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Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 14 – Cap. 03 – O Passado e uma Maldição, Invocação e Ciúme

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Duzentos anos atrás, uma garota foi resgatada de um labirinto. Ela havia perdido todas as suas memórias e emoções. Não tinha ideia de quem era, apenas que tinha que ser uma elfa, pois se parecia com uma. Então, foi colocada em um assentamento élfico e passou a ter uma vida normal lá. As pessoas da aldeia a receberam bem, embora fosse uma estranha para eles. As memórias da garota jamais retornaram, mas suas emoções voltaram depois de alguns anos. Ela era alegre e sociável e, em pouco tempo, se apaixonou por um dos homens da aldeia.

Só depois que os dois tornaram-se íntimos é que passou a ter um problema: sua libido disparou de repente. Ela queria fazer sexo todas as noites.

Elfos não estavam inclinados à intimidade frequente, pelo menos não comparados a humanos e goblins. Seu parceiro lutava para acompanhar suas necessidades, mas os dois ainda viviam em harmonia. No entanto, algo estranho aconteceu com seu corpo nessa época. Depois de começarem a fazer sexo, passou a dar à luz a pequenos cristais redondos de magia todos os meses. Dentro havia um acúmulo incrivelmente densa de mana. Quando contou ao marido, ele ficou um tanto nervoso com o fenômeno anormal, mas garantiu que não era necessário preocupação.

Pouco tempo depois, o marido começou a vender esses cristais em uma cidade humana. Embora parecesse que seus olhos estavam cegos pela ganância, dificilmente poderia culpá-lo por cobiçar o dinheiro que esses cristais lhe renderam. Nunca foi rico, e sua esposa não trabalhava. Pelo menos, o homem nunca a tratou como se fosse sua árvore de dinheiro pessoal.

A tragédia aconteceu cinco anos depois. O marido morreu… ou melhor dizendo, foi assassinado. Com sua carga de cristais extremamente caros, chamou a atenção de alguns bandidos, os quais atacaram, tirando sua vida e riqueza.

Com ele morto, a mulher tornou-se uma viúva. Embora tenha caído em uma depressão profunda, ainda resistiu. Infelizmente, havia um problema com seu corpo… sua libido insaciável acumulou-se mais uma vez. Dez dias depois que seu marido faleceu, o desejo bateu rápido e forte de dentro dela. Não conseguiu reprimir e atacou um dos homens da aldeia. Sabia que era errado, mas o fez da mesma maneira. Pelo menos o homem em questão não estava relutante, e nada aconteceu depois que cometeram o ato uma vez.

Mais dez dias se passaram e ela foi atrás de um homem diferente. Em seguida, mais dez dias e fez isso de novo. Seu apetite era tão indomável que logo se espalhou a notícia de sua promiscuidade selvagem. Todas as mulheres da aldeia a criticaram e a expulsaram. Depois disso, aquela mulher tornou-se prostituta, depois escrava e, por fim, aventureira. Diz-se que até hoje continua vagando pelo mundo.

 

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— E é basicamente assim que minha vida tem sido — disse Elinalise. Ela contou sua história para mim na primeira hora desta manhã.

— Não precisava me contar tudo.

Honestamente, ouvir tudo isso me deixou atordoado. Eu só precisava saber da maldição, mas Elinalise não deixou um detalhe sequer de fora.

— Esta é minha maneira de compensar por não ter contado nada disso antes.

— Então, uh, Cliff já sabe de tudo isso?

— É claro. Contei antes do nosso casamento.

— Ah, beleza. E quanto a Sylphie?

— Ela não sabe. Duvido que queira saber que sua avó já vendeu seu corpo por dinheiro.

Dei de ombros.

— Não acho que ela se importaria com esse tipo de coisa.

— Só espero que não a veja de forma diferente se souber dos rumores sobre mim por aí. Ela pode ter meu sangue correndo em suas veias, mas é apenas uma garota normal.

— Eu sei. Nunca faria isso com ela. — Além disso, Sylphie não é responsável por coisas que Elinalise pode ter feito no passado.

Dito isso, depois de ouvir tudo pelo que ela havia passado, pude entender porque manteve silêncio sobre sua história e sua relação com Sylphie. Ninguém quer que as pessoas as olhem de maneira diferente. Enfim, passado é passado. Havia coisas no meu passado que eu também não queria revelar. Eu não posso fingir que as coisas que fiz na minha vida anterior não existiam, mas essa história ficaria na minha cabeça, e apenas na minha.

— Então, que maldição é essa? — perguntei.

— A mana em meu corpo se acumula e condensa em um cristal mágico ao receber a semente masculina. Se eu não receber a semente de um homem, ela continuará aumentando até me matar.

— Mas você estava bem nos primeiros anos, certo?

— Para ser honesta, também não entendo muito bem. Na época, não estava tendo meu período, então talvez isso tivesse algo a ver.

— Seu período… — repeti suas palavras antes de parar. Se tinha algo a ver com seu ciclo menstrual, então talvez fossem seus óvulos que estavam se transformando nestes cristais mágicos. Neste caso, a maldição de Zenith provavelmente era algo bem diferente. Presumi que ela ainda tinha aquelas visitas mensais. Afinal, já havia dado à luz a dois filhos e, embora Lilia não tenha me dado detalhes, ela tinha apenas cerca de 35 anos. — Mas suas memórias nunca voltaram?

Ela balançou a cabeça.

— Não. Não lembro de nada.

Fiquei em silêncio. Então ainda não lembrava de seu passado, o que significava que não tinha ideia de quem era ao certo. Havia uma pequena possibilidade de que pudesse se lembrar de repente algum dia, mas se não lembrou em 200 anos, parecia improvável que o faria agora.

— A condição de Zenith é diferente da minha — disse Elinalise. — A julgar pela forma como age, parece que sabe quem são seus filhos. Pode ser que recupere todas as suas memórias.

— Espero que esteja certa. — No entanto, talvez fosse melhor não ser tão positivo assim. — E quanto à maldição dela? — perguntei.

— No momento, ela não está mostrando nenhum sinal de ter uma igual à minha.

— Ah. Acho que não.

— É mais provável que seja uma diferente.

— Sério?

Ela assentiu.

— Acho que há uma possibilidade distinta. Tem alguma ideia de qual poderia ser a maldição dela?

Uma ideia, hein… Hm. Algo vago, talvez, mas nada conclusivo. Após uma breve pausa, admiti:

— Não, nada.

— Tudo bem, enfim, melhor continuar de olho nela.

De qualquer forma, não era algo letal, mas poderia haver um gatilho por aí que faria com que se manifestasse.

— Acho que isso é tudo que podemos fazer agora, hein? Ficar de olho nela?

— Sim.

Eu não teria tantas esperanças, mas ainda não podia deixar de rezar para que nada de ruim acontecesse.

— Isso é tudo o que sei — disse Elinalise. — Sinto muito. Havia muito que eu não queria dizer, e demorei para contar a verdade. — Ela abaixou a cabeça.

Eu entendia não querer compartilhar sobre seu passado. Na verdade, me senti culpado por não compartilhar os eventos da minha vida anterior com Sylphie e Roxy. Foi ruim Elinalise não ter me falado antes, mas eu não seria um hipócrita e ficaria irritado por causa disso.

