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Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 13 – Cap. 11 – O Dia da Graduação

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Logo após Sara deixar a cidade de Sharia, o inverno começou de verdade e eu fiz dezoito anos. Meus estudos estavam prosseguindo sem nenhum problema, além de que consegui completar todos os requerimentos para passar de ano na Universidade. Eu seria um aluno do quarto ano em breve. Tudo estava indo bem.

Elinalise, por outro lado, tinha repetido de ano. Diferentemente de mim, ela era uma estudante comum, e sua ausência de seis meses a deixou muito para trás. Isso não pareceu incomodá-la nem um pouco, mas me senti um pouco culpado por isso. Afinal de contas, durante esse tempo todo ela ajudou a minha família.

A propósito, Sylphie também não atingiu a frequência mínima do ano. Entretanto, suas notas ainda eram excelentes e levaram seu dever de guarda-costas da Princesa Ariel em consideração, então ela acabou conseguindo uma permissão especial para passar de ano. Às vezes tudo depende de quem você conhece.

As coisas também iam bem em casa. Lucie estava crescendo rápido. Ela já perdeu o interesse em ser amamentada, ultimamente tem comido papinha de bebê ao invés de leite de peito. E, num outro dia, tinha falado comigo pela primeira vez! Ela tinha olhado bem nos meus olhos e dito “Wudee.”

Eu, aparentemente, era o “Rudy” para ela, não o “Papai”, o “Papa” ou o “Sr. Bobão”. Mas ninguém me chamava assim em casa, então eu não poderia culpá-la. Ela estava chamando a Sylphie de “Mama”, mas isso ocorria porque Sylphie tinha ensinado isso para ela de propósito. Talvez eu devesse fazer o mesmo e mudar o meu nome para “Papa”.

Nah, não há necessidade de apressar as coisas.

Ela ainda era um bebê. Assim que crescesse um pouco, eu a ensinaria a me chamar de “Queridíssimo Pai”. De toda forma, não era meio incrível que ela já estivesse falando? Talvez tivéssemos uma pequena gênia em nossa família!

Tá bom, tá bom. Isso não é nada fora do comum. Algumas crianças começam a falar cedo e outras demoram um pouco mais. Sylphie e Lilia também ficavam constantemente falando com ela. Provavelmente tinha algo a ver com isso.

Mas, olha… é incrível quando se vê a sua criança começando a falar, sabe?

Também havia um lado negativo, claro. Assim que crescesse, ela poderia começar a dizer coisas como: “Não lave minhas roupas de baixo junto com as do Papai!”

Hmm, na verdade, não. Por algum motivo, eu estava ansioso por isso!

Já que nossa filha não estava mais mamando, os peitos da Sylphie pararam de produzir leite. Isso foi triste demais. Eu perdi minha chance de desfrutar aquele líquido doce e excitante. Eles também voltaram ao tamanho normal. Claro que eu gostava deles do jeito que eram, mas… parecia aquele momento em que o tempo da fase bônus acabava.

Mudando de assunto, também encerramos nosso contrato com a Suzanne, já que não precisávamos mais de uma ama de leite. Mas eu ia permanecer em contato com ela. Ela cuidou muito bem da minha neném, além de ter cuidado de mim no passado. Eu queria retribuir sua gentileza, se possível. Talvez pudesse cuidar de seus filhos, caso entrassem para a Universidade. Eu provavelmente já teria me graduado antes disso, mas poderia pedir para Norn cuidar deles por mim.

Norn e Aisha também estavam se dando bem ultimamente. Sempre checavam como Lucie estava e murmuravam sobre o quanto ela era fofa. Ela, provavelmente, parecia mais uma irmãzinha para elas do que qualquer outra coisa.

Em certo momento, as escutei conversando na escada. Pelo que parecia, tinham decidido não brigar na frente da Lucie. Pareciam também ter pensado em diversos outros planos elaborados. Provavelmente queriam que ela as admirasse.

Recentemente, não as vi discutindo do jeito que faziam antes. Acho que algumas crianças tentam agir de forma mais “adulta” quando tem alguém mais novo na casa. Era um efeito colateral agradável, e inesperado, da chegada de Lucie.

