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Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 14 – Cap. 06 – Procura por Kishirika

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Rikarisu foi a última cidade em que me aventurei quando estive no Continente Demônio, junto com Ruijerd e Eris. No final, fomos expulsos deste lugar, me deixando com um gosto amargo na boca. No entanto, minhas experiências nela não foram de todo ruins, Rikarisu me ensinou a não pensar demais ou me preocupar muito com as coisas.

Descemos a encosta e circundamos o perímetro da cratera, em direção à entrada da cidade. Dois guardas estavam de prontidão exatamente como na minha última visita. Naquela época, fiz Ruijerd usar algo sobre a cabeça.

— Ei, espere. — Cliff parou e olhou para mim. — Tem guardas aqui, vamos mesmo ficar bem?

— Nós ficaremos bem, as cidades no Continente Demônio nunca rejeitam ninguém.

— Certo, mas esses caras são bem intimidantes.

Ele estava certo sobre isso, pelo menos. Esses guardas estavam vestidos com armaduras pretas e capacetes que escondiam completamente seus rostos. As armaduras pareciam bem sinistras, com pontas afiadas. Na minha última visita os soldados aqui não usavam esse equipamento. Talvez tivessem mudado o uniforme desde então.

— Alto lá — disseram quando tentamos passar por eles.

— Sim, o que é? — Respondi na Língua Demônio.

— É sobre essa mulher com você… — Olharam para Elinalise.

Cliff deu um passo à frente, como se quisesse protegê-la, mas Elinalise não se incomodou.

— O que estão dizendo?

— E aí? — perguntou um dos guardas, consultando seu parceiro. Pegaram um folheto de papel e olharam entre aquilo e Elinalise. Dei uma espiada; retratava uma mulher tão incrivelmente bela quanto uma súcubo. Era alta, com seios voluptuosos e cabelos ondulados. Era em preto e branco, mas é certo que Elinalise era um pouco semelhante. Mesmo assim, o tamanho dos seios é totalmente diferente.

— Não é ela.

— Sim, ela não bate com o retrato.

Os guardas guardaram o folheto.

— Desculpem-nos por barrar vocês. Podem seguir em frente.

— Aconteceu algum problema? — perguntei.

— Nada que diga respeito a você.

A rejeição deles foi tão direta que seguimos nosso caminho em silêncio.

— Parece que estão procurando por alguém — disse Elinalise.

— Aparentemente sim.

Algum criminoso se refugiou nesta cidade? Bem, certamente não tinha nada a ver conosco, mas tínhamos que tomar cuidado do mesmo jeito, pois não queria encontrar um serial killer em um beco enquanto procurávamos por Kishirika.

— Bem — continuou Elinalise, mudando de assunto —, o que devemos fazer primeiro?

— Vamos conseguir algum dinheiro. Primeiro vamos para a Guilda dos Aventureiros.

— Tudo bem.

E assim fizemos.

— Uau, este lugar é incrível.

O mercado aberto perto da entrada foi o suficiente para tirar o fôlego de Cliff. Estava do jeito que eu me lembrava, muitas pessoas e bastante agitado, havia aventureiros de todas as raças presentes, muitos deles montando bestas lagartos, mas, apesar dessas diferenças, agiam da mesma forma que as pessoas em Sharia. Os mercadores brigavam com aventureiros, os habitantes da cidade perambulavam examinando as lojas com grande interesse e mendigos imploravam por caridade aos donos das lojas e eram expulsos por isso. Pode-se ver essas coisas em qualquer lugar. Cliff deveria estar acostumado a isso, mas as diferentes raças de demônios chamaram sua atenção.

Houve uma coisa que chamou minha atenção: soldados em armaduras pretas estavam posicionados ao redor da cidade. Cada vez que davam uma olhada em Elinalise, puxavam aquele folheto de papel para verificar. Era fácil dizer que ela não era quem estavam procurando, mesmo de longe, já que nunca se aproximaram de nós.

— Mestre Cliff, parece que sua esposa é bem popular por aqui — provoquei.

— Uh, sim. Isso vai ser um problema?

— Supondo que a Senhorita Elinalise não tenha feito nada para se meter em problemas da última vez que esteve aqui, tenho certeza de que ficaremos bem.

Olhei para ela, Elinalise encolheu os ombros.

— Não fiz nada de errado. — Ela se recusou a encontrar meu olhar. Talvez não tivesse feito nada de errado, mas tinha feito algo pervertido.

A Guilda de Aventureiros continuava exatamente como eu me lembrava. O tempo não tinha sido muito bom para ela, mas já estava dilapidada desde aquela época. Quando entramos, instantaneamente chamamos a atenção de todos.

Ah, que nostálgico. A última vez que estive nela, fizemos um pequeno show que fez todo mundo explodir em risadas. Depois daquilo, as pessoas rapidamente se familiarizaram com Ruijerd.

No final das contas, foi tudo em vão.

Os outros ocupantes rapidamente perderam o interesse por nós e se afastaram. Um grupo com uma elfa e um bando de humanos era raro, com certeza, mas não era o suficiente para prender a atenção das pessoas por muito tempo.

Fomos para a recepcionista e trocamos várias moedas de ouro de Ranoa por algumas moedas do Continente Demônio. Recebemos, em troca, quase cem moedas de minério verde e as jogamos em nossas bolsas sem nos preocupar em verificar a quantia. No passado, contar cada moeda era uma tarefa diária. As coisas certamente mudaram.

Nah, tudo que mudou é que agora tenho mais dinheiro.

Depois disso, solicitamos à guilda que as pessoas procurassem Kishirika.

— Ela se parece com uma jovem de cabelos roxos e roupas de couro. Também tem uma risada maníaca inconfundível e sai por aí se autodenominando a “Grande Imperador do Mundo Demônio”.

Dada a natureza do nosso pedido, era uma missão de baixo escalão, mas ainda assim acrescentei uma bela recompensa a ela. Enquanto observava a recepcionista pregá-la no quadro de avisos, outro folheto no canto chamou minha atenção; a busca e resgate por sobreviventes da Região de Fittoa.

