POV DAWSID GREYSUNDER
— Hehe… hehehe…
Apertei os lábios, tentando conter as risadas internas.
— Um brinde, meu amor, à loucura que em breve chegará ao fim.
Levantei a minha taça enquanto me inclinava para a frente.
— Saúde.
Minha esposa sorriu de volta, encostando o meu copo ao dela para fazer um “tilintar”.
Encostei as costas na poltrona de couro grande demais para mim e apreciei o sabor seco das frutas fermentadas que custaram tanto quanto uma pequena casa. Os extravagantes anéis brilharam em cada um dos meus dedos devido à luz da vela, e não pude deixar de sorrir amplamente.
— Basta pensar, Glaundera. Depois disso, nosso povo não ficará mais preso em buracos no fundo deste continente. Com o seu novo governo, nós, juntamente com o nosso povo, estaremos lá para o servir. Os anões não precisarão mais ser ferramentas que se escravizem, forjando armas para os humanos. Seremos a raça escolhida que conduzirá este continente subdesenvolvido a uma nova era ao lado dele. — Suspirei.
— Ele é mesmo tão poderoso, querido? É o único que teve comunicação direta com o tal. Como ele era?
Apoiou a cabeça no braço.
— Nunca imaginei algo que nem ele. Tive a minha cota de tempo lutando contra bestas de mana quando era mais jovem. Ao contrário dos velhos anões que aderem às suas tradições, eu não carregava orgulho nas armas que eu havia construído. Que satisfação havia em ver alguém balançar sem pensar a arma que você derramou seu sangue e suor na fabricação? Não, a única que terminei, fiz para mim. Matei centenas de bestas de mana de todas as classes usando o Decepador, aquele machado de guerra. Havia alguns que podiam me arrepiar com um único relance do olho, enquanto outros petrificavam até mesmo o mais forte dos magos.
Tomei outro gole
— No entanto, quando ele me encontrou, não consegui respirar. Minha cabeça parecia estar sendo golpeada por martelos e o meu corpo todo ardia como se cada poro estivesse sendo perfurado por agulhas. Fiquei nos portões da morte inúmeras vezes, mas nada nunca me fez temer tanto.
Olhando para as minhas mãos, as vi trêmulas.
— Eu já lhe disse isso antes, mas realmente senti que estava enfrentando um deus. Fiquei com uma sensação esmagadora de que não precisava de mim para atingir seus objetivos, mas estava me dando essa chance. Ele nos escolheu, meu amor. Ele nos escolheu — sussurrei.
— Acredito em você, querido. E quando ele tomar o controle deste continente, o que foi que nos prometeu para a ocasião?
Se aproximou de mim, abraçada ao meu braço e as grandes mãos ao redor da minha cintura.
— Tudo o que poderíamos esperar: vasta riqueza, capacidades mágicas que estão além da compreensão, mais pessoas para nos servir e, o melhor de tudo, uma eternidade para desfrutar de todas elas. Glaundera, posso finalmente, mais uma vez, balançar o meu machado. Esse meu corpo fraco não mais me impedirá. — falei alto, animado.
— Isso é ótimo, querido. Sinceramente, estar no Conselho está atrapalhando todo o seu potencial.
Fez uma careta enquanto esfregava minha barriga.
Me Inclinei ainda mais para trás, apreciando o toque dela.
— Hah! Nós três, reis, temos uma piada que dizemos um ao outro. Brincamos sobre como os três reis desta geração não têm talento e potencial como magos. A incrível da síndrome da “incapacidade” real. Ao contrário dos outros dois, já fui um grande mago do núcleo laranja no meu auge. Teria subido a alturas maiores se não fosse por aquele incidente de merda que me deixou neste estado lamentável.
O que nunca contei a ela foi que o “incidente” aconteceu porque me diverti um pouquinho com uma camponesa.
Inconscientemente lambi os lábios quando me lembrei daquela noite. Teria sido muito mais agradável se ela não tivesse gritado tão alto. Não sei como o marido dela descobriu, mas foi esperto o suficiente para me pegar sozinho, mesmo usando a própria esposa como isca. Acabei matando os dois para esconder meu segredinho, mas não antes que ele fosse capaz de aleijar o meu núcleo de mana.
— Se fodam! Deveriam ter aceitado em silêncio seu destino! Deveriam ter visto isso como uma honra! — xinguei. Por terminar em um estado tão patético, até torturá-los e matá-los não foi suficiente.
