Dark?

Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 17 – Cap. 04 – A Escolha de Ariel

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Ariel e eu caminhávamos juntos ao luar, entre as árvores.

Éramos só nós dois. Sylphie, suas atendentes e Luke não estavam à vista em lugar algum.

Ariel levava uma tocha enquanto liderava o caminho. Se ela continuasse avançando assim, acabaríamos voltando ao local onde falei com Orsted.

— Queria ter uma conversa em particular com você desde que começamos essa jornada, Rudeus. — Sylphie e Cleane queriam vir, mas Ariel as impediu. Explicando que tínhamos “assuntos importantes” para discutir, ela me levou de volta à floresta.

Para ser sincero, não tinha a menor ideia sobre como seria esse encontro ao luar. Presumivelmente, não estava acompanhando-a ao banheiro. Algumas pessoas podem gostar que outras as vejam fazendo seus negócios, mas eu não via nenhuma razão pela qual ela me escolheria para esse papel.

Estávamos andando há cerca de cinco minutos quando Ariel finalmente parou e se virou para mim. Acho que ela sentiu que já tínhamos andado o suficiente da fogueira.

— Parece que você valoriza seu sigilo, então decidi organizar as coisas dessa maneira.

Esta provavelmente não era hora de contar piadas idiotas. Pelo que parece, Ariel realmente tinha algo importante para discutir comigo.

— Sobre o que você quer discutir, Princesa Ariel?

Eu tinha uma ideia do que se tratava, mas parecia mais seguro não tirar conclusões precipitadas.

Ainda sorrindo de forma ousada, Ariel estendeu a mão e segurou meu queixo em seus dedos.

— Tente ser paciente. A noite é uma criança.

Uhm, podemos ter uma regra de não se tocar, por favor?

— Acho que sim, mas prefiro dormir a maior parte do tempo.

— Ah, não seja tão formal. Quero que essa seja uma conversa mais casual.

Ariel retirou a mão e sentou-se em uma raiz de árvore próxima. Só por precaução, decidi ativar meu Olho da Previsão. Não que eu esperasse que Ariel fizesse alguma coisa. Eu simplesmente não podia arriscar que algo inesperado acontecesse com ela.

— Tenho que dizer… Sylphie e Eris se dão bem, não é?

Ela realmente me trouxe aqui para falar sobre isso? Ela só estava tentando quebrar o gelo, com certeza.

— Acho que está certa. No início, tive medo de que brigassem com frequência, mas parecem gostar genuinamente uma do outra.

Honestamente, eu meio que esperava que a adição de Eris à família transformasse nossa casa em um campo de batalha caótico. Estava preocupado que ela entrasse em conflito com Sylphie e Roxy regularmente. Para minha  surpresa, ninguém entrou em briga alguma.

— Sabe, quando você saiu para patrulhar a área na outra noite, estavam conversando uma com a outra enquanto estavam deitadas na cama.

— Ah, é? Sobre o quê?

— Eris estava resmungando que todos deveriam parar de discutir e fazer exatamente o que você diz. Sylphie tentou convencê-la de que mesmo você comete erros às vezes, e precisavam estar prontas para intervir e apoiá-lo.

Era bom ser confiável, é claro, mas Eris realmente me dá muito crédito. Sylphie estava sempre tentando me ajudar de maneiras sutis nos bastidores, e realmente aprecio isso.

Tive de presumir que ambas estavam inquietas com a minha decisão de unir forças com Orsted. Mas até agora, estavam seguindo minha liderança sem uma reclamação sequer.

— Elas são total opostas, não são? — Ariel continuou. — Eris se joga na linha de frente para lutar contra seus inimigos, e Sylphie fica para trás para apoiar de outras maneiras…

— Tenho muita sorte em tê-las por perto, — eu disse. — Essas duas complementam algumas das minhas maiores fraquezas.

Minha afeição por elas se desenvolveu por gratidão. Ambas fizeram tanto por mim, e eu não esqueceria enquanto vivesse.

— A parte divertida, para mim, pelo menos, é como Sylphie trata Eris como uma irmãzinha.

— Uhm… uma irmãzinha?

— Uma impulsiva, precisando de repreensão. Eris parece aceitar esse papel. Ela tende a fazer o que Sylphie manda, mesmo que um pouco relutante.

