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Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 17 – Cap. 12 – Dez Dias na Capital e a Verdade Sobre Orsted

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Dez dias haviam se passado desde nossa batalha no palácio.

Derrotamos o Deus da Água Reida e Auber, matamos Darius e recebemos Pergius em Asura, oprimindo o Príncipe Grabel e sua facção.

No fim das contas, Ariel optou por destituir Pilemon de seu cargo como chefe dos Notos Greyrats e confinou-o em seus domínios. Luke estaria assumindo a liderança da família, com seu irmão mais velho agindo como seu assistente. O irmão de Luke possuía excelentes habilidades sociais e parecia ser uma espécie de político promissor, então tive a sensação de que acabaria lidando com as operações diárias da família.

No início, Ghislaine continuou a ver Pilemon e seu filho com uma hostilidade descarada. No entanto, sua atitude amoleceu após o irmão de Luke ter bombardeado Eris com cortejos e perguntado se tinha algum interesse em casamento. Ghislaine ouviu tudo isso com a expressão orgulhosa de um cão ao ouvir um elogio de seu dono. Além disso, ela aceitou uma oferta para continuar servindo como guarda costas da Princesa Ariel. Este seria provavelmente um posto permanente.

Eu não poderia falar por Ghislaine, Luke, ou qualquer outro envolvido, mas parecia que as coisas tinham sido resolvidas razoavelmente bem.

De qualquer modo… o que eu havia feito nos últimos dez dias?

Em primeiro lugar, tive uma reunião com Orsted no dia um.

Após o término da batalha, retornamos para a residência de Ariel em alto astral, animados com nossa vitória. A Princesa estava compreensivelmente cansada e foi imediatamente dormir.

Quanto a mim… fiquei meio animadinho vendo Sylphie me escolher em vez de Ariel, então a puxei para meu quarto para enchê-la de amor. Sendo honesto, estava um pouco ansioso acerca de seus sentimentos desde que li sobre ela me deixando naquele diário. Ouvi-la declarar que eu era a “pessoa mais importante do mundo” na frente de todos fez meu coração palpitar.

Dito isso, Sylphie também estava bastante cansada, então as coisas chegaram ao fim logo após a primeira rodada. Ela adormeceu profundamente ao meu lado na cama enquanto desfrutávamos o resplendor do pós-ato. Fui tomar um banho para me limpar e me acalmar um pouco… mas então Eris surgiu, explodindo em excitação, e fui submetido a um amor selvagem. A mulher realmente precisava aprender a ser um pouco mais gentil com garotos delicados como eu. Ao término, me senti como um pano de prato torcido.

Quando finalmente saí da cama cambaleando na manhã seguinte, uma das criadas informou-me que uma carta havia sido deixada para mim. O nome do remetente não estava no envelope, mas estava selado com o brasão do Deus Dragão. Claramente um memorando do chefe. A carta era curta e simples; ele expressou preocupação acerca de meus ferimentos e orientou-me a encontrá-lo naquele mesmo dia.

Nossa sala de conferência foi um cemitério.

Fui convocado para um cemitério de servos bem no limite do distrito nobre. Era um local tranquilo, isolado de grama e pedras no meio da cidade. O ponto de encontro específico foi abaixo da superfície, em uma catacumba que parecia o cenário ideal para um baile zumbi da madrugada. Um pouco assustador, mas nenhum morto-vivo poderia ser mais aterrorizante que o homem que lá me aguardava.

— Você veio, Rudeus Greyrat.

— É claro! Como requisitou, senhor.

Orsted estava sentado em um caixão, com seu queixo na mão. Pessoalmente, isto pareceu-me um pouquinho desrespeitoso com o morto, então fiz uma mesa e cadeiras com minha magia de Terra.

— Por favor, sente-se — disse, colocando uma vela e puxando uma cadeira para Orsted.

— Agradeço.

Assim que o chefe tomou seu lugar, me acomodei ao lado oposto da mesa. Era hora de prosseguir com a reunião.

— Primeiramente, parabéns pelo trabalho bem feito, Rudeus. Agora está garantido que Ariel se tornará rainha.

— Está realmente garantido? — perguntei. — O rei ainda não irá falecer por um tempo, não é?

A doença do rei não poderia ser curada. Ele estava essencialmente morrendo de velhice, mas isso demoraria um tempo para realmente acontecer. Eu sabia perfeitamente que havia nobres desesperados e teimosos que utilizariam esse período para tentar impulsionar Grabel de volta ao trono. A própria Ariel nos avisou que era muito cedo para ficarmos desatentos.