— Querido, calma! Os anões te respeitam e você sabe disso. — repreendeu, me tirando das lembranças amargas.
— Respeitam? Respeitam é o meu ovo! Todos me obedecem de má vontade por causa das duas Lanças que tenho em posse, consigo sentir. Sei o que pensam quando olham para mim: “Por que um anão tão fraco está nos guiando? Ele nasceu com sorte e não merece a coroa e as Lanças.”
— Então podemos matar todos aqueles que uma vez o desprezaram, simples assim.
E com os próprios punhos. Acariciou a minha barba olhando para mim, o sorriso calmante acentuando a elegante mandíbula quadrada.
— Mas esqueceu de uma coisa.
— Claro, nos prometeu fertilidade também. Enfim poderemos ter nossos próprios filhos para continuar o sangue dos Greysunders. Na verdade, por que não ver se ele já nos abençoou?
Posicionei a taça de vinho e passei a encarar a minha esposa. Quando olhei profundamente os seus olhos castanhos sujos, cavei por baixo das roupas dela para sentir a sua pele quente e áspera. O seu estremecimento ao meu toque era sentido suavemente quando esfregava as costas dela, alcançando cada vez mais baixo devagar.
Quando os olhos se fecharam de prazer, usei a minha outra mão para desamarrar seu vestido fino e deslizei a minha mão por baixo do seu top, e ela ofegou de surpresa com o frio dos dedos no seu peito firme e exposto.
Tirei a roupa que cobria os seus ombros definidos, sorrindo com a visão hipnotizante. Nunca entendi os gostos de homens humanos e elfos, todos querendo mulheres magras. Uma mulher de verdade tem que ter músculos como estes.
A minha esposa se aproximou impaciente e a despi, abrindo as suas pernas…
*BOOOM!*
A porta do nosso quarto se abriu e mostrou o meu guarda, que estava do lado de fora, olhando para nós com os olhos arregalados.
— Qual é o significado disso?! — rugi — Como se atreve a entrar sem…
Ele caiu no chão sem dizer uma palavra. Ao perceber que havia um buraco nas costas dele onde seu coração deveria estar, logo saltei de nossa postura íntima anterior.
Estava morto.
— Meus cumprimentos, Greysunders.
Uma voz fria e rouca surgiu. Assim que dei um passo para trás, vi Glaundera se vestindo rápido, quase caindo ao descer do sofá.
— Como se atreve a entrar nesta sala? Sabe quem sou? — gritei, o profundo medo me enchendo graças à figura estranha. Não conseguia distinguir as feições dela das sombras de onde estava.
— Isso não tem importância. Vocês dois são as únicas infestações que preciso cuidar — falou uniforme.
Uma luz brilhou em nossa direção e uma parede de lava derretida apareceu bem a tempo de parar o ataque do intruso. Entretanto, pude sentir o gosto do sangue que escorria da ponta do meu nariz até a boca por conta da lâmina fina brilhante que mal foi parada a tempo pela magia da Lança.
— Ol-Olfred! Como deixou alguém entrar aqui? — Tropecei para trás, a firme repreensão à Lança soando muito mais como um gemido assustado.
— Minhas desculpas, suas majestades. Não sei como ele entrou, mas também avisei a Mica. O intruso não vai sair — declarou.
Mesmo quando reverenciou a nós, seus olhos não deixaram a figura sombreada.
Mica era a segunda sob o meu comando. Embora não fosse tão obediente quanto Olfred, as suas habilidades eram o suficiente para me permitir ser indulgente com ela.
— Ótimo, ótimo, agora cuide dele agora mesmo! Quero vivo, se possível! — Apontei o dedo, esperando que a minha esposa não fosse capaz de me ver tremendo ferozmente.
— Eu procuro apenas as cabeças dos Greysunders. Derramamento de sangue desnecessário não é o meu desejo. — falou, frio.
Recuei contra a parede sem querer. Por alguma razão, ele me deixou aterrorizado. Não, Olfred estava aqui e Mica estava a caminho; por que me preocupar?
— Infelizmente, o que eu procuro é a sua cabeça. — sibilou, os membros se engolindo em chamas de mana.
O fogo brilhante emitido por ele correndo em direção ao intruso revelaram as feições da figura, e saber exatamente quem eu estava enfrentando não reprimiu o medo dentro de mim. Em vez disso, fiquei ainda mais horrorizado.