— Não, eu agradeço por você ter falado sobre isso, embora não se sentisse confortável. Obrigado. — Estendi minha mão e ela a balançou, apertando com força.

— Bem, então vou voltar para o Cliff.

— Vou descansar um pouco mais, depois vou dar uma olhada na Nanahoshi — falei.

— Muito bem. Tenha um bom dia. — Elinalise se virou e saiu do aposento.

No final, não aprendi nada novo sobre a condição de Zenith. Havia uma grande probabilidade de que tivesse uma maldição, mas ainda não havia causado nenhum problema. Tudo que podia fazer era me preparar para agir no caso de algo acabar acontecendo.

Depois do café da manhã, nos reunimos em uma sala com uma mesa comprida e nos sentamos. Nanahoshi e Cliff sentaram-se ao meu lado e Zanoba do outro. Diretamente à minha frente estava Sylvaril do Vazio, a mulher com asas negras que servia a Perugius.

— Tudo bem, agora vamos começar nossa aula.

O acordo era Perugius ensinar magia de invocação a Nanahoshi, mas Nanahoshi foi gentil o suficiente para pedir que fôssemos incluídos. Estávamos começando do básico, então não era Perugius quem estava nos ensinando. Ele apareceria quando fosse a hora de colocar em prática o que tínhamos aprendido. Provavelmente estava tomando chá com Ariel neste momento.

Uh, no entanto, eu talvez devesse estar me concentrando na aula em vez de me preocupar sobre onde Perugius está.

— Primeiro — disse Sylvaril —, vamos nos certificar de que estamos todos em sincronia. O que é magia de invocação? Você aí…

— Cliff. Cliff Grimor.

— Cliff, por favor, responda. O que é magia de invocação?

Havia dois tipos de magia de invocação. A primeira era a concessão, que era usada principalmente para criar implementos mágicos, em outras palavras, o desenho de círculos de invocação. Cliff especializou-se nisso, e era uma arte que estava em crescimento na Cidade Mágica de Sharia.

O segundo tipo era a invocação, que permitia invocar qualquer coisa que exista, desde animais simples como cães e gatos até feras altamente inteligentes. Essa lista incluía monstros dóceis que eram fáceis para os humanos domarem, bem como aqueles com baixo intelecto, tipo goblins e entes. Também é possível invocar espíritos que existiam em algum lugar do mundo.

Não havia professores em Sharia que pudessem realizar magia de invocação. Até mesmo a guilda tinha poucas pessoas que podiam realizá-la, e eram todos amadores. Talvez algum outro país estivesse monopolizando aquela escola de magia, ou talvez simplesmente ninguém ao redor de Sharia pudesse ensiná-la. De qualquer forma, essa era a extensão do meu conhecimento. E Cliff devia saber tanto quanto eu, pois deu a mesma resposta.

— Errado — disse Sylvaril com um aceno de cabeça. — É verdade que invocar requer um círculo mágico por natureza, mas o desenho de um círculo não faz parte desta escola de magia.

— O que significa que apenas o último se qualifica como magia de invocação, certo? — perguntei. A atmosfera local me lembrou da época que Roxy costumava me dar aulas quando criança.

— Sim, mas Cliff não estava errado quando disse que havia dois tipos de magia de invocação.

— Em outras palavras, concessão não é um desses tipos.

— De fato — falou ela com tranquilidade, mas como não havia quadro-negro ou livro didático, tive que fazer anotações usando a pilha de papéis e a caneta de pena que trouxe. Isso fez com que parecesse uma aula de verdade. — Existem dois tipos de magia de invocação: Invocação de Espírito Maligno e Invocação de Espírito.

Anotei os dois nomes. Pelo que me lembrei, espíritos eram seres que existiam em nosso mundo, mas raramente se mostravam. Os únicos tipos que já vi antes eram os Espíritos Luz de Lâmpada que invoquei com aqueles pergaminhos.

— Qual é a diferença entre os dois? — perguntei.

— Invocação de Espírito Maligno, como vocês humanos bem sabem, permite que invoquem uma besta que vive em algum lugar na selva. Por um pacto antigo, qualquer coisa considerada uma pessoa não pode ser invocada. No entanto, tudo que existe no mundo pode ser.

Portanto, todos os tipos de criaturas podem ser invocados com essa magia, até mesmo dragões.

— O que é este “pacto antigo”?

— Quando a magia de invocação nasceu neste mundo, nossos ancestrais fizeram um pacto. A magia não pode quebrar essas regras antigas.

Então pessoas não podiam ser invocadas? Isso era verdade mesmo? O que havia de tão diferente entre teletransportar uma pessoa e invocá-la? Não que isso importasse. O importante era aprender o básico. Eu poderia fazer perguntas mais aprofundadas depois.

— Foi mal — falei. — Por favor, continue.

— Pois bem. Na Invocação de Espírito Maligno, não se pode invocar uma criatura com mais mana do que o invocador. Mesmo se o fizer, há uma grande probabilidade de que não consigam controlar a criatura que invocaram.

Pensando bem, li sobre isso em um livro há muito tempo. Acho que o nome era Magia de Invocação de Sig. Continha a história de alguém que invocou uma criatura mais forte do que ele, e que o comeu vivo. Considerando o quão vasta era minha própria reserva de mana, eu provavelmente não teria problemas, não importa o que invocasse, mas não tinha ideia se aquilo me obedeceria ou não. Não que eu tivesse planos de invocar algo poderoso. Além disso, já tínhamos três animais de estimação em casa. Não havia necessidade de invocar nada.

— Oh, sim, criaturas vivas são a única coisa que dá para invocar? — questionei.

— Sim. Não é possível invocar os mortos.

— Não, eu quis dizer objetos. Tipo… posso invocar algumas roupas que estão na minha casa agora?

— Receio que isto seja impossível.

Então não teria como invocar a calcinha da Roxy. Espera um segundo aí. Nanahoshi conseguiu invocar uma garrafa de plástico. Com certeza não era impossível. Talvez fosse melhor dizer que ninguém neste mundo havia descoberto como fazer isso. Isso explicaria o porquê do Perugius estar tão interessado na pesquisa de Nanahoshi, pois significava que tal magia era possível. Agora entendi o motivo dele ter concordado.

— Posso continuar? — perguntou Sylvaril, interrompendo meus pensamentos.

— Ah, sim. Minhas desculpas por interromper tanto.

— Não se preocupe. Suas perguntas indicam o quão apaixonado você é pelo aprendizado. — Ela assentiu lentamente antes de continuar. — A Invocação de Espíritos, como o nome indica, envolve a criação de um espírito.

— Criação? Como se de fato fosse criá-los?

— Correto. Você gasta mana no processo e cria um espírito com certas habilidades. É assim que funciona a Invocação de Espírito.

Em outras palavras, ao usar aqueles pergaminhos que Nanahoshi tinha fornecido, eu não estava invocando Espíritos Luz de Lâmpada de outro lugar, mas sim os conjurando com minha própria mana.

— Espíritos possuem baixo nível de intelecto e obedecerão às ordens do invocador até que esgotem toda sua mana — explicou Sylvaril.

— E isso é absoluto?

