A figura misteriosa liberou uma pressão sufocante pela caverna quando saiu pelo portão. Até Sylvie, que estava tão ansiosa para sair, estava petrificada ao olhar impotente para baixo.
Com o resto de seu corpo aparecendo através do portal de teletransporte, meus olhos imediatamente se fixaram em seus chifres.
Os chifres que vi em todos os outros Vritras pareciam meramente ameaçadores “como se fossem parte feras”, mas olhando para aqueles dois chifres se projetando de suas têmporas se curvando para trás da coroa de sua cabeça, exalavam um senso de prestígio e realeza, como uma tiara colocada gentilmente em sua cabeça. Ao contrário dos chifres negros sombrios que vi até agora, os chifres obsidianos desse Vritra brilhava como pedras preciosas, em contraste com sua juba cor de pérola que passava seus ombros estreitos.
Enquanto o Vritra olhava ao redor fui capaz de olhar rapidamente seu rosto antes de recuar para a entrada do túnel, com medo de que o Vritra fosse capaz de me sentir mesmo com o Caminho Ilusório ativado.
Foi então que percebi que essa aura opressiva vinha de uma garota que não parecia mais velha que Tessia. Possuía traços elegantes, olhos negros e um corpo magro escondido por robe feito de pelos cor de obsidiana, mesmo entre uma multidão de anões, parecia pequena.
Após alguns segundos, reuni a coragem para olhar para baixo mais uma vez.
— Se-senhorita Nezera? — um soldado Alacryano barrigudo cumprimentou de forma visivelmente confusa ao permanecer de joelhos na frente de uma multidão de anões ajoelhados.
— Onde está Cylrit? — A Vritra feminina perguntou friamente, encarando um dos muitos soldados Alacryanos que cercavam o portal e os anões ajoelhados.
A soldado que Senhorita Nezera reconheceu imediatamente se levantou.
— Comandante Cylrit está atualmente acampado próximo à costa norte de Sapin, aguardando sua chegada para começar o ataque, Senhorita Nezera.
— Muito bem. Vamos partir. — Sua suave voz se espalhou como uma brisa fria, me dando calafrios apesar da distância entre nós.
— Sim, Senhorita Nezera! — A soldado saudou, reunindo as tropas para seguir a graciosa Vritra.
Porém quando passou pelo soldado que mencionou seu nome primeiro em surpresa, disse. — Perdoe minha grosseria, Senhorita Nezera, mas e a nova Foice? Fui instruído para levá-lo ao Comandante Uto.
Houve um momento de silêncio enquanto todos ao redor trocavam olhares ansiosos entre Senhorita Nezera e o soldado alto. Ela encarou o soldado com um olhar frio e sem emoção até que finalmente falou.
— Ele não está pronto. Melzri e Viessa ainda estão trabalhando nele.
— E-entendi. — O soldado respondeu, seus ombros se relaxaram. — Peço desculpas por faze-la perder tempo.
Pelo seu discurso, era óbvio que ela também era uma Foice, mas não queria acreditar que tal ser, comparável à um asura, era um oponente que eu deveria enfrentar. Melhor ainda, o número de Foices que temos que nos preocupar aumentou.
— Outra Foice?
Sylvie ecoou, sua voz com preocupação.
— Vamos lá, vamos embora daqui.
Falei para meu vínculo. Agora que uma Foice entrou na guerra, levar esta informação de volta ao castelo é essencial.
Olhei uma última vez para a Foice chamada Nezera, quando ela olhou por cima dos ombros também.
Por uma fração de segundo, o olhar dela passou pelo túnel em que estávamos nos escondendo e nossos olhos se encontraram.
Seu olhar eventualmente passou por mim naquele momento, seus olhos frios se fixaram em mim com o foco de um predador.
Não havia dúvidas, ela sabia que eu estava aqui.
Meu corpo endureceu, como se cada gota de sangue do meu corpo tivesse congelado. Minha mão ficou suada e meus batimentos aumentaram ao ponto de eu ficar com medo de que a caverna inteira pudesse ouvir. Ainda assim, se virou e continuou a subir as escadas da mesma maneira imperturbável e indiferente de antes.
— O que há de errado? — meu vínculo perguntou.
Fiquei parado, com medo de me mover. Somente após ela sair que eu consegui respirar. Acho que ela me viu.
Sentindo minha apreensão, ela sabia que eu não estava brincando, deixando-a ainda mais inquieta.
