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O Começo Depois do Fim – Cap. 146 – Função

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Quando Virion e Aldir voltaram para o castelo, fiquei para trás para impedir que meus pais, que insistiam em se juntar aos Chifres Gêmeos e ajudar na guerra, fossem embora. Quando nos despedimos, tentei dissuadi-los de irem perto da costa ocidental, onde a luta seria a mais pesada, mas foram contra.

O que me frustrou foi que eu não podia culpá-los por isso também; para eles, esta terra era a sua casa e protegê-la era apenas natural. Para mim, talvez houvesse certo distanciamento, apesar de ter crescido aqui e de me lembrar da minha vida anterior. Tratei Dicathen como minha casa porque era onde minha família estava, e foi um grande fator a respeito do porque eu decidi lutar contra os Vritra.

Removendo o resto da minha armadura, sentei no meu lugar e soltei um suspiro profundo.

— Droga. — amaldiçoei, esfregando minhas têmporas.

— Discutir com eles não foi a melhor maneira de se despedir.

Sylvie falou enquanto se deitava, descansando a cabeça em suas patas do topo da mesa de chá polida.

— Obrigado por me lembrar disso. — revirei os olhos — simplesmente não entendo por que eles não escutam o meu conselho. Eu não disse nada de errado.

— Você basicamente disse para eles irem para alguma área remota e ficarem escondidos. — respondeu.

— Essas não foram as palavras que eu usei. — respondi, chutando minhas botas.

— Mas é isso que você quis dizer.

— Eu só quero que eles fiquem seguros. — murmurei, admitindo.

Sylvie pulou da mesa de chá e pousou no braço da minha cadeira.

— Se eles estivessem mais preocupados com sua própria segurança, seus pais não se importariam em entrar na guerra.

— Bem, estou mais preocupado com a segurança da minha família do que com esta guerra. Eu sou grato que eles estão pelo menos deixando Ellie para trás, mas isso não significa que eles devam arriscar suas vidas.

Meu vínculo assentiu com a cabeça.

— Eu sei.

— Eu só espero que eles saibam que eu estou preocupado com eles como filho deles, não como um… —deixei minha voz sumir enquanto eu soltava outro suspiro profundo.

— Vai ser difícil para eles discernir agora que sabem. — disse Sylvie suavemente, colocando uma pata reconfortante no meu braço.

Afundei em meu assento enquanto olhava para o meu vínculo por um momento.

— Quando exatamente você descobriu o que eu era, afinal?

— Acho que sempre soube, mas nunca consegui pensar no termo para descrevê-lo. Nós compartilhamos pensamentos, afinal de contas.

— Todos os pensamentos? — Eu perguntei, atordoado.

— Mhmm.

— Mas você só responde quando eu falo diretamente com você. E eu não ouço seus pensamentos a menos que você esteja falando diretamente para minha mente.

— Para mim, falar à sua mente é como falar em voz alta. Eu aprendi a manter alguns pensamentos ocultos; eu não posso dizer o mesmo sobre você. — Ela riu.

Meus olhos se arregalaram de horror.

— Isso significa que-

— Eu sei sobre seu tumulto emocional constante quando se trata de Tessia? Sim. — ela sorriu.

Eu soltei um suspiro.

— Não se preocupe. Eu escutei todos os seus pensamentos fugazes desde que nasci. Eu não comecei a entender até um pouco mais tarde, mas eu me acostumei com isso ao longo dos anos. — ela consolou, seus dentes afiados ainda aparecendo enquanto seu sorriso permanecia.

— Bem, eu não me acostumei com nada. — resmunguei.

O sorriso de Sylvie desapareceu quando ela olhou para mim com seus brilhantes olhos amarelos.

— Vamos lutar em breve. Meu avô me disse, enquanto me treinava que, mesmo que eu ainda esteja longe de alcançar o nível de um verdadeiro Asura, o sangue dele ainda corre através de mim. Isso significa que, embora eu possa lutar ao seu lado nessa guerra, não sou invencível. A melhor maneira de permanecermos vivos é confiar um no outro.

— Claro. — Eu disse, confuso com o que trouxe isso.

— Estou dizendo isso porque tenho coisas que escondi de você, coisas que acabei de descobrir recentemente, e sinto que você é a única pessoa em quem posso confiar minha vida. — respondeu, lendo minha mente.

— Sylv, você sabe que pode confiar em mim com o que quer que seja. Afinal, eu te criei desde que você nasceu.

— Obrigado.

Meu vínculo saltou do braço para o meu assento e apoiou a cabeça no meu colo.