Houve uma pausa antes de ela responder:

— Não. Se você construir especificamente o círculo de modo que não sigam suas ordens, então um espírito com livre arbítrio será criado em seu lugar.

Mas se não fizesse isso, seguiriam todos os comandos? Isso era quase como programar. Espere, por falar em programação, senti que tinha ouvido falar de um conceito semelhante…

— Isso me parece estranho — disse Cliff, a voz cheia de insatisfação. — Aqueles de vocês que servem a Perugius eram espíritos invocados há 400 anos, não? Você é muito inteligente se for esse o caso, e é estranho que não tenha desaparecido nos séculos que se passaram.

Exatamente o que eu esperaria de você, Cliff. Ele era muito astuto para deixar essa inconsistência passar.

Sylvaril assentiu alegremente.

— Fico feliz por ter tocado no assunto. O predecessor de Lorde Perugius, o primeiro Rei Dragão Blindado, passou adiante seu conhecimento de como criar onze espíritos antigos, altamente inteligentes e poderosos. Normalmente, os espíritos desse calibre não durariam mais do que um único dia, mas Lorde Perugius desenvolveu uma maneira de mantê-los por séculos.

Ela com certeza estava se gabando. Mas pude entender o motivo. Foi um feito e tanto manter por toda a eternidade o que normalmente duraria apenas um dia. Em outras palavras, movimento perpétuo, um conceito tão incrível em meu mundo anterior quanto era neste.

Hm, espera um pouco. Ela disse onze espíritos antigos. Essa conta não bate.

— Você não quer dizer doze? — perguntei.

— Não, onze. Não sou um dos espíritos do Lorde Perugius.

Pisquei para ela.

— Não é?

— Não mesmo. Lorde Perugius me salvou durante a Guerra de Laplace, e eu o sirvo desde então. Sou apenas alguém do povo do céu.

Povo do céu? Bem, isso explicaria as asas. Se os outros são seus servos, talvez ela fosse mais como uma confidente. Ou amante? Não, isso não poderia ser possível. O romance não era o único vínculo que existia no mundo.

— Então, o que iremos aprender? — perguntei.

— Vamos nos concentrar principalmente na Invocação de Espírito Maligno — disse ela. — Porém, Lorde Perugius considera a invocação de coisas de outro mundo parecida com Invocação de Espírito, por isso tenho certeza de que tocaremos nesse assunto.

Quer dizer que iríamos aprender ambas? Eu estava ansioso por isso. Poderia ser divertido invocar monstros de todo o mundo e abrir um zoológico.

— Eu gostaria de aprender mais sobre Invocação de Espírito, se possível — disse Zanoba.

Cliff concordou com a cabeça.

 — Também estou interessado no assunto.

Quando percebi o quanto os dois estavam investindo nisso, algo em meu cérebro finalmente deu um clique. Programação. Isso mesmo. A maneira como o núcleo daquele boneco automatizado funcionava me lembrou de programação.

Espera. Se pudéssemos aprender a Invocação de Espírito, talvez pudéssemos completar aquele boneco. Claro, não pensei que seria fácil ter sucesso onde o Rei Dragão Maníaco, Caos, havia falhado, mas eu tinha certeza de que mesmo assim essa magia seria útil. Nunca se sabe quando tal conhecimento pode ser vantajoso.

— Tudo bem, agora vamos começar aprendendo os fundamentos da invocação. Primeiro, por favor, vejam este círculo mágico.

Então Sylvaril começou a aula. Infelizmente, eu estava atrás dos outros três quando se tratava de saber como desenhar um círculo mágico, quase como um desistente que de repente decidiu se juntar a seus colegas. Talvez devesse ter aprendido o básico em vez de deixar para todos os outros.

Entretanto, não era tarde demais para começar. Nunca se era velho demais para aprender algo novo, e eu tinha apenas 18 anos. Veja só Zanoba. Ele estava na casa dos vinte anos quando entrou na academia e percorreu um longo caminho refinando sua habilidade de fazer bonecos. Eu deveria seguir seu exemplo. Mesmo que estivesse começando em péssimas condições. Depois que a aula acabasse, eu precisava fazer algumas revisões e praticar.

— A propósito — disse Sylvaril —, está quase na hora do almoço. Se houver algo específico que queiram comer, por favor, me avisem.

E assim terminou a nossa aula.

Na noite anterior, jantamos a antiga culinária Asurana, que incluía almôndegas e batatas cozidas com sopa de ervas. Havia pão feito de trigo e outros grãos, entre alguns outros pratos. Não era muito diferente do que comíamos em Sharia. Considerando o quão grande a fortaleza parecia vista de fora, foi uma refeição deveras deliciosa, ainda que parecesse simples. Mas do ponto de vista de Perugius, não era uma culinária antiga. Ele considerava isso a culinária Asurana tradicional, a comida padrão que as pessoas faziam há 400 anos. Havia um ditado que li em algum lugar: a tecnologia avança em tempos de guerra, enquanto a culinária avança em tempos de paz. Os pratos de Asura mudaram muito nos últimos 400 anos.

O jantar foi servido em cada um dos nossos quartos, mas comi o meu com Sylphie. Por mais luxuosos que fossem os quartos, jantar sozinho era muito solitário. Era estranho como nunca me senti assim em minha vida anterior. Realmente mudei desde então.

O café da manhã, por outro lado, tive que comer sozinho. É a vida.

Já era hora do almoço, e Sylvaril se ofereceu para nos fazer o que quiséssemos. Considerando que Arumanfi estava a bordo e podia fazer tarefas na velocidade da luz, podiam buscar ingredientes em qualquer país do mundo. Na verdade, poderiam simplesmente fazer o pedido em qualquer restaurante e fazer com que ele trouxesse a comida de volta. Sua velocidade era muito útil para entregas a domicílio.

— Posso pedir algo de Millis? — perguntou Cliff.

— Hm, então eu gostaria de algo de Shirone — disse Zanoba.

Ambos desejavam a comida de seus respectivos países de origem. Não importa o quanto agissem como se estivessem confortáveis, sentiam falta de casa, com certeza.

— Pois bem. Irei preparar para vocês. — A voz de Sylvaril era gentil enquanto respondia aos seus pedidos, sua máscara escondia qualquer emoção em seu rosto.

— Pode ser qualquer coisa para mim — disse Nanahoshi.

Talvez ela não tivesse percebido, mas esta era a nossa chance. Eu não era o tipo de homem que deixava uma boa oportunidade passar. Como o carismático Char Aznable costumava dizer: faça o melhor uso de todas as chances que tiver!

— Estou pensando em arroz branco temperado com vinagre e peixe fresco e cru picadinho por cima — falei. — Conhece esse prato?

— O quê?! Algo assim existe? — O rosto de Nanahoshi se iluminou.

Infelizmente, Sylvaril balançou a cabeça.

— Não, nunca ouvi sobre tal coisa. Mas temos arroz aqui.

Os ombros de Nanahoshi despencaram.

Entretanto, fiquei super feliz em saber disso. Enquanto tivéssemos arroz, poderíamos facilmente encontrar outra coisa para acompanhar.

— Que tal água fria com ovo cru e farinha de trigo, misturada para formar uma massa fina na qual você pode mergulhar camarão, lula ou vegetais e fritar em óleo em alta temperatura?