Não tinha percebido, para ser honesto. Agora que parei para pensar, no entanto… não passei muito tempo conversando com nenhuma delas recentemente. Talvez eu esteja enxergando a partir de uma perspectiva limitada. Assim que vi que Eris estava se adaptando à nossa família, percebi que não precisava ficar muito de olho nela. Mas só estava indo bem porque Sylphie estava intervindo para cuidar dela.

— É engraçado, não acha? — Ariel disse com um sorriso. — Sylphie é mais nova e menor, mas de alguma forma ela é a irmã mais velha.

— Você é muito perspicaz, Vossa Alteza.

— Ah, eu não diria isso. Comparada a você, só tenho menos coisas para ficar de olho. E menos assuntos em minha mente.

Ariel escolheu esse momento para me lançar um olhar que só poderia ser descrito como sedutor.

Certo, preferiria sem flerte, se você não se importa…

— Agora, então… eu sei que você também é um homem atencioso, Rudeus. Seu olhar está em constante movimento, e seus pensamentos às vezes estão ocupados com coisas que não podem ser vistas.

O tom de Ariel havia mudado para o teatral, mas ela estava me olhando bem nos olhos agora. Aparentemente, estávamos chegando ao tópico real desta conversa.

— E então, há algo que eu gostaria de perguntar. O que você acha de Luke?

Luke? Espera, Luke? Não é sobre Orsted?

— Bem… não tenho certeza do que dizer, exatamente… — Hmm. Que resposta ela queria aqui?

— Este é um péssimo hábito seu, Rudeus.

— O quê?

— Você está tentando descobrir o que eu quero ouvir, não é? É uma abordagem razoável em certas circunstâncias, mas não precisa ser assim comigo. Não aqui. Não agora.

Isso era realmente um “hábito” meu? Não sentia que era… mas olhando para trás, era algo que eu vinha fazendo muito ultimamente. Quando falava com Orsted ou com o Deus-Homem, pelo menos.

Não, era pior do que isso, não era? Estava fazendo isso com minha própria família, também.

— Com toda a honestidade, — disse Ariel categoricamente, — acho que Luke nos traiu.

Isso era inesperado. Deve ter sido a discussão da fogueira que fez isso.

— Não falei nada sobre isso para Sylphie ou para os outros.

Sim, não é surpresa. Mesmo assim, fiquei meio chocado por ela ter chegado a essa conclusão tão rapidamente.

— Eu pensei que você ainda mantinha confiança em Luke, Vossa Alteza.

Eles encerraram a discussão tão bem no final, que assumi que Ariel havia reafirmado sua fé em Luke. Parecia que ela havia decidido que ele não era capaz de traí-la, assim como Sylphie ou seus dois atendentes.

— Eu confio nele, — disse Ariel.

— …

— Luke não tem motivos para me trair. E ele poderia ter feito isso muito mais cedo, se assim quisesse. Seria muito fácil me matar enquanto eu dormia..

— Então, por que suspeitar dele?

— Apesar de sua lealdade, ele ainda poderia ser coagido a me trair de alguma forma — explicou Ariel calmamente. — Por exemplo… Luke tem muito orgulho de sua família e de sua história. Talvez eles tenham levado seus entes queridos como reféns.

Não havia pensado nessa possibilidade antes. Mas isso poderia explicar suas ações até agora, mesmo que ele não estivesse sendo manipulado diretamente pelo Deus-Homem. Digamos que Darius sequestrou sua família e o convenceu a aceitar algum tipo de acordo. Então foi em frente e enviou os soldados Notos Greyrat atrás de nós, quebrando sua palavra para Luke de alguma forma. Isso poderia explicar tanto o comportamento estranho de Luke quanto seu choque ao encontrar essas tropas entre nossos inimigos.

Desde aquela conversa, Luke ficou estranhamente quieto. Talvez estivesse tentando decidir se deveria ficar ao lado de Ariel ou continuar seguindo as ordens de Darius. Isso era provavelmente o que a princesa acreditava, pelo menos.

— E então, estou pedindo sua opinião, — continuou Ariel. — Você concordou em se juntar à minha causa recentemente, e de repente. Talvez saiba de certas coisas que eu não sei?

