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O Começo Depois do Fim – Cap. 164 – Centro das Atenções

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Apesar de passar uma grande parte da minha vida aprendendo a me comportar adequadamente, o que dizer e como dizer em várias situações, ainda era incapaz de reunir as palavras apropriadas para responder a Claire.

Só podia imaginar qualquer tipo de pedido de desculpas ou consolo saindo como lamentável ou insensível, afinal de contas, como poderia ousar dizer a ela que “tudo ficará bem” depois de reclamar sobre a minha falta de progresso em uma parte da vida dela que nunca mais conseguiria voltar, quanto mais progredir?

Para minha surpresa, Claire deu uma risada suave.

— Sinto muito, é apenas sua expressão. Se eu não soubesse o contexto, teria pensado que você tinha acabado de engolir um inseto ou algo assim. — Explicou ela, notando minha confusão. — Não se preocupe. Eu realmente aceitei isso.

— Mas ainda assim… — murmurei.

— Está tudo bem. — Claire dispensou, sacudindo a cabeça. — Eu já disse isso ao meu tio, mas planejo ajudar onde eu puder na Instituição da Espada Bladeheart que minha família administra. Imaginei que treinar novos soldados poderia ser minha maneira de ajudar nesta guerra.

Não consegui responder. Foi ela quem quase morreu e agora era incapaz de praticar magia, ainda assim foi ela quem tentou levantar o ânimo, enquanto eu estava aqui, desanimada.

— Claire!

Uma voz clara de repente explodiu por trás.

Nós duas observamos o filho mais velho da família Glayder e sua irmã no topo da escada. Os olhos do príncipe Curtis estavam fixos em Claire, as sobrancelhas franzidas de preocupação e frustração. A princesa Kathyln, envolta em um vestido branco cintilante, embora conhecida por ser inexpressiva, tinha os olhos vermelhos cheios de lágrimas, as mãos delicadas e pálidas cerradas ao lado de seu corpo.

Antes que Claire pudesse dizer uma palavra, os dois correram e abraçaram sua ex-líder.

— É bom ver vocês dois também. — Disse Claire, lutando para respirar.

O príncipe Curtis liberou Claire, sua expressão ainda uma mistura de preocupação e raiva.

— Você sabe o quão preocupados todos nós estávamos? Você está aqui significa que está bem, certo?

— O que aconteceu? — Kathyln acrescentou.

Sentei-me e observei os três conversarem. Claire contou a Curtis e Kathyln a mesma história que me contou. Vendo seus rostos escurecerem, imaginei que devo ter parecido muito com eles a pouco.

Assim como eu, Curtis congelou, incapaz de formar uma resposta depois que Claire revelou sua incapacidade de manipular a mana. No entanto, para minha surpresa, Kathyln falou.

— Você é muito forte. —  respondeu.

Ela ergueu o olhar aguado e olhou fixamente para a ex-líder.

— Acho que ser capaz de superar um obstáculo tão grande e seguir em frente com um sorriso diz muito mais sobre você do que a cor de um núcleo de mana.

Atordoada com suas poderosas palavras. Mudei meu olhar para ver que Claire tinha endurecido com a resposta da princesa.

Lágrimas começaram a rolar por suas bochechas.

— Hã?

Surpresa com seu estado, Claire apressadamente enxugou-as com as palmas das mãos, mas as lágrimas se recusaram a parar.

— I-isso é embaraçoso. Não posso acreditar que estou chorando agora.

Meu peito latejava, observando-a chorar quando a Princesa Kathyln a abraçou mais uma vez. Curtis se virou para mim e baixou a cabeça, mas os dois ficaram em silêncio.

As fungadas de Claire logo se transformaram em risadas quando riu de seu próprio estado.

— Olhe para mim. Mal estava apresentável antes, e agora estou chorando!

— Para quem você está tentando ser apresentável? — provoquei, tirando uma risada dos três. Assim, o gelo derreteu e eu andei até eles.

— Princesa Tessia. — Curtis sorriu enquanto acenou educadamente. — Peço desculpas por não a cumprimentar imediatamente.

— Princesa Tessia. — Replicou Kathyln, baixando a cabeça.