— Também nunca ouvi falar disso. Mas temos farinha branca e ovos.

Ooh, então eles têm ovos! Isso quer dizer que sempre posso pedir ovo cru sobre o arroz quente!

Como era de se esperar, sushi e tempura estavam fora de alcance. Isso provavelmente significava que eu também estava sem sorte com o sukiyaki, já que envolvia molho de soja fervente, açúcar e mirin em uma panela. O que quer que comêssemos não seria tão delicioso quanto o que se poderia comer em um restaurante no Japão, mas pelo menos com esses ingredientes poderíamos fazer algo. O que realmente precisávamos era de molho de soja. Esse era o verdadeiro sabor japonês que estávamos desejando.

— Que tal um molho de soja fermentada? Tanto o molho de soja quanto a pasta de soja serviriam.

— Não temos nada parecido aqui em nossa fortaleza.

Como eu suspeitava, tal coisa não existe aqui.

— Soube, no entanto, que o Reino Biheiril usa um molho semelhante ao que você descreveu. Poderíamos mandar Arumanfi ir procurá-lo.

Fiquei animado.

— Sim, por favor! — Não me importava que fosse um problema extra para Arumanfi. Se pudéssemos fazê-lo procurar, não teria problema.

Depois de uma hora, ele voltou sem molho de soja. Não foi nenhuma surpresa, dado o curto espaço de tempo, e foi minha culpa ter mencionado o assunto quando já era quase hora do almoço. Mas, embora não tenha encontrado o molho de soja, nos trouxe outra coisa: uma substância marrom-avermelhada que o povo de Biheiril fazia fermentando os grãos. Eles o chamavam de tofu, mas decidi chamar de missô. Bem, qual é, não há dúvidas de que é missô.

Se a memória não me falhava, o Reino Biheiril ficava na parte nordeste do Continente Central. Missô e molho de soja eram as duas faces da mesma moeda. Talvez já tivessem inventado o molho de soja naquele país. Algum dia, precisaria ir até lá e ver com meus próprios olhos. Teria que encontrar tempo para visitar, mesmo que fosse dentro de 10 ou 20 anos.

Tirando isso, tínhamos arroz e missô, então, é claro, pedi que nos conseguissem peixe branco. Infelizmente, não tínhamos rabanete ralado ou gengibre, mas tínhamos limões. Legumes em conserva teriam sido uma boa adição, mas não adiantava se preocupar com algo que não tinham por esses lados. Fiz o meu melhor para dar a Sylvaril uma receita decente, mantendo os ingredientes disponíveis em mente.

— É isto que queria? — perguntou ela, reaparecendo um pouco depois com uma porção de arroz bem quente. O vapor subia do marisco com sabor de missô. Depois vinha o peixe bem torrado com limão. Havia dois pratos, um para mim e outro para Nanahoshi. O meu tinha um ovo cru.

— De vez em quando é preciso se fazer um agrado com uma comida reconfortante como esta — falei.

Após uma longa pausa, Nanahoshi respondeu:

— Sim, eu acho.

Embora os dois pratos parecessem perfeitos, Nanahoshi os observava de maneira consternada. Talvez não gostasse por se parecerem com comida japonesa apenas em aparência, sem ter o mesmo sabor. Bem, eu não poderia culpá-la. Não chegava nem perto do sabor que eu me lembrava. Mas ainda assim era divertido experimentar, mesmo que não fosse autêntico.

— Junte as mãos em agradecimento e vamos começar — falei.

— Sim, pode deixar.

Nanahoshi não parava de franzir a testa enquanto pegava o garfo e a colher e começava a comer. Sua expressão estava contorcida de desgosto enquanto desossava o peixe, espremia um pouco de limão e dava uma mordidinha. Em seguida, deu uma bocada hesitante no arroz, mastigando devagar. Havia uma tigela de porcelana branca cheia de sopa de missô, da qual também tomou um gole.

No final, disse:

— Esta sopa de missô não tem nada de dashi. — Lágrimas grandes e gordas brotaram de seus olhos. Continuou comendo enquanto elas escorriam.

 

 

Era algo terrível. O arroz estava seco e sem gosto, e a sopa de missô, incrivelmente salgada. Embora o peixe estivesse delicioso, o cheiro era horrível e não combinava nem um pouco com o limão. O equilíbrio era terrível. Não estava bom. A culinária japonesa da nossa memória tinha um sabor muito mais delicado. Apesar de tudo isso, Nanahoshi continuou a comer em meio às lágrimas. Não falou de novo até terminar, mas não demorou muito.

— Obrigada pela comida.

Ouvir isso foi o suficiente para saber que fiz a escolha certa.

Após a refeição, encerramos nossa aula da tarde. As aulas sobre magia de invocação eram realmente muito interessantes, talvez porque Sylvaril era uma professora muito boa. Embora não tenha nos ensinado nada importante naquele dia, certamente começaríamos a absorver os conceitos mais cedo ou mais tarde. Agora, eu precisava fazer uma revisão para me preparar para a próxima aula.

Com isso em mente, passei meu tempo depois da aula vagando pelos corredores da fortaleza flutuante. Explorando, se assim preferir. Este lugar era incrivelmente grande, então eu não seria capaz de ver tudo em um ou dois dias. Mais uma vez, fiquei impressionado com a forma como algo tão grande poderia voar desse jeito.

Perdido em pensamentos, vi uma dupla à frente: Zanoba e Cliff. Eles também deviam ter decidido explorar depois da aula.

Espere um minuto. Que estranho. Por que não me convidaram? Eles me abandonaram?

— Ei Zanoba, Mestre Cliff. O que estão fazendo? — perguntei, me aproximando. Não sei pra vocês, mas eu preferia fazer parte da matilha do que ser um lobo solitário.

— Mestre! Na verdade, eu estava vagando pelos corredores quando Lorde Cliff me chamou.

— Sim, aquilo chamou minha atenção, então…

Aparentemente, não estavam passeando juntos, então não foi como se tivessem me abandonado. Que alívio. Algo bom também, uma vez que eu não era um lobo… selvagem ou sei lá. Eu era um humano que gostava de se reunir com outros humanos, já que era isso que nos tornava os melhores mamíferos terrestres.

Isso mesmo. Devemos nos agrupar, já que seremos mais fortes juntos.

— E qual “aquilo” é esse? — perguntei.

Cliff indicou algumas escadas próximas, que curiosamente levavam para baixo em vez de para cima. Pelo que parecia, este lugar não era apenas ridiculamente enorme; também tinha um porão.

— Huh. Isso parece interessante. Se vocês estão planejando investigar, ficaria feliz em ir junto — ofereci.

— É mais do que bem-vindo, mas… — Cliff parou.

— O quê? Algum problema?

— Não é isso. Só me pergunto se é realmente certo irmos lá sem permissão.

— Hm, não sei. — Disseram que éramos livres para vagar pelo castelo, mas o porão era considerado parte do castelo? As pessoas geralmente deixavam outras pessoas entrarem em seus porões sem problema? Eu mesmo guardava alguns itens preciosos no meu e preferia que ninguém os perturbasse.

— Não deve ser um problema — disse Zanoba. — Por que não damos uma olhada? Lorde Perugius disse que éramos livres para entrar em qualquer cômodo que não estivesse trancado. Estas escadas nem estão atrás de uma porta, então ele certamente não se importaria.