Havia, também, outros fatores imprevisíveis a serem levados em consideração. A Rei da Água Isolde assistiu sua querida mestre morrer diante de seus olhos, e a família Boreas estava fortemente atrelada a Darius. Ambos exigiriam monitoramento cuidadoso. Sendo completamente honesto, esperava que meu próximo trabalho envolvesse acabar com a oposição restante…

— Fique tranquilo — disse Orsted. — Em meio ao aval de Perugius e a morte de Darius, a vitória de Ariel tornou-se certa.

Por alguma razão, ele parecia completamente confiante disso. Eu não conseguia entender porquê, mas era óbvio que ele já não estava mais nem um pouco preocupado com o resultado dessa disputa pelo poder.

— Você parece um tanto quanto intrigado, Rudeus Greyrat.

Ah. Ooops. Eu estava sendo tão óbvio assim?

— Bem, senhor Orsted… sendo completamente honesto, acho que é um pouco cedo para baixarmos a guarda.

O olhar de Orsted impactou-me com força total.

Qual é, chefe! Não é como se eu não acreditasse em você ou algo assim, sério. Só estou tentando dizer que isso ainda não está exatamente acabado, sabe?

— Quero dizer, hã… bem… algumas vezes as coisas não funcionam exatamente como você prevê,  certo? Parece que resolvemos isso bem rapidamente. Não tem ao menos uma chance que o Deus-Homem ainda tenha uma ou duas cartas na manga?

— Não — disse Orsted. — Posso afirmar isso com certeza.

Não havia muito que eu pudesse dizer quanto a isso, realmente. Orsted ainda estava escondendo algo de mim, e parecia que não tinha intenção alguma de mudar isso.

— Bom, eu já fui um discípulo antes. Acho que faz sentido me manter no escuro…

Eu não pretendia murmurar aquelas palavras, mas elas escaparam de qualquer maneira. Me arrependi imediatamente. Orsted levantou-se imediatamente e encarou-me ainda mais intensamente que o normal.

— Caramba! M-Me desculpe, senhor, não quis dizer isso! Não é como se estivesse reclamando sobre você esconder coisas de mim, eu só…

— É verdade, Rudeus Greyrat. Nunca confiei plenamente em você.

Ativei por completo meu Olho da Previsão para freneticamente olhar ao redor em busca de uma rota de fuga. Não era nada bom. Imagens sombrias de Orsted haviam cercado-me por todos os lados. Se eu pulasse e tentasse fugir, ele me cortaria ao meio sem demora.

Acho que vou apenas me preparar para o pior…

— Na verdade,  monitorei-o ao longo dessa missão para ver se poderia trair-me pelo Deus-Homem.

Ah. Bom. Isso, de fato, fazia sentido. Quero dizer… o homem poderia provavelmente ter derrotado Auber, ou qualquer um, completamente sozinho sem que eu ao menos percebesse.  Talvez os tivesse deixado para mim como uma espécie de teste.

— Mas após sua performance em relação a esse tópico — Orsted continuou —, está claro para mim que você não é só conversa. É um homem digno de minha confiança.

Uma pausa.

— Permita-me oferecer um pedido de desculpas, Rudeus Greyrat. Parte do que lhe contei sobre mim foi uma mentira.

— Sério?

Orsted fechou a cara em resposta à minha pergunta. Não, talvez estivesse apenas franzindo as sobrancelhas de modo pensativo? Às vezes eu queria que o cara tirasse um tempo para praticar a arte de sorrir. Isso faria com que falar com ele fosse muito menos estressante.

Mas, bem, até eu tinha alguns problemas nesse departamento.

— Sim. Lembra-se de quando expliquei a arte secreta criada pelo primeiro Deus Dragão? Contei-lhe que ela permitia-me ver o fluxo do destino e que livrava-me das leis deste mundo.

— Eu lembro. — Ele a descreveu como um poder que o permitia ver o curso geral do futuro de alguém.

— Metade daquela explicação foi uma mentira. Não sou capaz de ver nada daquilo que jaz à frente.

Hmm… Certo.

— Então isso significa que você é realmente imune às leis desse mundo, não é?

— Certamente. Mas deixe-me perguntar, Rudeus Greyrat, o que acha que isso significa, precisamente?

