Meu olhar permaneceu sobre Tess. Ela estava sorrindo–gargalhando–tanto de alívio quanto de vergonha ao enxugar as lágrimas.
Esta foi a primeira vez que vi a minha amiga de infância depois da cerimônia em que me deram o título de Lança, mas fazia ainda mais tempo desde a última vez que nos falamos.
Desde então, a princesa élfica mudou. Havia uma leve cicatriz ao longo de seu couro cabeludo acima da orelha direita que teria passado despercebida se não tivesse amarrado o cabelo. Cicatrizes de batalhas eram visíveis ao longo de seus braços, enquanto o antebraço esquerdo tinha uma bandagem fresca em volta dele.
— Você está ferida. — observei, limpando gentilmente a linha de sangue que vazava através de seu curativo.
Percebendo minha expressão sombria, agarrou minha mão cicatrizada com ambas as mãos.
— Oh, por favor, tenho mais lesões por tentar cozinhar do que lutar de verdade.
Soltei uma risada irônica com o pensamento. Não me afastei dela. Apesar dos calos nas palmas das mãos e nos dedos, a mão dela era macia e quente comparada à minha.
Tessia continuou a expressar sua preocupação, sacudindo a cabeça.
— Você tem alguma ideia de como eu estava com medo quando ouvi as notícias através do meu capitão?
— Seu capitão? Isso significa que você foi promovida a uma comandante?
Perguntei, olhando para a expressão atordoada da princesa.
— Você é inacreditável. Seus pensamentos vão imediatamente para saber se fui promovida a uma comandante? Você quase morreu Arthur!
— Estou feliz que você esteja bem. — Eu disse com um sorriso.
Tess soltou um suspiro, apoiando a cabeça no meu braço.
— Eu nem tenho forças para discutir com você.
Soltei uma risada, apertando a mão de Tess. O tempo pareceu desacelerar por um breve momento, enquanto nós dois ficamos assim em silêncio.
— Você tomou medidas tão cuidadosas para ter certeza que todo mundo estaria seguro que eu nunca pensei em quão perigosa seria essa guerra pra você. — Tess levantou a cabeça, olhando para mim com seus brilhantes olhos turquesa. — Vendo você assim em uma cama cheia de ferimentos, é um lembrete frio de que você é apenas humano e não um mago e guerreiro indestrutível.
Ri.
— É assim que eu pareço para você a maior parte do tempo? Alguma figura indestrutível?
— Com a maturidade emocional de uma criança. — Terminou com um largo sorriso.
— Isso são modos de falar com um general? — repreendi, tentando manter um rosto sério, enquanto ela lutava para fazer o mesmo.
— Minhas desculpas, General Arthur. — Ela respondeu, com uma risada em sua voz.
De repente, a porta do meu quarto se abriu. Entrando abruptamente estava Virion Eralith, o comandante de todo o exército Dicathen e seu filho Alduin Eralith, seguido por sua esposa, minha irmã mais nova Eleanor, Sylvie e alguns guardas. Atrás deles estava o urso de dois metros e meio de altura de Eleanor, mastigando casualmente uma fatia de carne com desinteresse nos olhos diante da mudança dos acontecimentos.
A sala ficou silenciosa mais uma vez. Os pais de Tessia e minha própria irmã fingiram ignorar a situação, recusando-se a fazer contato visual conosco. Os guardas arrastaram-se desajeitadamente quando Virion tossia desconfortavelmente e endireitava o roupão.
O comandante de Dicathen limpou a garganta, seu olhar vagava pela sala na tentativa de manter um comportamento digno.
— Vovô? — Tess exclamou estupefata.
— Eu vejo que você não gastou muito esforço mobiliando este quarto, Arthur. — Observou ele, ainda incapaz de olhar em nossos olhos.
— Vocês estavam escutando? — O rosto de Tess estava vermelho como uma beterraba, enquanto levantava um dedo acusador para sua família.
Virion balançou um dedo em negação.
— Claro que não, querida. Nós simplesmente ouvimos o bem-estar de Arthur, um general estimado que havia sido tragicamente…
O comandante foi incapaz de terminar sua desculpa quando se esquivou de um livro que Tess tinha pego da mesinha de cabeceira e jogado nele.
Soltei uma risada, sentando na minha cama meu olhar se fixando em minha irmã desajeitadamente segurando meu vínculo.
— Sua irmã estava esperando pacientemente você acordar. — Sylvie informou.
Não fazia muito tempo desde que tinha visto a minha irmã pela última vez, mas só agora eu parecia ter percebido o quão grande ela tinha ficado. Não podia mais chamá-la de minha pequena irmã.
— Venha aqui, Ellie. — disse suavemente.
O lábio inferior de minha irmãzinha tremeu quando lágrimas começaram a inundar seu rosto. Deixando de lado o meu vínculo, ela correu para os meus braços, quase me tirando o ar.
