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O Começo Depois do Fim – Cap. 177 – Um navio para terra

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Um raio de luz atravessou as árvores, curvando-se levemente antes de atingir seu alvo— um poste de madeira não maior que minha cabeça. Houve um barulho satisfatório quando a flecha de mana se alojou no centro do poste, criando um buraco através dele antes de se dissipar.

— Bom tiro! — Exclamei, aplaudindo.

Minha irmã fez uma reverência em resposta antes que seus lábios se curvassem em um sorriso satisfeito.

— Eu sei! — Ela disse arrogantemente.

Saindo de cima de Boo, seu vínculo titânico que eu estava deitado preguiçosamente sob sua barriga, Ellie pulou para Sylvie e eu. Minha irmã pegou meu vínculo.

— O que você achou, Sylvie? Você está impressionada?

— Muito impressionada. — Ela respondeu em voz alta, sua voz suave entrelaçada de fadiga.

— Sylvie ainda está se recuperando, Ellie. — a repreendi.

Minha irmã colocou a raposa branca de volta na almofada em que ela estava enrolada.

— Hehe. Desculpe, Sylvie.

Fazia apenas dois dias desde que voltamos ao castelo. Sylvie ganhou consciência ontem, mas está se recuperando em uma velocidade impressionante. Enquanto Virion e o resto do conselho reuniram os quatro conjuradores que ficariam comigo pelos próximos dois meses, passei algum tempo com minha irmã.

Mantive o fato de que nossos pais e os chifres gêmeos haviam sido atacados em segredo de Ellie. Uma parte de mim sabia que ela merecia saber, mas também queria mantê-la ignorante até que não fosse mais possível.

Um desejo egoísta de um irmão egoísta.

— Então, você é capaz de disparar com precisão enquanto o Boo é sua montaria? — perguntei com um sorriso malicioso, meu olhar se voltando para a besta mana dormindo de bruços.

Ellie ficou de mau humor com minha pergunta.

— Ugh, ainda não. Helen fez com que parecesse tão fácil quando me mostrou, mas não consegui acertar um único tiro decente enquanto Boo estava se mexendo. Não ajuda o fato que ele corra como se estivesse tentando propositalmente me tirar de suas costas.

A besta mana parecida com um urso soltou um grunhido de negação à distância.

— Você também! — minha irmã brincou antes de se abaixar para pegar seu arco.

Meu olhar caiu na mão dela quando se abaixou para pegar a arma. Calos cobriram seus dedos enquanto vergões recém-formados preenchiam os raros lugares da mão que ainda não estava endurecida pelo uso excessivo.

— Quanto tempo você pratica, El? — perguntei.

Minha irmã pensou por um segundo antes de responder.

— Realmente não acompanho, mas o sol se põe enquanto treino, então talvez umas seis ou sete horas?

Meus olhos se arregalaram.

— Todo dia?

Ellie simplesmente deu de ombros.

— Eu acho.

— Que tal estudar ou brincar com os amigos?

— As aulas no castelo são apenas uma vez por semana e eu posso terminar o material de estudo que eles me dão em um dia. — Respondeu ela. Ellie então hesitou antes de continuar. — Quanto aos amigos… quero que você saiba que sou muito popular.

— Realmente? — disse com uma sobrancelha levantada.

Cavando sob meu olhar implacável, ela soltou um suspiro.

— Bem, não é minha culpa que eu não tenha absolutamente nenhum interesse nas coisas que eles falam. Como é possível que um grupo de garotas fale sem parar sobre meninos e roupas por horas?!

Uma risada escapou da minha garganta e eu pude sentir minha expressão suavizar.

— Tenho certeza de que há algumas crianças da sua idade interessadas em magia.

Percebendo que nossa conversa não terminaria logo, minha irmã puxou uma cadeira e sentou-se.

— Bem, havia alguns, mas quando eles despertaram, seus pais saíram do castelo ou apenas mandaram seus filhos para uma das principais cidades para que eles ingressassem em uma escola de magia.

Nem todas as crianças teriam as conexões que minha irmã teve de ser ensinada por um mago neste castelo. Era compreensível que os pais gostariam que seus filhos ainda aprendessem a utilizar seu núcleo recém-formado, mesmo com o perigo potencial da guerra atingindo-os.

Olhei para minha irmã enquanto brincava com o cordão do seu arco antes de perguntar cuidadosamente:

— Você também queria frequentar uma academia de magia?

— É claro — respondeu sem hesitar. —, mas eu sei que você, mamãe e papai se preocupariam.