Como é que eu deveria saber? Não me lembro dele ter deixado nenhuma dica a respeito disso. Hã… bem, e quanto a sua maldição? Aquela que faz com que todos o odeiem? Será que poderia ter alguma coisa a ver com isso? Nah, não consigo ver como isso teria ligação…

— Bem, você disse que isso diminui sua taxa de regeneração de mana drasticamente. Mas esse é só um efeito colateral, não é?

— Sim. Minha mana regenera-se bem lentamente e, em troca, sou imune à influência do Deus-Homem. No entanto, não acha isso estranho? Por que o primeiro Deus Dragão criou uma arte que põe o usuário em tamanha desvantagem?

Quero dizer, talvez fosse o único jeito de escondê-lo do Deus-Homem? A troca pode valer a pena… Espera…. Não, isso não faz muito sentido. Ele não consegue me ver enquanto estou vestindo o bracelete do Orsted,  e minha mana se regenera bem.

— Permita-me explicar — Orsted continuou. — essa arte secreta foi criada para garantir a vitória contra o Deus-Homem.

Eu pisquei.

— Em troca por prejudicar a taxa de recuperação de mana do usuário, permite com que ele refaça esta guerra do começo, com suas memórias intactas.  Não importa como ou quando morre.

Isso significa o que estou pensando? O Orsted está na verdade…

— Meu ponto inicial é no inverno do ano de 330, na Era do Dragão Blindado. Retorno para uma floresta sem nome nas Regiões Nortenhas do Continente Central. Desse momento em diante, tenho um limite de duzentos anos. A não ser que mate o Deus-Homem nesse período de tempo, retorno automaticamente. A mesma coisa acontece quando morro em algum ponto ao longo do caminho.

Então ele estava preso em um loop temporal. Já havia pensado na possibilidade antes, mas achei a ideia estranha demais para acreditar.

— Uma história extravagante, admito.  Mas você já viu um homem viajar pelo tempo com seus próprios olhos; tenho certeza que é capaz de acreditar nisso.

— Bem, sim…

Meu eu do futuro havia achado dicas sobre os princípios da viagem no tempo em antigas ruínas da Tribo dos Dragões e eu sabia que haviam criado uma técnica de reencarnação que mandava suas almas para o futuro. Poderia facilmente acreditar que deram um jeito de voltar no tempo também… especialmente considerando que descobri como fazer tudo por conta própria.

— Hã, então… Posso perguntar quantas vezes reiniciou até agora, senhor Orsted?

— Parei de contar na centésima — ele respondeu amargamente.

Duzentos anos multiplicado por cem seria… vinte mil anos? Só de pensar nisso já fico tonto…

— Por agora, já devo ter viajado por esse ciclo centenas de vezes, suponho. — disse Orsted. — E, ao longo dessas tentativas, presenciei a batalha de Ariel e Grabel múltiplas vezes. Sei o que é relevante para seu resultado, e sei quem é relevante. Sei o que levará ao triunfo de Ariel e à sua derrota e, nesse ponto, é simplesmente impossível para Grabel mudar o curso das coisas. A vitória de Ariel está assegurada.

— Mesmo com o Deus-Homem influenciando os eventos?

— Mesmo assim. O Deus-Homem não retém memórias de nossos conflitos passados, e, portanto, não tem ciência de estar preso em um loop temporal. Mas desde que soube de sua existência e comecei minha guerra contra ele, o mesmo influenciou conflitos desse tipo inúmeras vezes. E, em todas as vezes, chega um ponto em que para de interferir.

— E acabamos de passar esse ponto.

— Precisamente.

Bom, isso certamente explica porque Orsted sempre fez suas previsões com tanta confiança. Ele estava  falando com base em uma imensa quantidade de experiência.

Uma parte de mim sentia que os eventos ainda poderiam tomar um rumo inesperado… mas quando se põe o mesmo grupo de pessoas na mesma situação, provavelmente agiriam do mesmo jeito todas as vezes. Deveriam haver algumas pequenas diferenças nas circunstâncias deste caso, mas as chances de uma surpresa completa pareciam muito baixas.

— Em outras palavras, não há motivos para se preocupar — disse Orsted. — Ariel irá reinar.

— Certo. Eu entendo agora.

A essa altura, estava disposto a acreditar nas palavras de Orsted em relação a esse assunto. No entanto, algo me deixou um pouco ansioso: o fato dele ter falhado em sua missão tantas vezes seguidas.

— Senhor Orsted… você pode realmente derrotar o Deus-Homem?

— Consigo. Já estabeleci o que preciso pra derrotá-lo, e sei quais preparações serão necessárias. E, dessa vez, tenho você ao meu lado também. Agora estamos bem próximos.

