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O Começo Depois do Fim – Cap. 170 – Dentro da Taverna

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O fogo trêmulo das luzes da rua brilhava nas proximidades, uma visão para os olhos doloridos depois de horas de caminhada sem parar. Tinha voltado para Ashber, a pequena cidade onde nasci, pela primeira vez em mais de dez anos.

— Mica está pronta para uma bela caneca fria de cerveja.

A general sussurrou, lambendo os lábios secos e rachados.

Balancei a cabeça sem dizer nada, mantendo meu ritmo acelerado para combinar com a velocidade da carruagem que estávamos atrás.

— Só por curiosidade, senhor. Quantos escravos você possui? — O homem mais jovem perguntou ansiosamente, seus olhos estreitos se deslocando entre Olfred e eu.

— Nunca contei — respondeu Olfred com um encolher de ombros. — Temos muitos em casa, alguns de minha propriedade e outros de minha família.

— Uau. — O homem mais jovem suspirou. — Se você tem tantos, que tal deixar esses dois escravos conosco… ai!

O homem mais velho e barbudo recostou-se na cadeira e bateu na cabeça do garoto.

— Você tem merda na cabeça? Quem em sã consciência daria seus escravos!?

O garoto esfregou a cabeça, arrumando o cabelo loiro sujo.

Estava apenas perguntando, velho. Sheesh!

— Desculpe pelo meu garoto. Tive que criá-lo sozinho depois que a mãe dele fugiu, e as maneiras nem sempre eram uma prioridade na minha lista de coisas para ensinar a ele.

— Sem ofensa. — disse Olfred com uma risada profunda. — Normalmente poderia ter deixado com você uma vez que chegue ao meu destino, mas esses dois oferecem pelo menos um pouco de segurança nesses tempos caóticos.

O garoto estalou a língua.

— Que azar.

Algo sobre os dois não parecia certo para mim. Além do fato de que não havia outras carruagens indo e voltando tão perto da cidade, também não havia bagagem na carruagem. Suas únicas armas pareciam ser as facas que afivelaram à cintura, o que provia quase nenhuma proteção.

Eles pareciam razoavelmente desconfiados no primeiro contato, mas se abriram com muita facilidade, como se esperassem um motivo para confiar em nós. No entanto, estávamos quase em Ashber e nada parecia errado.

— Bem, aqui estamos. — anunciou o motorista barbudo, puxando as rédeas para parar a carruagem.

 — Estamos apenas passando por essa cidade, então seria melhor se você andasse a partir daqui.

— Você vai viajar a noite toda? — perguntou Olfred, com ceticismo na voz.

— Estamos com pressa para chegar em um pequeno posto avançado a apenas uma hora de distância.

O garoto de cabelos loiros respondeu com uma risada, soltando a trava nas costas para deixar Olfred sair.

— Bem, de qualquer forma, obrigado pela carona.

Olfred entregou ao garoto uma moeda de prata extra antes de pular da carruagem.

O motorista acenou para Olfred antes de retomar seu caminho. Com um grunhido irritado, os dois cavalos começaram a trotar, puxando a carruagem para uma estrada de terra mais estreita que se desviou para a esquerda.

— Eles precisam trabalhar um pouco na atuação. — disse Olfred, balançando a cabeça quando começou a andar.

— Então não era só eu. — respondi.

— Tanto faz. Enquanto houver álcool e uma cama aconchegante, Mica ficará feliz.

Quando nós três entramos na cidade, não pude deixar de notar como as ruas estavam vazias. Parte da minha memória de Ashber era como ela era tão animada para uma cidade tão pequena. Os aventureiros eram escassos no norte, mas um pequeno rio que fluía perto da cidade fazia da área um ótimo lugar para se cultivar. Após a morte de Lensa, meu pai trouxe minha mãe aqui para esta cidade remota e conseguiu um emprego aqui protegendo os agricultores e suas plantações contra os lobos frequentes ou bestas de mana perdidas que vieram das Grandes Montanhas. Com os agricultores acordando cedo para cuidar de suas colheitas e passando as tardes vendendo nas ruas do mercado de Ashber ou frequentando comerciantes, a noite era quando todos realmente encontravam tempo para descontrair e divertir-se.

