Rudeus foi sequestrado. Eris e Roxy observaram em choque enquanto Atofe o jogava por cima do ombro e disparava rumo ao céu. Elas demoraram a reagir, tanto porque tudo aconteceu muito rápido, quanto porque foi tão… meh. Um verdadeiro anticlímax. Atofe levou Rudeus embora como se fosse a coisa mais normal do mundo e Rudeus simplesmente aceitou. Talvez ele soubesse, de alguma forma, que aquilo era um procedimento de rotina na perspectiva dela.
— Rudeus! — Eris gritou. Assim que processou que Rudeus havia sido sequestrado, ela agiu rápido. Com um grande grito, ela desembainhou a espada e foi atrás deles. A guarda pessoal de Atofe entrou em seu caminho, então ela os atacou.
— Uh! — Grunhiu um guarda que tentou bloqueá-la, derrubado pela força do golpe.
— Saiam da frente! — Eris exigiu.
— Espera, escute!
— Diga isso à sua Rei demônio!
— Hum… — O guarda ficou sem palavras. Se Rudeus estivesse lá, certamente desaprovaria o modo como Eris estava falando. Ela não era tão ruim quanto Atofe, mas não era muito de parar e escutar algo.
— Por favor, me escute! — O guarda insistiu.
— Não tenho nada para conversar com vocês! Devolvam o Rudeus!
— Certo, tudo bem, vamos lá… — Ele limpou a garganta. — Vai ter que seguir todas as etapas se quiser a princesa de volta! Mwahahahaa!
— Tá me sacaneando?!
— Hã?! — O guarda quase não conseguiu desviar do segundo golpe de Eris, recuando alguns passos.
Eris gritou enquanto olhava para o céu. Acima deles, Atofe continuava voando em círculos. Era como se estivesse a provocando, o que só intensificou a frustração dela, mas não havia nada que pudesse fazer contra um oponente que conseguia voar.
Então viu Atofe pousar num canto do forte e seus olhos se iluminaram. Ela correu para frente novamente.
— Eris, espere. — Veio uma voz calma atrás dela.
Eris se virou.
— Por quê?! — reclamou ela. Segurando a bainha da camisa de Eris, calma e controlada, estava Roxy. — Você não viu?! Ela sequestrou Rudeus! Temos que salvá-lo!
— Os guardas disseram que precisamos seguir todas as etapas se quisermos fazer isso — disse Roxy pacientemente. — Por que não ouvimos o que eles têm a dizer?
— Roxy!
— Eris, por favor, se acalme. Olhe para mim, eu estou calma.
E daí que você está? Eris poderia muito bem ter pensado isso, mas as palavras de Roxy a tocaram. Ela reconheceu que não estava mesmo pensando com clareza e até começou a considerar que deveria mesmo se acalmar. Se você perder a calma durante a batalha, sua raiva virá à tona. Quando isso acontece, seu oponente pode ler seus movimentos mais facilmente e, quando o fizer, a batalha vai estar praticamente perdida. Ela sabia disso desde o treinamento com Isolde. Foi por isso que os guardas conseguiram aparar seus ataques.
Eris baixou a espada para uma posição neutra e respirou fundo. Temia tanto por Rudeus que era impossível para ela ficar parada. Ela tentava conter seu medo, mas não conseguia.
— Estou preocupada com Rudeus — disse ela.
— Eu sei — Roxy concordou —, mas há uma lenda sobre a Rei Demônio Imortal Atoferatofe.
— Uma lenda?
— Sim. Na lenda, a rei demônio sequestra uma princesa como uma brincadeira.
Eris relaxou. Ela mesma já tinha ouvido essa história.
Era uma história comum sobre Atofe — na verdade, sobre alguns reis demônios diferentes. O tipo de história em que um rei demônio sequestra a princesa e o herói tem que superar desafios para salvá-la. Quando Eris era pequena, ouvia histórias assim repetidas vezes e sonhava em um dia participar de uma semelhante.
Ao mesmo tempo, ela percebeu que tudo isso de princesa começou por causa do que Rudeus havia dito. Sua expressão mudou para indignação.
Uma coisa ainda não fazia sentido para ela.
