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O Começo Depois do Fim – Cap. 158 – Abaixo da superfície

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Uma aliança entre os anões e os Alacryanos resultaria em severas implicações, mas apesar do meu palpite, precisava confirmar que minhas suspeitas não eram parte do meu ceticismo exagerado.

Levei mais ou menos uma hora para achar uma das entradas ocultas para o reino subterrâneo dos anões, e isso só foi possível graças ao Realmheart.

— Sua respiração está irregular.

Sylvie notou de dentro do meu manto, enquanto cuidadosamente passava meus dedos pelas delicadas ranhuras, camufladas para parecerem comuns no penhasco.

— Está tudo bem. Só utilizei o Realmheart mais do que deveria. 

Respondi olhando para meus braços. Sem as runas douradas gravadas em mim e com minha visão voltando ao normal, percebi o quão pálido meu corpo estava. Não era de forma alguma a palidez cremosa que a maioria das mulheres desejava, era o tipo de palidez doentia que faz você se preocupar com seu bem-estar.

— Sinto que não deveria te lembrar, mas existe um conceito chamado moderação que faz maravilhas no corpo e mente, sabe?

Ignorando o sermão do meu vínculo, tentei entrar na passagem oculta mais uma vez. Apesar de fortalecer meu corpo com mana, a porta de pedra não se mexeu.

Deve haver algum jeito de abrir isso. Estou deixando algo passar. Continuei tateando, minhas mãos envoltas em mana de atributo terra através do comprimento da porta oculta.

— Talvez você precise ser um anão para entrar. — Sylvie sugeriu.

— Não. Duvido que haja alguma assinatura de mana específica que apenas anões possam emitir, além dos desviantes. Se esse fosse o caso mais de oitenta por cento da população não conseguiria passar pelos próprios portões. Não, tem que ser algo diferente… acho que descobri!

Imediatamente me ajoelhei fazendo Sylvie cair do meu manto pelo devido ao movimento súbito.

— Você pode não ser um anão, mas um anão definitivamente construiu isso. Sendo assim você precisa agir como um. 

Passei meus dedos pela parede de pedra mais uma vez removendo o arbusto que cobria a metade inferior da porta oculta.

— Ah, a altura! —  exclamou, sua voz animada ecoando na minha mente ao saltar para meu ombro.

Depois de vários minutos procurando uma maçaneta, alavanca ou botão que abrisse o mecanismo fechado, eu finalmente achei. Mais ou menos cento e vinte centímetros do chão próximo ao topo da porta, minha mão esquerda afundou na abertura. De primeira pareceu que minha mão tocou alguma espécie de seiva ou substância parecida com cola, mas quando eu envolvi minha mão com mana a viscosidade da parede mudou. Enquanto mexia no mecanismo da porta percebi que não se tratava de quanto atributo terra você envolvia a mão, mas sim de níveis precisos e específicos ao inserir a mão na fechadura.

Se os níveis de mana pudessem ser medidos de um a dez, então precisaria achar a combinação correta entre esses números para destrancar com sucesso a porta.

Toda vez que chutava errado o número do nível de mana e tentava inserir minha mão com profundidade na fechadura, a terra ao redor da minha mão se tornava mais viscosa, tirando minha mão da fechadura.

— Droga!

Xinguei suspirando, depois da minha vigésima tentativa falhar em abrir a porta. Meio tentado explodir a porta inspirei profundamente e liberei o Realmheart mais uma vez.

Imediatamente uma dor abrasadora fluiu do meu núcleo para o meu corpo e membros. Me inclinei e caí sobre meus joelhos numa série intensa de tosses, não vomitei apenas bile e comida dessa vez, mas também sangue.

Uma onda de insatisfação e preocupação fluiu de Sylvie.

— Eu juro, se você disser algo sobre moderação de novo…

— Vamos acabar logo com essa missão, depois você poderá descansar apropriadamente. — respondeu.

Com um aceno febril, pus peso nas minhas pernas para me levantar, apenas para cair de costas. Com a pouca mana que me restava utilizada para manter o Realmheart tirei a mana das minhas pernas para abrir a fechadura.

Pude sentir as emoções do meu vínculo enquanto me espiava. Se mantendo em silêncio, Sylvie me ajudou a sentar, erguendo minhas costas com sua cabeça.

Respirar era como engolir agulhas, mas estava grato por poder ativar o Realmheart mais uma vez. Sem perder tempo tentei alcançar a fechadura, minha mão quase não alcançando com a ajuda de Sylvie. Usando o pouco de mana que restava envolvi minha mão com mana de atributo terra.

Imediatamente, pude sentir as partículas de mana se reunirem no buraco da fechadura. Quando inseri o nível correto de mana na minha mão, as partículas brilharam e dispersaram, permitindo o avanço da minha mão sem o medo de ter que começar de novo.

— Aposto que dragões nunca pensaram em utilizar o Realmheart em coisas como essa.

Sorri enquanto minha mão submergia da parede acima de meu antebraço.

— Coisas como abrir uma porta? Isso seria impróprio para nós.

Meu vínculo grunhiu.