O primeiro ano de Roxy como parte do corpo docente também parecia estar prosseguindo tranquilamente.

Eu recentemente vi alguns estudantes a olhando com admiração. Talvez estivessem começando a perceber sua grandiosidade, ao menos um pouco. Minha intenção era reeducar à força qualquer um que ousasse zombar dela… mas parecia que as crianças para quem ela dava aula a escutavam respeitosamente. Com sorte, continuaria assim.

A rotina da Zenith continuava a mesma. Quando Norn estava por perto, elas comiam juntas; e quando Aisha ia para o jardim, elas arrancavam ervas daninhas juntas. De vez em quando, ela segurava os dedos da Lucie gentilmente e sorria para ela.

Essa foi uma grande mudança: após a festa de aniversário de Norn e Aisha, Zenith começou a sorrir com certa frequência. Seus sorrisos eram pequenos e discretos, mas todos os reconheciam pelo que eram.

Ela ainda não estava falando e suas expressões faciais permaneciam bem limitadas. Mas eu queria acreditar que estava seguindo em direção à recuperação.

 

 

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Hoje era o dia da graduação.

A Universidade realizava suas cerimônias na entrada do campus, mas as de graduação eram realizadas do lado de dentro. Tinham instalado um palco enorme em um auditório gigante, no qual eu nunca tinha pisado, lá é onde os estudantes do sétimo ano receberiam, um por um, os seus diplomas.

No total, havia apenas cerca de quinhentas pessoas se graduando. A Universidade tinha mais de dez mil estudantes, então esse número era estranhamente baixo. Esta turma provavelmente tinha começado com duas mil pessoas, mas a maioria devia ter desistido com o passar dos anos.

Era fácil se matricular nessa escola, mas não era tão simples de se graduar. A magia de nível Avançado e a magia combinada eram particularmente difíceis de dominar. Poderia até ser impossível para quem tinha uma capacidade de mana pequena.

Também havia muitas pessoas que tinham algum talento, mas decidiam que dominar as magias de nível Iniciante era o suficiente. Além daqueles que desistiam por diversos motivos pessoais ou financeiros. Em comparação, a Classe Especial tinha uma vida fácil.

Enquanto a maior parte do palco estava ocupado com fileiras de graduandos, o corpo docente inteiro estava alinhado do outro lado. Devia haver por volta de duzentos a trezentos deles no total.

Eu não sabia quantos professores esse lugar tinha. No entanto, isso explicava o porquê utilizavam um prédio separado inteiro como escritório do corpo docente.

Era fácil encontrar a Roxy no meio da multidão, já que ela era a mais baixa deles. Mesmo de longe, pude ver seus olhos brilhando de animação.

A propósito, os estudantes em geral ganharam um dia livre. As crianças dos outros anos não eram obrigadas a participar desse evento ou da cerimônia de entrada para os novatos. Na verdade, precisavam de uma permissão especial para participar. Participar disso provavelmente era uma honra que se devia conquistar.

Eu estava sentado no canto da área de assentos reservados para o Conselho Estudantil. Todos os membros estavam presentes: Ariel, Luke, as duas acompanhantes reais e quatro outras pessoas cujos rostos eu reconheci. Além de Sylphie, claro.

Era sempre bom vê-la em seu modo “equilibrado e profissional”. Há pouco tempo, ela era indistinguível de um garoto nessas roupas; mas seu cabelo agora chegava até seus ombros, além de seu corpo ter ficado um pouco mais feminino após a gravidez.

De alguma forma, ela conseguia ser fofa e legal ao mesmo tempo. Tive que lutar contra o impulso de me gabar para estranhos de que ela era minha esposa.

No entanto, mudando de assunto… Por algum motivo, Norn estava sentada no último assento da seção do Conselho Estudantil. Ela era uma membra ou algo assim? Eu não tinha ouvido nada sobre isso. Ela não tinha trabalhado com eles durante o ano, mas talvez fosse entrar no começo do novo semestre.

Eu não queria me intrometer nem nada, mas, com sorte, ela me falaria o que tinha acontecido antes do novo ano começar.

— Representantes da turma de formandos… Linia Dedoldia e Pursena Adoldia! Se aproximem para receber seus diplomas e suas credenciais como membras de rank D da Guilda dos Magos!