— Eu estava tão preocupada! — Ela disse com raiva, sua voz se quebrando em soluços. — O que teria acontecido se você tivesse morrido?
— Estou bem, Ellie. — persuadi enquanto seu rosto permanecia enterrado no meu peito. Estendi a mão para acariciar o cabelo castanho da minha irmã quando percebi que os ferimentos que eu tinha recebido da feiticeira ainda estavam lá. Minha expressão escureceu com a visão da feia cicatriz vermelha que se espalhou por toda a minha mão esquerda até o meu pulso como se a pele tivesse sido queimada. A lesão diminuiu bastante e parecia como se tivesse alguns anos de idade, graças às habilidades de Sylvie com Vivum, mas toda a minha mão tinha adquirido um tom de rosa doentio.
Boo, o vínculo de Ellie, me encarou com um olhar desconfiado, roendo um osso, mas me permitiu continuar abraçando sua mestra.
Sylvie casualmente pulou na minha cama e se enrolou ao meu lado. Não disse nada, mas uma onda de alívio inundou meu vínculo.
Depois que o caos inicial diminuiu, Alduin e Merial tiveram que partir devido a problemas com uma das cidades élficas no Norte. Minha irmã permaneceu um monte de fungadas e soluços por algum tempo, enquanto suas emoções oscilavam de tristeza e culpa por todo o caminho para a raiva.
Esfregando as lágrimas de seus olhos, o olhar de Ellie pousou na minha mão cheia de cicatrizes.
— Como você pode se machucar assim?
— Cicatrizes desaparecem.
Disse com um sorriso fraco, na esperança de dispensar suas preocupações.
As aparências físicas nunca tinham sido de grande importância para mim, mas ainda era um pouco estressante ver o quão ruim eram as marcas que meus ferimentos haviam deixado para trás. Trabalhando com a coragem, saí cuidadosamente da cama, certificando-me de que minhas pernas fossem capazes de me carregar.
Ficar de pé sobre as minhas duas pernas sem a ajuda de mana era uma bênção que sempre tinha dado como certa. Dei passos lentos e firmes em direção ao espelho enquanto todos na sala observavam com apreensão.
Respirando fundo, olhei para cima para estudar meu reflexo e imediatamente pude ver o preço que a batalha com a Retentora tinha feito no meu corpo. Mesmo sem tirar meu robe, meu olhar imediatamente pousou no meu pescoço. As mesmas cicatrizes vermelhas que cobriam minha mão e pulso foram marcadas na minha garganta.
Desatando a banda na minha cintura, tirei meu robe, então estava apenas vestindo minha roupa de baixo.
Uau, estou um caco.
— Você poderia estar muito pior.
Sylvie concordou, com sua costumeira falta de fofura.
Cicatrizes de comprimentos variados estavam espalhadas por todo o meu corpo tonificado, como lascas e rachaduras em uma estátua antiga, desgastada pelo tempo e pelas forças da natureza. Mais das cicatrizes vermelhas eram visíveis no meu ombro e nas minhas costas. As cicatrizes que desciam pela minha cintura até os joelhos eram particularmente horríveis—como se alguém tivesse rasgado as pernas peça por peça e costuradas grosseiramente.
— Considere uma dádiva de Deus que você foi capaz de se recuperar até o estado em que está agora. — Uma voz clara soou, me despertando dos meus pensamentos.
Lançando um olhar de lado, avistei o Asura de três olhos, Aldir, entrando no meu quarto.
— Mestre. — Cumprimentou Tess, levantando-se da cadeira. As bochechas da minha amiga de infância estavam vermelhas quando desajeitadamente se posicionou longe de mim.
Percebendo que era provavelmente a minha falta de roupa que a deixava desconfortável, botei de volta meu roupão antes de cumprimentar o Asura.
— Aldir.
— Arthur Leywin.
Assentiu antes de baixar a cabeça para Sylvie.
— Lady Sylvie.
— O que você disse agora. O que você quis dizer? — Perguntei, me sentando ao lado de Virion no sofá de couro.
Sentado em frente a nós ao lado de Tess, apontou o dedo em direção a um anel no dedo esquerdo.
— Você se lembra da pérola de elixir que Windsom lhe dera há alguns anos? Aquela que você nunca usou?
Depois de procurar dentro do meu anel de dimensão, não consegui encontrar a pérola dourada que guardei para me ajudar a entrar no estágio do núcleo branco.
— O que aconteceu com ela?
— É o que deu ao seu corpo a força para recuperar o estado em que você está agora.
O Asura soltou um suspiro, endireitando o robe de lavanda.
