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O Começo Depois do Fim – Cap. 139 – Ultimato

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Cenas das memórias que eu pensei ter esquecido piscaram na minha cabeça a cada piscar de olhos, me assombrando em plena luz do dia enquanto nos preparávamos para seguir nosso caminho para o local designado onde nos encontraríamos com o mensageiro.

— Você está bem, Arthur?

A preocupação de Sylvie tocou minha mente.

— Estou bem, Sylv. Além do fato de você me chamar pelo meu nome agora. 

Respondi, acariciando suas pequenas orelhas.

— Vovô disse que é importante que eu mantenha a dignidade dos dragões.

Meu vínculo ergueu seu pequeno focinho para o alto, andando ao meu lado quando saímos do portão de teletransporte que Aldir tinha conjurado.

Chegamos perto de uma pequena cidade de pescadores chamada Slore, a mais de dez quilômetros ao sul de Etistin.

— Bem, eu não posso dizer que você não era mais fofa antes quando você costumava me chamar de: Papa 

Sorri.

— Não se preocupe. Eu ainda vejo você como meu pai!

Ela confortou, esfregando-se de lado contra a minha perna enquanto caminhávamos.

— Eu ainda não me sinto bem em fazer esta reunião sem nenhum plano de backup. — Disse Virion cautelosamente.

Nós estávamos numa pequena clareira em uma elevação logo acima da cidade de Slore. A ocasional brisa úmida trazia consigo um forte cheiro do mar, me deixando pegajoso apesar do ar gelado.

— Se este mensageiro tiver a audácia de agir contra nós, terei todo o direito de intervir. — Assegurou Aldir, com um leve sorriso aparecendo em sua expressão relaxada, enquanto seu único olho aberto olhava para frente.

— Com a forma como o lado dos Vritras vem planejando tudo, criando asuras mestiços, mutantes com bestas de mana do nosso continente e agora os navios, não consigo imaginar quanto tempo Agrona planejou isso. E não posso deixar de pensar que esta guerra é mais um jogo para ele do que um esforço apaixonado.

— Se Agrona fosse tão fácil de prever, nunca teria chegado tão longe. — Reconheceu Aldir com relutância. — Ele, assim como todos os outros Asuras que residem neste mundo, é proibido de participar diretamente dessa guerra, então vem criando maneiras de contornar isso, sendo a mão todo-poderosa que move suas peças de xadrez, pelo menos para o seu lado.

— E quem é a mão todo-poderosa que move as peças para o nosso lado? — Virion perguntou com uma sobrancelha levantada.

— Você é quem lidera esta guerra, não é? — Aldir lembrou.

Virion encolheu os ombros com ceticismo.

— Isso é o que digo a mim mesmo à noite.

— Certo. — intervi. — Este é o local de encontro?

— Claro que não. — Virion soltou um suspiro, amarrando o longo cabelo branco.

— Este é o mais longe que eu posso nos levar antes de irmos para o nosso destino real — Esclareceu Aldir. — Nosso destino é no meio do oceano.

— Lidere o caminho. — apontei.

Os pés de Aldir se levantaram lentamente do chão quando uma aura leitosa cobriu tanto ele quanto Virion. Logo, a aura ergueu Virion no ar também. Os lábios de Virion fecharam-se quando todos os músculos do corpo dele ficaram tensos como um gato apanhado pela nuca.

Quando os dois dispararam acima das nuvens, Sylvie subitamente correu para a beira do penhasco.

— Salte!

Sylvie deu um chiado quando de repente pulou da borda.

Sem pensar duas vezes, segui meu vínculo. Quando me levantei da encosta íngreme, aproveitei para admirar a vista privilegiada da cidade movimentada diretamente abaixo de mim.

Assim que meu corpo começou a descer, a figura maciça de Sylvie apareceu abaixo, pegando-me do ar com um estalo de suas asas poderosas. Acariciei a base de seu longo e preto pescoço enquanto nós disparávamos através das nuvens.

