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O Começo Depois do Fim – Cap. 221 – Levado de volta

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Sylvie e eu deixamos a proteção da Muralha e olhamos para a batalha que há muito tempo havia atingido seu clímax. Arqueiros e magos, cujos alcances não eram tão longos quanto os da parede, estavam posicionados no chão, mais perto do derramamento de sangue.

Olhei para trás mais uma vez mais, com raiva e arrependimento, os espessos portões de metal da Muralha se fechando atrás de nós,

— Vamos descobrir quem foi o responsável por isso mais tarde. — Meu vínculo confortou-me com seus olhos se fixando nos meus. — Neste momento, é nosso dever encontrar sua família e ajudar o maior número possível de soldados.

Dando-lhe um aceno, nós dois caminhamos para a frente. Desliguei-me dos gritos e aplausos dos soldados ao nosso redor.

Eu não era um herói, nem queria ser. Era impossível ser o herói de todos. É inevitável que eu decepcione algumas pessoas— inferno, já decepcionei um monte de gente.

Nem todos os humanos, elfos e anões eram igualmente importantes para mim, e isso é um fato que eu havia aceitado há muito tempo. Estava aqui para servir meu papel, para ajudar a acabar com esta guerra. Não era pela paz mundial ou para salvar a humanidade— era para eu levar uma vida confortável e feliz com as pessoas que eu amava e cuidava.

Andando pelas linhas de arqueiros e conjuradores que ou estavam atirando na linha de fundo da horda de bestas ou descansando e reabastecendo suas reservas de mana, podia ouvir murmúrios ao nosso redor. Soldados cutucavam seus colegas nas proximidades por sua atenção enquanto centenas de olhares se voltavam para nós.

— Você deve pelo menos reconhecê-los. — disse meu vínculo, notando os olhares.

— Foco, Sylvie. — avisei. — Vamos fazer o que viemos fazer primeiro. Podemos nos preocupar com a moral das tropas depois.

As terras rachadas e secas da Clareira das Bestas pareciam piche molhado, agarrando e puxando meus pés enquanto, com meu vínculo ao meu lado, avançava. Não conseguia me livrar da sensação perturbadora que fez meu peito apertar. O véu da noite e a multidão de bestas e homens escondiam a resposta para uma pergunta que eu ficava cada vez mais com medo de fazer.

Brandindo a Canção do Amanhecer, Sylvie e eu mergulhamos no meio da batalha sob a chuva de flechas e feitiços. Minha espada azul brilhante tornou-se um farol para nossos soldados dentro do campo de visão, dando-lhes esperança e a força necessária para desencadear mais um ataque.

Sylvie manteve distância do alcance de minha lâmina atirando balas de mana precisas perfeitamente cronometradas, salvando então um soldado desprotegido.

Claro, nenhum de nós estava simplesmente atacando sem um objetivo em mente. Enquanto eu cortava inimigos menores e derrubava animais gigantescos sem discriminação, meus olhos estavam sempre à procura dos sinais de qualquer conjurador de terra corpulento que se assemelhasse a Durden ou de um lutador com afinidade de fogo que se parecesse de alguma maneira com meu pai.

Varrendo meus olhos por toda a clareira estéril, vi a silhueta de um verme maciço erguendo-se do resto das bestas ao seu redor com sua mandíbula repleta de soldados. Ocasionalmente, explosões de fogo explodiam de sua boca, provocando fracos gritos por parte dos soldados antes que mais fossem consumidos pela mesma besta.

Rangendo meus dentes, desviei meu olhar, tentando, mais uma vez, ver meu pai e Durden através da sujeira, fumaça e detritos que preenchiam as lacunas do caótico campo de batalha.

Foi então que vi outro grupo de soldados tentando derrubar um monstro gigante. Este, no entanto, era um urso da meia-noite.

Essa raça particular de besta de mana variava da classe B à classe AA, quando não estava corrompida, dependendo de sua maturidade e da densidade da pele metálica que obtiveram do consumo de minérios preciosos.

Por sua altura de 12 pés (~3,65 metros) e pelo de brilho cintilante que sua pele espetada carregava, meu palpite era que este urso da meia-noite em particular se aproximava da última. O que me chamou a atenção não foi a besta em si, no entanto. Foram as costas largas de um soldado que, com grossas luvas blindadas, lutou, tomando o peso do ataque do urso pardo enquanto os outros faziam tentativas fúteis buscando derrubar a besta corrompida.

Antes que meus olhos pudessem deduzir se essa pessoa era meu pai ou não, meus pés já estavam se movendo para aquela batalha.

Dentro de dois passos infundidos de mana, eu já estava ao alcance para derrubar o urso, mas meu foco se voltou para o lutador.

