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O Começo Depois do Fim – Cap. 196 – Uma Cidade Interior

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POV VIRION ERALITH

Sentei-me na cadeira almofadada de madeira retorcida, lançando um olhar cansado aos dois pares reais já prontos para atacar um ao outro; a única coisa que mantinha os quatro em silêncio era o respeito por mim.

À minha frente, havia um rolo de transmissão que continha o conteúdo da reunião de hoje enviado por Arthur. Uma suspeita assustadora de que o garoto em questão havia decidido não voltar logo a fim de evitar essa reunião borbulhou dentro da minha cabeça, mas deixei passar com um suspiro.

Eu te perdoo Arthur. Também não queria estar aqui, pensei, aproveitando um momento para apreciar a sala luxuosamente decorada.

Com um fogo acolhedor aceso na lareira e vários artefatos de luz dispostos em arandelas de ouro ao longo das paredes, a sala era projetada com uma atmosfera acolhedora e amigável, como se estivesse sutilmente zombando da hostilidade daqueles que estavam presentes lá dentro.

O último fragmento de luz natural da janela à minha esquerda escureceu quando o sol mergulhou sob as nuvens. Tomei isso como minha deixa para iniciar a reunião.

— Sentem-se. Vamos começar.

Houve um momento de silêncio enquanto os quatro na sala comigo se entreolharam antes de o chefe da família Glayder pigarrear.

— Bem, todos nós fomos informados sobre o relatório do General Arthur e da General Aya, por isso vamos direto ao ponto. Acredito que devemos manter nossas forças como estão e enviar reforços para a Floresta de Elshire, conforme necessário. — disse Blaine. Apesar das bochechas afundadas e do estado não barbeado que cobria a metade inferior do rosto com a mesma cor carmesim do cabelo do rei humano, falou resolutamente.

Permaneci em silêncio e neutro, como era meu trabalho até que todos os lados, que neste caso, dois, explicassem seus argumentos.

— Conselheiro Blaine. O envio de reforços conforme a necessidade para a fronteira entre as Clareiras da Fera e a Floresta Elshire sugere que você não vê o território élfico digno de defesa. — Merial entoou friamente.

Anos fazendo parte do Conselho haviam transformado minha nora outrora animada em uma diplomata fria e afiada.

— Oh, não distorça minhas palavras, conselheira Merial. — Blaine rebateu. — O relatório declarou dois ataques separados, mas foi coordenado para acontecer ao mesmo tempo. Isso significa que, até agora, apenas um ataque foi realizado no território élfico. Compare isso com os ataques quase diários ocorrendo no Muro, não deveria ser óbvio que proteger as fronteiras de Sapin é mais importante?

— Ninguém está dizendo que a defesa da Floresta de Elshire é mais importante que Sapin. — disse Alduin, calmo. — No entanto, assim como existem soldados élficos posicionados no Muro para ajudar a proteger Sapin, deve haver pelo menos alguma forma de defesa nas fronteiras da floresta, você não acha?

— A Floresta de Elshire é uma forma de defesa. — acrescentou Priscilla Glayder, apontando com o dedo para a parte inferior da floresta no mapa disposto na frente deles. — O nevoeiro carregado de mana em si tem sido uma forma de dissuasão para todos menos aos elfos, desde a sua existência. Até as tentativas de ataque de ontem falhariam eventualmente se você optasse por ignorar os invasores. Os Alacryanos e bestas se perderiam e morreriam de fome muito antes de chegarem a qualquer cidade periférica de Elenoir.

— A floresta em si é parte do Reino de Elenoir, e ainda existem tribos de elfos alojados fora das cidades. — afirmou Alduin, sua voz ficando mais alta. — Seguindo essa linha de raciocínio, Sapin também estaria melhor se abandonasse o Muro e as pequenas cidades próximas à fronteira, para que haja menos terra para proteger.