— Sylvie, você engordou? 

Brinquei, observando as duas figuras minúsculas de Aldir e Virion à nossa frente.

— Essa piada está ficando velha, você sabe

Sylvie resmungou.

— Não para mim. 

Solto um grito refrescante com toda força dos meus pulmões que foi soprado pelo vento áspero que cortava contra nós enquanto acelerávamos.

Sylvie ficou algumas dezenas de metros atrás de Aldir enquanto surfávamos no topo das nuvens. Estando muito acima no céu, o único som que podia ser ouvido era o assobio agudo de ar ao nosso redor, tornando a viagem pacífica apesar de seu propósito.

Enquanto olhava aturdido para a cena azul e branca em torno de nós, minha mente vagou de volta para Epheotus depois que eu tinha acabado de terminar o meu treinamento. O brusco rei dos Asuras queria me ver antes de eu voltar para Dicathen. Esse foi o segundo encontro que tive com lorde Indrath e também o momento em que percebi quem era Myre.

A Asura idosa que me curou e me ensinou a ler feitiços usando o Realmheart estava sentada ao lado do Lorde Indrath com um sorriso divertido no rosto agora jovem.

Enquanto ficava sem palavras com a boca entreaberta, Lorde Indrath me fez um sinal simples:

— Tenho certeza de que você se lembra da minha esposa, Myre.

Desnecessário dizer que a reunião não tinha ido como eu pensava que seria. Por um lado, o senhor Indrath tinha sido muito menos crítico em comparação com a primeira vez que nos encontramos; ele até, de uma forma estranha, reconheceu minha melhora, embora tenha acrescentado que se eu não tivesse aprendido com a ajuda de Myre, então eu seria uma causa perdida.

Antes de partir, lorde Indrath me deixou com um conselho. O que era estranho, ativou sua habilidade de éter, congelando o tempo para todos os presentes, até mesmo sua esposa, exceto por nós dois. Enquanto olhava fixamente para o rei dos Asuras assim como Myre, Sylvie, e os guardas permaneciam estáticos, me deixou uma mensagem enigmática:

— É mais sensato fechar o coração à princesa elfa.

Isso foi tudo o que ele disse antes de retirar seus poderes e mandar os guardas escoltarem Sylvie e eu de volta para Windsom e Wren que estavam nos esperando do lado de fora.

— Estamos quase lá.

Sylvie anunciou, me trazendo de volta ao presente.

Aldir e Virion haviam parado acima das nuvens, esperando que nós os alcançássemos.

— Tenho certeza que não preciso dizer isso para você, mas eu vou de qualquer maneira. Ninguém sabe o quanto os Vritras realmente sabem, então seria prudente manter sua verdadeira força escondida durante esta reunião.

A voz de Aldir soou desconfortavelmente em meu ouvido como se ele estivesse sussurrando ao meu lado.

— E Sylvie? — gritei, sem saber se Aldir iria me ouvir.

— Lady Sylvie terá que se transformar de novo em miniatura — Respondeu Aldir. — Vou te segurar, Arthur.

— Vou manter um perfil baixo por enquanto, mas não vou ficar escondida durante a guerra. Se eu quiser protegê-lo, será assim com você nas minhas costas.

Declarou Sylvie ao se transformar em sua forma de raposa branca.

Não muito tempo depois de começar a cair em queda livre, Aldir mergulhou embaixo de Sylvie e eu, envolvendo-nos na mesma aura que cobria Virion.

Quando caímos sob a camada de nuvens abaixo de nós, despencando através do manto branco, a umidade no ar umedeceu nossas roupas, até que avistamos o oceano cintilante ondulando suavemente em todas as direções.

Apesar da visão fenomenal do trecho interminável de água, meu olhar instantaneamente focou nas manchas escuras espalhadas pelo oceano à minha direita. Cerca de algumas dezenas de quilômetros ao norte, pude ver a frota de navios Alacryanos indo em direção à costa, perto da cidade de Etistin, a capital de Sapin.