O grupo de busca em Millis havia se dispersado, mas a missão ainda estava ativa. As informações de contato também eram as mesmas, indicando as pessoas a procurarem por Paul no País Sagrado de Millis. Se alguém aparecesse e fizesse a jornada até Millis, ficaria bem arrasado por não encontrar ninguém para recebê-lo. Pedi à recepcionista que mudasse as informações de contato, em vez disso direcionando as pessoas para Alphonse no campo de refugiados. Presumi que ele ainda estava aceitando sobreviventes. Poderia ter colocado meu endereço, ao invés disso, mas não tínhamos meios ou energia para cuidar de nenhum estranho que aparecesse.

— Tudo bem, terminamos por aqui.

— Qual é o próximo passo? — perguntou Cliff.

Me perguntei o mesmo. Certamente, poderíamos fazer algumas buscas nós mesmos. Ficaríamos por uma semana e reuniríamos informações, também poderíamos contratar algumas pessoas para ajudar a vasculhar a área. Nosso pedido na guilda foi, para ser sincero, um tipo de seguro, para o caso de não podermos encontrá-la pessoalmente.

— Vamos começar reunindo informações — falei.

Enquanto olhava ao redor, um homem começou a se mover em minha direção. Ele tinha a cabeça de um cavalo.

Ah, é você. Eu não conseguiria te esquecer, mesmo se tentasse.

Era o homem que nos levou a uma armadilha. Foi por sua culpa que fomos expulsos de Rikarisu. Bem… certo, seria exagero dizer isso, nós também quebramos várias regras.

— Ei! — gritou Nokopara com a mesma alegria que eu me lembrava do nosso primeiro encontro. Esse cara fazia questão de cumprimentar novatos todos os dias, hein? Então percebi que era com Elinalise que ele estava falando.

— Já faz um tempo, hein? Você e Roxy já se separaram?

Elinalise olhou interrogativamente por um momento, até que pareceu compreender. Ela deu um soco na própria mão.

— Ah, você é o cara que costumava ser do grupo da Roxy há muito tempo.

— O quê…?

Ele já foi membro do grupo de aventuras da Roxy? Que diabos?

Elinalise se virou para mim.

— Rudeus, por favor, traduza para mim. Esse cara é meu… bem, na verdade, ele é conhecido da Roxy.

Com o incentivo dela, aproximei-me do homem que tentou se aproveitar de nós há oito anos. Então ele já esteve no grupo de Roxy há muito tempo… Isso significa que tentou fazer a mesma coisa com ela? Mas ela nunca disse nada sobre isso.

— Ei, meu nome é Nokopara. Consegue entender o que estou dizendo?

Aparentemente, ele não se lembrava de mim. Não que eu pudesse culpá-lo; minha aparência havia mudado drasticamente nos oito anos desde nosso último encontro. Nokopara também… não envelheceu nada, pelo que pude ver. Sinceramente, eu não fazia ideia de como avaliar a idade de um cavalo. Na verdade, talvez ele tivesse problemas para distinguir os humanos por causa de nossa raça, e foi por isso que não me reconheceu.

— Sim, Senhor Nokopara, posso falar a Língua Demônio — falei.

— Rudeus, esse cara sabe muito sobre esta cidade — interrompeu Elinalise.

— Será que pode fazer com que ele nos ajude?

Sim, eu sabia muito bem quão boas eram suas habilidades de coleta de informações; bem como o quão persistente era. Ele ficava de olho nas pessoas, e sua capacidade de colher informações também era inestimável. Foi assim que quase nos pegou em sua arapuca da última vez. Podia até guardar rancor sobre como as coisas terminaram naquela época. Em vez de desenterrar o passado e fazer dele um inimigo, provavelmente seria melhor esconder minha verdadeira identidade e fazer uso dele.

— Atoleiro — falei —, prazer conhecê-lo.

— Sim! Atoleiro, hein? — Ele fez uma pausa. — Espera, já te vi em algum lugar?

— Não, não seja absurdo.

Se Eris estivesse comigo, duvido que ela seria capaz de perdoá-lo pelo que aconteceu, mas o tempo era um luxo que eu não tinha e não estava disposto a desperdiçá-lo desenterrando velhos conflitos. Afinal, naquela época Nokopara não sabia que Ruijerd era um Superd, e fomos nós que baixamos nossa guarda. Isso era água passada. Nokopara até se cagou em público da última vez, então conseguimos um pouco de justiça com isso.

— Estamos à procura de alguém. Será que pode nos ajudar?

Ele olhou para mim por um momento antes de perguntar:

— Quanto você está pagando?

Isso me irritou. A primeira coisa que ele mencionou foi dinheiro?

Não, espera. É natural que alguém pergunte sobre o pagamento quando se deseja que esteja prestando um serviço.

— Duas moedas de minério verde, e se você encontrá-la, te daremos mais duas além delas.

— Quatro moedas?! — relinchou ele. — V-Você está falando sério?!

Ah, talvez eu tenha oferecido um pouco demais. Já faz um tempo, esqueci completamente do valor do dinheiro aqui. Que seja.

— Isso porque estamos com pressa, mas devo preveni-lo de querer nos enganar simplesmente por saber que temos dinheiro.

— Ei, vamos lá, eu nunca enganaria nenhum amigo da Roxy. Na verdade, ficarei feliz em aceitar metade do que você ofereceu. — Ele riu, enxugando o focinho com a mão.

 

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Depois de fornecermos a Nokopara todas as informações de que precisava para encontrar Kishirika, ele disse que nos contataria novamente em meio dia, desaparecendo no tumulto das ruas da cidade.

 — Você fez um bom trabalho em se segurar — comentou Elinalise depois que nos despedimos dele.

— Segurar em quê?

— Bem, acabei de pensar… ele é o homem que armou para você antes, não é?

Arregalei os olhos.

— Fico surpreso que saiba disso.

— Ah, sabe, um passarinho me contou quando estive aqui da última vez. Contou que Nokopara quase morreu depois de mexer com o Fim da Linha, mas não acho que Roxy saiba disso.

Eu não podia acreditar que Elinalise sabia. Enfim, talvez fosse mais surpreendente se ela não soubesse. Um Superd sendo expulso da cidade era uma grande notícia.

— Foi basicamente um acidente infeliz — falei. Em parte, foi minha culpa por tentar escolher o caminho mais fácil. É verdade que pessoas como Nokopara, que usavam os outros para seus próprios fins, me davam nojo, mas eu também não era um santo. Não tinha nada que julgar os outros. Se Nokopara não me reconheceu, tudo bem. — Não planejo me vingar ou algo assim, embora eu não vá ser tão indulgente se ele tentar nos trair novamente.

