Dark?

Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 19 – Cap. 10 – Esforços Feitos em Pedaços

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No meio do caminho, nos encontramos em uma batalha com o Deus da Morte. Não tinha planejado lutar contra ele sem a Versão Original, mas era tarde demais para voltar agora. Não podia hesitar.

— Raaaaaah!

Zanoba fez o primeiro movimento, correndo para frente pelo salão.

Estávamos lutando contra um dos sete lutadores mais poderosos do mundo, mas ele não parecia se importar. Com toda a sofisticação tática de um javali selvagem, ele correu na direção de Randolph e o atacou com aquele taco massivo, gritando enquanto o fazia.

— Céus! — exclamou o Deus da Morte enquanto cuidadosamente se esquivava do ataque; exatamente como esperava que fizesse. Você não conseguia ser pego por umr dos ataques de Zanoba, já que quase sempre seria um crítico de quebrar os ossos. O problema era que não tinha muitas chances de acertar Randolph.

Era meu trabalho mudar isso. Já tinha conjurado Atoleiro no exato local onde Randolph tinha parado.

— Oh, céus…

Conforme seu corpo afundava na lama, o corpo do Deus da Morte balançava.

— Golpe gélido!

Neste exato momento, Roxy lançou um feitiço ofensivo no tempo exato. O Deus da Morte o rebateu com um golpe de sua espada, mas o movimento o deixou ainda mais desequilibrado que antes.

O próximo ataque de Zanoba já estava a caminho. Com toda a força que tinha possibilitado que mantivesse a Rei Demônio Imortal imóvel, golpeou seu taco com uma força que quebraria uma rocha.

Mesmo com sua postura esquisita, o Deus da Morte conseguiu evitar esse segundo ataque de forma ágil, mas estava claro para todos de quenão estava em condições de contra-atacar. Ele caiu com seu traseiro para baixo: as solas dos seus pés no ar, espada apontando na direção errada, peso apoiado em seu cotovelo esquerdo.

O olhar em seu rosto era de pura perplexidade.

— O que aconteceu? Não pode ser…

Tínhamos uma chance de finalizá-lo. Olhei para Roxy, então dei um passo adiante.

Zanoba, por sua vez, já estava correndo para o ataque. Segurei minhas duas mãos na direção do Deus da Morte e direcionei mana para elas. Se Zanoba emendasse este ataque, ganharíamos. Se não, usaria meu Olho da Previsão para disparar Eletricidade em qualquer direção para a qual Randolph se movesse. Uma vez que eu o tivesse paralizado, usaria a arma mágica em meu braço esquerdo para acertá-lo com um bombardeio de Canhão de Pedra. Ainda que, de alguma forma, conseguisse desviar de tudo aquilo, Roxy e eu poderíamos manter a pressão constante até que perdesse o equilíbrio de novo. Por fim, ele acabaria cedendo

Não tínhamos trabalhado essa estratégia previamente ou qualquer coisa do tipo, mas acabamos por coordená-la perfeitamente. Nós encurralados Randolph.

— Hrrngh!

Mais uma vez, Zanoba golpeou Deus da Morte furiosamente com seu porrete.

Entretanto, algo inacreditável aconteceu dessa vez.

O Deus da Morte bloqueou seu ataque. Ele bloqueou o taco de Zanoba, balançado com a força inumana de uma Criança Abençoada. E fez isso apenas com sua mão.

Foi um incrível feito de força. Era claro que o homem tinha ganhado seu posto dentre os Sete Grandes Poderes.

No fim, porém, isso não ia salvá-lo. Seu braço quebrou por conta da tensão. Era agora: xeque mate.

Mova-se, Zanoba! — gritei.

Zanoba saltou por reflexo para um lado, e um clarão de relâmpago roxo saiu da minha mão direita. Com um estalo que permaneceu no ar atrás dele, o raio de eletricidade atingiu o Deus da Morte e dançou pelo seu corpo.

Acertei um ataque direto.

O corpo de Randolph estava enrijecido pelo choque e estirado como uma árvore caída. Ele me encarou, um rosto pálido misturado com atordoamento. Sua Aura de Batalha pode ter prevenido meu feitiço de fritá-lo vivo, mas não pôde prevenir a paralisia que causava.

Agora tudo que tinha que fazer era finalizá-lo. Mana se direcionou à arma que eu equipava no meu braço esquerdo, e disparei meu ataque em sequência.

— Gatilho de espingarda!

Uma chuva de feitiços de Canhão de Pedra, cada um com o poder de ataque de um nível de Rei ou Imperador, voou em direção ao Deus da Morte. Esse Canhão de Pedra era meu movimento preferido; minha especialidade. Orsted havia elogiado seu poder; quando eu o atingia diretamente no alvo, era capaz até de machucá-lo. Meu tempo era perfeito, a oportunidade era bonita demais para ser ignorada. O Deus da Morte não tinha como se esquivar disso. Esse não era um ataque que você podia só desviar.

Nós ganhamos.

— …Huh?

E então, um décimo de segundo depois que estava convencido de que era o fim, todos os meus Canhões de Pedra desapareceram. Reduzidos a montinhos de areia no ar, caíram sem fazer nem cócegas no meu alvo.

Eu não conseguia entender.

— Oh! Sir Deus da Morte! — berrou Randolph, seu olhar se voltava para algo atrás de mim. — Você veio para me salvar?!

O quê?! O Deus da Morte?! Não era contra ele que estávamos lutando agora mesmo?! Ele estava mentindo para nós desde o começo?!