— O que acontece com a princesa depois que é sequestrada? — Ela perguntou. Quando era pequena, essa pergunta nunca havia passado pela sua cabeça.
— O rei demônio convoca o herói.
— Certo, e aí?
— Acredito que eles lutam.
Isso só deixou Eris mais confusa. Algo não se encaixava.
Eles não estavam prestes a lutar contra Atofe? Era o que parecia. Pensando de forma lógica, a luta deveria ter sido o próximo passo.
Então por que não aconteceu?
— Não entendi — disse Eris.
— Devemos perguntar a eles sobre isso? — Roxy sugeriu.
Eris hesitou, mas então assentiu:
— Tudo bem.
Ela não tinha a menor ideia de como haviam acabado ali, mas sabia, pela vida cotidiana, que podia confiar em Roxy.
A outra mulher podia ser um pouco desatenta, mas transbordava de conhecimento e cuidava bem de todos. Ela também ouviu pacientemente as preocupações de Eris quando estas surgiram e explicou tudo o que ela não entendeu.
Certa vez, durante uma caminhada por Sharia, elas foram cercadas por um bando de aventureiros esquisitos. Foi uma situação complicada. Se Eris estivesse sozinha com Leo, poderia ter saído balançando a espada, mas Lara escolheu aquele dia para montar em suas costas e ela não podia deixar as coisas ficarem violentas. Ao mesmo tempo, os aventureiros não pareciam inclinados a desistir. Como ela poderia lutar e manter Lara segura? Enquanto tentava resolver esse dilema, Roxy assumiu o controle da situação. Ela ficou entre Eris e os aventureiros e colocou panos quentes na situação, que foi resolvida em poucos instantes.
Roxy era confiável, especialmente em momentos como este, quando Eris não sabia o que fazer.
— Certo, deixo isso em suas mãos — declarou Eris. Ela devolveu a espada à bainha e cruzou os braços. Todos tinham sua chance de brilhar, mas a de Eris não seria em uma discussão.
— Muito bem — iniciou Roxy, dando um passo à frente para se dirigir aos guardas —, tenho algumas perguntas se não se importarem. Quais são essas “etapas”?
O tom dela era frio e controlado, mas por dentro, Roxy estava apavorada. A guarda pessoal de Atofe era lendária no Continente Demônio. Eles eram um grupo militar de elite, com equipamento e habilidades à altura. Escolhidos a dedo por Atofe, eram conhecidos como a gangue mais barra-pesada de todo o Continente Demônio. Se eles decidissem atacar enquanto ela estivesse cercada, Roxy duvidava que sairia ilesa e com vida. Mesmo o fato de ter Eris ao seu lado pouco fez para inibir seu medo.
Porém, estas tinham sido as cartas que recebeu. Ela estava enfrentando aquilo com Rudeus, que sempre disse a ela: “estou contando com você”.
Estava ciente de que não era a heroína desta crise, mas queria corresponder às expectativas dele. Além disso, também havia o que ele disse antes de partirem para o Continente Demônio.
Rudeus disse a ela que se algo acontecesse e ele fosse separado delas, seu trabalho seria controlar Eris. Roxy não esperava que se separassem em circunstâncias tão bizarras, mas ainda assim precisava se controlar, caso contrário, não haveria razão para ela ter ido junto.
O homem que Eris havia atacado antes grunhiu e depois recuou e outro guarda avançou. Ele usava a mesma armadura do anterior, não sendo possível diferenciá-los.
Mais calma agora, Roxy notou que os guardas também não estavam agitados. Suas armaduras negras brilhantes e suas enormes espadas eram intimidantes, mas ela não sentia nenhuma intenção assassina neles — ao contrário de Eris. Levando isso em conta, Roxy decidiu que ali havia uma oportunidade para uma conversa racional. Foi uma boa mudança depois da tal “conversa” com Atofe.
O representante dos guardas pigarreou e proclamou:
— Heróis! Parabéns por chegarem ao coração do Forte Necross!
— Vocês devem ser bem fortes para terem enfrentado em pé de igualdade a guarda pessoal do Rei Demônio Atofe!
— Vocês têm nosso respeito! Ninguém pode negar o seu valor!