— Agora, podemos ir? Ou você quer esperar que o resto do exército Alacryano saiba que estamos aqui…
Não pude deixar de soltar um sorriso irônico. É nesses raros momentos que meu vínculo mostrava vislumbres de sua imaturidade.
— Sim. Vamos lá.
Saindo do túnel, fomos agraciados pelo “tão prazeroso” ar do deserto. Sylvie e eu concordamos em não voar até que alcançássemos a floresta na fronteira de Sapin e Darv. Porém, após um quilômetro e meio de caminhada cuidadosa, meu corpo cedeu à um ataque de calafrios. Após constantemente usar o Caminho Ilusório no caso de soldados alacryanos sentirem minha flutuação de mana, minha reserva escassa foi drenada. Usando o resto da mana para fortalecer minhas pernas, fiquei apenas com meu manto para me proteger do vento e areia.
Já fazia um tempo que senti esse frio. Apertei minha mandíbula para meus dentes não rangerem. Encostando minhas costas contra uma rocha para me proteger do vento, amarrei meu manto ao meu redor.
— Só mais um pouquinho. Estamos quase lá. Eu deveria usar éter mais uma vez?
Meu vínculo me perguntou olhando pro meu estado lamentável.
— Não. Eu mal posso manter minha Rotação de Mana neste estado. Usar éter chamaria atenção de soldados, ou pior, da Foice.
— Okay.
Abraçando minha perna para fazer o que podia para me aquecer, nós ficamos parados por um momento até que o vento diminuísse.
Após meticulosamente seguir em rumo a floresta, andando em zigzag de uma rocha para outra no caso de algum soldado alacryano estar escondido da fraca luz da Lua crescente, quase chorei quando vi as sombras das árvores na distância.
Apenas alguns minutos dentro da floresta, o vento diminuiu significantemente e apesar de estar a mesma temperatura meu corpo lentamente começou a esquentar.
— Vamos descansar aqui um pouco.
Sylvie disse, apontando com seu focinho para um tronco oco.
— Nós devíamos… voltar para o castelo.
Respondi, minhas pálpebras ficando pesadas com cada palavra.
Meu vínculo me cutucou em direção ao tronco.
— Precisamos colocar alguma distância entre nós e os soldados de qualquer forma. Apenas uma hora de soneca. Neste ritmo você vai congelar sem ter mana para te proteger enquanto voarmos.
Havia um poder reconfortante nas palavras dela que pareceu drenar o resto de energia que eu tinha. De repente fui atingido com uma onda de fadiga, e me joguei no tronco oco. Minha consciência lentamente escurecia, a última coisa que vi foi Sylvie colocando algumas folhas em cima de mim para me aquecer.
Apesar do meu estado fraco, o sono profundo me evitava. Pela tensão de ser emboscado com pouca força para me proteger e a recente mudança nos eventos, minha mente se esforçava para pelo menos ficar meio-consciente.
Após descansar os olhos e corpo por cerca de uma hora, Sylvie e eu saímos do conforto de nossa coberta de folhas. Sem a necessidade de usar mana para fortalecer minhas pernas enquanto montava Sylvie, fui capaz de me proteger dos ventos.
A jornada de volta ao castelo foi silenciosa apesar dos sons do vento. Não houve qualquer conversa entre nós, já que ambos estávamos perdidos em pensamentos.
A guerra se tornou exponencialmente mais complicada agora que sabemos que os anões estão ajudando as forças Alacryanas. Não era mais preto e branco, nós contra eles. Havia também a possibilidade de somente uma facção específica dos anões estarem ajudando o inimigo, mas se Rahdeas, guardião adotivo de Elijah e agora líder dos anões, têm algo a ver com isso, isso significa que estamos com menos duas Lanças.
Assumindo o pior, a única coisa positiva que vêm disso é que Rahdeas ainda está agindo como se estivesse do nosso lado. Isso significa que ou ele tem mais a ganhar sendo um agente duplo ou que ele não está confiante o suficiente para desafiar abertamente o resto do Conselho.
— Chegamos. — Sylvie anunciou.
Olhando para cima, podia ver o castelo flutuante entre camadas de nuvens. Os pontos ao redor da grande estrutura eram soldados montados em bestas de mana voadoras. Com o sol inabalável brilhando diretamente acima, projetando sombras no mar de nuvens abaixo do castelo e guardas voadores, era uma vista imponente que certamente faria cair o queixo de qualquer um que nunca visitou, mas para mim, tudo que queria era hibernar na primeira superfície confortável que visse.