— Mesmo com uma equipe de Inferiores especializada em artes mana médicas, juntamente com Lady Sylvie usando suas artes de éter, embora inexperientes, ainda foram necessários os efeitos do poderoso elixir para curá-lo.
— Estou supondo que você ou o Windsom não estão autorizados a me dar outro elixir, certo?
Perguntei esperançoso.
O Asura de três olhos balançou a cabeça.
— Desde que a guerra começou, não podemos arriscar que o tratado seja quebrado.
— Droga.
Amaldiçoei, inclinando a cabeça para trás no sofá.
— Desculpe te chutar no momento em que você já está pra baixo, mas acho que você ainda pode querer isso.
Virion entrou na conversa, tirando a Canção do Amanhecer de seu anel de dimensão.
— Fui capaz de retirar sua espada do cadáver da Retentora.
Meu coração afundou quando me foi entregue a espada uma vez impressionante. A lâmina translúcida da Canção do Amanhecer tinha entorpecido, enquanto sua ponta fora derretida pelas habilidades corrosivas da Retentora, jogando fora o delicado equilíbrio da espada.
Embainhando-a na bainha que carregava dentro do meu anel, olhei para a palma da mão direita. Wren havia embutido uma pedra que ele próprio refinou chamada de Aclorita, que deveria se transformar em uma arma especial.
Agora seria um ótimo momento para uma nova arma, pensei olhando minha mão.
— Arthur. — A voz de Sylvie soou. — Eu disse a Aldir alguns dos eventos que ocorreram, mas acho que seria melhor se você conversasse em detalhes sobre isso com ele e Virion.
— Certo.
Lentamente me levantando do meu lugar, caminhei até a minha irmãzinha que ficou em silêncio o tempo todo.
— Ellie. Você pode esperar por mim lá fora enquanto eu falo sobre algumas coisas?
Levantando uma sobrancelha cética, respondeu:
— Só se você prometer não sair sem ao menos dizer adeus.
Coçando minha bochecha, soltei uma risada irônica.
— Prometo.
— Tudo bem. — Ela se levantou de seu assento e caminhou em direção à porta antes de olhar por cima do ombro com uma expressão orgulhosa. — Queria mostrar a você o que tenho trabalhado.
— Oh? — levantei uma sobrancelha, pensando que ela estava se referindo a um feitiço que ela estava praticando. — Mal posso esperar!
Depois que minha irmã fechou a porta atrás dela, os únicos que ficaram dentro do meu quarto eram o atual comandante de Dicathen, um Asura, meu vinculo e Tessia.
— Deixe-me lhe falar sobre que aconteceu desde a batalha com o Retentor. — comecei.
— Espere. Vamos convocar uma reunião oficial com o resto do Conselho. Interrompeu Virion, levantando-se.
— Não. Eu quero que isso seja ouvido apenas pelos seus ouvidos. O que você escolhe fazer com esta informação, depende apenas de você.
Tess levantou a mão tímida.
— Eu devo sair?
— Tudo bem. — balancei a cabeça.
— Antes de começar, quero apenas saber uma coisa.
— E o que seria? — Aldir respondeu, tomando nota de que meu olhar estava direcionado a ele.
— Quem tem controle sobre a Mica Earthborn e Alfred Warned, as duas Lanças dos anões—você, ou Rahdeas?
O único olho roxo do Asura que estava aberto se estreitou em pensamentos enquanto continuava me encarando.
— Ainda estou atualmente no controle sobre as duas lanças. Por que você pergunta?
Levou mais tempo do que eu esperava para discutir sobre os eventos que se seguiram após a batalha com a Retentora.
Como esperado, Virion e Tessia ficaram perplexos com a evidente traição dos anões. A expressão de Aldir permaneceu firme; se ficou surpreso, fez um trabalho perfeito escondendo isso.
No entanto, apesar da surpresa inicial, Virion se recuperou rapidamente.
— Se os anões realmente se aliaram com o exército alacryano, então será muito mais difícil evitar que as batalhas cheguem às cidades civis. Você foi capaz de discernir se era apenas uma facção separada de anões ou se era mais em larga escala do que isso?
— Não posso dizer com certeza, sem obter algumas respostas de Rahdeas.
Disse com os dentes cerrados, lamentando sobre as circunstâncias que envolviam o ex-guardião de Elijah.
— A notícia de uma Foice aparecendo é preocupante. — Acrescentou Aldir. — Se ela pretende causar estragos com seu Retentor ao seu lado, bem como toda uma divisão de tropas, então isso não é algo que uma ou duas Lanças possam enfrentar, mesmo com um exército apoiando-as.
— É por isso que preciso saber de quem é a lealdade das duas Lanças dos anões. — Respondi.
— Uma batalha em larga escala está se aproximando e eu não quero nenhum obstáculo imprevisto.
Tradução: Reapers Scans
Revisão: Reapers Scans
QC: Bravo
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