrisos encorajadores, e gostaria de pensar que nossa presença deu esperança a muitos dos soldados.
— General Arthur, bem-vindo. — A voz fria e suave cortou a névoa flutuante como o facho de um farol, e toda a atmosfera pareceu mudar. A silhueta de uma mulher vestida de armadura apareceu, tão elegante e feroz como um leopardo.
— General Varay. — cumprimentei minha colega Lança com um sorriso genuíno.
Ela estendeu a mão, apertando a minha com firmeza. Poderia dizer que ela estava fazendo questão de mostrar nossa compostura para as tropas de infantaria, e imitei seu ar de prontidão confiante. Sylvie, que permaneceu em sua forma dracônica, abaixou a cabeça para deixar Varay tocar suavemente seu focinho.
Caminhamos juntos em direção ao final da fila enquanto a General de cabelos brancos explicava as formações e manobras básicas que haviam planejado. A maior parte do que me contou estava contida no briefing que li no caminho para cá, mas foi diferente ver tudo exposto na minha frente.
Passamos fileiras e mais fileiras de soldados de infantaria, aumentadores e não magos, organizados em três fases. Esses seriam os primeiros homens a atacar, encontrando nossos inimigos enquanto tentam invadir a praia.
Ficou claro quando alcançamos os mágicos; lanças e machados foram substituídos por bastões e varinhas, e em vez de armaduras, a maioria desses homens e mulheres usava túnicas simples. Dentro das linhas de conjuradores e arqueiros, vi alguns rostos familiares.
O primeiro foi o capitão Auddyr, de pé atrás de sua tropa de aumentadores de elite, que faziam parte da linha de barreira que apoiaria e protegeria os mágicos. Conheci o capitão quando fui enviado para minha primeira missão, que logo depois se tornou a Batalha de Slore. Ele estava usando uma armadura visivelmente extravagante, é claro. Trocamos um breve olhar e a única saudação que recebi foi um leve aceno de cabeça antes que ele se voltasse para suas tropas.
O segundo rosto familiar era Madame Astera, que, notei, não estava mais disfarçada de cozinheira, mas vestira uma armadura simples e usava duas espadas longas nas costas com facilidade. Tínhamos nos encontrado nessa mesma missão e tivemos a oportunidade de treinar um com o outro. Sabia que ela era uma forte combatente e uma líder respeitada. Reconheci alguns de seus soldados também: a superconfiante Nyphia e o valentão Herrick, os quais tentaram me derrotar em um duelo, mas falharam.
Madame Astera me lançou um sorriso e balbuciou as palavras:
— Parece bem.
Seus soldados pareciam maravilhados. Pisquei de brincadeira para Nyphia e Herrick, provocando um rubor em um e um sorriso decepcionado no outro.
Subimos um lance íngreme de escadas de pedra que seguia a inclinação do terreno logo a leste da baía de Etistin.
Essa era outra vantagem estratégica que tínhamos. A elevação ascendente deu aos nossos arqueiros e mágicos uma vantagem clara, pois teriam visibilidade e alcance superiores. Paredes defensivas foram construídas por magos da terra para fornecer cobertura às tropas neste nível caso os Alacryanos tentassem atacar a linha de fundo à distância. A verdade é que não sabíamos muito sobre os tipos de feitiços em que seus Conjuradores poderiam se especializar, então tentamos nos preparar para tudo e qualquer coisa.
Chegamos ao topo da colina bem a tempo de eu sentir a primeira gota de chuva em minha bochecha. Demorou apenas alguns segundos para a única gota se tornar um aguaceiro pesado. Sylvie estava prestes a levantar uma asa para nos proteger da chuva, mas eu a impedi.
— Somos todos soldados aqui. Estaremos todos lutando juntos na chuva de qualquer maneira. —disse, meus olhos focalizando o campo de gelo. Chuva e neblina atrapalhavam nossa visão, e o som de nossos soldados ainda marchando em direção à costa podia ser ouvido sob o forte barulho da chuva.
— Vamos ficar para trás na primeira onda. Os Videntes estarão de olho no campo, e o General Bairon transmitirá informações sobre as forças inimigas para nós logo depois. — disse a General Varay ao meu lado. — Muitas de nossas forças ainda estão se mobilizando, então esperamos reforço contínuo, incluindo mais magos do núcleo de prata.
E assim, esperamos. Podia sentir a tensão aumentando e mais de uma vez ouvi um capitão fazendo uma palestra animadora para suas tropas.
— A espera é mais agonizante do que eu imaginava. — meu vínculo pensou, seus olhos castanhos brilhantes tentando pegar um vislumbre de qualquer coisa dentro da névoa acima do campo de gelo. Balancei a cabeça, desejando que pudesse simplesmente voar para a flotilha inimiga e desencadear o inferno, mas já sabíamos que seus escudos eram mais do que capazes de defender os navios, mesmo de uma lança.
Mais e mais tropas chegaram. Alguns foram enviados para os dois lados da baía, enquanto outros permaneceram como forças de reserva.
Parecia que horas haviam se passado, todos nós parados na chuva com os nós dos dedos brancos a apertarem as nossas armas.
Essas formas estavam se movendo à distância? Seria o ronco baixo dos motores a vapor, quase inaudível sob a chuva forte?
Uma rachadura como gelo quebrando ressoou pela baía.
Então, a buzina tocou.
Pude ver nossos homens enrijecerem quando a nota profunda e de metal anunciou que os inimigos haviam pousado na borda externa dos campos de gelo e seus soldados estavam desembarcando.
Um minuto se passou, depois dois e, finalmente, a segunda buzina tocou, seguida pelo rugido forçado de mana da General Varay.
— Atacar!
Tradução: Reapers Scans
Revisão: Reapers Scans
QC: Bravo
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