Acordei com a melodia da canção de um pardal.
— Ngh… já amanheceu?
Me estiquei e deixei um bocejo sair quando os ossos nas minhas costas estalaram audivelmente. Ao meu lado, banhada pela luz do sol da manhã que entrava pela janela, dormia uma garota de cabelo azul. Outras pessoas a chamavam de Roxy, mas eu a chamava de Deus. Ao lado dela estava um bebê minúsculo com cabelos azuis semelhantes. Como filha de um humano e um deus, naturalmente, esse bebê era Perseu… brincadeira, é claro. Era a nossa filha, Lara.
Léo, a Besta Sagrada, estava enrolado no chão ao lado da cama e, para todos os parâmetros, estava igual uma bola de pelos branca. Desde que obtivemos a aprovação oficial do povo-fera para mantê-lo, ele parecia ainda mais presunçoso do que o normal. Ou talvez só me sentisse assim porque Linia e Pursena estavam constantemente agindo como subservientes a ele. Eu o achava muito apegado a Lara desde o início, mas nunca sonhei que fosse porque ela era a salvadora. Essa foi uma revelação surpreendente com certeza… embora, por outro lado, provavelmente poderia ter previsto isso. Era difícil acreditar que nossa garotinha era tão especial. Por mais orgulhoso que isso me deixasse como pai dela, teria que fazer o meu melhor para não deixar isso transparecer. Mostrar favoritismo não era bom, e eu não queria dar um olhar triste para a carinha doce de Lucie.
— Ngh — gemeu Roxy ao meu lado. — Ah, bom dia, Rudy… — Ela esfregou os olhos, grogue, e se sentou. Como ela amamentava Lara com frequência, sua camisa foi deixada aberta, seu peito completamente exposto. Eu não podia me permitir olhá-los com gula, ou tal blasfêmia me levaria a perder completamente a visão.
Ah, mas eu mal posso me conter. É como se me implorassem para olhar para eles. Oh, Deus do céu, tenha piedade de mim.
— Huh? Por que Lara está aqui…? — Roxy se perguntou, olhando para a filha adormecida com olhos semicerrados, como se não tivesse acordado completamente. — Você a trouxe aqui, Rudy? — Ela inclinou a cabeça e se abaixou para acariciar suavemente a cabeça do bebê.
— Não se lembra de trazê-la aqui ontem à noite? — questionei.
— … Eu trouxe?
Depois que tivemos uma pequena brincadeira na cama e adormecemos, Lara começou a chorar no meio da noite; um evento bastante raro. Roxy, grogue, se levantou e saiu cambaleando do quarto. Ela trocou a fralda de Lara, a amamentou, voltou e a balançou para dormir antes de cochilar. Léo, como sempre, ficou ao seu lado o tempo todo. Mas se ela não se lembrava, não era grande coisa.
— Fwah… — Roxy ainda parecia lesada quando soltou um bocejo.
— Vou sair para fazer meu treinamento matinal — falei.
— Tudo bem. Estou de folga hoje, então provavelmente dormirei um pouco mais com a Lara. — Assim que terminou de pronunciar as palavras, ela desabou mais uma vez contra os travesseiros.
— Tudo bem, durma bem.
— Eu vou — murmurou ela, antes de imediatamente voltar a dormir.
Me afastei e me troquei antes de sair pelo corredor. Um pensamento de repente me ocorreu, e parei na porta de Sylphie para espiar. Ela ainda estava dormindo com Lucie ao seu lado. Ambas pareciam estar gostando da Terra dos Sonhos.
Demos a Lucie seu próprio quarto, mas ela dormia com Sylphie à noite. Talvez possa ser bom, ocasionalmente, dormirmos juntos, nós três, todos esparramados. Mas, infelizmente, eu tinha uma libido forte e estar com qualquer uma das minhas esposas geralmente levava ao sexo. Não havia como eu fazer algo assim na frente de Lucie, especialmente porque ela tinha idade suficiente para se lembrar.
No momento, fiquei satisfeito ao vê-las felizes dormindo juntas. Saí sem dizer uma palavra, fechando a porta. Como eu já as tinha visto, decidi dar uma olhada no quarto de Eris também. Ela estava sempre acordada na madrugada, então imaginei que já teria levantado .