Com o coração batendo forte, virei para trás à procura desta chegada repentina. E no salão atrás de nós, eu vi…

Absolutamente ninguém.

A única coisa atrás de nós era uma escadaria vazia, iluminada pela lua.

— Rudy!

Quando ouvi Roxy gritar meu nome, já estava caindo. Conforme me lançava para trás, vi um pedaço de cabelo azul na minha cintura. Ela tinha se jogado contra mim. Sem tempo para me perguntar por quê, me virei no ar para abraçá-la, protegendo-a.

Atingi as escadas com minhas costas um instante depois. Minha Armadura Mágica rangeu em protesto, mas eu não estava ferido.

— O que…

Olhei de volta para o corredor e vi um Zanoba bastante assustado… E o Deus da Morte, que tinha claramente acabado de balançar sua espada.

Ele estava se movendo normalmente. Não havia paralizado ele com Eletricidade? Não estava preso no chão? Não fazia sentido. O que diabos estava acontecendo?

— Um conselho, Sir Rudeus: um Deus da Morte sempre fica atrás de sua presa.

Seu rosto estava perfeitamente calmo, seu tom completamente confiante.

E por fim, por fim, eu entendi. Tinha sido uma encenação. Ele permitiu que eu o chocasse com meu feitiço. Ele deliberadamente tropeçou. Deliberadamente caiu. Tudo isso, só pra me fazer olhar para trás.

Maldição! Orsted me avisou sobre a forma que Randolph luta! Eu devia ter percebido esse truque muito antes!

Ainda assim, como tinha conseguido fazer aquele truque mais cedo? Por que meus Canhões de Pedra só desapareceram assim? Ele usou Olho Demoníaco de alguma forma?

…Não. Pensando agora, eu já vi isso antes. Aconteceu a mesma coisa quando usei mágica naquela Hidra de Manatita. O que significava que…

— Você tem uma Pedra de Absorção, huh?

— Ora, ora, — ele disse. — Você percebeu isso bastante rápido… Parece que sua reputação foi merecida.

O Deus da Morte abriu sua mão, dedos bem abertos. Uma Pedra de Absorção estava cravada na palma da sua manopla de couro. Não tinha percebido antes, mas ele deve ter usado para drenar a mana dos meus feitiços. Orsted nunca mencionou nada sobre ele ter uma dessas…

Podia ser uma das pedras que nós trouxemos de volta daquele labirinto em Begaritt? Não seria surpreendente que um cavaleiro de elite do Reino do Rei Dragão coletasse itens daquele tipo… E esse era o tipo de coisa que podia ter escapado do olhar de  Orsted.

Bem, não importa. Fiquei um pouco convencido a princípio, mas nunca esperei que venceria um dos Sete Grandes Poderes com facilidade. Seria difícil vencer alguém capaz de cancelar totalmente minha mágica, mas sabia exatamente como aquelas pedras de absorção funcionavam. Você tinha que estender sua mão na direção do feitiço que estava vindo na sua direção e alimentar a pedra com um pouco de mana. Só precisava tornar isso impossível.

Ficar atrás dele parecia ser a forma mais fácil. Essa aterrissagem não tinha nos dado muito espaço para manobras, mas com nós três trabalhando juntos, devia ter alguma forma de conseguir nosso objetivo. Pelo que parecia, ele só tinha uma daquelas pedras consigo. Talvez se Roxy e eu conjurássemos feitiços na direção dele simultaneamente pela frente e por trás, enquanto Zanoba ia em direção ao ataque…

Bem, eu sabia que não seria tão simples assim. Mas se não funcionasse, podíamos tentar outra coisa. Tentativa e erro era nossa única real opção aqui. Ele teria que cair uma hora, certo?

— Roxy, eu preciso que você fique atrás de Zanoba, por favor.

Silêncio. Não houve resposta. Parando pra pensar, Roxy não havia movido um músculo desde que caímos aqui, né?

Espera. Minha mão estava molhada? Parecia que seu ombro estava um pouco úmido ou algo do tipo…

— …Hm?

O que diabos? Está todo vermelho…

— Roxy? O q… Oh, deus. O que é isso?

Havia um longo corte na roupa de Roxy, e sangue saía por debaixo dele.

Meu coração estava saindo pela boca. Memórias do passado passavam vividamente pelos meus olhos: imagens de um homem que morreu me empurrando para me salvar. Imagens do seu corpo estirado sem vida no chão.

Paul morreu para me salvar. E agora a história estava se repetindo novamente…

Roxy! Não! O quê?! No, eu devo estar sonhando!

— Não, não! Isso não pode estar acontecendo! Roxy!

— …Temo que esteja acontecendo — ela murmurou. — Você pode por favor parar de cutucar minha ferida? Dói.

Alterei a direção do meu olhar, mirando seus ferimentos, e encontrei Roxy olhando fixamente com os olhos semicerrados de uma mulher bastante irritada.

— Uhm, certo. Desculpe.

Exagerei um pouco na minha reação. Quando soltei Roxy dos meus braços, ela murmurou um feitiço de cura que parou o sangramento imediatamente.

Graças a deus. Ela me assustou pra caramba por um segundo aqui…

— O que é isso? — murmurou Randolph de cima, coçando seu queixo como forma de indagação. — Eu estava bastante certo de que tinha realizado um ataque fatal.

Admito que me arrepiei um pouco com essas palavras, mas minha esposa estava obviamente bem. Parecia um pouco estranho que um cara que se considerava a si mesmo o Deus da Morte não sabia dizer se ele matou alguém ou não.

Mais sorte da próxima vez, idiota. Vamos voltar ao assunto.