— Espera, espera um segundo. Às vezes as pessoas têm regras não ditas sobre esse tipo de coisa, sabe? — Regras tácitas que estavam tão profundamente enraizadas nas pessoas que já pensavam ser senso comum.

— Acha mesmo? Hm… — Zanoba inclinou a cabeça, ainda não convencido. Talvez, sendo da realeza, não pudesse imaginar ter uma sala na qual não gostaria que outras pessoas entrassem.

— Oh?

Enquanto nós três ponderávamos sobre o assunto, Nanahoshi apareceu de repente. Ela era do tipo que preferia a solidão, mas talvez nosso grupo chamou sua atenção o suficiente para atraí-la.

— O que fazem aqui?

Explicamos que estávamos interessados em saber para onde as escadas levavam, mas não sabíamos se teríamos ou não permissão para nos aventurarmos livremente para além delas.

— Claro que podem — disse ela.

— Sério? Podemos?

— Sim. As portas pelas quais ele não quer que entrem estão trancadas.

— Você já entrou em alguma delas?

— Sim, da última vez que estive aqui, pude ver algumas.

Ela devia se referir à sua visita anterior com Orsted. O pensamento por si só foi suficiente para fazer minhas pernas parecerem geleia. Quase podia imaginá-lo presente.

— Você não pode entrar na maioria dos cômodos lá embaixo, já que estão trancados — explicou Nanahoshi —, mas há algo interessante lá.

— Algo interessante? — repeti, a curiosidade tomando conta de mim.

— Algo que vocês provavelmente gostariam.

Fazia algum tempo que eu não ouvia ninguém usar “vocês” para se referir coletivamente aos meus amigos e a mim. Nanahoshi parecia o tipo de pessoa que usava essa palavra o tempo todo, pelo menos antes de ser transportada para este mundo.

— Se estão tão nervosos, querem que eu seja a guia?

Nós três trocamos olhares. Zanoba e Cliff estavam ansiosos para aceitar a oferta. Eu estava me sentindo um pouco menos aventureiro, mas não queria ser o único deixado de fora. Como ela se ofereceu para nos guiar, certamente não havia perigo em ir.

— Sim, por favor — falei depois de olhar para os outros dois caras.

O porão era ainda mais amplo do que os andares principais. Além disso, também era mais parecido com um labirinto. As coisas ficaram mais complexas depois que descemos vários lances de escada, virando o que parecia uma masmorra. Isso me fez pensar se o andar térreo era apenas para entreter convidados e a verdadeira fortaleza era, na realidade, subterrânea.

Vagamos pelos corredores por um bom tempo com Nanahoshi nos guiando. No início, tentamos abrir várias portas, curiosos, mas estavam todas trancadas. Portas destrancadas só levavam a lugares vazios.

Quantos lances de escada já descemos até este ponto? Devemos estar bem abaixo do andar principal.

Embora pouco iluminado, o primeiro andar do porão estava limpo, pelo menos. No entanto, ficava mais escuro à medida que íamos mais fundo, e também estava úmido. Havia menos portas e mais caminhos divididos e curvas a serem feitas. Os pisos ainda se inclinavam aqui e ali, tornando tudo ainda mais labiríntico.

Os corredores mais distantes não estavam limpos, e ratos periodicamente passavam correndo por nossos pés enquanto caminhávamos. Os olhos deles brilhavam verde na escuridão. Era assustador, mas pelo menos não eram monstros, e fugiam no momento em que nos viram, como se esperaria de roedores. Aparentemente, havíamos entrado em uma parte não utilizada da fortaleza, mas isso não impediu Nanahoshi. Ela, no entanto, me pediu para invocar um Espírito Luz de Lâmpada antes de prosseguirmos.

— Hm, não estou familiarizado com este tipo de arquitetura. Para mim, não reconhecer tudo deve significar que é de antes da primeira Grande Guerra Humano Demônio ou… — A voz de Zanoba sumiu. Ele estava se divertindo muito só de ver o layout do porão. Seu ânimo permaneceu elevado, mesmo enquanto nos aventurávamos cada vez mais a fundo.

— Ei, Silente, tem certeza de que não está perdida? — perguntou Cliff.

— Não, está tudo certo.

Embora tenha achado divertido no início, Cliff estava começando a perder a paciência. Estávamos vagando pelos corredores sem entrar em um único cômodo pelo qual passamos.

— Ah, isso é incrível demais.Poder visitar um local como este é uma oportunidade rara. Viu, Mestre? Veja como estas pedras estão dispostas. Esta é uma maneira especial de colocá-las em camadas. À primeira vista, todas parecem ter tamanhos aleatórios, mas são naturais; nenhuma delas foi alterada artificialmente. Mas quando considera que são parte de um porão que sustenta um castelo tão enorme, é desconcertante como o lugar ainda está de pé. Não é mesmo comum ver pedras deste tipo no nosso continente. Não tenho muito interesse por arquitetura, mas os mistérios deste lugar são cativantes. Mas por que será que escolheram este método em específico…

Zanoba estava genuinamente se divertindo. No momento em que encontrava algo novo, começava a agir assim.

— Mestre, o que acha da forma como estas pedras estão dispostas?

— Não sei nada sobre esse tipo de… Espera, já vi esse tipo de arquitetura antes. Isso é empilhamento de blocos padrão, pelo que me lembro.

— Aha, eu não esperaria nada menos de você, Mestre! Então conhece esta técnica. Empilhamento de blocos padrão, você diz? Como exatamente esta técnica funciona?

— Olhe ali no canto. As pedras foram alteradas. Quem quer que tenha construído isso as cortou em uma forma retangular e as empilhou em um padrão alternado. Viu? Ao fazer isso, pode-se aumentar a estabilidade dos cantos.

— Ah, entendo. Ao aumentar a estabilidade dos cantos, também fortalece toda a estrutura.

Ver o empilhamento de blocos padrão ali foi um choque. Isso me fez pensar se alguém do período dos Reinos Combatentes havia construído este castelo. Não, isso não poderia ser possível. Esta não era uma técnica exclusiva do Japão. Certamente, as pessoas deste mundo criaram o mesmo método de organizar as pedras para reforçar a estabilidade de seus edifícios. Além disso, a arquitetura de pedra era muito comum neste mundo. Esta técnica deve ter sido algo que criaram em algum momento do passado.

— Oh?

Depois que descemos outro lance de escada, a atmosfera ao nosso redor mudou. Não estávamos mais em um labirinto. Em vez disso, estávamos vagando por um vasto corredor com uma única porta grande à nossa frente. Parecia aquela que tínhamos visto na frente da câmara de audiência, com um brasão de Rei Dragão Blindado gravado nela. Isso deu a impressão de que algo precioso e valioso estava escondido lá dentro.

— Um beco sem saída? — supus.

Nanahoshi balançou a cabeça.

— Não. Este é o nosso destino. — Ela avançou e apertou a mão contra a porta.

— Ah…

Embora mal a tocasse, a porta cedeu com um rangido. Aparentemente, esta não estava trancada. Um grande rato saiu correndo, passando por nossos pés e deslizando pela fresta enquanto Nanahoshi empurrava a porta para abri-la.