Estremeci com as palavras da minha irmã. Ela tinha apenas doze anos, mas suas palavras refletiam uma maturidade que eu não tinha muita certeza de que queria que tivesse. Falando por experiência própria, sabia como era crescer rápido demais. Era mais um desejo egoísta meu que minha irmã continuasse sendo uma garota fofa e inocente que se preocupava apenas com o que vestir na festa de aniversário de sua amiga.

Afastando meus pensamentos, lancei um sorriso gentil para ela.

— Vou conversar com mamãe e papai quando tiver a chance e perguntar a eles sobre te mandar para a escola.

Os olhos de Ellie se arregalaram.

— Realmente?

— Supondo que eles lhe deem o OK, eu ainda vou querer enviar um guarda com você para protegê-la caso algo aconteça. Sei que pode ser um pouco sufocante ter alguém com você o tempo todo, então vou tentar encontrar alguém com quem você se sinta confortável, mas…

Minha irmã chocou-se em mim em um abraço firme.

— Obrigado, irmão.

— Não tenha muitas esperanças. — respondi, minha voz saindo como um chiado pelo quão forte ela estava me apertando.

— Muito tarde! — ela riu, soltando seu aperto em mim antes de pegar seu arco. — Vou ter que praticar mais se quiser vencer aqueles nobres esnobes.

Continuei meu papel de espectador entusiasmado, saboreando o céu limpo e o doce aroma do orvalho da manhã no gramado. Ellie continuou a atirar mais flechas de mana em alvos distantes com uma precisão extraordinária. Levaria muito tempo até que ela se sentisse tão confortável com o arco quanto Helen Shard, mas ela tinha suas próprias forças que a líder dos Chifres Gêmeos não podia esperar replicar.

Ellie ainda tinha que desenvolver uma afinidade com um elemento, então estava limitada a disparar mana pura. Era uma pena que não houvesse muito que eu pudesse fazer para ajudá-la a desenvolver uma afinidade, já que isso dependia principalmente de suas próprias ideias, mas foi emocionante vê-la crescer e se desenvolver.

— Seus pensamentos fazem parecer que você deseja ter seus próprios filhos. — A voz de Sylvie subitamente invadindo minha cabeça me assustou.

— Próprios filhos? — disse em voz alta, assustando minha irmã.

A flecha de mana de Ellie se desviou do céu, dissipando-se antes de atingir a barreira do castelo.

— O que?

— Não é nada. — sorri, lançando um olhar afiado para o meu vínculo quando minha irmã se virou.

Sylvie se remexeu na almofada, olhando para mim com uma expressão astuta de diversão em seu rosto vulpino.

— Volte a dormir. — Enviei, resmungando em minha mente.

Continuei assistindo os movimentos aparentemente repetitivos de Ellie murmurando, puxando seu arco enquanto uma flecha translúcida se formava entre seus dois dedos, firmando sua mira e depois disparando.

Ela pulava o processo de entoar os tipos de flechas em que era mais versada, mas outras vezes precisava descrever o tipo de flecha que queria moldar com a mana com precisão. Na trigésima vez que disparou sua flecha, me perguntava como Boo era capaz de dormir tão facilmente com Ellie em suas costas.

— General Arthur? — uma voz soou por trás.

Meus olhos se abriram e me virei para ver um elfo segurando uma prancheta, vestido com um traje branco que estranhamente lembrava um jaleco do meu mundo antigo. O que chamou minha atenção foi a cor dos olhos dela— ou melhor, as cores. Um anel de rosa brilhante cercou cada uma de suas pupilas, depois mudou para um azul brilhante nas extremidades externas de suas íris.

Percebendo meu olhar fixo, se curvou, pensando que eu estava esperando uma saudação formal.

O elfo ficou como se estivesse de costas para uma prancha de madeira enquanto anunciava:

— O artífice Gideon chegou ao castelo e está esperando você.

— Você está indo? — minha irmã perguntou, jogando o arco por cima do ombro.

— Sim. Tenho algumas coisas para discutir com o velho. — Respondi. Voltando quando segui atrás do elfo incomum, disse à minha irmã. — Provavelmente não poderei jantar com você, então não espere.

Minha irmã assentiu.

— Entendi. Diga oi para Emily por mim, se tiver a chance de vê-la.

— Ok.

— Ficarei aqui com Eleanor. — Disse Sylvie, grogue.

— Certo. Vou atualizá-la quando voltar.

Segui silenciosamente ao lado da secretária élfica, enquanto liderava o caminho com passos confiantes.