— Não tem problema. — sorri de volta. — E devemos ser capazes de agir de forma um pouco mais confortável, considerando que já fomos colegas de escola. Certo, Curtis, Kathyln?

— Você está certa. Curtis — sorriu. — E sim, já faz um tempo, Tessia.

— É bom ver você de novo. — Disse Kathyln com um sorriso tão fraco que eu quase confundi com um leve espasmo.

Os três se acomodaram em torno de uma mesa de pátio próxima. Eu não estava particularmente perto deles, mas nós quatro tínhamos um amigo em comum que nos ajudou a nos unir rapidamente: Arthur.

Os três tinham muito a dizer sobre o meu amigo de infância e, em pouco tempo, estávamos compartilhando as risadas sobre as histórias que o envolviam.

— Ele sempre parece tão encorpado e maduro. — Claire riu. — E então eu o vejo fazendo coisas estranhas, como brigar pela carne no prato com seu vínculo no refeitório.

— Me fale sobre isso. Eu o conheço há mais de uma década e eu ainda não posso colocar o dedo no que ele está pensando. — Eu suspirei.

— Como era Arthur quando era mais jovem? — Perguntou Kathyln.

Tive que pensar por um momento antes de responder.

— Eu me lembro dele sendo muito mais frio. Ele mantinha distância de todos. Mesmo durante os tempos em que rimos juntos e provocávamos um ao outro, sempre parecia haver alguma restrição da parte dele. É claro que eu não tinha nenhuma pista naquela época, mas olhando para trás agora, Arthur já percorreu um longo caminho como uma pessoa decente.

— Houve momentos em que eu estava realmente com ciúmes dele. — Curtis admitiu, coçando a bochecha de vergonha.

— Ele é certamente alguém que a maioria dos caras ficaria com ciúmes quando se trata de magia e luta, mas ele falha em outros aspectos. — respondi.

— E quais aspectos podem ser? — Claire sorriu maliciosamente. — É talvez conhecer o coração feminino?

— Eu não tinha um aspecto específico em mente! — desviei o olhar, esperando que o céu noturno pudesse mascarar minhas bochechas em chamas.

Claire virou a cabeça para a princesa quieta.

— Sua rival mais temível no amor não pode sequer admitir seus sentimentos, Kathyln.

— O que? Rival em amor? — exclamou Curtis, voltando-se para a irmã também.

 — Quem? Arthur?

O rosto pálido da princesa uma vez virou um tom tão brilhante de vermelho, temi que ela pudesse desmaiar.

— N-não. Quer dizer, isso não importa. Eu acho que Arthur combina muito mais com a princesa Tessia.

— Isso não pode! — Claire continuou a provocar. — Você não pode desistir sem lutar.

Curtis pulou, falando para sua irmã sobre como ela é muito nova para namorar, enquanto Kathyln negou todas as acusações feitas por Claire, dando uma olhada rápida para mim.

Sorri junto, mas também dei uma olhada na princesa sentada à minha frente. Olhos grandes e escuros com longos e grossos cílios em um rosto tão pequeno que você poderia cobrir com uma mão. Pele leitosa e um corpo tão pequeno e delicado que até eu queria proteger. Além do fato de que ela era uma feiticeira desviante extremamente talentosa, ela não tinha falhas.

Me pergunto se Arthur prefere o tipo fofo e reservado.

— Tessia?

Saí do meu torpor ao som da voz de Curtis.

— Ah, desculpe. Eu estava pensando em outra coisa.

— Está bem. Eu estava curioso para saber onde Arthur estava. Não o vi em nenhum lugar por aqui.

— Eu vi ele hoje de manhã. — Respondi. — Ainda estava se recuperando, então não acho que viria para o evento, mas acontece que ele vai.

— Arthur se machucou?

Kathyln deixou escapar, surpreendendo seu irmão e Claire.

Assenti.

— Ele está bem agora. Supostamente, foi um erro da parte dele, mas sinto que eles não estão me contando tudo.

— Arthur não é o tipo que comete um erro durante uma briga. — Observou Curtis. — Eu me pergunto o que aconteceu.

Claire soltou um suspiro profundo.

— Você sabe… eu lentamente fui aceitando a minha lesão, mas se há uma coisa que eu lamento, é ser incapaz de lutar ao lado de Arthur durante esta guerra.