— No entanto, ainda somos a guarda pessoal de Atofe e devemos defender nossa honra e nosso orgulho!
— Se desejam testar seu poder contra o Rei Demônio Imortal Atofe e recuperar a bela princesa…
— Primeiro devem derrotar a elite da guarda pessoal de Atofe: os Quatro Supremos!
Quatro figuras saíram das fileiras dos guardas. Eles desembainharam as espadas, bateram os punhos das lâminas contra as armaduras com um alto tinido e depois ergueram-nas ao céu. Roxy não se lembrava de ter lutado para passar por eles em momento algum, mas com base no que eles estavam dizendo…
— Então, se eu entendi bem — ponderou —, tudo o que precisamos fazer é vencer vocês para termos Rudeus de volta?
— Hehehe, eu não sei de nada! — riu o guarda. — Os desejos da princesa podem operar milagres, mas eu não teria muitas esperanças se fosse você.
— Olha — disse Roxy —, eu sei que ele se autodenominou princesa, mas entre todos nós, Rudeus é o verdadeiro campeão, ou pelo menos é o lutador mais forte… Isso não é um problema para Lady Atofe?
— Huh? Ah, hum… — Com um pequeno suspiro, o guarda que falava demais se ajoelhou diante de Roxy, então se inclinou e sussurrou — Sabe a história do Rei Demônio Keserapasera e do heróico Atmos Corta-Aço, onde a princesa tropeça na Chama Eterna e queima com ela a couraça mais dura que o ferro do rei demônio, levando o herói à vitória?
— Hum? — Aquela mudança repentina de assunto deixou Roxy confusa.
O porta-voz suspirou novamente e depois sussurrou:
— Olha, eu não deveria dizer isto, mas a questão é que a frase sobre a princesa operar milagres significa que Lady Atofe deixará a princesa juntar-se à luta contra ela. Então sim, está tudo bem se a princesa lutar contra o rei demônio também.
— Ah, entendo — respondeu Roxy. — Sinto muito, não conheço muito bem esse tipo de história.
— Sim, isso é normal. Especialmente hoje em dia! Já faz algumas centenas de anos desde que recebemos o último campeão, quase ninguém conhece as histórias.
— Nossa, sério?
— Sim. Para falar a verdade, esta é a primeira vez que confronto os campeões.
A Rei Demônio Imortal Atoferatofe era bem conhecida. Durante as últimas centenas de anos, sua notoriedade manteve-se firme, embora ela não tenha levantado um dedo para justificá-la. A Guerra de Laplace terminou, então o Deus do Norte Kalman a derrotou, e ela não deixou o Continente Demônio para incitar nenhuma guerra desde então, não lutando com praticamente ninguém. No máximo incomodava outros demônios de sua categoria.
Como resultado, sua atual guarda pessoal nunca havia lidado com reais adversários antes. Entretanto, havia muitos cavaleiros errantes que esporadicamente passavam pelo castelo, então eles sabiam como tratar os visitantes.
— Devemos lutar contra eles? — Roxy questionou. — Somos apenas duas, então seria uma situação de dois contra quatro?
— Ah, não, é um de cada vez, então vai ser dois contra um quatro vezes.
— Muito bem. — Com esses detalhes resolvidos, Roxy voltou-se para Eris. — Chegamos a um acordo.
— Certo, o que vai acontecer?
— Ele disse que se os vencermos teremos Rudeus de volta e aí poderemos enfrentar Atofe.
— Hum, é bem simples.
— Se perdermos pode ser que…
— Não vamos.
— Você está certa. — Roxy concordou. Conseguia perceber que Eris estava focada novamente. Ela apertou seu cajado ainda mais forte.
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— Eu sou Calina! Cavaleira do estilo Deus do Norte de nível Rei e um dos Quatro Supremos de Lady Atofe: Calina do Vento!
O primeiro guarda a dar um passo à frente foi uma mulher, que imediatamente tirou o capacete e jogou-o da plataforma. Os outros guardas deram a vida para pegá-lo – os equipamentos eram caros e eles estariam em apuros se perdessem algum deles.
— Campeões! Eu estava esperando por vocês!