Meu pai costumava voltar para casa à noite, tropeçando em seus próprios pés depois de beber com os agricultores locais. Esperava alguma mudança devido a guerra, mas nunca esperei que Ashber se tornasse uma cidade fantasma.

As lâmpadas das ruas espalhadas brilhavam intensamente, mas não havia sinais de pessoas próximas. Nós três sentimos alguém no beco, suas feições estavam escondidas pelas sombras. Depois de um momento, porém, a pessoa saiu correndo, seus passos sem ritmo ficaram mais fracos até que o único som que ouvimos veio de nós mesmos.

Nós três nos entreolhamos, mas permanecemos calados. Olhando em volta, a maioria dos edifícios estavam vazio ou interditados. Tábuas de madeira foram pregados nas janelas, enquanto as correntes seguravam a entrada da frente de uma loja. Ativei o Realmheart para detectar flutuações de mana, sem esperar muito.

No entanto, podia ver as distorções na mana atmosférica por toda a cidade. Houve magos aqui recentemente.

— Sinto pessoas espalhadas, mas parece haver uma congregação de quarenta e poucos a alguns quarteirões de distância. — resmungou Olfred.

— Mica sentiu quarenta e três. — a pequena lança murmurou ao meu lado.

— Pensei que concordamos em não usar magia. — disse, irritado. — E se houver magos Alacryan ou Vritras por perto que possam capturar?

— Não tem mana o bastante para senti-los. — respondeu Olfred enigmaticamente.

—O que?

Quase disse em voz alta. Se eles conseguissem detectar as pessoas com precisão, todo o meu plano poderia ser comprometido.

— Isso é bom. — menti. — Parece que seremos capazes de pegar o esconderijo dos Alacryans mais cedo do que eu esperava.

— Provavelmente ainda vai levar algum tempo. A mica só consegue sentir as pessoas a uma curta distância e, mesmo assim, é meio confuso. O mesmo vale para Olfred.

Mica explicou.

— Vocês dois estão falando demais para escravos respondeu Olfred.

Antes de soltar a voz em um sussurro.

— Só porque não podemos usar magia não significa que nossos inimigos estão vinculados pela mesma desvantagem. Suponha que nossas vozes sempre sejam ouvidas.

Eu sabia que ninguém estava por perto, pelo menos ninguém que estava manipulando mana, e Olfred também deveria, fazendo parecer que só queria que Mica parasse de falar sobre seus limites, mas o anão idoso tinha razão. Concordei e continuei seguindo alguns passos atrás de Olfred com Mica em silêncio fervendo de frustração ao meu lado.

Virando uma esquina depois de passar por um prédio particularmente alto e desgastado, sabia exatamente onde estava essa “congregação” que Olfred e Mica haviam mencionado.

Nuvens de fumaça saíam visivelmente da chaminé do que parecia uma taberna. A grande cabana que tinha um telhado torto com falta de ladrilhos, mas se destacava de todos os outros edifícios esfarrapados e choupanas próximas, era o único lugar com luz vinda de dentro.

Nós nos aproximamos com pouca hesitação, movidos pelo pensamento de uma boa refeição temperada e uma cama macia.

— Sinto cheiro de carne sendo grelhada. — disse Sylvie.

Quando nos aproximamos, farfalhando impacientemente dentro da minha capa.

Olfred se virou e nós três nos entreolhamos antes de abrir a porta de madeira lascada. Meu nariz respirou avidamente o cheiro pungente de álcool, fumaça e uma variedade de alimentos e especiarias indiscerníveis. Um clamor de uma dúzia de conversas, todas tentando subjugar uma à outra ressoou por toda a grande taberna, com o som de copos tilintando e palmas batendo acompanhando-os.

As pessoas, maioria homens, sentados nas mesas mais próximas da porta se viraram para nós, alguns com bochechas coradas, outros com irritação.

— Esperamos para nos sentar? — A voz de Olfred soou por trás de sua máscara.

— Você é responsável por encontrar seu próprio lugar em estabelecimentos como esses. — Disse, puxando meu capuz para baixo para cobrir mais o meu rosto enquanto resistia ao desejo de rir.