— Também estou curioso para saber como seria. Se está for como foi durante o incidente na Xyrus, eu sei que valeria a pena. — Disse Curtis.

Memórias de quando os soldados e eu encontramos Arthur no topo da montanha de cadáveres ainda enviavam arrepios pela espinha. Era uma parte do Arthur que eu não me importaria de nunca mais ver.

Continuamos nossas conversas até que se tornou aparente pelo aumento drástico no nível de ruído que algo estava acontecendo.

— Acho que já é hora de voltarmos ao saguão principal. — Claire sugeriu enquanto se levantava. O resto de nós começou a segui-la até os degraus quando de repente parou.

— O que há de errado? — gritei quando ela parou, estava rígida no topo da escada, mas a minha preocupação tinha sido respondida no momento em que chegamos a ela.

Vestindo um elegante conjunto de armadura composto apenas por uma ombreira e caneleiras feitas de mithril estava a Lança Zero, Varay Aurae. Tradições que datam de quando os receptores desses artefatos lendários operam nas sombras os forçaram a serem referidos apenas por seus codinomes.

Depois que esses receptores se tornaram públicos como Lanças, esses “codinomes” raramente eram usados, mas sempre achei que eles eram legais.

— Mestre. — Kathyln imediatamente se curvou.

— General Varay. — cumprimentei.

— Boa noite. — assentiu, trocando seu olhar de Kathyln para o irmão e de volta para mim. — Estou aqui para acompanhar vocês três durante o evento. Claro, a senhorita Bladeheart é bem-vinda para se juntar a nós.

— Claire. Você está bem? — perguntei, sacudindo-a gentilmente.

Dando um passo para trás, ela se virou para mim com um sorriso irônico.

— S-Sim, é só que, desde que eu não posso mais usar mana, a aura da General Varay, mesmo suprimida, me paralisou por um segundo. Estou bem agora. ؏ Ela acrescentou apressadamente, vendo as expressões preocupadas nos nossos três rostos.

Continuamos andando, mas meus pensamentos voltaram para Claire e todas as coisas que ela agora era incapaz de fazer que todos nós tínhamos dado como certo.

— Mesmo em um lugar como este, elas se destacam.

Uma voz murmurou a poucos metros de distância, me afastando dos meus pensamentos.

— Você realmente tem que colocá-los em um padrão totalmente diferente.

Sussurrou outra voz, desta vez mais perto.

— E aqui eu pensei que as meninas em Kalberk eram bonitas.

— Você gosta daquelas senhoras primárias e adequadas? — Seu amigo respondeu. — Ouvi dizer que as garotas de Blackbend estão mais “dispostas”, se você sabe o que quero dizer.

Seu amigo escondeu um riso atrás de um punho enluvado, mas imediatamente petrificou quando percebeu que meus olhos estavam nele. Suprimi a vontade de repreendê-los; Eu provavelmente teria feito isso em um volume que todos pudessem ouvir no passado, mas isso não era nada novo nem valeria a pena. Além disso, meu olhar parecia suficiente para calá-lo por enquanto.

Errado será dizer que, andando ao lado da general Varay com Curtis, Kathyln e a misteriosa filha da família Bladeheart que não tinha sido vista após o incidente de Xyrus até agora, cabeças viravam para a esquerda e direita. Olhando em volta, vi homens de famílias nobres cutucando seus companheiros, tentando ser discretos da mesma forma que as garotas tentavam ser discretas enquanto olhavam Curtis.

Tinha que admitir que, enquanto ele e Darvus usavam roupas muito parecidas, os dois não poderiam parecer mais diferentes. Enquanto Darvus, com o cabelo penteado para trás e o traje ornamentado com um pouco de ouro demais, parecia mais um bandido malvestido do que um nobre, não havia dúvida para ninguém aqui que Curtis era a realeza.

Andando pelo corredor cheio de nobres, fiquei grata por ter a General Varay conosco. Mesmo os nobres mais ousados não se atreveram a avançar em nossa direção com uma Lança ao nosso lado.

Claire se inclinou para mim.

— Como vocês se acostumaram a receber tanta atenção? É absolutamente estressante.

Sorri e sussurrei de volta.

