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O Começo Depois do Fim – Cap. 179 – Engenhocas e magia

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Não sabia o que esperar dos meus parceiros de treino. Meu pedido foi de última hora, então em algum lugar na parte de trás da minha cabeça estava imaginando apenas soldados de dentro do castelo.

Havia muitos conjuradores e aumentadores aqui designados como precaução para manter os residentes em segurança. Notei bem cedo que muitos deles eram bastante capazes, portanto, pedir a alguns para serem parceiros de treinamento parecia razoável.

O que eu não esperava era a presença pesada de três anciãos, obviamente poderosos, dentro dos campos de treinamento, ao lado de Kathyln e uma pessoa que parecia presunçosa ao lado de Virion.

— Ah, você está aqui! — Virion ficou de pé, pegando a caixa das minhas mãos e colocando-a no chão antes de me guiar em direção ao grupo. — Eu quero que você conheça a todos.

Olhei por cima do ombro e vi Emily me dando adeus como uma mãe mandando o filho para um campo de batalha.

— Eu sei que vocês já estão familiarizados. — disse Virion, apontando para Kathyln. — Mas, por uma questão de formalidade, esta é a princesa Kathyln, da realeza Glayder e sua guardiã, Hester Flamesworth.

A idosa de cabelos grisalhos puxada para trás em um coque mergulhou a cabeça em uma saudação formal.

— Flamesworth? — soltei, surpreso.

— Ah, então você está familiarizado com a minha família. — disse a mulher, com uma pitada de orgulho em sua voz.

— Sim. Bastante familiar, na verdade. — respondi. O sobrenome chamou minha atenção, mas rejeitei qualquer pergunta que surgisse em minha mente e me concentrei na princesa.

— É uma surpresa agradável vê-la, Kathyln, mas o que você está fazendo aqui? — perguntei.

— A princesa Kathyln é uma notável conjuradora de afinidade gelo agora no estágio central amarelo escuro. — respondeu Hester. — O comandante Virion me pediu para ajudá-lo, general Arthur, com seu treinamento, mas meu trabalho principal é manter a princesa segura o tempo todo. Por estar aqui juntos, estamos alcançando dois objetivos ao mesmo tempo.

Olhei de volta para Kathyln, que assentiu timidamente em concordância.

— Nada mais a fazer além do meu treinamento ocasional com a mestre Varay, então estou aqui para ajudar.

— A princesa e um cavaleiro. Par clássico. — O anão rude sentado em um pilar de pedra levantado sorriu. Coçou o nariz grande e bulboso que levava a um arbusto espesso de branco cobrindo a metade inferior do rosto. Ele era alto em comparação com a maioria dos anões que já tinha visto, mas isso pode ter sido uma ilusão causada por seu assento elevado. Uma coisa, com certeza, era que seu corpo parecia ser composto completamente de músculos. Com grosso, como bulbos estriados de carne endurecida cobrindo seus braços e corpo, estremeci quando ele agarrou minha mão com a sua mão grande e calejada.

— Prazer em conhecê-lo, jovem general. Meu nome é Buhndemog Lonuid, mas a maioria me chama de Buhnd. — disse, com um aperto implacável.

Se era para me avaliar ou afirmar seu domínio sobre uma lança jovem “possivelmente arrogante” eu não sabia, mas retribuí sua saudação com um aperto firme.

A assimilação pela qual passei quando criança depois de herdar a vontade de dragão de Sylvia significava que meu corpo era mais forte do que parecia. Isso com o fato de eu ter praticamente vivido toda essa vida com uma espada na mão significava que eu poderia me segurar mesmo contra essa bola de músculo barbada.

Um pequeno sorriso se abriu no canto dos lábios e ele soltou. — Nada mal, nada mal.

— Cuidado, Buhnd. O garoto não se tornou uma lança com apenas um rosto bonito. — Brincou Virion. — Arthur, esse cabeça de músculo tem sido meu amigo íntimo por alguns anos. Ele pode parecer assim, mas é um gênio quando se trata de magia de afinidade com a terra. Garanto que você aprenderá muito.

— O que há de errado com a minha aparência? — Buhnd estalou. — Quero que você saiba que ainda sou o homem das mulheres em casa.

— Ninguém disse que havia algo errado com ela. — Virion descartou. — Agora, pare de ser sensível.

Estudei os dois brigando, segurando minha língua de todas as perguntas que eu tinha.

Apenas pela aura grossa e prateada que emitia, quase visível a olho nu, ele era definitivamente um indivíduo poderoso. Se é tão próximo de Virion, não entendi por que ele não foi escolhido para ser o representante dos anões ao invés de Rahdeas.