— Urgh… ugh… — guinchou uma voz.
Vi uma silhueta na cama. Havia uma garota, segurando as mãos sobre as duas orelhas enquanto todo o seu corpo tremia. Seus seios eram enormes, mas ela não tinha cabelos ruivos. Aquelas orelhas que segurava eram orelhas de cachorro, e ela tinha uma cauda. Seus olhos eram normalmente semicerrados e de aparência sonolenta, mas agora estavam se enchendo de lágrimas.
— Ah, Chefe. Dia — disse Pursena.
Depois do incidente na Grande Floresta, ela voltou conosco para Sharia. Alguém ficou extremamente feliz em vê-la e ,surpresa, era Eris. No momento em que avistou Pursena, ela lambeu os lábios e disse: — Essa garota que você trouxe é incrivelmente fofa!
Linia estremeceu quando viu a reação de Eris, mas Pursena não compartilhou dessa sensação de mau agouro. Em vez disso, estufou o peito e sorriu de orgulho.
— Viu como sou incrível? A esposa do Chefe só precisou dar uma olhada para decidir que gosta de mim.
Um brilho travesso dançou nos olhos de Linia enquanto ela assentia ansiosamente e provocava Pursena.
— Sim, com certeza é incrível, miau. Só você poderia ganhar o favor do Rei Espada Berserker tão rapidamiaumente . Que pena. Eu gostaria de ter tanta sorte quanto você, miau.
— Hahaha! Você não conseguiu. — Pursena disparou de volta para Linia, ficando um pouco à frente. Ela balançou o rabo quando se aproximou de Eris, que prontamente coçou a parte de trás de suas orelhas e elogiou seu rabo. A quantidade de toque que Eris fez foi um pouco intensa para um primeiro encontro. Talvez fosse porque Pursena era uma mulher-fera do tipo cachorro, mas ela simplesmente abanou o rabo e disse: — Eu realmente sou perversa. Meus encantos são tão avassaladores que até cativei a mulher do Chefe. — Ela me lançou um olhar malicioso.
Forcei um sorriso em resposta. Normalmente, eu teria achado sua atitude irritante, mas como já sabia onde isso estava indo, era difícil fazer qualquer coisa além de olhar para ela com pena.
Vendo como Pursena estava disposta, Eris sentiu uma oportunidade de atacar.
— Você deve estar solitária dormindo sozinha, agora que acabou de voltar. Eu ficaria feliz em dormir com você de vez em quando! — ofereceu ela.
Pursena assentiu ansiosamente.
— Neste ritmo, será apenas uma questão de tempo até que eu suba de volta ao topo. — Ela não notou Linia rindo, mas isso selou o acordo: periodicamente passaria a noite com Eris.
Pursena logo descobriu por si mesma a potência esmagadora de ossos do abraço de Eris, e foi exatamente por isso que acabou em seu estado atual.
— Urgh — gemeu. — Meu… meu peito dói tanto…
Como ela estava sofrendo, usei minha magia para curá-la. Seus seios continuavam tão voluptuosos quanto eu me lembrava. Já havia passado uma noite apaixonada com Roxy, então estava mais do que satisfeito por enquanto.
— Obrigada — murmurou ela.
A deixei e desci as escadas, indo para a entrada. Uma espada de madeira estava encostada na parede, que agarrei antes de sair. Eris estava do lado de fora, de braços cruzados e com a postura aberta. Sua barriga estava visivelmente grande graças à gravidez, mas ainda parecia uma guarda muito intimidante.
— Eris, bom dia.
— Bom dia, Rudeus.
Ela estava de bom humor hoje. Poderia dizer pela expressão em seu rosto. Aparentemente, gostou profundamente de abraçar Pursena durante a noite.