Certo. Eu só vou ter que acreditar nisso.

Para mim, não fazia tanta diferença se Orsted estava vendo o futuro ou se estava preso em um loop temporal. Só teria que acreditar em seu julgamento em ambos os casos.

Eu iria fazer minha parte. Era o único jeito de manter minha família segura.

No terceiro dia após a batalha, Isolde passou pela mansão em que estávamos ficando. Esta moradia era algo que a Princesa Ariel havia nos dado, aparentemente uma das menores residências que possuía, mas ainda era o dobro do tamanho da minha casa em Ranoa. A residência até mesmo vinha com servos que cuidariam dela em nossa ausência. Ariel nos disse que éramos livres para utilizá-la como moradia temporária sempre que passássemos por Asura.

Isolde havia vindo para encontrar Eris especificamente. Eu estava cauteloso quanto à sua presença no início, só caso estivesse aqui por vingança. Ela pareceu notar a tensão em meu rosto, mas mesmo assim se portou de forma bastante educada.

Após introduzir-se aos servos, Isolde seguiu Eris para a sala de estar, onde as empregadas trouxeram-lhe um pouco de chá. Nossa hospitalidade era bastante modesta, embora fosse algo complicado de descobrir devido à maneira confiante com a qual Eris lidava com tudo. A garota tinha um talento inato em comandar pessoas, o que fazia sentido, levando em consideração o fato de ter crescido em uma mansão.

Viver em minha casa provavelmente era um pouco estranho pra ela, não é? Quero dizer, tínhamos Aisha, mas ela não era realmente uma criada

Isolde recebeu nossas boas-vindas graciosamente, mas parecia desconfiada quanto à minha presença na sala. Após um tempo, curvou-se para mim cautelosamente.

— É um prazer conhecê-lo, senhor. Meu nome é Isolde Cluel. Eris e eu treinamos juntas no Santuário da Espada.

— Muito prazer — falei. — Sou Rudeus Greyrat, marido da Eris.

Isolde fez uma careta.

— Ah. Então era você

Bem, a mulher parecia odiar-me do fundo do coração. Mas estava esperando por isso, considerando o jeito com o qual falou sobre mim na primeira vez em que nos esbarramos.

— Hã… sim. Sou Rudeus.

— O homem que negligenciou Eris durante anos e, no meio tempo, arranjou outras duas esposas?

— Certo…

Isso estava começando a soar familiar. Era quase como se estivesse falando com Cliff. Talvez tivéssemos outro fanático religioso em nossas mãos?!

Quero dizer, é. Também percebi isso da primeira vez…

— Supus que fosse aquele cavaleiro fútil, Luke, sabe?

— Bem…  acho que nunca menti para você sobre minha identidade, não é?

— Não. Eu simplesmente tirei conclusões precipitadas. — Isolde fez uma pausa, então me ofereceu um leve sorriso. — De qualquer forma, parece que você cuida melhor da Eris do que eu esperava.

— O que te faz dizer isso?

Essa mudança repentina na conversa pareceu um pouco intrigante. Eu não tinha certeza do quanto “cuidei” de Eris, honestamente. Ela definitivamente cuidou bem de mim. Mas eu não me lembrava de dizer nada sobre nosso relacionamento de qualquer maneira.

— A Rei da Água Isolde está aqui para visitar — disse Isolde. — Ela era uma aluna do Deus da Água Reida, e viu sua mestra ser morta diante de seus olhos. E se ela for uma inimiga da princesa? E se ela veio aqui por vingança? Eris pode desembainhar sua espada. Eu tenho que protegê-la… Isso é o que você está pensando, não é? Está escrito no seu rosto.

Eu não sabia que você poderia colocar tantas palavras no meu rosto… Eu senti que as pessoas estavam lendo meus pensamentos com muita frequência ultimamente. Talvez eu realmente precisasse de algum tempo para aprimorar meus sorrisos falsos.

Ah, bem, não era o fim do mundo.

— E… isso faz você pensar que estou tratando Eris bem?

— Se você não se importasse com ela, você não seria tão protetor — disse Isolde. — Ela é apenas a esposa número três, afinal.

Ela realmente tinha que chamar Eris de “número três” bem na frente dela? Não era como se eu classificasse minhas esposas ou algo assim.

— Com toda a honestidade, eu assumi que você estaria negligenciando Eris. Talvez exigindo que ela lute suas batalhas e durma com você, mas fora isso nem mesmo falando com ela…

Parecia mais escravidão do que casamento.