— Como você pode chamar isso de uma comparação adequada?! — Blaine rugiu, batendo as palmas das mãos na mesa redonda. — O caminho mais fácil para as principais cidades de Elenoir é passando pela cordilheira norte das Grandes Montanhas, a partir de Sapin. Se Sapin cair, até mesmo as cidades exteriores, os Alacryanos também terão acesso muito mais fácil às suas terras!

— Cuidado com o seu tom, conselheiro — retrucou Merial, seus brilhantes olhos azuis ficando escuros. — Você age como se os elfos estivessem em dívida com você mesmo tendo enviado muitos magos para ajudar suas tropas a afastar os Alacryanos de suas águas. Se apenas um quarto desses soldados estivesse posicionado para proteger as fronteiras da floresta, nem precisaríamos dessa reunião.

A ex-rainha humana falou, sua voz arrepiante acalmando a discussão acalorada.

— A verdade permanece como é. Embora você possa dizer que a Floresta de Elshire faz parte do seu reino, nenhuma cidade ou mesmo vilarejo está em batalha. Até que essa necessidade cresça, enviar tropas apenas enfraquecerá as fronteiras que enfrentam batalhas continuamente.

Alduin esfregou a ponta do nariz, fechando os olhos. Quando os abriu, seus olhos cor de esmeralda se fixaram nos meus.

— Tudo o que estamos solicitando é que enviem alguns de nossos homens de volta para Elenoir para que possam defender sua casa.

— Não existem seus homens. Você esqueceu? O Conselho foi formado para unir as três raças porque previmos uma ameaça externa. Nosso trabalho é manter a imparcialidade e liderar todo o continente a uma vitória sobre os Alacryanos, e não apenas Elenoir — rebateu Blaine antes de se virar para mim. — Imploro ao comandante Virion que permaneça imparcial pelo bem desta guerra.

— Você fala de imparcialidade quando se concentra no que é melhor para o seu reino! — Alduin argumentou, a ponta das orelhas ficando vermelha. — E se o objetivo do Conselho era unir as três raças, e ainda assim uma das três raças nem está presente, isso não acaba com todo o propósito?

— Chega!

Os presentes na sala sentiram a pressão palpável que joguei no local. Até Priscilla, com o coração à beira de virar prata, empalideceu enquanto lutava.

— Ouvi os dois lados e, antes que vocês se degradem argumentando como crianças mimadas, irei me inserir na discussão.

Blaine e Alduin coraram de raiva e vergonha, mas permaneceram em silêncio.

Lancei um olhar afiado para todos dentro antes de falar novamente.

— Com base no número de ataques, Sapin continua sendo uma prioridade para os Alacryanos. Como o conselheiro Blaine mencionou, o caminho mais fácil para as principais cidades de Elenoir é atravessando a faixa norte das Grandes Montanhas desde Sapin, e como houve pequenos ataques perto dessa área, devemos prosseguir com a suposição de que os Alacryanos também sabem disso. Nós enviaremos mais tropas para solidificar a defesa dessa área.

— Isso ainda não–

Outro pulso de mana fez com que a mandíbula de Alduin se fechasse.

— Quanto à defesa das fronteiras do sul de Elenoir, teremos várias unidades da divisão Trailblazer posicionadas para fazer expedições apenas nas masmorras próximas, para que possam ressurgir e atuar como suporte adicional em caso de mais ataques na floresta.

A sala permaneceu tensa, mas todos pareciam satisfeitos, pelo menos um pouco.

— Bom. — assenti. — Agora quanto ao problema maior. Nossa aliança com os anões permaneceu neutra na melhor das hipóteses e hostil para o restante. Mesmo com a formação do Conselho, os representantes dos anões sempre tiveram sua própria agenda e prioridades, mas espero que isso mude em breve.

Virei minha cabeça em direção à única porta, e todos seguiram. Depois de um momento de silêncio, limpei minha garganta.

— Você pode entrar agora.

— Oh, droga, perdi minha deixa! — uma voz rouca soou do outro lado da sala.

Podia sentir um sorriso se formando nos meus lábios.

A maçaneta ornamentada tremeu bruscamente diante de um anão musculoso, com uma barba branca grossa e um roupão decorado que parecia ser de alguns tamanhos menores.