Lá dentro havia um vasto aposento, sem janelas visíveis. Esta era a parte mais profunda e interna do castelo flutuante; um cômodo escondido atrás de uma porta com um brasão gravado nela, que certamente continha algo secreto dentro de suas paredes.

— Por mais infantil que possa parecer para um homem da minha idade, estou animado — disse Zanoba.

Cliff concordou com a cabeça.

— Eu também.

E eu também.

— Eu sabia que garotos como vocês iriam gostar disso — murmurou Nanahoshi.

Acho que está entendendo alguma coisa aqui errado. Existem garotos por aí que detestam esse tipo de coisa ou não têm interesse algum. Mas não eu!

— Vamos dar uma olhada — disse Cliff. Aparentemente, não conseguia conter a curiosidade por mais tempo. Entrou no cômodo e eu o segui de perto, usando silenciosamente o meu Espírito Luz de Lâmpada para iluminar a área.

— Oooh.

Uma visão estranha nos esperava quando o cômodo se encheu de luz.

— O que é isto? É incrível! — Zanoba foi dominado pela emoção enquanto subia até um dos murais na parede. Corri atrás dele, sentindo como se tivéssemos descoberto algum tipo de tesouro.

— Murais, hein? Devem ser muito antigos.

A tinta estava lascada em vários lugares, mas graças à durabilidade das pedras, as pinturas não foram danificadas o suficiente para serem indecifráveis. Eu não conhecia nenhuma tradição envolvendo o desenho de murais como esses neste mundo. Me lembravam dos afrescos egípcios do meu mundo anterior.

— Não posso nem começar a imaginar o quão antigos devem ser — murmurou Zanoba. — Mestre, esta é uma descoberta incrível!

— Chamar isso de descoberta é exagero. Tenho certeza de que Lorde Perugius já sabia disso antes de nós os encontrarmos.

Descrever as pinturas seria difícil, mas retratavam mais ou menos uma história. Todos os murais apresentavam uma figura peculiar. Muito provavelmente, a intenção era retratar o que a pessoa viu e experimentou durante sua vida. Não havia palavras acompanhando as pinturas, então era difícil adivinhar que cena ou circunstância estavam tentando transmitir. Havia montanhas invertidas, pessoas com asas, pessoas adorando o que parecia ser um rei, uma pedra flutuante, pessoas reunidas, um dragão voando, duas pessoas abraçando um bebê, uma sombra caída, um rei triste, um rei furioso, pessoas se consultando e, em seguida, uma sombra misteriosa atrás de um grupo de pessoas. A pintura final, que provavelmente representava a conclusão da história, estava pela metade, e ninguém sabia o que o artista tentou retratar.

— Sinto que já vi essa história em algum lugar antes.

— Eu também, mas não me lembro onde.

— Hm…

Nós três inclinamos nossas cabeças enquanto olhávamos para os murais. Atrás de nós, um rangido ecoou. Olhamos para trás e vimos Arumanfi. Ao lado dele estava um homem com cabelos prateados e uma aura de comando.

Perugius…

— O que fazem aqui? — demandou ele.

— Oh, é você, Lorde Perugius. — Zanoba se ajoelhou na mesma hora, então Cliff e eu seguimos o exemplo mais do que depressa.

Enquanto mantinha minha cabeça abaixada, disfarçadamente olhei para Nanahoshi, que ainda estava de pé. Alguém pode, por favor, ensinar etiqueta a esta garota?

Dito isso, eu poderia direcionar estas palavras para Perugius. O que ele estava fazendo aqui? Talvez realmente estivesse chateado conosco por aparecermos sem permissão, e nos seguiu para reclamar.

— Chega. Levantem-se.

Rapidamente nos levantamos.

— Perdoe-nos. Enquanto explorávamos seu magnífico castelo, por acaso viemos vagar aqui embaixo. E, vejam só, como seria de esperar de uma fortaleza tão grandiosa, até mesmo o porão contém mistério suficiente para fazer o coração disparar. Nunca imaginei que encontraríamos algo assim aqui.

Zanoba divagava em um ritmo rápido, então apenas grunhi e acenei com a cabeça. Ele era mesmo útil em momentos como este, e é bem provável que cada palavra dele foi genuína.

— Entretanto — continuou Zanoba. —, temo que deixamos nossa curiosidade se apossar de nós e o ofendemos no processo. Com Lady Nanahoshi como nossa guia, concluímos que poderíamos vagar por aqui, desde que não houvesse portas trancadas para bloquear nosso caminho, mas devemos ter nos aventurado muito longe, mesmo sem perceber.

— Não me importo — disse Perugius. — Quanto a estes murais, não fui eu quem os criou.

Nanahoshi lançou um olhar triunfante para nós, como se dissesse: “Estão vendo? Eu disse que estava tudo bem.”

— O que quer dizer com isso? — perguntou Zanoba.

Ele se virou em direção a uma das paredes, um olhar distante em seu rosto, como se estivesse observando o passado.

— Quando obtive esta fortaleza flutuante, não havia quase nada aqui dentro. Havia vestígios do que uma vez existiu aqui, mas tudo tinha desbotado e desmoronado. — Perugius olhava para os murais enquanto falava, estreitando os olhos quando se aproximou e passou os dedos por eles. — As únicas coisas que ficaram intactas foram estas pinturas nas paredes, e estão em boas condições desde então. Todo o resto foi perdido.

— Hm…

— E com elas, percebi que nossos ancestrais tinham uma mensagem que queriam passar, uma história que queriam que seus sucessores herdassem. — Ele voltou seu olhar para mim. — É por isso que não tranquei a porta deste cômodo. Se alguém vem aqui com vontade de vê-las, não tenho motivos para recusar. Claro, apenas uma pessoa assim apareceu.

— Agradecemos sua explicação — disse Zanoba. — E fico feliz em saber que não o ofendemos. Não viemos necessariamente com a esperança de ver estes murais, mas parece que nossos ancestrais estavam tentando transmitir algo, deixando-os aqui. Há algo profundamente cativante nesta ideia.

— Eu gostaria de concordar com você, mas não gosto destas pinturas — disse Perugius. — Há algo sufocante nelas. Me dão náuseas.

— Bem, cada um com seu gosto, como dizem. Tirando isso, não devemos nos demorar aqui por muito tempo. Receio ter muito pouco controle sobre minha própria força. Se eu tocasse acidentalmente nestas paredes, poderia destruí-las, e isso seria uma pena. — Zanoba voltou seu olhar para a porta, como se para indicar que estava pronto para retornar ao andar principal.

Perugius falou baixinho:

— Arumanfi, guie-os de volta.

— Como ordenar!

Voltamos ao andar principal com Arumanfi como nosso guia, mas Perugius não se juntou a nós. Ele devia ter seus próprios sentimentos sobre os murais, pois continuou naquele cômodo.

Depois disso, nosso grupo se desfez e voltei para o meu quarto sem incidentes. Já era noite. O sol se pôs enquanto explorávamos o porão. Outro dia já havia terminado.

Imaginei por quanto tempo essas nossas pequenas aulas continuariam. Não importava quanto tempo tirássemos de folga da universidade, contanto que fôssemos para a sala de aula, mas eu não queria ficar longe de casa por muito tempo. Lucie e Zenith pesavam em minha mente.