Idoso, longos e brancos cabelos amarrados em um rabo de cavalo, fluindo como uma corrente de pérola. Contudo, apesar da idade, se levantou, equilibrado, as mãos colocadas com elegância atrás das costas retas. Ambos os olhos estavam fechados, dando mais ênfase a um terceiro olho roxo adiante na testa que não piscava.
— Cavaleiros de Magma.
Cinco soldados feitos de magma foram conjurados em instantâneo sob o intruso. E quando o alcançaram, desmoronaram em pedaços com apenas um leve borrão do seu braço.
Olfred continuou a conjurá-los, mas cada vez mais que surgiam, eram logo cortados em pedacinhos por um movimento rápido demais para meus olhos.
— Conceda-me. — Olfred recitou com os dentes cerrados — Armadura Infernal.
O corpo irrompeu por completo em chamas escuras carmesins ao se aproximar mais do inimigo. À medida que o fogo diminuía, pude ver a intrincada armadura de magma o cobrindo. Runas vermelhas brilhantes cobriram intrinsecamente a armadura, uma capa de fogo ondulante escorrendo pelas costas dele.
— Haha! Isso é o que você ganha por ser tão arrogante! Morra! — Aplaudi, e um sorriso enlouquecido se formou no meu rosto vendo a Lança prestes a destruir o intruso que me deixara em um estado tão patético.
O primeiro golpe foi diretamente ao rosto do oponente, até mesmo dizimando ao todo a parede atrás dele com a onda de choque. Meu punho cerrou de emoção esperando pelo seu cérebro sangrento espalhado em partes pelo lugar.
No entanto, a nuvem de poeira desapareceu, e só pude sentir a minha boca se abrir de choque. A sua cabeça estava intacta e imaculada, mas o braço blindado de Olfred foi quebrado em dois, o punho reduzido a uma polpa sangrenta. Lascas brancas saíam dos dedos dele onde os ossos quebraram.
— Admiro as suas habilidades para um ser inferior. Seus poderes podem ser úteis para o futuro deste continente, mas agora, está apenas irritando. — Uma lâmina fina e brilhante apareceu na mão dele.
O próximo movimento foi tão rápido que parecia que se teletransportou, mas estava simplesmente se movendo a uma velocidade tão monstruosa que eu não podia acompanhar.
Surgiu a alguns metros de onde Olfred estava de guarda, e a ponta do sabre brilhante tocou suavemente o centro do peito blindado da Lança.
— Quebre.
A armadura, vinda de um dos mais altos feitiços defensivos de atributos de fogo, virou pó. O sangue jorrou da boca de usuário, arremessado dali até a parede contra a qual eu estava apoiado.
Só observei fixamente a cena. Um arrepio percorreu as costas ao olhar intermitente do idoso em mim.
Minha garganta estava muito seca para sequer respirar por ela direito, quanto mais pronunciar uma palavra. Glaundera estava trêmula, e um som de terra sendo pisada me fez rebater a cabeça para trás.
— Olá, reis. Mica lamenta o atraso! — Uma voz familiar soou de dentro da nuvem de poeira.
— M-Mica! Seu rei quase foi morto! Tire essa coisa daqui! — Gritei, segurando a minha esposa.
Mica era uma anomalia entre os anões. Não tinha nenhuma das características habituais que tornariam uma anã atraente. Era baixa, magra, com uma pele pálida e cremosa, em vez da habitual pele bronzeada tão admirada. Suas feições a faziam parecer uma criança humana débil, e as orelhas um pouco pontiagudas eram a única indicação de que era mesmo uma anã. Apesar da aparência, as habilidades de manipulação de gravidade eram monstruosas. Com uma maça gigante mais do que o triplo do seu tamanho, era capaz de controlar sem restrições o peso de qualquer coisa dentro de um certo raio.
A neblina de terra se dissipou, e pude ver que o intruso se esquivara por completo do ataque surpresa dela.
— Outro aborrecimento. — A voz soou um pouco mais irritada desta vez, mas poderia ter sido apenas eu.
Antes que pudesse se dirigir a mim, o chão desmoronou ao redor dele e da minha Lança.
— Bem-vindo ao mundo de Mica. Não morra! — Riu, balançando a maça Estrela do Amanhã.
— Excelente controle sobre a gravidade. — Assentiu ao ficar mais perto da minha Lança.
Podia dizer que ela foi pega de surpresa quando o oponente caminhou sem dificuldades em direção a ela, cada um dos passos criando uma marca profunda nos azulejos do chão.