Eris não era realmente tão falante em geral, no entanto. Era raro ela iniciar uma conversa, e às vezes ela simplesmente invadia meu quarto à noite para me violentar… Hm. Eu era apenas seu brinquedo, ou o quê?

Não, isso não era justo. Ela sempre estava disposta a fazer coisas comigo, como treinar, pelo menos.

— Me sinto um pouco aliviada — disse Isolde. — Ela parece muito feliz com você.

— Bem… fico feliz em saber que você pensa assim.

Isso me rendeu um sorriso de Isolde. Foi uma coisa linda de testemunhar, honestamente. Ela parecia o tipo empertigada e adequada, mas havia uma pitada sedutora sobre ela também. Os homens estariam caindo em cima dela quando realmente florescesse, mas eu tinha a sensação de que isso não aconteceria até que ela se casasse. Eu podia vê-la como a esposa sexy da casa ao lado, com certeza…

Ai. Eris, querida? Dói quando você pisa no meu pé.

— Então? Por que está aqui, afinal? Rudeus é meu, então você não pode tê-lo.

Hmm. Tais elogios normalmente deixavam Eris de bom humor, mas hoje ela parecia estar presa em seu modo de pirralha mandona.

— Acredite em mim, não estou nem um pouco interessada.

Compreensível, mas você tem que parecer tão enojada com a ideia? Estou um pouco magoado.

— Você quer um duelo, então? — perguntou Eris.

Isolde sorriu sem jeito.

— Não. A Mestra Reida queria que eu continuasse o Estilo Deus da Água, e a Princesa Ariel já concordou em nos apoiar. Eu não sou seu inimigo.

Assim como planejado originalmente, Isolde iria completar seu período como noviça, então receberia algum tipo de nomeação quando se tornasse uma cavaleira de pleno direito. Ela provavelmente acabaria como instrutora de espada do palácio ou capitã dos Cavaleiros Reais. Havia até uma chance de ela receber um título nobre em algum momento.

— Mestra Reida pode ser bastante espinhosa, mas parece que ela tinha vários amigos e simpatizantes na corte real. Suponho que a princesa também não deseja se tornar inimiga de todos os praticantes de seu estilo.

— Sim, isso faz sentido.

Os mestres de espadas deste mundo tendiam a ser monstruosamente fortes. A influência política ainda contava mais do que proezas de combate, mas seria tolice antagonizar um grupo de lutadores mortais quando você poderia colocá-los do seu lado.

— E, claro, estamos todos bastante aliviados em saber que nossos salões de treinamento não serão totalmente fechados.

Em um nível superficial, o ataque de Reida foi uma tentativa insana e não justificada de assassinar uma princesa de Asura. Mesmo em um lugar como a corte real, onde a intriga era constante e os assassinatos eram comuns, uma tentativa de assassinato público levaria a uma investigação. Você poderia se safar de qualquer coisa, desde que acontecesse nas sombras. Se fosse pego, haveria alguns problemas. Bem… a menos que fosse uma figura seriamente poderosa como Grabel, Ariel ou Darius, que poderia varrer a maioria das coisas para debaixo do tapete.

Nesta situação específica, Ariel não queria provocar um conflito com os praticantes do Estilo Deus da Água, e eles também não estavam interessados ​​em travar uma batalha perdida. Como seus interesses coincidiam, ninguém seria responsabilizado pelo crime de Reida. Todos concordaram em deixar o incidente para trás. Isso era um pouco difícil para Isolde, devido a sua relação com Reida.

— É uma pena que a Mestra Reida tenha perdido a vida. Mas pelo menos teve a morte de um mestre de espadas, isso não é uma conquista pequena nesses tempos de paz. Eu só gostaria que ela tivesse me contado suas intenções de antemão.

Ela parecia querer dizer essas palavras. Tive a sensação de que não estava tão devastada com a morte de Reida. Foi uma atitude que me lembrou dos aventureiros com quem eu costumava viajar.

— Então você superou? — perguntou Eris sem rodeios.

— Não vou negar que gostaria de vingar a morte de minha mestra… mas não foi você, Ghislaine ou Rudeus quem a matou, então acho que nunca terei a chance.

Isolde soou um pouco amarga ao dizer essas palavras. Talvez uma parte dela tenha se arrependido de não ter perseguido Orsted quando ele fugiu daquele salão.

— Eu não me importo de duelar, se você quiser — disse Eris.

