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O Começo Depois do Fim – Cap. 225 – Âncora

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POV ARTHUR LEYWIN

Soltei um gemido sonolento, mal conseguindo ouvir minha própria voz devido aos ventos passando por nós. Apoiando-me nas costas espetadas de Sylvie, examinei meus arredores.

Podia ver o castelo voador à distância e, por um breve momento, fiquei animado; Tessia estava aqui, e essa era a verdadeira razão de eu não ter ido direto a Etistin para me preparar para a batalha que se aproximava. Essa breve sensação de felicidade criou uma culpa que se contorcia no meu estômago, mas eu a empurrei de volta para baixo, abraçando o mesmo vazio sem emoções.

Os guardas do castelo, notando Sylvie, separam-se em duas linhas, formando um caminho para o cais de desembarque, que se abriu silenciosamente conforme nos aproximamos.

Tive que dar o braço a torcer aos artífices dos tempos antigos, aqueles magos sábios e poderosos foram responsáveis ​​não apenas por erguer um castelo inteiro no céu, mas uma cidade inteira também, além de conectar cada cidade principal com um portal de teletransporte. O conhecimento e o poder necessários para completar esses feitos de maestria mágica são inspiradores.

Isso levantou a questão: o que realmente aconteceu com eles? Descobrir a resposta para essa pergunta não estava exatamente no topo da minha lista de prioridades, então deixei o pensamento ir embora.

— Vamos acabar com isso rapidamente. Estou pronto para descarregar alguma bagagem emocional em uma foice ou talvez alguns retentores — disse, pulando fora de meu vínculo.

Surpreendentemente, o cais de desembarque, que normalmente vivia cheio de atividade e barulho, estava completamente vazio, exceto por uma figura solitária próxima à porta. Levei um momento para perceber quem era por causa de quão diferente ele parecia.

A poderosa confiança que Virion geralmente irradiava se foi, seu sorriso alegre substituído por uma expressão sombria e cansada. Seu cabelo prateado estava solto e as vestes que vestia pareciam um pouco grandes demais para ele, como se tivesse perdido peso. Ainda assim, me vendo e Sylvie, seu rosto suavizou em um sorriso aliviado.

Andando até mim, o velho elfo imediatamente me envolveu com seus braços em um abraço longo.

Fiquei chocado. Meu corpo congelou e, por um momento, minha mente ficou em branco.

— Bem-vindo de volta. Você fez tudo que podia, Arthur… você fez muito bem. — disse ele suavemente, sua voz tão familiar, mas aparentemente desconhecida ao mesmo tempo.

A casca gelada de apatia em que eu me fechei, longe da raiva, da dor e da perda que tentavam arranhar seu caminho dentro de mim, rachou.

Pode ter sido o calor de seu abraço ou a gentileza de suas palavras, mas me abri e tudo veio à tona. Pressionei meu rosto no ombro de Virion e deixei as lágrimas correrem livremente, tremendo e soluçando como uma criança, suas palavras ecoando em minha mente.

Você fez tudo que podia. Você foi ótimo.

Sylvie permaneceu em silêncio, mas senti sua pequena mão descansar suavemente nas minhas costas, transmitindo tanta emoção quanto o abraço de Virion.

Comandante, Lança e Asura… Ficamos ali, sozinhos na grande sala vazia, amontoados, esquecendo por um momento quem éramos.

 

Separador Tsun

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Segurei meu punho contra a porta, mas parei, relutante em bater.

— Não acho que posso fazer isso sozinho agora. Tem certeza de que não quer ver Tess comigo? — Perguntei ao meu vínculo, que ainda estava em nosso quarto.

— Ela precisa de você agora. Só você. — Sylvie respondeu friamente, e eu a senti bloquear nossa conexão mental, deixando-me perdido.

Virion havia dito a mesma coisa. Tessia se trancou em seu quarto, recusando-se a ver quem quer que fosse, especialmente aqueles que mais queriam ajudar.

Se seus próprios pais ou avô não puderam chegar até ela, como eu poderia?

Essa foi a minha desculpa, de qualquer maneira. Sério, eu simplesmente não queria ser o apoio de ninguém agora, não quando eu mal conseguia me segurar, mas, ainda assim, Tessia precisava da minha ajuda, assim como eu precisava de Sylvie e Virion.

Empurrei a escuridão, todos os pensamentos ruins, e os coloquei de lado por enquanto. Lidaria com minhas próprias perdas em meu próprio tempo.

Prendendo a respiração, bati na porta.

Sem resposta.

Bati novamente.

— Tess, é Arthur.

Ela não respondeu, mas podia ouvir seus passos leves se aproximando da porta. Depois de um momento, a porta se abriu e nossos olhos se encontraram.

