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Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 16 – Cap. 09 – Antes de Viajar para o Reino Asura

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Pela terceira vez, encontrei Orsted no chalé nos arredores de Sharia.

— E foi assim que Ariel acabou convencendo Lorde Perugius a ajudá-la e como descobrimos que não poderíamos acessar os círculos mágicos localizados dentro da fronteira Asurana.

— Hm — Orsted sorriu.

Parece tão sinistro quando ele faz isso. Mas acho que provavelmente é  apenas seu sorriso normal.

— Entendo. Você se saiu bem então.

Se a ruga em sua testa era alguma indicação, ele estava tramando algo mesmo enquanto me elogiava.

Não, o rosto dele é sempre assim.

— Mas aconselho você a nunca mais voltar à Biblioteca do Labirinto. Aquele Rei Demônio guarda rancor.

— Urk… Certo, entendi.

Infelizmente, não fui poupado de uma repreensão pelo meu fracasso lá. Orsted até fez uma careta enquanto dizia isso. Não, na verdade, acho que ele ficou irritado comigo. Sua expressão parecia dizer:

De todos os lugares, como você causou problemas em uma biblioteca? — Mas não foi minha culpa agora, foi? Não sabia que o Luke ia chorar como um bebê por causa de um livro.

— Suponho que não há como eles aceitarem um pedido de desculpas? — perguntei.

— Isso seria inútil. Reis Demônios não funcionam com bom senso.

Pela minha escassa interação com esse Rei Demônio, parecia que ele poderia realmente estar disposto a me ouvir, mas Orsted não parecia pensar assim. Admito que fizemos uma bagunça. Destruímos uma série de estantes enquanto fugimos, embora não tivéssemos outra escolha. Queria expressar o quão arrependido estava, pelo menos, mas eu estava desistindo de voltar, como Orsted aconselhou. Talvez nunca mais aparecer lá fosse o melhor pedido de desculpas que pudesse dar.

Não, no caso daquele Rei Demônio, a melhor coisa que posso fazer é escrever no meu diário. Atualizações diárias seriam impossíveis, mas tentaria fazer o máximo possível.

Enfim, deixando isso de lado…

— O que você acha que aconteceu aos círculos de teletransporte? — perguntei.

O grupo suspeitou do meu envolvimento por um momento. Eles caíram em si imediatamente depois, mas isso ainda era o suficiente para colocar uma semente de dúvida em suas cabeças, para fazê-los pensar que eu estava escondendo algo.

— Obra do Deus-Homem, tenho certeza. Parece que sua primeira tentativa de nos frustrar falhou. — Orsted assentiu para si mesmo, confiante em sua explicação.

Ele estava com um humor extraordinariamente bom. Ele continuou murmurando algo como:

— Só mais uma pessoa…

Eu não tinha ideia do que ele queria dizer, mas ficaria grato por qualquer esclarecimento.

— Se não se importa, poderia me explicar o que quer dizer com o Deus-Homem falhando?

— Hmph. De fato. — Orsted ajustou sua postura e olhou para mim com olhos flamejantes. Se ele forçasse mais sua expressão, poderia começar a brilhar e atirar raios laser em mim. Pew, pew!  — Perugius confirmou que esses círculos de teletransporte dele são inutilizáveis, certo?

— Correto, patrão.

— Patrão…? — Orsted fez uma pausa antes de continuar. — Não há muitos desses círculos dentro das fronteiras de Asura. A maioria foi colocada para que a realeza e os nobres pudessem escapar se alguma vez se encontrassem encurralados. Entre eles, vários já não são funcionais e esses são os que Perugius usou.

Hm, interessante. Então eles são como uma rota de fuga secreta para a família real.

— Assim, você tem sua resposta — disse ele.

Entendo. Então essa é a minha resposta… Uma ova que é! Isso não é resposta nenhuma!

— O que você quer dizer com isso? — Exigi, caindo de joelhos e inclinando a cabeça. — Por favor, explique! Preciso de algo mais concreto para trabalhar!

Orsted fez uma careta ameaçadora.

Certo, não é ameaçadora. É assim que o rosto dele sempre parece.

— Simplificando, esses círculos de teletransporte estão em lugares onde uma pessoa comum não pode encontrá-los. Muitos são protegidos por soldados. Alguém que possa entrar e destruí-los deve ser alguém de autoridade respeitável, seja um nobre ou um aristocrata de alto escalão.

— Certo, eu entendo onde você quer chegar com isso. E?

— Use a cabeça um pouco.

— Sim, senhor.

Beleza, vamos repassar isso. O culpado era um aristocrata real ou alguém com autoridade para entrar em uma área restrita, de repente, cortou sua própria tábua da salvação destruindo todos os círculos que atuavam como rotas de fuga para eles. Sem mencionar que esses já eram círculos inoperantes que Perugius poderia usar para viajar. A possibilidade de que o Deus-Homem orquestrasse tudo isso parecia astronomicamente alta. Um cidadão normal não tinha razão para destruir um círculo mágico. Isso significava que um de seus apóstolos era da realeza ou alguém em posição de manipular a família real. Os candidatos mais prováveis para essa função eram…

— Primeiro Príncipe Grabel ou Alto Ministro Darius. Um deles é o apóstolo do Deus-Homem?

— De fato. A disseminação desses círculos por todo o reino implica o envolvimento do Alto Ministro Darius, uma vez que seus soldados privados estão espalhados por toda a nação.

Ooh, agora eu estou começando a entender os fatos! Não sabia que ele tinha um exército privado espalhado por Asura, mas faz sentido!

— Então, podemos ter alguma certeza de que o Alto Ministro Darius é o apóstolo do Deus-Homem?

— Sim. É possível que seja o Primeiro Príncipe, mas isso não muda nada. Teremos que matar os dois de qualquer maneira.

Bem, o Primeiro Príncipe é inimigo da Ariel, então faz sentido… Mas isso nos justifica matar um Príncipe? Acho que não importa. Se Orsted diz que precisa ser feito, terei que fazê-lo.

— Isso significa que há apenas um apóstolo desaparecido — disse Orsted.

— Só um? Isso significa que você tem certeza de que Luke é um apóstolo agora?

— Sem dúvida alguma.

— E quanto a Ariel? — perguntei. — Ela é uma possibilidade?

— Não.

Beleza, vamos lá. Chega de respostas vagas.

— E em que você baseia isso? — eu disse, exasperado.

— Há certas pessoas que o Deus-Homem não pode manipular.

— Certo, então, uh… como você pode dizer que ela é um deles?

— Intuição. Com base em muitos anos de experiência — disse Orsted.

Intuição, hein…

Ele fez uma breve pausa antes de responder, o que significava que tinha certeza de que Ariel não era uma apóstola, mas não podia me dizer seu verdadeiro raciocínio. Decidi não me intrometer mais. Havia perguntas mais importantes em minha mente.

— O que acontece se sua intuição se revelar errada e ela for uma apóstola?

— Se isso acontecer, assumirei a responsabilidade e me livrarei dela.

“Se livrar” a “matando”? Isso foi duro, especialmente considerando o quão próximos ficamos nas últimas semanas, incluindo o incidente em que eu a encontrei enquanto ela estava se trocando. Mas se Orsted estava disposto a apostar tanto nela, eu provavelmente deveria confiar nele.

Hm. Nesse caso, talvez eu devesse compartilhar informações sobre ele com Ariel? Sua maldição não parecia ter tanto efeito nela e se ela não fosse uma das apóstolas do Deus-Homem, talvez fosse melhor revelar tudo. Dessa forma, ela poderia trabalhar conosco para ficar de olho em Luke.

Não, melhor não fazer isso. Como Sylphie, ela confiava nele cegamente. Ela nunca acreditaria que ele trabalharia para sua destruição. E Luke só estava fazendo o que achava melhor para ela. Trazer à tona o Deus-Homem seria cutucar um ninho de vespas. Luke não era inimigo da Ariel. Ser manipulado pelo Deus-Homem não mudava sua lealdade. Ele só estava fazendo coisas que pareciam uma boa ideia, apesar do fato de que eram tudo menos isso.

Agora, Orsted o considerava um mero espião que observava minhas ações e as relatava ao Deus-Homem. Ele não faria nada para machucar Ariel. No entanto, ele pode acabar agindo de acordo com o conselho do Deus-Homem para fazer algo que parecia ajudar Ariel na superfície, mas acabaria levando à sua condenação. Isso é o que realmente o tornava perigoso. Eu podia entender o desejo instintivo do Orsted de matá-lo.

— Sir Orsted — eu disse de repente.

— O quê?

— Há algo que eu gostaria de esclarecer com você, apenas para estar do lado seguro, sobre como devo abordar nossa batalha com o Deus-Homem. Você se importa se eu escolher seu cérebro?

Ele fechou a cara.

— Hm? Tudo bem.

Comecei a delinear sua guerra com o Deus-Homem.

Primeiro, sabíamos que o Deus-Homem podia ver o futuro. Sua visão era ao mesmo tempo expansiva e precisa. Ele também tinha a capacidade de manipular as pessoas para mudar o curso desse futuro. No entanto, não podia ver eventos relacionados ao Orsted. As artes secretas do Deus-Dragão eram mais fortes do que a visão presciente do Deus-Homem. Sempre que Orsted se envolvia em um caso, o Deus-Homem via um falso reflexo do futuro. Assim, ele sabia que Orsted estava envolvido sempre que sentia algo ligeiramente errado ou o futuro experimentava uma mudança dramática, mas não conseguia ver exatamente como Orsted havia provocado essas mudanças. Tudo o que podia fazer era adivinhar. Se não pudesse definir os objetivos do Orsted ou o que ele havia planejado, o Deus-Homem não poderia responder de acordo e influenciar o futuro de uma maneira que o beneficiasse.

A maldição de Orsted significava que nenhum dos apóstolos do Deus-Homem tinha sido capaz de se aproximar o suficiente para espionar suas atividades, então seus movimentos não eram detectados. Ao mesmo tempo, essa maldição também limitava o escopo do que ele poderia realizar. Só agora, depois que fui para seu lado que ele tinha mais opções à sua disposição.

No que diz respeito ao Deus-Homem, eu era atualmente um peão invisível no tabuleiro de xadrez. Mas se eu tomasse medidas concretas, ele poderia descobrir o que Orsted estava planejando. Era por isso que eu mantinha meus movimentos discretos, para evitar mostrar minhas intenções para o Luke, que agia como os olhos e ouvidos do Deus-Homem. Também escondi informações de Sylphie e Ariel, já que eu sabia o quanto elas confiavam nele e que responderiam quaisquer perguntas que ele fizesse.

Dizem que você não pode colocar portas na boca das pessoas, então tentei não dizer nada a ninguém, na medida do possível.

Eu planejava manter os objetivos e ações do Orsted o mais secreto possível. Isso pode me fazer parecer suspeito para os outros, como desta vez, mas isso certamente nos levaria à vitória. Manteríamos nossas intenções em segredo ao mesmo tempo que derrotávamos os apóstolos do Deus-Homem enquanto trabalhávamos para alcançar nossos objetivos. Eu serviria Orsted pelo resto da minha vida e, daqui a cem anos, ele sairia por cima.

— Essa é a minha interpretação da situação. Está certa?

— Sim. Está. — Orsted assentiu.

Nesse caso, tudo o que eu tinha feito até agora estava tecnicamente correto. Perugius me chamou de fraco, mas estávamos em direção ao nosso objetivo. Por enquanto, sabíamos que Luke e Darius eram os candidatos mais prováveis a serem apóstolos do Deus-Homem. Assim faltava um.

— Me pergunto quem é a última pessoa — eu disse.

— Não sei… Mas, a julgar pelos padrões passados do Deus-Homem, é altamente provável que seja alguém extremamente hábil em artes marciais ou magia.

— Alguém habilidoso em artes marciais ou magia…

Uh, ele disse que não seria ninguém da minha família, certo? O que significa que Eris e Sylphie estão fora de cogitação, felizmente.

Pensando bem, o diário do meu eu do futuro mencionou um Imperador do Norte e um Deus da Água no Reino Asura. Ariel também mencionou que o Primeiro Príncipe estava empregando um Imperador do Norte.

— Será que é o Imperador do Norte ou Deus da Água? — Eu perguntei.

— Auber e Reida, hein? Sim, há uma boa chance. Quando você for para o Reino Asura, tenha cuidado.

— Você não vai vir junto?

— Estarei seguindo você, é claro, mas não vamos trabalhar juntos.

A maneira como ele disse “seguindo você” soou sinistra, como se ele fosse me seguir como um marionetista. Bem, isso significa que posso consultá-lo se surgir alguma coisa. Não é tão ruim.

— Tudo bem — falei. — Nesse caso, Luke, Darius, Auber e Reida são aqueles que devo ter cuidado.

— De fato. Você pode matar Darius, Auber ou Reida, se quiser. Quanto a Luke… fique de olho na situação e use seu discernimento. Se necessário, elimine-o.

— Você quer que eu decida se devo matar algum deles? — fiquei boquiaberto.

— Sim. Deixo a seu critério.

Ele realmente achava que eu era alguém capaz de tomar esse tipo de decisão? Desculpe, pergunta boba. Claro que sim. Eu não havia mostrado qualquer hesitação quando o ataquei e tentei matá-lo, afinal.

— Bem, o que faremos até a hora de partir? — Eu disse.

Orsted deu de ombros.

— Faça os preparativos.

Preparativos, certo… mas o que isso significa?

— O que exatamente devo preparar?

— Primeiro, prepare seu equipamento. Você provavelmente enfrentará os apóstolos do Deus-Homem em batalha enquanto estiver em Asura. Com sua força, tenho certeza de que você não terá problemas, mas seria sábio levar alguma forma de proteção. Ele se virou e olhou para fora da cabana, onde minha Armadura Mágica estava em ruínas. Zanoba estava consertando-a, mas não havia lugar para armazená-la na cidade, então a deixamos aqui.

— Essa coisa não corresponde à armadura do Deus-Lutador, mas ainda é uma obra espetacular. Tenho certeza de que você deve ter trabalhado duro para criá-la.

— Bem, sim… mas recebemos conselhos do Deus-Homem em sua construção.

— Oh? Então ele cavou sua própria cova. Como isso se chama?

— Se chama o quê? — pisquei para ele.

— A armadura.

— Oh. Armadura Mágica.

— Entendo… Que nome sem inspiração. Que tal eu dar um novo nome para ela? Vejamos…

— Não, mas obrigado — eu disse interrompendo-o.

Orsted estreitou os olhos e riu. Seu sorriso estava tão perturbador como sempre. Nosso gosto por nomes (ou a falta deles) à parte, me perguntei como Zanoba e Cliff reagiriam se soubessem que alguém tão incrivelmente poderoso havia elogiado sua criação.

