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O Começo Depois do Fim – Cap. 227.5 – Túneis Escuros III

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POV MICA EARTHBORN

— Por lá? — Skarn ecoou, sua voz subindo nervosamente.

— Sim. — respondeu Oberle, que acabara de nos direcionar para uma fenda desconfortavelmente alta e estreita.

Fazia três dias desde que deixamos o Instituto Earthborn. Oberle nos levou para baixo e através dos túneis profundos até que deixamos Vildorial completamente para trás. Não vimos sinal dos Alacryanos, embora nosso guia tenha nos assegurado que estávamos no caminho certo.

— Mica vai primeiro. Mantenha seus olhos para cima. Este seria um bom lugar para uma emboscada.

Entrei na brecha. Dos meus dois lados, paredes altas de vidro vulcânico se erguiam na escuridão acima. Atrás de mim, Oberle carregava um artefato iluminador, que lançava uma luz prateada na obsidiana ondulante.

Hornfels e Skarn vieram em seguida, seus machados em punho. Os soldados do Ancião Buhnd seguiam atrás deles.

Todos os três, resmunguei para mim mesma.

Quando Alanis voltou, cansada e frustrada, trouxe três magos e a notícia de que a maioria dos anões sob o comando de Buhnd já estava perseguindo uma pista que os havia levado para longe de Vildorial. Esses três eram toda a assistência que a força-tarefa podia nos oferecer.

Eles não eram inúteis: dois ampliadores de núcleo amarelo escuro e um conjurador de núcleo amarelo sólido. Os ampliadores, Kobel e Jasper, ambos veteranos robustos, seguiram atrás de meus primos. Tetra Satinspar, a Conjuradora, veio na retaguarda. Segurava um segundo artefato iluminador, que fazia sua pele branca como giz e cabelos brancos puros brilharem.

Apesar de nos movermos devagar, o espaço estreito amplificava nosso barulho, e parecia que cem anões marchavam conosco. Excelente. A cada passo, estamos basicamente tocando o sino do jantar para quaisquer bestas de mana que se escondem nesta fenda.

Em poucos minutos, Skarn começou a interrogar nosso guia em um sussurro rouco e urgente.

— Até onde isso vai?

— Não muito longe. — respondeu Oberle.

— E você tem certeza que este é o caminho?

— Sim.

— Você viu alguma criatura da última vez que você passou?

— Não.

— Silêncio. — sussurrei. — Mantenha seus olhos e ouvidos abertos e sua boca fechada, primo.

Apesar das garantias de Oberle, a fissura parecia durar muito tempo e começou a pregar peças em meus sentidos. As paredes pareciam se mover, ondulando como a superfície de um lago, e um som sedoso de raspagem ecoou de cima, quase inaudível sobre nossos próprios pés arrastados.

Então começou o clique. Era sutil e consistente, como se alguém tivesse uma pedra presa na bota. Estava totalmente focada no barulho, tentando determinar de onde vinha, quando Oberle tropeçou no chão irregular e se desmantelou com um grunhido.

O globo luminoso que carregava caiu de suas mãos, ricocheteou no chão duro com um estalo agudo que ecoou pela ravina e rolou entre meus pés, fazendo as paredes dançarem loucamente ao nosso redor.

— Pensei que você fosse um mineiro, garoto. — Skarn sussurrou. — Essas suas pernas são de enfeite? — A voz de Skarn engasgou de repente. Lancei-lhe um olhar preocupado, mas ele era apenas uma silhueta contra a luz de Tetra. Quando abri minha boca para falar, sua forma escura foi levantada no ar.

Hornfels gritou e saltou para cima, agarrando seu irmão pelos tornozelos. Por um único momento pareciam flutuar no ar, então as botas de Skarn escorregaram de seus pés e Hornfels caiu de volta no chão. O machado de Skarn ricocheteou no chão de pedra um segundo depois.

— Skarn! — gritei quando foi arrastado para fora de vista bem acima de nós.

Reunindo mana ambiente, levantei-me do chão e voei para a escuridão atrás de Skarn. Mesmo para um anão, era difícil ver na escuridão total dentro desta fenda, mas uma vez que estava no ar, eu podia ouvir as formas se movendo no escuro claramente: Clique. Clique clique clique. Clique clique.

Algo como uma corda grossa, molhada e pegajosa de repente se enrolou no meu pescoço, me empurrando para fora do curso, me batendo na parede. Estendendo a mão, agarrei a corda, enrolei-a em volta do meu pulso e puxei. Ao mesmo tempo, aumentei várias vezes a força da gravidade no meu corpo.

