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Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 20 – Cap. 04 – A Cerimônia de Graduação de Cliff e Zanoba

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A vida passou rápido, e antes que eu pudesse perceber, já era a hora da cerimônia de graduação da Universidade da Magia de Ranoa. A cerimônia ocorreu em um grande auditório. Cliff se sentou nas fileiras dos alunos recém-formados. Zanoba estava lá também, em uma das fileiras dos fundos. Perguntei se ele poderia participar, mesmo tendo abandonado os estudos, então decidiram abrir uma exceção. Ele era um estudante excepcional, afinal, e quase nunca frequentava as aulas, para começo de conversa. Olhando por outra perspectiva, pode-se dizer que essa era a misericórdia de Jenius em atividade.

Não que Zanoba parecesse se importar com o evento, mas ei, significava algo participar desse tipo de situação. Os rituais da vida importam!

Os outros participantes eram as mesmas pessoas velhas. Sentados ao lado dos quinhentos graduados estavam os duzentos ou trezentos membros do corpo docente. Roxy parecia um pouco distante de seus colegas na última vez que esteve nesta posição, mas dessa vez, ela se encaixou perfeitamente. Talvez tenha se acostumado. Sua estatura baixa não a separava dos seus colegas. Na verdade, sua unicidade deixava claro como ela pertencia lá.

Os únicos não-graduados presentes eram os membros do conselho estudantil. Norn liderava o grupo com uma carranca que parecia congelada de nervoso. Alinhados junto dela estavam demônios, homens-fera e outros. O conselho presidido por Ariel era organizado na maioria por humanos, mas acho que quando seu líder muda, as pessoas trabalhando para ele também mudam. Pensei da mesma forma durante a cerimônia de entrada do ano passado, mas Norn parecia ser particularmente querida pelos alunos demônios e homens-fera. Nunca ouvi uma reclamação vinda dos demais. Ela não inspirava o mesmo nível de fanatismo que Ariel, mas ser vista como uma presidente de conselho estudantil confiável, era bom o suficiente. Como seu irmão, ela me deixava orgulhoso.

Tive a permissão de Jenius para me sentar junto do conselho em um dos assentos vagos. Ah, como eu adoro cerimônias de graduação!

— Representando a sala graduanda, Brooklyn Von Elsass. Entrego a você seu diploma e seu certificado de Rank D da Guilda de Magos!

O orador da turma deste ano não foi Cliff. Não tinha ouvido falar sobre o cara que escolheram em vez dele, mas seu sobrenome me soava familiar. Lembrei que pertencia a uma família real no Ducado de Neris, uma das Nações Mágicas.

A Universidade de Magia de Ranoa pode até carregar “Ranoa” em seu nome, mas sua fundação partiu das três Nações Mágicas. Colocar seus nobres e a realeza em primeiro lugar provavelmente era uma regra subliminar.

— Eu, Brooklyn Von Elsass, humildemente aceito!

— Que você possa encontrar seu caminho pelo rumo da magia!

Cliff observou com melancolia em seus olhos. Se fosse o antigo Cliff, era provável que ele estivesse tendo um chilique por não ser o orador. Sendo sincero, se analisar apenas as notas, nenhum dos outros graduados chegava perto dele. Suas notas finais eram de nível Avançado nos quatro braços de magia de ataque, cura de nível Avançado, desintoxicação de nível Avançado, barreiras de nível Intermediário, divino de nível Avançado. Além disso, ele tinha feito aquele relatório de pesquisa sobre supressão de maldição. Ele não conseguiu alcançar nível Santo, mas ainda assim, ninguém chegou nem próximo disso. Provavelmente nem se olhassem o histórico da escola. A única pessoa que podia competir era Roxy. Talvez.

Eu? Tudo que aprendi no colégio foi cura e desintoxicação, então não estava na disputa.

Além de suas excelentes notas, Cliff também tinha se tornado um padre Millis certificado. Você pensaria que passar dia e noite trabalhando para Elinalise teriam-no deixado ocupado demais para que ele conseguisse manter suas notas, mas elas não caíram nada. Ele aprendeu tudo que esta escola tinha a oferecer e agora era um adulto, de corpo e alma. Além disso, arranjou uma esposa gostosa e tiveram um filho, tudo bem familiar.

Algo verdadeiramente perfeito para um cara tão “médio” assim.