— Por favor, Eris, nem brinque com isso. Eu tenho a obrigação de proteger os salões de treinamento do meu estilo. A última coisa que eu preciso é sofrer alguma lesão ao longo da vida lutando contra um gato louco como você.

“Um gato louco”… Hmm. Rude, mas preciso.

— Quem se importa com um monte de salas de treinamento mofadas, afinal?

— Suponho que seja estranho para uma garota que fugiu de sua casa e de suas responsabilidades. Mas para alguns de nós, nossas obrigações são muito reais.

Eris ficou em silêncio, parecendo mal-humorada e um pouco triste.

— Faz apenas um ano desde a última vez que nos vimos — disse Isolde, seus olhos brilhando de forma brincalhona. — Não seria mais divertido esperar até que nós duas estivéssemos um pouco mais fortes?

— Oh! Sim, você está certa!

Ao ouvir isso, o rosto de Eris se iluminou de emoção. Ela parecia pensar que sua amiga estava falando sério. Isolde, por outro lado, olhava para ela com o sorriso condescendente de quem acabou de jogar um osso para um cachorro. Ela claramente tinha alguma experiência em lidar com Eris.

— A única verdadeira razão pela qual eu vim aqui hoje foi para ver você, Eris. Já que você veio de tão longe, por que não lhe mostro a cidade?

— Isso soa bem. Eu estava ficando meio entediada apenas sentada aqui. Vamos!

— Você certamente é bem-vindo para vir também, Rudeus.

Considerei o assunto por um momento. Havia uma chance de as duas entrarem em uma briga lá fora. E se Isolde estivesse mentindo descaradamente…? E se ela levasse Eris para uma multidão de estudantes do Estilo Deus da Água ou algo assim? Parecia mais seguro para mim ir junto.

— … Está bem então. Acho que vou.

Passamos o resto do dia vendo os pontos turísticos com Isolde. Minhas preocupações se mostraram infundadas, pois ela nunca nos levou a nenhuma emboscada e parecia estar genuinamente aproveitando seu tempo com Eris.

Acho que ela esperou até “se acostumar” com a morte de sua mestra antes de nos visitar.

No quinto dia após a batalha, Sylphie e eu recebemos um convite para um jantar da família Boreas. Eris não foi convidada.

Eu fui até lá meio esperando que tentassem nos envenenar, mas acabou que queriam me usar como seu intermediário para estabelecer um relacionamento mais amigável com a Princesa Ariel.

Eu nunca conheci o atual chefe da família, James, mas ele mencionou meu nome para Alphonse, que ainda estava liderando o esforço de reconstrução em Fittoa. O velho tinha compartilhado algumas histórias sobre mim dos bons velhos tempos, o que levou James a fazer o convite. Parece que Alphonse tinha mencionado que eu era filho de Paul, e tecnicamente parte da árvore genealógica da família Notos Greyrat.

Se aliar a mim poderia criar atrito entre a família Boreas e Luke, o retentor mais confiável de Ariel… mas tive a sensação de que o que eles realmente queriam era que eu enfraquecesse a Casa Notos. Se eu exigisse um título nobre como Notos Greyrat, inevitavelmente causaria um conflito entre mim e Luke. Mesmo se eu não conseguisse, a luta criaria oportunidades que os Boreas Greyrats poderiam usar a seu favor.

Você pensaria que eles teriam convidado Eris para me lembrar de meus laços com a família deles, mas eu acho que eram cautelosos com ela. Se eu pudesse tornar a vida miserável para os Notos, Eris poderia fazer exatamente a mesma coisa com os Boreas. Basicamente, queriam esquecer que ela existia.

Eu podia entender a lógica, mas essa estratégia cautelosa e dissimulada parecia a prova de que a família Boreas que eu conhecia e amava se foi para sempre. Passei o jantar balançando a cabeça vagamente e não prometi nada.

No oitavo dia, tirei algum tempo para verificar como todos estavam.

Triss havia retornado oficialmente à sua antiga vida como uma nobre. Ela parecia ter assumido o papel de uma das atendentes de Ariel, como Ellemoi e Cleane. Mas Ariel estava providenciando discretamente para colocá-la de volta em contato com sua antiga gangue de bandidos, que poderia ser útil no futuro.

Ariel e Luke estavam trabalhando duro, e provavelmente estariam por algum tempo. A morte de Darius causou certo caos e confusão na corte, mas eles colocaram as coisas sob controle. Os preparativos para a ascensão de Ariel ao trono estavam a todo vapor.

