POV CIRCE MILVIEW
Alacryana.
— Quanto tempo mais? — Fane reclamou, sua cabeça constantemente disparando para a esquerda e para a direita. Sua voz não era mais alta que um sussurro. Nenhum de nós ousou falar mais alto que isso.
Levantei dois dedos, voltando o foco para a árvore à minha frente. A crista nas minhas costas brilhava quando cerrava os dentes para manter meus poderes sob controle, ao mesmo tempo em que mana passava por meus braços e na própria árvore.
— Minha barreira de disfarce não vai durar muito mais tempo em uma faixa tão ampla. — Cole murmurou entredentes, suor emaranhando seus longos cabelos castanhos no rosto.
Limpei uma gota de suor escorrendo pela minha bochecha.
— Feito.
Maeve agarrou meu braço e já estávamos em movimento. Voltei uma última vez para me certificar de que a matriz de três pontos que acabara de terminar estava estável.
Está no lugar. Me permiti respirar aliviada, enquanto começávamos a caminhar pela floresta abandonada.
Viajamos em um ritmo frustrantemente lento com Maeve e eu na frente. Somente usando minha crista, meus sentidos se estenderam para cerca de trinta metros, muito restritos para o meu conforto. O fato de que por causa dessa névoa misteriosa que parecia existir apenas nessa floresta, eu fosse a única que conseguia enxergar além de alguns metros à nossa volta, não ajudava.
— Você vê alguém, Circe? — Fane perguntou pela quinta vez, suas feições afiadas se contorceram em um olhar furioso.
Joguei minha cabeça para trás e atirei-lhe um olhar.
— Eu disse que vou te avisar, caso eu veja algo fora do comum. — Ele estreitou os olhos, descontente, mas não disse mais nada.
Após cerca de uma hora, praticamente rastejando pela floresta carregada de neblina, sinalizei para que todos parassem.
— Precisamos colocar outra matriz.
Todo mundo ficou em posição. Maeve pulou em uma árvore próxima com as mãos prontas para atirar. Cole ficou ao meu lado e envolveu a área em um véu para ajudar a mascarar as flutuações de mana enquanto eu trabalhava. Fane circulou o perímetro com olhos cautelosos como nossa primeira linha de defesa.
Depois que todos estavam no lugar, continuei em nossa missão mais importante, e muito provavelmente nossa última.
Ativando minha crista mais uma vez, comecei a configurar a primeira parte da matriz de três pontos. Com meu controle como sentinela de nível intermediário, não foi difícil configurá-la. A parte complicada foi garantir que tudo não fosse detectável até que finalmente a ativasse. Não poderia haver vestígios, nem vazamentos de mana ou os elfos à espreita em torno da floresta sentiriam isso. Se qualquer uma das matrizes que eu fizesse fosse descoberta, todo o plano seria arruinado.
Afastando o fardo que pesava sobre mim, controlei a mana coalescida nas pontas dos meus dedos, quando começou a penetrar na primeira árvore. Um farfalhar soou à minha esquerda e estremeci.
Fomos descobertos?
Quando virei minha cabeça na direção do som, Fane já estava lá. Ele balançou a cabeça, segurando um roedor cujo pescoço estava quebrado.
Como esperado de um portador de emblema veterano. A atitude do atacante foi péssima, mas era um companheiro de equipe confiável.
Voltando meu foco para a velha árvore, controlei a passagem da minha mana instilada, até que ela se enterrou profundamente no núcleo da árvore. Depois de instalada, tive que cobrir os rastros e a flutuação de mana no local da “ferida”.
Nesse momento, minha atenção tinha que estar concentrada. Não podia me dar ao luxo de espalhar meus sentidos ao nosso redor, caso um elfo se aproximasse.
Minutos se arrastaram no ritmo de horas enquanto eu piscava para tirar as lágrimas que estavam tentando entrar nos meus olhos. A impressão de mana deixada pelo meu feitiço, tinha que ser manualmente obscurecida com precisão cirúrgica, para que ninguém pudesse sentir que magia era usada na área.
— Feito. — falei com meus colegas de equipe antes de passar para o próximo ponto.
Ajoelhado no chão, a alguns metros de distância da árvore, repeti o processo até que finalmente estava na última parte, uma árvore do outro lado da matriz que fiz no chão.
Depois que essa matriz de três pontos foi concluída, estávamos novamente em movimento. Felizmente, a barreira de disfarce de Cole não deixou flutuações de mana. Nem a magia de Fane ou Maeve.