Cliquei a minha língua em frustração. O soldado estava em um conjunto completo de armaduras, incluindo um capacete que cobria seu rosto.

Piscando ao lado do soldado, que estava tomando um fôlego momentâneo enquanto a besta se ocupava com outros, tirei o capacete dele.

— Ei! Que porra é—

Não era meu pai. Suprimindo a vontade de esmagar o frágil capacete em minhas mãos, enfiei de volta na cabeça do lutador sem uma palavra.

— Mexam-se! — pedi, não apenas ao homem que confundi com meu pai, mas também aos outros soldados circulando e atacando a dita besta.

O fato de serem magos os tornou sensíveis à mana, e a mana saindo de mim colocou, no exato instante, peso nas minhas palavras, ou melhor, no verbo.

Sabia que a Canção do Amanhecer não seria capaz de cortar uma besta de mana com classificação quase S, especialmente na condição em que estava. Guardando minha espada, dei um passo em direção ao metálico urso gigante de seis membros.

Esse único passo colocou-me logo abaixo de uma de suas garras afiadas enquanto a besta golpeava para baixo. Agarrando uma delas, que eram tão grossas quanto meu antebraço, mudei meu peso, imbuindo mana no último minuto.

O resultado: uma besta de seis mil quilos foi erguida no ar por um mero adolescente e lançada, batendo com força no chão.

O impacto despedaçou o solo, e a besta, por mais selvagem que fosse, soltou um lamento profundo de dor.

— Caramba!

Um soldado que estava lutando contra a besta exclamou. Seu martelo de guerra gigante foi amassado; e seu eixo, ligeiramente dobrado de múltiplas colisões contra a pele blindada do urso da meia-noite.

Eu queria acabar com isso rapidamente, mas a besta se recuperou mais rápido do que eu esperava. O urso voltou a ficar de pé e imediatamente atacou com as garras de seus quatro braços.

— Arthur, você precisa de ajuda? — A voz de Sylvie soou na minha cabeça.

— Não. Continue procurando por Durden ou meu pai. Isso não vai demorar muito.

Balancei-me desviando, e como se eu tivesse treinado há anos, girei, esquivando-me da barragem de garras, a qual marcou com seus golpes a sujeira ao meu redor.

Frustrado, o urso da meia-noite tentou martelar seus dois braços superiores. Em vez de evitar, no entanto, eu ergui uma palma.

Utilizando a técnica que o ancião Camus havia me mostrado, criei um vácuo logo acima da minha palma aberta e recebi toda a extensão do ataque. Não consegui dispersar a força das poderosas garras do urso da meia-noite completamente. Meus pés afundaram no chão e meu corpo inteiro tremeu.

Ainda assim, foi suficiente para jogar fora o centro de gravidade da besta e deixá-la cheio de aberturas. No tempo que levou para dar mais um passo, amarrei as pernas traseiras do urso da meia-noite no chão, para que não voasse e causasse baixas do nosso lado, e condensei várias camadas de vento giratório em torno do meu punho direito. A torrente na minha mão foi suficiente para fazer os soldados treinados recuarem, mas quando meu punho caiu diretamente no abdômen da besta de metal, o chão tremeu com o impacto.

Uma onda de choque ressoou com o golpe, enviando para trás alguns dos soldados e bestas mais fracos espalhados no chão, mas foi o suficiente para matar a besta de alta classificação.

— Não foi um pouco demais? — meu vínculo soou, obviamente sentindo o impacto de onde  estava.

 — A pele do urso parecia ter sido afetada pela corrupção Alacryana. Não teria sido capaz de matá-lo sem pelo menos fazer isso.

Incapaz de até poupar tempo para recuperar meu fôlego, continuei minha busca por Durden e meu pai.

Apesar da falta de conjuradores na linha de frente, foi difícil encontrar meu amigo gigante. Devido ao quão mais úteis os magos de terra eram quando mais próximos do chão, não foi apenas um ou dois feitiços deles que eu vi à distância. Ainda assim, conhecendo Durden e, apesar da classificação dele como um mágico, sua força monstruosa, sabia que ele não estava de volta às proximidades da Muralha com os outros arqueiros e conjuradores.

Droga, eu amaldiçoei. Minha paciência ficava cada vez menor a cada segundo que se passava. Cada grito e choro de socorro me fez vacilar, com medo de que o próximo pudesse ser Durden ou meu pai.

Sylvie e eu continuamos separadamente procurando por eles, bem como matamos o máximo de animais que podíamos. Nem uma vez encontrei um mago Alacryano entre o caos, mas isso foi uma coisa boa. Não havia magos lançando escudos para proteger a horda de bestas de nossos conjuradores.

Num piscar de olhos, o sol tinha surgido, destacando o tumulto que se estendia até onde os olhos podiam ver.