Agarrei o pulso de Mica e segui atrás de Olfred, enquanto passava pelos clientes e mesas. Era impossível não notar os olhares enquanto nós passávamos. Um homem corpulento, com cabelos longos e emaranhados, propositadamente se inclinou para trás, na esperança de esbarrar em um de nós como uma desculpa para começar uma comoção.

— Esquece. São apenas quarenta e dois — disse Mica, apontando para um cão com presas que ficava perto do dono, com alguma coisa vazando do focinho.

Levantei uma sobrancelha. — O que?

— Quarenta e duas pessoas, não quarenta e três como Mica disse anteriormente. Mica confundiu esse bicho de mana com duas pessoas explicou ela.

— Apenas quarenta e duas pessoas; entendi.  — respondi.

Continuando pelo labirinto de pessoas, tentei captar qualquer conversa que pudesse aliviar minhas suspeitas sobre esse lugar. Fui capaz de pegar uma parte do diálogo de uma mesa em meio ao clamor:

— … Fui capaz de pescar alguns peixes hoje à noite.

Enquanto o homem tonificado com vários dentes perdidos poderia estar simplesmente falando sobre pegar uma truta ou algum outro vertebrado aquático, olhares suspeitos me disseram que a conversa deles não era tão inocente.

Eventualmente, nos sentamos em torno de uma mesa trêmula no canto mais distante da taberna ao lado do banheiro. Um mau cheiro causado pela ausência de um encanamento adequado assaltou meu nariz, me livrando de todos os vestígios do apetite que eu havia acumulado.

— O que vai ser para você hoje à noite?

Uma garçonete perguntou enquanto despreocupadamente puxava o vestido sujo para expor ainda mais seus seios. Ela se inclinou em cima da mesa ao lado de Olfred, ostensivamente convidando seus olhos para o decote dela, enquanto ela própria examinava sua fina capa.

Mica e eu aparentemente não existíamos, enquanto balançava coquete ao lado de Olfred, esperando ele pedir.

— Vou tomar três canecas de cerveja gelada e qualquer guisado que você tiver hoje à noite junto com um pouco de pão.

Disse Olfred, imperturbável por suas tentativas de o cortejar.

— Imediatamente. —  murmurou enquanto gentilmente passava um dedo pelo braço dele. Se foi outra tentativa de seduzi-lo ou medir a qualidade de sua capa, eu não sabia, mas percebi que ela não era a única que notava o potencial valor de Olfred.

— Ugh. Qual é o sentido de exibir esses pedaços de gordura? — Mica murmurou, enojada.

— Pela primeira vez, concordamos em algo. — disse Olfred com um aceno de cabeça. — Uma mulher deve ter uma constituição firme e muscular e a pele grossa para combinar.

Optei por ficar de fora da conversa, aproveitando o tempo para me esgueirar nos olhares da taverna. Com o Realmheart ativado mais uma vez, poderia dizer que magia tinha sido usada e isso não aconteceu há muito tempo.

Uma aura distorcida de mana cercava uma mesa particularmente grande ao lado da parede oposta. Um homem de meia-idade, de túnica, pendia da mesa. Ao contrário de seus companheiros, ele estava bem arrumado. Seus olhos redondos cintilaram lascivamente para as duas empregadas domésticas escassamente vestidas em cada um de seus braços finos que se revezavam para lhe dar frutas e cerveja. Com as bochechas ocas e uma linha fina de cabelo, era evidente que as duas servidoras não estavam lhe agradando por causa de sua boa aparência.

Apenas pelo quão alto e altivo ele falava, e pela maneira como seus colegas riam e acenavam com o que quer que saísse de sua boca, não havia dúvidas, o homem de olhos redondos era importante—se não estivesse no controle. Pela forma como as partículas se reuniram ao seu redor, parecia que havia conjurado uma camada de mana para fortalecer e proteger seu corpo.

Ele não era o único; só com uma olhada superficial, vi alguns aumentadores que estavam expelindo uma fina camada de mana sobre a pele para proteção. No entanto, a densidade e pureza da mana que envolvia seus corpos estavam em um nível muito inferior ao dos soldados alacyranos que eu havia enfrentado perto da costa sudoeste. Se tivesse que adivinhar, eles eram mercenários ou aventureiros de níveis inferiores. Em comparação, o esqueleto sendo ensanduichado por duas meninas estava em um nível muito mais alto.