— Se planeja continuar usando essa coisa no futuro, considere melhorá-la. Atualmente, drena toda a sua mana em uma única batalha.

Eu franzi a testa.

— Mas, mesmo que fizéssemos uma versão menor e mais eficiente, não seria concluída em apenas duas semanas.

— Então teremos que arquivar essa ideia para outra hora — disse Orsted, acariciando seu queixo.

Será que ele estaria disposto a dar uma mãozinha? Nesse caso, acho que o símbolo da Sociedade do Deus Dragão acabaria gravado nela.

— Não ser capaz de usar a Aura da Batalha certamente é inconveniente — murmurou Orsted. — Por enquanto, vou ver se consigo preparar alguns itens mágicos para você usar.

— Oh, isso seria ótimo. Obrigado.

Então, Orsted me forneceria não apenas o melhor ambiente de trabalho e remuneração, mas também o melhor equipamento? Maldição. Mas faz sentido. Ele me arrumou um robe também. A diferença entre ele e a abordagem inescrutável e desinteressada do Deus-Homem era como o dia e a noite.

— Falando nisso… tenho ouvido bastante sobre a armadura do Deus-Lutador ultimamente. Como ela é exatamente? — Eu perguntei.

— A maior obra-prima do Rei Demônio-Dragão Laplace e também seu pior fracasso.

A obra-prima de Laplace? Então foi ele que fez, não foi?

— A armadura em si brilha dourada com poder mágico e confere força imensurável ao seu portador. No entanto, a mana que contém é tão grande que deu à armadura uma mente própria. Ela assume o controle sobre o usuário, forçando-o a lutar até a morte. É uma armadura amaldiçoada.

Armadura amaldiçoada, hein? Acho que o povo dragão tem um talento especial para fazer esse tipo de coisa. Laplace fez todos os tipos de itens amaldiçoados, das lanças do Superd a essa armadura dourada… Nada do que ele tinha criado era bom.

— Dito isso, a armadura atualmente está inativa no meio do Mar de Ringus. — continuou Orsted.

Ele parecia saber tudo sobre qualquer coisa. Isso fez dele um recurso verdadeiramente conveniente. No entanto, não podia depender dele para tudo; eu tinha que encontrar algumas coisas que poderia fazer de forma independente. Infelizmente, só faltavam duas semanas para partirmos. Não havia muito que eu pudesse fazer.

Eu não podia ficar complacente simplesmente porque era subordinado do Orsted. Ele era um pouco indiferente sobre os assuntos. Ou, mais precisamente, ele parecia pensar que sempre poderia tentar novamente se a primeira tentativa falhasse. Talvez ele pretendesse desenvolver magia que o permitisse voltar ao passado depois de ler o diário do meu eu do futuro. Ou talvez já tivesse experimentado um lapso de tempo como esse.

Pensando bem, ele uma vez disse algo parecido com “tentar de novo na próxima vez”, e assim que as palavras saíram de sua boca, fez uma cara estranha, como se tivesse percebido que havia falado demais.

Talvez ele tivesse passado por esses lapsos temporais não uma ou duas vezes, mas várias vezes. Eu não tinha ideia do porquê mantinha isso em segredo, mas como ele não havia mencionado, provavelmente não me responderia, mesmo que eu perguntasse.

Mas mesmo que Orsted pudesse simplesmente fazer as coisas de novo na próxima vez, não havia próxima vez para mim. Você só tem uma vida para viver… ou assim eu gostaria de dizer, mas isso provavelmente não foi o mais convincente vindo de mim, dada a minha experiência com reencarnação. Mesmo assim, depois de conversar com meu eu do futuro, observar seus últimos momentos e ler seu diário, pude sentir o quão cheio de arrependimentos ele estava. Eu não poderia simplesmente apostar em meus erros e começar de novo se desse errado. Ou melhor, senti que estaria traindo a pessoa que fui até agora se mantivesse essa mentalidade.

É por isso que preciso colocar tudo o que tenho nisso.

Mas como, especificamente?

Claro, eu poderia aprimorar minhas habilidades de luta e magia, mas não acho que mais prática me tornaria muito mais forte de repente. Se isso fosse possível, ficaria feliz em trabalhar em um regime rigoroso para aumentar minhas habilidades, mas não era. Além disso, qualquer coisa nova que eu conseguisse em apenas duas semanas de preparação seria pouco confiável e incompleta. Era melhor continuar desenvolvendo as habilidades que eu já tinha.

Além disso, decidi reservar um tempo para executar algumas batalhas simuladas. Eu sentia como se algo estivesse faltando há algum tempo. A prática e o treinamento eram importantes, mas nada poderia substituir o teste das técnicas que aprendi em batalha. Pugilato eu diria, se isso fosse boxe. Ou lutas de exibição, se você preferir a terminologia de jogos de luta.

Minha parceira de treino seria a Eris. Ela agora era uma Rei da Espada e muito melhor do que eu no combate corpo a corpo, então seria um boa luta. Na verdade, estava mais preocupado com a situação de não ser considerado um desafio para ela. Pelo menos eu poderia usar meus feitiços Atoleiro e Névoa Profunda para dar a ela uma nova experiência de batalha. Por mais que ela se gabasse de suas proezas de batalha, ainda era vulnerável a armadilhas que visavam suas fraquezas.

Além disso, eu pediria a Zanoba e Cliff que tentassem reparar e melhorar minha Armadura Mágica. Precisava ser menor e mais eficiente em termos de combustível, mesmo que isso significasse reduzir suas capacidades. Eles provavelmente não conseguiriam fazer isso em duas semanas, mas isso me serviria a longo prazo, então eu queria que começassem agora. Com a ajuda do Orsted, certamente podemos terminar o projeto nos próximos dois anos. Parecia que ele também forneceria qualquer equipamento que precisássemos, isso já diminuiria o tempo consideravelmente, pelo menos.

Então era assim que eu planejava melhorar meu treinamento e equipamento. Agora eu só precisava pensar sobre o que restava. Com tão pouco tempo, precisava planejar com cuidado. Então decidi agendar minhas próximas duas semanas.

Primeiro, anunciaria minha próxima longa ausência para a família. Não era um tópico que queria abordar, em parte porque provavelmente não estaria por perto quando a Roxy entrasse em trabalho de parto, mas não podia evitar contar a elas para sempre.

Em seguida, precisava entrar em contato com Cliff. Além das melhorias que eu queria que fizesse na Armadura Mágica, eu tinha outro pedido para ele. Ou seja, queria que ele conduzisse experimentos sobre a maldição de Orsted.

Pensando bem, me pergunto se Orsted sabe o que está acontecendo com a Zenith.

— A propósito, senhor… — comecei a falar.

— O que foi?

Expliquei a condição da Zenith para ele e trouxe à tona o livro que descobri na Biblioteca do Labirinto que se referia a uma Criança Abençoada que podia remover maldições.

— Aquela Criança Abençoada não parece estar entre os vivos agora, mas você sabe de qualquer outra maneira que possa curá-la? — eu disse.

Orsted refletiu em silêncio. Depois de um tempo, finalmente falou, sua voz era mais gentil do que o normal.

— É verdade que você pode ser capaz de fazê-la voltar ao normal se usar as habilidades desta Criança Abençoada Impotente. No entanto, suas habilidades não substituem uma cura real. Se você tentar forçar a mente dela a voltar ao que era antes, isso pode sair pela culatra e as coisas podem ficar piores.

Então, há probabilidades decentes de que só a piore, não é?

Então, novamente, depois de tudo o que ela passou, foi um milagre que estivesse viva. Se tentar interferir em seu estado mental significava possivelmente piorar as coisas, provavelmente era mais sábio ficar de olho nela por enquanto. Sua condição não era uma preocupação de saúde no momento.

Acho que tenho que ser paciente e cuidar dela.

— Certo. Bem, com isso fora do caminho, vou começar os preparativos para partir para o Reino Asura — eu disse.

Esclareci todas as perguntas que tinha, então tudo o que resta é fazer o melhor que posso no tempo que tenho!

 

Separador Tsun

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No dia seguinte, tivemos nossa reunião de família como planejei.

Na verdade, sinto que temos tido muitas dessas reuniões de família ultimamente.

Desta vez, era para anunciar minha partida para o Reino Asura. Eu disse a elas que ficaria fora por cerca de três a quatro meses para ajudar Ariel.

A reação a isso foi indiferença.

— Certo, bem, boa sorte com isso. Oh, mas antes de ir, eu agradeceria se você pudesse fazer um pouco de terra para o jardim — disse Aisha. Ela estava mais preocupada com seu jardim do que com meu bem-estar.

— Então a Princesa Ariel vai sair da academia… — Norn murmurou. Assim como Aisha, ela também não parecia muito preocupada comigo. Será que elas farão uma festa de despedida?

Isso é… estranho. Da última vez que nos despedimos nós cantamos e dançamos, elas pareciam um pouco mais, não sei… emocionais? Quero uma despedida emocionante de novo. Eu quero ser capaz de abraçar minhas irmãs choronas e consolá-las fazendo a minha melhor expressão de Exterminador do Futuro e dizendo: “Eu voltarei!”

— Ei, Aisha — falei. — Sabe, uh, talvez eu não volte para casa desta vez…

— Hã? Toda vez que fazemos isso, você sempre age como se não fosse voltar para casa, mas depois aparece de volta à nossa porta como se não fosse nada demais.

Eu mal escapei da morte todas as vezes, mas talvez minhas irmãzinhas não vissem dessa maneira. Ou talvez estivessem tentando ser atenciosas e não me preocupar antes de partir. Seja qual for o caso, faria o meu melhor lá fora. Eu ficaria satisfeito se as duas pudessem viver suas vidas pacificamente enquanto isso.

— Além disso, isso significa que outra mulher se juntará à nossa casa — disse Norn.

— Exatamente, o que nos faz sentir idiotas por nos preocuparmos — disse Aisha concordando. — E desta vez, a senhorita Sylphie e Eris vão com você. Isso nos dá uma paz extra de espírito.

Como se fosse uma deixa, Eris se retirou para seu quarto para começar a fazer as malas para a viagem. Mais cedo, quando falei para onde iria, ela disse:

— Oh? Então eu também vou. — Ela nem hesitou.

— Falando nisso, quem você acha que ele trará para casa desta vez? — disse Aisha, virando-se para Norn.

— Difícil dizer com certeza. Talvez uma das garotas que servem a Princesa Ariel? A senhorita Ellemoi ou a Cleane, talvez?

Minhas duas irmãs estavam dizendo coisas muito rudes, mas para constar, eu não pretendia ter mais esposas. Por um lado, eu quase nunca tinha falado com Ellemoi ou Cleane. Eu pensei em dizer isso, mas por outro lado, eu realmente não confiava na cabeça entre minhas pernas.

Mas duvido seriamente que algo assim vá acontecer desta vez. Sylphie e Eris estarão comigo, afinal.

Exato. Estava sozinho nas últimas duas aventuras, o que me deixou emocionalmente devastado. As coisas não foram bem porque não tinha ninguém para me barrar. Eu precisava de alguém para me impedir. Sylphie e Eris eram perfeitas para isso. Tudo o que eu tinha que fazer era pedir a ajuda delas e assim seria feito.

— Vou orar por sua segurança — disse Lilia. Ela e minha mãe não agiram diferente do normal.

— Senhorita Lilia, hum, sobre a Lucie… por favor, cuide bem dela. — A expressão da Sylphie estava pesada de culpa.

— Sim, minha senhora. Vou cuidar de tudo enquanto você estiver fora. — Lilia inclinou a cabeça.

— Eu sei que não é bom abandoná-la assim, mas eu só…

Lilia balançou a cabeça.

— Não se preocupe. Esta é a razão pela qual você tem uma empregada como eu aqui.

Lucie começou a falar palavras simples, como nomes de membros da família ou animais de estimação, como: Mamãe, Asha, Lala, Mu, Belha, Tu. Meu coração tremia de emoção, observando como ela se esforçava para dizer as palavras. Ela ainda não tinha me chamado de “Papai”. Ela dizia “Rudy” às vezes, mas não “Papai”. Eu não tinha passado muito tempo com ela ultimamente, então provavelmente seria a última coisa que ela aprenderia. E agora, Sylphie e eu íamos deixá-la em casa para fazer uma viagem.

Eu tinha a sensação de que nós dois ainda não tínhamos entendido o que significava ser pais. Especialmente eu. Não fazia ideia de quando esse dia chegaria. Eu achava que Lucie era o anjo mais adorável, mas pensar assim não era a mesma coisa que ser pai, era?

— Então eu não vou te ver de novo por quatro meses? Vai ser solitário — disse Roxy, cabisbaixa.

Eu não estava apenas deixando minha filha para trás, mas uma esposa grávida também. Me senti horrível por isso.

— Bem, não tenho certeza. Eu gostaria de voltar antes de você dar à luz, se possível — eu disse.

— Não se preocupe. Leve o tempo que precisar. Enquanto eu tiver a Lilia e a Aisha ao meu lado quando for a hora, não preciso de você aqui. Em troca, gostaria que me trouxesse uma lembrança. Eu adoraria comer algumas balas e doces azedos do Reino Asura — aquelas frutas secas cobertas de açúcar. Elas são deliciosas.

Roxy estava de volta à sua expressão de sempre. Ela provavelmente estava ansiosa, já que este seria seu primeiro parto, mas não deixou que nada desse tumulto interior aparecesse.

— Você tem um olhar lamentável em seu rosto, Rudy — continuou ela. — Eu não tenho ideia com o que você está preocupado, mas na Tribo Migurd, é natural que os homens saiam para caçar enquanto as mulheres ficam em casa para proteger a casa e as crianças.

Ela estufou o peito enquanto falava, sempre a esposa confiável. Eu sabia que tudo provavelmente acabaria bem se deixasse nas mãos dela, mas era realmente justificável deixá-la assim?

— É uma pena, no entanto, já que finalmente consegui essas longas férias. Roxy suspirou. — Eu pensei que seria capaz de passar elas calmamente com você.

— Sim, eu gostaria que pudéssemos ter feito isso.

Roxy tirou uma folga até o nascimento do bebê. Em Ranoa, era normal que a esposa deixasse o emprego quando engravidasse para poder se concentrar em criar seu filho, mas Roxy queria continuar sendo professora, então persuadiu Jenius a dar a ela uma licença maternidade. Só depois soube que tinha usado meu nome para conseguir o que queria, mas se ela conseguiu, então tudo bem.