Ela parecia ter dúvidas sobre mim, também . Isso era compreensível, considerando o jeito que Luke falava de mim. Ela estava sugerindo que eu poderia ter desempenhado algum papel na manipulação dele?

— Tenho uma pergunta, se você não se importa. Por que estamos falando disso aqui, sozinhos na floresta? Poderia te assassinar aqui se realmente fosse seu inimigo.

— Sim, tenho certeza de que você poderia lidar com isso facilmente. Mas se eu te julguei tão mal assim, só poderia culpar a mim mesma.

Esta princesa tinha coragem, claramente.

Então, não era como se houvesse alguma chance de eu realmente traí-la. Havia todos os tipos de razões óbvias pelas quais eu não iria. Ela provavelmente estava apenas fazendo algum tipo de joguinho mental comigo.

— Eu não acredito que Luke tenha traído você, exatamente. Acho que ele está apenas sendo… enganado.

— Por quem?

Bem, essa é uma pergunta complicada. Era sábio contar a ela sobre o Deus-Homem neste momento? Certamente tornaria as coisas mais simples se pudesse explicar toda a verdade, mas…

E se Ariel fosse um dos discípulos dele? E se essa fosse a razão pela qual ela estava tendo essa conversa comigo? Orsted não parecia pensar que era uma possibilidade, mas nunca se sabe…

Acalme-se, droga.

Quais são os riscos de dizer a verdade? Quais são os benefícios? Vamos começar por aí…

— Ah, minhas desculpas, — disse Ariel. — Estou colocando você em uma posição difícil. Tenho certeza de que você já teria compartilhado essas informações, se pudesse.

Pisquei surpreso com isso, porém Ariel ainda não tinha terminado de falar.

— Então, eu gostaria de pedir que você me apresentasse.

Era difícil ver seu rosto na escuridão, mas o sorriso nele parecia caloroso e genuíno.

— Eu quero ver o homem que te controla das sombras. Ou seja, o Deus Dragão Orsted.

— Hein?!

Pera aí, como é que é?

Minha linha de pensamento havia sido completamente descarrilada. Eu não tinha ideia do que fazer com isso.

Por que ela mencionou Orsted? Não estávamos falando de Luke há pouco?

— Como você sabe disso?

— Era óbvio desde o momento em que ele fez você nos levar à Biblioteca Labirinto. A situação era muito conveniente.

— …

— No momento, minha principal preocupação é determinar de que lado Orsted está.

Ela estava falando sobre o conflito entre ela e Grabel, certo? Ou estava falando sobre a lealdade dele em geral? Estava ficando difícil decifrar todas essas sugestões e insinuações vagas. A Princesa Ariel geralmente era tão clara e direta ao ponto, também…

— O que você está planejando fazer depois de determinar isso? — Perguntei.

— Se ele estiver do lado certo, pretendo dar as boas-vindas ao seu apoio — respondeu Ariel. — Não importa o quão horrível ele possa ser, estou preparada para tolerá-lo.

— É mais fácil falar do que fazer, sabe.

— Eu sou da realeza. Uma princesa. Sabemos como manter nossa compostura em torno daqueles que tememos ou odiamos. Não deve ser um problema.

Bem, se você diz. Eu sinto que a maldição de Orsted é mais poderosa do que você pensa, no entanto.

— Beleza. E se ele estiver do lado errado?

— Então eu vou trazê-lo para o lado certo. — Ariel respondeu com confiança.

Uau. Ela realmente acredita que pode fazer isso, não é?

— Ele está em algum lugar por perto no momento, não está? Ou talvez você esteja se comunicando com ele por mensageiro?

Tinha que tomar uma decisão difícil aqui. Era difícil dizer se eu poderia tomá-la por conta própria. Ariel parecia pensar que conseguiria suportar a maldição de Orsted, porém tinha conhecimento do quão potente eram seus efeitos. Qualquer um que visse o classificaria instantaneamente como inimigo. Ela pode acabar me colocando nessa categoria também.

Dito isso, se eu recusasse a proposta dela, basicamente anunciaria que estávamos escondendo algo.

