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O Começo Depois do Fim – Cap. 186 – Passos de dragão

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— Você precisa ser melhor do que isso, jovem general. — Buhnd sorriu, balançando o dedo.

Infundindo fogo nos minis tornados que tinha em minhas mãos, me preparei para tentar acertar o anão ancião mais uma vez quando uma enxurrada de orbes de vento veio de cima.

Com um clique da minha língua, ignorei a provocação de Buhnd e concentrei minha atenção no ataque de Camus. Evitei facilmente as esferas de vento até que o chão sob meus pés se elevou e enrijeceu em volta da minha perna, me deixando imóvel.

Um dos orbes do vento me acertou de raspão no ombro, mas parecia que tinha sido atingido por uma bala de canhão.

Segurei a necessidade de amaldiçoar e apenas cerrei os dentes com a dor.

É assim que você quer jogar.

Minha reação inicial foi erguer uma parede de terra ou gelo na esperança de bloquear a barragem de Camus, mas nesses últimos dias estava constantemente tentando pensar em melhores maneiras de combater certas situações.

Muitas vezes, isso significava executar vários cenários e tentar pensar em várias maneiras de contornar isso, levando em consideração o custo de mana e resistência física.

Os orbes de vento pareciam quase sólidos, mas na verdade era um turbilhão embalado em uma esfera. Jogando fora minha resposta habitual de erguer uma parede sólida para deter o feitiço do vento, envolvi meus braços em vendavais condensados.

Em vez de tentar bloquear o ataque, usei minhas manoplas de vento para redirecionar as esferas de vento. Como eu esperava, o choque de ventos impulsionou as esferas de Camus em direções diferentes.

— Vocês dois terão que fazer melhor do que isso. — sorri, apontando as manoplas de vento. Com outro pensamento, atirei minhas manoplas no que estava prendendo minhas pernas no chão.

— Conceito interessante. — Disse Camus, aprovando, enquanto continuava flutuando acima de mim em um redemoinho de vento.

— Essa arrogância será a sua morte. — Acrescentou Buhnd com um sorriso ansioso.

O velho anão começou a correr em minha direção quando pedaços do chão começaram a se reunir ao seu redor, formando uma armadura de pedra no meio de sua corrida.

Enquanto isso, Camus manteve distância e preparou outro feitiço.

Esperava outra enxurrada de vento do elfo, mas, em vez disso, um vendaval se formou logo atrás do anão, acelerando abruptamente sua investida de forma que seu punho de pedra estava ao alcance antes que eu pudesse piscar.

Buhnd foi rápido, mas ainda tive tempo de reagir, ou assim pensava.

Quando tentei levantar o braço para bloquear seu punho fortalecido, fui recebido com uma resistência. Mais uma vez, a sensação familiar de meu corpo estar submerso em um líquido viscoso tomou conta de mim.

Camus, ao mesmo passo que acelerava o movimento de Buhnd, também estava aumentando a pressão do ar ao meu redor para me desacelerar.

Antes que eu pudesse romper seu feitiço, meu rosto foi recebido com o toque amoroso do punho de pedra gigante de Buhnd.

Minha visão brilhou em preto por uma fração de segundo e me vi no chão com a forma de pedra de Buhnd a poucos metros de distância.

Ignorando o zumbido agudo no meu ouvido, forcei-me a focar. As engrenagens em minha mente zuniram em excesso e me peguei pensando sobre as fendas que se formavam no chão sempre que Buhnd lutava. Toda vez que ele recebia um ataque físico, uma cratera se formava sob seus pés como se um meteoro tivesse colidido.

No começo, pensei que era a força dos feitiços que causou a rachadura do solo abaixo de Buhnd, mas sabia que não era tão simples assim.

— Tente bloquear isso! — Buhnd exclamou, levantando um braço de pedra no ar. A pedra que compunha o grosso punho blindado mudou e convulsionou como se estivesse ganhando vida. O braço revestido de pedra de Buhnd logo mudou de forma para um martelo gigante com o dobro do seu tamanho.

Uma rajada de vento cobriu o martelo quando ele estava prestes a bater em mim.

Se isso me acertar, será meu fim com certeza.

As lembranças das crateras que Buhnd formou continuaram a piscar em minha mente quando de repente entendi.

Ainda deitado no chão, levantei a mão diretamente no caminho do martelo gigante. Fortaleci meu corpo, mas não da maneira protetora que normalmente fazia. Em vez disso, imaginei um caminho de mana de terra, parecido com um túnel, dentro e fora do meu corpo.

Vi um traço de hesitação no rosto de Buhnd, mas não havia como ele parar o ataque agora que estava a poucos centímetros de mim.

Se isso não funcionar, vou sentir muita dor. Pensei.