Houve um momento de silêncio enquanto eu pensava no que ela dizia. Eu sabia que ela podia ler meus pensamentos, mas, como ela mencionou, isso realmente não importava. Não importa o quão curioso eu estivesse, não me incomodei em perguntar a ela quais eram essas “coisas” que ela descobriu; ela já teria me dito se quisesse. O que me preocupou foi o fato de que essa era a primeira vez que ela expressava algum tipo de medo por sua vida. Apesar de nossos inúmeros encontros com situações perigosas, ela sempre permaneceu forte e destemida, mas agora eu podia sentir sua apreensão em relação a essa guerra.

Eu gentilmente acariciei a cabeça macia de Sylvie.

— Como você ficou tão inteligente assim? Parece que desde que voltei de Epheotus, você teve esse enorme crescimento. E não me venha com seu ego crescente.

— Você está apenas amargo porque está aceitando conselhos de vida de uma raposa mais nova que você. E sempre aprendi rápido, por que você acha que eu sempre ficava no topo da sua cabeça?

— Então você estava aprendendo observando o nosso entorno? — Eu perguntei.

— Sim. E ajuda muito você saber de tantas coisas e eu tendo livre acesso aos seus pensamentos. — ela confirmou enquanto se aninhava mais perto da minha perna.

Eu poderia dizer que ela estava cansada, enquanto eu tinha mil perguntas sobre sua mudança aparentemente súbita no comportamento, eu sabia que tinha que esperar.

Meus olhos permaneceram focados na respiração constante do meu vínculo, enquanto dormia profundamente. Realmente não mudou muito. Ainda havia uma sensação de imaturidade em sua voz, apesar da mudança na maneira como ela falava; parecia que estava se forçando a se tornar mais madura.

Eu não tinha certeza do que Lorde Indrath tinha feito em meu vínculo, enquanto a treinava, mas uma coisa era certa; ela percebeu que é uma Asura.

Quando a respiração de Sylvie se tornou mais lenta e mais rítmica, inclinei a cabeça para trás na cadeira, olhando para o teto plano do meu quarto enquanto organizava meus pensamentos.

Enquanto Virion e o resto não sabiam disso, Windsom tinha me dito como eram Agrona e o resto de seu clã. Ele e o resto dos Vritras estavam experimentando o que os Asuras chamavam de “raças menores” antes mesmo de terem escapado para Alacrya. Os poucos relatos de magos que haviam aparecido na Muralha não eram nada de especial, mas eu sabia que eles eram simplesmente bucha de canhão destinada a criar desordem com as bestas de mana sob seu controle para dividir nossas forças.

Se o que Windsom disse era verdade, então a horda de navios se aproximando de nossa costa incluiria magos com sangue Asura correndo em suas veias. E isso foi há séculos atrás. Eu só podia imaginar o quanto eles haviam progredido desde então e o que eles fariam com o povo de Dicathen se Vritra ganhasse esse cerco. Este lugar seria apenas um terreno fértil para os soldados que Agrona usaria para conquistar Epheotus.

— Arthur.

A grave voz rouca me tirou dos meus pensamentos.

— Não há algum tipo de etiqueta para bater ao entrar no quarto de alguém, ou pelo menos usar a porta para isso?

— O tom de sua resposta me diz que as coisas não vão bem com o negócio que você teve que cuidar? — Aldir disse enquanto calmamente se sentou no sofá em frente a mim.

— Por que você está aqui? Eu pensei que você estaria com o Conselho. — disse, ignorando suas palavras.

— Há algo que eu preciso de você. — respondeu Aldir, com o olhar penetrante de seu olho roxo brilhante dirigido a mim.

Eu olhei de volta, meu olhar inabalável.

— E o que seria?

Houve um silêncio tenso até que Aldir soltou um suspiro.

— Sua ajuda. — Admitiu Aldir. — Lorde Indrath me disse para confiar em seu julgamento ao longo da guerra, e depois do seu discurso anterior, acho que entendi o porquê.

— O que Lorde Indrath quis dizer quando disse que confia no meu julgamento? — Perguntei. Quando me sentei, Sylvie acordou, mas voltou a dormir quase imediatamente depois.

— Lorde Indrath percebeu que sua contribuição para essa guerra não deveria se limitar a ser apenas uma “espada”. Embora haja momentos em que você será necessário em campo, enviá-lo para todas as batalhas que ocorrerem só vai cansar você. Nos momentos em que você não precisar, você estará ao meu lado no conselho, elaborando estratégias conosco e nos dando sua opinião.