Ainda havia algum tempo antes da nossa partida. Decidi passar os momentos livres que tinha com a Roxy.

Naquela noite, ouvi vozes acaloradas de Sylphie e Eris saindo do quarto da última. Sylphie disse algo e Eris respondeu. Do outro lado da porta, ouvi Eris gritando palavras como: “Por quê?!” e “Como assim?!” Sylphie respondia cada questionamento calmamente, assim gradualmente o tom da Eris foi ficando mais silencioso até que, no final, ela finalmente murmurou: “Tudo bem, entendi.”

Mais tarde, Eris veio ao meu quarto, assim que fui para a cama e estava prestes a adormecer. Ela se escondeu mal-humorada embaixo das cobertas e envolveu os braços em torno de mim, puxando-me para perto, como se eu fosse um travesseiro de corpo. Seus grandes seios macios pressionaram contra mim.

Não é muito cavalheiresco de sua parte entrar aqui no meio da noite e me tentar com isso.

Não que me importasse; eu também era um cavalheiro da noite. No que diz respeito ao sexo, pelo menos. Mas antes de entrarmos nisso, havia uma coisa que eu precisava perguntar a ela.

— Você brigou com a Sylphie?

— Não — Ela bufou.

— Certo.

Eu não tinha ouvido nenhum som de soco. Era possível que, se eu saísse da cama e fosse para o quarto da Eris, encontraria Sylphie desmaiada no chão, mas decidi acreditar em sua palavra.

— A partir de amanhã, vou acompanhar a Sylphie — disse Eris. — Vamos nos encontrar com a Ghislaine e ajudar a preparar as coisas.

Ariel já havia começado a fazer os preparativos. Ela ia sair da universidade para voltar para casa, e o curto prazo significava que fazer as malas era um pesadelo. Ela também tinha que entrar em contato com várias pessoas da região,  provavelmente foi por isso que Eris foi convidada a ajudar como guarda-costas.

— Então, enquanto isso, ela quer que você passe o máximo de tempo possível com a Roxy — continuou Eris.

— ‘Ela’? Você quer dizer a Sylphie? — perguntei, surpreso.

— Aham.

Então era por isso que as duas estavam brigando. Sylphie estava tentando ser atenciosa com a Roxy, e se eu tivesse menos coisas para lidar, então poderia passar mais tempo com ela. Ela realmente pensou nisso. Ainda assim, fiquei chocado por ela ter conseguido persuadir a Eris sem ter que lutar. Eris com certeza havia amadurecido. Ela não era mais a mesma garota que espancava as pessoas indiscriminadamente. Se você tivesse um argumento bem fundamentado, então lhe daria ouvidos.

— E é por isso que ela disse que eu poderia ficar com você esta noite — disse Eris.

Talvez eu tenha falado cedo demais, aparentemente. Eris havia dado suas próprias condições. Mesmo assim, ainda era impressionante que ela tenha concordado com a proposta da Sylphie. Ela tinha amadurecido. Pois era muito egocêntrica todos esses anos. Agora, isso se foi. Sua paixão furiosa havia esfriado e seus punhos cerrados não encontrariam mais o caminho para os rostos. A princesa frenética estava morta, a gorila selvagem silenciada, a loba louca reivindicada pelo sono eterno. A Eris que mostrava os dentes para todo mundo se foi para sempre…

Não, isso provavelmente é uma exceção.

Era como se Sylphie desistisse de sua vez comigo como parte do acordo, deixando de lado seus próprios desejos. Eu teria que fazer o meu melhor para agradecê-la enquanto estivermos viajando.

Preocupado com esses pensamentos, enrolei meus braços em volta da Eris. Quase imediatamente, ela começou a rasgar minhas roupas.

— Sabe — eu disse — seria um momento terrível se você descobrisse que estava grávida na viagem, então talvez devêssemos pegar leve hoje e…

— Pensaremos nisso quando a hora chegar.

E ela fez o que queria comigo naquela noite, como sempre fez. Planejamento familiar eram claramente palavras que não existiam em seu dicionário.

No dia seguinte, Cliff passou por aqui para uma visita.

— Ei, Rudeus, se estiver livre esta noite, quer sair para comer?

Era um convite para jantar e as únicas pessoas que iam eram Cliff, Zanoba e eu. Nunca tive uma noite dos homens; normalmente, quando fazíamos isso, Sylphie, Elinalise e vários outras acompanhavam. Talvez desta vez, os outros rapazes planejavam ir a um lugar muito atrevido para as meninas. Ou talvez eles quisessem discutir algo que seria muito estranho para falar com as mulheres presentes.

— Tudo bem — falei.

Seja qual for o caso, concordei instantaneamente. Não tinha razão para recusá-lo, e mais importante, eu tinha um favor que queria pedir a ele de qualquer maneira. Então, este foi o momento perfeito.

 

Separador Tsun

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O sol estava começando a se pôr quando encontrei Cliff e Zanoba no local acordado. O restaurante dessa reunião era mais elegante do que os lugares que costumávamos frequentar. Quando entramos, parei para verificar a fachada, que dizia A Águia do Mar Vermelho.

Esta era uma tendência de nomeação nas Três Nações Mágicas: lugares com águia no nome eram tipicamente restaurantes, enquanto falcão era para bares e pubs, morcego para bordéis e cavalo para pousadas. É certo que nem todos os estabelecimentos seguiram esta nomenclatura. Alguns lugares começavam servindo um excelente álcool, mas então o proprietário melhorava suas habilidades culinárias e a comida se tornava seu carro-chefe. Era surpreendentemente comum, na verdade. Portanto, a tendência de nomeação era mais como uma diretriz geral.

A Águia do Mar Vermelho era exatamente o tipo de lugar que Cliff escolheria, sofisticado e luxuoso. Os clientes eram principalmente nobres menores ou comerciantes ricos. Um dos funcionários nos guiou para uma sala elegante. De acordo com eles, esta era a terceira melhor sala que eles tinham para oferecer.

— Se soubéssemos que Lord Rudeus estaria nos visitando, teríamos preparado uma das melhores salas — disseram eles. Mas não havia necessidade de se desculpar por minha causa.

Então é assim que um restaurante de luxo se parece, hein? Quando Cliff disse que iríamos jantar, pensei que iríamos comer algo casual, mas este lugar tinha até guarnição no jantar.

Nós três nos sentamos em uma mesa quadrada.

— Agora, então, Rudeus, você sabe por que viemos aqui — por que reservamos especialmente uma sala para falar com você? — Cliff perguntou com a testa franzida.

Ele parecia meio zangado e eu tinha a sensação de que sabia o porquê.

— Hoje é… seu aniversário? — eu perguntei.

— Meu aniversário já passou. — Cliff respondeu secamente, sem se divertir com minha piada.

Espera, ele tem vinte anos agora? Ou vinte e um? Seu rosto era infantil, então parecia cinco anos mais novo do que realmente era, mas pelos padrões deste mundo, ele já havia atingido a idade adulta. Algumas pessoas já tinham dois ou três filhos com a idade dele.

— Estamos aqui por outra coisa — disse Cliff.

— Certo. — Ajustei minha posição na cadeira. Aparentemente, estávamos prestes a ter uma conversa séria.

— Sabe…

Conhecendo Cliff, provavelmente era sobre Orsted. Eu jurei que lhe contaria os detalhes sobre o que aconteceu com Orsted quando voltei para casa depois de ser espancado, mas nunca cumpri essa promessa. Imaginei que ele me chamou aqui para me dar uma bronca.

— Em relação à criança que Elinalise e eu vamos ter… tenho pensado em chamá-lo de Clive se for menino e Elleclarisse se for menina. O que você acha?

Espera. Um nome? Foi para isso que viemos aqui hoje? Então eu tive uma ideia completamente errada?

— Basicamente, usaremos um nome estilo Millis, se for um menino, e um nome élfico, se for uma menina. O que você acha, Rudeus? — Cliff se virou para mim.

— Ah… Bem, Clive soa como o nome de um homem inteligente com boas chances de ser um político, mas também soa como um nome que alguém com uma personalidade exigente teria. Elleclarisse é um nome bonito e soa muito bem. Embora eu não possa deixar de sentir que ela pode ter um encontro ruim com um ladrão em seu futuro, um que vai roubar algo importante dela. Como o coração dela.

— Imaginei que você diria isso. — Cliff respondeu enquanto se inclinava para trás em sua cadeira, olhando para o teto. Depois de um momento, ele olhou para mim com uma expressão firme. — Na verdade, isso foi uma piada. Já decidimos os nomes. Embora eu aprecie sua opinião, não foi por isso que o trouxe aqui hoje.

Oh, então ele estava apenas me zoando. Não podia ter feito isso com um rosto tão sério. Se vai zoar, pelo menos sorria um pouco. Você e Zanoba parecem duros como estátuas, sabe?

— Certamente, você já adivinhou do que se trata agora, Rudeus. Está relacionado às suas ações ultimamente. — Cliff apontou um dedo na minha direção.

Zanoba assentiu com a cabeça. Ele também parecia um pouco irritado.

— Mestre, não importa o que você decida fazer, tenho toda a intenção de segui-lo até o amargo fim. Dito isso, você não acha que tem sido um pouco reservado conosco ultimamente?

— Uh, você acha? — fingi ignorância.

— Do nada, você nos pediu para começar a construir essa armadura insanamente poderosa para você. No meio da criação, você começou a nos dar conselhos extremamente específicos. Você nem mesmo disse quem ia enfrentar e então descobrimos que era um dos Sete Grandes…

Zanoba foi interrompido no meio da frase pela porta se abrindo. Um garçom entrou trazendo nossas bebidas. Zanoba se encolheu e fechou a boca, esperando silenciosamente o término da distribuição das bebidas. Assim que ele saiu, a conversa foi retomada. Embora eu suspeitasse que eles tivessem reservado esta sala para manter nossa conversa privada, suas atitudes deixaram claro que era em parte por medo do Orsted.

— Descobrimos que seu oponente era um dos Sete Grandes Poderes, o Deus-Dragão Orsted. — terminou Zanoba. — E não só isso, uma vez que você lutou com tudo, dizimou completamente uma floresta inteira!

— Não, ainda está lá. Bom, metade dela, na verdade — eu disse.

Zanoba ignorou minha defesa e continuou.

— E depois de tudo isso, você se rendeu.

— Eu não tive outra escolha.

— Para ele te pôr de joelhos sem te matar depois que você vestiu aquela armadura e usar tudo o que tinha nele… o homem deve ser um monstro. É a única explicação.

Bem, em certo sentido, Orsted era um tipo de monstro. Era ruim o suficiente que ele pudesse anular feitiços à distância, mas eu também não tinha chance contra ele em combate corpo a corpo. Não que eu fosse particularmente habilidoso, mas ainda achava que podia lutar decentemente.

— Como você não parecia muito abalado com isso, presumi que o Deus-Dragão deveria ser um homem decente, mas ele… — Zanoba fez uma pausa, tremendo enquanto baixava o olhar. Depois de um momento, sua cabeça levantou novamente e ele declarou em voz alta.  — Aquele homem… é um demônio em carne e osso! Alguns dias atrás, eu o vi com meus próprios olhos e soube em um instante que ele era nosso inimigo!

Os dois tiveram uma pequena briga na semana passada, onde Orsted nocauteou Zanoba. Aquele breve encontro foi o suficiente para ele ser atingido pela maldição do Orsted.

Hm, mas espere um minuto. Até aquele momento, ele não pensava tão mal do Orsted. O que deve significar que a maldição não é ativada até que alguém o encontre. Pensando bem, Aisha e Norn não parecem tão repelidos por ele quanto todos os outros. Acho que a maldição não as afeta, desde que elas só o conheçam indiretamente.

— Devo que assumir que você perdeu a sanidade para servir a um homem como ele. — Zanoba balançou a cabeça, incapaz de entender. A maldição deve ser extremamente potente para ele ter uma reação tão extrema por simplesmente ver Orsted uma vez.

— Pessoalmente, eu mesmo ainda não encontrei esse Orsted, então não sei com certeza o que o Zanoba quer dizer — disse Cliff. — Mas Zanoba, Sylphie e Roxy parecem considerá-lo perigoso. Se estão todos de acordo sobre ele, deve ser um homem mau.

Essa foi uma declaração chocante vinda de um homem que nunca parecia ouvir o que as outras pessoas diziam. No entanto, pelo que parece, Cliff ainda não foi afetado pela maldição.

— Concordar em trabalhar com um homem assim não soa como o sábio Rudeus que eu conheço — disse Cliff.

Sim, bem, eu não sou particularmente sábio.

Ainda assim, isso representava um problema. Seria difícil continuar quando muitos dos mais próximos a mim desaprovassem o Orsted.

— Mas… quando você nos pediu para reparar a Armadura Mágica, finalmente percebi. — Cliff sorriu presunçosamente. — Você planeja lutar com ele de novo, não é? Contra o Deus-Dragão Orsted, quero dizer.

— Hã? — meu queixo caiu.

— Você só está fingindo trabalhar com ele para poder esperar por uma abertura e atacar. Essa é a sua estratégia, certo?

— Uh, não, Orsted e eu…

Cliff ergueu a mão para me impedir.

— Você não precisa me dizer nada. A razão pela qual você nos pediu para melhorar a eficiência de mana da armadura… é porque você quer torná-la acessível para Zanoba e eu, certo? Em outras palavras, você planeja nos fazer lutar com você eventualmente… — ele sorriu triunfantemente. — Certo? Estou errado?

Sim, você está absolutamente errado.

Quase pareceu bobo discutir o assunto neste momento. Era melhor ignorar e dizer que sim, eles eventualmente lutariam comigo e isso era apenas uma preparação para a batalha que viria. Dessa forma, eles acabariam vendo por si mesmos (embora gradualmente) que Orsted não era um cara tão ruim.

Então comecei.

— Mestre Cliff…

Fiz uma pausa. Dado o quão próximos éramos, eu não achava certo adoçar as coisas e mentir para atender meus próprios interesses. Eles podem não acreditar na verdade, mas eu tinha que pelo menos tentar dizer.

— O que foi?

— Na verdade, Orsted tem uma maldição colocada em si que faz com que todos ao seu redor o odeiem — expliquei. — Você acreditaria se eu te contasse isso?

— O quê? Sério?

— Um deus maligno me enganou e foi por isso que lutei contra Orsted em primeiro lugar. Você acreditaria nisso também?

— Um deus maligno? Uh, você quer dizer aquele que você adora com a calcinha e o pano manchado de sangue?

Eu o encarei.

— Te matarei com prazer se você se atrever a dizer isso de novo.

— Uh… hã? Err, desculpe. Acho que não é esse deus, então. Certo, entendi o que você está dizendo. Continue.