Isso parecia ser mais complicado do que precisava. Não tínhamos intenção de interferir nos planos de Ariel de tomar o trono. O Deus-Homem era quem queria que ela falhasse, e nosso principal objetivo era impedir seus planos.

Ainda assim, não seria fácil explicar tudo isso para ela. Hmm…

— Não há necessidade de pensar demais nisso, Rudeus.

A voz veio de algum lugar atrás de mim.

Assustado, virei-me para encontrar um demônio de olhos dourados e cabelos prateados à espreita na floresta. Quero dizer Orsted, é claro.

— Se Ariel Anemoi Asura deseja falar comigo, eu não a recusaria.

O olhar afiado e intenso de Orsted se concentrou no rosto de Ariel. Ela reagiu como se tivesse sido atingida por um choque elétrico. Seus olhos se arregalaram, suas pernas tremiam violentamente… e uma pequena poça começou a se formar a seus pés.

— Ah… ah…

Havia puro terror em seu rosto. Era a expressão de alguém preso em um pesadelo vivo.

Cara, isso não parece bom. Acho que definitivamente vou ser o traidor agora…

— Aaah…

No momento seguinte, no entanto, um olhar de êxtase de repente se espalhou pelo rosto de Ariel. Ela estava… claramente sentindo prazer agora. Interessante.

Acho que isso pode dar certo, afinal.

 

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Ariel conseguiu recuperar a compostura depois de um tempo. A partir deste momento, ela parecia totalmente serena. Você nunca saberia que algo tinha acontecido em primeiro lugar.

Lavei sua calça e calcinha suja com minha magia da água, depois as sequei rapidamente com meu feitiço original “Secar a Vapor”, uma combinação de magia do vento e fogo. Funcionava quase que instantaneamente, mas não era bom para a maioria dos tecidos, então Aisha me proibiu furiosamente de usá-lo em casa. Porém, no momento, era uma espécie de emergência.

Vivi por muitos anos, mas nunca esperei ver o dia em que estaria lavando calcinha de uma princesa. Neste mundo, as coisas caras pareciam ser feitas principalmente de seda. Ariel se enrolou no meu robe enquanto eu cuidava de tudo. Foi algo realmente bom, que por acaso não parecia terminar.

Nesse momento, Ariel havia colocado suas roupas limpas de volta e parecia ter esquecido tudo sobre o incidente. E eu estava usando um robe que uma princesa seminua estava usando apenas alguns minutos atrás. O cheiro era muito bom…

Não é hora de ficar animado.

Não houve tempo para “diversão” nos últimos dias, então meu medidor de tesão estava ficando perigosamente alto. Teria que lidar com isso mais tarde.

Orsted estava esperando por perto com uma expressão estranha. Agora que a princesa estava pronta, ela se virou para encará-lo mais uma vez.

— Peço desculpas por essa exibição infeliz, Lorde Orsted.

— Está tudo bem.

Ariel ainda parecia meio pálida, mas não conseguia ver nenhum terror em seus olhos agora.

— …

— Por favor, você não precisa me encarar assim…

— Receio que meu rosto esteja sempre assim.

— Ah, entendi. Então esse é outro efeito de sua maldição?

— Correto.

Me perguntei o motivo de Orsted ter aparecido assim em primeiro lugar. Bem, o chefe poderia tomar suas próprias decisões. Neste ponto, eu deveria manter minha boca fechada e ver como as coisas irão se desenrolar.

— Entendo. Conheci várias Crianças Abençoadas e suas contrapartes Amaldiçoadas… mas posso dizer que sua maldição é muito mais poderosa do que a maioria.

— De fato. Mas parece que você consegue, de alguma maneira,  resistir à sua influência.

— Sou membro da família real Asurana. Somos ensinados a suprimir nossas emoções mais negativas.

— Isso não significa que você confia em mim.

— É verdade. Mas é exatamente por isso que eu queria falar com você assim.

Até agora, era como dois boxeadores tentando conhecer um ao outro com alguns jabs leves. Estava começando a me sentir um pouco desconfortável. Ainda assim, provavelmente era importante para mim ouvir atentamente tudo o que estavam dizendo. Aquele cheiro agradável flutuando do meu robe era um pouco distrativo, mas eu precisava me concentrar.