— Existe um nome pelo qual eu possa te chamar? — perguntei.

A elfa parou abruptamente, curvando-se profundamente, de modo que seus cabelos loiros amarrados firmemente em um rabo de cavalo caíram sobre sua cabeça.

— Perdoe-me por não me apresentar. Meu nome é Alanis Emeria e fui designada pessoalmente pelo comandante Virion para ser sua secretaria.

Abaixei minha cabeça em resposta à sua saudação.

— Bem, Alanis. É um prazer conhecê-la, mas estou tendo dificuldade em acreditar que você é apenas uma secretaria a julgar pela quantidade de mana que você ocultou.

A elfa de meia-idade piscou, seus olhos multicoloridos brilhando, mas, por outro lado, parecia imperturbável.

— Como esperado de uma lança. Permita-me esclarecer. Eu fui designada pelo comandante Virion para ser sua secretaria enquanto treina aqui. Era meu desejo conhecê-lo o mais rápido possível.

Não entendi muito bem qual era o papel dela como minha secretaria durante o treinamento, mas antes que eu tivesse a chance de perguntar, vi a figura familiar de Gideon correndo em nossa direção todo suado.

— Vim assim que ouvi do comandante Virion! — Ele bufava excitado, com sua voz ecoando pelos corredores estreitos. — Que tipo de ideia engenhosa que você teve nesse seu crânio enviado por Deus?

O velho artífice mal podia esperar até chegarmos a uma das salas vazias usadas para reuniões de nobres ou líderes militares.

— Diga tudo, garoto! — Gideon disse assim que Alanis fechou a porta atrás de nós. — E está tudo bem essa elfa ouvir isso?

A atendente élfica lançou um olhar de desaprovação para Gideon em seu discurso pouco casual, mas permaneceu quieta.

Não pude deixar de sorrir vendo o velho artífice mexer em seu assento em antecipação. Olhando atentamente para ele, era difícil imaginar que eu conhecesse esse velho há mais de dez anos. As rugas entre as sobrancelhas e a boca se aprofundaram em comparação com aquele tempo, sem dúvida foi pelo tempo passou franzindo a testa em frustração.

— Todo mundo vai saber mais cedo ou mais tarde, e ela é aparentemente minha secretaria pessoal a partir de hoje, então é melhor tê-la informada, certo? — perguntei, virando-se para Alanis.

— Parte do meu trabalho será diminuir outros encargos, enquanto você se concentra no treinamento, então sim, seria útil para mim manter-me informada. — Ela disse com seus olhos rosa e azul parecendo mudar de tom.

— Mais treinamento? O que mais você pode treinar depois de ser pessoalmente ensinado por deuses, Asuras, quero dizer. — Ponderou, esfregando o queixo.

— Sempre há espaço para treinamento. — disse. — Mas voltando ao assunto, quais são os estados das minas atuais que foram usadas para escavar a fonte de combustível necessária para nossos navios?

Os olhos de Gideon se iluminaram.

— Oh, você quer dizer as minas de Combustium? Ainda estão sendo escavados cinco das principais.

Eu levantei uma sobrancelha.

— Combustium?

— Eu mesmo dei o nome. — O artífice sorriu. — Você me disse que precisaria de um mineral com características definidas, capazes de alimentar o motor a vapor que nós projetamos— acho que você chamou de carvão? De qualquer forma, dos minerais atualmente conhecidos, que não são muitos, apenas um deles produziu a quantidade de energia necessária para abastecer um navio inteiro com eficiência. As características são um pouco diferentes do carvão que você mencionou, então eu decidi nomear de outra coisa. Enfim, esse material é incrível. Cinco quilos de combustível podem abastecer um navio inteiro por cerca de vinte quilômetros na velocidade máxima!

— É ótimo ouvir isso. — disse, cortando Gideon. Com medo de que ele se aprofundasse mais, fui direto ao ponto. — O que planejei envolve uso de combustível para um modo de transporte diferente; especificamente um navio que será usado para viajar por terra.

— Um navio para terra?

Assenti.

— Exceto, eu estava pensando em chamá-lo de “trem”.

— Trem? — Gideon ecoou incrédulo. — De que bunda de besta de mana você tirou um nome assim?

— Você quer as plantas ou não? — zombei.

Gideon levantou os braços de uma maneira apaziguadora.

— Será Trem então.

O artífice se preparou para o projeto imediatamente. Ele praticamente despejou um laboratório inteiro de seu anel dimensional em seu polegar.