Pursena e Linia atualmente viviam perto do nosso quartel-general mercenário. Compartilhavam um apartamento muito parecido com aquele em que Cliff morava, e o fato de poderem conviver assim era a prova de seu bom relacionamento. Elas se revezavam todas as noites para ver o Léo. Eram cuidadoras apenas no nome, mas eu estava satisfeito por não tê-las vivendo aqui, para que não causasse o mesmo atrito com a minha família. Eris alternava entre as duas, convocando periodicamente alguém para seu quarto para agir como seu travesseiro. Linia tentava ao máximo escapar, mas Eris não estava disposta a deixá-la ir. Não até que a dívida dela fosse paga. Sempre que uma delas era arrastada para o quarto, lançavam olhares suplicantes para mim, rezando por intervenção, mas eu tinha muita inveja delas. Seria bom se Eris me chamasse de vez em quando para o seu quarto. Afinal, eu também fazia parte do seu harém. Seria ótimo se ela me mostrasse um pouco de amor. Talvez fosse mais aberta com seus afetos depois de dar à luz.
Espere, as coisas geralmente não são ao contrário? Isso é estranho. Pensei que eu deveria ser a espinha dorsal da família… Ah, que seja.
— Então — continuei — o que você está fazendo?
— Estava pensando em um nome para o nosso bebê. Acho que precisa ser um valente.
Isso era algo que as pessoas normalmente pensam enquanto estavam do lado de fora ao amanhecer? Realmente pensei que ela estava tentando ser um cão de guarda ou algo assim.
— Um nome valente? — Cocei meu queixo. — Acho que seria uma boa ideia se tivéssemos um garoto.
— Eu estava pensando em Ars, Aldebaran ou Kalman.
— Acho que esses são um pouco valentes demais.
Ela literalmente nomeou um bando de heróis famosos do passado. Eram todos bons nomes, é claro. Ainda assim, temia que dar um nome tão antiquado ao nosso filho pudesse levá-lo a sofrer bullying.
— O que você acha, Rudeus?
— Estive pensando nos nomes de garotas. Como Alice, Fran… Acho que um bonito e refinado se encaixaria melhor.
— Você vai dar ao nosso filho um nome de garota? — Eris inclinou a cabeça, genuinamente intrigada.
— Só acho que se você acabar tendo uma garota, seria muito triste para ela receber um nome masculino porque não pensamos em nenhuma alternativa — expliquei.
— Definitivamente vai ser um menino! — Eris fungou para mim e se virou.
Apenas para apaziguá-la e ficar do lado seguro, pode ser bom inventar nomes neutros que poderiam funcionar em qualquer caso, como Maki ou Kaoru. Uh, espera, isso não funcionaria. Esses não são nomes reconhecidos aqui.
— Bem, vou correr um pouco, então te vejo mais tarde. — Eu poderia pensar mais no assunto enquanto corria.
— Certo. Te vejo depois — respondeu Eris.
Ao menos recentemente ela tinha parado de praticar com a espada. Já devia estar grávida de seis meses. N ão tinha certeza se estava finalmente consciente do bebê em sua barriga ou se era puro instinto que a impedia de se esforçar tanto. Eris ainda não parecia uma mãe, mas teria esse filho da mesma maneira.
Com todos os tipos de pensamentos correndo pela minha cabeça, comecei minha corrida matinal.
Toda a família se reuniu para o café da manhã. Lilia e Aisha serviram a todos, enquanto Zenith estava sentada com uma expressão vaga, com Norn ao lado dela. Graças a um golpe de tempo fortuito, minhas folgas coincidiram com as visitas de Norn à casa. Lucie estava bem ao lado dela; suas pernas penduradas adoravelmente em sua cadeira. Sylphie sentou-se do outro lado de Lucie e a importunou para se sentar corretamente.
Roxy estava em frente a elas, com os olhos ainda pesados de sono enquanto cuidava de Lara. O bebê compartilhava sua expressão sonolenta enquanto mamava. Eris parecia digna enquanto se sentava ordenadamente em sua cadeira, acariciando alegremente a cabeça de Pursena, que descansava em seu colo. Pursena parecia totalmente exausta e não protestou, mas no momento em que viu a comida sendo transportada, se sentou e seu rabo começou a balançar. Ela era simples, sem dúvida.
Meu lugar era bem ao lado de Eris, no final da mesa: a cabeça da mesa, pode-se dizer. Não que tal coisa existisse em nossa casa. Nossa mesa era enorme, mas parecia muito pequena com tantas pessoas ao redor. Tínhamos ficado sem quartos para todos, e não demoraria muito para que Lara começasse a crescer.