— Hm?

Então, houve uma série de cracks audíveis do entorno do pescoço de Roxy. Vi o colar que tinha dado a ela antes de sairmos se quebrar e se partir em fragmentos no chão. Um momento depois, o anel que ela usava no dedo se espatifou também.

Como lembrava… aquele anel tinha o objetivo de formar uma barreira como resposta a ataques físicos. E o colar era projetado para absorver um único golpe letal.

— Ah, então foi isso — disse Randolph com calma. — Agora eu entendo.

Estremeci de maneira involuntária. Senti como se uma nevasca uivava pelo meu corpo, drenando todo meu calor e confiança conforme passava. E eu podia jurar que aquela frígida rajada de vento vinha de onde o Deus da Morte estava.

Conhecia esse sentimento. Tinha perdido minha calma. Mas reconhecer o problema não significava que eu podia fazer alguma coisa quanto a isso. Por reflexo, envolvi um braço ao redor de Roxy e a segurei perto de mim.

— R-Rudy…?

Essa foi a gota d’água. Tínhamos que parar. Não tinha me planejado além disso. Fiz aquele colar como uma política de segurança contra este cenário. Não foi sorte que manteve Roxy viva; em outras palavras, foi minha prudência. Mas não haveria mais nenhuma rede de proteção a partir de agora. O homem contra quem estávamos lutando podia nos matar instantaneamente com um único golpe.

Tentativa e erro? Quantas tentativas você podia esperar ter, contra um monstro como esse? Não tinhamos mais “Continues”. Se insistíssemos nessa luta, um de nós ia morrer.

O que diabos eu estava pensando, afinal? Entrar numa briga com um dos Sete Grandes Poderes à curta distância sem nenhum tipo de planejamento ou preparação? Orsted tinha me avisado para manter distância a não ser que eu estivesse usando a Armadura Mágica. Tudo isso foi um erro enorme desde o início.

— Zanoba, volte! Agora! Precisamos sair daqui!

— Mestre Rudeus?!

— Não podemos vencê-lo assim, ok?! Precisamos pegar a Versão Um se quisermos ter alguma chance!

Zanoba não abaixou seu taco, mas deu dois passos para trás e desaprovou minha atitude com o ombro.

— Oh, eu acho que você está lutando muito bem, — murmurou o Deus da Morte. — Em particular, aquele último ataque foi muito safado. Não sei se conseguiria resistir àquilo de novo, agora que revelei meu trunfo…

Não vou mentir, pensei que tínhamos vencido a princípio. Mas eu não ia engolir essa merda agora. Randolph estava mentindo para mim. Orsted tinha explicado com clareza. O Deus da Morte te persuadia a atacar ou defender. Essas palavras eram uma outra parte de sua técnica, isso era tudo.

Mas também… Eu tinha como ter certeza disso? Talvez se ele desligasse sua Lâmina Encantadora e falasse seus pensamentos reais. Esse comentário não era exatamente sutil, afinal. Casoestivesse tentando me fazer pensar que ele…

Arrrrgh! Vá para o inferno!

Conclusão: nada que esse homem dizia era confiável. Ainda assim, havia pelo menos uma coisa que eu sabia com certeza: eu não conseguia vencer o Deus da Morte. Não assim. Tinha me convencido disso em um único e aterrorizante momento.

Zanoba parecia se sentir diferente, entretanto.

— Se você não for lutar, Mestre Rudeus, só sente-se aí e assista. Vou enfrentar este homem sozinho, forçar meu caminho através dele e ver meu irmão frente a frente.

Mais uma vez, ele correu na direção do Deus da Morte.

Para mim, os próximos segundos se passaram em câmera lenta. Zanoba deu um passo, então outro, seu progresso era enlouquecedor de tão lento. Todas as cores se esvaíram do mundo e os sons se tornaram silêncio.

No meu Olho da Previsão, o Deus da Morte já estava se movendo. Muito mais rápido que o homem cambaleante com o qual lutamos mais cedo. Ele era um borrão, rápido demais até mesmo para meus superpoderosos sentidos acompanharem.

O tempo voltou ao normal.

O brilho de uma espada deixou uma pós-imagem no ar.

— Zanoba!

A espada de Randolph atingiu a parte baixa do flanco de Zanoba e cortou diagonalmente até o ombro. O conjunto de armadura de Zanoba se partiu, e seu corpo foi mandado voando para cima;  bateu no teto com força e despencou em direção ao chão bem na minha frente.

O mundo ainda estava estranhamente silencioso. Parecia que eu estava tendo algum tipo de pesadelo surreal.

— Huff… huff…

Meu coração estava batendo tão forte que doía.

Ele ainda estava vivo? Aquele golpe tinha pulverizado sua armadura. Seu grosso peitoral e sua ombreira tinham se partido como se fossem feitos de vidro. Como era possível despedaçar metal daquela forma com um única golpe de espada? Eu não conseguia nem começar a pensar.

— E pensar que meu Corte Quebra-cascos poderia ser suportado…

Com essas palavras do Deus da Morte, minha audição finalmente voltou ao normal.

Era verdade. Após melhor observação, não havia nenhum arranhão em Zanoba. A túnica sob sua armadura estava rasgada, mas não havia nada além de um hematoma azulado em sua pele por baixo.

— Urgh… Ggh…

Com um gemido, Zanoba se colocou em uma posição sentada e olhou com raiva para as escadas na direção de Randolph.

— Você é um espécime bastante impressionante, oh, Abençoado. Ao que aparenta, te fatiar em pedaços não parece possível.