Opa, acidentalmente deixei minha raiva escapar por um segundo. Mesmo assim, não é certo ridicularizar a religião de outra pessoa. Roxy é uma deusa justa.

De qualquer forma, esse não é o ponto…

— Foi assim que acabei conhecendo Orsted. Por alguma razão, a maldição dele não funciona comigo, então nós dois fomos capazes de conversar e resolver as coisas. Em troca de seu perdão, concordei em trabalhar ao lado dele para combater esse deus maligno. Você acreditaria nisso também?

— Hmm…

— Certamente não vou — disse Zanoba com seus óculos brilhando sob a luz. — Estou cético de que um homem como aquele se voluntariaria a lutar ao lado de qualquer outra pessoa.

— Hã? É surpreendente ouvir alguém como o Zanoba assumir esse tipo de posição — disse Cliff. Ele cruzou os braços em contemplação.

— Pense dessa forma, o Zanoba só se interessa por bonecas e figuras, mas ele é estranhamente insistente sobre sua aversão por Orsted — eu disse. — Isso não te parece estranho? Tem que ser um efeito da maldição.

— Bem, já que você mencionou… — Cliff fez uma pausa. — Não, quando penso nisso, Zanoba se importa muito com os assuntos que dizem respeito a você. Se o Orsted realmente não é confiável, então faz sentido ele se preocupar.

Talvez isso fosse verdade. Talvez Zanoba realmente estivesse preocupado com o meu bem-estar. Eu estava grato por ele se importar tanto… mas, ao mesmo tempo, este era um momento em que desejava que ele não se importasse. Sim, Orsted estava escondendo algumas coisas de mim e ainda não sabia se poderia confiar nele completamente. Mesmo assim, não fui tolo o suficiente para ficar trocando entre o Orsted e o Deus-Homem e arriscar ser inimigo de ambos.

Bem, acho que não tenho outra escolha. Terei que mentir então.

— Tudo bem, entendo. Nesse caso, vamos com a explicação do Cliff.

— Minha explicação? O que quer dizer?

Limpei a garganta.

— Aham, é como você disse, Mestre Cliff. Planejo derrubar Orsted. Mas é muito cedo para agir agora. Terei que esperar minha chance e fazer o que ele pedir.

— O quê? Você tem certeza disso? Então, e a conversa que acabamos de ter?

Fingi ignorância.

— Pensamento em voz alta. Seria bom se isso fosse a verdade. — Uma vez que Cliff visse Orsted pessoalmente, ele provavelmente pensaria da mesma forma que Zanoba. Era melhor jogar junto com sua pequena teoria. — Com isso em mente — continuei — eu apreciaria sua cooperação contínua no futuro.

— Eu vou te proteger, Mestre. Em preparação para a próxima batalha com Orsted, farei uma armadura que até Julie poderia usar.

— Ótimo. Mal posso esperar. — Eu não tinha intenção de fazer Julie lutar, é claro, mas saber que ele estava motivado a ir tão longe era suficiente.

— Com isso fora do caminho, há outra coisa que eu gostaria de pedir a você — eu disse, virando-me para Cliff.

— Sim?

Originalmente, planejava lhe pedir ajuda para combater a maldição do Orsted, mas agora eu teria que explicar de uma maneira que se alinhasse melhor com sua teoria.

— Sabe, Orsted está realmente protegido por uma espécie de barreira — eu disse.

— Uma barreira? Como uma mágica?

— Não, mais como uma maldição.

Cliff franziu a testa.

— A maldição faz com que quando você olha para Orsted, hesite automaticamente, intimidado demais para lutar com força total — expliquei.

— Sério? Ele tem uma maldição como essa?

— Sim. Foi por isso que perdi para ele. Presumo que deve ter sido o mesmo para você, Zanoba? — perguntei, me virando para ele.

— Parecia que eu tinha sido derrotado do nada. Não conseguia entender o que tinha acontecido. Agora que você mencionou, tive a sensação de que meu corpo não estava se movendo como normalmente.

Sim, isso é apenas sua imaginação… mas vou guardar isso para mim.

Cliff assentiu.

— Entendo, bem, uma maldição como essa seria realmente incômoda…

— Sim, extremamente incômoda — concordei. — E por essa mesma razão, eu gostaria que você visse se não pode fazer algo sobre essa maldição dele.

— Mas toda a minha pesquisa foi centrada especificamente na Elinalise. Não tenho ideia se funcionaria no Orsted…

— Bem, se não funcionar, então teremos que contra-atacar de outra maneira. Mas você não pode trabalhar em sua pesquisa sobre a maldição da Elinalise enquanto ela estiver grávida, certo? Então, eu gostaria que você pesquisasse o quanto pode enfraquecer os efeitos de outras maldições nesse meio tempo.

Cliff estava tentando se tornar um especialista em maldições. Embora não tenha conseguido suprimir completamente a maldição da Elinalise, ele conseguiu reduzir significativamente sua potência. Eu esperava que ele pudesse dar um jeito de enfraquecer a maldição do Orsted, para que ninguém sentisse medo quando o olhassem (ou pelo menos não tanto quanto agora).

— Mas você tem certeza de que Orsted concordaria em participar dessa pesquisa? Como você vai enganá-lo? — Cliff perguntou com ceticismo.

— Orsted é como um lobo faminto por presas; tem fome de batalha. Na realidade, ele também está descontente com os efeitos da maldição.

Os olhos de Cliff se arregalaram.

— Sério? Mas é graças a essa maldição que ele tem uma vantagem sobre seus oponentes, certo?

— Ele mesmo me disse que gostaria de enfrentar um oponente e combatê-los com todo o poder sem que se encolhessem diante dele.

Isso foi uma mentira descarada. Eu teria que pedir ao Orsted para mentir também e manter esta farsa na frente do Cliff.

Hora de montar as peças e deixar tudo se encaixar.

— Está falando sério…? — Cliff olhou para mim incrédulo.

— Aham. É por isso que preciso que você mergulhe de cabeça na pesquisa, sem restrições.

— Hm… Certo. Não gosto de enganar as pessoas, mas se você tem certeza disso, vou tentar.

Uhuuuu! Você é o melhor de todos, Mestre Cliff! Elinalise, não se esqueça de dar a ele um pouco de amor!

Com isso fora do caminho, eu poderia lentamente começar a convencer Sylphie e os outros a verem meu lado. A vitória seria minha se encontrasse uma maneira de lidar com a maldição do Orsted.

E por outro lado, ufa… A culpa que eu sentia não era motivo de riso. Por que tive que mentir assim para todos ao meu redor? Não era a moralidade disso que me incomodava, às vezes as mentiras eram apenas necessárias. Mesmo assim, Cliff, Zanoba, Sylphie, Roxy e Eris estavam seriamente preocupados comigo. Mentir para eles me fez sentir como se os estivesse traindo. Esperava que pudéssemos rir disso mais tarde, assim que conseguíssemos acabar com a maldição do Orsted.

— Bem, é isso então. Estou ansioso por sua ajuda contínua, Zanoba, Mestre Cliff.

— Sim. Estou aliviado que você tenha algo na manga, Mestre.

— Não é uma tarefa pequena que você me deu, mas vou cuidar disso.

Com isso, todos assentimos.

Não muito tempo depois, nossa comida finalmente chegou. Pratos requintados cobriam a mesa e todos tínhamos álcool em nossos copos, o que significava que o banquete estava pronto para começar. Eu levantei meu copo e disse:

— Tudo bem, agora que terminamos com as discussões sérias, por que não fazemos um brinde e comemos?

— Sim, é uma boa ideia. — Zanoba espelhou minhas ações. — A que devemos brindar?

Cliff ergueu seu próprio copo e disse:

— Bem, não há mulheres conosco hoje, então acho que podemos brindar à amizade masculina… O que acham?

Isso é um pouco sentimental demais, não é?

Sentimental ou não, eu sabia que nem Zanoba nem Cliff me trairiam quando a situação ficasse feia. Isso ficou claro no diário do meu eu do futuro. Cliff me ajudou mesmo correndo o risco de todo o seu país se voltar contra ele. Zanoba ficou comigo mesmo quando me tornei um verdadeiro pedaço de merda. Eram amigos verdadeiros e insubstituíveis.

Admito que menti para eles hoje, mas no que fosse preciso, até que a morte nos separasse, eu queria estar lá por eles. Só esse pensamento deixou meus olhos marejados. E se estivéssemos sendo muito sentimentais? Entre minha vida no Japão e meu tempo aqui, eu tinha vivido o suficiente para ser um velho antiquado de qualquer maneira. Isso me serviu perfeitamente.

— Nesse caso, à nossa amizade!

— Sim, à amizade!

— Saúde!

Nós tilintamos nossos copos, derramando álcool por toda parte.

 

 

 

— Mas por falar em amizade masculina… que tipo de coisas os homens falam em momentos como este? — Cliff perguntou, intrigado.

— Safadezas e coisas obscenas? — eu sugeri.

— Safadezas? Ah, pensando bem, ouvi dizer que você tem uma nova esposa agora.

Eu sorri.

— Sim, o nome dela é Eris. Na verdade, ela era uma amiga de infância.

— Eris?  Esse nome traz de volta memórias — disse Zanoba, estreitando os olhos enquanto se lembrava de nosso primeiro encontro. — Eu me perguntei como a mulher uma vez chamada de Cão Raivoso havia se tornado. Me certificarei de prestar meus respeitos em breve.

Zanoba e Eris não tinham se falado muito no Reino Shirone, mas acho que ele ainda se lembrava dela. Ela era bastante intensa, então seria difícil esquecê-la.

Hum. Fiz uma pausa.

— Espera aí. Agora que penso nisso, Mestre Cliff, você sabia sobre a Eris antes também, certo? Você não disse algo sobre conhecê-la há muito tempo?

—N-Nós tivemos uma breve interação há muito tempo — ele murmurou. — Eu não sinto nada por ela agora.

Ah, então ele teve um pequeno encontro com ela anos atrás… Aposto que ela esqueceu completamente que ele existia. Isso não seria surpreendente, conhecendo a Eris.

— O assunto mais importante aqui é você, Rudeus. Já lhe disse isso antes, mas as mulheres não são colecionáveis — Cliff começou um longo e prolongado sermão. — Você não pode simplesmente trazer um monte delas para fazer suas vontades…

Uma vez que nós três estávamos suficientemente bêbados, foi Zanoba quem começou a falar safadeza. A conversa começou sobre a esposa com quem ele havia se casado anos antes, mas se transformou em uma história de terror no meio do caminho antes de finalmente fazer a transição para uma série de reclamações sobre como ela não conseguia entender suas bonecas. Cliff e eu contamos histórias sobre Eris e Elinalise. Ambas eram monstros na cama, assim pudemos simpatizar com a situação um do outro.

Infelizmente, Zanoba rapidamente ficou entediado com essa conversa, então voltamos a discutir sobre minha Armadura Mágica. Quando comecei a passar os detalhes de como eu a usei na minha luta com Orsted, os dois ouviram avidamente com os olhos brilhando de fascínio. Aparentemente, robô gigante contra super-monstro era um show universalmente divertido.

No decorrer disso, mencionei como Orsted restaurou meu braço perdido. Sem a prótese, eu podia sentir o peito das minhas esposas com satisfação, mas, por outro lado, minha força diminuiu bastante. Eu não podia mais fazer o mesmo trabalho extenuante que fazia quando usava o braço protético.

— Vamos fazer outro agora mesmo! — Cliff declarou, estendendo a mão para agarrar Zanoba e eu pelo braço.

— Hm? Agora? — Zanoba resmungou.

— Isso mesmo. Este restaurante deve fechar em breve. Podemos beber algumas bebidas no meu quarto enquanto trabalhamos na criação de uma nova mão protética!

— Parece bom. Vamos lá! — concordei ansiosamente, pulando da minha cadeira.

Zanoba riu.

— Hahaha, suponho que não tenho outra escolha a não ser acompanhá-los!

Nós três saímos do restaurante enquanto estava fechando. No caminho de volta para o quarto do Cliff, paramos para comprar algumas bebidas. Elinalise, que deveria estar esperando em casa, não estava em lugar nenhum quando chegamos. Encontramos um bilhete dizendo que ela tinha saído para visitar minha casa, então pelo menos não havia razão para se preocupar.

Levamos nossas bebidas para o escritório do Cliff e começamos a construir uma nova mão protética enquanto tomávamos nossas bebidas e tagarelávamos sem parar.

— Estou dizendo, se você fizer leve assim, ela não terá força para isso! Ah, viu! Viu! Quebrou. É por isso que estou te falando. Tem que ser mais pesada! — resmungou Cliff.

Zanoba bufou.

— Bobagem, com a magia de terra do Mestre, podemos fazer isso! Eu te garanto!

— Certo, passe para cá então! — estendi a mão. — Vou te mostrar o que minha magia realmente pode fazer! Oooooh, que tal isso!

— Burro, não está diferente do que era um segundo atrás! — Cliff gritou para mim.

— Hah, seus olhos não conseguem ver a verdade. Mas eu te garanto, está duas vezes mais forte do que era antes. Experimente você mesmo.

— Quebrou instantaneamente.

— Uh, opa?

— Nesse caso, vamos revisar nosso design — disse Zanoba. — Contanto que consiga colocar os dedos nela, está boa o suficiente, então se alterarmos onde a palma da mão deveria estar aqui…

— Ei, Zanoba, espere um momento — interrompi.

— Vamos, Mestre, todo mundo falha às vezes.

Balancei a cabeça.

— Vou tentar de novo. Me dê mais uma chance.

— Haha, tudo bem, mas esta é a última!

Fazer uma mão protética estava se mostrando extremamente difícil. Provavelmente porque estávamos todos bêbados. Ninguém tinha juízo suficiente para tomar as decisões certas, então estávamos todos ficando muito ousados. No entanto, de alguma forma, nosso trabalho foi surpreendentemente preciso… ou pelo menos, eu pensei que era.

Independentemente disso, beber com os meninos e tagarelar enquanto tentava fazer algo acabou sendo insanamente divertido. Eu estava de bom humor.

Se outra oportunidade aparecer, eu gostaria de fazer isso novamente, pensei comigo mesmo enquanto bebíamos a noite toda.

 

Separador Tsun

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Enquanto os meninos estavam ocupados bêbados e gritando: “Não tenho medo de nenhuma mãe esta noite!”, três meninas de pijama estavam sentadas em uma cama enorme no segundo andar da propriedade de Rudeus.

— Hoje marca a vigésima sexta sessão de nossas reuniões regulares da Casa Greyrat. Podemos ter uma salva de palmas? — perguntou a garota de cabelos brancos.