Então, e quanto àquela expressão tristonha? Provavelmente não se tratava de raiva por não ser o orador. Era melancolia enraizada em um pensamento profundo. Talvez ele ainda estivesse considerando minha proposta de alguns meses atrás, mas se fosse mesmo isso, estaria tudo bem por mim. Não haviam muitas decisões que valiam a pena serem tomadas que pudessem ser consideradas em apenas dois meses.

Com o término da cerimônia de graduação, fui me encontrar com Zanoba. Ele estava acompanhado de Ginger, que estava vestida em trajes formais; e Julia, que vinha logo atrás correndo, com um buquê em mãos. Ninguém mais parecia estar seguindo essa moda de roupa, então talvez fosse algo próprio do Reino de Shirone.

— Parabéns pela graduação, Zanoba — disse.

— Oh! Mestre, muito obrigado mesmo! — exclamou Zanoba. Ele vestia seu uniforme da Universidade de Magia de Ranoa. Seu design era um pouco voltado aos jovens, mas ficava muito melhor nele do que os trajes formais do Reino de Shirone.

— Vejo que você falou uma palavrinha ou duas me elogiando por conta da minha graduação… Devo dizer, fiquei chocado quando recebi aquela carta da Universidade.

— Ei, não foi nada demais, ok? Comparecer a coisas assim ajuda a esquecer.

É, sempre é uma aposta segura participar de cerimônias. Sylphie sempre parecia ter um pouco de arrependimento por não ter ido à sua própria cerimônia de graduação. Por outro lado, Zanoba podia ter visto este evento como nada além de um incômodo, já que ele era parte da realeza.

— Ou foi muito ruim?

— De forma alguma. Pensei que seria um tédio a princípio, mas para minha surpresa, não foi tão mal quando chegou minha vez…

A voz de Zanoba foi se diminuindo enquanto ele olhava ao seu redor. Os graduados estavam sendo cercados por seus calouros, cumprimentados pelos professores, todas essas coisas boas. O tipo de visão que te deixa com os olhos marejados após algum tempo.

Veja, aquele grupo ali estava reunido ao redor de Norn? Um menino, que parecia um demônio, estava segurando sua mão com um rosto vermelho como uma beterraba. Ao perceber que Norn parecia um pouco desconfortável enquanto seus colegas membros do conselho de estudantes estavam sorrindo de orelha a orelha, tive o pressentimento de que se tratava da clássica confissão de amor. Ou talvez fosse mais bonito, como um admirador do presidente do conselho só queria apertar sua mão.

Um encontro de fãs de Norn. Se eu vendesse os apertos de mão dela junto das figuras de Ruijerd, o fã clube dela provavelmente compraria várias. Espere, não queria fazer com que isso me gerasse lucro, então talvez eu não devesse…

Em outra direção estava Roxy, cercada por garotas. Cerca de cinco meninas estavam curvando suas cabeças para Roxy com lágrimas brotando de seus olhos. Roxy gentilmente sorriu e disse algo a elas. De repente, a emoção foi tanta que uma delas caiu no choro, e se agarrou a ela enquanto soluçava . O resto das meninas, comovidas pelas lágrimas, também começaram a chorar.

Haviam diversos outros clichês de formatura acontecendo pelo campus, todos com aquela atmosfera sentimental e suave que você só podia encontrar em uma graduação.

Não é que ninguém estivesse vindo na minha direção ou de Zanoba… Eu sabia que não era exatamente o “Senhor Popular” aqui, mas mesmo assim, era um pouco solitário.

Bem, a vida é assim.

Eu tinha uma reserva num pub depois disso. Eu, minha família, Linia e Pursena. Talvez eu chamasse Nanahoshi também, assim podíamos todos ter uma festinha. Orsted não conseguiria se juntar a nós, mas já tinha recebido suas parabenizações. Posso ter me sentido sozinho neste tipo de local, mas não era como se não tivesse meus amigos. Era hora de tentar esquecer sobre isso e ir para casa, ou pelo menos foi o que pensei.

— Sr. Rudeus.

Um homem solitário me abordou. Ele tinha cabelo loiro e macio, e parecia ter cerca de vinte anos de idade. Parecia vagamente familiar… Quem era esse cara, mesmo?

— É um prazer conhecê-lo. Meu nome é Brooklyn Von Elsass.

Ah, o orador da turma. Eu o vi hoje mais cedo, não?!

— Parabéns por se graduar como o melhor da turma. — Eu disse, curvando minha cabeça.

— Muito obrigado. — Ele respondeu, retornando o favor graciosamente. — Mas foi apenas pela influência da minha família que pude tomar este posto. Minhas notas sempre ficaram em segundo lugar em relação às de Cliff.