Por causa dos eventos recentes, era óbvio que Virion havia apresentado Buhnd como amigo para aliviar minhas suspeitas iniciais dele, mas apenas o fato de ele ser um anão que eu nunca tinha visto antes me deixou nervoso.

Acho que isso me faz racista. Suprimi uma risada.

A raça neste mundo era muito menos sutil do que no meu mundo antigo, mas nunca me considerei discriminar com base nas aparências externas ou locais de nascimento. No entanto, testemunhar uma facção bastante grande de anões cooperando com nossos inimigos, além de ter sido pessoalmente traído por um anão poderoso me enrijeceu em relação a minha mente justa anteriormente.

Minha atenção voltou-se abruptamente para a única pessoa a quem eu fui introduzido por um bocejo alto e ranzinza.

Como se o bocejo tivesse sido sua sugestão para ser apresentado, Virion falou. — Arthur, este é Camus Selaridon. Ele é um—

— O garoto não precisa saber mais do que o meu nome. Estou aqui para lutar com ele. Qualquer informação além disso é irrelevante. — Camus o interrompeu.

Fiquei chocado ao ver Virion sendo repreendido. Ele era o líder de todo o exército deste continente, afinal. Mais uma vez, segurei minha língua depois de ver a expressão imperturbável de Virion, mas fiz uma anotação mental para perguntar ao comandante quem exatamente Camus era em segredo.

Supondo que o ancião misterioso não gostasse de uma saudação excessiva, simplesmente abaixei minha cabeça e me apresentei antes de observá-lo mais de perto. Longos cabelos loiros prateados caíam sobre os ombros em mechas desgrenhadas, cobrindo a testa e os olhos. Orelhas pontudas dos lados da cabeça, indicando que ele era descendente dos elfos. Ao contrário da maioria dos elfos que conheci, ele não se importava com sua aparência externa e, pelo cheiro que emana de suas roupas e corpo, higiene.

— Bem! — Virion quebrou o silêncio. — Tenho certeza de que todos vocês vão se familiarizar nessas próximas semanas, então, enquanto eu adoraria ficar e observar, tenho o prazer de passar meu tempo olhando montanhas de papel!

Com um suspiro cansado, nosso comandante deixou a sala de treinamento com os ombros um pouco mais caídos do que antes.

A partida de Virion nos deixou com um momento de silêncio que eu usei para inspecionar a sala de treinamento.

O lugar não era nada extravagante, apenas um grande campo de terra com pouco menos de cinquenta metros de comprimento e não mais de trinta metros de largura cercado por paredes e um teto de metal reforçado com mana. Havia um pequeno lago no canto esquerdo da sala, mas fora a porta do lado oposto, era apenas um grande espaço para treinar.

A visão de Emily agitando entusiasticamente o braço para nós chamou minha atenção.

— Terminei de configurar a maior parte! Há um monte de coisas que quero revisar antes de começar seu treinamento. — disse, limpando o suor de sua testa.

Olhando para o equipamento que surgiu da gigantesca caixa de madeira que eu estava carregando, fiquei surpreso com o quão familiar ele parecia. Era um painel de metal do comprimento de meu braço cheio de medidores e maçanetas. Parecia algum tipo de centro de controle antigo de um navio do meu mundo anterior, com exceção dos cristais de ambos os lados. Um era grande e claro, enquanto o menor tinha uma tonalidade azulada.

O painel tinha um conjunto de fios que levavam à parede da sala de treinamento, mais especificamente, um grande disco preso à parede. Não tinha prestado muita atenção quando olhei antes, mas os discos de metal não pareciam fazer parte do design. Eles pareciam estar embutidos na parede e estavam espaçados uniformemente.

O painel que Emily cuidadosamente tocou parecia uma forma arcaica da tecnologia do meu mundo anterior.

— Ah! Mais uma coisa! — exclamou Emily, praticamente mergulhando a cabeça primeiro na caixa. Ela pegou o que parecia ser peças de uma armadura de couro, mas com os mesmos fios conectando às diferentes partes. Embutido no centro inferior do que parecia ser o peitoral do conjunto, com o mesmo cristal azul que estava na extremidade direita do painel de metal.

Emily levantou a armadura de couro em seus braços e caminhou até mim. — Emeria, se não se importa em me ajudar a colocar isso no general Arthur.

— Claro. — Alanis assentiu, e eu me vi vestido com uma roupa um tanto ridícula.

A “armadura” parecia mais um receptor sensorial do que roupas protetoras. Eu seria forçado a usar luvas, peitoral, braço, perna e sapatos durante todo o treinamento.

— Perfeito. Ficou bom em você! — Emily disse aprovando, ajustando minha couraça para que o cristal azul embutido nela estivesse diretamente sobre meu esterno, a área onde meu núcleo de mana estava localizado.