Dizem que se você tocar o rosto de Buda três vezes, ele perderá a paciência. Infelizmente para Nokopara, não sou nenhum Buda. Me engane uma vez e a vergonha é sua, me engane duas e não haverá uma terceira.

— A propósito, o que foi aquilo sobre ele ter sido do grupo de Roxy?

— Ah, aquilo…

Ouvir sobre a conexão deles me deixou em conflito, não tinha a melhor opinião sobre Nokopara, mas saber que ele passou um tempo com Roxy antes de eu conhecê-la me deixou com um pouco de ciúmes.

Ah, bem, quem sabe, talvez fosse um cara decente quando era criança. Afinal, não importa o quão bom alguém fosse quando garoto, não havia garantia de que se tornaria um bom adulto.

 Ainda havia muito para fazer enquanto esperávamos por Nokopara. Primeiro, tínhamos que encontrar um lugar para ficar. Um grande número de estalagens locais eram direcionadas a aventureiros, desde iniciantes até aqueles de nível especialmente alto. Escolhemos o último para ficar. Por um lado, as pousadas mais luxuosas eram mais seguras, além disso, a taxa de câmbio indicava que mesmo os quartos mais luxuosos eram bem baratos para mim.

— Isso com certeza desperta algumas memórias.

Enquanto procurávamos um lugar para ficar, passamos pela Pousada Garra de Lobo, onde eu havia me hospedado da última vez. Três jovens, provavelmente aventureiros de baixo escalão, surgiram conforme passávamos, conversando entre si. Já era um pouco tarde para pegar novas missões da guilda, então talvez estivessem saindo para fazer compras.

Passei por outro grupo de novatos que ficou na mesma pousada conosco naquela época. Me perguntei como Kurt e os outros estavam. Um erro que cometi levou à morte de um deles, mas eu esperava que os outros ainda estivessem bem.

Nah, já passaram oito anos. Quem sabe se ainda estão vivos. Se estivessem e por acaso eu os encontrasse, seria bom relaxar e falar sobre os velhos tempos.

Ei, aí está uma boa ideia. Talvez eu deva ver se também não consigo ajuda dos Caçadores P.

Se minha memória estivesse correta, seus nomes eram Jalil e Vizquel. Eles eram saqueadores. Desta vez, eu não pediria que ajudassem a localizar um animal de estimação, mas Kishirika era como um animal. Quem sabe, talvez pudessem encontrá-la.

— Acho que gostaria de passar por uma certa loja, conheço muito bem as pessoas que dirigem o lugar.

— Não esperava menos de você, Mestre. Certamente tem boas conexões.

— Eu não diria isso, essas são as únicas pessoas que conheço aqui.

Liderei o grupo até a loja de animais dos Caçadores P. Eu tinha uma noção geral de onde ficava, embora as memórias estivessem um pouco confusas. Felizmente, já havia caminhado nessas mesmas ruas muitas vezes quando era mais jovem, e ainda havia os pontos de referência dos quais me lembrava ao longo do caminho, mas quando chegamos ao nosso destino a loja parecia completamente diferente. O pet shop agora era um açougue, vendendo carne processada.

Alguém coberto com o que parecia pele de rato estava cuidando do lugar, então me aproximei.

— Bem-vindo!

— Com licença, mas pensei que aqui costumava haver um pet shop. Você sabe o que aconteceu com ele?

— Ah, está falando de Jalil? Ele cometeu um erro ao tentar treinar uma fera há dois anos e morreu.

Sério? Ele morreu?

— E Vizquel?

— Ela? Deixou este lugar há um ano. Disse que não havia nenhum trabalho aqui para ela sem o Jalil.

Então ela também não está aqui.

Eu não conseguia acreditar que Jalil realmente tinha morrido. Sabia que o Continente Demônio era um lugar cruel, mas na verdade fiquei um pouco triste ao saber que ele havia partido. Embora também tivesse traído Ruijerd no final, trabalhamos juntos e nos demos bem por algum tempo.

— A Vizquel passou esta loja para mim quando ela foi embora — explicou o açougueiro. — Você é amigo deles?

— Sim, acho que poderia dizer isso.

— Certo, nesse caso, vou dar um desconto a vocês.

Perguntei sobre Kishirika e comprei um pouco de carne de Grande Tartaruga como agradecimento. Sem surpresas, o gosto era absolutamente terrível.

Passamos o resto do dia tentando reunir informações, o que foi um processo muito lento. Eu era o único no grupo que falava a Língua Demônio, então tive que cuidar de todas as perguntas. Talvez eu realmente devesse ter insistido no assunto e teimado para que Roxy viesse conosco.

Não. Na realidade, um interlocutor adicional não teria agilizado tanto as coisas. Tudo que eu podia fazer agora era contar com Nokopara, já que pelo menos ele era um especialista neste campo. Eu tinha praticamente desistido de encontrar alguma pista.

E então…

— Ela parece uma garotinha de cabelo roxo e roupas de couro. Também tem uma risada maníaca inconfundível e sai por aí se autodenominando a Grande Imperador do Mundo Demônio. Você já viu alguém assim?

— Ah, aquela garota. Sim, eu a vi, mas não recentemente. Acho que foi há cerca de um ano.

Eu tinha me acostumado tanto com as respostas negativas que essa resposta foi inesperada. Altamente inesperada, na verdade. Talvez nossa primeira aventura pelo Continente Demônio fosse resultar em sucesso.

— Acertamos o alvo! — declarou Cliff empolgado, como se já a tivéssemos encontrado.

Elinalise balançou a cabeça.

— Sim, mas disseram que não a viram recentemente.

Infelizmente, ela estava certa. Mencionaram tê-la visto, mas isso foi há um ano. E, para piorar as coisas, ninguém a tinha visto nos últimos seis meses. Talvez nem estivesse mais nesta cidade, talvez devêssemos ter perguntado para onde ela iria a seguir. Rikarisu estava localizada na ponta nordeste do Continente Demônio. Se ela estava indo para outra aldeia, teria que ir para o sul ou oeste. Havia montanhas a sudoeste, então não achei que ela fosse para lá.

Sim, mas é da Kishirika que estamos falando. Não que eu a conhecesse bem, mas ela não parecia o tipo  que usava estradas normais. Se estivesse certo, não tinha como dizer qual direção ela tomou.