Mesmo com a minha vida em perigo, um sentimento irritante de inveja brotou. Isso era o que eu desejava: poder para lutar assim; estar no ápice da força: estar no ápice das capacidades mágicas.
— Como pode se mover tão facilmente? Seu corpo está pesando mais de quatro toneladas! — sibilou se retirando lentamente, mantendo uma distância cuidadosa dele.
— É esse o seu limite? — perguntou.
— Hã? — respondeu, não esperando uma pergunta em resposta.
— Parece que sim.
— Que limites? Mica é sem limites! — gritou enquanto saltava ao ataque final. Imbuindo mais mana na arma dela, pude ver pequenas ondulações no espaço em torno dela devido à distorção da gravidade. — Receba isso!
A maça balançou com uma força que suspeito que poderia derrubar todo o castelo, mas o homem levantou um único dedo em resposta, parando sem esforço o ataque monstruoso.
Uma onda de desesperança me venceu. Apesar da magnitude do poder da Lança, sabia que não podia vencer.
Me levantei.
— Não posso morrer aqui. Preciso fugir.
Do canto do meu olho, vi um flash de luz da lâmina brilhante a atravessando. Pelo que vi, não havia ferimento no local, mas algo aconteceu, já que ela caiu no chão com o branco dos olhos visível, a maça caindo junto.
— Aquela pirralha inútil nem me deu tempo o suficiente para escapar!
Ele virou, para encarar a minha mulher e eu com a o brilho da lâmina em mãos..
Glaundera gritou com o dedo apontando em ameaça para ele:
— V-você não sabe com quem está se metendo. Meu marido em breve será a nova mão direita de Agrona dos Vritra, uma divindade onipotente…
— Cale-se! — Clamei, batendo no rosto dela antes que ela pudesse terminar.
— Asura. Não há divindades neste mundo, apenas asuras. — Corrigiu, chegando perto de nós sem se apressar.
— P-por favor, tenha piedade e me poupe, ó, grande. — Um calor crescente umedeceu as minhas pernas quando me ajoelhei e implorei.
— Você quer viver? — questionou enquanto o único olho olhava para mim.
— S-sim! Por favor! Farei qualquer coisa! — Implorei. Quem, neste continente, poderia descartar um mago de núcleo branco com tanta facilidade?
— Vejo que Agrona falhou em escolher os bonecos com devida cautela. — continuou, a voz cheia de desprezo.
— Por que, eu nunca o encontrei. Ele só me chamou, ameaçando matar a minha esposa e o meu povo se eu não o obedecesse. Eu imploro! Tudo isso foi contra a minha vontade! — Me prostrei de mãos e joelhos e encostei a testa na poça quente de mijo.
— Muito bem. Libere as duas Lanças que você tem em sua posse do juramento. — ordenou.
— L-libertar? — gaguejei.
— Sim. É um problema? — O único olho dele se estreitou.
— Não, claro que não. Tirei o artefato que sempre mantive em volta do pescoço e inseri minha assinatura de mana nele. Soltei o juramento, e sangue escorreu pelos cantos da boca.
Fui instruído pelo meu pai a nunca o desfazer, que nunca poderia e deveria ser desfeito. Porém, a minha vida estava em jogo aqui.
Quando Olfred e Mica brilharam um leve vermelho indicando que a ligação do artefato foi liberada, olhei de volta para o intruso.
— A-aí! Pronto!
— Bom. Eles foram infelizes por ter um mestre tão podre, mas serão peças úteis na guerra que se aproxima. — respondeu, acenando com a cabeça olhando para as duas lanças.
— A-agora, por favor, me deixe ir. — Odiei como a voz soou tão fraca e desesperada.
— Desculpe, eu disse que o deixaria ir? — Levantei a cabeça e notei uma mudança em sua expressão: pela primeira vez, um pequeno sorriso dele.
Tentei responder, mas não saiu nada.
Sem palavras… sem som… sem fôlego…
Olhando para baixo, vi o buraco escancarado na garganta, e tudo o que fiz foi olhar para ele, a minha mandíbula frouxa. A visão embaçou, e olhei Glaundera, tentando me alcançar em desespero com um buraco no peito encharcando o vestido fino.
Tudo escureceu. Pude sentir uma mão fria agarrando minha alma, me puxando para longe do corpo.
— Que a partida comece.
As últimas palavras dele ecoaram de longe e chegou à mente indo para qualquer nível do inferno que a mão decidiu me levar.
Tradução: Reapers Scans
Revisão: Reapers Scans
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