De cima, uma criatura peluda ligeiramente maior que um anão passou por mim, suas oito patas arranhando as paredes de vidro. Houve um estalo úmido quando chegou ao fundo.

— Aranhas da forca! — gritei para meus companheiros abaixo. — Luz!

Um momento depois, uma bolha de luz laranja brilhante formou um arco no ar; Tetra havia jogado uma bola de magma puro no alto da escuridão, revelando um rio instável e trêmulo de aranhas enormes correndo de cabeça para baixo ao longo do teto da fenda. Longos fios de teias pendiam ao meu redor, suas pontas emaranhadas, parecidas com laços, armadas como armadilhas para pegar presas descuidadas.

— Skarn! — Gritei de novo, procurando meu primo entre a massa de aranhas, que começaram a assobiar e estalar alto na presença da luz.

Algo pesado me atingiu por trás e várias pernas duras e cabeludas me envolveram. Virei-me para ver o rosto sem olhos da aranha a apenas alguns centímetros do meu, suas quatro presas, cada uma longa e afiada como uma faca de filetagem, pronta para me abrir e me encher de veneno.

Girando para evitar as presas, conjurei uma pequena lâmina de granito em minha mão esquerda e girei para cima e para fora, cortando duas das pernas da aranha. Com outro movimento, o abdômen da aranha caiu, seguido rapidamente pelo resto.

A lava que escorria pela parede da ravina já estava desaparecendo, levando consigo o brilho alaranjado. Voltei para a tarefa de encontrar Skarn, quando um rugido opressivo como uma avalanche encheu o ar. A seis metros de distância, quatro espinhos de pedra irromperam das paredes, espetando uma multidão de aranhas e revelando Skarn, agarrado por sua vida a um fio de teia.

Seguindo a sugestão do meu primo inteligente, moldei uma pedra, um metro de largura, das paredes de obsidiana, depois reverti a força da gravidade sobre ela, fazendo-a voar no ar e colidir com o teto. A pedra preta começou a rolar por ele, esmagando as aranhas e destruindo suas teias.

Concentrei-me na pedra até vê-la passar por cima de Skarn, quebrando a corda à qual se agarrava. Com uma maldição, começou a cair, mas estava ao lado dele antes que caísse três metros, agarrando-o pelo peito e facilitando sua descida.

No chão, nossos companheiros foram forçados a se proteger de uma chuva de partes de aranha.

— Pelas pedras e raízes, essa é a coisa mais nojenta que eu já vi. — resmungou Hornfels, limpando um pedaço de lodo verde da barba.

— Isso fede! — Oberle gemeu, abrigando-se sob uma laje de pedra que Jasper havia criado.

Para garantir, rolei a pedra de volta pelo teto, certificando-me de que as aranhas da forca estavam completamente mortas, depois deixei que se fundisse de volta nas paredes.

— Bem, isso foi certamente emocionante — disse alegremente, puxando um pouco de seda de aranha do cabelo de Skarn. — Mica está feliz que você não seja comida de aranha, primo.

— Igualmente — remungou Skarn, esfregando a queimadura vermelha em seu pescoço, onde a armadilha da Aranha da Forca o pegou. — Agora, onde diabos estão minhas botas?

 

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À noite, estávamos todos sentados em torno de um monte de sal de fogo brilhante em meio ao nosso acampamento improvisado, que havíamos montado no meio de uma seção longa e reta do túnel, permitindo-nos visibilidade decente em ambas as direções. Mergulhei um pedaço de bolacha na minha cerveja para amolecer, enquanto ouvia Oberle discutir sobre o esconderijo do inimigo.

— A gruta está no fundo de uma fissura natural. A água desce até uma poça dentro de uma caverna com talvez cem metros de largura. Todas as barracas e coisas deles devem ter sido transportadas, porque não vi nenhuma estrutura que parecesse construída ou conjurada.

— Parece que eles não têm os meios. — acrescentou Tetra, que estava ouvindo com atenção e concordando com a cabeça. — Não encontramos nenhum Alacryano treinado nesse tipo de magia. Seu uso de mana parece muito específico.

— É. — acrescentei. — Mica não acha que eles trouxeram seus padeiros e carpinteiros para Dicathen para a guerra. Seus soldados se concentram em apenas uma coisa: matar nossos soldados.

— E a que distância você disse que essa fissura está, mesmo? — perguntou Kobel. Ele era um anão velho e grisalho; sua orelha esquerda havia sido mastigada por alguma coisa e sua barba era irregular naquele lado devido a uma rede de cicatrizes que percorriam seu rosto.