Mas não foi isso que me incomodou. Não era o ar sutil de hostilidade na taberna ou a quantidade suspeita de magos presentes. Conhecia aquele homem. Algo em seu olhar perverso e seu rosto torto trouxeram emoções amargas, mas eu não conseguia identificar o porquê.

— O que está acontecendo?

Sylvie perguntou, percebendo minha preocupação.

— Sylvie, dê uma olhada rápida na mesa à minha esquerda, do outro lado da taverna. Você reconhece alguém?

Meu vínculo sussurrou dentro da minha capa antes que seu focinho pequeno aparecesse. Seus olhos inteligentes percorreram a sala, concentrando-se na área que havia direcionado quando um sentimento aversão vazou dela.

— Ele é aquele canalha que tentou usar o rei para me tomar a força durante o evento do leilão Helstea. Acredito que o nome dele era algo parecido com…

O homem levantou-se e mancou em direção ao bar, mantendo um peso mínimo na perna esquerda enquanto usava um bastão de madeira para manter o equilíbrio. Assim que percebi sua lesão, seu nome imediatamente inundou minha mente junto com o resto das minhas memórias dele.

É o Sebastian.

— O que há de errado?

Mica sussurrou, inclinando-se para perto com a cabeça inclinada para baixo, de modo que apenas a metade inferior do rosto estivesse visível.

— Você reconhece alguém?

Balançando a cabeça, voltei para a minha mesa.

— Ninguém importante.

Uma garçonete diferente, muito menos carinhosa, chegou com o nosso pedido. Ela colocou as três canecas de cerveja na frente de Olfred junto com uma única tigela de sopa contendo um pedaço de pão desleixadamente submerso dentro do líquido pegajoso.

— Por favor, traga mais duas tigelas, disse Olfred, enquanto deslizava uma caneca sobre a mesa na minha frente e de Mica.

— Há uma barraca a uma quadra para alimentar seus escravos. — disse ela com repugnância.

Ignorando sua atitude, Olfred simplesmente mexeu o ensopado laranjado com o pedaço de pão.

— Foi uma longa jornada. Eles vão ter que comer aqui hoje de noite.

Eu não me incomodei em ver sua reação, mas ela saiu sem palavras. Minha mente estava focada na caneca fria de cerveja borbulhando na minha frente. Apertei a borda fria da caneca contra meus lábios secos, saboreando a leve queima do meu esôfago quando o líquido gaseificado chegou ao meu estômago.

Porra, isso é bom.

Mica quase terminou sua caneca inteira de uma só vez. Seu corpo estremeceu quando soltou um suspiro feliz.

— Até essa cerveja barata tem um sabor divino para Mica agora mesmo.

Com uma risada silenciosa, levantei minha caneca para outro gole. Pelo canto dos meus olhos, vi a mesma garçonete sussurrando para um dos os homens sentados na mesma mesa que Sebastian, apontando um dedo na nossa mesa.

— Parece que teremos convidados. — murmurei para as duas lanças enquanto terminava minha bebida.

Sylvie se escondeu mais fundo na minha capa, enquanto puxava um pouco mais sobre o meu rosto, só por precaução.

Alguns instantes depois, um homem grande, de barba desgrenhada, veio à nossa mesa e, com ele, uma mulher baixa e corpulenta, com um sorriso esnobe e roupas tão reveladoras quanto, se não mais do que as empregadas domésticas daqui.

O homem barbudo olhou para mim e Mica com uma sobrancelha levantada e um olhar de expectativa. Levantei-me sem dizer uma palavra, puxando Mica de seu assento também, e ficamos atrás de Olfred.

A mulher, vendo as duas canecas meio vazias, soltou um bufo.

— Você realmente não deveria estar estragando seus escravos assim. Isso os faz pensar que podem agir.

— Como trato meus escravos não é da sua conta.

Respondeu Olfred secamente, deslizando outro pedaço de pão debaixo da máscara.

— Agora o que eu posso fazer por vocês dois? Espero que possam manter as coisas sucintas.