A garota de cabelos azuis prontamente bateu palmas. A garota de cabelos vermelhos estava sentada com as pernas dobradas sob ela, uma expressão séria em seu rosto enquanto obedecia ao comando. Uma delas tinha idade suficiente para não ser mais chamada de “garota”, mas se alguém dissesse isso, o dono da casa iria rugir de raiva como um demônio possuído, então todos tiveram o cuidado de manter a boca fechada. Como o dono argumentaria, ela parecia jovem o suficiente para ser uma estudante do ensino médio, então qual era o problema em chamá-la de garota? Embora uma pessoa do mundo anterior do dono estivesse em perfeita razão em apontar que esse era precisamente o problema.

Digressões à parte, a garota ruiva, Eris, olhou fixamente para as outras duas em sua companhia. Ela estava treinando no quintal quando Sylphie a arrastou para dentro deste quarto sem explicação. Ela se sentiu um pouco perdida.

A garota de cabelos brancos, Sylphie, pigarreou. Ela estava usando seu habitual conjunto de pijama macio de duas peças — o tipo que Rudeus gostava.

— Ahem, como Eris se juntou a nós recentemente, permita-me explicar…

— Eu cuidarei da explicação. — A garota de cabelos azuis, Roxy, interrompeu. Ela usava uma camisola com um design adorável. Quem não a conhecesse melhor, pensaria que foi feita para uma criança. — Essas reuniões são algo que Sylphie criou como uma maneira de nos unirmos. Cada uma de nós tem suas próprias expectativas, sentimentos de ciúme e possessividade, mas se sucumbirmos a isso e competirmos entre nós, só machucará o Rudy. Como membros desta família, nosso dever é fazer tudo o que pudermos para tornar este um refúgio seguro para ele.

Eris olhou para seu próprio traje. Era simples e casual. Ela jurou interiormente que iria às compras amanhã para encontrar alguns pijamas adequados.

— Eris, está ouvindo? — perguntou Roxy.

— S-Sim! — Eris balançou a cabeça. Mas ela ainda estava honestamente um pouco confusa, já que nunca imaginou que elas realizavam reuniões como essa.

— De qualquer forma — disse Roxy — se houver algo que você queira nos dizer, por favor, faça-o aqui. Vamos tentar não brigar na frente do Rudy. Especialmente porque ele tem estado tão ocupado ultimamente. Gostaríamos de evitar aumentar seus fardos o máximo que pudermos.

— Entendi. — Eris assentiu solenemente.

Sem brigas dentro de casa. Sem causar problemas para o Rudeus.

Eris nasceu no Reino Asura e, embora seu pai, Philip, tivesse apenas uma esposa, muitas casas no reino tinham várias esposas. Era especialmente comum em casas nobres de alto escalão que estavam ansiosas para ter o maior número possível de descendentes, já que sua linhagem corria o risco de morrer de outra forma. Até mesmo o amado avô da Eris tinha tomado várias parceiras.

Eris lembrou-se de algo que seu avô lhe disse há muito tempo.

— Você pode dizer o calibre de um nobre pelo quão bem suas muitas esposas se dão bem umas com as outras.

Quanto melhor as três se davam, mais positivamente isso refletiria em Rudeus.

— Com isso fora do caminho… o tópico de hoje tem a ver conosco. Nós duas não te conhecemos muito bem, Eris, e você também não nos conhece bem. É por isso que gostaríamos de aproveitar esta oportunidade para aprofundar nossa amizade.

Enquanto Sylphie falava, ela estendeu a mão para debaixo da cama e tirou uma garrafa de licor forte que se podia encontrar em qualquer loja de bebidas. Roxy pegou alguns copos e uma bandeja de lanches variados e colocou no meio da cama.

Quase como um espadachim apunhalando sua lâmina no chão, Sylphie colocou a garrafa no meio do círculo e declarou:

— Por hoje, vamos contar tudo sobre nós mesmas, sem restrições. Cada uma de nós contará como conhecemos o Rudeus e o que nos trouxe aonde estamos agora. No processo, demonstraremos quão profundos são nossos sentimentos pelo Rudy.

— Vamos lá! — Eris estufou o peito. Ela estava confiante de que seu amor pelo Rudeus era inigualável.

— Nesse caso, vou começar — disse Sylphie. — Rudeus e eu nos conhecemos quando ele ainda morava na Vila Buena. Tínhamos cerca de cinco anos na época…

Assim começou a reunião das meninas na propriedade do Rudeus, uma reunião que continuou até tarde da noite. Como Roxy estava grávida, ela não bebeu álcool. Eris só ficou um pouco embriagada, talvez devido a uma forte resistência natural. Isso significava que Sylphie era a única que estava absolutamente bêbada.

— Sabe, Rudy foi o primeiro amigo que fiz. Eu o amei deeeeeesde então. Oh, isso traz tantas lembranças. Ele me apertou em seus braços naquela época também. Não disse uma palavra, apenas colocou os braços em volta de mim assim e apertou… Ehehe. — O fedor da bebida pesou a respiração da Sylphie enquanto ela se agarrava a Eris.

Embora Eris estivesse um pouco irritada com o grude da Sylphie, não a repeliu. Ela apenas curvou os lábios, fazendo beicinho.

— E daí? Rudeus me abraçou quando éramos mais jovens também.

— Sim, você já nos disse — Sylphie reclamou. — Estou com tanta inveja. Você esteve com o Rudy durante o melhor período de sua vida. Você até foi a primeira. A propósito, como foi? Nossa primeira vez juntos foi incrível.

— Não foi grande coisa — Eris bufou. — Bastante normal, eu acho? Além disso, v-você teve o primeiro filho e se casou com ele primeiro… tenho mais ciúmes disso.

A conversa estava ficando azeda e foi por isso que Roxy aproveitou a oportunidade para interromper.

— Tá, tá, não há nada de errado em não ser a primeira. Eu não fui a primeira dele em nada, mas ainda estou perfeitamente feliz.

— Boo! — Sylphie zombou. — Você não pode falar, Roxy! Você é a número um dele. É a pessoa que ele mais respeita.

— Respeita…? Sinceramente, não entendo por que ele parece me reverenciar tanto.

— Rudy me disse que é porque você ensinou a ele a coisa mais preciosa do mundo. Algo realmente especial! Aposto que é algo pervertido, algo que ele realmente gosta!

Roxy balançou a cabeça.

— Ele era bastante pervertido quando eu apareci. Eu não tinha nada para ensiná-lo sobre esses assuntos. Quando era mais novo, ele até me espionava quando eu tomava banho. Tudo o que sempre lhe ensinei foi coisas normais… Hmm. — Ela caiu em pensamentos.

Honestamente, o que Rudeus viu nela? Pelo que Roxy conseguia se lembrar, ele era muito apegado a ela desde o início. Mas o que ela poderia ter ensinado a ele naquela época que era tão especial? Nada se destacava em sua mente.

— Bem, suas circunstâncias especiais à parte, até a Eris tem seus próprios encantos distintos. Estou realmente perdendo a confiança aqui… — Sylphie baixou a cabeça.

— Encantos distintos? O que isso significa? — Eris exigiu saber.

— Quero dizer, sabe. Você é forte, certo? Estou com ciúmes de você poder lutar ao lado do Rudy. Trabalhei duro para chegar onde estou e cresci muito, mas nunca vou me comparar a ele. Você viu na Biblioteca Labirinto. Rudy está sempre tentando me proteger. Eu agradeço isso, mas… — Sylphie se remexia em seu lugar de forma inquieta, consequência de ter bebido muito mais do que deveria.

Apesar de ver o quão ansiosa a outra mulher estava, Eris não deixou essas palavras inflar seu ego. Ela foi ao Santuário da Espada precisamente para treinar a fim de se tornar igual a ele. Seu objetivo era rivalizá-lo em força e alcançou isso; ela estava confiante de que poderia vencê-lo, mesmo que ele usasse sua magia em batalha. Isso lhe trouxe grande satisfação, mas ela ainda não conseguia deixar de sentir um pouco de inveja do relacionamento entre Sylphie e Rudeus. Especialmente porque ela era forte o suficiente para se proteger e nunca poderia ser a mulher que Rudeus tinha que cuidar.

Enquanto Sylphie agonizava sobre o assunto, Roxy inclinou a cabeça e Eris cruzou os braços. Do nada, a porta do quarto se abriu.

— Perdoem-me, madames.

— Oh, é você, senhorita Lilia — disse Roxy.

Entrou uma mulher de meia-idade com roupa de empregada. Fumaça de vapor subia de uma tigela de batatas cozidas e outros vegetais variados.

— Eu trouxe um lanche extra da madrugada — disse Lilia.

Roxy sorriu.

— Peço desculpas por te incomodar assim.

— De jeito nenhum, Roxy. Cuidar de você e das outras damas da casa faz parte dos meus deveres como empregada.

Roxy inclinou a cabeça em agradecimento e Lilia baixou o queixo.

— Uh, hum… bem, estou muito honrada e profundamente… uh, grata… — Eris gaguejou, não acostumada a usar frases tão educadas.

— De jeito nenhum, Eris. Você não precisa me agradecer. Agora que você é uma das esposas de Rudeus, isso significa que eu a considero minha ama também.

Eris ainda estava lutando em como interagir com Lilia. A propriedade de sua família na região de Fittoa tinha várias criadas, mas Eris teve a sensação de que não deveria tratar Lilia da mesma maneira. Afinal, era a mãe de uma das irmãs de Rudeus. De certa forma, ela era como uma babá ou segunda mãe para ele. A última coisa que Eris queria era fazer a mãe do Rudeus a odiasse.

— Além disso, você não precisa falar tão educadamente comigo. Eu ouvi muito de você quando morava na Vila Buena.

— Uh, o-o que você ouviu?

— Bom… — Lilia hesitou. Eris já sabia que não era nada bom se fosse algo que Lilia tinha ouvido de quando ela ainda era criança. — Ouvi dizer que você era muito violenta, que ninguém conseguia controlá-la e que seria difícil viver a vida de uma verdadeira nobre…

Eris fez uma careta, esticando o lábio inferior. Apesar do desenvolvimento em suas habilidades de espada, ela não era tão diferente agora. Houve um período em que tentou o seu melhor para cumprir o papel que lhe foi dado, mas jogou tudo isso fora.

— Mas agora olhe para você. Você se transformou em uma jovem deslumbrante. O Deus da Espada, e até mesmo o senhor da Região de Fittoa, ficaria orgulhoso de ver a mulher que você é agora.

— Eu acho… — Eris baixou o olhar. — Mas meu pai e meu avô já estão…

— Ah, peço desculpas. — Os olhos da Lilia se encheram de tristeza e ela abaixou a cabeça.

— Está tudo bem. Esse desastre afetou a todos. Não fui a única que perdeu alguém. A mãe e o pai do Rudeus também foram…

O silêncio tomou conta. Naquela breve conversa, a atmosfera no quarto ficou sombria. O vapor continuou a subir da comida quente que Lilia havia trazido.

— P-Pensando nisso, Lilia, você está com o Rudy desde a infância, certo? — disse Sylphie, desconfortável com a mudança de humor.

Depois de uma pausa, a criada respondeu.

— Sim. Afinal, fui contratada para ser sua babá.

— Isso significa que você o conhecia antes que Roxy e eu o conhecêssemos. Como ele era naquela época?

— Quando era criança? — Lilia ficou quieta por um momento enquanto voltava seu pensamento ao passado. — Hm, devo confessar, eu o achei um pouco perturbador no início.

— Hã? Por quê?

 — É difícil colocar em palavras… Lorde Rudeus era tão evasivo quanto um fantasma. Desaparecia de repente e quando você pensava que o tinha encontrado, ele tinha um sorriso assustador no rosto. Talvez seja por isso.

Ela sorriu ao se lembrar do passado. Por que ela evitava tanto o Rudeus naquela época, mesmo que ele fosse uma criança tão adorável? Lilia se lembrava de se sentir enojada por ele, mas esqueceu aquelas emoções com o tempo, e tudo o que restava eram lembranças felizes.

— Mas, honestamente, isso não é diferente de como ele está agora, certo?

— Sim, é verdade — admitiu Lilia. — Naquela época, sempre que eu o pegava, ele tinha um sorriso lascivo no rosto enquanto apalpava meu peito…

— Eu também não acho que isso tenha mudado, não é? — perguntou Sylphie.

— Agora que você mencionou, não, não mudou.

Rudeus tem sido um pervertido desde o momento em que nasceu, aparentemente.

As histórias da Lilia deixaram um clima estranho no quarto. No entanto, havia uma garota entre elas que bufou triunfantemente.

— Se ele gostava tanto do peito da Lilia, então deve estar muito feliz com o meu — declarou Eris. Ela realmente tinha um seio impressionante. — Eu estava meio preocupada, na verdade. Sylphie e Roxy são tão pequenas, pensei que talvez meu corpo não fosse o tipo dele.

— R-Rudy não é do tipo que julga uma garota por suas curvas — disse Sylphie, com um tremor na voz.

— Agora que penso nisso, enquanto viajávamos juntos, ele olhava para o peito das meninas o tempo todo — Eris murmurou para si mesma.

— O quê? Mesmo enquanto vocês estavam viajando? — Sylphie acariciou o queixo. — Embora, agora que penso nisso, ele encontrou todas as desculpas que pôde para tocar meu peito logo depois que nos casamos. Nos meus dias de folga, passava o dia inteiro fazendo isso.

— Ele realmente não tocou muito no meu… me pergunto se não está interessado no meu peito… — Os ombros da Roxy caíram quando ela apertou seus seios. Infelizmente, não havia muito o que pegar.

— Bem, de qualquer forma, devo me desculpar… — disse Lilia.

— Senhorita Lilia, você deveria beber conosco — disse Sylphie a chamando. — Não faria mal fazer isso ocasionalmente.

Roxy assentiu.

— Sim, agora que mencionou, também não me lembro de você beber muito enquanto estávamos na Vila Buena. Como você bem sabe, não posso beber nada agora, mas já que está aqui, por que não se junta a nós?

— Eu… mas eu tenho que cuidar da Zenith…

— Então traga-a também — disse Sylphie.

Eris assentiu.

— Sim. Somos todas mulheres adultas aqui. Podemos beber juntas!

A única coisa que não faltava a um bêbado era entusiasmo e essas meninas tinham isso de sobra. Sylphie não demorou nada para convencer Lilia a arrastar Zenith para sua bebedeira.