O martelo atingiu minha palma como um meteoro e pude sentir meu corpo inteiro protestar. Normalmente, se eu tentasse bloquear um ataque tão forte com apenas uma mão, meu braço teria quebrado, mas, em vez disso, o chão abaixo de mim se partiu com a força.

Me encontrei no epicentro de uma cratera do tamanho do meu quarto com a mão ainda estendida. Meu braço, ombro, costelas e costas estavam doloridos, mas eu tinha conseguido.

Buhnd, ainda usando sua armadura de pedra, olhou para mim, incrédulo, até que um sorriso apareceu em seu rosto barbudo. 

— Você é um pouco assustador, general.

Sufoquei uma risada, tentando me levantar quando uma onda de dor se apressou.

Minto. Não eram apenas algumas partes do meu corpo que estavam doloridas, eram todas as fibras do meu corpo.

— O-oww. — Eu resmunguei, finalmente conseguindo me sentar.

Buhnd dispersou sua armadura de terra e estendeu a mão robusta. 

— Dói, não é?

— Extremamente. — admiti. — Você fez parecer nada.

— Bem, eu tenho melhor controle sobre essa técnica do que você e não seria estúpido o suficiente para tentar desviar a força de um ataque tão forte em primeiro lugar. — Respondeu o anão. Tentou colocar meu braço sobre seu ombro, exceto que minhas pernas estavam arrastando desajeitadamente no chão devido a nossa diferença de altura.

— Aqui, deixe-me ajudar. — Disse Camus enquanto flutuava no chão. Uma corrente ascendente me levantou quando Camus mergulhou a cabeça abaixo do meu outro braço.

— Eu estava prestes a carregar o garoto como a princesa que ele é. — Buhnd me deu uma piscadela.

Revirando os olhos, apoiei-me em Camus. 

— Deixe-me com alguma dignidade.

— Você assumiu um risco, mas acha que valeu a pena? — Camus zombou, os olhos ainda cobertos por trás da franja.

— Por enquanto, sim, mas vamos ver como meu corpo se sente sobre isso amanhã de manhã. — gemi, mancando ao lado do elfo.

Minha irmã veio correndo para mim, seu olhar cheio de preocupação. 

— Você está bem? Quero dizer, eu sei que você é forte e tudo, mas você acabou de fazer uma grande cratera.

Emily, que estava seguindo-a, ajeitou os óculos enquanto espiava a zona de luta. 

— Felizmente a cratera não alcançou os discos subterrâneos.

— Obrigado pela sua preocupação, Ellie. Lhe dei um sorriso cansado antes de voltar meu olhar para minha assistente logo atrás. — Vou ficar bem… certo, Alanis?

Seus olhos mudaram para o tom multicolorido por um segundo antes de voltar para suas cores originais. 

— O choque interrompeu seu fluxo de mana, que é a causa de suas dores internas. Sugiro que descanse um pouco, general Arthur.

— Boa ideia. — Concordou Buhnd. — Lembro de minhas primeiras tentativas de tentar o feitiço de desvio de força. Você tem sorte de ter escapado com apenas alguma dor.

— Ou habilidade. — Minha irmã apontou presunçosamente.

Buhnd riu. 

— Ou habilidade.

— De qualquer maneira, Hester e a princesa Kathyln estão visitando o príncipe Curtis na Academia Lanceler. — Camus mencionou, cuidadosamente me colocando no chão.

— Ooh, eu posso imaginar os olhos daqueles aspirantes a cavaleiros brilhando de suor quando vêm a princesa. — Suspirou Emily. — Deveria ter ido com ela.

Minha irmã assentiu melancolicamente. 

— Eu também. Ouvi do meu amigo que muitos caras lá são bonitos… e musculosos.

— Eleanor! Você tem apenas doze anos! — falei.

— Não me venha com “Eleanor”! Sou uma senhorita curiosa isolada do mundo por causa da minha educação diferenciada por ser a querida irmã da lança mais jovem do continente! — lamentou, enxugando uma lágrima inexistente.

Emily caiu na gargalhada enquanto até Alanis parecia se divertir quando eu olhava para minha irmã.

— Não seja tão superprotetor! Tive minha primeira esposa quando tinha a idade de sua irmã. — Buhnd bufou.

— Bem, humanos e anões têm padrões sociais diferentes para esse tipo de coisa. — Protestei.

— Ooh, você está sendo racista, irmão. — Minha irmã balançou a cabeça em desaprovação quando Buhnd agarrou seu coração em fingido desespero. Ao mesmo tempo, Camus e Alanis pareciam estar se divertindo, mas nenhum parecia ter a intenção de me apoiar.

Eu estalei minha língua.  