O rosto da mulher sob o capacete era reptiliano. Ela tinha escamas amarelas, cabelos como agulhas e nariz pontudo; todo o seu rosto estava coberto de cicatrizes que contavam sua longa história como guerreira.
— Eu pratico na sala de treinamento especial aqui no Forte Necross! Tenho muitos alunos! O neto de Lady Atofe é um desses estudantes! Eu os treino muito! Vocês tem algum aluno?! Deveriam ter um! Os alunos vão respeitar vocês! Devem estar se perguntando por que estou treinando em um lugar como este! Tudo para que um dia eu possa desafiar Lady Atofe! Para cada herói e campeão que derroto, ganho o direito de desafiá-la! Agora, campeões, vamos lutar! Percam rapidamente para que eu possa usar vocês para ficar ainda mais forte!
Calina divagava sem parar, sem se importar com quem estava ouvindo. Enquanto isso, Eris desembainhou a espada sem dizer uma palavra. Ela não se importava nem um pouco com o que Calina tinha a dizer, a pessoa diante dela era sua oponente. Os oponentes que falavam tanto antes da luta eram usuários do Estilo Deus do Norte e Estilo Deus da Água. Eris, uma praticante do Estilo Deus da Espada, não falou, mas nunca foi boa em discursos de qualquer maneira. Ela ergueu sua espada bem alto.
— Ops, desculpa. Estou falando demais, não é? — disse Calina, controlando-se. — Hora de lutar! Aí vou eu! Só…
Eris se mexeu quando Calina disse “Aí vou eu”. Ela tinha movimentos suaves e eficientes. Sua espada estava erguida acima da cabeça e ela a baixou. Era um movimento que praticava mais de cem vezes todos os dias desde sua estadia no Santuário da Espada. Devia ter feito aquilo dezenas de milhares de vezes.
Ela cortou na diagonal. Assim que a lâmina começou a se mover, já era rápida demais para o olho humano perceber: esta era a Espada de Luz. Não fazia nenhum som. Antes que alguém soubesse o que estava acontecendo, já estava acabado. Sua espada parou do outro lado de Calina, após, Eris a ergueu lentamente acima de sua cabeça mais uma vez.
Ok, não era — estritamente falando — correto dizer que ninguém sabia o que estava acontecendo. Calina sabia. Ela tinha uma habilidade especial, um sexto sentido que permitia que visse o perigo chegando. Quando disse “Aí vou eu”, ela viu sua morte passar diante de seus olhos.
Essa habilidade dela era um pouco diferente do Olho Demoníaco da Previsão de Rudeus. Ela a tinha desde pequena; conseguia sentir sempre que enfrentava a morte iminente e sabia que, a menos que agisse logo, morreria. Ela não tinha certeza de que seu senso de perigo estava correto porque nunca o tinha ignorado para descobrir, tudo o que sabia era que a habilidade a mantinha viva. Isso a livrou da morte várias vezes, e foi por isso que ela bateu nos portões do Deus do Norte. Sendo assim, quando ela disse “Aí vou eu” e sua morte passou diante de seus olhos, ela saiu do caminho.
Ela não evitou totalmente o golpe, só conseguiu mover o tronco cerca de dez centímetros para fora do caminho. Dez centímetros foram suficientes para salvar sua vida. Sentiu com bastante clareza a sensação da lâmina cortando seu corpo. Viu a espada cortar do canto superior esquerdo, entrando pelo ombro e saindo onde a perna esquerda encontrava o torso e viu o braço e a perna se separarem de seu corpo – um corte transversal perfeito. Ela nunca tinha visto um corte tão limpo. Sua perna esquerda foi decepada e, incapaz de ficar em pé, ela caiu no chão com um estrondo. Seu braço atingiu o chão ao mesmo tempo, deixando apenas a perna decepada, apoiada pela armadura, ainda de pé.
— Isso foi muito rápido… — Alguém murmurou. Talvez Calina ou outro guarda, não importava. Todos sabiam quem era a vencedora. Eris olhou para Calina como havia feito antes, agora sorrindo.
A arena estava quieta. Eris terminaria de vez a luta? Ninguém se moveu para detê-la. A guarda pessoal de Atofe lutava até a morte. Talvez fosse considerado desonroso para alguém que subiu ao patamar dos Quatro Supremos implorar por misericórdia, ou talvez tudo estivesse acontecendo rápido demais para alguém conseguir acompanhar.