Elinalise estava solitária naquela noite sem o Cliff. Ele havia saído mais cedo, insistindo que tinha algo para conversar com Rudeus, de homem para homem. Não querendo diminuir seu orgulho, Elinalise se despediu enquanto se elogiava por ser uma esposa tão virtuosa e clemente.

No entanto, ela rapidamente se viu entediada com nada para fazer. Ela e Cliff faziam sexo regularmente, apesar de sua barriga inchada, mas com ele fora, não havia como satisfazer seus desejos carnais. Na verdade, desde que estava grávida, os impulsos não eram piores do que o normal. Ela imaginou que ficaria bem ficando sem fazer um dia e então deixou a residência deles para visitar a Residência Greyrat, a fim de verificar Sylphie e Roxy.

Ela chegou para encontrar um grupo de cinco mulheres dando sua própria festa, banhada a bebidas.

— Oh, minhas caras, parece que vocês estão fazendo algo divertido.

— Ah, vovó! — Sylphie sorriu. — Sua barriga está ficando grande. Meu irmãozinho está aí? Ou terei uma irmãzinha? Ah, espera… Se Cliff é basicamente meu pai, então isso faz com que Rudy… Uh, hm…

Quando Elinalise entrou, Sylphie estava apalpando os peitos da Eris por trás. Por sua vez, Eris ignorou Sylphie, concentrada na comida que ela estava silenciosamente enfiando em sua boca enquanto tomava sua bebida. Zenith estava sentada perto, agindo como refil de bebida pessoal da Eris. Ao lado dela, Lilia estava bebendo, com Roxy enchendo seu copo sempre que ficava vazio.

— Senhorita Roxy —  disse Lilia — por que… por que minha filha não pode ganhar o amor do Lorde Rudeus também?!

— Ele a ama. — Desapontada por não poder participar por causa de sua gravidez, Roxy ainda agradou Lilia com uma resposta sincera.

— Eu me pergunto se isso é realmente verdade…

— Bem, é certo que ele só a vê como uma irmã mais nova — disse Roxy.

— Mas a verdadeira felicidade de uma mulher não vem de ser amada por um homem?!

— Bem, eu definitivamente estou feliz, mas não acho que essa seja a única forma de felicidade que se pode ter. Além disso, Aisha é uma garota talentosa. Tenho certeza de que ela acabará encontrando um parceiro maravilhoso.

Lilia se endireitou.

— Alguém ainda melhor que o Rudeus?!

— Bem, seria difícil encontrar um homem melhor que Rudy… Quando você coloca assim, eu realmente acertei em cheio, não foi? Como comprar um local privilegiado de terra por trocados antes que todos percebam seu valor e o preço suba…

Observando-os, Elinalise se lembrou de como garotas solteiras da Guilda dos Aventureiros se reuniam para dar festas. Aquelas que lamentavam por não conseguirem arranjar um bom homem se encontravam regularmente para se embebedar e se alegrar antes de finalmente serem repreendidas pelo barman e acabarem nas ruas após a hora de fechar, onde dormiam até de manhã.

Elinalise se juntava ansiosamente às garotas da Guilda dos Aventureiros quando podia. Ela não tinha nada a temer; ao contrário delas, nunca lhe faltou homens. A única razão pela qual ela participava, era para poder desfrutar de um pouco de álcool com um grupo de pessoas.

— Rudeus choraria se pudesse vê-las assim. A única vez que uma garota deveria ficar embriagada é na companhia de seu parceiro, quando estão a sós — disse ela.

— Ah, não diga essas coisas, vovó — disse Sylphie. — Ah, ei. Você sempre ensina a Roxy a fazer coisas na cama, certo? Por que não me ensina nada, hein? Por quê?

— Oh, Sylphie, honestamente… você está completamente bêbada. Mas quanto ao motivo de eu nunca ter te ensinado nada, é porque Rudeus ficará mais excitado se ele achar que você é uma garota inocente que não sabe nada sobre sexo.

— Mais uma razão para você me ensinar tudo! Estou cansada de deixar  Rudy fazer o que quiser comigo na cama. Já está na hora de fazê-lo gritar para variar!

Levou apenas alguns segundos para Elinalise abandonar todo o bom senso ao ver sua neta bêbada como um gambá. Ela era uma boa conversadora e era exatamente por isso que decidiu que era melhor se juntar às meninas bebendo ao lado delas.

— De qualquer forma — disse Elinalise — vou pegar um copo para mim. Ela mal conseguiu agarrar um vazio antes que a mão da Sylphie disparasse para detê-la.

— Não pode! Garotas com barriga grande não podem beber álcool!

— Diga isso à Roxy.

— Eu não preciso! Roxy não está bebendo, então não há problemas lá! Além disso, mesmo que tenha bebido, ela pode usar magia de desintoxicação, então não preciso me preocupar! — Se Sylphie estivesse sóbria, nunca teria dito algo assim, mas ela já estava bêbada.

Elinalise suspirou, exasperada e encontrou uma cadeira vazia para sentar.

— Sabe, eu também aprendi a usar essa magia na academia.

— Bem, eu consigo usar ela sem recitar um encantamento! — Sylphie bufou.

— Sim, sim, que incrível. Eu não esperaria menos da minha neta.

— E é exatamente por isso que você não pode beber! Está fora de cogitação!

— Sim, sim. Entendi. — Elinalise riu da jactância triunfante da Sylphie e desistiu da ideia de beber, optando por lanchar.

— Não é porque eu sou sua neta. É graças ao Rudy me ensinar — disse Sylphie. — Faço tudo o que ele me diz — seja magia ou sexo.

— E é porque você é esse tipo de mulher que você o tenta tanto — apontou Elinalise.

— Sim! Ele age muito mais motivado de manhã depois que dormimos juntos. Ehehe!

Elinalise levou cerca de uma hora para gastar a alta energia da Sylphie.

Naquela noite, quatro das mulheres beberam até o esquecimento, beberam enquanto soltavam todos os sentimentos negativos que haviam acumulado. Sua ansiedade em torno do Rudeus fazendo tantas coisas em segredo ultimamente. Suas suspeitas sobre o Deus-Homem e Orsted. No entanto, todas estavam otimistas de que de alguma forma daria certo. Foi com esse turbilhão de emoções que elas beberam e se divertiram.

Roxy e Elinalise, que permaneciam sóbrias, foram gentis o suficiente para agradar as outras e suas inúmeras reclamações até que finalmente cochilaram. Foram elas que lançaram magia de desintoxicação nas outras. Quando tudo finalmente acabou, Elinalise voltou para sua casa enquanto Roxy se retirava para seu quarto. Esta última fez os preparativos para a faculdade amanhã antes de ir para a cama.

Havia apenas uma garota na casa que não pôde participar da festinha e dormiu mal-humorada a noite toda, mas Roxy nem percebeu que a deixaram de fora até a manhã seguinte.

 

Separador Tsun

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Quando meus olhos se abriram, me vi agarrado ao Zanoba. Nem preciso dizer, mas não sou homossexual — só fiz isso porque eu fui totalmente arrasado ontem à noite. Era um bom álcool que tínhamos bebido. Honestamente, eu nunca tive o objetivo de beber com outros homens na minha vida anterior, mas acabou que sair com uns caras que eu gostava fez o gosto do álcool muito melhor.

— Ugh, mas minha cabeça está me matando… — Como minha cabeça estava latejando ferozmente, lancei magia de cura e desintoxicação em mim. O latejamento imediatamente diminuiu. Era como tomar uma aspirina super forte que funcionava imediatamente, lavando a dor e sua fonte.

Eu fiz o mesmo com Zanoba e Cliff, mesmo que ainda estivessem dormindo como um par de troncos. O primeiro estava com o pé apoiado no rosto do Cliff, e era provavelmente por isso que Cliff parecia estar tendo um sono tão ruim.

Desculpe, amigo, mas a magia de cura e desintoxicação não pode tirar o chulé.

Embora minha magia tenha feito um excelente trabalho aliviando a dor de uma ressaca, não ajudava com a desidratação. Decidi tomar um gole de água antes que minha dor de cabeça voltasse, usei magia da terra para conjurar uma xícara e depois magia da água para encher…

— Hm? — Fiz uma pausa quando notei algo no meio da sala. O que quer que fosse, tinha a forma de um braço, mas várias placas de metal haviam sido colocadas em camadas, tornando-o um pouco maior e mais grosso do que um braço normal, além de pesado.

— Uh, o que essa coisa deveria ser mesmo? — Quebrei meu cérebro tentando me lembrar dos acontecimentos da noite anterior. — Na verdade, onde diabos eu estou, afinal? — Examinei a sala, mas não reconheci meu entorno. Eu tinha certeza de que já tinha estado aqui antes e podia dizer que era o quarto do Cliff, pelo menos, mas fora isso…

— Hum, vamos ver, acho que bebemos um monte no restaurante… Oh, sim, entramos no assunto de refazer minha mão protética. Cliff disse que tinha os materiais aqui para desenhar círculos mágicos para isso, então é por isso que viemos aqui para sua casa…

Foi aí que minha lembrança terminou. Tudo depois disso era sombrio. A julgar pelas evidências, bebemos álcool enquanto trabalhávamos para fazer essa nova versão da prótese.

— Hum.

Por mais confuso que meu cérebro estivesse nos detalhes, lembrei-me de partes sobre nossas tentativas não irem como planejado. Estendi a mão e peguei a prótese, ou manopla, em vez disso, e a inspecionei. Era pesada, provavelmente pesando cerca de dez quilos, o que significava que eu a havia feito com minha magia de terra. Eu até deixei um espaço perfeito na palma da mão onde uma pedra mágica poderia ser embutida. Ela sofreu para caber na minha mão enquanto a segurava, então eu a coloquei no chão e enfiei minha mão. Caiu como uma luva.

— Terra, seja minha mão — murmurei. Mana começou a se acumular no meu braço, alimentando-se da luva, e gradualmente, tornou-se mais e mais leve. Meu tato ficava menos sensível ao usá-la, mas eu poderia facilmente pegar o que quisesse, dando-me nostalgia afetuosa do tempo que passei com minha prótese. Não havia como confundir, esta era a Prótese Zaliff. Ou a Manopla Zaliff, se quisermos um termo mais preciso.

— Nós realmente terminamos!

De fato, criamos com sucesso a Manopla Zaliff.

Depois disso, nós três nos sentamos grogues e apreciamos o café da manhã que Elinalise fez. Ela tinha chegado em casa em alguma hora cedo esta manhã.

— Nós conseguimos.

— Sim.

— Vamos nos certificar de inscrever um projeto limpo para ele mais tarde.

Enquanto comemorávamos a conclusão da manopla, faltou-nos energia para mostrar muito entusiasmo. Nenhuma quantidade de magia de cura ou desintoxicação poderia restaurar as horas de sono perdidas para festejar até a madrugada.

— Bem, até mais.

— Sim, vamos beber de novo algum dia.

— De fato! Foi um prazer.

Nos despedimos reservadamente, prometendo fazer isso de novo.

Meus pés se arrastaram enquanto eu voltava para casa. Já era quase meio-dia e o sol bateu em mim. O calor do verão era inevitável. Isso também significava que a neve havia desaparecido há muito tempo e, em breve, o povo-fera entraria na temporada de acasalamento. Pessoalmente, eu estava ansioso para acasalar o ano todo, então as estações não tinham muito impacto em mim, mas ver como todos os outros também estavam ansiosos me deixou inquieto.

A barriga da Roxy começou a crescer. Eu estava ansioso para decidir um nome para o nosso bebê, mas em apenas duas semanas teria que partir com Ariel para o Reino Asura. Eu poderia voltar instantaneamente para casa com magia de teletransporte, mas não tínhamos ideia de quantos meses passaríamos lá.

Eu odiava a ideia de que eu não estaria lá para o nascimento. Afinal, quando Roxy entrar em trabalho de parto, ela terá passado mais de nove meses com sintomas desconfortáveis da gravidez, tudo para que possa dar à luz ao meu filho. Havia pouco que pudesse fazer por ela em troca, mas eu precisava mostrar o quão grato eu estava através de minhas ações, pelo menos.

Me pergunto se será um menino ou uma menina…

Como Lucie era uma menina, eu meio que queria um menino desta vez, mas honestamente, não importava de qualquer maneira.

Pensando bem, Eris mencionou que quer ter um menino.

De volta ao Japão, havia dicas e truques para determinar o sexo do seu bebê, mas quais eram mesmo? Tipo, se você fizesse a coisa A então seria mais fácil ter um menino e se você fizesse a coisa B seria mais fácil ter uma menina, ou algo assim. Lembrei-me de vinagre sendo usado em algum momento também…

Eu me pergunto se você pode mudar o sexo de um bebê através da magia neste mundo…

De qualquer forma, não importava. Nós criaríamos nosso bebê com amor, independentemente do sexo deles.

Eris provavelmente também acabaria grávida em pouco tempo. Minha preocupação era se ela se acalmaria e se comportaria durante a gravidez. Além disso, ela parecia estar com pressa de ter um bebê. No meio da intimidade, ela fazia uma série de pausas para perguntar: “Posso engravidar assim?”  e  “Tem certeza de que isso está certo?”

Parte disso era porque ela naturalmente tinha uma alta libido, mas talvez outro ponto seja a situação em que ela se sinta atrasada em relação às outras meninas, visto que Sylphie já tinha Lucie e Roxy estava grávida no momento. No Reino Asura, havia um forte senso de que não se podia declarar abertamente a esposa de um homem até que tivessem seu filho. Não tinha ideia do que Eris pensava sobre isso, mas se ela quisesse ter um bebê rapidamente para se sentir mais segura, eu a ajudaria.

Finalmente, vi minha casa ao longe. Como eu não havia dito às meninas que ficaria fora por uma noite, imaginei que elas provavelmente ficariam chateadas comigo. Não que nossa casa fosse rígida sobre esse tipo de coisa.

Talvez fosse sensato criar uma regra concreta em relação ao toque de recolher e passar a noite fora. Sequestros eram um problema comum neste mundo e não havia como dizer o que o Deus-Homem podia fazer. Lucie estava crescendo, então estabelecer uma regra agora serviria para proteger ela e nossos outros filhos futuros.

— Cheguei em casa! — declarei quando entrei.

— Oh, irmão, bem-vindo de volta! — disse Aisha. Não vi nem cabelo nem couro do resto da minha família.

— Hã? Cadê todo mundo? Todas saíram?

— Elas ficaram acordadas até tarde da noite — explicou Aisha. — Ainda estão dormindo!

O quê, elas estavam festejando? Sem a minha presença? Isso significa que fui deixado de fora de toda a diversão?

Em outras palavras, enquanto eu estava bebendo com os meninos, as garotas tiveram sua própria comemoração. Eu só esperava que elas não tivessem passado o tempo falando mal de mim.