— Sucinto? — O homem zombou. O encosto de madeira gemeu em protesto quando se recostou no banco, mas continuou se segurando. — Algumas palavras bonitas tem aí. Você deve ter cuidado com essas partes, especialmente se estiver viajando do sul.

Pude ver os dois tentando avaliar Olfred. Mica poderia passar como uma criança humana, mas eu estava preocupado que eles percebessem que Olfred não era humano.

— Obrigado pelo conselho. — Respondeu Olfred, enquanto continuava encarando os dois.

— Queríamos dar-lhe uma recepção calorosa por aqui. — disse a mulher, inclinando-se para a frente nos cotovelos.

— Nós graciosamente viemos depois de ver como você trata seus escravos. — continuou a companheira, lançando um olhar aguçado para Mica e eu. — Nós temos uma linha inteira de escravos à venda que sinto que você estaria interessado.

Meu queixo apertou com as palavras dela. Imaginei uma sala cheia de crianças e adultos, mal vestida e alimentada, mantida apenas como mercadoria.

— Vou ter que recusar educadamente. — respondeu a velha lança quase que imediatamente.

— Não diga isso. — A corpulenta mulher deslizou para a beira do assento para ficar mais perto de Olfred. — Temos uma fina linha de meninas e mulheres, se você não estiver procurando por um escravo mais prático.

— Temos até anões e elfos.

Acrescentou o homem grande, seus lábios rachados se curvando em um sorriso lascivo.

Houve um momento de silêncio antes de Olfred responder.

— Pensei que após a formação do Conselho, a escravidão inter-racial tivesse sido proibida?

— É por isso que vai custar-lhe um braço e uma perna, se você quiser comprar um.

O homem soltou uma gargalhada rouca com sua própria piada, ou com o que ele considerava uma.

Se a lança estava com raiva, ele fez um bom trabalho ao escondê-la. Mica, por outro lado, se mexeu ao meu lado. Consegui sentir a quantidade minúscula de mana vazando dela, mas mesmo essa pequena quantidade foi suficiente para me encher de inquietação. Pouco tempo depois da união das três raças, os líderes dos três lados fizeram um esforço coletivo para abolir a escravidão. No entanto, livrar-se da escravidão de uma só vez não só causaria insatisfação entre os proprietários de escravos, mas haveria ramificações severas na economia ao se livrar essencialmente de uma grande parte da força de trabalho.

Para remediar isso, uma coisa em que o Conselho vinha trabalhando diligentemente era adotar uma abordagem passo a passo; recompensando proprietários que libertaram seus escravos e taxavam com impostos pesados os proprietários ​​que os mantinham.

Embora a escravidão existisse nos três reinos, sempre houve uma alta demanda por escravos anões e, em particular, élficos de Sapin. Ao menos era isso que Vincent, proprietário da casa de leilões Helstea, me disse.

Olfred empurrou gentilmente a tigela de ensopado. — Pensando melhor. Talvez eu esteja um pouco curioso sobre o que você tem a oferecer.

A mulher se aproximou um pouco mais, com o rosto contorcido no que considerava sedutor. — Eu sabia que você estaria interessado. Vou avisar nosso chefe.

— Tudo bem se eu pelo menos me ajeitar em uma estalagem em algum lugar próximo? — perguntou Olfred. — Nossa jornada tem sido um pouco difícil.

A mulher fixou os olhos em seu companheiro antes de fazer um gesto com a cabeça. Com um aceno de cabeça, ele acenou com um braço gigante para um velho que estava secando ociosamente os copos com uma toalha.

— Um quarto para o cavalheiro e seus dois escravos!

A mulher não deu a Olfred a chance de contestar, levando-o para a porta dos fundos com o companheiro barbudo logo atrás. Desta vez, os homens e mulheres sentados em nosso caminho ergueram suas cadeiras, abrindo caminho enquanto seus olhares nos perfuravam.

Antes de entrar no corredor dos fundos com o ancião curvado, olhei de novo para Sebastian, que estava sorrindo em nossa direção com uma garçonete sussurrando algo em seu ouvido.

Assim que entramos no corredor mal iluminado, grande parte do clamor da taverna diminuiu. Mica e eu seguimos atrás de Olfred silenciosamente, enquanto a lança mascarada respondeu à brincadeira ociosa da mulher corpulenta.