— Obrigado. — respondi timidamente, completamente não convencido. A armadura parecia volumosa, mas era macia e flexível o suficiente para que não estivesse muito preocupado sobre isso dificultando meus movimentos.

Kathyln e os três anciãos assistiram em silêncio, encantados com a visão desse equipamento incomum, até que Buhnd finalmente falou.

— Então, qual é exatamente o objetivo de todos esses brinquedos?

Emily trocou os óculos e falou.

— Não quero estragar nada, mas acho que um pouco de atenção é justo. O General Arthur é uma anomalia em nosso continente—sendo o único mago quadra-elementar conhecido e tudo mais—então, enquanto ele tem se destacado na maioria dos aspectos da manipulação de mana, chamou a minha atenção que ele começou a estagnar na utilização de magia elementar.

— E o treinamento dele com os Asuras? — Perguntou Kathyln.

— Isso foi principalmente treinamento técnico em combate corpo a corpo. — Respondi. — Enquanto aprendi algumas técnicas, Emily está certa em que eu ultimamente tenha dependido muito da magia do gelo e de raio. Espero que, treinando com todos, eu possa utilizar melhor todos os elementos que sou capaz de controlar.

— Entendo, entendo. — Buhnd acariciou sua barba antes de tremer. — Sim, até mesmo pensar em usar um outro elemento me dá dor de cabeça. Ser um quadra-elementar, além de poder usar gelo e raio… ugh.

— A capacidade mental do general Arthur não é tão restrita quanto a sua, por isso tenho certeza de que ele aprenderá. — Hester concordou com um sorriso gravado no rosto enrugado.

Buhnd sacudiu a cabeça.

— O que você disse, vovó? Minha capacidade mental é totalmente irrestrita!

A maga do fogo balançou a cabeça, deixando escapar um suspiro.

— Agora. — Emily carregou o painel de metal e gentilmente o colocou no chão perto de nós. — em vez de discutir, eu apreciaria se vocês quatro colocassem suas mãos aqui e colocassem parte de sua mana no cristal claro para ligar o dispositivo. Ela apontou para a extremidade esquerda do painel de metal.

Hester e Buhnd se entreolharam, tentando mentalmente decidir qual deles iria primeiro, quando Camus se aproximou e colocou a palma de sua mão sobre o cristal claro.

— Assim, certo? — De repente, um vasto turbilhão rasgou seu corpo e girou em torno dele protetoramente.

Emily soltou um grito assustado antes de cair de costas com a força repentina. O resto de nós foi capaz de se preparar e ver como o vendaval feroz condensado na mão em cima do cristal. A gema outrora clara se iluminou em um tom de cinza pouco antes de todo o painel vibrar. Os medidores balançaram irregularmente antes de se estabelecerem no lugar.

— Mostre-se. — resmungou Buhnd.

Eu estava tão focado no painel que, quando a sala zumbiu de todas as direções, instintivamente levantei uma camada de mana ao redor do meu corpo.

— É apenas o aparelho ligando. — Emily consolou rapidamente. Pela maneira como os outros magos presentes entraram em uma posição defensiva, parecia que tinham ficado tão surpresos quanto eu.

— Eu serei a próxima. — Disse Hester, avançando calmamente.

Depois de colocar a mão no cristal, ela murmurou uma única palavra. — Queimar.

Um inferno ardente irrompeu de seu corpo, fazendo seu manto vermelho parecer completamente feito de fogo. O chão ao seu redor ficou chamuscado, mas o que me surpreendeu foi que, quando um dos tentáculos de chamas chicoteava contra mim, não havia calor. O que parecia uma exibição descarada de força se tornou uma demonstração de seu controle sobre o elemento.

O painel de metal zumbiu mais uma vez, desta vez um pouco menos. Além disso, poderia ter sido apenas a minha imaginação, mas juro ter ouvido Hester estalando a língua.

— Minha vez! — Buhnd declarou, flexionando os dedos antes de colocá-lo cuidadosamente sobre o cristal que havia retornado ao seu estado transparente.

Houve uma batida de silêncio antes que o chão embaixo de nós começasse a tremer. Seixos e pedras soltas começaram a pairar no chão como uma aura de topázio brilhante cercava o anão barbudo.

— Uh, anciãos. Eu amo o entusiasmo e tudo… mas isso não era para ser uma disputa. — Emily murmurou fracamente com sua voz instável devido ao tremor.

— Para um homem de verdade, tudo é uma disputa. — Buhnd sorriu maliciosamente antes de soltar um suspiro agudo. Imediatamente, a terra rachou, espalhando-se de seus pés enquanto a aura amarela se reunia em sua mão.