Perugius já havia retornado à sua fortaleza flutuante, deixando um de seus servos para trás no palácio como representante. Quando lhe enviei minhas condolências pelos dois que ele havia perdido na batalha, ele explicou que poderiam ser revividos em seu castelo. Parecia um recurso útil.

Parecia que Orsted estava certo, tudo estava indo bem. Parecia que não havia mais nada para me preocupar. Meu trabalho estava feito.

Mencionei à princesa Ariel que estava pensando em voltar para casa em breve; e no dia seguinte, ela me chamou para seus aposentos.

 

Separador Tsun

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Na noite do nono dia, encontrei-me nos aposentos de Ariel no Palácio de Prata.

Eu não queria que ninguém suspeitasse que eu estava traindo minhas esposas, então trouxe Sylphie comigo. A princesa não me pediu para vir sozinho nem nada.

Seus aposentos eram além de luxuosos, naturalmente. Tecnicamente tudo isso fazia parte do palácio, mas ela tinha uma casa inteira. Os móveis e as decorações eram todos magníficos; o sofá era tão macio que eu estava preocupado que pudesse me engolir inteiro. Todo o lugar parecia estar brilhando um pouco, mesmo as partes que não eram feitas de ouro. Isso tinha que ser a coisa mais extravagante que poderia encontrar em qualquer lugar deste mundo.

Normalmente, esta sala provavelmente estaria cheia de empregadas, mas acho que Ariel as dispensou para o nosso encontro. Isso fez o lugar parecer meio vazio. A princesa nos serviu bebidas pessoalmente, com seus móveis caros pairando friamente ao seu redor.

— Aqui, para você.

— Obrigado, Alteza.

A taça dourada que ela me entregou está cheia de líquido roxo. Vinho, hein? Isso deve ser coisa cara… Tipo, Romanée-Conti…

— Vejo que você trouxe Sylphie também.

— Sim. Eu não gostaria de ficar sozinho com uma mulher bonita como você a essa hora. As pessoas podem falar.

— Meu Deus. Sim, suponho que não há como dizer o que poderia ter acontecido, não é?

Ariel estava sorrindo, mas Sylphie não parecia se divertir. Ela sabia que eu estava brincando, certo?

— Rudy realmente poderia ter te colocado na cama.

Hm. Minha esposa parecia pensar que eu era uma fera que a trairia em qualquer oportunidade. Triste, mas eu só podia me culpar.

Mesmo que Sylphie não confiasse em mim, eu ainda confiava nela. Especialmente agora que ela disse a todos que me escolheria em vez de Ariel. Ouvir isso realmente fez meu coração palpitar, honestamente. Se eu fosse um louva-a-deus, provavelmente teria deixado ela me comer na hora.1Se quiser entender melhor clique aqui.

— Agora, então…

Depois de entregar a Sylphie seu copo de vinho, Ariel se acomodou em uma cadeira à nossa frente.

— Permita-me expressar minha sincera gratidão mais uma vez, Rudeus. É graças a você que chegamos a este ponto.

— Eu não acho que concordo, Alteza. Esta foi a sua vitória, e você mesma fez isso acontecer. — Todos aqueles anos que Ariel passou fazendo conexões e reunindo aliados no Reino de Ranoa finalmente valeram a pena. Ela tinha todo um grupo de talentosos leais à sua disposição; eles já estavam entrando para preencher o vazio deixado pela morte de Darius e para substituir os nobres da facção Grabel. Se as coisas continuassem conforme o planejado, a princesa teria controle total sobre o reino em pouco tempo.

— E a situação com Lorde Perugius? Ou sua orientação em nossa jornada? Ou aquela apresentação que você organizou para mim? Foi você quem tornou isso possível, Rudeus. Eu teria falhado sem sua ajuda.

— Bem… é legal da sua parte dizer isso.

— Devo-lhe muito. Talvez Sylphie esteja certa, você poderia ter me colocado na cama esta noite se tentasse.

Ariel piscou os olhos flertando comigo por um momento. Meu olhar vagou para baixo, alcançando a base de seu pescoço antes que Sylphie me encarasse com tanta força que consegui me impedir. Quando meus olhos voltaram para o rosto dela, a princesa havia voltado para seu sorriso habitual.

— Estou apenas brincando. Mas com toda a seriedade, eu realmente gostaria de recompensá-lo de alguma forma.

— Me recompensar? Eu não acho que isso seja necessário… — Essa coisa toda tinha sido essencialmente uma tarefa de trabalho para mim. E ela já me deu uma mansão inteira que poderíamos usar como casa de férias.