— Por enquanto, vamos esperar para ouvir o relatório de Nokopara.

— Eu, de alguma forma, duvido que ele tenha algo digno de nota em apenas meio dia.

De toda forma, voltamos para a Guilda dos Aventureiros. Planejamos pegar uma mesa e comer alguma coisa, mas Nokopara apareceu antes que pudéssemos encher nossos estômagos.

— Ei. Desculpem a demora. — Ele tinha a mesma expressão otimista em seu rosto. — Como pode imaginar, não consegui encontrar a pequena senhora, mas consegui algumas informações.

— Estamos ouvindo.

Na maior parte, o que ele nos contou bateu com aquilo que descobrimos. Afinal, havia um limite do que se podia descobrir em meio dia, mas ele conseguiu montar um dossiê de onde ela foi vista com mais frequência e quando foi vista pela última vez. Isso foi bastante impressionante pelo curto prazo que teve. Ele provavelmente coletava informações regularmente, ou talvez simplesmente tivesse boas conexões. De qualquer maneira, isso significava que ele só teria que procurar um pouco mais de informações, fuçando antes que pudesse vender seu conhecimento. Geese também parecia ser muito talentoso nesse tipo de coisa.

— Além disso, sobre a sua imperador demônio… parece que algum rei demônio também está procurando por ela.

— Rei demônio? — Levantei uma sobrancelha.

— Sim, cerca de um ano atrás, o rei demônio de uma região vizinha veio até aqui por algum motivo.

O dito rei demônio era o residente atual do Antigo Castelo Kishirika, no meio de Rikarisu. Aqueles guardas de armadura negra espalhados pela cidade eram supostamente os soldados particulares, cavaleiros ou guarda-costas de elite, ou como quisesse chamá-los, deste rei demônio.

— Por acaso o nome dele seria Badigadi? — perguntei.

— Nah, não é Lorde Badi. É sua irmã mais velha, Lady Atofe, uma terrível rei demônio.

Huh, então Badi tem uma irmã? Imaginei se ela também tinha seis braços, era toda bombada e parecia uma amazona negra.

— Aterrorizante, hein?

Ele assentiu.

— Sim, ela sobreviveu à Guerra de Laplace por ser uma rei demônio agressiva que resolvia todos os problemas com o uso da força. Se você fizer algo que ela não goste, com certeza terá sua cabeça arrancada de seus ombros.

Era difícil imaginar isso, considerando o quão bem-humorado Badigadi era, mas se o que ele afirmava fosse verdade, provavelmente seria melhor não se aproximar dela, mesmo sendo parente de Badigadi, uma vez que também poderia ser imortal. Em outras palavras, talvez estivesse viva 7.000 anos atrás e conhecesse uma cura para a Síndrome de Esgotamento. Buscar uma audiência para perguntar a ela sobre isso poderia não ser uma má ideia, embora eu não tivesse ideia a respeito de ela concordar em se encontrar conosco ou não.

— Já que estamos falando sobre este assunto, Badigadi não voltou? — perguntei.

— Não… Mas, ei, ele ainda é um rei demônio. Você deve usar um título adequado ao se referir a ele.

— Ah, minhas desculpas.

Portanto, Badigadi ainda não havia retornado. Para onde ele foi? Mas, bem, ele não passou os últimos oito anos vagando por aí? Talvez vagar de um lado para o outro fosse algum tipo de hobby dele.

Depois de falar com Nokopara, atualizei o restante sobre o que havia aprendido. Zanoba pressionou a mão no queixo e disse:

— Ainda assim, mesmo que Lady Atofe esteja procurando por Kirishika, a imagem que eles tinham não se parecia em nada com a sua descrição.

Ele tinha razão, a Kishirika de que eu me lembrava não se parecia em nada com a mulher que procuravam. Aquela que eu conhecia parecia uma garotinha. Na verdade, nunca pensei que a foto que aqueles guardas tinham deveria ser de Kishirika. Mas existiam algumas semelhanças. Talvez fosse daquele jeito que Kishirika se parecia quando adulta. Será que tinha amadurecido desde quando a vi?

Nah, não pode ser. As pessoas na cidade também a descreveram como uma garotinha. Nesse caso, talvez este rei demônio não tivesse ideia de que Kishirika agora parecia uma criança. Pode valer a pena perguntar sobre isso a Nokopara.

— Ei, aquele esboço dos guardas não se parecia em nada com a Kishirika. O que sabe sobre isso?

— Os reis demônios são bastante irreverentes quando se trata de detalhes. Lady Atofe provavelmente não se preocupou em levar em consideração a idade atual da imperador demônio.

— Ah, certo. — Badigadi também era bastante indiferente a esse respeito. Não seria surpreendente se Atofe fosse igual. — Acho que devemos ir fazer uma visita a Lady Atofe e bater um papo.

Me levantei e Nokopara entrou em pânico.

— E-Espere um minuto. Estou lhe dizendo, Lady Atofe é problema. É melhor ficar longe dela.

— Não, temo que seja necessário. Contanto que não a ofendamos, certamente não teremos problemas.

Não teríamos, não é? Certamente esperava que não. Se o pior acontecesse, eu poderia disparar magia por trás da segurança do meu escudo, Zanoba. Tudo o que tinha que fazer era acertá-la com um bom disparo, como fiz com Badigadi, e então fugir. Assim que fugíssemos, poderíamos procurar Badigadi e fazê-lo mediar as coisas enquanto implorássemos por perdão.

Sim, soa como um bom plano!

— Se pretende buscar uma audiência, acredito que meu título deve ser útil. — Zanoba se levantou e riu.

Eu não tinha essa confiança. Talvez ele fosse da realeza e estivesse acostumado a usar sua posição dessa forma, mas Ariel parecia uma aposta mais segura, caso estivéssemos tomando esse caminho.

Espera aí, depois de ver como as coisas correram com Perugius, talvez Zanoba seja o mais agradável dos dois. Ariel estava desesperada para fazer conexões. Seus motivos ocultos um tanto transparentes poderiam azedar o humor da rei demônio.

— Lady Atofe conhece bem as artes finas? — perguntei a Nokopara.

— Huh?  Artes finas? Não faço ideia. Quero dizer, ela é uma rei demônio, e a maioria desses caras tem algum tipo de hobby desses. Quanto a Lady Atofe… Não tenho certeza se artes finas são seu hobby.