O Deus da Morte encontrou seu olhar por cima, aquele sorriso horrendo esticado firme pelo seu rosto. Então, calmamente, guardou sua espada de volta à sua bainha.

— Dito isso, não sou adepto do Estilo Deus da Espada… Não sinto nenhuma emoção em ter que usar minha espada exclusivamente. Você é bastante vulnerável à magia de fogo, se bem me lembro. Rei Pax mencionou algo assim.

Oh, merda. Ele sabe usar magia também? Pelo menos a armadura de Zanoba deve anular qualquer fogo… Espera. Merda. Não tem como esse encanto funcionar com a armadura toda destruída assim.

Zanoba estava em pé de novo. O homem ainda não tinha desistido. Ele pegou seu taco e colocou um pé na escadaria, se preparando para correr de novo.

Roxy se levantou também. Ela deu um passo adiante com seu cajado levantado, pronta para apoiar Zanoba, e colocando-se como proteção na minha frente.

Por fim, me levantei. Zanoba era um homem muito teimoso. Ele podia ficar lutando até que Randolph literalmente o matasse. Não podia me sentar e deixar isso acontecer. Além disso, não podia deixar nenhum mal acontecer à Roxy. Se ela morresse aqui, eu morreria também (em espírito, no mínimo).

— Vocês não desistiram, então? — disse Randolph, estudando a nós sem nenhuma emoção particular em seus olhos. Ele não tinha assumido nenhuma postura, nem estava conjurando a encantação de um feitiço; ele só estava de pé lá, confiante e relaxado. Parecia que ele não tinha nenhuma intenção em lançar um ataque antes de nós.

Ele dizia que estávamos “lutando muito bem”. Que piada. Parecia que ele estava pegando leve com a gente. O cara tinha anulado todo meu  bombardeio de feitiços de Canhão de Pedra; podia ter cancelado toda a nossa mágica bem no começo. Ainda assim, em vez disso, ele nos deixaria rogar feitiços em sua direção e me persuadiria à imprudência. Ele podia muito bem ter outros truques na manga tão perversos quanto o primeiro.

O que Orsted me disse, mesmo? Quando você quer se defender, ataque… Quando você quer atacar, defenda-se? Pode isso significar que minha hesitação atual era exatamente o que o Deus da Morte queria?

Não sabia dizer. Não tinha ideia de como proceder. Ele me fazia questionar todo e qualquer pensamento. O colar de Roxy não existia mais. A armadura de Zanoba tampouco. Não tínhamos ideia do tipo de truques que nosso inimigo era capaz, e até a Versão Dois pode não me proteger de até mesmo um ataque.

Isso não ia funcionar. Simplesmente não ia. Nós precisávamos recuar, pelo menos por agora.

Mas e quanto a Zanoba?

Eu precisava acalmá-lo. Se isso não funcionasse, teria que desacordá-lo. Então podíamos voltar à Versão Um e nos reunir para outra tentativa.

— Você entende agora, Zanoba? Não há esperança. Se você continuar a correr na direção dele, você vai morrer.

— Mas, Mestre Rudeus, Pax podia ser…

— O Deus da Morte estava esperando por algo aqui — interrompi. — Nós temos algum tempo para raciocinar! Vamos nos reunir e voltar com um plano.

Vi Zanoba hesitar. De certa forma, ele precisava saber que não tínhamos chance nenhuma neste momento.

— Oh, vocês estão indo embora agora? — Disse Randolph. — Que pena… Acho que Sua Majestade vai terminar logo mais.

Ignore ele. É outra armadilha…

— Sim. Mas nós vamos voltar logo — avisei, observando o Deus da Morte com cautela. A única questão agora era quão facilmente ele nos deixaria ir embora. — Desculpe-nos por atacar você tão repentinamente, tudo bem? Acho que nos deixamos levar um pouco. Você acha que pode ter um pouco de compaixão e nos deixar ir por ora?

Não estava esperando que essa patética lamúria fosse funcionar, claro. Até enquanto  falava, estava mantendo minha respiração constante e procurando algum sinal de como ele podia reagir. O mais provável era que teríamos que lutar para voltarmos até a Armadura Mágica pelo caminho que nos trouxe até aqui; uma vez que conseguíssemos, poderíamos finalmente nos virar e batalhar. Se ele escolhesse não nos perseguir por todo o caminho, melhor ainda.

— Bom, se é isso o que você quer… vá em frente.

Huh? Espere, ele vai simplesmente nos deixar ir embora?

Isso foi um pouco anticlimático. As ações de Randolph não pareciam especialmente… coerentes. Qual era seu objetivo aqui?

— Uh, Sir Randolph, — disse, — quais instruções o Deus-Homem te deu, afinal?

— Hm? Nenhuma. Eu nunca o encontrei.

O quê?! — Mas… Você disse que sabia o nome dele!

— Um parente meu tinha relações com ele algum tempo atrás, e aprendi seu nome, — Randolph explicou. — É só isso que eu sei, sério. Eu nunca vi esse tal de Deus-Homem ou me comuniquei com ele de forma alguma.

Oh, merda. Então isso significa que… — Você não é um dos discípulos dele?

— Não tenho muita certeza do que o termo implica, mas creio que não.

Caramba! Eu me precipitei de novo! O que está acontecendo comigo recentemente?!

Pedi maiores esclarecimentos:

— Isso significa que você não é um inimigo do Rei Pax também?

— Eu sou um convicto aliado de ambos Rei Pax e Rainha Benedikte, te asseguro. Eles foram os únicos que já elogiaram minhas receitas, sabe…

Exasperado, continuei a pressioná-lo.