Embora Gideon entendesse rapidamente como o trem operaria, ainda demorou algumas horas explicando os detalhes de como as ferrovias e as paradas funcionariam. Não percebi quanto tempo se passou até que meu estômago revirou e roncou de fome.

— Acho que cobri tudo o que você precisa para começar. — disse, examinando os desenhos e especificações no grande pergaminho que estava pendurado na parede de trás da sala de reuniões.

— Isso vai mudar tudo. — Gideon murmurou, mais para si mesmo do que para Alanis ou para mim. — Os rios vão ser um pé no saco se nós quisermos conectar a cidade de Blackbend a Kalberk ou Eksire, mas com alguns magos de água e terra…

— Vamos nos concentrar na ferrovia de Blackbend à Muralha. — interrompi.

— É claro que criar ferrovias para outras grandes cidades será importante, mas precisamos criar uma rota segura para os suprimentos que vão para as Grandes Montanhas, se quisermos que nossas tropas lá sobrevivam.

— É claro, mas isso… — Gideon parou por um segundo enquanto seus olhos examinavam o grande mapa de Dicathen que tínhamos sobre a mesa. — Bem, seremos capazes de formar novas grandes cidades com isso.

Enquanto eu respeitava Gideon por sua visão sem limites, era frustrante ter que mantê-lo nos trilhos. No entanto, sua última declaração chamou minha atenção e despertou minha curiosidade.

— O que você quer dizer com formar novas grandes cidades? — perguntei, olhando por cima do mapa.

Para minha surpresa, Alanis, que estava em silêncio até agora, falou.

— Acho que o artífice Gideon quer dizer é que, até agora, as cidades dos três reinos foram predeterminadas com base em onde encontramos ou escavamos portões de teletransporte. Se isso der certo, um modo seguro de transporte que, embora não seja tão rápido quanto os portões, pode transportar suprimentos e mercadorias em massa e ainda por cima pessoas, nos permitirá construir grandes cidades em qualquer local.

— Não poderia ter dito melhor. — Disse Gideon, aprovando.

Sentindo-me rígido, estiquei os braços e as costas.

— Fico feliz em ver minha ideia mudando o curso da história.

— Rapaz, dizendo algo assim de maneira tão irreverente para um artífice renomado… eu deveria apenas entregar minha túnica marrom e arrumar um novo hobby. — Gideon suspirou impotente. — Eu sempre tive um talento especial para pescar.

— Você não pode se aposentar ainda. — sorri, indo para a porta. — Você estará encarregado de mostrar essa ideia ao Conselho na próxima reunião.

— Eu? Por mais que eu ame ser o centro das atenções, por que você está me dando crédito por isso? — Gideon perguntou.

— Será mais fácil conseguir o apoio de todo o Conselho se a ideia vier de um “artífice de renome”. Precisamos da ajuda deles se você quiser uma equipe de mágicos capazes e alguns comerciantes ou aventureiros familiarizados com a área para mapear a melhor rota de Blackbend à Muralha. — Respondi, checando mentalmente algumas das coisas que precisamos. — Enfim, estou morrendo de fome. Vou ver o que posso vasculhar no refeitório.

— Posso pedir ao chef que prepare uma refeição equilibrada e a entregue no seu quarto. — Sugeriu Alanis.

Acenei minha mão em despedida.

— Está bem. Não há razão para incomodar o chef apenas por uma refeição.

— Espera! Quando você vai voltar para o campo? — Gideon perguntou.

Eu olhei para ele por cima do ombro.

— Eu vou ficar por alguns meses. Estarei principalmente no espaço de treinamento, mas vou parar de vez em quando para verificar como você está, se é isso que você está perguntando.

O velho artífice deixou escapar um escárnio, revirando os olhos.

— Estou honrado, mas não foi por isso que perguntei. Emily tem trabalhado em algumas coisas que precisam ser testadas.

— Você percebe que está pedindo a um general que seja seu manequim de teste, não é? — Eu perguntei com um sorriso.

— Relaxe, Ó Grande. Prometo que também serão úteis para você. Eu mesmo os examinei e, embora não queira admitir, se o artefato funcionar, vai mudar a maneira como os conjuradores e os aumentadores treinam.

Virei meu olhar para Alanis, que também expressou um certo grau de curiosidade.

— Bem, você terá que convencer minha secretaria.

O velho artífice soltou uma risada áspera enquanto eu saía pelas portas. Podia ouvi-lo murmurando para si mesmo por trás.

— O garoto percorreu um longo caminho.

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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