A maior parte de entradas eram através de portais dimensionais, então quando nos aproximamos os guardas imediatamente nos cercaram. As armas brilhantes dos soldados e seus vínculos preparados para a batalha. Porém, quando chegamos perto o suficiente para que os soldados percebessem quem somos, formaram duas linhas, criando um caminho aéreo para que Sylvie e eu seguíssemos para a entrada.
— General Arthur!
Os guardas saudaram em união do topo de suas bestas voadoras. Nós lentamente seguimos o caminho, até que as portas duplas que eram mais altas que Sylvie se abriram.
Era óbvio que o Capitão Auddyr já havia chegado, já que havia um time de médicos e emissores esperando por mim. A plataforma de pouso teve uma enxurrada de atividade assim que as portas se abriram. Médicos e emissores que foram ordenados a ficar lá até que eu chegasse, alguns casualmente jogando cartas, rapidamente largaram o que estavam fazendo e imediatamente se prepararam para me tratar.
Uma enxurrada de barulhos incompreensíveis por todos os cantos bombardeou meus ouvidos. Assim que Sylvie pousou, os médicos começaram a trabalhar, e trouxeram uma engenhoca parecida com uma maca.
— Estou bem. — resmunguei, minha voz dificilmente saindo. — Deixe-me falar com Virion primeiro.
— Amarrem ele e não o deixem andar. — Sylvie ressoou, assustando todos na sala—inclusive eu. Meu vínculo sempre se limitou a falar com poucas pessoas além de mim, e mesmo assim ainda preferia se comunicar telepaticamente.
Surpreendido pelos comandos repentinos de meu vínculo, obedeci aos desejos de Sylvie e permiti ser carregado pela maca, enquanto ambos médicos e emissores começaram a me examinar. Meu vínculo se transformou em sua forma de raposa e caminhou ao meu lado, ao mesmo tempo que eu era movido da plataforma de pouso para uma sala médica adequada.
Não demorou muito para os médicos determinarem onde estavam meus ferimentos durante nossa pequena viagem até a sala médica; melhor ainda, ouvi um dos médicos suspirando que provavelmente era mais fácil listar as partes do corpo que não estavam danificadas.
Isso era sempre reconfortante.
Vindo de um período e local que a tecnologia era avançada, sempre tive uma péssima impressão da medicina desse mundo, mas a mesa virou e eu os subestimei. O que esse mundo não consegue alcançar com tecnologia, consegue com magia. Times de magos desviantes, cujo poderes são especializados na área médica, estavam esperando por mim enquanto era levado para uma sala quadrada com teto arqueado.
O tempo passava, sentia meus ferimentos e as privações do meu corpo me afetando. Com a adrenalina que me mantinha acordado diminuindo, parecia que meus membros tinham virado pesos de chumbo. Tive dificuldade para ficar acordado quando os médicos e emissores começaram a examinar meu corpo cuidadosamente.
Após terminarem mais um round de exames preliminares, um mago idoso de nome Mendul entrou na sala. O homem gordo, e de mandíbula quadrada se apresentou como um desviante capaz de ajustar e melhorar sua visão usando mana, sendo assim capaz de individualmente observar diferentes camadas de um corpo. Mesmo que fosse o sistema ósseo, muscular ou nervoso, era capaz de ver tudo.
Mendul continuou analisando meu corpo usando uma caneta para desenhar diretamente em dezenas de áreas no meu corpo enquanto tirava notas, focava todos meus esforços em continuar consciente.
— Onde está o Comandante Virion? — perguntei após Mendul terminar de marcar meu corpo como se fosse uma espécie de mapa.
— Minhas desculpas, General Arthur. Comandante Virion está atualmente fora do castelo.
A resposta veio de um homem de meia idade, magro, vestido com um manto verde claro.
Julgando pelo modo que coordenava os outros médicos, emissores e outros desviantes na sala, supus que fosse o líder do time médico daqui. Normalmente eu seria um pouco mais cortês com o homem que está liderando com minha cura, não pude deixar de soltar um tom de impaciência enquanto falava.
— Ele está fora? Onde? Quando ele vai voltar?
— E-ele não disse. — respondeu se desculpando. — Só consegui o ver saindo com Capitão Auddyr e Capitã Glory junto com General Aya.