— Vou direto ao ponto. Por que está me ajudando, Lorde Orsted?

— Porque meu inimigo jurado está puxando as cordas de Darius.

— Hmm? Você… quer dizer meu irmão, Príncipe Grabel?

— Não.

— Quem é então?

Certo, aqui vamos nós. De volta à pergunta embaraçosa. Qual é a decisão, chefe?

— Uma coisa maligna que se apresenta como o deus dos homens. Seu nome é Deus-Homem.

Ah uau, ele realmente contou. Desembuchou legal. O quanto planejava contar a ela, afinal? Ainda parecia possível que ela pudesse se virar contra nós em algum momento…

— O Deus-Homem? Não é um dos deuses criadores do mito antigo?

— Eu não posso dizer se ele é o mesmo, mas ele utiliza esse nome, pelo menos.

— Você está me dizendo… que um deus deu a Darius seu apoio? Mas por quê?

— Ele deseja vê-la assassinada, e que Grabel assuma o trono.

— Err…

Parecendo meio perplexa, Ariel se virou lentamente na minha direção. Por um momento, ela me estudou em silêncio.

— Entendo. Certamente é uma história bizarra, mas o rosto de Rudeus parece sugerir que você não está mentindo.

Sou seu detector de mentiras agora? E aqui eu pensando que tinha um rosto inexpressivo decente…

Teria que verificar com Sylphie mais tarde e ver o que ela achava sobre o meu rosto. Talvez ela o chamasse de bonito. Sempre é bom ouvir um elogio desse tipo.

— No entanto, tenho que perguntar o motivo desse deus apoiar meu irmão. Grabel é simplesmente… mais merecedor do trono?

— Não. As motivações do Deus-Homem são puramente egoístas.

— Você poderia… elaborar, talvez?

Orsted olhou para mim e franziu a testa por um momento, mas depois olhou de volta para a princesa. — Daqui a aproximadamente cem anos, o Reino Asura enfrentará uma ameaça existencial.

Ariel piscou de surpresa.

— Nesse momento de crise, — continuou Orsted, — a resposta do Reino dependerá se foi você ou Grabel que assumiu o trono.

Uh, o quê? Ei, eu acho que você ainda não me contou sobre essa parte…

— Se Grabel triunfar, Asura responderá à ameaça com força militar. E se você triunfar, responderá com magia.

— Certamente nenhum de nós estará vivo daqui a cem anos, — disse Ariel.

— Suas políticas como soberana guiarão o Reino por caminhos diferentes. Grabel se concentrará em ampliar seus militares e você fortalecerá suas forças mágicas.

Chefe? Ei, chefe? Por que só estou ouvindo sobre isso agora? Qual é, cara…

— Se Asura depender de seus exércitos, então cairá. Mas se focar nos seus magos, o Reino permanecerá. Deus-Homem deseja que Asura seja destruído.

Seria… possível que Orsted estivesse mentindo para ela? Contando uma história boa e conveniente para que ficasse do nosso lado? Não me pareceu uma boa ideia. Não com meu rosto por perto para dar a resposta.

— Por que o Deus-Homem iria querer ver Asura cair em ruínas?

— Porque produzirá um indivíduo que desempenha um papel fundamental em sua derrota.

— Ele quer impedir o nascimento dessa pessoa?

— Exatamente.

Ariel levou a mão ao queixo, claramente tentando entender tudo isso. Depois de um momento, lançou um olhar incerto na minha direção.

Para! Para de olhar para mim! Não sou seu detector de mentiras, mulher!

Desta vez, tentei o meu melhor para manter uma cara inexpressiva perfeita. Talvez ajudasse um pouco.

— Bem. Honestamente, estou um pouco perplexa no momento. Isso não é nem perto do que eu esperava ouvir, e não consigo decidir se devo acreditar em você…

Droga, falhei de novo.

— Você não precisa confiar em mim, — disse Orsted em um tom ligeiramente pomposo. — Vou te dizer o que você quer saber, de qualquer maneira.

— A que você se refere? — Ariel perguntou, parecendo um pouco surpresa.

— Luke Notos Greyrat não te traiu. Ele está simplesmente sendo manipulado pelo Deus-Homem.