Linia e Pursena tinham sido escolhidas como representantes dos formandos. Elas tinham passado um tempo aprontando, claro, mas também tinham conseguido conquistar resultados incríveis. Claro que elas também eram princesas da tribo Doldia, os governantes dos homens-fera; e parecia que a Universidade preferia conceder essa honra aos estudantes de nascimento nobre. Caso tivessem um plebeu e um nobre com resultados comparáveis, escolheriam o nobre para ser representante. Era uma forma de obter favores de pessoas poderosas sem causar nenhum grande problema.

Assumi que as coisas seriam diferentes se um plebeu fosse o melhor estudante do ano disparado, mas era difícil saber. Roxy tinha sido uma excelente estudante na sua época, e não tinham dado essa honra a ela. Não tinha como saber o quão habilidosa ela era na época, mas parecia que já era capaz de usar magia de nível Santo… e, mesmo assim, deram essa honra a outra pessoa.

A Universidade de Magia tinha acertado em cheio ao aceitar qualquer um que quisesse se matricular, independentemente de sua origem. Mas quem a dirigia era uma pessoa que, visivelmente, tinha suas tendências.

— Muito obrigada, senhor!

— Muito obrigada, senhor!

— Parabéns. Que vocês possam trilhar o caminho da magia pelo resto de suas vidas!

Linia e Pursena receberam seus diplomas com postura e dignidade. Foi muito interessante vê-las crescer até esse ponto. Elas haviam deixado clara a intenção de procurar namorados durante a época de acasalamento. Mas, quando os diversos pretendentes surgiram, derrotaram todos e jogaram um por um para o canto. No final de tudo, ficaram juntas em cima de uma pilha de corpos murmurando: “Mas que caralho. Ficamos fortes demais” e “Que saco.”

Essas memórias passaram pela minha mente. Nesse momento glorioso, elas eram a realeza; as duas Rainhas da selva, as quais eram invencíveis e intocáveis.

Eu também tinha algumas lembranças delas se dirigindo para uma taverna após aquilo e gritando após se embebedarem: “Miaau! Nunca mais quero saber de homens!” e “Eu também! Eles são idiotas pra caralho!”, mas eu ia me esforçar para esquecer dessa parte.

 

 

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Após a cerimônia de graduação acabar, passei pelo laboratório de Nanahoshi, onde a encontrei coberta por algo que parecia um roupão grosso enquanto tossia e fungava constantemente.

— Ficou gripada de novo, Nanahoshi?

Cof, cof… Acho que sim.

Fazia, mais ou menos, um ano que ela tinha começado a ficar gripada frequentemente. Isso, normalmente, vinha junto com uma tosse seca ou uma febre repentina. Eu usava magia de desintoxicação para ajudá-la quando isso acontecia, mas sempre voltava a acontecer pouco tempo depois.

— Já pensou em cuidar um pouco melhor de si mesma? Sair um pouco, sabe?

Nanahoshi quase não saía de seu laboratório, no geral. Ela emergia quando acontecia algo importante, mas, tirando isso, tinha passado o ano inteiro enfurnada no lugar, só saindo para o almoço. Ela contava com seu estoque de comida em conserva para o café da manhã e para a janta.

Na maior parte de seu tempo estava sozinha nesses cômodos, onde o sol não a alcançava. Não era surpresa nenhuma que sua imunidade estivesse baixa. Eu entendia que ela tinha suas prioridades, mas senti como se a garota precisasse levar a sua saúde mais a sério.

— Por que não tenta descansar, pelo menos até essa tosse chata acabar?

— Não posso parar de trabalhar justo agora. Ultimamente estou conseguindo avançar muito com a pesquisa…

Após isso, ela voltou aos seus círculos mágicos.

Ela não estava errada; a pesquisa estava prosseguindo bem. Ela tinha terminado a segunda fase de seu plano vários meses antes ao invocar, com sucesso, uma tampa que cabia perfeitamente na garrafa pet que tinha obtido na primeira fase.

Atualmente estávamos na terceira fase, na qual tínhamos que invocar um ser vivo, como uma planta ou um animal. Esse era um passo enorme e excitante. Não estávamos muito longe de trazer vegetais de nosso antigo mundo para este, e ficávamos mais próximos disso a cada dia.