— Ah, pare com isso. Você é humilde demais…

Senti que estava prestes a começar a suar frio. Não queria dizer isso, mas estava pensando.

— De toda forma, independente das circunstâncias da minha família, me provei vitorioso quanto a Cliff no final. Bastante anticlimático…

Realmente, ele era o orador da turma. Não podia discutir com resultados. Entretanto, provavelmente não era o tipo de “vitória” da qual você podia se gabar.

— O que… me traz a você, Sr. Rudeus… — disse Brooklyn enquanto olhava diretamente para mim com um olhar resoluto. Credo, por quê? Talvez fosse algum tipo de confissão romântica? Ele tinha que derrotar Cliff antes de me convidar para sair? É isso que está acontecendo? Mas oh, céus, eu pertenço a outro alguém! Tenho minha esposa, minha outra esposa, minha outra outra esposa e meus filhos para cuidar…

— Quero te desafiar em um duelo.

Bem,. eu estava um pouco equivocado.

Um duelo… Desde que fiquei famoso por ser o “Segundo de Orsted”, fui abordado por alguns otários me pedindo um, mas… Qual a relação entre vencer Cliff e duelar comigo?

— Por quê?

— Certo. Por um tempo, fiquei interessado em verificar o quão forte me tornei. Nos últimos anos, tive a percepção de que minha força era excepcional, seguindo os padrões da pessoa média..

Excepcional? Bom, ele era o orador de turma. Tecnicamente. Fazia sentido que ele fosse um nível ou dois acima do mago médio.

— Mas você, Sr. Rudeus, alcançou alturas muito maiores.

— Acho que sim…

— Há muito tempo tenho o desejo de te desafiar. Desde o momento que te vi derrotar o Lorde Demônio Badigadi.

Brooklyn fechou seus punhos com força quando mencionou este momento.

— Venho de uma família de guerreiros. Quando voltar ao meu país de origem, serei o sucessor da família, contratarei subordinados e estarei em uma posição de comandar os outros. Uma vez lá, certamente perderei todas minhas chances restantes de testar minha força.

— Sim, não se pode agir de forma impulsiva quando se tem uma posição a manter.

— Exatamente. E é por isso que gostaria de usar esta última chance para te desafiar!

Brooklyn curvou sua cabeça com força.

Eu entendia perfeitamente. Todo homem fica curioso sobre quão forte realmente se é. Ele sabia que era acima da média. Sabia que havia pessoas acima dele. Também sabia que tinha uma pequena chance de vitória, mas queria me desafiar mesmo assim. Eu entendia sua vontade. Exceto por uma parte…

— De onde vem a parte de “derrotar Cliff”?

— Huh? — Brook parecia estar surpreso por essa pergunta. — Ouvi que ninguém podia te desafiar sem antes derrotar o Círculo Demoníaco dos Seis. Senhorita Linia, Senhorita Pursena e Senhorita Fitz já graduaram, Senhor Badi foi embora… e já derrotei Senhor Zanoba…

— …

O… Círculo Demoníaco de Seis?! Isso existia?! Só não sei quem começou isso. Derrotar todos eles para me desafiar? Imagine alguém ser tão rigoroso assim…

— Então, você venceu Zanoba? — perguntei.

— Sim. Ganhei dele numerosas vezes durante lutas de mentira como parte de nossas aulas.

— Uh, não me diga.

Quando olhei na direção de Zanoba, ele olhou para o outro lado.

… Bem, em uma batalha usando apenas magia, Zanoba provavelmente perderia, mas esse cara não conseguiria ganhar de Cliff todo esse tempo. Isso é o que é o que estava estendendo todo esse assunto até agora. Ele sabia que não tinha realmente vencido Cliff, mas graduar sem me desafiar significaria deixar sua última chance escapar, então ele veio pedir mesmo assim.

Entendi. Uma memória de graduação, huh?

— Suponho que devo derrotar aqueles que se graduaram também? — Ele perguntou.

Provavelmente estava querendo ter uma lembrança disso, mais do que queria ganhar, para tirar isso da frente. Como convidar uma garota para sair, mesmo sabendo que ela é muita areia pro seu caminhãozinho.

— Nah, tudo bem. Vamos fazer isso.

Não importava qual o mundo, as pessoas querem que sua graduação seja especial.

— Eu… Muito obrigado!

Brooklyn respondeu com mais uma curvatura agressiva.