Bem, agora, é melhor lidar com o que tenho em mãos. Não faço ideia do que está acontecendo com Zenith, e Lilia está cuidando de Lucie para mim. A única coisa que me resta fazer é praticar e revisar a magia de invocação.

Assim que me joguei no sofá e comecei a vasculhar minha bagagem em busca de uma pilha de papel, alguém bateu na porta.

— Rudy? Está aí dentro? — Sylphie não esperou pela minha resposta antes de espiar. No momento em que me viu, ela entrou e sentou-se ao meu lado. Então, soltou um suspiro pesado.

Peguei uma jarra próxima, servi um pouco de água e a entreguei.

— Beba. Deve estar exausta.

— Obrigada. — Ela pegou e engoliu o líquido ansiosamente. — Ufa.

Parecia mais cansada do que o normal.

— Como estão as coisas com a Princesa Ariel? — perguntei.

— Hm, então, não tão bem.

— Quão ruim está?

— Lorde Perugius não está levando Sua Alteza muito a sério.

Pelo que parecia, Ariel queria Perugius em seu acampamento, por isso estava usando todo o seu tempo para listar todos os benefícios que ele teria ao apoiá-la. Depois que ela ascendesse ao trono, ele poderia ter status nobre, seu próprio território ou acomodações especiais caso quisesse se envolver no comércio em Asura. Claro, Perugius a rejeitou por completo, dizendo que não precisava de nada disso.

— Bem, sim, não admira que ela esteja tendo problemas — falei.

— O que quer dizer?

— Tipo, ele escolheu viver aqui, longe de tudo isso. Então, ou não está nem um pouco interessado nisso ou isso o enoja demais.

— O quê? — Sylphie inclinou a cabeça de maneira interrogativa. — Mas pensei que ele disse que escolheu viver aqui porque é mais conveniente para impedir o Deus Demônio de se erguer novamente.

Ele disse isso mesmo? Bem, sem dúvida esse também era um dos motivos.

— Não é isso que estou dizendo. Se ele quer poder, já está em posição de tomá-lo para si. Afinal, é o herói da Guerra de Laplace. Sylvaril disse que ele considera a formalidade da corte Asurana sufocante. Se está tentando atraí-lo com poder e prestígio, isso só vai servir contra o propósito.

Se ele quisesse mesmo deixar a fortaleza, já poderia tê-lo feito. Mas esteve confinado nela por décadas. Perugius certamente tinha seus motivos.

— Sim, o que você diz faz sentido. Pode ser que a Princesa Ariel esteja sendo muito impaciente… — Sua voz cessou por um momento. — Ei, Rudy, o que acha que devemos fazer?

— Essa é uma pergunta difícil.

Eu não tinha absolutamente nenhuma ideia. Sentia mesmo que Ariel estava pulando alguns passos cruciais nisso. Normalmente, uma pessoa cultivaria amizades antes de pedir favores. Se a outra parte não quisesse, poderia oferecer-lhe condições em troca. Ariel se beneficiava de seu carisma natural, usando-o em sua vantagem para fazer conexões instantâneas. Ela nunca tinha enfrentado alguém que pudesse resistir a seus encantos. Perugius e Nanahoshi foram criados de forma diferente. Eu provavelmente estou na mesma categoria que eles. Estava feliz em fazer algo pelo bem de Sylphie, mas não estava inclinado a ajudar Ariel.

— Primeiro, acho que ela deveria tentar melhorar seu relacionamento com Perugius.

— Melhorar como? — perguntou Sylphie.

— Compartilhando seus hobbies ou perguntando sobre histórias heróicas de seu passado.

— Hobbies e histórias heróicas? Acho que estou entendendo.

— Pode ser que levar Zanoba junto ajude. Acho que, entre todos nós, Perugius gosta mais dele. Zanoba poderia seguir com a conversa por ela, e Ariel só assentiria com a cabeça. Isso provavelmente melhoraria a percepção de Perugius sobre ela.

— Hmm, tá. Vou tentar contar o que você disse para Sua Alteza.

— Não me leve muito a sério — avisei. — Não sou infalível.

— Ehehe, agradeço o conselho, de qualquer maneira. — Sylphie me deu um beijinho na bochecha.

A sensação suave de seus lábios foi o suficiente para me fazer esquecer de estudar. Em vez disso, seu beijo despertou desejos perversos dentro de mim.

Talvez eu deva levá-la à cama comigo para que possamos dar início aos planos de um segundo bebê. Descartei a ideia mais do que depressa. Não, não posso me distrair. Vou estudar. Vou ter que me contentar em apalpar um pouco a sua bunda… espera, não!

— A propósito, como vão as coisas com você, Rudy?

— Hm, mais ou menos, eu acho.

Selei meu demônio da luxúria enquanto discutíamos tudo que aconteceu no último dia. Conversamos sobre a maldição de Zenith, magia de invocação, a refeição que compartilhei com Nanahoshi e como ela liderou nossa incursão no porão da fortaleza.

— Você com certeza é muito legal com Nanahoshi — resmungou Sylphie depois que terminei.

Acho que comer com outra garota e sair com ela realmente não é boa ideia. Dito isso, Zanoba e Cliff estiveram presentes nas duas vezes, então não era como se eu estivesse sozinho com Nanahoshi. Mas usei do meu tempo para fazer aquela refeição para ela.

Droga. Tenho que fazer algo para ajustar o humor de Sylphie. Precisava deixar claro que meu amor por ela excedia em muito a amizade que compartilhava com Nanahoshi.

— Hm, Senhorita Sylphiette…

— Sim?

— Posso te segurar em meus braços?

Ela respirou fundo, as bochechas corando enquanto fazia beicinho e se virava.

— Você sempre tenta me beijar assim. Por quê? Está se sentindo culpado por algo?

Eita. Ela está sendo mais fria que o normal hoje. O que está rolando? Está chateada de verdade comigo? Não me diga que este é o período de calmaria de que as pessoas costumam falar em casamentos. Mas, bem, nosso aniversário de três anos está chegando. A maldita marca dos três anos.

Balancei minha cabeça. Não, o número de anos não importa! Mas estou com sérios problemas aqui. O que eu faço?!

— Estou brincando! Desculpe por brincar assim, mas parecia que você estava se divertindo muito enquanto estava com ela, então eu queria me vingar um pouco. — Sylphie mostrou a língua enquanto jogava os braços em volta de mim e me apertava em um abraço.

Puxei-a para perto. Ela era tão pequena, mas ainda continuava tão macia e quente como sempre. Eu amava aquela sensação que vinha dela. Talvez merecesse que me odiasse, mas, mesmo assim, não queria que o fizesse. No futuro tomarei mais cuidado…

— Mas, para ser honesta, por que você está tão obcecado pela Nanahoshi, afinal? — perguntou Sylphie.

— Hm, bem, sei bastante sobre a situação dela e de onde veio, por isso quero ajudá-la no que puder. Mas não é como se eu estivesse romanticamente interessado nela ou algo assim, entendeu? — A maneira como divaguei fez com que soasse ainda mais suspeito.

— Ehehe, sim, eu sei. — Sylphie riu, dando tapinhas na minha cabeça. Então me deu um tapinha nas costas antes de se afastar. — Bem, eu deveria voltar para a Princesa Ariel. Continue trabalhando duro, Rudy.