Eu tinha visto tantas emoções ganharem vida através daqueles olhos turquesa vívidos dela, risos, alegria, raiva, determinação, mas esta foi a primeira vez que vi tal desespero absoluto. Doeu-me vê-la assim; eu queria me afastar. Em vez disso, entrei na sala, minha mente correndo. Ela parecia cansada, desgrenhada, como se não tomasse banho há dias.

Limpando a garganta, disse:

— Você não precisa de ajuda para se lavar, certo?

Meu tom era leve, provocador. Esperava que ela me batesse, revirasse os olhos, risse da minha estupidez infantil.

Sem dizer uma palavra, ela tirou o manto, deixando-me completamente desprevenido. Consegui me virar antes que pudesse ver qualquer coisa, mas quase tropecei nos meus próprios pés no processo, caindo no sofá. Deixei-me cair sem graça nas almofadas grossas e pressionei meu rosto em um travesseiro até que ouvi a porta do banheiro se fechar atrás de mim.

Esperei ansiosamente pelo que pareceu uma hora, resistindo à tentação de perguntar se ela estava bem, até que Tessia saiu do banheiro com uma toalha mal pendurada na altura dos seios e seu cabelo cinza escuro pingando poças de água atrás dela.

Levantei-me, peguei outra toalha e a sentei na frente da pequena penteadeira no canto de seu quarto. Tess manteve os olhos baixos, incapaz de olhar para seu próprio reflexo.

Virion me contou tudo. Eu sabia as escolhas que ela tinha feito e as consequências que resultaram delas. Ela se culpava, assim como eu, e eu sabia que nenhuma palavra de consolo mudaria o que ela sentia naquele momento, porque estava certa. Ela havia tomado decisões e pessoas morreram por causa disso. Com o tempo, ela viria a entender que essa era a natureza da guerra e que nunca seria capaz de salvar a todos. Às vezes, até nossas melhores intenções nos levam ao erro…

Fiquei em silêncio. Com gentileza, afaguei seus longos cabelos com a toalha extra, então conjurei uma brisa quente e suave que soprou por seus cabelos, secando-os.

Depois disso, peguei uma escova da penteadeira de madeira. Enquanto penteava seus cabelos, vi-me olhando seus ombros nus, pensando em como pareciam pequenos. Esses ombros carregavam um fardo pesado e o peso de muitas expectativas. Era fácil esquecer que, antes dessa guerra, ela era apenas uma estudante. Embora nossos corpos tivessem quase a mesma idade, minha mente era muito mais velha. Tessia não tinha uma vida passada em que confiar para obter experiência e fortaleza mental.

— Você… é muito ruim nisso. — A voz de Tess era suave e rouca, mas ainda fez meu coração pular uma batida.

— Não é como se eu tivesse experiência em fazer esse tipo de coisa. — murmurei, envergonhado. Parei e fiz menção de guardar a escova, mas Tess ergueu os olhos, captando meu olhar no espelho.

— Eu… não mandei você parar.

— Sim, princesa. — respondi, a sugestão de um sorriso brincando em meus lábios. Normalmente, ela faria beicinho por ser chamada de “princesa”, mas apenas olhou para mim, sua expressão ilegível. Nós mantivemos contato visual por vários longos momentos após eu começar a escovar seus cabelos novamente. Quando quebrei o contato para olhar o que estava fazendo, ela olhou de volta para suas mãos inquietas.

Por um tempo, apenas falei distraído escovando lentamente seu cabelo. Repeti as histórias bobas de nossas desventuras juntos em Elenoir quando éramos crianças. Embora estivéssemos treinando constantemente, e tivesse passado muito do meu tempo assimilando a vontade bestial de Sylvia, isso não significa que não relaxamos e nos divertimos.

Revivia uma memória particularmente nojenta quando ela me interrompeu.

— Fui eu quem disse que não deveríamos descer aquele barranco, não o contrário — disse ela, rindo.

— Sério? Tenho certeza de que eu era o inteligente e cauteloso quando éramos pequenos.

Ela revirou os olhos.

— Inteligente, devo admitir, mas não diria exatamente que você foi cauteloso. Ugh, ainda me lembro de encontrar as sanguessugas de musgo por todo o meu corpo, mesmo horas depois de voltarmos para casa.

Sufoquei uma risada, lembrando claramente o quão nojenta ela tinha ficado com as inofensivas sanguessugas se contorcendo que grudaram em nossa pele. Ela imediatamente voou de onde estava, parecendo ter sido chocada por um raio.

— Por que você está rindo? — perguntou, estreitando os olhos.

Não respondi. Ao invés disso, dei minha melhor impressão de sua dança tire-essas-sanguessugas-de-mim.

— Eu tinha oito anos! — protestou, batendo no meu braço.