 — Que tal usar Realmheart novamente para tentar encontrar seu pai como você fez com Ellie? — Sylvie sugeriu, sua voz cansada até na minha cabeça.

— Não acha que pensei nisso? — vociferei. — A magia da Ellie é única o suficiente para eu detectar com as flutuações de mana ambiente. Como vou diferenciar meu pai entre as outras centenas de soldados que têm uma afinidade de fogo?

— …

Soltando uma respiração profunda, eu pedi desculpas ao meu vínculo. A frustração e o desespero se acumulando dentro de mim tornaram difícil a tarefa de abafar minhas emoções.

— Está tudo bem. — Sylvie consolou. Sua voz era gentil, mas eu ainda podia sentir um toque de tristeza vazando.

Prometendo a mim mesmo compensar meu vínculo sempre fiel depois que tudo isso acabasse, continuei minha busca.

Fumaça, fogo, destroços, armas abandonadas, e os corpos de homens e animais decoraram o outrora estéril campo. Por mais limitada que fosse minha visão, mantive meus olhos e ouvidos alertas. Sabia que era impossível tentar discernir meu pai entre os rugidos das bestas, gritos de soldados, zumbidos e estalos da magia, além do toque afiado de metal, mas pouco mais havia que eu pudesse fazer.

O número de bestas tinha diminuído tremendamente, mas não sem perdas. Humanos, elfos e anões estavam espalhados no chão ao lado das bestas que haviam os matado ou sido mortas, como a destacar o ponto de que, na morte, não havia lados.

Por causa da mudança que fizeram no meu plano, tantos soldados haviam morrido. Atrás de mim, ilesa, a Muralha levantava-se alta como se zombasse de nós. O chão na frente dela, intacto apesar dos explosivos que tínhamos colocado por baixo.

Meu instinto me disse que foi Trodius que rescindiu meu plano, já que os outros dois capitães foram transparentes na valorização de suas tropas no lugar da Muralha.

Foi apenas a ideia de encontrar meu pai e Durden, certificando-se de que eles estavam bem, que me manteve firme. Tive que me lembrar vezes e vezes de que o que eu tinha sugerido era apenas aquilo… uma sugestão.

Horas passavam até que o sol estivesse alto no céu. Soldados muito feridos ou muito cansados para continuarem lutando foram levados por seus companheiros enquanto o próximo grupo marchava para substituí-los.

A horda de bestas foi lentamente sendo empurrada para trás conforme seus números diminuíram para as centenas. Não demoraria muito até que esta grande batalha se tornasse uma grande vitória aos olhos de Dicathen. Ainda assim, para os soldados que aqui ainda lutavam, cada minuto que passava era outro minuto em que poderiam facilmente serem mortos. Para eles, esta vitória seria manchada pela morte de seus amigos com os quais lutaram lado a lado.

Após horas e horas de luta e busca, meu corpo estava se movendo de forma autônoma. Matei bestas onde quer que passasse e ajudava soldados em perigo se estivessem no meu caminho.

Não pude salvar todos eles, mas não pude ignorar os que estavam bem na minha frente.

Foi quando eu estava ajudando um soldado o qual teve sua perna direita espancada que fui atingido por uma onda de pânico e preocupação.

— Você! Leve esse homem de volta para a Muralha — disse depois de cercar seu sangramento no gelo.

— Sylvie! O que aconteceu? Eu enviei, suor frio escorrendo pelo meu pescoço enquanto as emoções do meu vínculo ainda vazavam para mim.

Eu já estava indo em direção à localização de Sylvie. Ela não estava longe, menos de uma milha a sudoeste (1,6 km) em direção ao extremo sul da Muralha. Mas por que ela não estava respondendo?

Apesar do cenário passar por mim voando, o tempo parecia lento como um espesso fluido viscoso. Os sons estavam abafados e eu podia ouvir meus batimentos batendo contra meus tímpanos mais alto do que qualquer outra coisa.

À medida que eu me aproximava cada vez mais, minha visão veio em flashes. Pareceu como se eu estivesse observando o mundo através de um pote de vidro espesso que eu mal distingui Sylvie enquanto ela segurava-me em seus braços. Eu podia ouvir seus choros preocupados, mas eu não conseguia entender as palavras que ela estava dizendo.

Seu olhar lacrimejante enquanto ela balançava a cabeça e me impedia de chegar mais perto ficaram registrados nos meus olhos, mas eu não conseguia compreender a expressão dela, pois meu foco estava no homem arrastando seus pés em direção à equipe de médicos que corria para ele.

Ele estava sem um braço e metade do rosto tinha sido queimado além do ponto de reconhecimento, mas eu ainda sabia que era Durden. E pendurado sobre suas largas costas… era o que restava do meu pai.

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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