— Dá para acreditar? Elas foram tão frias comigo! — Aisha resmungou. — Enquanto eu dormia, elas se reuniram para beber e conversar!

— Ah, então você não participou da festa?

— Não. Léo e eu dormimos juntos a noite toda. Falando no Léo… quando acordei esta manhã, notei que a cama estava fria e molhada. Léo aparentemente teve um acidente. Eu o peguei e ele parecia todo abatido. Ele pode parecer um cachorro grande, mas ainda é apenas um cachorrinho.

Aisha parece estar aproveitando seus dias aqui.

— Mesmo? E o que você fez? Você lavou seus lençóis? — perguntei.

— É claro. Ah, a senhorita Eris me ajudou. Ela prometeu que não contaria a ninguém, já que também costumava molhar a cama. Eu a disse que não foi eu, mas ela não acreditou em mim, não importa o que eu dissesse. Por favor, diga a ela a verdade. Juro, nunca molhei a cama desde que nasci.

— Não sei. Você tem certeza disso? — provoquei.

— Ugh, você também não! Vocês são cruéis!

Fomos para a sala de estar enquanto brincávamos.

Me pergunto se a Eris participou dessa festa da bebida. Isso me deixou um pouco ansioso, mas era bom que ela parecesse estar se dando bem com as outras garotas.

— Oh, Rudeus, bem-vindo de volta.

Enquanto estava perdido em pensamentos, Eris desceu as escadas. Ela estava vestindo roupas leves e flexíveis e carregava uma espada de madeira, mesmo que suas armas reais ainda estivessem em seus quadris.

— É bom estar em casa — eu disse. — Indo para o treinamento agora?

— Aham! Tenho que treinar ainda mais!

Eu não tinha ideia do que haviam discutido durante a festa, mas ela parecia estar de bom humor.

O que me lembra que tenho um favor a pedir a ela.

— Eris.

— O quê?

Talvez fosse graças ao sol na caminhada de volta, mas minha mente estava mais limpa do que antes e meu corpo também parecia mais leve. Tudo que eu precisava era outro copo de água e eu estaria pronto para ir. Um copo grande! E enquanto eu estava no clima, era o momento perfeito para perguntar.

— Se você vai treinar, que tal ter uma batalha simulada comigo? Sabe, como você e Ruijerd faziam enquanto viajávamos juntos. Não faço isso há muito tempo.

Por um momento, ela olhou vagamente para mim, mas logo se recuperou e deu um sorriso.

— Parece ótimo! Vou te fazer de gato e sapato, como costumava fazer!

— Ugh… Bom, tentarei o meu melhor para acompanhar.

Como era uma batalha simulada, eu esperava que ela pelo menos se segurasse o suficiente para não me matar.

Vai ficar tudo bem, certo? Certo? Quero dizer, ela é um Rei da Espada agora, então ela pode se conter… certo?

— Bem, eu vou para o jardim primeiro, então! Eris declarou, antes de se apressar.

Com essa promessa feita, saí para trocar de roupa. Eris se tornou bem durona desde a última vez que a vi e eu não podia me deixar parecer muito patético na frente dela.

Hora de dar o melhor de mim!

Nós dois nos separamos, um de frente para o outro.

— Faz muito tempo desde que lutei com você assim — disse Eris.

— Com certeza. — Quantos anos se passaram desde que viajamos com o Ruijerd? Cerca de cinco, se minha aproximação estivesse correta.

— Eu não vou perder mais para você! — Eris gritou.

— Não se preocupe. Não tenho ilusões sobre ser capaz de vencer.

Eu costumava derrotá-la depois de receber meu Olho da Previsão, mas nas circunstâncias atuais, a vantagem que me dava era insignificante, na melhor das hipóteses. Nós dois tínhamos vivido vidas diferentes depois que nos separamos. Eris passou todo o seu tempo estudando a espada, sem fazer nada além de lutar. Tendo visto seu confronto com Orsted, eu já podia dizer que não tinha chance de vencê-la.

— Dito isso, você não tem muita experiência em lutar contra um mago, tem? — Eu perguntei.

— Não.

— E eu nunca enfrentei alguém com habilidade suficiente para usar algo como a Espada de Luz. Batalhas simuladas como essas nos ajudarão a nos preparar para enfrentar adversários de um nível de habilidade semelhante.

Eris bufou, sorrindo de orelha a orelha.

O que ela tem? Eu não a elogiei tanto assim. Eu disse algo engraçado?

— Realmente já faz uma eternidade desde que fizemos isso! — disse ela.

— É, imagino que sim.

Eris não estava apenas se referindo ao treino, ela estava se lembrando quando eu era seu tutor e costumava analisar logicamente o que estávamos fazendo enquanto treinávamos.

— Bem, com isso fora do caminho, é hora de lutar! Assim como antes, quando estávamos viajando.

— Aham, entendi!

Ela ergueu sua espada de madeira, segurando-a bem acima de sua cabeça, sua pose favorita desde a infância. No entanto, as coisas são diferentes agora. No momento em que ela fez aquela pose, o ar ao seu redor se acalmou. A aura tensa e pretensiosa sobre ela desapareceu em um instante. Em pânico, entrei em uma posição de luta e agarrei meu cajado, liberando meu Olho da Previsão.

— Quando estiver p…

Antes que eu pudesse falar, a figura da Eris ficou desfocada. Quando terminei a frase, uma força atingiu meu ombro direito. Derrubei meu cajado antes que pudesse registrar o que havia acontecido e me esparramei. Quando dei por mim, estava olhando para o céu. Houve um atraso antes da dor chegar, disparando pelo meu ombro.

— Agh… Urk…

Eu não conseguia mover meu braço direito, o que me fez suspeitar que ela quebrou minha omoplata. Consegui alcançar minha mão esquerda e comecei a recitar.

— Que esse poder divino dê sustância satisfatoriamente, dando a alguém que perdeu sua força, poder para se levantar novamente! Cura! — Lentamente, a dor diminuiu.

Eris apareceu no meu campo de visão, ainda segurando a espada acima da cabeça com um olhar confuso no rosto, como se dissesse: “E agora? Posso bater em você de novo?”

— Espera! Pare! Desisto! — Estendi a mão para detê-la e ela finalmente abaixou a arma.

Respirei fundo e me levantei do chão.

— Eris, aquilo de agora era a Espada de Luz?

— Aham.

Essa é a técnica secreta do estilo Deus da Espada. Eu tinha visto uma vez antes, e Orsted até me bateu com a técnica, mas vê-la mais uma vez reforçou como era divinamente rápida. Eu não tive tempo de piscar, muito menos reagir.

— Então era isso… — murmurei. — Incrível. Eu nem vi chegando.

— Claro?! Coloquei tudo o que tinha nisso. — Eris assentiu, satisfeita com meu elogio.

— Acho que vou ter que trabalhar duro para encontrar uma maneira de contra-atacar.

 

 

 

Eris bufou.

— Não será tão fácil!

— Sim, não espero que eu seja capaz de fazer isso hoje…

Ainda assim, eu não podia parecer um completo perdedor na frente dela. Precisava ter certeza de que ela poderia aprender algo com essas batalhas simuladas.

Bem, para resumir os resultados de nossas batalhas… Perdi miseravelmente. Eris venceu nove das dez lutas.

Eu franzi minha testa. Eu já sabia que Eris era forte. Na verdade, já imaginava que não seria páreo para ela antes de começarmos. O objetivo dessas batalhas simuladas não era vencer, mas ficar mais forte. Experimentar o melhor do estilo Deus da Espada era uma lição valiosa em si mesmo.

No entanto, por mais que eu apreciasse isso, não pude deixar de me sentir totalmente desanimado depois de ser espancado tantas vezes. Eu tentei realmente tudo: Atoleiro, Névoa Profunda, Fortaleza de Terra, Onda de Vácuo e Bomba Sônica. Até tentei usar vento e areia para obscurecer a visão dela. Eu pensei que ficar encurralada seria sua fraqueza, e certamente era, mas sua Espada de Luz era tão rápida que superava isso.

Mesmo se conseguíssemos nos atacar ao mesmo tempo, eu ainda perdia. Eu pensei que Eletricidade seria o suficiente para nos fazer empatar, mas Eris manteve um aperto firme em sua espada, mesmo enquanto isso passava por ela,  continuou me atacando. Ela não tinha falta de coragem, com certeza. Enquanto isso, bastava um golpe e eu perdia. A lacuna ridícula entre sua resistência e a minha me fez preocupar se ela se sentiria desiludida depois de tudo isso.

— Eu realmente sou um perdedor, não sou? — suspirei.

— Por que você acha isso?

— Digo, olha para você. Você trabalhou duro e se tornou tão poderosa como resultado, por outro lado meus esforços somados desencadearam em sucessivas derrotas. Sinto que não consigo olhar nos seus olhos, especialmente com quantas horas de treinamento você teve em comparação comigo.

A única vez que venci foi quando consegui parar a espada dela com a minha Manopla Zaliff. Eris ficou abalada pela resistência anormal que sentiu através da minha manga, o que a deixou boquiaberta de surpresa. Eu não a culpava, ela pensou que quebraria meu braço com seu golpe, apenas para ser recebida com aço que desviou seu ataque. A Manopla Zaliff tinha um design mais elegante do que o da sua antecessora, embora as duas pesassem mais ou menos o mesmo.

— O quê? — disse Eris, espantada. — Então você pode deixar seu braço duro também? — As implicações sexuais fizeram com que suas bochechas corassem intensamente. Infelizmente, havia apenas uma parte do meu corpo que eu podia endurecer assim e geralmente permanecia flácida até a noite.

De qualquer forma, eu posso ter vencido, mas não foi por causa da minha força. A sorte me favoreceu e a mesma tática não funcionaria duas vezes. Se ela tivesse usado uma espada de verdade em vez de uma de madeira, havia uma boa chance de ela ter cortado minha mão junto com a manopla. No que me dizia respeito, essa vitória não contava. Minha taxa de vitória, então, era zero por cento.

Sim, me chame de Grande Perdedor Rudeus.

— Isso não é verdade — disse Eris. — Estamos falando de espada contra magia aqui. Em combates corpo a corpo, é natural que você perca.

Honestamente, essa não era a reação que eu esperava. Na minha mente, só tinha imaginado dois cenários. Em um, ela estufava o peito e dizia: “Claro! Porque eu sou mais forte!” e então ela perderia a paciência e gritaria: “Rudeus, você precisa treinar mais!” No outro ela suspiraria, ficaria enojada e diria: “Você me entedia.” Sua resposta foi tão diferente que fiquei boquiaberto.

Sério, acabei de ouvir a palavra “corpo a corpo” saindo da boca da Eris?

— Começamos dentro do meu alcance de ataque preferido, então você está em desvantagem desde o início. Na verdade, sou eu quem deveria ter vergonha de você ter vencido uma vez. Eris disse tudo isso com um olhar completamente sério no rosto.

Estou ouvindo coisas? Essa é mesmo a minha Eris?

Eu tive que me lembrar que ela era uma Rei da Espada agora. Claro que ela tinha conhecimento sobre combate. Seria estranho se não tivesse. Ela falou isso analiticamente quando ensinou esgrima à Norn também.

Eu sabia disso, mas não conseguia deixar de perguntar.

— Eris, tenho uma pergunta…

— O quê?

— Quem, uh, te ensinou tudo isso?

Foi o Rei da Espada? Um Imperador da Espada? Suspeitei que fosse um desses dois. Não perguntei porque queria saber quem a ensinou especificamente. Talvez eu só quisesse me tranquilizar confirmando que ela não tinha inventado tudo isso sozinha.

Se for esse o caso, sou um bastardo odioso.

Mas não pude evitar. Por fora, parecia que não tinha mudado nada, mas muito sobre ela estava diferente e me deixou um pouco… bem, chocado.

— Auber foi quem me ensinou sobre combate corpo a corpo! — declarou Eris.

Como imaginei, alguém a ensinou. Mas o nome Auber me fez refletir. Eu tinha certeza de que tinha ouvido em algum lugar antes.

— Espera… O Imperador do Norte? Imperador do Norte Auber?

— Esse mesmo!

— Pelo que entendi, você era aprendiz do Deus da Espada, mas você está dizendo que também aprendeu com o Imperador do Norte?

— E um pouco do Deus da Água também, claro!

Deus da Água Reida também, hein?

Claro, não era surpreendente que ela aprendesse outros estilos de espada no Santuário da Espada. Estava no nome do lugar. Ou talvez esses guerreiros tivessem passado por lá e ela tivesse recebido lições não oficiais deles dessa maneira.

Independentemente disso, o Imperador do Norte Auber e o Deus da Água Reida eram grandes nomes. Orsted mencionou que havia uma boa chance de lutarmos contra aqueles dois em Asura e eis que foram eles que ensinaram a Eris o que ela sabia. Me perguntei se isso era uma armadilha. Eu queria acreditar que fosse uma simples coincidência, mas…

— Eris, para dizer a verdade, há uma boa chance de enfrentarmos esses dois quando formos para Asura.

— Sério?

— Sim. Eles estão do lado do inimigo.

Pensei que até Eris teria dificuldade em enfrentar seus ex-professores. Tentei dizer diplomaticamente, mas ela simplesmente cruzou os braços e sorriu como se estivesse pronta para entrar em batalha.

— Sério? Isso me dá vontade de lutar!

Ela parecia que ficaria feliz em lutar com eles aqui e agora. Aparentemente, o relacionamento dela com eles não era o mesmo que tinha com Ghislaine. Na verdade, me perguntei se ela tinha feito algum amigo no Santuário da Espada. Fiquei preocupado.

— Bem, se você está ansiosa para a batalha, então eu também não vou me segurar ao lutar contra eles.

— Com certeza! É melhor você não se segurar contra eles — disse ela.

Eu a encarei.

— Porque você acha que seria desrespeitoso?

— Porque eles vão cortá-lo em dois em um instante. — Sua expressão deixou claro que ela não estava brincando. — Mas não se preocupe, você tem a mim para protegê-lo!

— C-Certo…

Por mais reconfortante que isso fosse, ser informado de que me cortariam em dois era honestamente aterrorizante. Eu definitivamente não queria enfrentá-los de frente. Talvez pudéssemos atraí-los para uma armadilha ou ciladas, então as condições nos favorecerão. Eu teria que contar com isso.

— Bem, de qualquer maneira, obrigado por fazer essa batalha simulada comigo.

— Não precisa me agradecer. Como sua esposa, é meu dever!

Ah, meu Deus. Você vai me fazer corar.