— Situações exigem adaptações meu pequeno dragão peludo. 

Repliquei, mexendo a mão enterrada profundamente na fechadura da porta. Com um clique satisfatório a porta deslizou e se abriu fazendo um ruído.

Me virei e olhei para meu vínculo que estava sustentando meu corpo quebrado em pé, dando uma piscadela cheia de orgulho.

— Eu tenho vergonha de ter me referido a você como “papai um dia”.

Mesmo em sua pequena forma de raposa tinha um palpável senso de zombaria ao rolar os olhos.

— Olha, você que chocou por minha causa.

 Desativando o Realmheart limpei o fino rastro de sangue que escorreu da minha boca, realoquei a minúscula quantidade de mana que me restava para as pernas.

Trabalhando com um único digito de porcentagem da minha mana mal conseguia ter o luxo de usar minhas pernas mutiladas, até me manter em pé era uma tarefa árdua.

Usando a parede como suporte não perdi tempo e segui pelo estreito corredor. A passagem tinha cerca de um metro e meio de largura e seu teto raspava sobre minha cabeça nas curvas, era mais um túnel tosco do que um corredor. Felizmente, havia velas iluminando o caminho, dispostas em pequenos buracos ao longo das paredes. Sem necessidade de usar mana para qualquer coisa além de reforçar minhas pernas  pude utilizar a rotação de mana para encher meu núcleo vazio.

Podia sentir o calor das velas, mas após viajar através do duro vento arenoso, o calor era muito bem-vindo. Me prendi ao lado esquerdo do corredor, parte porque era mais oculto e parte porque precisava de suporte enquanto caminhava pelo corredor que ia se inclinando lentamente. Sylvie trotava cuidadosamente alguns passos à frente, checando e testando qualquer coisa remotamente suspeita que poderia abrigar uma armadilha oculta.

— Isso é realmente uma boa ideia? Você não está em condições de lutar. E se encontrarmos um inimigo? Estou limitada ao que posso fazer nessa forma e mesmo se descobrirmos que os anões são aliados dos Alacryanos, o que poderemos fazer?

Meu vínculo bombardeou caminhando pelo corredor.

— Não é uma boa ideia, mas precisamos fazer isso. — Respondi com seriedade. — Você está certa, não posso lutar e aqui não tem lugares que possamos nos esconder caso encontremos um inimigo, mas não podemos perder tempo nos recuperando. Se estiver certo nós podemos obter provas, eu sei que Virion e Aldir vão nos ouvir.

— Tudo bem, mas nosso acordo continua. Se formos expostos eu vou quebrar a parede e nos tirar daqui.

— De acordo. — respondi ao mesmo passo que caminhávamos pelo corredor mal iluminado quando algo luminoso que não era uma vela apareceu a distância. Olhamos um para o outro e meu vínculo e eu fomos na direção da luz.

O túnel se curvava ligeiramente quanto mais nos aproximávamos da luz e minha audição captou alguns ecos ao longe. Os barulhos aumentavam à medida que nos aproximávamos, mas acontecia muitas coisas ao mesmo tempo para que eu pudesse captar sons específicos. Havia conversas, ecos, múltiplos passos, assim como o ressoar de metal. Finalmente depois de alguns minutos desconcertantes avistamos a saída do túnel.

Com minhas costas contra a parede a contornei em direção a saída com cuidado, para não tropeçar em alguma pedra ou mesmo causar algum ruído que pudesse alertar algum guarda próximo. Sem sentir qualquer coisa próxima à saída, Sylvie e eu nos esgueiramos para a beira da mesma, onde uma sombra curta nos protegeria de qualquer olhar inesperado.

Nós olhamos boquiabertos a magnitude do lugar onde “tropeçamos”. O corredor estreito se abria numa enorme caverna, com um teto que tinha forma de um domo perfeito, por um momento achei que não estávamos mais no subsolo. Ao invés de velas, tochas massivas se alinhavam ao longo das paredes revelando quão imensa a caverna realmente era e quem estava dentro.

Deixando escapar, mentalmente, uma enxurrada de xingamentos depois de espiar. No centro da caverna, dois andares abaixo, estava um gigantesco portal de teletransporte cercado por anões e tropas Alacryanas que saiam do portal brilhante.

Antes de poder observar melhor o que estava acontecendo, o som de passos no corredor por onde havíamos vindo me fez dar meia volta. A gigantesca caverna parecia com uma colmeia, onde dezenas de outros túneis semelhantes ao que estávamos eram alinhados uniformemente ao longo das paredes. Dezenas de escadas esculpidas na pedra eram rentes as paredes, onde cada uma delas levava a um túnel diferente, e se aproximando do túnel por onde Sylvie e eu viemos, se aproximava um pelotão de soldados Alacryanos.

— Eu vou nos tirar daqui.

Meu vínculo declarou, seu corpo começando a brilhar.

— Ainda não! 

Focando em uma das entradas alguns metros à frente, fiz com que algumas pedras desmoronassem. Imediatamente escutei o barulho das vestes e do metal assim que os soldados se viraram.