O painel tremeu e emitiu um ruído familiar antes que o cristal sugasse e transferisse a mana que Buhnd havia fornecido.

O anão musculoso soltou um grunhido satisfeito e se afastou. Emily imediatamente inspecionou seu aparelho para ver se algum dos anciãos tinham o danificado.

— Princesa Kathyln. — Ela chamou. — Se você quiser. Eu acho que apenas um pouco mais será suficiente.

A princesa assentiu, colocando uma mecha de cabelo preto atrás da orelha antes de enviar uma onda de mana também. Apenas pela expressão tensa no rosto de Kathyln, sabia muito bem que ela não tinha intenção de recuar do desafio não dito entre os mais velhos.

A temperatura caiu a um grau perceptível quando uma névoa de geada rodou em torno da princesa. Algumas das rochas perto dela já começaram a congelar quando a geada começou a tomar forma no que pareciam serpentes translúcidas. As serpentes de gelo deslizaram no ar ao seu redor antes de se enrolar ao braço dela e desaparecendo no cristal em que estava com a palma da mão.

O aparelho de Emily vibrou com fervor enquanto o cristal claro começou a girar em uma variedade de cores.

A artífice começou a girar alguns botões antes de girar o cristal agora colorido até que um clique alto ocorreu.

— Vou ligá-lo agora. — Emily anunciou sem esconder sua ansiedade.

Ela empurrou o cristal até que ele estivesse totalmente dentro do painel e eu quase pude ver a mana viajando do dispositivo através de fios espessos nas hastes na parede. Todo mundo assistia enquanto fios de mana multicolorida começavam a disparar de uma haste para outra, espalhando-se exponencialmente até os fios conectarem as hastes de metal umas às outras em um padrão de favos.

— O que no mundo… — Buhnd respirou, seu pescoço esticado enquanto olhava para as paredes e o teto da sala.

— O chão tem os mesmos sensores enterrados. — Acrescentou Emily orgulhosamente. — Agora, antes de analisar o que tudo isso é, general Arthur, acredito que a senhorita Emeria tem algo que ela precisa fazer.

Me virei para a minha atendente de treinamento.

— Alanis?

Ela caminhou até mim depois de largar a prancheta que estava segurando.

— Não vai demorar muito, general Arthur. Por favor, me dê sua mão.

Curioso, tirei a luva, deixando-a balançar pelo arame ao qual estava presa. Alanis envolveu delicadamente as duas mãos em volta da minha e começou cantar com os olhos fechados.

Quando terminou, os olhos de Alanis se abriram. Seus olhos certamente eram rosa e azuis, mas quando olhou para mim mais uma vez, a cor de seus olhos se tornou um prata cintilante. Uma fraca aura esmeralda pulsou em torno dela e começou a se espalhar em mim também.

— Por favor, fique parado por um momento, general Arthur. — Disse ela, sua voz parecendo ecoar. Os olhos prateados de Alanis dispararam para a esquerda e para a direita, para cima e para baixo, estudando-me profundamente até que sua aura verde desapareceu e seus olhos prateados voltaram às cores normais.

— As varreduras estão completas. — Alanis anunciou antes de voltar e rabiscar furiosamente.

— O que é que foi isso? — Eu perguntei. A mão que a elfa segurou formigou.

Alanis ergueu os olhos da prancheta e abriu a boca para falar quando Emily rapidamente a cobriu.

— Hehe, vamos contar tudo mais tarde. Por enquanto, por que não começamos o treinamento?

Buhnd concordou, balançando os braços.

— Meus membros estavam começando a calcificar por ficarem parados por tanto tempo.

Hester revirou os olhos.

— Eu dificilmente acho isso possível, mas concordo com o anão. A princesa Kathyln me contou muito sobre você, general Arthur, e estou bastante curiosa para ver se você cumpre os padrões extremamente altos dela.

— Não desse jeito. — Kathyln rapidamente alterou, afastando sua tutora.

Sorrindo, a segui e os três idosos até o centro da sala. Nós nos distanciamos cerca de dez metros uns dos outros e estava cercado por todos os lados. A princesa se posicionou perto da lagoa no canto traseiro, com Buhnd à esquerda e o silencioso Camus à sua direita. Minha mente disparou ao tentar decidir em qual eu deveria começar a enfrentar. A adrenalina percorreu meu corpo, se misturando com a mana que estava fluindo através dos meus membros. A sensação familiar da minha boca seca e suor frio rolando pela minha bochecha me disse tudo o que eu precisava saber nesta situação em que eu me encontrava.

A pressão que os quatro emitiram enviou calafrios para minha espinha, mas meu sorriso só aumentou. Lambi meus lábios e me abaixei em uma postura defensiva.

— Vamos começar.

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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