— Hoje vamos continuar trabalhando nos experimentos da fase três.

— Não deveríamos esperar até Cliff e Zanoba estarem disponíveis?

— Acho que sim. Que tal ir buscar eles?

Balancei minha cabeça.

— Infelizmente não estão no campus hoje.

— O quê? Ambos faltaram? Que estranho. Você sabe o motivo?

— Hoje é o dia da graduação, ninguém tem aula.

— Dia da graduação…? Ah, já estamos nessa época do ano?

Nanahoshi fez uma careta enquanto falava. Para ela, isso apenas significava que mais um ano havia passado; mais um ano que passou presa neste mundo.

— Sim. Linia e Pursena já até pegaram seus diplomas. Parece que vão voltar para casa em breve, então eu estava pensando em fazer uma festa de despedida mais tarde. Você vai participar, não vai?

— Creio que sim…

Eu não sabia se Nanahoshi considerava Linia e Pursena suas amigas, mas era bom saber que estava disposta a ir se despedir. Ela ainda era, essencialmente, uma reclusa, mas tinha ficado um pouco mais sociável do que antes.

— Acho que elas voltarão a ser princesas após chegarem em casa… Estranho, né?

— Elas realmente não parecem com uma.

— Não posso discordar.

Para ser honesto, eu estava um pouco preocupado com o futuro da tribo Doldia. Mas, com sorte, teriam alguém competente o suficiente para manter tudo em ordem caso uma idiota se tornasse a líder.

No entanto, justamente enquanto eu pensava nisso, alguém bateu à porta.

— Hm? Ah, pode entrar.

— Com licença!

— Estou entrando.

Nossas novas visitantes eram uma gata atrevida e uma cachorra com olhos sonolentos. As pessoas de quem estávamos falando.

Linia e Pursena entraram no cômodo, ainda vestindo seus uniformes.

— Procuramos você por toda parte, Chefe.

— Tá livre?

Algo parecia diferente nelas, mas era difícil saber o quê. Era por Linia parecer um pouco nervosa? Ou por Pursena não estar com um pedaço de carne na boca? Eu pensei ter sentido algo parecido com hostilidade no ar. Isso me fez lembrar do dia em que nos conhecemos.

Normalmente, já teriam dito: “Miiiiaaau! O chefe está no quarto de uma mulher solteira de novo! Talvez eu diga para a Fitz ou para a Roxy!” Mas, dessa vez, elas estavam comportadas.

Então era hora de outro duelo? Elas queriam acertar as contas antes de deixar a cidade?

— Por favor, Chefe?

— Precisamos disso, cara.

Elas não falaram muito, mas pude sentir o peso de suas palavras. Seus olhos estavam brilhando de determinação.

Talvez elas não quisessem voltar para casa como “perdedoras.” No fim das contas, elas ainda tinham seu orgulho.

Bom, então tudo bem. Eu não gosto de lutar, mas vou abrir uma exceção para vocês duas. Não seria certo recusar isso agora…

— Então tá bom. Desculpa, Nanahoshi, parece que elas precisam de mim.

— O quê? E os experimentos?

Nanahoshi não parecia nada feliz com o que tinha acontecido. Mas Linia foi até ela e a segurou pelo braço antes que pudesse se opor ainda mais.

— Venha você também. Essa é uma ocasião especial.

— É, nós permitiremos.

— Quê… Ei! O que é isso?!

Aparentemente queriam que Nanahoshi fosse uma testemunha do nosso duelo ou algo assim. Não era a melhor escolha, levando em conta que ela raramente falava com alguém… mas essas duas não eram o tipo de pessoa que pensava bem nisso.

Por outro lado, o nome Silente Setestrelas era relativamente bem conhecido pelo mundo afora. Seu testemunho teria ao menos alguma credibilidade.

Nós quatro caminhamos até um local entre os dormitórios e o prédio de Nanahoshi. Havia uma floresta em um lado da via e amontoados de neve no outro. Seria difícil alguém nos ver de longe.

— Vamos fazer aqui — disse Linia enquanto parava.