— Bem, senhorita Eleanor, tenho certeza de que os meninos vão flertar com você sabendo que seu irmão pode faze-los desaparecer do continente com um estralar de dedos.

O rosto de Ellie empalideceu quando ela ofegou. 

— Você não faria.

Satisfeito com a reação dela, simplesmente dei de ombros, deixando sua imaginação assumir o controle antes de fazer o meu caminho para a borda da sala de treinamento.

Sentei-me contra a parede fria, respirando enquanto observava Emily e minha irmã arrumar alguns dos equipamentos de treinamento e Buhnd conversava com Alanis.

Camus sentou-se ao meu lado. 

— Sua irmã tem bastante personalidade.

— Sim. — ri.

O velho elfo soltou um suspiro. 

— Você deve estar preocupado com ela devido a guerra.

— Ela e meus pais são uma grande parte do motivo de eu ter entrado nessa guerra. — respondi, olhando alegremente para a visão de minha irmã e Emily rindo no meio de suas conversas.

— Compreensível. — respondeu Camus. — Proteger seus entes queridos é o maior motivador para os soldados em batalha, mas também é a perda daquele que você quer proteger que faz com que os soldados se afastem.

— Parece que você fala por experiência própria. — disse seriamente, virando meu olhar para ele.

— Uma história antiga para outra hora, mas sim. É a razão pela qual fiquei em reclusão por tanto tempo.

Pisquei. 

— Mas Virion mencionou que você é o chefe de uma unidade agora?

— Um título apenas. Depois que perdi minha esposa e minha visão durante a última guerra, não tive nenhuma intenção de lutar novamente. — murmurou. — Antes disso, eu apenas contribuía com o comandante.

— Espera. Sua visão? — repeti, minhas sobrancelhas franzidas em confusão.

Camus ergueu a franja loira-prateada para revelar dois olhos fechados com uma cicatriz irregular atravessando as duas pálpebras.

— Espera. Você está me dizendo que não foi capaz de ver esse tempo todo? — disse, incapaz de tirar o olhar dele.

— Surpreso? — O elfo sorriu, deixando a franja cair sobre o rosto.

— Claro que estou surpreso. Estamos treinando há algumas semanas juntos e nem suspeitei de nada. Quero dizer, além de sua destreza em combate, suas manobras e seu comportamento não revelam o fato de que você não pode ver.

— Eu ainda posso ver. — corrigiu. — Ver com os olhos é uma prática tão pobre quando seu controle sobre o vento permite que você sinta até a menor mudança ao seu redor.

Soltei um suspiro afiado, espantado. Após um momento de silêncio, perguntei. 

— É isso que você tem praticado depois de se aposentar?

— Definitivamente tomou uma grande parte do meu tempo. — zombou.

— Aposto que sim. — assenti, me perguntando se ele poderia dizer o que eu estava fazendo.

— No meu nível, sentir o movimento no ar de você concordando é fácil. — disse ele como se estivesse lendo minha mente. — Mas não consigo ver os detalhes das expressões, é por isso que me disseram que posso parecer rude ou grosseiro.

— Entendo… sem trocadilhos. — rapidamente corrigi.

— Não se importe tanto. Me acostumei com isso rapidamente. — dispensou.

Hesitei. 

— Você… sente falta disso? — Claro que ele sentiria falta, seu idiota. Quem não sentiria falta de ter um de seus sentidos?

— Às vezes. — disse suavemente. — Mas, ao mesmo tempo, o fato de que a última coisa que vi com meus olhos foi minha esposa me permite mantê-la intacta dentro de mim.

Não chore, Arthur. Não chore.

— Isso é triste, mas… bonito. — Encolhi, lutando para manter minha voz tremendo. — Eu adoraria ouvir sua história em algum momento.

— Você é jovem, general Arthur. Nada de bom resulta em ouvir histórias trágicas quando há uma guerra inteira à sua frente. — Respondeu Camus limpando sua garganta. — Agora vá e descanse um pouco e volte amanhã com uma mente renovada.

Eu cuidadosamente me levantei. 

— Ok… te vejo amanhã então.

Ele acenou diretamente para mim, nenhum sinal de que sua visão estava prejudicada. 

— E se eu sentir que você estiver pensando em ir com calma comigo agora que sabe, vou te bater com tudo que tenho…

— Não se preocupe. — disse, balançando a cabeça. — Na verdade, estou com um pouco mais de medo de você agora.

Os lábios do elfo se curvaram em um sorriso satisfeito. 

— Bom.

Minha irmã e seu vínculo seguiram Alanis e Emily até a estação de trabalho do artífice no castelo depois de mencionar que seu arco precisava de alguns reparos e ajustes finos. Minha assistente de treinamento reuniu anotações extensas diariamente durante o treinamento, mas recusou-se a compartilhá-las comigo.

