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O Começo Depois do Fim – Cap. 155 – A batalha de uma lança

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— Onde está minha máscara?

As mãos da bruxa tocaram em seu rosto, ainda afastadas da minha linha de visão.

— Minha máscara. Preciso da minha máscara. — continuou repetindo quando percebeu que seu rosto estava agora nu. A bruxa arrancou a sua cabeleira negra desgrenhada, desfazendo os rabos-de-cavalo e usando-o como cortina para cobrir o rosto. Se ajoelhou no chão, recolhendo os pequenos pedaços de sua máscara quebrada ainda resmungando.

Soltei respirações irregulares, lentamente me afastei com medo do que ela poderia fazer. Usei o Vazio Estático com o Realmheart ativado e, em troca, a ponta da minha espada havia desaparecido.

Os cabelos negros desgrenhados que caíam sobre o rosto dela se agitavam quando, começou a encaixar os pedaços quebrados em uma tentativa desesperada de conserta-los. De repente, agarrou a pilha que estava desesperadamente recolhendo, arranhando o chão junto.

— Minha máscara! — gritou, segurando os cacos até que suas mãos sangraram.

Observando as partículas de mana reunidas para formar uma aura verde escura ao redor dela, não tive tempo para pensar.

As fracas partículas púrpuras de éter começaram a vibrar quando ativei o Vazio Estático mais uma vez. Ignorando o protesto do meu corpo, corri para atacar a bruxa antes que a aura corrosiva a envolvesse completamente de novo.

Com o tempo parado, poderia percorrer a distância entre nós sem temer que ela fosse capaz de reagir a isso, mas ao contrário da minha tentativa anterior, não seria capaz de utilizar a mana da atmosfera—apenas as poucas reservas que eu tinha deixado no meu núcleo.

Os cipós irregulares brancos estalaram ao redor da lâmina da minha espada, enquanto corria em direção à bruxa. Com o feitiço consideravelmente mais fraco do que o meu ataque anterior, uma sensação de dúvida começou a surgir dentro de mim.

Liberei a arte de éter que congela o tempo no mesmo momento em que a ponta plana da minha espada se enterrava na abertura da aura verde logo acima do joelho esquerdo dela. A sensação sempre familiar de perfuração da carne através do metal foi acompanhada pelo crepitar da eletricidade se espalhando pelo corpo da bruxa. No entanto, o sangue que vazou de sua ferida não era o mesmo vermelho que veio da mão dela, mas sim um verde lamacento.

No local de onde a ferida deveria ter sido aberta, uma espécie de sangue verde escuro começou a coagular ao redor da Canção do Amanhecer.

Quando a bruxa ergueu o olhar do chão, seu cabelo espesso e duro se abriu, revelou para mim o que estava tão desesperadamente tentando esconder.

Puxei a Canção do Amanhecer, querendo nada mais do que recuar. Não era apenas a pele retorcida que parecia mais envelhecida do que a casca das árvores seculares que nos cercavam, ou as duas fendas estreitas entre suas bochechas afundadas. Não era nem seus lábios finos de couro que eram mais escuros do que o cabelo dela ou os dentes irregulares manchados de amarelo.

Era o seu olhar de gelar o sangue, irradiando do macabro par de olhos disformes, que me encheram de uma sensação de medo. Diferentemente de qualquer monstro ou fera que enfrentei desde que vim a este mundo, seus olhos escuros e vazios que pareciam ter sido arrancados e empurrados para dentro de seu crânio me fizeram pensar se este era o tipo de demônio que brotava das profundezas do inferno.

— Agora que você me viu neste estado, temo que não possa mantê-lo como um animal de estimação. — murmurou, quase sussurrando segurando minha espada com uma de suas mãos ensanguentadas.

Estremeci involuntariamente ao ouvir ela falar. Minha mente girou quando tentei debilmente puxar a Canção do Amanhecer, tentando descobrir o que fazer nessa situação.