— Aqui é o seu quarto, senhor. São duas pratas. O velho estendeu a palma da mão vazia enquanto a outra mão segurava uma chave enferrujada.

— Duas pratas? Para um quarto sujo aqui em Ashber? Não pude acreditar. Era razoável poder comprar um terreno aqui com duas pratas.

— Nunca me interessei pela moeda deste continente, mas até para mim parece ridículo,

Respondeu Sylvie, incrédula.

No entanto, Olfred continuou desempenhando seu papel de nobre ingênuo e cansado, enquanto produzia duas moedas cintilantes de dentro de sua capa.

Sem nem mesmo agradecer, o velho largou a chave na mão de Olfred e cambaleou de volta para a taverna. A mulher, por outro lado, parecia ainda mais paqueradora depois que Olfred produziu as moedas, chegando a apertar o braço de Olfred antes que ela e seu companheiro voltassem.

— Nos encontraremos dentro de uma hora na taverna.

Ela se virou e deu uma piscadinha para Olfred.

Fechando a porta atrás de nós, imediatamente bati meu punho contra a parede. Como meu punho não estava coberto de mana, uma dor chocante subiu pelo meu braço, porém, mesmo isso foi bem-vindo. O fato de não poder fazer nada pelos escravos e pela minha cidade, merecia o pior.

Soltando um suspiro, examinei o quarto que não era maior que o banheiro que eu tinha na minha casa em Ashber. Havia uma cama e cômoda espremidos; mesmo levando em conta a pequena estrutura de Mica, ela e eu teríamos que dormir sentados.

Tirando o capuz, Mica imediatamente pulou na cama, enterrando o rosto no travesseiro antes de soltar um grito.

— Você fez bem em se conter com aqueles dois. — elogiei, removendo minha capa também. — Aquela mulher, especialmente.

Tirando a máscara, Olfred respondeu:

— Sua aparência encantadora não compensava o fato de ela ter capturado alguém da minha raça.

Pisquei, ainda incapaz de me acostumar com os gostos dos anões.

— Se não fosse por essa missão, Mica teria achatado toda a taverna!

Mica gritou, sua voz abafada do travesseiro.

— Meus pensamentos eram os mesmos. ؙ— respondeu Olfred. — Nossas circunstâncias, no entanto, nos forçam a ser discretos.

Me virei para a lança mais velha.

— Se decidirmos agir, nossa missão é prioritária. Não há problema em ir com eles para ver esses escravos, de fato, isso nos dá uma cobertura melhor para se movimentar.

Olfred assentiu em resposta quando tirou a capa e a jogou sobre a cômoda de madeira.

Sentei-me ao pé da cama enquanto Sylvie fumegava ao meu lado.

Algo em sua mente?

— Não entendo por que haveria uma alta demanda por escravos de diferentes raças. É porque os humanos sentem pena de escravizar alguém de sua mesma raça?

Meu vínculo perguntou.

— Não. Por mais assustadoramente, muitas famílias nobres praticavam cruzamentos com seus escravos anões ou élficos para que seus filhos pudessem ter uma vida melhor e melhor potencial como mago. Lucas Wykes foi um produto dessa prática.

Sylvie não respondeu, mas devido ao nosso vínculo, podia sentir a raiva dela derramando; não a culpo. Quando li pela primeira vez sobre os elfos, pensei em eles como esta raça mística com uma alta afinidade pela magia. Essa crença foi reforçada pelo fato de que minha estadia em Elenoir foi principalmente com a família real. Quando penso na época em que havia resgatado Tessia de comerciantes de escravos, eu deveria ter imaginado que eles procuravam por crianças ou adultos mais fracos e desavisados.

O Conselho havia proibido a escravidão inter-racial há alguns anos, mas depois de ver esses dois, parece que ainda estava acontecendo.

— E a floresta ao redor do reino élfico? Não deveria impedir a maioria dos outros seres, exceto elfos e animais nativos?

— É por isso que os escravos élficos são tão raros. Os comerciantes não precisam apenas ser lutadores hábeis, eles precisam ter cães capazes de guiá-los através da floresta de Elshire.

Desprezo derramado fora do meu vínculo.