Verdadeiramente, uma equipe especializada para esta missão, pensei, me sentindo deslocada. Afinal, eu era uma sentinela. Não fui feita nem treinada para isso.
Minha única fonte de conforto era que não éramos a única equipe.
Talvez uma das outras equipes já tenha conseguido garantir uma rota, esperava, sabendo o quão improvável era. De todas as outras equipes, sabia que era mais provável que tivéssemos sucesso… por causa do meu emblema recém-adquirido.
De repente, um braço disparou, me parando. Foi Maeve.
Seus olhos cor de âmbar se fixaram em mim quando apontou para baixo. Escondido embaixo da neblina havia uma pequena vala com espinhos de madeira.
Meu coração bateu com força.
— Os espinhos não foram afiados, foram torcidos nessa forma. — Maeve informou em um sussurro.
— Magia de plantas. — respirei. Meus batimentos cardíacos caíram com o que isso significava.
— Teremos que encontrar outra rota. — disse Fane por trás, coçando a cabeça raspada em frustração.
— Então teremos que parar um pouco para explorar outra rota. — respondi desanimada.
Com um aceno solene de Maeve, continuamos nossa marcha infernal.
Minhas pernas latejavam de dor e minhas costas doloridas me faziam sentir mais velha que minha avó, mas continuei sem reclamar até que o sol estivesse a cerca de uma hora de se pôr.
— Misericordioso Vritra. — murmurei quando finalmente nos acomodamos à noite nos galhos grossos de uma árvore.
Cole passou tiras de carne seca salgada e uma raiz cristalizada para cada um de nós, me dando um sorriso gentil quando notei que minhas peças eram maiores que as demais.
Rasgando pedaços menores da carne seca, deixei-a descansar na minha boca para que minha saliva a suavizasse antes que a mastigasse. Nós quatro comemos silenciosamente, saboreando a primeira pequena pausa em dois dias.
Depois de sugar o açúcar da raiz cristalizada e tomar um gole do meu frasco, voltei ao trabalho.
Acendendo meu emblema suado, ativei o Sentido Verdadeiro. A sensação perturbadora da minha consciência deixando meu corpo parecia como se eu estivesse tirando a roupa em meio a uma tempestade de neve, mas aguentei, saboreando a vista deslumbrante da floresta abaixo de mim.
Como um fantasma flutuando no céu, inabalável, estreitei meu Sentido Verdadeiro para focar em um único elemento. Minha cabeça, figurativamente falando, uma vez que meu corpo real estava sentado, quase em coma, abaixo de um galho de árvore, latejava terrivelmente.
Li que o verdadeiro domínio dessa habilidade virá quando minha mente for capaz de ver todas as quatro partículas elementares de mana na atmosfera. Se for esse o caso, ainda tenho um longo caminho a percorrer.
Apesar da dor entorpecente, fui logo recompensada quando partículas de mana ambiental se iluminaram em verde. Apressadamente, examinei ao longo do horizonte, procurando desesperadamente grandes aglomerados de mana ambiental de vento que nos levariam ao reino oculto dos elfos.
Ao estender meu verdadeiro sentido, o latejar tornou-se insuportável. Só um pouco de tempo
— Lá!
Imediatamente, minha forma não-física foi sugada de volta ao meu corpo, que ficou ancorado pelo poderoso emblema. O último brilho verde sumiu da minha visão quando retornei ao meu rosto físico com um suspiro.
— Você teve sucesso, Circe? — Fane perguntou imediatamente, fiel à sua impaciência.
Meu corpo ainda estava frio, como se tivesse entrado em um novo conjunto de lençóis, mas meus lábios se curvaram em um sorriso.
— O reino ainda está muito longe, mas consegui encontrar uma área maior de flutuações de mana com a viagem de quase um dia daqui.
— Maior? — Maeve ecoou com um brilho nos olhos. — Isso significa que é um assentamento maior, ou talvez até uma cidade.
Cole passou a mão pelo cabelo comprido enquanto soltava um suspiro.
— Pelo menos estamos seguindo o caminho certo. É bom saber que tudo isso até agora não foi à toa.
— Como esperado de um membro do sangue Milview. Suas habilidades como sentinela são verdadeiras. — elogiou Fane enquanto arrancava um pedaço de sua carne seca.
Aceitando seus elogios raros, continuei.
— Não poderei usar meu emblema por mais um dia, mas depois de me recuperar completamente, quero fazer outra sondagem aprimorada em mana de atributo de água.
— Inteligente. — Maeve concordou. — De nossos relatórios, esses elfos são especialistas principalmente em água ou vento.