O sorriso de Ariel desapareceu. Era sua expressão padrão para toda essa conversa, mas agora havia desaparecido sem deixar vestígios.

— Rudeus também sugeriu que poderia ser o caso. Mas como exatamente Luke está sendo manipulado, se posso perguntar?

— O Deus-Homem está levando-o pelo caminho errado. Prometendo a ele o tempo todo que é para seu benefício.

— Luke é mais inteligente do que parece. Não tenho certeza se seria tão facilmente enganado.

— Mesmo os homens sábios são propensos a confiar naqueles que lhes dizem o que querem ouvir.

Hmm. Senti que Orsted geralmente me dizia coisas que eu não queria ouvir, mas confiava nele. Talvez essa regra não fosse universal.

— Isso tudo é bastante difícil de acreditar. Você realmente acha isso credível também, Rudeus?

Ariel se virou para mim novamente. Eu estava de volta ao trabalho de detector de mentiras, aparentemente.

Tinha que admitir, esta era uma estratégia inteligente. Se Orsted estivesse inventando um monte de bobagens, eu teria que improvisar algo que soasse consistente. Qualquer deslize da minha parte daria tudo errado.

Felizmente, tive uma boa resposta para sua pergunta.

— O Deus-Homem me manipulou por muitos anos. Ele aparecia nos meus sonhos e me dava sugestões sobre o que deveria fazer a seguir. Ganhei todo tipo de coisa seguindo seus conselhos. Mas era tudo parte de seu jogo, ele sempre planejou me trair no final. Me enganou para confiar nele, e então se virou contra mim. No final, até me forçou a lutar contra Orsted. Acho que ele está fazendo algo muito semelhante a Luke agora.

As palavras saíram mais facilmente do que eu esperava. Até consegui manter meu tom relativamente neutro.

Ariel me ouviu inexpressivamente, depois se virou para Orsted. Abriu a boca para falar, então balançou a cabeça e fez uma pausa. Por um longo momento, ela permaneceu em silêncio, aparentemente perdida em pensamentos.

— Em outras palavras… Luke não está trabalhando para Darius, afinal?

— Correto. Ele serve aos interesses de seus inimigos, mas o faz sem saber. Imagino que ele permaneça leal a você.

Fizemos um longo desvio, mas no final das contas, essa parecia ser a coisa que Ariel mais se importava. Importava mais para ela do que a verdade da história de Orsted.

— É um grande alívio ouvir isso.

— Você acredita nas coisas que eu te disse, então? — indagou Orsted.

— Sob circunstâncias normais, sua história teria soado ridícula. No entanto, parece consistente comparando com minhas próprias observações. Isso explica o porquê Rudeus estava olhando na direção de Luke com tanta frequência, por exemplo…

Estava olhando para ele tanto assim?

— Para ser sincera, seu timing foi suspeitosamente perfeito. Mas decidi aceitar o risco de confiar em você.

Enquanto proferia tais palavras, Ariel virou os olhos novamente na minha direção. Talvez ela tenha escolhido confiar em mim, e não em Orsted? A ideia era lisonjeira, mas também me preocupava um pouco.

— Diga-me, esse Deus-Homem tem mais alguém sob seu controle?

— Provavelmente está usando Darius também.

— Isso parece uma escolha lógica. Tem mais alguém?

— As probabilidades são de que seu terceiro apóstolo seja o Imperador do Norte Auber ou a Deus da Água Reida. Mas é difícil dizer com certeza.

— Existem apenas três desses… apóstolos, então?

— Correto. Podem aparecer a qualquer momento.

— Entendi, — disse Ariel com um leve aceno de cabeça. — Então você e Rudeus estão aqui para lutar contra esses três apóstolos e interferir nos planos do Deus-Homem. Isso está correto?

— Está. Você é bastante perspicaz, devo dizer.

— Obrigada. Eu me considero relativamente inteligente.

Havia um toque de orgulho real na voz de Ariel, mas ela ainda não havia dado um sorriso. Parecia que seu rosto estava preso em uma expressão vazia.

— Agora, então, Lorde Orsted, tenho uma proposta.

— Oh?

— Como parece que compartilhamos o mesmo objetivo, gostaria que você me considerasse sua… subordinada. Se você me der ordens, as seguirei.