Por um longo momento, Eris ficou ali em silêncio com a espada erguida, mas então sua expressão voltou ao normal e ela perguntou em dúvida:
— Já acabou?
Calina sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha. Eris estava dizendo que a luta ainda não havia acabado. Ela realmente acreditava que seu oponente, com um braço e uma perna abaixo, não havia desistido; que a luta ainda estava acontecendo, e Calina entendeu que se Eris estivesse em seu lugar, estaria mesmo. Ainda que ela estivesse no mesmo estado de Calina, não cederia. Os alunos do Deus do Norte treinavam para lutar mesmo depois de perder um membro, embora poucos deles estivessem dispostos a sacrificar tanto.
Calina não era uma dessas poucas, por mais que desejasse ser.
Essa mentalidade, essa disposição ao sacrifício, essas qualidades só vêm à tona quando você é levado ao limite e ainda assim se recusa a ceder. Ela nunca sequer cogitou que qualquer um dos oponentes que derrotou no passado compartilhasse de tais qualidades.
Calina, vendo que Eris estava pronta para ir mais longe do que ela, disse:
— Sim, acabou. Você me superou, campeã. Fui totalmente derrotada.
Assim, ela aceitou sua derrota.
Eris baixou lentamente a espada, primeiro da guarda alta para a guarda intermediária, e finalmente a devolveu à bainha, mas não tirou a mão da empunhadura. Ela examinou os arredores sem baixar a guarda enquanto os guardas que estavam esperando pegarem Calina e a levavam para fora da arena. Soltou a espada somente quando julgou haver uma distância considerável entre ela e os três restantes dos Quatro Supremos.
— Eles não são grande coisa, esses Quatro Supremos — comentou ela, como se nada de muito interessante tivesse acontecido.
Ela não estava deliberadamente insultando Calina nem afirmando que a outra mulher era fraca. Apenas pensava que, se isso fosse o melhor que a Suprema poderia fazer, ela não era tão boa quanto Auber, que também enfrentou o Estilo do Deus do Norte. Até Nina e Isolde, que haviam treinado com Eris, poderiam ter se esquivado daquele golpe.
— Palavras corajosas, garotinha, mas Calina é a mais idiota dos Quatro Supremos de Lady Atofe. Não permitirei que você nos julgue pelo desempenho dela.
— Sim, não somos idiotas assim, somos inteligentes.
— Hehehe, isso mesmo, vamos cortar você em pedaços!
Rudeus poderia ter comentado sobre o quão clichê era aquele desastrado esquadrão de bandidos se ele estivesse presente. Em vez disso, Eris levou aquilo a sério e concluiu que se os outros fossem mesmo mais fortes que a primeira mulher, ela deveria se preparar adequadamente. Ela não era vaidosa e conhecia os limites de sua força.
Com isso, ela chamou:
— Roxy.
— Sim?
— Fique atrás de mim… juro que não vou deixar você se machucar — disse ela.
Roxy sentiu um pequeno arrepio percorrer seu corpo. Ela conhecia bem Eris e sabia que ela trabalhava duro e tinha o talento mais natural da casa para praticar violência.
Roxy também sabia que, embora não estivesse no mesmo nível de Rudeus, Eris se considerava a protetora da família — quando se tratava de cortar coisas, pelo menos.
Para ela, família era algo que protegeria com sua espada, e Roxy era parte da família. Havia uma única exceção à sua regra: Rudeus. Ela confiava apenas nele nessas situações. Ele era o único que conseguia acompanhá-la em uma briga.
Com esse pensamento, Roxy sentiu-se um pouco envergonhada.
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— Eu sou Benebene, espadachim do estilo Deus do Norte de nível Santo e um dos Quatro Supremos de Lady Atofe: Benebene da Água!
O segundo dos Quatro Supremos parecia a definição de comum. Ele não tirou nem jogou fora o capacete como Calina e não era maior que os outros dois e possivelmente pertencia a uma raça particularmente peluda, já que o pelo branco saía das aberturas do elmo.