— Para ir tão longe…

— Vindo de uma casa modesta, meus pais nunca teriam condições de pagar por um escravo, mesmo que quisessem. Isso, por sua vez, de certa forma obscureceu meu encontro com escravos. Ainda assim, o fato de estar acontecendo na minha cidade natal mais do que apenas me irritou.

— Se não conseguirmos lidar com isso diretamente, Mica vai informar o Conselho do que está acontecendo aqui. —  disse a lança pequena abruptamente, disparando sobre a cama.

Eu balancei a cabeça, sem me preocupar em me virar para encarar o anão.

 — Soa como um plano.

A pousada tinha um banheiro no final do corredor e, quando Olfred saiu da sala para usá-lo, um homem desconhecido com uma pequena adaga presa à cintura o escoltou até lá. Enquanto Olfred disse que o homem era bom o suficiente, era óbvio que um lugar como esse não oferecia esse tipo de serviço. Estávamos basicamente presos aqui.

Uma hora se passou num piscar de olhos. Decidimos que era melhor Mica ficar para trás, caso não fosse capaz de controlar seu temperamento. Apesar de numerosas queixas dela, a lança infantil dormiu como um tronco assim que sua cabeça bateu no travesseiro improvisado que ela havia feito ao enrolar a capa dela.

Nós dois nos vestimos mais uma vez antes de abrir a porta. Era óbvio para nós, mesmo antes, que havia pessoas esperando do lado de fora, mas nós permanecemos casuais.

— Descansou bem? — A mulher corpulenta perguntou, sua voz um pouco mais distorcida do que quando, veio a nós pela primeira vez.

A julgar pelas bochechas coradas que seu companheiro tinha, parecia que os dois estavam bebendo enquanto isso.

— Venha! Siga-nos desta maneira. Nosso líder quer se encontrar com você disse a mulher. —  Aproximando-se de Olfred.

Fiquei em silêncio enquanto seguia atrás do meu mestre até o homem barbudo falar.

— Seu escravo menor não vai se juntar a nós?

— O corpo dela não está acostumado a viajar distâncias tão longas. respondeu Olfred sem se virar. — Eu não pensei que seria um problema apenas deixando-a dormir no quarto.

Os lábios do homem barbudo se curvaram em um sorriso malicioso.

— Ah! Então o corpo dela está acostumado a outras coisas ele riu. — cutucando Olfred com o cotovelo.

Revirei os olhos. Esse macaco não tem senso de decência?

O clamor abafado da taverna ficou mais alto quando nos aproximamos da entrada. Enquanto o estabelecimento ainda estava ocupado, a mesa mais próxima de nós estava aberta com apenas uma pessoa sentada. Sebastian.

— Líder, eu os trouxe aqui, a mulher falou, o calafrio em sua voz inexistente.

Líder? Eu quase disse em voz alta, meus olhos olhando para cima para ter uma visão melhor do mágico careca. Não tinha ressentimento em relação a Sebastian. Mesmo naquela época, quando ainda era um menino neste mundo, eu o via ganancioso e sem vergonha, mas insignificante. O desejo infantil que ele tinha pelo meu vínculo, e o fato de ele ter usado o rei para me “coagir” a desistir dela me irritava, mas eu nunca pensei que ele estaria aqui.

Mesmo se ele tivesse recebido punição naquela época por suas ações na casa de leilões, duvido que isso tenha levado a algo além de um aviso. Ele era nobre; ele não deveria ter nenhum interesse em uma cidade remota como Ashber.

— Você pode sair. — Ele os dispensou com um aceno de mão. Os olhos redondos de Sebastian me inspecionaram e eu podia senti-lo sondando meu núcleo de mana. Ele não seria capaz de sentir nada, é claro. Mesmo se eu ainda não estivesse no estágio do núcleo branco, eu estava em um nível alto o suficiente em que ele não seria capaz de detectar traços da minha mana. Seu olhar se moveu de cima do meu esterno para o meu rosto, mas ao ver meu cabelo desgrenhado e o rosto manchado de sujeira, seu foco se voltou para Olfred.

— É um prazer, Sebastian disse com um sorriso largo, aparentemente inocente. — Permita-me recebê-lo na minha cidade.

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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