— Então não há nenhum estranho ritual acontecendo aí dentro ou algo do tipo? E você não está apenas ganhando tempo até que ele acabe?

— Bem… acho que você pode chamar isso de um tipo de ritual. Mas eu não gostaria de elaborar com uma moça tão jovem presente no recinto.

Os olhos do Deus da Morte se direcionaram à Roxy enquanto ele falava, e ela franziu a testa diante do comentário condescendente. Para ser justo com Randolph, ela realmente não parecia ser uma mulher casada e com filho.

De toda forma. Com todo o trabalho que estava tendo processando tudo isso, parecia que essa luta tinha sido totalmente desnecessária. E neste caso… Era provável que eu devesse um pedido de desculpas ao Death God, não devia?

Sim. Parecia que sim.

— Uhm… Ok, então. Sinto muito por me precipitar. Parece que estamos do mesmo lado então… deixe-me pedir desculpas novamente por atacar você dessa maneira.

— Não. Foi minha culpa também — respondeu Randolph, curvando sua cabeça para nós. — Eu devia ter me explicado melhor.

Wow, que cara legal! Fico feliz que tenhamos esclarecido isso…

Ugh. Espere um segundo. E se tudo isso for só uma outra parte da sua encenação? E se ele só está ganhando tempo enquanto carrega seu super ataque letal instantâneo ou algo do tipo? Ok, exemplo estúpido. Mas nunca se sabe!

Caramba. Eu não consigo nem pensar direito mais. Se esse for de fato o próximo número no seu show de marionetes, ele me colocou pra dançar tango na palma de sua mão.

— Oh?

Bem quando estava começando a ficar todo estressado de novo, Randolph olhou para trás e visivelmente relaxou. Não ia abaixar minha guarda nem um pouco, claro. Não ia me deixar ficar desatento agora.

— Parece que acabou… — Randolph murmurou.

Acabou? O que acabou, Randolph? Nossas vidas?!

— Vamos lá, não tem por que ficar tão desconfiado —disse, olhando na minha direção. — Não tenho nenhuma intenção em matar vocês.

— …Uh-huh, bastante confiável. Você não disse algo sobre um golpe fatal mais cedo? Talvez eu estivesse ouvindo coisas?

— Haha, acho que você me pegou aí… devo dizer, você é bastante perspicaz, Sir Rudeus.

Ah, ótimo. Fiz o Senhor Cara-de-caveira rir. Não que eu estivesse tentando.

— Em todo caso, Rei Pax ordenou que eu não deixasse ninguém entrar até que a coisa estivesse finalizada. E agora está, então cumpri com minha missão. — Retornando a espada para sua posição em sua cintura, Randolph sentou-se de volta em sua cadeira com um leve suspiro. — Por favor, sintam-se livres para entrar.

Podia isso ser outra armadilha? Talvez ele planejou em nos cortar todos na metade no momento em que passássemos por ele. Parecia plausível para mim.

Randolph nos estudou antes de perguntar:

— O pensamento de me mostrar suas costas te incomoda? Acho que posso me desculpar também…

— Isso não será necessário — disse Zanoba, guardando seu taco de volta em sua cintura. — Nós acreditamos na sua palavra.

E então, inspirado pelo exemplo corajoso do meu amigo, finalmente decidi acreditar que a batalha estava de fato encerrada. Nossa luta contra o Deus da Morte terminou tão estranha quanto tinha começado.

 

Separador Tsun

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As câmaras do rei ocupavam todo o andar de cima do palácio real. Era a suíte mais chique que alguém podia querer; um extravagante testamento da riqueza do Reino de Shirone. As paredes estavam alinhadas com pinturas. Lindas estátuas posicionadas em mesas finamente confeccionadas. E próximo aos fundos do quarto, havia uma enorme cama com cortinas (aquilo devia ter quase cinco metros de largura).

Os cobertores estavam amarrotados. No meio da cama, uma menina de cabelo azul estava enrolada neles, dormindo em silêncio. Era a Rainha Benedikte, e a julgar pela roupa jogada espalhada pelo chão ao redor, ela estava dormindo nua.

Um odor familiar pôde ser sentido no ar. Duas pessoas muito recentemente tinham se amado bastante… de uma forma que você não pode descrever próximo a uma criança. Então Pax e sua rainha estavam ocupados até alguns momentos atrás. Este homem estava ciente de que seu reino estava ruindo ao seu redor, certo? Isso é o que eu chamo de indiferença.

Pax estava na varanda neste momento, dependurado no gradil e observando a capital abaixo. Seus membros curtos e sua cabeça larga faziam-no parecer quase como uma criança, e suas feições eram mais rústicas do que reais. Estava vestido apenas em sua roupa de baixo, mostrando costas que eram moderadamente musculares. Também era coberta de cicatrizes e feridas escondidas.

A história da sua vida estava escrita em seu corpo.

— Estava me perguntando o porquê de toda a comoção. Então você retornou, irmão?

No instante que Pax se virou para nós, percebi quão errado estava quanto ao seu estado mental. Ele tinha o rosto de um homem exausto. Um homem à beira de desistir de tudo. Mas parecia estranhamente calmo também. Randolph disse algo sobre Pax “aceitar” a sua situação. Ao que parecia, houve alguma… companhia nesse processo.

Quero dizer, já estive nessa posição. Às vezes você precisa deixar sair tudo…

— Sim, Sua Majestade. Estou aqui para resgatá-lo. Permita-nos abandonar o palácio e ir até o Forte Karon juntos.