Acho que Norn já pode estar se mudando quando isso acontecer. Me perguntei o que ela planejava fazer quando se formasse. Aisha parecia propensa a ficar aqui mesmo depois de atingir a idade adulta.
— Norn? — falei.
— Sim, o que foi, Irmãozão ?
— O que você planeja fazer depois de se formar?
Norn ficou sem expressão.
— Eu… ainda não pensei nisso?
— Ah, certo.
Bem, ela ainda era de menor e estava apenas no quinto ano na universidade. Além disso, estava ocupada sendo presidente do conselho estudantil. Talvez fosse natural que ainda não tivesse pensado muito nisso.
— Hm, Grande Irmão?
— Sim?
— Se… Isso é, hipoteticamente falando…
— Mmhmm?
— Se eu fosse dizer que queria me tornar uma aventureira… você seria contra?
Uma aventureira, hein? Norn se tornando uma aventureira… Bem, ela era decente o suficiente com uma lâmina, e depois de cinco anos de treinamento, suas habilidades mágicas melhoraram. Ela provavelmente seria uma boa aventureira. Eu só podia imaginar que tinha passado a idolatrá-los, tendo ouvido Paul falar sobre suas aventuras.
Mas isso não significava que eu não me preocupava. Afinal, era a Norn. Ela poderia fazer algo totalmente desajeitado em algum momento e morrer no local. Claro, dado o quão adorável era, eu tinha certeza de que os garotos a cercariam se ela se tornasse uma aventureira. Eu não conseguia evitar imaginar o pior, já que meu trabalho envolvia ajudar aventureiros pegos em situações difíceis.
— Eu não me oporia, mas me preocuparia — respondi. — Você realmente quer se tornar uma aventureira?
Ela balançou a cabeça.
— Não, não exatamente. O pensamento simplesmente surgiu na minha mente.
Me perguntei se ela estava minimizando a verdade. Uma vez que se formasse, certamente poderia encontrar um trabalho estável que pagasse melhor do que a coisa de aventureiro. Talvez estivesse procurando algo além de dinheiro. Ainda assim, eu queria respeitar qualquer decisão que ela tomasse, o máximo que pudesse.
Assim que terminou de limpar o prato, Norn pegou suas coisas e foi para a porta.
— Obrigada pela comida. Vou para a escola.
Mesmo que Roxy e os outros professores tivessem o dia de folga, Norn ainda tinha deveres com o conselho estudantil para atender. Devia ser difícil.
— Tudo bem, tenha um bom dia.
Depois de nos despedirmos dela, Norn foi para a universidade.
Assim que ela havia partido, Aisha, de repente, deixou escapar:
— Pessoalmente, eu me oporia a isso. Não vejo como ela poderia se tornar uma aventureira.
— Acho que você deve deixá-la fazer o que quiser — disse Sylphie. — Ter um sonho para perseguir é incrível.
Lilia balançou a cabeça.
— Também me oponho a isso. A Senhorita Norn é a preciosa filha do Mestre e da Senhora. Ela deve se casar com uma família adequadamente respeitável e viver uma vida segura e pacífica.
Eris deu de ombros.
— Digo para deixá-la fazer isso. Sua esgrima ainda pode melhorar, mas ser uma aventureira é divertido.
Todo mundo começou a apresentar suas próprias opiniões no minuto em que Norn saiu. Claro, este não era um assunto que poderíamos discutir em uma reunião de família. Era apenas uma discussão ao acaso.
— Você pode se tornar um aventureiro em qualquer lugar do mundo. Mesmo que todos nós nos opuséssemos, ela poderia fugir e se tornar uma sem dizer uma palavra para nós, se quisesse — disse Roxy. Suas palavras tinham peso real, já que eram ditas por experiência própria.
E assim foi o café da manhã.
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Depois disso, acompanhei Aisha e Pursena ao nosso quartel-general mercenário. O trabalho de Pursena consistia principalmente em ajudar Linia, o que a tornava mais uma secretária do que qualquer outra coisa, mas se auto intitulava “vice-chefe assistente”. Ela estava sentada em seu escritório usando óculos de sol escuros e esportivos. Mesmo que não fumasse cigarros enquanto isso, ainda parecia estar se divertindo. Talvez eu devesse comprar chapéus especiais para a liderança…
— Certo, vocês trabalharam duro — falei.