— Você era uma princesinha delicada. — retruquei calorosamente, esfregando onde ela havia batido.

Ela olhou para mim, mas quando levantei meus braços em submissão, ela se virou totalmente para mim e colocou os braços em volta da minha cintura. Lentamente, abaixei meus braços, uma mão acariciando levemente suas costas nuas, a outra suavemente se enroscando em seu cabelo cinza sedoso.

Tess permaneceu imóvel, seu rosto enterrado em meu peito. A toalha caiu, expondo mais de sua pele lisa, e de repente me senti muito consciente de seu corpo exposto e seu cheiro inebriante.

Quando ela olhou para cima, seus olhos turquesa encontraram os meus, e apesar do tom rosa subindo em suas bochechas e orelhas, pude ver meu próprio desejo refletido de volta neles.

Ela fechou os olhos e franziu os lábios, e eu senti Arthur se afastando. Por um momento, eu era o Rei Grey, naqueles primeiros dias: os dias de solidão, onde questionava constantemente meu próprio valor, minha razão de ser; os dias em que me entregava à intimidade física apenas para ter uma aparência de como era ser amado, não como uma figura política, mas como uma pessoa.

Abaixei minha cabeça e, por um segundo, fiquei tentado a encontrar seus lábios com os meus. Afinal, já tínhamos feito isso antes.

Mas, dadas as circunstâncias, não era o mesmo.

Dei um beijo suave em sua testa e a senti estremecer ao meu toque.

Ela se afastou, olhando para mim como se eu a tivesse batido.

— Por quê? Não sou atraente o suficiente? É porque você ainda me vê como uma criança? Eu já tenho dezoito. Achei que isso tivesse ficado para trás! Ou… ou você também me culpa pelo que aconteceu?

— Você se culpa? — Perguntei, mantendo minha expressão impassível e minha voz apática.

Tess baixou os olhos e assentiu.

— Eu… eu fui egoísta… pensei que…

— Então você está crescendo. — a cortei, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. — Todos cometemos erros, mas o mais difícil é admiti-los e seguir em frente para que não aconteçam novamente.

Seus ombros tremeram quando ela fungou.

— Então, não é porque eu não sou atraente?

Imediatamente, meu rosto queimou quando observei sua figura exposta.

— Não, não é porque você não é atraente. Eu só quero fazer isso corretamente, quando pudermos realmente estar um com o outro, não quando estivermos tentando escapar de outra coisa.

Desviando meus olhos relutantes de Tessia, virei minhas costas para ela.

— Você deveria se vestir. Há mais uma coisa que quero fazer por você.

A cozinha estava vazia quando chegamos, mas havia comida em abundância armazenada nos recipientes resfriados.

— Você queria… comer comigo? — Perguntou Tess, olhando ao redor da cozinha.

Pegando um pedaço de carne embrulhado no armazenamento, eu o segurei.

— Eu quero cozinhar para você.

— Cozinhar? Por quê?

Dei de ombros, juntando o resto dos ingredientes e colocando-os para preparar.

— Você cresceu com refeições feitas para você pelos chefs do castelo.

Em vez de usar magia, peguei uma faca de cozinha e comecei a cortar e picar os ingredientes.

— Em Ashber, quando era criança, minha mãe costumava cozinhar todas as nossas refeições. Ela dedicou seu tempo e energia em cada refeição apenas para ver um sorriso em nossos rostos enquanto comíamos.

Minha mão tremia, mas continuei cortando.

— Sentado à mesa de jantar… rindo e brincando sobre boa comida. Foi uma daquelas coisas que eu nunca realmente apreciei… não até que fosse… tarde demais.

Rapidamente enxuguei uma lágrima.

— Ah, a-algumas das especiarias devem ter entrado em meus olhos. Me desculpe por isso. Quase esqueci da água.

Afastei-me de Tess e abaixei o fogo sob a panela de caldo fervente.

Com os dentes cerrados, segurei os soluços que se formavam em meu peito, mas as lágrimas não paravam. Minhas mãos tremiam e minha respiração saiu em rajadas sufocadas.

Flashes de memória do meu tempo como uma criança crescendo em Ashber perfuraram minha mente como estacas de ferro quente. Não seja estúpido, Arthur, pensei. É apenas comida, seu grande idiota.

— Está bem. Estou bem, Art. — Sua voz era gentil e sua suave carícia foi o suficiente para me deixar de joelhos.

Caí no chão frio e duro, segurando meu peito enquanto soluços fortes saíam da minha garganta. Enquanto eu estava lá, minha cabeça no colo de Tess, o toque quente de suas mãos me manteve ancorado, e o arrulhar suave de sua voz moveu-se por mim como a magia nas pontas dos dedos de um emissor, aliviando a dor pungente dentro de mim.

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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