E quanto a Badigadi? Qual era o seu hobby? Tive a impressão de que ele realmente não tinha um. A menos que contasse o álcool, já que ele gostava de beber coisas caras. Nokopara mencionou que Atofe era assustadora, mas Badigadi também poderia ser intimidante. Se ela não fosse pior do que ele, eu estaria bem.

— Tudo bem. Então, por enquanto, vamos apenas seguir em frente e ver.

Com isso, Elinalise e Cliff se levantaram e se juntaram a nós.

Todo o lamentável caso nos exigiu cerca de uma hora e nos deixou parados a uma certa distância do castelo. Em resumo, foi um desastre. Zanoba mostrou aos guardas o brasão da família real Shirone e eu traduzi para ele, solicitando uma audiência. Infelizmente…

— Nunca ouvi falar deste país. Além disso, Lady Atofe está ocupada! Ela não tem tempo a perder com reuniões!

Em outras palavras, bateram a porta em nossa cara. Não que eu pudesse realmente culpá-los. Shirone era um país bastante pequeno. Era como se alguém de um pequeno país africano se anunciasse para um japonês. Além disso, não tínhamos um compromisso marcado, era natural que nos dispensassem.

— Sinto muitíssimo, Mestre. Parece que meu país não tem a autoridade necessária. — Zanoba não ficou chateado, apesar de quão rude foi sua rejeição. Em vez disso, acabou me pedindo desculpas.

— Não, não pensei o suficiente na ideia. Isso foi minha culpa.

— Bem, eu também duvidava que eles já tivessem ouvido falar do meu país. — Ele franziu a testa. Zanoba não era do tipo patriota, mas com certeza achava que menosprezar sua terra natal desse jeito era um insulto.

Cliff suspirou.

— Ei, por que não descansamos um pouco? — Ele estava encostado em uma parede próxima.

Eu ainda tinha energia de sobra para continuar, mas Zanoba estava com suor escorrendo pela testa.

— Sim, estou um pouco exausto.

Dada sua força monstruosa, era fácil presumir que ele tinha muita resistência, mas ele era mais do tipo parado. Um dia inteiro de exercícios talvez estivesse cobrando seu preço. Trabalhamos sem parar, até minha mente estava começando a ficar lenta. Talvez devêssemos descansar.

— Vocês têm razão — falei. — Que tal comermos alguma coisa?

Não tivemos tempo para almoçar. O charque que comemos nesse meio tempo não foi o suficiente para encher nossos estômagos. Eu não estava muito interessado em comer, já que a comida local era bem nojenta, mas não tínhamos muitas escolhas.

— Mestre, parece que há uma banca de rua ali, por que não provamos? Tudo bem para você, Lorde Cliff?

Assim que Zanoba mencionou isso, senti o cheiro de carne grelhada. Minha atenção foi atraída para uma barraca de espetos. Especiarias tomavam o ar, indicando que esta era uma parte da carne picante do Continente Demônio. Havia três clientes esperando.

— Não estou reclamando, mas vamos ficar de pé e comer? Isso não é falta de educação? — perguntou Cliff.

— É um pouco tarde para se preocupar com isso.

Elinalise juntou-se ao final da fila.

— Vou fazer o pedido — disse ela. — Enquanto isso, Rudeus, por favor, consiga algumas cadeiras.

Eu hesitei.

— Tem certeza de que vai ficar bem, mesmo sem falar a língua?

— Posso usar meus dedos para indicar quantos queremos. Vou ficar bem.

Em outras palavras, a linguagem corporal era universal o suficiente para que ela não precisasse falar a língua. Nesse ínterim, usei magia para conjurar algumas cadeiras na beira da estrada. Estava tudo bem ficar de pé e comer, mas deveríamos sentar se fôssemos descansar. Não me importava em plantar minha bunda na terra, mas Zanoba e Cliff claramente se incomodariam.

Cliff saiu para se juntar a Elinalise.

— Vou acompanhá-la.

— Uff. — Zanoba e eu nos sentamos quando terminei de preparar tudo. A exaustão tomou conta de mim. Senti como se todo o esforço que havíamos feito tivesse sido em vão. Não tínhamos ideia se encontraríamos Kishirika ou não. Mesmo que a encontrássemos, ela pode não ter as informações que procuramos. Na verdade, havia uma grande probabilidade de que ela não tivesse. Como Badigadi, ela viveu uma vida incrivelmente longa, mas provavelmente não se importava muito com doenças. Além disso, de quantos detalhes se lembraria depois de tantos milênios?

— Não pense demais nessas coisas — alertou Zanoba.

— Huh?

— Mestre, você parece sentir muito mais responsabilidade do que deveria quando se trata da doença de Lady Nanahoshi.

— Sim, você está certo. — Logicamente, eu sabia que o fato de ela estar doente não tinha nada a ver comigo, mas minhas emoções tinham vontade própria.

Zanoba continuou:

— Mas eu entendo um pouco como ela se sente, querendo voltar para a casa onde viveu a maior parte de sua vida. É por isso que estou aqui, tentando ajudar.

— Mesmo? Achei que você fosse mais apegado à maneira como sua vida está agora.

— Claro que sou, mas, recentemente, comecei a sentir saudades de casa.

Pelo visto, até ele tinha boas lembranças de Shirone. Achei que ele ficaria bem em qualquer lugar, desde que tivesse seus bonecos ou estatuetas, mas Zanoba não era tão diferente das pessoas normais.

— Considerando o quão desesperada Lady Nanahoshi está para retornar, só posso imaginar que ela deixou algo incrivelmente precioso para trás quando veio para cá.

— Sim, o cara que ela ama e a família, pelo que ela me disse.

Era uma resposta bastante clichê, mas isso não tornava as pessoas que ela estimava menos valiosas. Eu sabia o quão importante a família e os entes queridos eram e o quanto doeria perdê-los.

— Infelizmente não consigo sentir empatia por nenhuma dessas coisas — disse Zanoba.

— Pense da seguinte maneira: a maneira como ela se sente a respeito deles é como você se sente em relação aos bonecos.