Afundei na cama elevada em que estive desde que me colocaram nessa sala, com cuidado para não fechar meus olhos por muito tempo com medo de cair no sono. Se Virion teve que sair com Auddyr e Vanesy e levou uma Lança com eles, provavelmente voltaram para o local que eu derrotei a serva da Foice na floresta perto da fronteira sul de Sapin.
Apesar da minha condição, não pude deixar de me preocupar. Eles talvez passem pelo pelotão de alacryanos que estavam marchando para o Norte. Ou pior, aquela Foice talvez tente encontrar o servo que matei.
— Não estou tão preocupada com a Foice, já que ela pareceu ir para uma direção diferente, mas você está certo sobre o pelotão.
Meu vínculo respondeu.
— Talvez você deva ir avisa-los?
— E deixar você aqui sozinho? Após descobrir que os anões são aliados dos Vritra? Você perdeu seu cérebro?
Olhei rapidamente ao redor da sala e vi ambos elfos e anões junto com os médicos humanos, todos esperando por demais instruções, enquanto preparavam ferramentas e medicamentos diversos.
— Droga.
Xinguei. Sei que ela está certa. Tudo bem. Eu acho que só me resta orar pela segurança deles.
— Virion tem uma lança com ele. Não tente cuidar de tudo sozinho. Eles ficarão bem sem você. — me confortou. — Ficarei aqui para ter certeza de que esses médicos não farão nada suspeito. Apenas descanse e foque em melhorar
— E quanto a Aldir? — perguntei esperançoso.
— Mais uma vez, desculpe. — o médico líder abaixou a cabeça. — Somente Comandante Virion sabe o paradeiro do Lorde Aldir. Eu mesmo só o vi uma vez, muito brevemente.
Só pude suspirar em frustração, e a última parcela de força me deixou.
— Tudo bem. Então qual o plano? Você chegou em um diagnóstico dos meus ferimentos?
O líder médico virou para Mendul, que deu um passo à frente em minha direção e olhou para suas anotações antes de falar.
— General Arthur, seus ferimentos são únicos em complexidade. Para ser franco, se não fosse por seu corpo assimilado e nível de seu núcleo de mana, você seria incapaz de permanecer consciente. Mesmo assim, não posso deixar de ficar surpreso em o vê-lo tão animado, apesar de tudo.
Olhei para baixo para Sylvie, que estava sentada no chão ao lado da minha cama.
— Tenho que te agradecer por isso.
— De nada. — respondeu secamente. — Embora, temo que terei que fazer isso novamente no futuro.
Lancei em meu vínculo um olhar fraco antes de olhar para Mendul.
— Então, que tipo de procedimento devo esperar?
O desviante ficou desconfortável ao acariciar sua barba curta.
— Os ferimentos na parte inferior de seu corpo se curaram, mas não perfeitamente. Em ordem para você ser capaz de andar sem o uso de mana, nós temos que, com muita precisão, quebrar seus ossos e partir seus tecidos em partes pequenas, e guiá-los para que se curem corretamente.
Abrindo meus olhos cansados, olhei para o líder médico que estava silenciosamente esperando por demais instruções. Não tenho certeza se porque estava desesperado para ficar bem novamente, ou porque eu passei por inúmeras cirurgias após batalhas durante meu tempo como rei no meu mundo anterior, mas minha mente estava em paz.
Eu dei um último olhar no meu vínculo antes de fechar os olhos. Num lugar que qualquer um pode potencialmente me ferir, eu estava agradecido por ter Sylvie aqui.
— Vá em frente.
— Sim, General Arthur! — O médico magro acenou firmemente. — Tenha certeza, após ouvir de sua condição pelo Capitão Auddyr, Comandante Virion não poupou esforços em juntar a maioria dos magos de elite das três raças para ter certeza que estará de volta com toda a força.
— Estarei sob seus cuidados.
Quando sussurrei, os magos e médicos na sala imediatamente se curvaram.
— Seldia, é com você.
Mendul disse.
Uma jovem elfa se aproximou de mim, com um sorriso gentil. Estendeu sua mão, pressionando minha testa com seu indicador.
— Me desculpe pela intrusão.
Quando ela fechou os olhos, uma onda calmante irradiou da ponta dos seus dedos até minha cabeça e pelo resto do meu corpo. Meus olhos se fecharam, enquanto um cobertor de escuridão se enrolou gentilmente ao meu redor.
Tradução: Reapers Scans
Revisão: Reapers Scans
QC: Bravo
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