— Realmente me faz lembrar daquilo — murmurou Pursena enquanto assentia.

Esse era o local onde Zanoba e eu encurralamos e as sequestramos vários anos atrás. Em outras palavras, era o lugar onde eu tinha lutado com elas pela primeira vez. Parecia ser um local apropriado para o último duelo.

Linia e Pursena ficaram na minha frente.

Elas estavam se encarando, aproximadamente a dez passos de distância uma da outra. Por algum motivo, não estavam olhando para minha direção.

Hã…?

— Chefe, Nanahoshi… queremos que vocês observem bem isso.

— Uh… o que iremos ver?

— Linia e eu iremos descobrir qual das duas é a mais forte.

Ah, elas iam duelar uma contra a outra?

— E por que vão fazer isso? — perguntou Nanahoshi, um pouco surpresa.

— Quem vencer vai ser a próxima líder dos Dedoldia.

— Isso realmente é necessário? Não existem duas tribos lá, os Dedoldia e os Adoldia?

O lugar onde eu tinha ficado da última vez pertencia aos Dedoldia, mas eu tinha a impressão de que também tinha escutado algo sobre a vila Adoldia. Não tinha um segundo líder cuidando de lá?

Hmm. Talvez o líder dos Dedoldia se tornasse, automaticamente, o governante da tribo inteira ou algo assim…

— Miau… a princípio nós íamos voltar juntas, Chefe.

— Só que pensamos melhor. Tem um mundo grande para caralho por aí, não é? Além de que a vida é mais do que só mandar nas pessoas.

— Nós temos irmãs mais novas em casa. Uma de nós pode voltar e ensinar para elas as coisas que aprendemos aqui.

— A que for a mais forte de nós duas vai voltar para ser a chefe. A outra vai viver a vida que quiser.

Um plano interessante e, com “interessante”, eu quero dizer “ridículo”.

No entanto, elas tinham mudado a maneira como viam o mundo. O que tinha acontecido com toda aquela sede por poder?

— Se nós duas voltássemos, acabaríamos duelando de qualquer maneira, miau.

— E se lutássemos na Grande Floresta, a perdedora teria uma vida entediante demais. Ela seria obrigada a casar com o melhor guerreiro da vila ou algo assim.

— É melhor resolvermos isso aqui e agora, e depois seguirmos nosso próprio caminho.

— É. Sem rancor de nenhum lado, sabe?

Ah. Agora estava começando a fazer sentido.

Ambas queriam ser a número um na Grande Floresta. Mas quem não alcançasse esse objetivo, preferiria viver em um lugar totalmente diferente. Talvez conseguisse chegar ao topo em outro lugar que não fosse em casa.

O plano tinha algumas falhas, por assim dizer. Eu estava morrendo de vontade de perguntar algumas coisinhas, como por exemplo: Vocês realmente podem tomar essa decisão sozinhas? Sem nem perguntar para as pessoas de lá? Mas, no final das contas, não era meu dever convencê-las. Elas claramente tinham pensado bastante nisso, além de que eu conseguia entender o desejo de ter controle sobre a própria vida.

— Certo, entendi. Não vou interferir. Fiquem à vontade.

— Quê? Vai ajudar elas a brigar? Tem certeza disso? — disse Nanahoshi com um tom de desaprovação.

— Está tudo bem. Elas vão lutar de toda forma, comigo olhando ou não.

Pelo que eu conseguia dizer, Linia e Pursena estavam empatadas em relação a força. A não ser que tivessem alguém para julgar o resultado, havia uma chance da luta não ter uma vencedora definida. Ou, no pior caso, poderiam acabar exagerando e se ferindo. Nossa presença como testemunhas era uma precaução necessária.

Além disso, eu não ia chamar a atenção para isso, mas isso não era uma luta; era um duelo. Elas não estavam bravas uma com a outra, somente estavam competindo pela superioridade.

— Nós agradecemos, miau.

— Valeu, Chefe.

Linia e Pursena disseram algumas palavras de gratidão antes de voltar a focar no que tinham que fazer.

Elas respiraram profundamente e demoradamente… e, então, se encararam ferozmente.

— Hissss!

— Grrrrrr!