— Duvido que seus companheiros aceitem isso.

— Não vejo necessidade de contar a eles. Não podem me acusar de vender minha alma ao diabo se não souberem que isso aconteceu.

— …

Ele está um pouco magoado por ela o ter chamado de diabo, não?

— Estou disposta a usar todos os meios à minha disposição para garantir nossa vitória, — disse Ariel. — Quero o máximo de aliados poderosos que puder encontrar.

— Você não está preocupada que eu possa te trair no final?

— Não sou tola o suficiente para desperdiçar minhas oportunidades tentando evitar todos os riscos.

Isso tudo soou impressionante o suficiente, mas tive a sensação de que Ariel achava que estava jurando lealdade a algum rei demônio maligno. Eu me senti da mesma forma quando me ajoelhei diante de Orsted. No entanto, como se pode ver, a Corporação Deus Dragão era um negócio legítimo com excelentes benefícios e prazos razoáveis. O CEO parecia um desgraçado do mal, mas tratava seus funcionários muito bem.

— Uma última coisa, Lorde Orsted… Por enquanto, gostaria que você colocasse o problema de Luke em minhas mãos.

— Por quê?

— Rudeus pode concentrar toda a sua atenção em nossa batalha contra os apóstolos do Deus-Homem, enquanto eu dedico minha atenção a lidar com Luke e a nobreza asurana. Dividir nossas responsabilidades deve nos permitir usar nosso tempo de forma mais eficiente.

— Muito bem. Vou deixar você lidar com Luke por enquanto. Conquiste-o, se for possível, e mate-o se for preciso.

— Que assim seja. Obrigada, Lorde Orsted.

Com essas palavras, Ariel se ajoelhou diante de seu novo superior, o qual  respondeu com um simples aceno de cabeça, seu rosto tão severo como sempre.

 

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Eu não conseguia me lembrar da última vez que me senti… confuso? Perplexo? Talvez confuso fosse a expressão correta. De repente, Ariel jurou lealdade a Orsted. A partir de agora, estaremos compartilhando nossos planos e trabalhando para alcançar os mesmos objetivos. Tinha agora a Segunda Princesa de Asura como colega de trabalho.

— Espero que você mantenha isso em segredo de Sylphie e dos outros, Rudeus.

— Claro. Só que tenho que perguntar… você tem certeza disso tudo?

— Sim. Sinto-me profundamente aliviada, para ser honesta. E não estou falando sobre a condição da minha bexiga.

A julgar pela expressão energizada em seu rosto, ela realmente quis dizer isso. Eu não tinha certeza do que dizer.

— Suponho que você e eu somos verdadeiramente aliados agora, Rudeus. Finalmente.

— Sim, parece que somos.

Para ser honesto, ainda me sentia um pouco desconfortável com os detalhes disso tudo. Mas Orsted tinha feito essa conexão, e eu tinha que respeitar isso.

— Só há uma coisa, Vossa Alteza…

— Sim, pois não?

— Acho que devo deixar isso claro com antecedência. Luke é sua responsabilidade a partir de agora, mas se eu achar que ele está ativamente tentando machucar Sylphie ou Eris, irei intervir e acabar com ele.

— Em outras palavras, você não vai respeitar a decisão de Orsted?

— A única razão pela qual estou trabalhando para Orsted é para proteger minha família.

Parecia melhor esclarecer isso como uma precaução. Dito isso, Ariel parecia muito confiante de que poderia lidar com a situação com Luke. Não havia como dizer como as coisas poderiam acontecer, mas estava disposto a deixar isso nas mãos dela por enquanto. Afinal, ela certamente tinha uma chance muito melhor do que eu de colocar juízo no cara.

— Entendo completamente, Rudeus. E, aliás, estou ansiosa para trabalhar com você.

— Fico feliz em tê-la do nosso lado.

Assim, a Corporação Orsted garantiu seu segundo funcionário oficial.

Provavelmente nem é preciso dizer, mas Sylphie não ficou muito satisfeita quando nós dois voltamos para o acampamento parecendo mais amigáveis do que antes.

 


 

Tradução: Rlc

Revisão: Play_C4bs

QC: Guilherme

 

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