— Deixe-me ver se entendi. Você quer que um adolescente de dezesseis anos tome decisões que mudam vidas com o Conselho? — zombei.

— Além do fato de que você é apenas um “ser menor”, você não é uma criança normal. Não pense que esse olho é apenas uma decoração bonita. Eu sabia que havia algo em você na primeira vez que nos encontramos, mas foi apenas pelas palavras de Lorde Indrath que percebi o quanto.

— Existe algo que eu recebo em troca por ajudá-lo? — perguntei, descansando a cabeça na minha mão.

Os olhos de Aldir se estreitaram.

— Eu vim de boa-fé para pedir sua ajuda, mas é para nosso benefício que você coopere. Perder essa guerra significa morrer, ser escravizado ou pior. Não apenas para você, mas também para seus entes queridos.

— Você poderia pelo menos me atirar um osso. — suspirei. — Sim, vou ajudar, mas não tenho certeza de quanto dos meus conselhos o Conselho está disposto a ouvir. Virion pode ouvir, mas o resto…

— Deixe que eu me preocupe com isso. — Respondeu Aldir. — Além disso, você não estará apenas em reuniões. Eu tenho outros planos para você também.

— Quando você diz “outros planos” desse jeito, parece meio sinistro. — ri.

— Como eu disse; você é uma potência nessa guerra, talvez mais do que as Lanças dadas há alguns anos. Eu certamente não desperdiçaria suas habilidades fazendo com que você sentasse junto daqueles “seres menores”, quero dizer o Conselho, brigando uns com os outros.

Balancei a cabeça e soltei uma risada desamparada.

— Deve ser frustrante para você, estar aqui e impedido de ajudar, apesar da quantidade de mão de obra que você poderia fornecer apenas por si mesmo.

— Minha hora vai chegar. Se a defesa deste cerco for bem sucedida, então nosso exército de Asuras poderá cuidar de Agrona e sua força enfraquecida com a ajuda do exército Dicatheano.

— Parece que esta guerra está longe de terminar. — suspirei.

— Sim, mas essa luta será o começo de uma nova era. Se Dicathen vencer e lutar ao lado de nós, Asuras, Agrona e seu clã de traidores e vira-latas cairão e todos terão acesso a um novo continente.

Aldir parecia esperançoso, quase empolgado, apesar do habitual comportamento calmo.

— Você perdeu alguém para Agrona, não é? — Perguntei, venda a expressão no rosto do Asura.

— Muitos de nós perdemos um ente querido naquela batalha. Não, seria melhor descrever como um massacre. — Aldir respondeu com a sobrancelha sob o terceiro olho se contorcendo.

— Bem, você ouviu o que eu disse a Virion; não tenho nenhuma intenção de perder esta guerra, mas se você vai pedir minha ajuda nisto, precisa confiar no conselho que eu dou.

Deixando escapar uma risada no nariz, ele respondeu:

— Nunca pensei que em todos os meus anos, um “inferior” falaria comigo desse jeito.

— Bem, esses “inferiores” estão lutando suas batalhas para você, pelo menos, tenha a decência de chamá-los pelo nome real de sua raça. — respondi com um sorriso.

— Você pede muito, Arthur Leywin, mas muito bem.

O Asura de cabelos brancos levantou-se, alisando as rugas em seu manto de marfim.

— Já era hora de voltar para a sala de reuniões. Preocupa-me toda vez que deixo esses inferi—pessoas sozinhas por muito tempo. Nós estaremos esperando você em breve.

Eu soltei uma risada.

— Claro, eu vou descer em breve, mas estou curioso sobre algo.

— O quê? — O Asura respondeu, olhando por cima do ombro.

— As duas lanças restantes que não puderam se juntar a nós hoje. Eu sei que você disse há dois anos que eles estão trabalhando com você, mas você não os matou ou algo assim, certo?

Aldir sacudiu a cabeça.

— Mesmo eu não seria tão imprudente a ponto de matar uma Lança por capricho. Embora os enviados políticos possam ser substituídos, o poder de uma Lança pode levar anos para se desenvolver, mesmo se eles tivessem uma compatibilidade particularmente alta com o artefato. Eu planejei trazer o assunto sobre esses dois na reunião, mas desde que você falou sobre isso, eu gostaria de sua opinião sobre este assunto.

Eu balancei a cabeça com fervor quando o Asura revelou o que ele estava planejando usando as duas Lanças, quando uma ideia me ocorreu. Meus lábios se curvaram em um sorriso perverso quando eu soltei uma risada desonesta.

— Nada mal, mas tenho uma ideia melhor.

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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