Zanoba se dirigiu até a varanda e estendeu sua mão para seu irmão. Pax olhou com dúvida por um momento, então bufou:

— Você quer me resgatar? Você não pode estar falando sério.

— Vossa Majestade, o mais sábio seria desistir desse posto por ora e reunir nossa força em outro lugar. Você pode retomar o palácio para si a qualquer momento uma vez que reunirmos um exército de tamanho suficiente.

— … E então? Eu repito o ciclo de novo?

Pax encontrou com o olhar de Zanoba com olhos tão tristes que eu quase me arrepiei. Se você me dissesse que ele era o verdadeiro Deus da Morte, seria quase plausível naquele momento.

— Repetir… que ciclo, Vossa Majestade?

A resposta à pergunta de Zanoba foi outro bufo de desdém. Murmurando “como se você fosse entender” em um sussurro, o olhar de Pax se voltou para fora da varanda novamente.

— Tão cômico quanto possa parecer agora, fiz o meu melhor para governar esse reino bem. Demiti os ministros corruptos que meu pai deixou para trás e dei seus postos a outros mais merecedores. Reuni mercenários para servir de guarda frente à ameaça de guerra. Não vou negar que a segurança pública sofreu como resultado… Mas eu estava tentando garantir um futuro para Shirone.

Pax se dependurou na grade da varanda, e então apontou para Zanoba.

— Essa foi a mesma razão pela qual permiti seu retorno, irmão, e te dei aquela missão sem cabimento. Parecia a escolha mais sábia disponível. Sendo sincero, ainda te odeio, mas te respeito pela sua utilidade como uma Criança Abençoada.

— Tenho bastante ciência disso, Vossa Majestade. E entendo quão difíceis essas decisões foram para você.

A resposta de Zanoba soou calma e razoável para mim. Mas por alguma razão, parecia enfurecer seu irmão. Cerrando suas duas mãos em punhos fechados, Pax olhou para ele com uma fúria amarga em seus olhos.

— Você não entende nada! Ninguém me entende, e ninguém tenta me entender. Apenas olhe, seu idiota. A prova está bem na frente dos seus olhos!

Com um amplo balanço de seu braço, o rei fez um gesto ao mundo na frente da sua varanda. A cidade bem abaixo de nós dorme silenciosa durante a noite, mesmo com o anel de fogueiras rebeldes acesas por todos os lados. Podia-se notar com clareza a enorme multidão concentrada ao redor dos muros da cidade; suas fogueiras e tendas eram visíveis daqui. A essa distância, realmente parecia que Latakia estava cercada por um exército massivo.

— Uma horda de soldados, minhas próprias tropas, e ainda assim elas não fazem movimento algum para triturar esses rebeldes!

— Você está enganado, Vossa Majestade. A vasta maioria daquela multidão consiste de cidadãos ordinários, não soldados. Muitos dentre eles são apenas mercadores ou aventureiros de origem incerta.

— Que diferença isso faz?! — gritou Pax, severamente, batendo seu punho contra o gradio. — Ainda assim é prova que todos neste reino me rejeitaram!

Estava começando a me sentir um pouco alarmado, mas me forcei a me manter olhando em silêncio. Esse não era o momento de falar. Zanoba era a única pessoa aqui que podia ser capaz de acalmar seu irmão.

— Isso não é verdade. Nem todos os seus servos se viraram contra—

— Não venha com essa! Você sozinho podia ter liderado um exército até essa cidade, mas em vez disso só há três de vocês. E os outros dois estão aqui para manter você seguros, não eu! Não estou correto?!

— Bem, er…

Pax não estava errado quanto a isso. Eu tinha me oposto a ajudá-lo a princípio. Sendo bastante sincero, não me importava muito com o que acontecesse a ele, ou até mesmo a Shirone. Eu estava aqui pois não queria que Zanoba morresse. Ponto final.

— É o que pensei! Sempre foi assim. Não importa o quanto eu tente, ninguém se importa. Quando me convenço de que consegui, tudo desmorona momentos depois. Meus esforços sempre saem pela culatra no fim das contas! Sempre!

Pax pausou seu desabafo por um momento. Só o tempo suficiente para apontar um dedo acusativo na direção de Roxy.

— Roxy!

Surpreendida pela atenção repentina, Roxy congelou assustada e não respondeu.

— Você sabe o que quero dizer, não sabe? Ou você já esqueceu de tudo?

— Q-que—

— Pense no momento em que dominei meu primeiro feitiço de nível Intermediário!

Os olhos de Roxy se moveram no lugar com incerteza. Ela sabia do que ele estava falando?

— Eu estudei para aperfeiçoar minha habilidade! Eu pratiquei e pratiquei! E quando finalmente consegui, qual foi sua reação?!

— Uhm… Bem…

Pelo que podia ver pelo canto do meu olho, Roxy parecia completamente perturbada por essa pergunta. Eu não sabia dizer se tinha sido porque ela tinha esquecido de tudo referente a isso ou porque ela se lembrava até bem demais.

— Você suspirou, caramba! — berrou Pax.

— Que…

— Enquanto eu celebrava minha conquista, você suspirou!

— Eu… uh…

— Só faltou você dizer: “Já não era sem tempo. Você demorou demais.” Você tem alguma ideia do quão devastado eu estava?