Quando afastei meu olhar de seu olhar aterrorizante, vi em desespero quando sua aura quase envolveu todo o seu corpo.

Incapaz de reunir a força para acionar o Vazio Estático novamente, olhei para as minhas pernas. Ainda podia ouvir a voz de Lady Myre, alertando-me para não usar o Passo Explosivo novamente. Olhando para cima, a nuvem verde e escura se espalhou lentamente até que só faltavam lacunas na largura de uma pena.

Tomei minha decisão.

Deixando de lado minha espada preciosa, soltei um suspiro agudo para me preparar para a dor que viria em breve. Como os pistões de um motor no meu antigo mundo, a mana explodiu em músculos específicos em progressão com um tempo preciso num intervalo de menos de um milissegundo, permitindo que meu corpo saísse instantaneamente da minha posição original.

Cerrei os dentes devido a dor entorpecente que fazia parecer que os ossos da minha parte inferior estavam lentamente queimando dentro de um fogo, e enfiei minha mão através do abismo fraco em sua aura. Mesmo com a minha mão unida ao Zero Absoluto, os efeitos de deterioração de suas defesas penetraram na minha mão ao entrar em contato com a pele dela.

A bruxa soltou um grunhido de dor quando tentou se afastar, mas meu aperto em torno de seu braço direito permaneceu forte.

A carne da minha mão nua logo ficou dolorosamente vermelha quando mais e mais camadas de carne começaram a corroer. No entanto, os efeitos do meu feitiço mostraram sinais de funcionamento. Seu braço direito, que segurava minha espada enfiada em sua coxa esquerda, ficou com uma cor doentia e escura. Ao contrário do congelamento que ocorria na natureza, o braço dela começou a congelar de onde eu estava segurando-a e não a partir dos dedos. Ela não podia mais mover o braço, enquanto as camadas de pele e tecidos congelavam.

Antes que os efeitos do Zero Absoluto pudessem se espalhar para seu corpo, a bruxa se agarrava ao braço congelado com a outra mão, arrancando o membro completamente do ombro.

Uma dor aguda e ardente se espalhou da minha mão, lembrando-me do ferimento que eu sofrera em troca de seu braço decepado, que se quebrou como vidro quando o deixei cair no chão.

Não tinha certeza se era uma coisa boa ou não, mas olhando para baixo, a ferida aparentava ser pior do que parecia. Quase como se a pele da minha mão esquerda tivesse sido mergulhada em uma massa de ácido, pus amarelo se formou na carne crua da minha mão, enviando uma onda de dor mesmo com a mais leve contração.

Arrancando um pedaço de pano no final do meu manto, gentilmente o envolvi em torno dela, mantendo minha mandíbula apertada durante todo o processo.

— Como você se atreve! — A bruxa gritou. Com um fogo enlouquecido em seus olhos verdes ocos, arrancou pedaços de seu cabelo preto grosso para revelar um pequeno toco logo acima de sua testa.

— Eu sou uma Vritra! Vou me certificar de que você sinta as consequências de fazer uma dama passar por tal… desgraça! — gritou ao arrancar ainda mais de seu cabelo mutilado. — Vou derreter seus membros e mantê-lo como um troféu! Vou cortar sua língua e te alimentar através de um tubo para que você possa apenas sonhar em morrer!

— Oh? Você terá que pelo menos ser uma Foice para pensar em fazer isso. — bufei, esperando que ela mordesse a isca.

— Uma Foice? Uma Foice? — Ela uivou, mancando em direção a uma árvore próxima com a Canção do Amanhecer ainda empalada no joelho esquerdo. — Vou eliminar essa mulher condescendente da face de Alacrya e tomar o lugar dela! Só porque ela é um pouco atraente e seus grunhidos a favorecem, acha que é melhor que eu? Vou mostrar a ela o quão degradante é ser sua serva!

Lembrando-me de como a bruxa havia curado sua mão antes, a enfiando dentro de uma árvore, ignorei os gritos de protesto das minhas pernas e corri até ela.