— Bem, então, como seu marido, é melhor eu trabalhar duro para poder ficar frente a frente com você — eu disse.

— Você está ótimo desse jeito!

— Tem certeza?

— Sim. Todo mundo tem seu próprio papel a desempenhar! Na verdade, se eu souber que você está do meu lado na batalha, isso me deixará à vontade.

Hum. Há cinco anos, Eris nunca teria dito algo assim. As habilidades que adquiriu durante o tempo que passou treinando eram certamente a coisa mais notável, mas ela também amadureceu mentalmente.

Eu realmente vou ter que trabalhar duro, para que ela não se sinta desiludida por mim.

 

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Continuei lutando com Eris enquanto me preparava para nossa partida. Isso incluía fazer melhorias na minha Armadura Mágica, trabalhar em uma maneira de combater a maldição do Orsted, bem como fazer as malas para a viagem. Fiz tudo isso enquanto tentava passar mais tempo com a Roxy.

Claro, eu não ficava com ela o tempo todo. Tive várias reuniões com o Orsted onde discutimos quais habilidades o Imperador do Norte Auber e o Deus da Água Reida podiam usar, além de como combatê-las. Também descobrimos como contatar o bando de ladrões com quem Triss estava envolvida. Só para ter certeza, revisei meu conhecimento geográfico da Capital de Asura, Ars, bem como a configuração geográfica do Palácio de Prata onde a realeza residia. Eu também apresentei Cliff ao Orsted, para que pudesse começar a estudar a maldição dele.

Eu estava fazendo tudo o que podia, enquanto tentava reservar um tempo extra para passar com a Roxy.

Eu não a estava perseguindo, para ser claro. Sim, talvez eu vadiasse na frente da porta dela às vezes e me esgueirasse de cantinho para chamar sua atenção, mas, na maioria das vezes, eu era bastante direto em pedir seu tempo.

Talvez porque estivesse grávida, ela estava mais disposta do que o normal a aceitar minha companhia. Não que já tivesse recusado antes, é claro, mas ela estava fazendo um esforço mais concertado para se aproximar de mim. Isso aqueceu meu coração.

Ela sempre foi um pouco indiferente comigo. Se eu estivesse sentado no sofá, ela optaria por uma das poltronas, ou se sentaria à minha frente, em vez de se acomodar ao meu lado. Isso mudou ultimamente. Ela se aconchegava ao meu lado ou se jogava no meu colo. Dá para acreditar? No meu colo! Esta era a mesma Roxy que odiava ser tratada como uma criança, mas começou voluntariamente a se empoleirar nas minhas pernas. Como se não bastasse, suas bochechas brilhavam, como se ela estivesse envergonhada por estar fazendo isso. Sem dúvida, era preciso mais coragem para fazer isso do que simplesmente sentar ao meu lado.

Foi por isso que me certifiquei de oferecer orações de gratidão ao meu altar todas as noites.

Minhas Deusas, obrigado por me deixarem ter uma vida tão feliz.

Uma noite, Roxy e eu estávamos sentados no sofá da sala, lado a lado. Muitas vezes sentávamos juntos e conversávamos assim quando o dia chegava ao fim. Nós nunca ficávamos sem assunto. Roxy discutia como as coisas estavam na faculdade ou notícias sobre os últimos implementos mágicos. Às vezes, conversávamos sobre nossas aventuras após o Incidente de Deslocamento. Nenhum dos assuntos era de suma importância, mas conversar com ela sempre me deixava à vontade. Apenas ouvir sua voz era o suficiente para me fazer feliz. As palavras da Roxy sempre carregavam nuances profundas, cheias de sabedoria e iluminação. Nunca passei um minuto entediante com ela.

— Você está sendo muito inseguro — disse Roxy. — Embora um mago deva manter distância enquanto ataca, se ele se afastar muito, isso significa um atraso maior antes que seu ataque atinja.

— Mas quando estou lutando com alguém com uma espada, não devo colocar alguma distância entre nós?

O assunto da discussão de hoje era minha luta com Eris. A maioria das pessoas me julgaria dizendo que era errado falar de outra mulher quando eu estava passando tempo com a Roxy, mas, na verdade, foi ela quem abordou o assunto. Ela assistiu nossa luta, assistiu eu sendo espancado.

Roxy concordou.

— Verdade. Se você é um mago enfrentando um espadachim, quanto mais distância você conseguir, melhor será a sua situação. O impacto do seu feitiço pode ser atrasado, mas pelo menos os ataques do seu oponente também não o atingirão.

— Viu, assim como eu disse.

— No entanto, isso tudo muda no momento em que você entra no alcance de ataque do seu oponente.

Meus ombros caíram.

— Sério?

— Assim que você estiver ao alcance dele, ele terá a vantagem completa. Afinal, eles são rápidos. Tentar colocar distância entre você e eles nesse ponto é inútil; você não será capaz de se mover rápido o suficiente para sair do alcance deles. Eles virão direto para você caso tente isso e seus ataques são como uma onda em forma de cone que se move para fora, o que significa que é mais provável que você seja atingido por isso quanto mais você se afasta.

— Sim, entendi.

Eu experimentei isso inúmeras vezes em minhas batalhas simulada contra a Eris. Ela geralmente me pressionava quando atacava, mas muitas vezes também me mantinha pouco dentro do alcance. Dessa posição, poderia defender qualquer magia que eu tentasse atingir e se eu tentasse recuar, ela me perseguiria. Eu havia perdido quase trinta vezes antes de perceber o que ela estava fazendo.

— Permita-me te interrogar. Quando você está enfrentando um oponente cuja área de ataque está na frente dele, onde está a posição mais vantajosa no campo?

— Atrás do inimigo? — Eu chutei.

Roxy concordou.

— Precisamente. Eles vão avançar com o ataque, então o centro de equilíbrio deles será inclinado para frente. Mesmo que eles tentem defender sua retaguarda com um ataque, seu poder será severamente reduzido. Se puder resistir a isso, terá a chance de contra-atacar. Assim, a chave é sair de seu alcance de ataque e flanqueá-los!

— Hm, faz sentido.

Portanto, era melhor avançar em vez de recuar. O movimento mais perigoso era na verdade o melhor caminho para a sobrevivência. O brilhantismo da Roxy não me surpreendeu; ela não era minha professora à toa. Como uma aventureira, ela provavelmente tinha visto sua parcela de tais situações. Ela provavelmente derrubou várias bestas poderosas e demoníacas à queima-roupa. Chamá-la de deusa não era exagero.

Meus olhos brilharam enquanto eu olhava para minha esposa e ela desajeitadamente desviou o olhar.

— Ahem, bem, tenho certeza de que será difícil com a Eris como sua oponente. Eu certamente não conseguiria. Então, por favor, não me peça para demonstrar para você.

— Não, tenho certeza de que se alguém pudesse fazer isso, seria você! — Me emocionei.

— Não, eu realmente não conseguiria! Então pare de me olhar como se achasse que sou algum tipo de super-humano invencível!

Eu não estou olhando para você assim. Meus olhos estão brilhando porque você é uma deusa.

Independentemente disso, finalmente tive minha resposta. Eu não deveria tentar escapar do meu oponente recuando todas as vezes. Eu precisava avançar pelo menos ocasionalmente, obter vantagem sobre o meu oponente e interromper seu ímpeto com um contra-ataque. Isso o forçaria a duvidar de si mesmo, então ao fazê-lo duvidar de seu método usual de atacar me daria vantagem. Se eu pudesse fazê-lo pensar que era um risco fechar muita distância entre nós, isso faria com que eu pudesse recuar e ganhar vantagem. Com certeza não seria tão simples com a Eris. Eu teria que continuar perdendo para ela enquanto testava minhas opções com cautela.

— Ahem. — Roxy pigarreou, interrompendo meus pensamentos. — Bem, Rudy, já que sua partida está se aproximando rapidamente, acho que está na hora de você decidir um nome para o bebê.

— Pensar no nome de um bebê antes de partir para uma aventura não é um mau presságio? — Eu disse.

— Isso é uma superstição nascida da história de um herói humano, certo? Não tem nada a ver com a Tribo Migurd.

Aff, ela rejeitou isso completamente. Mas um mau presságio ainda era um mau presságio. Ainda assim, se minha deusa disse que não era nada para se preocupar, não havia necessidade de acreditar na superstição. Eu faria o que minha deusa me pedisse.

— Em nossa aldeia, é o trabalho do líder da tribo escolher um nome — disse Roxy. — E você é o líder da nossa casa, certo? Então, apresse-se e tome sua decisão.

— Você tem certeza de que quer que eu faça essa escolha sozinho?

— É claro. Enquanto estiver fora, estarei carinhosamente acariciando minha barriga chamando nosso bebê pelo nome que você der. Isso me trará alguma felicidade em sua ausência.

Enquanto falava, acariciava sua barriga. Coloquei minha mão sobre a dela e segui seus movimentos. Era estranho pensar em como essa mulher que eu conhecia há mais de uma década agora segurava meu bebê dentro dela. Eu já havia experimentado essa mesma sensação intrigante antes com a Sylphie e agora estava de novo com a Roxy. Meu peito se encheu de felicidade. Era uma sensação tão agradável, uma que eu queria desfrutar de novo e de novo.

— Ehehe — eu ri.

— O que foi, Rudy? Essa risada soa exatamente como a da Sylphie.

Assim como a da Sylphie, hein?

— Na verdade, nada. Pensando no quanto eu gosto da sua barriga.

— Eu não sou tão esbelta quanto a Sylphie, nem tão em forma e musculosa quanto a Eris… mas se você ainda gosta do meu corpo, então você pode tocá-lo o quanto quiser.

— Sério? — eu perguntei, embora já estivesse fazendo isso nos últimos minutos.

— Afinal, metade do bebê dentro de mim pertence a você.

— Mas e você? Quanto de você me pertence?

Roxy fez uma pausa antes de dizer:

— Tudo, pelo menos do lado de fora.

— Mas eu não posso reivindicar o bebê aí dentro também?

Ela balançou a cabeça.

— Metade do bebê pertence a mim. Não vou ceder a isso.

Hm, faz sentido. Eu sabia que ela era sábia. Isso mesmo, uma criança pertence a ambos os pais. E Roxy pertence a mim.

— Vamos ver, o que devemos fazer com o nome… — murmurei.

— Hm, bem, um nome Migurdiano seria algo como… Lola?

Os Migurd pareciam gostar de nomes que começavam com Ro ou Lo, mas como nosso filho era apenas meio-Migurdiano, não havia razão para nos atermos à tradição.

— Eu acho que seria melhor se pegássemos algo de nossos nomes, Rudeus e Roxy, e os combinássemos — eu disse.

— Essa é uma boa ideia. Então… Rodeus? Ou Luxy… Acho que nossos nomes não combinam muito bem.

— Bobagem, formamos um par perfeito — insisti.

Mas não podíamos simplesmente juntar nossos nomes assim. Talvez pudéssemos mudar uma vogal. Começar o nome com, digamos… Re ou Le em vez disso.

Re… Rerere…

Ai, droga. Isso soou como o velho Rerere de Tensai Bakabon. Eu poderia imaginar nosso filho cantarolando “Rerere” para si mesmo enquanto varria o chão com sua vassoura de bambu. Não havia nada de errado em querer as coisas limpas, mas definitivamente não era o que precisávamos agora.

Gostei do som do nome que Roxy comentou há pouco — Lola. Isso me fez imaginar uma jovem que estava ansiosa para experimentar a paixão febril do amor. Mas isso também não funcionaria. Eu queria algo mais… mais parecido com Roxy. Algo que soava sábio e, ao mesmo tempo, cativante. Eu amo a maneira como ela se vira quando eu chamo seu nome e como ela olhou para mim, fazendo uma careta perfeita como se perguntasse: “Sim? O que você precisa?”  Esse era exatamente o tipo de nome que eu queria para o nosso filho.

Hmm, hmm… Hmm.

La, Le, Li, Lo, Lu… qual deles seria o mais adequado para o bebê?

Consegui!

— Se for um menino, vamos chamá-lo de Loro e se for uma menina, vamos chamá-la de Lara. Que tal? — Eu propus.

— Uma ótima ideia. Loro e Lara. Eu gosto do som desses nomes.

É claro que sim! Eu praticamente arranquei esses nomes dos Aventureiros de Lolo, afinal. Com uma ligeira alteração.

— Isso não te faz feliz, Loro? Ou Lara? Seu pai teve a gentileza de decidir um nome para você. — Apesar de ter a aparência de uma estudante do ensino médio, a expressão que Roxy usava enquanto alisava sua barriga era como a da santa mãe.

Divino! Ela é absolutamente divina! O que significa que nosso bebê será filho de uma deusa!

— Rudy — disse Roxy, interrompendo meus pensamentos.

— Sim?

— Eu sei que agi como se não estivesse preocupada há alguns dias, mas… espero que você volte para casa são e salvo, certo? Quero que nós dois possamos segurar essa criança juntos.

— Sim senhora!

Ela não tinha que me dizer duas vezes.

Aqueles dias indulgentes passaram rapidamente e logo tivemos que partir para o reino. Éramos oito na equipe. O grupo da Ariel era composto por Luke, Sylphie, Ellemoi e Cleane. Depois havia Eris, Ghislaine e eu. Tínhamos uma única carruagem, que exigia dois de nossos cinco cavalos para puxá-la. A pompa da Ariel era bastante modesta para a segunda princesa de um país tão grande quanto Asura.

Para o mundo exterior, pareceria que estávamos nos preparando para entrar no país. Na realidade, planejávamos acessar um círculo de teletransporte proibido para agilizar nosso transporte. Apesar da natureza secreta de nossa missão, havia uma multidão inteira na entrada da cidade esperando para nos ver partir. Este grupo incluía o vice-diretor, oficiais do conselho estudantil, o gerente geral da Guilda dos Magos, o líder da oficina de implementos mágicos e um punhado de outros chefes de organizações, juntamente com representantes da nobreza e da realeza das Três Nações Mágicas. Todos se aproximaram um após o outro para se despedir da Ariel.

Esses caras não entendem a definição de secreto, não é? Só porque você não está dando uma festa não significa que está tudo bem em reunir tanta gente.

Bem, independentemente disso, a presença deles aqui era a prova de que os esforços da Ariel para fazer conexões em Ranoa deram frutos. Talvez chegasse o dia em que eu precisasse fazer uso dessas conexões. Orsted era insanamente poderoso, mas não tinha boas relações com os outros. Eu estava por minha conta nessa frente. Decidi me misturar com os outros e prestar meus respeitos a eles.

E assim, partimos para o Reino Asura.

 


 

Tradução: Ouroboros

Revisão: Guilherme

 

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