— Um Santo do Norte? Você é de nível inferior ao anterior?
— Heh, é verdade, não consigo igualar Calina com uma lâmina. — Ele concordou. — Mas a habilidade com a espada não é a única coisa que decide uma luta.
— É verdade. — Eris disse, então apontou sua espada para uma guarda elevada idêntica a de antes. Não houve nem um milímetro de diferença em sua postura. Ela sorriu. Não havia um indício de assassinato em seus olhos agora, mas isso significava que ela atacaria da mesma forma que antes, com um ataque definitivo? O mesmo que você não poderia ter evitado mesmo sabendo que estava por vir? Ela usaria a Espada de Luz?
— Podemos começar? — questionou o homem. — Venha até mim da maneira que preferir.
O barulho de metal contra metal soou enquanto ele pronunciava a última sílaba. Eris já havia atacado. Sua lâmina seguiu exatamente a mesma trajetória de antes e parou exatamente no mesmo lugar. Ela era tão rápida que ninguém teve tempo de piscar.
Tal como aconteceu com Calina, o braço esquerdo e a perna esquerda de Benebene penderam e o seu corpo começou a balançar — só que, na verdade, o seu corpo não balançou. Seu braço e perna esquerdos nem caíram, embora Eris tivesse certeza de que os tinha cortado.
Alarmada, ela deu um passo para trás quando a espada do homem passou por onde ela estava. Sem aviso, Benebene estava com a espada nas mãos, uma espada grande e preta como o resto da guarda de Atofe.
— Você se esquivou, hein? Não pense que você…
Dessa vez Eris agiu antes que ele chegasse ao fim da frase. Ela avançou para anular o recuo que havia feito antes, fazendo um movimento de baixo para cima na direção do braço direito de Benebene. Um som metálico maneiro ressoou e Eris instantaneamente voltou sua espada de volta para uma guarda elevada.
Soltou um suspiro, agora desconfiada. Ela o cortou, conseguiu sentir o corte, mas mesmo tendo certeza de que o havia cortado, a mão de Benebene permanecia presa ao seu pulso.
— Você deveria me deixar terminar — disse Benebene. Ele cravou a espada no chão e agarrou o próprio pulso com a mão esquerda. Sua mão direita – ou melhor, a guarda – saiu sem resistência, e não apenas inteira, a mão foi separada perfeitamente em duas num corte transversal tão limpo quanto aquele feito no corpo de Calina anteriormente.
Esse não foi o único ponto digno de nota, o outro era o cabelo. Uma enorme massa de cabelos brancos se grudava no interior da armadura de Benebene.
— Eu tenho o sangue do Clã Pegajoso e do Clã Hea! As espadas nunca funcionarão comigo — anunciou Benebene. Gavinhas pegajosas de antenas parecidas com cabelos se torceram no formato de uma mão, que então agarrou a espada. Ele a ergueu pronto para atacar, olhando Eris diretamente nos olhos.
A única resposta de Eris foi golpear novamente. Ela cortou para baixo, depois para cima, depois para a direita, depois para a esquerda, no pescoço, no ombro, nos braços, nas pernas… Ela desferiu golpes de todos os ângulos e em todas as partes do corpo dele.
Pouco depois, Benebene brandia sua espada novamente. Nenhum de seus ataques teve qualquer efeito, então não houve necessidade dele se defender. Eris se esquivou de tudo que ele jogou nela. Quando se desviou para que a espada dele não a acertasse por milímetros, ela arrancou suspiros de admiração dos guardas que a observavam.
Como regra geral, os espadachins do Estilo Deus da Espada eram ruins em esquiva e defesa.
O Estilo do Deus da Espada encorajava seus adeptos a derrubar o oponente com um único golpe. Esquivar-se era desnecessário em tal filosofia.
Eris era diferente. O treino de Gall Falion para derrotar Orsted baseou-se na racionalidade. Ele presumiu que Orsted não seria derrotado com um único golpe e então, julgando que a evasão era uma técnica que seus alunos precisariam, trouxe um espadachim do Estilo Deus do Norte e os fez treinar com um guerreiro do Estilo Deus da Água.