Com um sorriso infantil, sentou-se na cadeira vazia mais próxima dele antes de se apresentar.

— Buhndemog Lonuid. Prazer em conhecê-los.

POV ARTHUR LEYWIN

Descendo os lances intermináveis ​​de escadas de pedra, fiquei fascinado pela agitação da atividade à nossa volta. Não pude deixar de pensar em quão enganoso era o nome “A Muralha” era muito mais que isso.

Cada lance de escada levava a um andar diferente dentro da Muralha. Os andares mais altos se aguentavam com relativamente pouca coisa, com pedras e metais reforçados sendo continuamente mantidos por magos humanos e anões. Havia também equipes de mágicos e arqueiros alocados nesses andares superiores, responsáveis por atirar nos inimigos abaixo através das numerosas janelas. Adjacente às múltiplas escadas que abrangiam toda a altura da Muralha havia dezenas de polias que carregavam flechas, provisões e outros suprimentos para os níveis superiores.

O som de ferramentas batendo contra pedra e aço foi realmente abafado pelos passos de soldados e trabalhadores, que nunca paravam nem por um momento.

— Por favor, desculpe o barulho, general. Disseram-me que é bastante avassalador para aqueles que não estão acostumados a isso — Albanth gritou, sua voz mal audível pelo clamor.

— Impressionante, de fato. — respirei fundo. — Lamento demorar tanto para realmente visitar o Muro. É incrível!

— Embora eu queira receber o crédito, sou bastante novo aqui. O capitão sênior, junto com alguns outros como minha pessoa, reporto é o único responsável por todo o sistema e estrutura deste local — explicou, acenando para alguns trabalhadores que o saudavam.

Continuamos descendo as escadas até chegarmos a um portão acompanhado por dois soldados em guarda.

— Os andares daqui em diante também são acessíveis para os civis. — explicou Albanth, exibindo um distintivo para os guardas.

— Capitão! — Os dois saudaram antes de virar um olhar incerto para mim.

— Tolos! — Albanth gritou. — Você foi ensinado a encarar na presença de uma Lança?

Os olhos dos guardas blindados se arregalaram, seus rostos empalidecendo.

— General! — imediatamente se curvaram em uníssono.

O capitão coçou a nuca.

— Minhas desculpas, general. Alguns dos soldados inferiores ainda não conseguem reconhecer as Lanças à vista.

— Está tudo bem. — disse sorrindo, olhando para os soldados. — E uma saudação é suficiente.

— Sim, senhor! — O soldado da direita respondeu, de pé, em uma saudação.

O outro seguiu seu companheiro.

— É uma honra conhecer uma Lança famosa!

— Apenas abra os portões. — Albanth suspirou, balançando a cabeça.

Os dois lutaram para abrir as dobradiças de metal e continuamos nossa descida. No andar seguinte, peguei-me suando e meus olhos ardendo levemente.

— Existe um incêndio em algum lugar?

— De certa forma, sim. — disse o capitão suado, puxando o decote do colarinho da armadura para se refrescar. — Estamos chegando ao nível que contém nossa forja principal.

Outro lance de escadas e pude ver toda a glória da forja. A fumaça era ventilada através das fendas estreitas perto do teto, mas o chão ainda estava coberto por uma densa nuvem negra. Uma espessa camada de calor constantemente irradiava das várias forjas espaçadas uniformemente entre as equipes de ferreiros. Ferramentas ficavam penduradas nas prateleiras, enquanto dezenas de homens musculosos martelavam suas bigornas.

Alguns magos de metal anões que eu vi realmente moldavam barras de metal fundido como se fossem feitos de vidro. Aprendizes corriam ocupados, alguns segurando baldes enquanto outros carregavam caixas de armas prontas para serem entregues em outros andares, ao mesmo tempo em que os trabalhadores continuavam a manutenção da parede traseira que os protegia dos inimigos do outro lado.

— Por favor, aguente um pouco mais o calor. — Albanth entrou na conversa. — Estamos quase chegando, general!