Os olhos de Roxy se arregalaram e ela mordeu seu lábio inferior. Essa história era realmente verdadeira? Era incrivelmente difícil de acreditar. Ela sempre ficava tão feliz por mim toda vez que eu fazia um progresso, por menor que fosse…

— E ainda assim, apesar de tudo, eu te adorava! Você me tratava com menos desdém que quase todo mundo que eu conhecia. Até mesmo depois daquele momento terrível, eu desesperadamente me esforçava para conseguir seu interesse. Mas sem serventia alguma! Sua mente sempre estava em outro lugar, e seus olhos mal me notavam! Você estava ocupada demais escrevendo cartas para algum homem do qual nunca ouvi falar, tão ocupada até mesmo para olhar na minha direção! Por que? Comecei a me perguntar, por que eu me importava? Por que trabalhar tão duro quando todos meus esforços eram tão claramente desperdiçados?! Minha motivação diminuiu até se esgotar. Então você desistiu de mim por completo! Você me olhava como se eu fosse um pedaço de lixo apodrecendo, e suas aulas foram ficando cada vez mais sem entusiasmo! No final, você simplesmente deu de ombros e deixou Shirone para sempre!

Pax arrancava seu cabelo com ambas as mãos conforme desabafava. As memórias devem ter poluído vivamente sua cabeça. Seus olhos estavam mareados com lágrimas, e ficavam mais vermelhos a cada segundo que passava.

— Eu… Eu sinto muito, Pax. Naquela época eu era—

— Cale a boca! Eu não quero ouvir suas desculpas!

Roxy se calou. A expressão em seu rosto era de profundo arrependimento.

Acho que algumas pessoas aqui devem ter pensado “Nenhum esforço é em vão” ou algo igualmente clichê, mas eu não tinha nenhum direito em falar sobre esse assunto. Desde a minha chegada neste mundo, pelo menos, recebi bastante validação externa pelos meus esforços. Quando tentava meu melhor, geralmente conseguia resultados. Não estou dizendo que nunca falhei, claro, mas quando eu obtia algum resultado, havia pessoas lá para me aplaudir.

Como eu saberia se o esforço era a própria recompensa? Nunca estive na situação desse cara.

— Ah, deixe pra lá. Não é como se você estivesse errada sobre mim, claro.

Abruptamente, Pax murchou diante nossos olhos. Seus ombros se relaxaram, sua voz ficou suave.

— Vossa Majestade me deu o Reino de Shirone de bandeja, e olha o que fiz com isso. Ninguém me aceita como o rei. Ninguém se reúne diante da minha bandeira. Em vez disso, se dirigem a se juntar a um exército rebelde com o nome de uma criança aleatória que pode nem ser um príncipe. E na sua revolta, perdi todos os cavaleiros que o Reino do Rei Dragão confiou a mim. Só consigo imaginar o desapontamento da Vossa Majestade.

 Pax sorriu em um divertimento amargo. Lágrimas correram livremente pelo seu rosto.

— No final das contas, acho que apenas Benedikte realmente cuidou de mim. Ela me amava como eu era, por quem eu sou. Palavras nunca foram naturais para ela, mas ela sorria para mim, e isso me significava o mundo.

Parecia que o chilique de Pax tinha sido audível do chão. Eu estava começando a ouvir os murmúrios de distantes conversas das fogueiras ao redor do palácio. Talvez alguns dos soldados tenham visto Pax na varanda.

Pax olhou para baixo com um olhar de falta de interesse.

— Diga-me, irmão… O que eu devia ter feito?

— Não quero presumir nada. Entretanto, imagino que assassinar todos os seus irmãos talvez tenha ido um pouco longe demais.

— Sim. Sim, acho que é verdade. Mas se eu os deixasse viver, acho que eles teriam começado outra rebelião muito semelhante a essa.

— Você… pode estar certo. — Zanoba pausou por um momento, então balançou sua cabeça, como para espantar o pensamento para longe. — Em todo caso, todo mundo comete erros. E uma vez que você refletiu sobre eles, você pode aplicar as lições que aprender em futuras ocasiões!

As palavras ecoaram pelas câmaras do rei, preenchendo todo o andar com a voz alegre de Zanoba. Você tinha que concordar, esse cara tinha uma habilidade incrível de ignorar até mesmo o mais pesado dos ambientes.

— Parece que sou incapaz disso. Tudo o que sei fazer é repetir os mesmos erros, de novo e de novo.

A devagar e firme forma como Pax balançou sua cabeça naquele momento foi igual à forma como Zanoba fazia isso às vezes. Os dois estavam completamente diferentes em aparência, mas tinham diversos maneirismos em comum, pelo menos.

Levantando sua cabeça, Pax olhou na direção de algo atrás de mim.

— Randolph?

— Sim, Vossa Majestade?

Eu me assustei. Só um pouco. Ele estava logo atrás de mim e eu sequer tinha percebido sua aproximação. Um pouco enervante, sabe? O que ele tem com toda essa coisa de sempre ficar atrás da presa?

— Prossiga como instruí hoje mais cedo, por favor.

— Seu desejo é minha ordem, Vossa Majestade.

— Bom, bom…

O que eram essas instruções que ele havia dado mais cedo? Estávamos prestes a nos encontrar de novo em batalha contra o Deus da Morte? Nosso posicionamento estava terrível, se esse fosse o caso. Ele tinha chegado perto demais de nós. Sem a Versão Um seria uma batalha difícil de toda forma, mas se a luta começasse literalmente cara a cara, não tínhamos chance alguma.

Todos esses pensamentos passaram pela minha cabeça instantaneamente. Mas antes que eu pudesse reagir…

Pax pulou para fora da grade da varanda.

— O que—

Espere, esse é o quinto andar. Ele— Huh? Ele pulou da merda da varanda?!

— Aaaaaaaaah!