Ela balançou seu único braço, liberando uma rajada da fumaça que quase derreteu meus pulmões.

Ativei o Passo Explosivo mais uma vez, evitando a fumaça venenosa e diminuindo a distância em um piscar de olhos. Gavinhas de relâmpago negro enrolaram-se em volta do meu braço direito. Em vez de tentar romper a aura corrosiva e arriscar-me a mutilar a outra mão, agarrei a alça da minha espada ainda incrustada na coxa dela. Agindo como um condutor, os ramos de eletricidade enrolaram minha espada em torno do corpo da bruxa.

Seu corpo imediatamente endureceu e se sacudiu em um ataque de convulsões da corrente de relâmpago passando por seu corpo. Podia vê-la tentando lutar contra, mas fiquei esperançoso quando seus olhos vazios viraram para trás.

Sua cabeça se contraiu, mas ainda havia força nela, ainda assim seus olhos brilhantes lentamente voltavam ao foco. O rosto retorcido da bruxa rachou como terra seca enquanto manchas de pele carbonizada se espalhavam por seu corpo.

Por favor, apenas morra. Implorei em minha cabeça ao passo que minhas reservas decrescentes de mana me faziam temer pela possibilidade de reação da adversária.

De repente, fui arrancado da bruxa. Como se tivesse sido cutucado por um marcador de ferro, uma dor intensa irradiava do meu ombro quando fui jogado de volta ao chão. Sem olhar para trás, cobri minha mão em uma aura de gelo e estendi a mão por cima do ombro para arrancar os dedos de mana que ela conjurou.

A bruxa mais uma vez tentava desesperadamente alcançar uma árvore próxima, a poucos metros de distância, quando conjurei uma parede de terra.

Apesar da parede espessa em torno dela, continuou com seu andar cambaleante, inalterada. A aura verde em torno de si, apesar de estar enfraquecida por causa do meu ataque anterior, ainda conseguiu dissolver facilmente a parede.

Não tive escolha a não ser confiar no Passo Explosivo mais uma vez para impedi-la de curar suas feridas quando uma voz familiar demais soou na minha cabeça.

— Arthur!

Sylvie chorou quando seu corpo grande projetou uma sombra sobre minha cabeça.

— Sincronia perfeita — respondi, minha voz soava tensa mesmo na minha cabeça. Reunindo tanta mana quanto meu corpo permitiria sem sucumbir aos duros efeitos da reação, conjurei uma torrente de vento sob os pés da bruxa.

— Pegue!

Rugi quando enviei minha adversária em espiral no ar em direção ao meu vínculo.

Sylvie imediatamente mergulhou e agarrou a bruxa usando suas longas garras. Com o estado enfraquecido da bruxa, sua aura teve pouco efeito no meu vínculo. Suas escamas blindadas a mantinham protegida por tempo suficiente para que voasse para o céu.

As duas se perderam nas nuvens enquanto Sylvie continuava carregando a Vritra.

— Ela perdeu a consciência.

Declarou Sylvie, a transmissão mental soando distante e abafada.

— Derrube-a aqui.

Transmiti, ainda no chão.

— Vou fazer um pouco mais do que derrubar. — Ela grunhiu.

Depois de meditar um pouco mais para um último feitiço, me esforcei para levantar, minhas pernas trêmulas mal me mantendo de pé.

Com meu braço bom levantado, convergi mana para formar a ponta de uma lança. As runas em meus braços tremulavam e esmaeciam, mas ainda permaneciam, me ajudando a utilizar o máximo de mana possível na atmosfera. Podia sentir a temperatura cair quando a lança de gelo se expandiu para o tamanho de uma árvore.

Enquanto condensava firmemente o gelo, a bruta ponta que conjurei tomou forma em uma poderosa lança grande o suficiente para ser empunhada por um titã. A lança mudava continuamente, refinando-se ainda mais quando a condensava e a moldava com a mana dos arredores.

Sentindo minhas pernas doendo, rapidamente ergui o chão ao meu redor para apoia-as, plantando-me no chão em uma tala de barro.