Quanto mais andávamos, mais pessoas realmente existiam. Além dos soldados e diferentes tipos de trabalhadores, havia uma boa quantidade de comerciantes e aventureiros desonestos também.

— Há uma economia totalmente separada aqui. — falei comigo mesmo.

— Certamente. — Albanth concordou, limpando o suor com as luvas. — Como não existe lei exigindo serviço para a guerra, estabelecemos recompensas para aventureiros que estejam dispostos a gastar seu tempo no campo ou nos níveis superiores da Muralha. É um dinheiro fácil para eles, e temos um quase interminável fornecimento de magos e combatentes saudáveis. A única desvantagem é que, às vezes, há brigas entre os soldados e os aventureiros, mas é bastante raro, pois qualquer problema bane os aventureiros de conseguirem empregos aqui.

— E os comerciantes estão aqui por causa dos aventureiros? — imaginei, examinando as filas de barracas e tendas montadas no térreo.

— Sim, senhor. Eles estão restritos à rota principal de onde vêm os suprimentos de nossos soldados e também são tributados pesadamente por fazer negócios aqui, mas ainda vêm em massa. — Albanth riu. — Uma ideia bastante brilhante do capitão sênior, se é que posso dizer. Por isso, a maioria dos aventureiros que assumem empregos aqui são pagos pelo dinheiro que os comerciantes pagam para fazer negócios aqui pelos aventureiros!

— Brilhante. — ecoei, acenando para os guardas que se curvaram profundamente ao me reconhecerem. Foi uma ideia engenhosa que falou muito sobre o capitão sênior encarregado de toda essa estrutura. Albanth liderou o caminho, separando as multidões no térreo para mim. — Tenho certeza que voar para baixo teria sido muito mais rápido, mas espero que este pequeno passeio tenha ajudado você a se familiarizar com a Muralha.

— Eu me sinto agradecido, capitão Albanth.

O capitão sorriu, os pés de galinha se aprofundando.

Caminhamos por mais alguns minutos até chegarmos a uma área mais tranquila. Um pavilhão de lona incomumente grande se destacava contra a montanha com vários magos vigiando. Albanth apontou para a luxuosa tenda branca.

— Esta é a sala que os capitães e líderes usam para realizar reuniões. Você veio em um bom momento, pois há uma reunião acontecendo agora. Estava prestes a descer pouco antes de você chegar.

— Estou feliz que tudo deu certo. — respondi.

— Engraçado como as coisas funcionam dessa maneira. — riu, mostrando seu distintivo mais uma vez para os guardas. — O capitão sênior Trodius, junto com o outros capitães e vários líderes estão lá dentro.

Trodius? Pensei, reconhecendo vagamente o nome de algum lugar.

Os guardas abriram a barraca e entrei atrás de Albanth. Dentro havia uma grande mesa redonda com um mapa detalhado do que parecia a Clareira das Bestas. No mapa havia várias figuras de madeira com formas diferentes para indicar várias posições das masmorras e tropas. Havia sete pessoas sentadas ao redor da mesa, todas com armaduras surradas e roupas desgrenhadas, atualmente em discussão.

No outro extremo da mesa circular estava um homem que eu só conseguia descrever como a imagem perfeita de um cavalheiro tradicional. Bonito, com cabelos pretos brilhantes meticulosamente cortados, vestido com um terno impecável de estilo militar que parecia ter sido feito nesta exata manhã. Os olhos dele eram afiados e realçavam sua íris brilhando com um leve tom de vermelho.

O homem parou no meio da frase ao perceber nossa chegada e se levantou. Abaixou a cabeça depois de olhar diretamente para mim. — General Arthur Leywin.

O resto se levantou e curvou-se também ao ouvir meu título. O capitão Albanth saudou o homem que acabara de me cumprimentar.

— Minhas desculpas por estar atrasado.

— Dada a natureza da tarefa, isso não tem importância. — disse o homem, sem demonstrar emoção. — Por favor, sente-se e me permita me apresentar.

— Sou Trodius Flamesworth, capitão sênior encarregado do Muro.

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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