Depois de terminar nossa refeição modesta, ficamos mais à vontade possível dentro dos galhos da árvore antiga nas profundezas do território inimigo. Cole ou eu tínhamos que estar de vigia, para o caso de algo se aproximar, mas desde que acabei de gastar muito da minha mana ativando meu emblema, Cole e Maeve foram os primeiros a vigiar.
O escudeiro desgastado com uma idade próxima a de meu pai, me lançou um sorriso antes de erguer uma pequena barreira de disfarce ao nosso redor, enquanto Fane e eu dormíamos.
Apesar do galho frio e duro pressionado contra minhas costas e o medo de cair, mesmo que tenhamos nos amarrado à árvore, logo adormeci.
Mal devo ter fechado os olhos quando já fui sacudida por Maeve.
— Já se passaram duas horas. — ela sussurrou, sinalizando para eu assumir antes de acordar Fane.
Não tem como já fazer duas horas, gemi internamente.
Percebendo que eu estava acordada, Cole extinguiu seu feitiço antes de enrolar a capa e usá-la como um travesseiro improvisado para dormir.
Mesmo com a ameaça sempre iminente de ser descoberta e morta, ainda tinha que beliscar minhas bochechas para me acordar completamente. Colocando mana em minha segunda crista, a que recebi depois de compreender completamente o feitiço, enquanto ainda era apenas uma marca, minha consciência se espalhou para um raio de quarenta jardas ao nosso redor. Normalmente, seria capaz de esticar minha esfera de consciência para mais de cem jardas, independentemente do terreno, mas a magia misteriosa que envolvia essa floresta sem fim, restringia os sentidos de todos.
Se nossa jornada durante o dia parecia estar indo devagar, a noite sob vigília era interminável. Diverti-me concentrando-me em um pássaro noturno alimentando seu sangue recém-nascido a uma dúzia de jardas de distância quando senti os corpos entrarem no escopo do meu alcance.
Elfos!
Eu bati minha cabeça e troquei olhares com Fane. Antes que eu pronunciasse a palavra, ele parecia saber que algo estava errado com a minha expressão.
— Quantos? — Fane murmurou.
Levantei três dedos e apontei na direção em que eles estavam vindo.
Com um aceno de cabeça, nós dois rapidamente sacudimos Maeve e Cole acordados, cobrindo a boca enquanto o faziam, caso fizessem um som.
Depois de acordar, Cole rapidamente ergueu uma barreira de duas camadas que amorteceu os sons e ocultou nossa presença. Depois de erguer barreiras o dia todo e mal conseguir dormir, o escudeiro estava lutando para manter seus feitiços, mas suportou. Ele tinha que suportar.
— Cerca de uma dúzia de jardas de distância. — sussurrei solenemente. — Se tivermos sorte, passarão ou seguirão um caminho diferente. Se eles suspeitarem de algo próximo de nós, levarei Circe ao mesmo tempo em que Maeve e Cole os seguram. — Fane declarou.
Meus olhos se arregalaram em pânico.
— Todos nós podemos ficar e lutar. Nós os superamos em números!
Cole esfregou o queixo.
— Mesmo se ficarmos e lutarmos, teremos que fazer isso com magia, que deixará vestígios. É muito arriscado.
— Cole está certo. — acrescentou Maeve, amarrando os cabelos escuros em um nó apertado. — Somos dispensáveis nesta missão. Você não é.
A gravidade de suas palavras me abalou, mas sabia que era verdade. De todas as equipes que tentavam criar uma rota para o reino élfico, eu era a única sentinela com um emblema poderoso o suficiente para navegar efetivamente na floresta de Elshire. Ainda assim, o pensamento de abandonar meus companheiros de equipe me deixou mal.
— E se nós os emboscarmos e tomarmos um refém? Podemos usar o elfo para…
— Você sabe o que aconteceu com o outro time que tentou isso. — Fane interrompeu severamente, seus olhos afiados me perfurando.
Assenti. O elfo capturado havia se matado e a equipe foi rastreada por seus irmãos.
— Felizmente, eles estavam perto da fronteira sul da floresta e isso não aconteceu muito depois do ataque inicial às feras, ou eles se tornariam suspeitos. — Maeve murmurou.
Nós quatro paramos de sussurrar, com medo de que os elfos pudessem nos ouvir, mesmo com a barreira de duas camadas ao nosso redor.
Quando os passos abaixo de nós eram audíveis aos nossos ouvidos, estávamos prendendo a respiração. Fechei minha boca com as mãos, rezando para que eles continuassem andando.
Tradução: Reapers Scans
Revisão: Reapers Scans
QC: Bravo
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