Alanis disse que o treinamento estava ocorrendo da maneira que planejou e qualquer informação adicional compartilhada comigo poderia impedir meu treinamento neste momento. Ela prometeu revelar suas descobertas sobre o crescimento do meu fluxo de mana na próxima semana, depois que mais dados dos artefatos de Emily forem coletados.

Andar pelo corredor vazio durante a calada da noite tem sido um momento para meus próprios pensamentos vagarem. Pensei muito nas memórias da minha vida passada que foram ressurgindo, o que me fez pensar mais profundamente sobre a questão ainda maior do que eu estava fazendo neste mundo.

Meu eu cético recusou-se a acreditar que tudo isso era uma coincidência, mas eu não tinha informações suficientes para descobrir como vim a este mundo ou dimensão.

Eu sabia que os asuras, principalmente Lorde Indrath, sabiam mais sobre mim do que haviam compartilhado, mas eu não receberia qualquer tipo de resposta dele sem algo em troca. Eu tinha alguma esperança de que se Dicathen saísse vitoriosa desta guerra, Lorde Indrath estaria mais inclinado a compartilhar algumas ideias sobre mim, mas isso era apenas uma esperança. Uma maneira mais segura de obter algumas respostas, e também a razão pela qual me recusei a aceitar o artefato dado às lanças, foi ultrapassar o estágio do núcleo branco para desbloquear mais da mensagem que Sylvia me deixou depois que nos separamos.

<i>Espero que extrair a mana do chifre de Uto me leve ao avanço necessário para o estágio do núcleo branco,</i> pensei, em dúvida. Sylvie estava quase em estado de coma enquanto extraía avidamente a mana do chifre. Fiquei preocupado no início, mas pude sentir o estado relaxado de sua mente através da transmissão mental.

Ao destrancar e abrir a porta do meu quarto, porém, me peguei questionando minha linha de pensamento anterior.

Sylvie, ou melhor, sua silhueta, brilhava sob uma luz obsidiana. Porém, o que me chocou foi sua forma que estava mudando de maneira irregular. Suas asas cresceram e encolheram repentinamente enquanto sua cauda convulsionou antes de se contrair. Os pequenos membros vulpinos de Sylvie se alongaram enquanto suas patas se esticavam em algo que lembrava vagamente uma… mão.

— S-Sylvie? — murmurei, sem saber se deveria tentar segurá-la ou manter alguma distância.

Depois do que pareceu uma hora, as mudanças erráticas no corpo do meu vínculo desaceleraram antes de voltar gradualmente à sua forma vulpina.

Prendendo a respiração, esperei que Sylvie fizesse alguma coisa, qualquer coisa.

Só então, seus olhos se abriram para revelar duas esferas claras de topázio. Soltando um suspiro profundo, Sylvie inclinou a cabeça.

— Arthur? O que está errado?

— Comigo? — perguntei. — Nada… <i>você</i> está bem?

— O que você quer dizer? — Ela respondeu, obviamente confusa.

— Você… seu corpo estava mudando. — Fiz um gesto com as mãos, incapaz de formar uma descrição precisa do que testemunhei.

— Estou bem. — Ela dispensou. — Na verdade, me sinto muito bem! A mana neste chifre é realmente potente.

Cocei minha cabeça.

— Bem, pelo menos você está fazendo algum progresso. Tenho tido dificuldade em absorver a mana.

— Realmente? A mana está fluindo dentro de mim naturalmente, quase como se fosse minha própria mana.

Fiquei perplexo com a diferença entre o progresso de Sylvie e o meu, mas meu cansaço superou qualquer ideia de investigar mais profundamente.

— Tudo bem, tente descansar um pouco.

Meu vínculo balançou sua cabecinha.

— Não há necessidade. Posso sobreviver com menos horas de sono do que os menores, ainda mais enquanto absorvo essa mana, na verdade.

Caí na minha cama.

— Bem, esse menor precisa dormir. Suspeito que não poderei nem voltar ao meu quarto nas próximas semanas para treinar, então preciso aproveitar a sensação desta cama enquanto posso.

— Posso sentir que seu treinamento está indo bem — disse meu vínculo. — Posso sentir o nível de sua força aumentando constantemente.

— Hmm. Com meu treinamento progredindo como está, devo ser capaz de atingir o núcleo branco em breve se conseguir extrair a mana do chifre de Uto — murmurei sonolento.

— Isso é ótimo — respondeu Sylvie, sua voz clara me embalando no sono. — Descanse um pouco.

— Você… também. — Consegui dizer antes de adormecer.

 


 

Tradução: ***

Revisão: ***

 

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