Usando a oportunidade, rapidamente peguei meu vínculo e a segurei com firmeza contra meu peito, me achatando contra a esquina entre a entrada e a parede o máximo que pude. Utilizando a mana que reuni no caminho até aqui, ergui uma cortina de pedra ao nosso redor.

— Foi apenas uma pedra solta. Vamos continuar.

O soldado liderando o pelotão grunhiu.

— Prenda a respiração. 

Ordenei a Sylvie enquanto ativava o Caminho Ilusório. Alterando a atmosfera de mana ao nosso redor para esconder nossa presença, algo que nunca precisei fazer desde que voltei a Dicathen, mas com soldados inimigos marchando a apenas alguns passos de nós, não queria correr qualquer risco.

Dentro do caixão de terra, estava cercado pela escuridão, podia ouvir a marcha sincronizada dos soldados ao passar por nós, com passos deliberados ecoando nas paredes do túnel. Estavam tão perto que podia ouvir seus sussurros.

— Quando você acha que voltaremos para casa? — Uma voz murmurou.

— Por que? Já está sentindo falta da sua família? — Uma voz rouca zombou. — Apenas foque em adquirir algumas recompensas durante essa Guerra. Seu sangue irá te agradecer assim que puderem mudar daquele barraco que você chama de casa.

— Grande Vritra, calados! — Uma voz sibilou. — Nosso time inteiro ficará a noite de guarda se vocês continuarem com isso.

Não pude evitar de ficar absorto com a conversa. Seu jeito de falar era meio semelhante ao nosso, mas alguns termos como “sangue” e “Grande Vritra” só pude compreender pelo contexto. Isso me fez pensar. Como podem dois continentes que mal tiveram contato ter uma linguagem tão parecida?

— Meu avô me disse que foi por causa da intervenção dos Asuras. — Meu vínculo entrou na conversa, com a voz que demonstrava estar tensa, mesmo na minha mente. — Os Asuras enviavam representantes com frequência para auxiliar o progresso de Alacrya e Dicathen quando preciso. Ele explicou como tomavam forma de seres inferiores, embora extremamente inteligentes, e os ajudavam no progresso através dos séculos.

— Foi assim que os Asuras entregaram os artefatos para nós no passado? — perguntei.

— Sim. Exceto que aparentemente fazemos isso desde antes daquilo. Os artefatos foram uma medida drástica para impedir a extinção completa dos seres inferiores.

— Entendo. — ponderei, era estranho pensar que os gênios do meu antigo mundo eram deidades enviadas para assegurar nossa sobrevivência e progresso.

Com os minutos a passar lentamente as conversas dos soldados serviram como forma de alívio para o desconforto de nossa situação. Sem nenhuma rachadura no caixão para respirarmos, se tornou incrivelmente sufocante e quente, tentei apenas focar no Caminho Ilusório para nos ocultar de qualquer um com sentidos afiados quando uma batida balançou a fenda selada que estávamos dentro.

— O que você está fazendo? — Outro soldado sussurrou impaciente.

A fenda tremeu mais uma vez.

— Estou pronta para lutar, fique atrás de mim.

Meu vínculo informou, sua voz se tornando um rosnado perfurante em minha mente.

— Apenas espere! 

Rebati, tentando impedir meu coração de saltar pra fora do peito.

— Esse lado na entrada é um pouco diferente do que o outro lado. — O soldado falou hesitante para seu companheiro. — E é um pouco oco quando eu bato.

Houve uma breve pausa em que temi que fosse em frente com a investigação, mas para minha surpresa seu companheiro apenas zombou.

— Vritra misericordioso, sabia que você era um pouco imaturo, mas não fique atrasando os outros só porque viu algo estranho. Nós estamos em um continente diferente.

Quase deixei escapar um suspiro de alívio assim que ouvi os passos se afastando lentamente em direção ao túnel de onde viemos.

Depois de ter certeza que todos os soldados passaram por nós e que ninguém mais vinha, abri um pequeno buraco no caixão para observar os arredores. Apenas depois de alguns minutos desativei meu feitiço.

— Nós temos o que viemos buscar, agora vamos embora reportar a situação ao Virion e cuidar de suas lesões.

Sylvie suplicou.

— Ok, vamos! 

Concordei. Mesmo com a habilidade única de cura pelo éter de Sylvie, minhas pernas estavam à beira do colapso e o único descanso que tive foi quando desmaiei em suas costas no caminho até aqui.

Já contemplando o melhor jeito de reportar as críticas notícias a Virion e Aldir e as precauções que deveria tomar em caso de precisar combater as duas Lanças dos anões, olhei por acaso para o teto em forma de domo da caverna, quando os soldados alacryanos subitamente se ajoelharam de frente para o portal de teletransporte.

Depois de confrontar dois Retentores e até mesmo ter derrotado um, pensei que eu estava pronto para combater uma Foice. Mesmo sob a suspeita de que os anões estavam traindo Dicathen estava confiante que venceria essa guerra. Mas uma figura vestida em obsidiana saiu do portal, eu não pude evitar de me sentir abalado. Estando aqui, mal me mantendo sobre meus dois pés, eu me senti um mero galho contra impetuosos ventos. Senti desespero.

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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