Pursena concordou:
— Isso aí, Chefe.
— Hoje vamos juntar as massas de novo! — declarou Aisha.
— Apenas certifique-se de não fazer nada muito perverso — avisei.
Aisha me entregou uma lista de todos os membros do nosso sindicato… err, digo, bando de mercenários. Havia cerca de cinquenta nomes no total. Ela havia marcado quais eram particularmente bons em lidar com papelada. Eu planejava mostrar a lista a Orsted para que pudéssemos selecionar quem tivesse a menor chance de ser um dos apóstolos do Deus-Homem. Então entrevistaria esse candidato, e se parecesse sério o suficiente, o nomearia para ajudar com a administração do escritório e arquivamento de documentos.
— Se é disso que você precisa, não seria melhor me empregar em vez disso? — Aisha ofereceu.
Eu, porém, não poderia aceitar isso. Estava confiante de que ela faria um trabalho fenomenal, é claro… o problema era o risco de ela vislumbrar Orsted diretamente ou de outra forma cair sob sua maldição, o que poderia torná-la hostil em relação a ele. Se ela se opusesse veementemente a que eu trabalhasse para ele, seria muito difícil continuar o que eu estava fazendo. Aisha normalmente passava seus dias ociosos, mas poderia produzir resultados quase instantaneamente quando colocava sua mente nisso. Quando percebesse o que estava acontecendo, ela já estaria amarrando um bloco de cimento em Orsted e o jogando no oceano. De qualquer forma, era assim que a minha mente funcionava. Percebi que provavelmente era uma preocupação exagerada.
— Quero que você cuide do bando mercenário — falei, dando uma desculpa.
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Depois que saí do escritório, fui direto para Orsted e relatei tudo o que havia acontecido no mês passado: como nomeei Linia e Pursena chefes do meu bando mercenário, juntamente com Aisha, que atuava como assistente. Ele não se opôs às minhas escolhas.
— Tal coisa nunca existiu em meus ciclos passados. Vá em frente e continue fazendo o que você está fazendo — disse ele. Longe de ficar descontente com isso, Orsted parecia se divertir com o que acontecia. Ele também me deu permissão para contratar pessoas para trabalhar neste escritório e selecionou candidatos aceitáveis da minha lista. Talvez estivesse realmente animado com isso tudo.
— Você tem certeza de que Linia e Pursena estão bem do jeito que estão? — questionei. — Não vai ter muito impacto na forma como as coisas se desenrolam no futuro, não é?
— Enquanto uma delas se tornar a matriarca no final, isso não terá grande impacto no futuro.
Bem, Pursena ao menos ainda conseguia se agarrar a uma ínfima chance de ser uma potencial candidata. E embora o povo tivesse acabado com Linia, ela provavelmente poderia preencher o papel no lugar de Pursena, caso estivesse disposta a isso. Eu poderia dar meu apoio e ajudá-la, se necessário.
— A maioria das pessoas que se envolvem com você tem seus destinos dramaticamente mudados no processo. Portanto, não posso dizer nada com certeza — disse Orsted.
Urgh. Bem, me perdoe. Só estou tentando viver uma vida normal, sabe.
— De qualquer forma — falei, tentando mudar de assunto. — Nunca sonhei que minha filha seria algum tipo de salvadora. Você já sabia disso, senhor?
— Não. O parceiro da Besta Sagrada sempre foi um homem diferente no passado.
Isso era natural; afinal, Lara não existia nos outros ciclos.
— Mas — continuou Orsted — a julgar pelo que você me disse, parece claro que o Deus-Homem fez um esforço conjunto para manter você e Roxy separados, então suspeitei que ela tinha um destino forte.
Acho que isso significa que nossa garotinha chutou outra pessoa de seu lugar de direito e tomou o assento ela mesma, hein?
Limpei minha garganta e perguntei:
— A propósito, sobre o cara que originalmente deveria ser o salvador… o que ele deveria realizar?