— Olhe para baixo.

Apontou Sylvie.

Flutuando no topo do oceano havia uma plataforma quase do tamanho de uma pequena casa.

Quando descíamos apenas algumas dezenas de metros acima de Virion e Aldir, pude distinguir duas pequenas figuras que haviam se misturado à plataforma em que estavam paradas de longe.

De repente, um arrepio percorreu minha espinha. Todos os pelos do meu corpo estavam em pé, e eu podia sentir meu coração batendo mais rápido quanto mais perto chegávamos da plataforma.

— Lá estão eles. — disse em voz alta para ninguém em particular. — Mas não acho que eles são mensageiros comuns.

Chegando no topo da plataforma com um pouso suave, nós três com Sylvie atrás de mim caminhamos em direção ao centro, meus maxilares cerrados ao ver os dois supostos mensageiros.

Pelo familiar tom de pele cinza pálido e olhos vermelhos marcantes, eu sabia que eles eram parte do Clã Vritra.

— Bem-vindo à nossa humilde morada. — O mais alto dos dois zombou, com os braços esguios abertos.

Virion estreitou os olhos.

— Presumimos que estaríamos nos encontrando com um mensageiro. Essa posição parece estar abaixo de vocês dois.

— Estou lisonjeado, mas neste momento somos meros mensageiros! — respondeu com um sorriso exagerado enquanto seu companheiro permanecia em silêncio.

Examinando os dois Vritras separadamente, apesar de sua ancestralidade e sangue, os dois não poderiam ser mais diferentes. O da minha esquerda era um pouco mais alto que eu, com uma postura ereta. O Vritra tinha os olhos profundos sob as pálpebras pesadas, dando uma qualidade misteriosamente encantadora ao seu rosto severo. Com cabelos negros bem cortados e sua armadura preta justa sob uma capa roxa, o Vritra parecia alguém dos sonhos de todas as mulheres, se não fosse pelo par de chifres que se projetava acima de suas orelhas.

O outro Vritra, que estava falando, estava bem acima dos dois metros, erguendo-se acima de todos, apesar de sua postura curvada. Seus longos e finos braços pendiam de seus lados como se tivessem saído de suas órbitas. Este Vritra não usava armadura; em vez disso, seu corpo estava completamente enrolado em bandagens grossas e escuras debaixo de um manto preto surrado que se empoleirava em seus ombros. Franjas bagunçadas espreitaram debaixo de seu capuz esfarrapado, acentuando sua aparência peculiar.

Esta é a minha primeira vez cara a cara com um Vritra, por isso fiquei surpreso ao ver quanto menores eram os chifres do Vritra usando a capa roxa comparados com o Vritra que atacou Sylvia na caverna durante a minha infância. No entanto, o fato de que eu não conseguia sentir o nível que esses dois mensageiros estão, estavam propositalmente escondendo suas auras ou eram apenas muito mais fortes do que eu.

— Eu sou Cylrit e este é o Uto. É uma honra conhecê-lo, Aldir. Nós, tenentes, ouvimos falar muito sobre os famosos Asuras em Epheotus.

Como se Virion e eu não existíssemos, o olhar de Cylrit se fixou no de Aldir, mas nem isso foi por respeito.

— Confio que você vai apoiar o pacto e permanecer um não-combatente?

Eu não pude deixar de me surpreender com o quão casualmente mencionou que ele era um tenente. Isso significava que era uma das principais figuras nessa guerra que realmente era permitido lutar, logo abaixo das Quatro Foices.

— Supondo que o seu lado faça o mesmo? Então sim. — Respondeu Aldir, seu olhar tão penetrante quanto o de Cylrit.

— É uma vergonha. Eu queria tentar lutar contra um Asura, mas eu acho que vou ter que me contentar com o abate de alguns milhares de inferiores. O Vritra chamado Uto cuspiu, cravando os olhos em mim.