— Hey, Zanoba, posso te pedir para julgar?

— Entendido, Mestre.

Entreguei meu casaco a Zanoba. O pensamento de usar a Armadura Mágica passou por um momento pela minha cabeça… Mas achei melhor deixá-la fora disso.

 

Separador Tsun

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Tudo durou cerca de quatro horas.

Não há por que te deixar no suspense: eu venci. Não passei todas aquelas sessões de treinamentos diários com a Rei da Espada Eris e o Deus Dragão Orsted brincando com meus polegares. Nosso duelo não era nem remotamente próximo; eu o nocauteei. Imaginei que Brooklyn não quereria que eu pegasse leve. Por conta do sorriso de alívio com o qual me agradeceu depois, parecia que ele também sabia como isso ia terminar.

Essa parte estava ok.

Depois disso, alguns outros graduados que estavam assistindo a batalha começaram a vir um após o outro, cada um me desafiando para testar sua própria força. Eles diziam que tinham ganhado de Zanoba em um concurso de comer, ou vencido Cliff em uma corrida, ou qualquer outra desculpa que eu não conseguiria verificar. Os espectadores chegaram aos montes, e, de repente, eu era o centro de uma multidão.

Estava começando a gostar disso. Podem vir. Ei, era uma graduação, e não era eu quem tinha criado aquela história de Círculo dos Seis, de qualquer forma. Até mesmo Norn deixou de lado seu incômodo usual, e gastou sua energia utilizada para dirigir os membros do conselho de estudantes para organizar a fila. Ela renunciou à tarefa de prevenir o caos sem diminuir a brutalidade natural das crianças na graduação. Desculpe, Presidente.

— Phew…

E então, meus duelos com cerca de vinte outras pessoas acabaram. Todo o meu treinamento tinha me fortalecido, mas até mesmo eu estava um pouco destruído. Todos pareciam satisfeitos; todos os rostos tinham essa leve feição de contentamento. Eu esperava que ajudasse a criar memórias para as crianças que estariam de volta a suas terras natais.

Por fim, a multidão foi embora. Norn tinha que limpar o salão de assembleia; então ela me disse para ir para casa sem ela, antes de desaparecer. Os únicos restantes eram Zanoba e seus assistentes.

— Você certamente é popular, Mestre.

Zanoba parecia exausto depois de todo aquele julgamento. Ele era alguém que era bastante forte ofensivamente, mas sem resistência alguma.

— Devo dizer, estou muito debilitado… E você, Mestre? Você não está um pouco cansado?

— Nah, estou bem. Acho que nos sujamos um pouco, só. Temos que nos trocar antes da festa de hoje mais tarde.

— Hmm… Bom ponto. — Zanoba disse, conforme olhava para sua roupa. Elas estavam cobertas de terra e areia que as ondas de choque daqueles feitiços mágicos tinham jogado em cima dele. Claro, isso era dobrado para mim, aquele no qual os feitiços foram mirados.

— Então voltemos às nossas casas por ora. E quanto a sua irmã?

— Norn disse que não se juntaria a nós, e ela já disse isso às pessoas no salão, então ela deve chegar sozinha.

— Entendo. Bem, então…

Por um momento, o olhar de Zanoba voou para algo atrás de mim, só um pouco acima da minha orelha. Virei para procurar o que ele estava olhando.

Encontrei.

Uma cabeça de cabelo curto e castanho escuro estava nos olhando do telhado. Ao lado dela, havia uma cabeça de cachos louros agitados pelo vento.

— Julie, Ginger — disse Zanoba.

— Sim?

— Me desculpem, mas posso pedir a vocês para retornar à nossa casa na minha frente e preparar uma muda de roupas para quando chegar?

— Entendido.

As duas acenaram com a cabeça e foram embora. Pensei que eles tinham decidido que Ginger não era mais uma serva, mas ela parecia bastante subserviente para mim. Acho que hábitos antigos demoram a desaparecer.

— Agora, Mestre, voltemos.

— Claro. — Fiz que sim com a cabeça para Zanoba e entramos na escola.

— Eu vi tudo, Rudeus. Você arrasou.

Cliff me saudou com uma expressão cansada quando chegamos no telhado. Elinalise estava ao seu lado, mas longe. Eu sabia que ela tinha vindo à cerimônia; pois havia deixado Clive na nossa casa mais cedo, afinal. Não sabia que ela tinha vindo em seu uniforme escolar, até por conta de ter saído da escola e tudo o mais, entretanto eu me contive em perguntar o motivo pelo qual ela usava aquele uniforme.