— Só não tropece em seus próprios pés.

— Ótimo. — Ela olhou para baixo. — Agora, estou consciente de meu próprio andar.

Chegando perto da frente do palco, avistei meus pais junto com o resto do Conselho sentado contra a parede quando o salão inteiro de repente escureceu.

Suspiros de surpresa e murmúrios de confusão surgiram. Embora eu não tenha conseguido melhorar minha visão como os fortalecedores, assimilar-me com o Guardião de Elderwood melhorara muito meus sentidos a ponto de ver que os membros do Conselho trocavam olhares confusos.

O barulho dentro do salão diminuiu lentamente, já que a maioria tinha começado a assumir que isso fazia parte do evento, até que apenas o suave movimento das roupas podia ser ouvido.

Passos ecoaram no topo do palco de madeira, criando ainda mais suspense entre os convidados até que um artefato iluminado flutuando acima do palco iluminou um pilar de luz no palco para revelar meu avô.

— Obrigado a todos por esperarem! — Sua voz aguda soou com autoridade, evocando aplausos dos nobres, mas eu só pude suspirar de vergonha.

Todo mundo parecia amar a teatralidade, mas eu os achei brega. Meu avô, a pessoa com maior autoridade em Dicathen durante esta guerra, certamente se vestiu para o papel. Com um rico manto cor de vinho embelezado com enfeites de ouro e joias negras reluzentes. Até o cabelo dele parecia brilhar como pérolas—provavelmente com a ajuda da iluminação—enquanto permanecia em pé com as mãos cruzadas atrás dele.

Depois que os aplausos cessaram, meu avô falou.

— Primeiro, deixe-me pedir desculpas a todos aqui. Sei que pouco foi dito sobre o propósito deste evento. Isso foi feito intencionalmente, não por precaução e certamente não por segurança. Não, isso foi feito para surpreender toda e qualquer pessoa aqui hoje.

Cabeças se viraram quando nobres se entreolharam em confusão, se certificando de que haviam ouvido direito.

— Sim, todos vocês ouviram corretamente. — Ele riu. — Algumas notícias positivas na forma de uma surpresa são algo que todos nós precisamos nestes tempos difíceis.

Murmúrios de concordância soaram daqueles em torno de nós.

— Então… como eu mantive todos vocês esperando o suficiente, permitam-me apresentar a vocês nosso primeiro passo em direção à vitória nesta guerra! Nós viemos hoje para elogiar o responsável por erradicar um poder central do lado inimigo — um Retentor!

Meu avô deu um passo para o lado quando um ruído zumbido ressoou por baixo. O palco se partiu ao meio enquanto uma figura horripilante vestida em um túmulo de gelo era erguida.

Os nobres mais próximos do palco deram vários passos para trás com medo, alguns dos mais fracos chegaram a tropeçar.

Caindo em um estado de estupor, enquanto olhava para a Vritra, senti alguém puxando meu braço. Olhando para trás, vi Claire mal conseguindo ficar de pé quando seu rosto ficou mortalmente branco.

— Claire?

Rapidamente peguei minha amiga, mantendo-a em pé pela cintura.

— Você quer ir mais longe?

— Não. — Ela balançou a cabeça. — Eu preciso ser capaz de suportar pelo menos isso.

Foi doloroso para mim ver alguém que uma vez eu admirei ser tão impotente, mas deixei-a ficar e voltei-me para o palco. Para alguém ser capaz de emanar uma aura tão nociva mesmo depois da morte, só podia imaginar o quão forte deve ter sido.

Quando vi pela primeira vez que a Vritra tinha sido envolto em gelo, e de tal forma que senti o frio de até onde eu estava, meu olhar inconscientemente virou-se para a general Varay, mas ela parecia tão atordoada quanto todos os outros na sala.

E o olhar dela não estava fixo no monstro desfigurado.

Olhei de volta para o palco e vi outra pessoa vindo de trás, escondida nas sombras atrás da coluna de luz que brilhava no Retentor envolto em gelo.

E mesmo que eu devesse esperar algo assim depois de todos esses anos, não esperava. Assim como a general Varay e todos os outros nesta sala, fiquei atordoada quando Arthur entrou em cena para que todos pudessem ver.

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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