Compresso e afiado, o feitiço que antes era do tamanho de uma árvore estava agora a poucos metros de mim, a lança de gelo, ainda suspensa no ar, brilhava como o céu durante a Constelação de Aurora que ocorria a cada década.

O gosto de metal encheu minha boca ao mesmo tempo em que o sangue corria pelo meu queixo, era meu corpo me avisando do estado deplorável em que estava.

Momentos depois, avistei a bruxa. A outrora poderosa Vritra, que parecia quase intocável, descia como um fragmento de meteoro. Sylvie deve tê-la jogado, pela velocidade que estava despencando em minha direção; demorou apenas algumas respirações para que ela ficasse perto o suficiente para calcular onde pousaria.

O corpo mutilado da Vritra caiu direto na ponta da minha lança, e instantaneamente, meu corpo estremeceu devido à força.

Podia sentir o apoio de terra, que conjurei, ceder quando a lança se enterrou no corpo da bruxa.

Com a força que restava nas minhas pernas, consegui me afastar antes de ser atingido pelo peso total do impacto da Vritra contra minha lança.

Uma rajada de pedras e árvores lascadas bombardearam minhas costas quando uma explosão estrondosa ressoou, ecoando por toda a floresta e sacudindo todas as árvores nas proximidades.

Saia e retomava a minha consciência quando caí no chão com meu corpo batendo em troncos velhos e galhos e o que mais estava no chão da floresta antes do tronco de uma grande árvore finalmente me parar.

— Aguente, papai!

Gritou Sylvie.

— Pensei que… era indigno de você… me chamar… de papai. 

Eu deixei escapar com minha consciência vacilando.

Ela permaneceu em silêncio. Só podia sentir as emoções desenfreadas escapando dela—desespero, culpa, raiva, tristeza.

Com a minha percepção do tempo não confiável, não sabia quanto tempo levou para Sylvie chegar aqui, mas seu focinho preto estava pairando sobre mim quando percebi que ela estava ao meu lado.

Seus olhos amarelos translúcidos estavam cheios de lágrimas quando lentamente abriu a mandíbula. Meu elo soltou um suspiro suave, mas ao invés de ar, uma névoa roxa brilhante me envolveu.

A cacofonia de dores que eu tinha em todo o meu corpo logo se apagou quando a névoa calmante penetrou em mim.

— Vivum — murmurei fracamente.

— Não fale. — repreendeu ao continuar me curando.

— Assim como sua avó. — Dei conta de dar um sorriso fraco. Para um dragão tão assustador, seus poderes acabaram sendo bastante… dóceis.

Um leve sentimento de diversão despertou em meu vínculo com meu comentário:

— Se você tem energia para esse humor manco, tenho certeza de que vai ficar bem.

— Claro, quem você acha que eu sou?

— Uma criança imprudente e idiota que não tem senso de autopreservação. — grunhiu enquanto fechava a mandíbula. — Te avisei do inimigo vindo em sua direção, mas você ainda decidiu que era necessário lutar contra ela por conta própria!

Deixando escapar um intenso esforço de tosse, acariciei suavemente o focinho do meu vínculo.

— Eu sinto muito. Pelo menos acabou… acabou, certo?

— Veja por si mesmo.

Sylvie disse em voz alta, o timbre suave e macio em sua voz era calmante depois de ouvir tanto dos gritos da bruxa.

Me apoiei na base da árvore com a qual colidi usando meu cotovelo, meu vínculo se movia ao lado.

A menos de quinze metros de distância, havia uma cratera do tamanho de uma casa com uma fina camada de poeira ainda aparente. No centro da grande depressão estava a lança de gelo enterrada até a metade no chão, o corpo sem vida da bruxa estava pendurado no ar com a lança empalada no peito.

O vapor ainda saia do corpo da bruxa, enquanto sua pele corrosiva tentava corroer o gelo, mas sem sucesso.

Ela estava morta.

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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