Ei, hoje era uma cerimônia de graduação. Faça o que te faz feliz.

— Você se refere a como eu mostrei a eles por que me chamam de “Mão Direita do Deus Dragão”?

— Não seja ridículo. Você podia ter feito isso facilmente mesmo antes de lutar contra Orsted.

— Justo.

Cliff descansou contra o gradil do telhado.

— Então, Cliff, o que está fazendo aqui em cima?

— Não tem motivo. — disse Cliff enquanto olhava para o céu. — Só fiquei com vontade de ir para algum lugar alto.

Só ficou com vontade, huh? Ei, todos temos momentos assim. Como eu não me sentia bem com alturas, minha melancolia geralmente me levava ao túmulo de Paul.

— Bem, parabéns na graduação, Cliff.

— Obrigado.

Andei até ficar ao seu lado e descansei meu próprio corpo contra o gradio. Zanoba se juntou a Cliff do outro lado. Elinalise ficou um pouco mais longe de nós, nos observando.

Cara… nós estávamos acertando em cheio a estética de “protagonista de história adolescente olhando em direção ao seu futuro”. Parando para pensar, Cliff tinha todo o futuro pela frente. Vinte e dois anos, casado, com um filho e acabado de se formar na universidade. Com esse novo capítulo na vida, novos desafios de certo surgiriam… Espera, não, eu estava sendo bobo. Hora de ficar sério. Foco no que realmente importava num momento como este.

Precisamos falar do pós-festa.

Ele disse antes que viria, e seria um saco se uma das estrelas do show não aparecesse.

— Cliff… O que você vai fazer depois disso?

Você sabe que horas ele chegaria aqui? Ele viria direto conosco para a festa ou ele teria que ir, uh, fazer um “pré-jogo” com Elinalise antes? Isso era o que queria dizer com essa pergunta.

— …

Cliff respondeu com silêncio. Ele estava ficando tímido? Ele e Elinalise ainda tinham algum tipo de brincadeira sexual de uniforme escolar para realizar?

— Eu… Pensei um pouco. Conversei com Elinalise também.

Cliff pausou por alguns segundos antes de suas próximas palavras.

— Mais um ano. Você pode me esperar?

  Por um instante, não sabia como processar o que tinha acabado de ouvir. Nossa reserva no pub era hoje. Eles nos fariam reservar de novo, com certeza.

— Até que seu filho cresça um pouco mais, você quer dizer? — Zanoba perguntou.

Oh, certo. Claro! Cliff disse há dois meses que daria uma resposta na cerimônia de graduação. Ei, eu não tinha esquecido ou coisa do tipo. É só que tínhamos a graduação e a festa hoje, então não queria pressioná-lo até depois dos eventos.

— Sim. Clive ainda é muito pequeno. Gostaria de cuidar dele até pelo menos o desmame.

Cliff parecia severo enquanto olhava para baixo, na direção da Cidade Mágica de Sharia. A cidade se estendia sobre nós. Não sabia dizer se era por causa do telhado azul, mas, cara, minha casa realmente se destacava como um dedão inchado…

Parando para pensar, esse telhado não estava aqui quando chegamos. Três anos atrás, antes da última renovação, foi enviada uma pesquisa perguntando o que a construção precisava. Pedi um telhado, mas essa foi a primeira vez que percebi que ele tinha sido construído de fato.

— Vai levar cerca de dois anos para viajar até o País Sagrado de Millis saindo daqui, entretanto, Rudeus, se eu utilizar o círculo de teletransporte na sua casa, posso encurtar esse tempo. Não sei por quanto, mas devo ter pelo menos um ano de diferença.

Cliff parecia pensar que era seu dever retornar para casa após dois anos de graduado. Sempre mantém sua palavra, huh?

— Você vai me deixar usar o círculo mágico, não vai?

— Claro.

— Agradeço.

O círculo de teletransporte era um tabu. Usá-lo não para uma emergência, mas por conveniência pessoal, era algo que pesava bastante para o calado Cliff.

— Além disso, Rudeus, quanto a me juntar a você…

— Sim?

Cliff hesitou em dizer isso. Parecia que eu estava prestes a ser rejeitado. Pelo menos queria ouvir seus motivos, para que pudesse persuadi-lo uma última vez…

— Eu queria que você esperasse por isso também.

— Oh, esperar?

— Sim. É fato que ter o apoio do Deus Dragão Orsted me permitiria chegar a uma posição alta dentro da Igreja Millis.