Enquanto conversávamos, mantive meu olhar em Cliff e Elinalise. Os dois mudaram muito desde que os conheci. Como de costume, Cliff era péssimo em entender a atmosfera, mas tentava criar empatia pelos outros à sua própria maneira. Elinalise continuava quase a mesma, ainda me lembrava de quando ela passava o tempo todo perseguindo homens, mas caso eles se separassem agora, eu sabia que despenderiam todos os esforços para se encontrarem novamente.

Continuei a observá-los em silêncio. O cliente na frente deles comprou a carne, e um mendigo com um capuz esfarrapado tropeçou nele na esperança de conseguir alguns restos, apenas para o referido cliente chutá-lo para longe. O nariz de Cliff dilatou-se enquanto observava, mas Elinalise o deteve antes que começasse uma briga.

Conhecendo o caráter de Cliff, aposto que ele comprará um a mais para o pobre mendigo.

E ele fez exatamente isso. O mendigo agradeceu bastante antes de devorar o espeto. Em seguida, começou a implorar a Cliff por mais um pouco. Embora exasperado, ele cedeu e entregou-lhe mais alguns, e o mendigo pegou sua mão, seu corpo inteiro tremendo de gratidão.

Espera aí. Estou tendo um déjà vu aqui.

Não tinha passado pela mesma coisa há muito tempo? Quando foi? E onde? Eu tinha certeza de que foi no Continente Demônio. Não, espera, foi no Continente Millis? Lembrei de compartilhar um pouco da minha comida com mendigos… não, não eram mendigos, eram?

Não, não, mais importante, aquele mendigo não agradeceu a Cliff na Língua Humana?

Naquele momento, o mendigo sorriu e começou a rir loucamente.

— Fwahahaha!

Sua voz estava tão alta que ecoou por toda a cidade. Ela tirou a capa e berrou:

— Meu nome é Kishirika Kishirisu! As pessoas me chamam de Grande Imperador do Mundo Demônio! Já que salvou minha vida, concederei um desejo a você. Vá em frente, diga-me o que quer!

Minha cabeça começou a girar.

 

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Kishirika parecia a mesma de sempre. Usava botas de cano alto, shorts reveladores e um top de couro. O traje expôs a estreiteza plana de seu físico, desde a pele pálida de sua clavícula até o umbigo e as coxas. Ela continuava com o mesmo cabelo roxo volumoso e ondulado e dois chifres de cabra. Estava coberta de mais sujeira e fuligem desta vez, mas não havia como confundi-la com outra pessoa. Esta era a Grande Imperador do Mundo Demônio, Kishirika Kishirisu.

— Fwahahahaha! Fwaha! Fwahahaha!

 

 

 

Cliff ficou pasmo. Elinalise também assistiu com espanto, sem palavras, seu rosto pendendo para uma expressão cômica e inexpressiva que eu nunca tinha visto antes. Mas eu entendia sua confusão, mesmo eu não tinha ideia do que estava acontecendo.

Zanoba foi o único que manteve a cabeça fria. Ele colocou a mão no queixo e murmurou:

— Ah, então esta é a mulher em quem Sua Majestade Badi tanto pensa.

Um ditado de repente passou pela minha mente: “O bem que você faz para os outros é o bem que você faz para si mesmo.” Cliff era um excelente exemplo disso. Era fácil dizer que ajudaria uma pessoa necessitada se a encontrasse, mas muitos não o faziam. Afinal, mendigos usavam roupas esfarrapadas, tinham a pele coberta de fuligem e dentes podres. Na maioria das vezes, também cheiravam mal. Isso desencorajava as pessoas de se aproximarem deles, com medo de pegar alguma coisa. Será que eu poderia ver uma pessoa assim, sentir compaixão por ela e oferecer-lhe a comida que estava comprando para mim? Talvez não. Não os chutaria como o outro cliente fez, mas também não era nenhum santo.

Cliff, no entanto, possuía um coração caridoso. Quando o conheci, pensei que ele era tacanho e mesquinho, mas agora, pensava que um dia ele seria um sacerdote esplêndido. Grande Cliff!

Certo, vou parar de elogiá-lo e partir para a questão mais importante: por qual razão Kishirika está agindo como um mendigo, logo aqui, de todos os lugares?

— Venha, não precisa ser tímido! Diga o que seu coração deseja! E diga-me seu nome — disse Kishirika.

— Huh? Uh, ok… M-Meu nome é Cliff Grimor. — Cliff ainda estava em choque com a declaração repentina de que ela era exatamente a pessoa que estávamos procurando. Ele olhou para mim com um olhar suplicante.

Kishirika fez uma pose altiva ao responder:

— Cliff, hm? Alimentar-me foi uma conquista nobre! Afinal, não comi uma única migalha nos últimos seis meses!

Me aproximei e me inseri na conversa.

— Nesse caso, gostaria de mais comida?

— Ooh! Sério? Vocês são realmente generosos. Sim, generosos mesmo! Vocês vão longe na vida, guardem minhas palavras!

Kishirika devorou ​​mais espetos de Grande Tartaruga. A maneira como ela os devorou me fez pensar onde que aquilo tudo ficava naquele corpinho minúsculo. E ela continuou, um após o outro.

— Ufa! Isso me satisfez. Agora estarei bem por mais um ano. — Depois de terminar a refeição, Kishirika bateu com a mão na barriga, satisfeita.

Tínhamos comprado todos os espetos que o dono da barraca tinha à venda. Ele ficou bem feliz pelo sucesso nos negócios.

Com isso feito…

— Já faz muito tempo, Lady Kishirika — falei.

— Hm? E quem é você? — Quando abaixei minha cabeça, ela bufou e me olhou fixamente. — Hmm? Oh? — Um de seus olhos girou, mudando de um olho normal para um de seus olhos demoníacos. Então bateu com o punho na palma da mão. — Aha! É você! Você é o garoto humano com a mana nojenta. Claro que lembro de você! Eu te dei um dos meus olhos. Acho que seu nome era, uh… Roo… Roomba? Roombaus! Sim, era isso! Faz um tempo.

— Rudeus Greyrat — corrigi. Não sou um maldito robô de limpeza1Roomba é uma marca popular de robôs aspirador de pó., muito obrigado.

— Sim, Rudeus, muito tempo mesmo. Você com certeza ficou muito maior. Bem, como foram as coisas depois que nos separamos? Você tem se saído bem? — Ela deu um tapinha na minha coxa, no ponto mais alto que podia alcançar. Isso me lembrou um líder de seção em um trabalho de escritório dando tapinhas no ombro de seus subordinados.