Zanoba correu para a frente. Não havia a menor chance de ele chegar a tempo, mas ele correu mesmo assim, sua mão se estendia desesperadamente. Ele agarrou o gradio com ambas as mãos, e se inclinou para frente… e sua velocidade arrancou o metal da varanda, jogando-o para frente no ar.

— Zanoba!

Meu coração batia com pânico, dei meia-volta e saí daquele quarto o mais rápido que pude.

Encontramos ele nos jardins do palácio.

Zanoba estava ajoelhado na terra, seu rosto branco de susto, embalando o corpo sem vida de seu irmão em seus braços.

— C-corra, Mestre Rudeus, — ele implorava enquanto me aproximava. — Use sua magia de cura…

Ajoelhado, respondi colocando um pergaminho que tirei da minha túnica em Zanoba. A queda do quinto andar tinha deixado ele visivelmente ferido.

— Não, não… Use isso em Pax

Balancei minha cabeça sem dizer uma palavra.

Pax já estava morto.

Parecia que ele tinha atingido o chão de cabeça. Era uma visão tenebrosa. Eu queria acreditar que ele não tinha sentido nenhuma dor, pelo menos.

— Ele… se foi? — Perguntou Zanoba, silenciosamente.

— Sim. Eu sinto muito, Zanoba.

 

 

MT_19_10_01

 

Não tinha nem considerado que ele poderia de repente se matar assim. Mas em retrospecto, pode ter sido sua intenção desde o começo. Pax estava cercado pelos seus inimigos, e sentiu que ele não tinha nenhum aliado a quem ele pudesse recorrer. Talvez fosse por isso por que ele nunca tentou deixar o palácio: ele pensava que não tinha para onde ir.

Talvez ele estivesse angustiado pela situação por dias e mais dias, por fim decidindo que ele era uma completa falha enquanto rei. Talvez ele estivesse pronto para morrer a partir do momento que entramos por aquela porta.

— Mestre Rudeus…

Ainda embalando o corpo de seu irmão, Zanoba olhou para o céu noturno. O último andar do palácio era visível lá em cima; uma linda lua cheia suspensa no céu acima.

Não havia rei naquele castelo majestoso agora. Não era nada além de uma concha vazia.

— Como posso ter falhado tão completamente? — Zanoba perguntou.

Eu não sabia o que dizer.

— Foram todos os meus esforços inúteis?

— Não — respondi. — Você fez tudo o que pôde, Zanoba. Eu estou falando sério.

Pax não reconhecia os esforços de seu irmão. Ele estava desesperado pelo reconhecimento dos outros pelo seu próprio trabalho duro, mas não conseguia fazer o mesmo para Zanoba.

Quero dizer… Sendo bastante honesto, parecia que ele mal via Zanoba como qualquer coisa a não ser mais uma peça em seu tabuleiro. Mas isso pode ter mudado ao longo do tempo. Pax podia ter por fim aprendido a confiar em Zanoba. Sempre considerei Pax como um canalha incorrigível, mas mesmo assim… Sentia que Zanoba seria valorizado por ele no final das contas.

— Por quê… Por que tinha que terminar assim?

— … Eu gostaria de saber, Zanoba.

Por um tempinho depois disso, Zanoba meditou calado. Por fim, olhou para mim com a expressão de um homem que tinha acabado de se lembrar de algo.

— Poderia ser que… isso também tenha sido pela ação do Deus-Homem?

Ainda não tinha nenhuma ideia de que tipo de coisas o Deus-Homem estava controlando. Nenhum dos seus discípulos tinha mostrado suas caras. No fluxo normal da história, Pax estava destinado a transformar seu reino em uma república um dia, seguindo algumas reviravoltas. Agora esses eventos nunca vão acontecer. Se o Deus-Homem estava envolvido, essa era provavelmente a razão. Talvez seu único objetivo dessa vez fosse causar a morte de Pax.

Esse bastardo pixelado podia ver o futuro. Ele não precisava mandar alguém matar você se ele pudesse construir uma série de eventos que ele sabia que te levariam à loucura culminando no seu suicídio, correto?

Bem… talvez. Para ser honesto, isso parecia uma forma bastante devagar e indireta de fazer as coisas. Talvez o Deus-Homem não tivesse tido participação direta em nada que ocorreu aqui pelas últimas semanas.

Em retrospecto, havia uma coisa que eu tinha certeza: ele tinha participado da minha primeira visita a este reino, muitos anos atrás. Isso diretamente resultou no exílio de Pax ao Reino do Rei Dragão. De acordo com Orsted, a República de Shirone causaria problemas ao Deus-Homem no futuro. Ele agiria para prevenir sua existência ao menos uma vez. Parecia seguro assumir que ele sempre esteve buscando formas de lidar com Pax, de um jeito ou de outro.

Que desastre. Devia ter percebido tudo isso desde o começo. Me precipitei para todos os tipos de conclusões, algumas delas nem um pouco razoáveis, porque eu odiava Pax demais para raciocinar direito sobre o assunto.

— Sim, — eu finalmente respondi. — é possível.

— Entendo…

Zanoba gentilmente posicionou o corpo de seu irmão no chão, então expirou bastante devagar. Sua expressão sugeria que ele estivesse chorando, mas não havia lágrimas escorrendo pelo seu rosto. Não acho que seria tão estoico se fosse ele.

Após um longo silêncio, ele se virou para mim e murmurou:

— Vamos para casa.

Fiz que sim com a cabeça. Não havia muito mais a ser dito.

 


 

Tradução: NERO_SL

Revisão: B.Lotus

QC: Taipan & Delongas

 

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