— Por volta de quatro horas, talvez cinco. — Oberle com um encolher de ombros evasivo. — Só estive aqui uma vez e não pensei que voltaria. Os túneis são todos muito fáceis no resto do caminho, no entanto.

Tetra se inclinou para frente e olhou para Oberle. A fraca luz vermelha do sal de fogo refletiu em seus olhos rosados, fazendo-os brilhar como carvões em brasa.

— Havia algum batedor, algum posto de guarda fora da gruta?

— Eu nunca vi nenhum, senhora, e estava procurando. — Oberle nos assegurou. — A verdade é que fiquei petrificado depois de quase quatro dias rastejando pelos túneis, apenas eu e Torple. Olhei em cada canto e recanto para ter certeza de que algum bicho não estava esperando para me pegar das sombras.

— Que sorte que essas aranhas da forca não estavam lá quando você cruzou a fenda. — resmungou Skarn, olhando o menino com desconfiança.

— Talvez estivessem. — disse Oberle, dando de ombros novamente. — Nós percorremos todo o caminho no escuro, no entanto. Torple insistiu.

— Ah, bem, isso não teria nos ajudado em nada. — disse Hornfels seriamente. — Pelo tanto de barulho que Skarn faz quando anda, eles o teriam encontrado de qualquer maneira. — O grupo caiu na gargalhada, todos exceto Skarn, que olhou seu gêmeo perigosamente e brandiu seu machado.

— Ei! Você não é melhor do que—

— Calados! — sussurrei, virando meu ouvido para o túnel escuro atrás de mim. Tetra ergueu seu artefato de iluminação e concentrou-se no túnel. Os pelos da minha nuca se arrepiaram, apesar do túnel parecer vazio.

— O que é—

Skarn começou a perguntar, mas eu fiz sinal para ficar quieto.

Concentrando mana em meus olhos, procurei no túnel por qualquer sinal de movimento. Lá! O feixe de luz revelou as partículas individuais de poeira flutuando no ar e, em um ponto de dez metros abaixo do túnel, algo as estava empurrando.

— Eles estão protegidos! — gritei, jogando uma parede de pedra do outro lado do túnel. Um instante depois, algo bateu nele com a força de um aríete. Atrás de mim, um coro de maldições saiu de meus companheiros enquanto cada um deles pulava e se preparava para se defender.

Uma segunda explosão causou a formação de uma teia de aranha de rachaduras na parede. Não sobreviveria a uma terceira, mas estava tudo bem por mim.

Entre minhas mãos, condensei a mana da terra em uma pedra áspera de um pé e meio de largura. Continuei pressionando, forçando mais mana na pedra, mas não permitindo que crescesse, até que ela pesasse tanto quanto um touro auroque.

Quando a parede de pedra desmoronou sob a força de uma terceira explosão, lancei o Golpe Meteórico, mirando o chão doze metros à frente. A pedra densa começou a brilhar enquanto se dirigia para onde pensava que o inimigo estava se escondendo. Quando o meteoro encontrou a barreira invisível, houve um som como vidro se estilhaçando e o escudo caiu, revelando brevemente três homens muito surpresos.

Um dos Alacryanos estava no caminho do meteoro. Ele quase foi vaporizado em contato. A pedra veloz atingiu o chão atrás dos dois restantes, explodindo com força suficiente para arremessá-los a dez metros de nosso acampamento, onde caíram em pilhas amassadas, ambos completamente imóveis.

Atrás de mim, Hornfels baixou o machado.

— Por que estamos aqui mesmo?

Estava curvada sobre o Alacryano mais próximo, minha mão pressionada contra seu peito.

— Entretenimento. — disse a ele. Então verifiquei o segundo homem. — Mortos, os dois. Mica bateu neles com muita força.

Me endireitei e olhei para meus companheiros, refletindo sobre a situação.

— Se Mica estivesse em seus lugares, Mica teria enviado o corredor mais rápido de volta para avisar sobre soldados inimigos próximos. O elemento surpresa provavelmente está perdido.

— Você poderia voar atrás deles, ver se consegue alcançá-los antes que eles cheguem à gruta. — sugeriu Hornfels.

— Mica teria que deixar vocês aqui sozinhos, para fazer isso, e não sabemos quanto tempo esses três esperaram antes de atacar. Não. Alto risco, talvez sem recompensa. Mas não vamos dar aos Alacryanos mais tempo para se prepararem do que o necessário. O tempo de pausa acabou. Peguem seus equipamentos.

 

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Corremos até a fissura que descia para a gruta escondida onde nosso inimigo estava acampado, o que levou pouco menos de duas horas. Não havia sinal do batedor que presumi ter ido avisar os Alacryanos de nossa presença.