O magro Vritra deu um passo em minha direção, esticando o pescoço para baixo com um sorriso de escárnio.

— Eu entendo porque o Sr. Caolho e Vovô estão aqui, mas eu não esperava ver o menino maravilha, Arthur Leywin, nos agraciar com sua presença.

Eu não tinha certeza de como os Vritras tinham ouvido falar de mim, mas mantive minha fachada fria.

— Eu poderia dizer o mesmo para você. Para que prazer devemos aos tenentes por mostrar seus rostos aqui?

— Como Cylrit disse, nós simplesmente não queríamos enviar um mensageiro inocente para ser capturado e torturado para obter informações. Porque isso é o que eu faria. Os olhos vermelhos e oblíquos de Uto me espiaram em busca de sinais de medo ou raiva.

Em vez disso, retornei sua provocação com um sorriso.

— Eu não posso esperar para encontrá-lo no campo de batalha.

Ele respondeu com um olhar assassino, seus lábios se espalhando em um sorriso perverso.

— Porque esperar? O que eu mais amo é cortar a carne de crianças.

— Uto! Chega. — Cylrit repreendeu.

— O quê? — Uto deu de ombros inocentemente. — Sr. Um Olho aqui não pode nos tocar de qualquer maneira.

— Nem eu gostaria de tocar em qualquer imundo Lessuran. — Aldir respondeu apaticamente enquanto olhava nos olhos esguios do Vritra. — Agora. Já que não viemos aqui para trocar frivolidades, continuem com sua mensagem e desapareçam da minha vista.

Pela ligeira contração nas sobrancelhas de Uto, poderia dizer que sua tentativa de provocar Aldir tinha saído pela culatra. No entanto, antes que o magro Vritra tivesse a chance de responder, Cylrit esticou um braço na frente de Uto para detê-lo.

— A mensagem que Sua Majestade me encarregou de entregar aos líderes da Dicathen é simplesmente esta:

“Entregue a família dominante e a misericórdia será dada àqueles que a merecem. Continue resistindo e nosso exército erradicará a todos sem discrição.”

Recitou Cylrit, com o olhar ainda só em Aldir.

— Você chama isso de termos? — Virion explodiu. — Isso é um ultimato unilateral!

Uto revelou um desprezo arrogante enquanto abaixava a cabeça para ficar ao nível dos olhos de Virion.

— Seja grato por você ter a escolha. Não se preocupe. Se você decidir pela primeira opção, prometo ser mais gentil ao cortar diretamente sua cabeça.

Cylrit olhou fixamente para seu companheiro.

— Nós não fomos enviados aqui para incitar uma luta, Uto.

— Essa nunca foi a minha intenção, apenas um aviso amigável da próxima batalha. — O magro Vritra respondeu, mas depois se virou para Virion com um sorriso perverso. — Espero encontrar você e sua neta, Rei Elfo. Vou me certificar de me divertir completamente, enquanto assiste impotente.

Desconsiderando o aviso de Aldir, dei um passo à frente, pronto para puxar a espada no meu anel de dimensão, mas naquele instante Virion se moveu primeiro.

Em um instante, seu punho fez contato com a mandíbula de Uto. O avô de Tessia já havia ativado sua segunda fase, uma mortalha negra cobrindo todo o corpo e a cabeça dele, mas eu ainda conseguia distinguir a raiva em seus olhos.

A cabeça de Uto imediatamente retrocedeu com o golpe, levantando-o do chão e soprando o capuz que cobria a cabeça dele.

— Isso meio que fez cócegas.

O Vritra esguio rosnou, estalando o pescoço. O nariz de Uto se projetou em um ângulo estranho, mas meus olhos estavam colados em seus chifres.

Não era a forma ou o tamanho de seus chifres que me surpreendeu.

Não, era a falha familiar em seu chifre esquerdo. A falha que a Lança, Alea, tinha feito com o último suspiro.

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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