Isso era certeza. Orsted sabia muito sobre o funcionamento interno da Igreja Millis. Pelo menos ele tinha provavelmente aprendido quais fraquezas de quais oficiais importavam quando estava em seus muitos longos loops.

— Mas eu sinto que isso não seria correto.

— …

— Uma parte de mim quer saber quão participativo dentro da Igreja Millis os esforços que fiz podem me levar… Mas eu também não quero me sentar em um assento que outra pessoa me entregou.

Cliff cerrou seus punhos enquanto falava. Acho que entendi. Ele era igual aos caras que me desafiaram naqueles duelos. Ele queria testar sua força. Era a parte de Cliff que o fazia um homem.

— Se esses esforços me levarem ao topo da Igreja Millis, então me tornarei seu aliado.

Hmm… Eu certamente gostaria se Cliff conseguisse fazer isso sozinho, mas sempre havia a chance que ele não conseguisse. Se ele acabasse por perder sua posição, eu poderia viver com isso. Encontraria outro caminho para chegar à Igreja Millis e contrataria Cliff para ser o designer pessoal de capacetes de Orsted, ou algo do tipo. Mas essa não era a única forma que as coisas poderiam acontecer. O pensamento de sua vida terminar em um assassinato me fazia mal. Ele poderia morrer, mas se fosse o caminho que Cliff escolheu, eu não tentaria convencê-lo a sair dele.

— A propósito, Senhor Cliff — Zanoba disse no meu lugar. —, você planeja viajar sozinho daqui a um ano? E quanto à sua família?

Isso era verdade. O que ele planejava fazer quanto à Elinalise e Clive? Cliff parecia aflito, uma mistura de angústia e vergonha inundou seu rosto. Ao mesmo tempo, ele estava decidido.

— Vou deixá-los.

— Por… quanto tempo?

— Até que eu seja um homem de verdade, pelo menos.

Um homem de verdade, huh? O que significava que ele não sabia por quanto tempo. Olhei para Elinalise; seus olhos estavam fechados e seus braços dobrados em frente à sua barriga. Ela não tinha nenhuma ilusão.

Mas isso era ok? Elinalise certamente queria estar ao lado de Cliff, se pudesse, para cuidar dele e dar a ele o apoio que ele precisasse. A maldição importava, também. O implemento mágico de Cliff podia diminuir os sintomas da maldição, mas ainda não faria efeito por muitos anos. Eu não estava na posição de me intrometer aqui. Cliff tomou essa decisão com sua esposa.

Cliff estava em uma encruzilhada e ele decidiu.

— Entendo. — Eu disse.

Respeitar os desejos de Cliff vinha junto de seus riscos. Se Cliff morresse em algum lugar fora do meu controle, então eu perderia minha única conexão com o País Sagrado de Millis. Também perderia alguém que podia fazer pesquisas sobre maldições. Como um risco, entretanto, pode ser que houvessem dividendos. Cliff teria mais chances de crescer se ele começasse a se virar sozinho, e esse crescimento faria dele um aliado formidável quando chegasse a hora. Eu não sabia dizer se isso compensava os riscos, mas era certamente possível que sim. Como uma atitude lógica, não era má.

Cliff tomou sua decisão e Elinalise concordou. Eu tinha que respeitar isso.

— Bem, então vejo você de novo daqui a um ano.

— Sim. Assim como eu.

Cliff estendeu sua mão. Eu a segurei e o cumprimentei com força.

Isso posto, se eu tivesse que esperar até que Cliff se tornasse um homem de verdade, isso seria três anos sem saber se ele se juntaria a nós ou não. Isso significava que eu precisava colocar Cliff de lado e focar em outra coisa.

Como por exemplo… Bem, dizer olá para Ariel seria um bom começo. Zanoba tinha acabado de começar com a venda de estatuetas, e eu tinha que me certificar de que o Bando Mercenário continuava com o recrutamento. Para conseguir esses dois objetivos, queria expandir em direção ao Reino de Asura. Talvez usasse esse ano para planejar como conquistar Asura. Isso me deixaria bastante ocupado, mas primeiro… Hora de festejar!.

— Tá bom, Cliff. Chega de conversas pesadas, vamos passar o resto da noite nos divertindo como nunca antes!

— Sim… Vamos lá!

E essa foi a graduação de Cliff e Zanoba.

 


 

Tradução: gtc

Revisão: Akira C-137

QC: Pride

 

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