— Era o homem que eventualmente iria derrotar o Deus Demônio Laplace.
— Ah, certo… Você tem certeza de que está tudo bem, já que ele não vai ser o salvador?
Ele balançou a cabeça.
— Isso não importa. De qualquer maneira, Laplace é alguém que terei que matar. É verdade que eu devia à Besta Sagrada e ao seu parceiro pelo que fizeram por mim, mas não são peças verdadeiramente necessárias no tabuleiro.
Meu entendimento era que ele lutou contra Laplace várias vezes através de seus múltiplos ciclos, e o chamado salvador tinha sido um aliado firme em cada vez. No entanto, Laplace não era tão formidável para que precisasse daquele aliado para vencer.
— Suponho que isso signifique que Lara também está destinada a eventualmente lutar contra Laplace?
Orsted deu de ombros.
— É difícil dizer, mas não há dúvida de que ela será um grande obstáculo para o Deus-Homem.
Só podíamos supor que ela desempenharia um grande papel na derrota do Deus-Homem no futuro, mas nada foi escrito em pedra. Afinal, a maioria das coisas que aconteciam nesse ciclo eram completamente novas para Orsted.
— Suponho que isso significa que ele pode continuar tentando atingi-la no futuro? — murmurei. Essa era a minha verdadeira preocupação no momento. Claro que eu estava receoso, sabendo que alguém poderia estar atrás da minha adorável filhinha.
Orsted balançou a cabeça.
— É exatamente por isso que você convocou a Besta Sagrada. Ele tem um destino forte, então o Deus-Homem lutará para interferir com qualquer um deles.
— … Então tá — falei relutantemente.
— Além disso, se algo acontecer, não tenho intenção de deixar sua família morrer. Não precisa se preocupar.
Ele estava fazendo o possível para me tranquilizar, então eu deveria me sentir à vontade por enquanto. Vou ter que me concentrar em fazer o que posso fazer. Sim, tudo o que tinha que fazer era continuar me preparando para a próxima grande batalha. Ainda me restava alguma ansiedade a respeito de Lara, mas ficar me preocupando não resolveria nada.
— Tudo bem — finalmente concordei.
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Depois disso, saí do nosso escritório e fui para a escola, me perguntando se a pesquisa de Zanoba e Cliff estava avançando rapidamente. Esperava que pudéssemos diminuir um pouco mais o consumo de mana da minha Armadura Mágica. Do jeito que estava agora, eu era o único que poderia usá-la.
Por outro lado, se tornássemos a taxa de consumo de mana muito econômica e os comparsas do Deus-Homem a roubassem, estaríamos em apuros.
Suspirei. Enfim, quem devo visitar primeiro?
Suspeitei que Cliff estava trabalhando duro tentando fazer um segundo filho com Elinalise. Por alguma razão, aqueles dois sempre se esforçavam pela manhã. Provavelmente faziam sexo de manhã, depois passavam o dia recarregando as energias antes de fazer novamente à noite, dia após dia. Ou assim eu suspeitava, de qualquer maneira.
Do jeito que estão indo, ficarei chocado se Cliff não se transformar em uma concha murcha.
Isso me deixou com uma opção: ir ver Zanoba primeiro, como costumava fazer. Dessa forma, poderia verificar o progresso de sua pesquisa com a Armadura Mágica e testá-la. Depois disso, poderia contar a ele sobre o bando mercenário que criei e consultá-lo sobre meu plano de recrutar alguns membros como atendentes de loja. Depois disso, poderia almoçar e ir ver Cliff. Se ele tivesse completado outro de seus protótipos, poderíamos levá-lo para Orsted e fazer um teste.
Sim, isso soou como um bom plano. Com isso em mente, fui para o prédio de pesquisa.
— Idiota! — soou uma voz alta do nada.
Certo, não vou negar ser um tolo, mas é muito rude falar mal de alguém assim de repente. Não sou tão estúpido.
— Você deveria entender, não é?!
Sim, sim, eu sei. Eu só estava brincando. Sei que quem está dizendo tudo isso não está dirigindo para mim.
Procurei a fonte dos gritos e a encontrei rapidamente: um grupo de cinco pessoas estava no patamar da escada, discutindo uns com os outros. Surpreendentemente, eu conhecia cada um deles.