— Vamos lá. Há algo que eu possa fazer por você? Dada minha promessa a Luke, não posso lhe oferecer território ou um título nobre, mas você pode ter qualquer outra coisa que eu seja capaz de lhe dar.

Bem, isso não reduziu muito. Parecia que havia muitas coisas que eu queria, mas era difícil definir um único pedido. Havia muitas coisas que só podia encontrar no Reino de Asura. Talvez ela poderia me dar um grimório raro ou algo assim?

Oh, espere, há uma coisa que eu poderia pedir.

— Bem… não tenho certeza de quando isso vai acontecer, mas em algum momento pretendo começar a vender uma estatueta que vem com um livro. É uma estatueta de um demônio, então ajudaria a obter permissão oficial da família real.

— Ah, sim. Lembro-me de você discutindo isso com Lorde Perugius.

— Certo. Estou supondo que pode ser um pouco difícil?

A Igreja Millis era muito proeminente no Reino Asura. Se vissem a família real incentivando publicamente a venda de estatuetas de demônios, isso poderia levar a algum atrito político.

— De jeito nenhum — disse Ariel. — Vou conseguir a autorização para você e fornecer oficinas que possam fabricar seu produto.

— Você não acha que a Igreja Millis vai se opor?

— Não será um problema. Conflitos desse tipo podem ser resolvidos com dinheiro.

Ah, o poder do suborno… Mas fazia sentido; assumir o trono de Asura significava se tornar a pessoa mais rica do mundo.

— Certo, então, acho que entrarei em contato assim que estivermos prontos.

— Muito bem. Estarei pronta e esperando.

Então tínhamos um patrocinador e um plano de produção. Agora, tudo se resumia à rapidez com que Julie poderia aperfeiçoar suas habilidades. Parece que me lembro de ler no diário do meu eu do futuro que as estatuetas vendiam bem quando embaladas com um livro ilustrado, especificamente. Isso parecia uma abordagem inteligente. Havia muitas pessoas analfabetas por aí, mas podiam pelo menos olhar para as imagens. Teríamos que encontrar um artista se realmente quiséssemos ganhar muito dinheiro…

Enquanto eu me ocupava contando com a possível riqueza futura, Ariel endireitou as costas e se virou para Sylphie.

— Claro, eu devo esta vitória a você também, Sylphie.

— Parabéns, Ariel. Estou tão feliz por você…

Ontem, Sylphie deixou formalmente seu emprego como guarda-costas de Ariel. Ela estava ocupada organizando sua substituição até o dia anterior. Mas uma vez que foi realmente feito, passou um dia inteiro com a cabeça nas nuvens.

— Você tem certeza de que não precisa mais da minha ajuda, certo?

— Está tudo certo. Eu ficarei bem. Muito obrigada por todos os anos que passou me protegendo.

Ariel inclinou a cabeça profundamente enquanto falava essas palavras. Isso não era algo que se via todos os dias.

— Por favor, Ariel. Você não precisa se curvar para mim.

— Não quero fingir que posso recompensá-la com presentes ou dinheiro, Sylphie. Mas quero que você entenda o quanto sou verdadeira e profundamente grata. Você me ajudou de mais maneiras do que eu poderia contar.

— Não é grande coisa. Eu estava apenas ajudando minha amiga.

Sylphie pegou as mãos da princesa e as apertou suavemente enquanto falava. Elas eram amigas há uma década inteira, não eram? Era nítido o quanto se importavam uma com a outra.

 

 

— Por favor, volte para me ver, Sylphie. Você é bem-vinda sempre.

— Eu vou, eu prometo. E se você estiver em Ranoa… bem, acho que não teria tempo para parar em nossa casa ou algo assim…

— É verdade, mas sempre posso organizar uma festa no castelo de lá. Todos vocês serão convidados, naturalmente.

— Ahaha. Acho que somos pessoas importantes agora, hein?

Sylphie e Ariel conversaram alegremente por um tempo depois disso. Enquanto eu ouvia em silêncio, me peguei lembrando do dia em que conheci Sylphie. Eu ainda podia vê-la caminhando sozinha por aquele campo, assustada demais para reclamar quando os valentões locais jogavam lama nela. Mas aqui estava ela, conversando alegremente com uma princesa… e mais importante, uma amiga.

O pensamento me fez sentir todo quente e confuso.

Finalmente chegou o décimo dia, era hora de deixarmos Asura para trás.

 


 

Tradução: ArcMat0r / Bucksius

Revisão: Guilherme

 

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