— Sim, o olho que você me deu antes realmente salvou minha vida em inúmeras ocasiões.

— Fwahaha! Sim, tenho certeza que sim! — Ela acenou com a cabeça, satisfeita.

Ela realmente é muito fácil de manipular.

— No entanto, só vou conceder minha recompensa a um de vocês! Apenas um! — Ela se virou e apontou o dedo para Cliff. — Você, Cliff Grimor, declare o seu desejo, seja ele qual for.

Ele engoliu em seco e olhou para ela. Naquele momento, a dúvida tomou minha mente. Ele não iria, né?

Era de conhecimento geral que Kishirika Kishirisu oferecia olhos demoníacos como recompensa às pessoas, e Cliff tinha seus próprios objetivos. Um olho demoníaco poderia ajudá-lo a criar implementos mágicos. Até eu sabia disso. É por isso que espero estar errado…

— N-Nesse caso, por favor, me diga como curar a Síndrome de Esgotamento — disse Cliff finalmente.

— Oh?

— Uma conhecida minha está com essa doença. Conseguiram fazê-la sobreviver até agora, mas não há indicação de que irá se recuperar por conta própria. Se você souber de alguma maneira de ajudá-la, por favor, me diga.

Meus ombros cederam de alívio. Minhas preocupações foram totalmente infundadas e, honestamente, um pouco ofensivas para Cliff. Eu teria que oferecer uma refeição para ele assim que voltássemos para casa.

— Hm, Síndrome de Esgotamento, você diz. Esse nome desperta algumas memórias. Devo admitir que estou um pouco surpresa ao ouvir falar de alguém com isso nos dias de hoje.

Zanoba e eu trocamos olhares, balançando as cabeças. Parecia que Kishirika estava familiarizada com a doença.

— É curável?

— Uma pergunta boba. Claro que é! Tudo o que você precisa fazer é pegar um pouco de Grama Sokas, fazer um pouco de chá com ela, beber e o problema vai embora junto com a merda!

Eu sorri. Isso era perfeito. Havia uma chance de que a memória de Kishirika estivesse ruim e essa grama não funcionasse, mas agora pelo menos tínhamos algumas informações. Por “fazer um chá”, provavelmente falava de esmagar as folhas em um pouco de água e depois beber.

— Grama Sokas? Nunca tinha ouvido falar disso antes. Onde podemos encontrar isso?

— Maio, a Cidade Fantasma.

— Uh, Cidade Fantasma?!

Caramba. Quando a palavra “fantasma” era usada na mesma frase que “cidade”, geralmente significava que o lugar em questão era difícil de encontrar. Como se só pudesse visitá-lo em seus sonhos ou tivesse que atravessar um deserto para chegar até lá ou algo assim.

— Ao norte daquela cidade, na ponta das Montanhas Wyrm Vermelho, tem uma caverna nas profundezas de uma ravina conhecida como Cauda do Wyrm Vermelho. Escondido em suas partes mais profundas e escuras está uma plantação abundante de Grama Sokas.

— Então, temos que ir para uma caverna neste lugar, a Cauda do Wyrm?

Parecia um RPG. Depois de chegarmos tão longe, ela iria nos enviar em uma missão para procurar a grama? E tínhamos que ir para uma caverna localizada em um lugar chamado Cauda do Wyrm? Se o nome fosse alguma indicação, provavelmente estaríamos lutando contra alguns dragões ao longo do caminho. Essa era uma tarefa difícil.

Não, isso não é tão ruim, sinceramente. O pior cenário possível era não encontrar Kishirika e passar os próximos anos procurando.

Mas, certo, espera, eu conhecia as Montanhas Wyrm Vermelho, mas nunca tinha ouvido falar de um lugar chamado Cauda do Wyrm Vermelho.

— Então, onde exatamente está localizada a Cauda do Wyrm?

— Pergunta inteligente. Sabe, no final da segunda Grande Guerra Humano Demônio, a batalha do Deus Dragão e do Deus Lutador acabou abrindo um buraco no continente, destruindo o lugar que antes era chamado de Cauda do Wyrm.

— O quê…?

Uh, então o lugar que precisávamos encontrar não existia mais? Além disso, essa história que estava nos contando era totalmente diferente da que eu tinha ouvido. A história dizia que o enorme buraco no continente foi resultado da batalha de Kishirika com o Cavaleiro Dourado. Dito isso, Kishirika não parecia ser uma lutadora… Bem, tanto faz. Afinal, era uma lenda e as pessoas muitas vezes contavam essas histórias da maneira que lhes era conveniente. No momento, minha prioridade era a Grama Sokas.

— Isso significa que a grama Sokas não existe mais?

Kishirika balançou a cabeça.

— Não, eu estava apenas explicando o lugar de descobrimento da caverna Cauda do Wyrm.

Se foi lá que foi descoberta pela primeira vez, isso significa que também existe em outro lugar?

— A Grama Sokas cresce nas profundezas das cavernas, onde o sol não bate.

Com base nesta descrição, podemos encontrar essa grama dentro de labirintos. Então podíamos entrar em qualquer labirinto antigo? Nesse caso, precisávamos repensar a composição do nosso grupo antes de nos aventurarmos. Precisaríamos de cerca de vinte pessoas… Não, poderíamos oferecer uma recompensa, recrutar alguns aventureiros e enviar cem pessoas.

— E — continuou Kishirika —, foi por isso que ordenei a cada rei demônio que cultivasse essa grama em seu castelo!

— …

— Afinal, a erva é deliciosa. Aqueles que provam dela têm uma expectativa de vida excepcionalmente alta. Isso porque aqueles que bebem são reis demônios imortais. Fwahaha!

— …

Então, basicamente, o que ela estava nos dizendo era que todo rei demônio tinha essas coisas crescendo em seu castelo? E por ser considerado um chá de luxo, seria possível encontrarmos comerciantes que o vendessem?

— Fwahahahaha! Você achou que teria que ir buscá-la? Aposto que sim, não é? Sua coisinha lamentável! Tem um monte plantada bem ali no meu castelo! Fwahahahaha!

Ninguém me culparia por querer ver o quão longe eu poderia chutar essa idiota, certo?

Cliff parecia pensar na mesma coisa. Ele avançou com as mãos fechadas.

— Sua…!