Seu treinamento causou forte impressão em Eris. Graças às lições de Auber e aos seus impasses com Isolde, nenhuma espada poderia atingir Eris e, enquanto a espada dela cortava o corpo de Benebene, ele cortava apenas o ar. Era como uma luta entre um adulto e uma criança. À medida que a batalha avançava, porém, o pânico começou a criar raízes em seu coração.
Ela respirou fundo ao ouvir o som de metal amassado. Seus ataques não haviam atravessado a armadura de Benebene. Tudo o que ela conseguiu fazer foi arranhá-lo, e sua Espada de Luz não surtia efeito.
Com um grito de frustração, ela defendeu o golpe de Benebene perto do cabo da lâmina e a força a empurrou três passos para trás. Ela não estava cansada, apenas sem saber o que fazer. Não importava onde cortasse, nada caía.
Eris respirou fundo e se forçou a se acalmar e pensar. O que Mestre Ghislaine faria? Ou o Deus da Espada Gall Falion? Infelizmente, ela não era de pensar muito rápido e Benebene atacou novamente antes que ela pudesse se lembrar.
— Mwahahaha! Você está ficando cansada, campeã! — Ele gritou. — Agora acabou!
Porém, outra voz soou.
— Ó espíritos do gelo, emprestem-nos sua força! Campo de Sincelos!
Um jato de água junto de um vento gelado atingiram Benebene diretamente enquanto ele atacava.
— Quê?!
Todo o seu corpo estalou e ele ficou congelado em segundos.
— Eris, agora!
Eris agiu sem demora. Benebene estava bem na frente dela. Ela avançou e atravessou a forma congelada, sua espada atingindo-o pelo lado.
— Aaaaaah! — Ele gritou enquanto era cortado ao meio. Sua metade superior deslizou da parte inferior e caiu no chão com um baque surdo. Houve um tilintar que lembrava vidro se partindo quando sua armadura se quebrou, deixando para trás duas mechas de cabelo totalmente branco. Ambos estavam cobertos de gelo e se contorciam levemente.
— Urgh. — Ele resmungou. — Droga… Logo a minha armadura da guarda… Então foi por isso que você gastou todo esse tempo com ataques sem sentido…
Com isso, ele parou de se mover.
Os outros guardas prontamente correram e o levaram embora.
Eris os observou inexpressivamente, depois se virou para olhar para trás, onde Roxy estava congelada com o cajado ainda na mão.
— Ouvi dizer que o Clã Pegajoso era vulnerável ao gelo… — Ela murmurou. — Foi realmente eficaz, hein…
Roxy, vendo Eris em apuros, usou magia sem saber se funcionaria. O fato de ter sido ainda mais eficaz do que ela imaginava foi um choque.
Percebendo que Eris estava olhando para ela, voltou à sua pose habitual e pigarreou.
— Desculpe. Eu deveria ter ficado fora disso?
— Claro que não! Você me salvou! — Eris exclamou. Ela mesma ficou surpresa. A verdade era que estava sem ideias. Nunca havia estado numa luta contra um oponente como Benebene antes, onde poderia cortar sua armadura, mas não seu corpo… Bem, talvez uma ou duas vezes, mas desta vez ela não estava preparada. Se a luta tivesse continuado assim, ele poderia tê-la superado.
— Você me dá cobertura, certo?
— Entendido. Roxy no suporte! — Roxy respondeu, parecendo um pouco mais feliz desta vez.
Os dois restantes dos Quatro Supremos riram com escárnio.
— Hehehe, Benebene era fraco! Ele dependia totalmente de suas habilidades herdadas.
— Ele era realmente único entre os espadachins! Vestido com a renomada armadura negra da guarda pessoal de Lady Atofe, pode-se ver que ele deve ter ficado confiante demais com seus poderes! Na verdade, invejo seus talentos!
— Pensar que ele não prestou atenção a uma maga mesmo quando sua armadura foi cortada em pedaços!
— Ele era o maior idiota entre os Quatro Supremos!
Restavam dois dos Quatro Supremos.
Um deu um passo à frente.
— Tremam, vermes! — Ele declarou: — Pois eu sou seu próximo oponente!
Assim começou a luta contra o terceiro Supremo.
Tradução: Marloon5
Revisão: Pride
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