Uma série de rachaduras nas paredes e no teto pingava constantemente, alimentando um riacho que serpenteava pela fissura. Ao redor do riacho cresciam cogumelos brilhantes, que enchiam a fissura com uma fraca luz verde-azulada.

— Que bonito. — sussurrei, me abaixando para olhar mais de perto os fungos. — Também mortal, pensa Mica.

— Fomos avisados para não os tocar. — disse Oberle com medo, atrás de mim. — Quando estava aqui com Torple. A gruta fica bem no fundo, talvez trezentos metros.

Dei vários passos cuidadosos na fissura, tentando ver o que estava à frente, mas o caminho natural era muito irregular para ver longe. Uma vibração de algo semelhante ao medo passou por mim, arrepiando meus braços e pescoço. Não seja covarde, pensei comigo mesma.

Virando-me, olhei para o resto do meu grupo: Oberle pálido e aterrorizado; Skarn carrancudo; Hornfels, uma sobrancelha levemente arqueada, enquanto esperava pela minha palavra; o cicatrizado Kobel e o silencioso Jasper; e Tetra, brilhando como um inseto de fogo com seu artefato de luz erguido.

— Talvez Mica devesse entrar sozinha. — sugeri, minha voz quase inaudível. — Se houver uma Foice lá embaixo…

Skarn cuspiu no riacho e Hornfels bufou.

— Não é provável.

— Fomos encarregados pelo próprio Conselheiro Buhndemog de rastrear cada último Alacryano em Darv, General Mica. — acrescentou Tetra. — Seria equivalente a deserção se nos afastássemos agora.

— Oberle. — disse, tomando uma decisão. Ele me olhou nervoso. — Você, pelo menos, vai voltar para Vildorial. Vá para o Instituto Earthborn e informe a assistente de Mica, Alanis, que você nos entregou ao esconderijo Alacryano como prometido. Se Mica não retornar dentro de dois dias da sua chegada em Vildorial, assuma o pior. Alanis deverá pedir ajuda ao Conselho. Se Mica morrer, isso significa que uma Foice ainda está em Darv.

A determinação de Oberle pareceu ruir e seus ombros começaram a tremer.

— Obrigado. Eles… eles disseram que se Torple ou eu voltássemos para o acampamento deles, cairíamos mortos e eu—eu estava com tanto medo, eu tinha certeza… —

Ele parou quando as lágrimas começaram a escorrer por sua barba.

— Silêncio agora, você se saiu muito bem como guia de Mica. Sorri no que eu esperava que fosse uma forma reconfortante.

Oberle entrou na fissura, movendo-se cuidadosamente sobre os cogumelos, e me envolveu em um abraço apertado. Sem saber como responder, congelei, olhando impotente por cima do ombro para os outros. Hornfels sorriu e piscou para mim. Então a luz verde-azulada ao nosso redor mudou sutilmente, assumindo um tom ametista.

— O que— começou Skarn, mas foi interrompido por um grunhido de dor de Oberle.

O mineiro de sal de fogo deu um passo para trás de mim, olhando para seu peito. Um brilho opaco e arroxeado irradiava através de sua túnica pesada.

Dando um passo à frente, rasguei o tecido grosso, revelando seu peito de barril. Algo dentro de seu esterno estava brilhando através de sua pele e ficando mais brilhante a cada segundo.

Oberle abriu a boca para gritar, mas em vez disso saiu uma luz roxa escura.

Ele é uma bomba!

Sem tempo para sequer gritar um aviso, usei o Invólucro de Diamante Negro. Uma estrutura de cristal cintilante apareceu ao meu redor, depois cresceu rapidamente para fora, até encapsular eu e Oberle dentro de uma camada impenetrável de diamante negro.

Assim que Oberle foi contido, empurrei em todas as direções com uma explosão de antigravidade, esperando que desse modo, os outros deslizassem para longe da prisão mineral que continha a bomba. Não conseguia ver ou ouvir nada fora dos efeitos do feitiço, no entanto. Sem como saber o quão forte seria a explosão, esperei, envolta nos cristais negros.

Está tão escuro, estou vendo manchas, pensei. Então percebi que os pontos de luz eram buracos que apareciam no diamante negro enquanto a bomba de mana detonava, corroendo a substância mais dura conhecida pelo homem ou anão, como um ácido através de um pergaminho.

Incapaz de escapar, coloquei mana em camadas sobre meu corpo, empurrando tudo o que tinha para uma barreira protetora. Em todos os lugares que o brilho tocava, podia sentir meu poder sendo queimado.

Então, em um flash de luz brilhante, o mundo virou de cabeça para baixo.

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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