— Você está basicamente indo para a sua própria cova!
A pessoa que estava gritando o tempo todo era Cliff. Ele agarrou Zanoba pela gola de sua camisa e estava com raiva evidente e à mostra. Elinalise estava parada diretamente atrás dele, embalando o bebê com um olhar perturbado.
Zanoba olhou para Cliff com um olhar frio, sem se mover um centímetro. Ginger pairava atrás dele, enviando a Cliff um olhar fraco e suplicante. Julie estava a seus pés, olhando para Zanoba com os olhos lacrimejantes, como se pudesse chorar a qualquer momento. Mesmo para uma discussão, era estranho encontrá-los assim.
Me pergunto o que poderia ter acontecido. Só espero que não seja outro mal-entendido como o de ontem.
— Zanoba, Cliff! — chamei.
Eles se encolheram e viraram para mim. O olhar de Cliff estava suplicando, enquanto Zanoba permanecia ilegível. Não, ia além disso… Foi a primeira vez que ele olhou para mim como se eu fosse um inseto insignificante. Mas eu já tinha visto esse olhar antes no passado. Quando foi mesmo?
— Mestre, sua chegada é muito fortuita. Eu estava prestes a ir visitá-lo.
— É bom que você tenha vindo, Rudeus. Ajude-me a convencer Zanoba!
Zanoba e Cliff falaram ao mesmo tempo. Zanoba manteve a expressão e violentamente afastou Cliff. Ele não parecia realmente estar fazendo uso de sua força, mas como uma Criança Abençoada com poder monstruoso, ainda conseguiu derrubar Cliff de bunda no chão. Sua expressão se tornou apologética por uma fração de segundo, mas ele não se deu ao trabalho de verbalizá-la, em vez disso, se aproximou de mim.
Zanoba era um pouco mais alto do que eu, e seu olhar parecia perfurar através de mim.
— … O que aconteceu? — questionei.
— Eu esperava confiar Julie aos seus cuidados. Podemos tê-la comprado usando meu dinheiro, mas ela sempre foi sua escrava, para começar — disse ele sem paixão.
Julie parecia que estava prestes a chorar… não, ela já estava chorando. Suas palavras foram a última gota que a levou ao limite. Ela apertou a bainha de suas roupas e baixou o olhar. As lágrimas rolaram por suas bochechas continuamente, caindo no chão abaixo. Seus ombros tremiam enquanto soluços trêmulos escapavam de seus lábios. Também a notei sussurrando algo.
— Você prometeu… que ouviria o meu pedido…
Tadinha.
Zanoba, se este é o começo de um novo mal-entendido estranho, não vou ficar muito feliz com você. Me entende? Não farei mais estatuetas para você.
— Então planeja deixar Julie e ir para onde, exatamente? — questionei.
— Casa. Recebi uma ordem real para retornar.
Uma ordem real, hein? Em outras palavras, ordens do rei? Mas por que Cliff seria tão oposto a isso, se era só isso? Ele não era do tipo que dissuadiria Zanoba simplesmente porque a formatura do cara seria dentro de seis meses.
— Meu irmão mais novo, Pax, conseguiu conquistar o poder com sucesso, matando meu pai e meu irmão mais velho e tomando a coroa para si.
Fiquei boquiaberto.
— Huh?
Pax? O sétimo príncipe que prendeu Lilia? Ou ele era o sexto príncipe? E conseguiu dar um golpe de estado e ascender ao trono? Espere, isso significa que ele é rei agora, certo?
— A insurreição deixou suas forças exaustas, e agora uma potência estrangeira se moveu para atacar. Fui convocado de volta para ajudar a fortalecer nossas defesas. Assim, vou me despedir por um tempo.
Ele falou tão casualmente como se estivesse sugerindo correr para a loja de conveniência para fazer um lanche rápido, mas eu sabia, com base no que ele tinha me dito, o que realmente queria dizer. A próxima batalha para a qual continuei tentando me preparar já estava sobre nós, e muito mais rápido do que eu havia previsto.
Tradução: Taipan
Revisão: Guilherme
QC: Delongas
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