— Por favor, espere, Mestre Cliff! Não sejamos precipitados. Primeiro precisamos fazê-la contar tudo o que sabe.

— S-Sim, você está certo.

Opa, talvez eu não devesse ter dito essa última parte em voz alta.

Se realmente havia Grama Sokas no castelo… não havia motivo para ficar com raiva. Na verdade, era perfeito. Claro, ela nos preocupou por nada e isso me irritou um pouco, mas foi algo que serviu de lição.

Certo, esfrie sua cabeça. Você pode até ficar de joelhos e implorar por isso.

— Tudo bem, Lady Kishirika, então imploro que você compartilhe um pouco de sua Grama Sokas conosco.

— Claro! Só tem um probleminha.

— Que problema é esse?

— Bem, sabe, há um problema detestável no meu castelo no momento. É bastante difícil de lidar e não é muito inteligente, então passei os últimos seis meses fugindo de… Ops.

Suas palavras foram sumindo enquanto ela olhava para algo atrás de nós.

— Hm? — Segui seu olhar.

Vários soldados vestidos com armaduras pretas estavam lá. Cinco, seis, sete… vinte, no total. Pior ainda, outro grupo se reuniu na rua à nossa frente e mais grupos se espalharam em um beco próximo. Logo, ficamos cercados por trinta deles. Eles nos encaravam, como se estivessem tentando nos intimidar.

Elinalise deu um passo à frente, a mão pairando sobre a espada em seu quadril. Suor frio cobria sua testa. Com esses números, não havia como corrermos.

O que deveríamos fazer?

Poderia agarrar dois deles, Zanoba em meu braço direito e Cliff em meu esquerdo, e usar minha magia para dar um salto voador, mas e quanto a Kishirika e Elinalise?

O homem aparentemente encarregado pelos soldados avançou em nossa direção. Sua voz estava rouca, mas vibrante quando disse:

— Nós somos os guardas pessoais da Rei Demônio Imortal Atoferatofe, que governa o Território de Gaslow. — Ele falou fluentemente na língua humana. — Por ordem real dela, por favor, entreguem Lady Kishirika e venham conosco para o castelo.

Atrás dele, os outros cavaleiros puxaram seus esboços e os compararam à Kishirika da vida real. Seus rostos demonstraram bastante confusão. Como Nokopara suspeitou, a imagem não se parecia em nada com Kishirika porque Atofe não tinha detalhes sobre isso, mas embora ela não se parecesse com a mulher que foram instruídos a encontrar, gritar a plenos pulmões que era a Grande Imperador do Mundo Demônio foi o suficiente para atrair a atenção de qualquer pessoa.

— E se dissermos não? — Elinalise gracejou.

Os guardas imediatamente sacaram suas espadas. O barulho ensurdecedor de lâminas saindo de suas bainhas ecoou pela área.

— Não vamos ter misericórdia de vocês.

Não que eu fosse capaz de dizer a força de uma pessoa só de relance, mas até eu podia ver que essas pessoas eram experientes em batalha. Havia uma diferença marcante entre um novato e aqueles que haviam resistido a muitas lutas, e esses soldados eram, sem dúvidas, do segundo grupo. Senti que eram muito mais capazes do que um bando de cavaleiros quaisquer.

— V-Você não deve ouvi-los. Se permitir que te levem para o castelo, não há como dizer o que poderá acontecer com você. Estamos falando da Rei Demônio Atoferatofe — argumentou Kishirika. — Ela não é nada além de uma completa imbecil!

Franzi as sobrancelhas. Ela tinha razão, por que deveríamos concordar em deixar essa suposta idiota nos prender? Não tínhamos negócios com Atofe. Tínhamos que encontrar uma maneira de escapar disso.

Ah, mas espera aí, a grama de que precisamos não está embaixo do castelo? Talvez possamos entrar sorrateiramente… Não, vamos ser realistas, nunca vi essa grama antes, então nem saberia o que procurar.

Enquanto eu hesitava, o líder dos cavaleiros removeu seu capacete.

— Eu imploro. — Seu cabelo era vermelho flamejante e seu rosto estava desgastado pelo tempo. Ele nos deu um sorriso suave e abaixou a cabeça. — Se você não vier, temo que minha senhora vá nos punir. Juro que não vamos te tratar mal, então, por favor…

A maneira como ele se curvou foi bastante sincera. Eu costumava ser o tipo de japonês que não se importava em dizer não às pessoas, mas não era mais assim. Quando alguém falava de forma tão sincera, era difícil não se sentir obrigado a fazer um agrado.

— Não confie em uma palavra do que ele diz! Atofe não é o tipo de pessoa com quem você pode ter uma conversa razoável! — Kishirika tinha gotas de suor frio escorrendo pelo rosto. Obviamente havia mais nisso do que ela estava demonstrando.

— Ouvi sobre o que vocês estavam falando — disse o velho capitão cavaleiro. — Também cultivamos Grama Sokas no Território de Gaslow, então sabemos como cultivá-la. Se desejar, podemos fornecer um vaso para você levar para casa. Então, por favor, venham conosco.

Ele continuou com a cabeça baixa. Não senti nada além de honestidade emanando dele. O homem e seus subordinados poderiam ter nos capturado à força, mas ele estava se esforçando para fazer um pedido. Eu não sabia absolutamente nada sobre Atofe, o único rei demônio que eu conhecia era Badigadi, mas ter um superior como Atofe era sem dúvida difícil.

— Já que estamos nesse assunto — falei —, o que Lady Atofe tem contra Lady Kishirika? Se possível, gostaria de saber a razão pela qual ela esteve perseguindo Lady Kishirika pelos últimos seis meses.

— Há um ano, minha senhora veio a esta cidade em busca de um frasco especial de licor que era produzido no Território Gekura, mas Lady Kishirika o roubou e tomou tudo.

— Aha.

O capitão suspirou.

— Minha senhora estava muito ansiosa por aquela garrafa, então ficou furiosa com a afronta. Ela nos chamou de nossas estações de trabalho em casa e ordenou que procurássemos a culpada. Infelizmente, não sabíamos da aparência atual de Lady Kishirika e o esboço que tínhamos dela não era preciso o suficiente para ser útil, então não estávamos tendo sorte até agora.

— Tudo bem, entendo sua situação.

Usei minha magia para colocar algemas em Kishirika.

 


 

Tradução: Nero

Revisão: Guilherme

 

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