— Sim, pode deixar. E você também.

Droga. Achei que tudo estava indo muito bem, mas as frustrações de Sylphie comigo devem ter se acumulado bastante. Isso não pode continuar. Pode ser que fosse uma boa ideia me afastar de Nanahoshi. Talvez tirar um tempo para fazer coisas que a deixassem feliz não foi uma boa ideia. Hmm…

Sylphie abriu a porta para sair e congelou.

— Hã?

Nanahoshi estava parada à porta.

— Desculpa. Não quis me intrometer entre vocês dois, mas… cof, cof… — Ela teve um ataque de tosse, segurando a garganta e o peito enquanto seu rosto se contorcia de dor. — Desculpa. Eu ouvi tudo. Cof… Não se preocupe, não tenho interesse no Rudeus… Cof

— Oh, hm, tudo bem. Isso é ótimo, mas, hã, você está bem? — perguntou Sylphie.

Estou be… cof, cof…

A condição de Nanahoshi estava muito pior do que eu tinha visto. Ela estava engasgando como se houvesse algo preso em sua garganta, o que só aumentou nosso desconforto.

— É que, sabe, minha tosse piorou muito… Cof, cof… Fui ao Cliff para ver se conseguia fazer com que ele lançasse alguma magia de desintoxicação em mim, mas estava ocupado com Elinalise. Pensei em pedir a Rudeus que fizesse isso, mas se isso só vai causar mais mal-entendidos, vou esperar e pedir que Cliff me ajude amanhã.

— Não, sem problema. Está tudo bem. Não estou tão preocupada com isso, na verdade — disse Sylphie, em pânico. Quando Nanahoshi se virou para sair, Sylphie a agarrou pelo ombro. — Hum, eu posso lançar em você, mas se minha magia não for eficaz o suficiente, pode ser uma boa ideia que Cliff lance um feitiço de nível superior em você mais tarde.

— Obrigada. Eu agradeceria, se não for incômodo.

— Tudo bem, então aqui vai. — Sylphie gentilmente pressionou a mão no pescoço de Nanahoshi. Ela lançou seu feitiço de desintoxicação sem recitar o encantamento em momento algum; uma façanha que eu permanecia incapaz de realizar. Claro, que seja, não posso fazer isso agora. Mas tenho certeza de que, se trabalhar nisso, também acabarei conseguindo.

— Hm? — A voz de Sylphie cortou meus pensamentos enquanto ela inclinava a cabeça em confusão.

No momento seguinte, Nanahoshi começou sua tosse seca novamente.

— O quê? Isso é… meio estranho? Minha mana está… o que é isso? — Sylphie inclinou a cabeça para o outro lado e tentou pressionar a mão oposta no ombro de Nanahoshi. Neste ínterim, o ataque de tosse de Nanahoshi só piorou.

— Está tudo bem? — perguntei, minha ansiedade aumentando.

Nanahoshi tapou a boca com a mão.

— Urgh… blegh! — Ouviu-se o som de respingos de líquido.

— Hã?

Um coágulo de sangue caiu no chão.

— E-Ei…

Nanahoshi encarou a mão em silêncio, atordoada. Seu cérebro parecia não conseguir processar o que via. Virou a palma da mão na minha direção, como se achasse que eu poderia ter as respostas. Sua pele estava coberta de sangue. Um segundo depois, caiu no chão e perdeu a consciência.

— O quê? Por quê?

Não fui o único parado ali, estupefato. Sylphie também estava congelada no lugar.

— Agora mesmo, quando tentei lançar minha magia nela, isso… por quê? Eu não… — Manchas de sangue cobriram o rosto e as mãos de Sylphie enquanto ela olhava para Nanahoshi. Sua pele estava mortalmente pálida.

Eu logo caminhei em direção a ela.

— Sylphie. — Havia um tremor em minha voz.

Ela se encolheu, os olhos tremendo de medo enquanto recuava um passo.

— N-Não! Não fui eu. Eu não fiz nada com ela. — Sylphie continuou recuando até ficar presa em um canto. Eu a segui silenciosamente até que ela estivesse de costas para a parede. Uma vez que soube que não tinha para onde correr, fechou os olhos com força. — Eu sei o que disse um minuto atrás, mas realmente só pretendia te provocar um pouco… Mas, sério, eu… eu nunca faria algo assim!

Tirei um lenço do bolso, umedecendo-o com minha magia de água, e, devagar, comecei a limpar o sangue do rosto dela.

— Hã…?

 

 

Uma vez que estava limpo, comecei a limpar sua mão em seguida. O pior transmissor de doenças eram os fluídos corporais de uma pessoa doente. Não achava que limpar o sangue de Nanahoshi de Sylphie iria consertar tudo magicamente, mas não poderia deixá-la assim. Da parte de Sylphie, ela não tentou resistir; apenas ficou parada e me deixou trabalhar.

— Está tudo bem, Sylphie. Assisti toda a sua interação com Nanahoshi. Você não fez nada de errado.

— C-Certo.

Eu estava calmo agora. Vê-la perder toda a compostura me ajudou a manter a minha. Pelo menos, era isso que eu esperava.

— Está tudo bem — repeti de novo. — Você não fez nada. Nanahoshi está doente há algum tempo. Entendeu?

— Sim…

— As coisas simplesmente aconteceram de uma vez, no pior momento possível. Isso não é culpa sua.

— T-Tudo bem, mas… quando tentei usar minha magia nela, havia algo… estranho dentro dela. Era como se minha mana não passasse por ela. Na verdade, parecia só… sumir ou algo assim…

O sangue escorria da boca e do nariz de Nanahoshi enquanto ela estava deitada no chão, inconsciente. Sua vida poderia estar em perigo se não a ajudássemos. Sylphie ainda estava em choque.

Eu preciso acalmá-la. Não, talvez seja exatamente o oposto. Talvez eu devesse mandar ela fazer algo. Normalmente, quando alguém estava neste estado de confusão, dar-lhe algo para fazer ajudava a sair dessa situação.

— Ouça, Sylphie. Preciso que peça ajuda, pode ser Cliff ou Lorde Perugius.

— V-Você quer que eu vá?

— Sim. Vou cuidar da Nanahoshi e fazer o que puder por ela, mas, enquanto isso, preciso que busque ajuda. Pode fazer isso?

— S-Sim, posso. — A clareza voltou a seus olhos quando correu para o corredor e saiu. Sylphie havia enfrentado uma carnificina várias vezes antes, mas isso não a preparou para ter um conhecido vomitando sangue do nada. Até ela foi pega despreparada. Pior ainda, tudo aconteceu logo depois que Sylphie tocou em Nanahoshi.

Eu sabia que minha esposa não era do tipo que machucaria outra pessoa, não importa o quão ciumenta fosse. Dito isso, às vezes podia ser compulsiva e…

Não, não, não é possível.

— Tudo bem — falei, jogando esses pensamentos para longe enquanto me virava para encarar Nanahoshi. Apesar do que disse a Sylphie, havia poucos cuidados de emergência que eu posso dar à nossa amiga inconsciente.

Só posso fazer o possível.

 


 

Tradução: Taiyo

 

Revisão: Guilherme

 

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