De repente, começaram a emitir sons agressivos e não muito elegantes.

O ar aparentava estar cheio de tensão. Era como se a batalha pudesse começar a qualquer momento.

Ativei meu Olho Demoníaco e vi que Nanahoshi também tinha colocado um de seus anéis de autodefesa. Estávamos prestes a presenciar uma luta séria entre duas pessoas do povo-fera. Não tinha como saber o que poderia voar em nossa direção.

— Pursena, eu queria te falar isso já faz um tempo, mas eu cansei de você, miau!

— É? Bom, eu que cansei de você. Antes você corria feito uma bebezona atrás de mim e, agora, está agindo como se fosse importante!

— Miau?! Eu era praticamente a sua babá! Não lembra daquela vez que eu te acobertei quando você fez xixi na cama?! O que aconteceu com aquilo de que “os Adoldia nunca abandonam quem os ajuda”, hein?!

— Eu te recompensei quando te puxei para fora do rio! Inclusive, que coisa patética foi aquela? A tribo Dedoldia não deveria ser habilidosa na natação?!

— Para começo de conversa, aquilo foi tudo culpa sua! Você que tinha derrubado aquele brinquedo que o Vovô tinha te dado na água! Igual uma idiota!

— Eu derrubei por culpa sua!

Bom, isso era interessante. Eu nunca tinha escutado uma discussão tão feroz, mas que não tinha maldade nenhuma. Elas tinham se irritado bastante, mas eu não conseguia perceber nem um pouco de ódio em suas palavras.

— Você é uma imbecil estúpida, Pursena!

— E você é idiota para caralho, Linia!

E, agora, tinham começado com os xingamentos infantis…

— Você é fedida!

— Você tem pernas curtas!

— Quê… Bom, você é gorda!

— Não sou não!

No final, foi Pursena quem perdeu a paciência primeiro. Uma única palavra, “gorda”, tinha sido a gota d’água.

— Grrrrraaaaah!

Ela avançou para cima de Linia enquanto jogava o punho para trás e se preparava para dar um golpe poderoso.

— Hissssss!

Linia reagiu com a agilidade de uma pantera, atacando com o seu próprio punho…

— Guh…

— Ugh…

E acabaram acertando uma à outra com um contra-ataque duplo.

 

 

 

As duas cambalearam para trás… e, então, o duelo começou de verdade.

— Olha só! Pursena avança ferozmente, mas Linia desviou perfeitamente! Pursena está avançando nela igual um tanque, mas… acaba sendo afastada! Linia está usando a tática de bater e correr, meus amigos. Pursena está a perseguindo! Ela tem a vantagem na força bruta, mas a sua oponente é só um pouco mais rápida! Se fosse uma briga de bate-rebate, a Linia não teria chance! Mas força bruta não é a única coisa que importa! Você tem que pegá-la primeiro, ou sua força não servirá de nada!

“Olhe para essa agilidade! Um belo gancho! E outro! E um direto! Uau, a Pursena não liga para as defesas! Linia não consegue nem se aproximar. Se afastou um pouco demais! Nooooossa! Um golpe brutal da Pursena! Que deus tenha piedade da Linia!

“Linia cambaleou! Senhoras e senhores, ela parece ter sentido bastante! E Pursena não dá pausa! E agora, Linia? Vai fugir disso? Não, ela arrisca ficar! Um gancho de esquerda! Mais um! Aah, isso foi esplêndido! Pursena está levando um dano considerável! Os socos tenazes de Linia estão acertando! Ela pode não ter a força de Pursena, mas cansou de fugir!

“Pursena recua. Mas, ainda assim, seus olhos estão brilhando. Meus amigos, ela é uma caçadora que está de olho em sua presa! Linia parte para o ataque com seu punho direito enquanto Pursena dá um passo para a frente…

“Meu Deus! Viu esse tanto de sangue?! Linia a cortou com uma faca?!

“Não, foram suas garras! Ela estendeu suas garras e arranhou Pursena enquanto dava aquele soco! É o mortífero soco gatuno, polido à perfeição! E isso é permitido, meus amigos. Não há regras para essa luta!

“Linia bate e arranha! Bate e arranha! É uma sequência de cada um dos dois lados! Ela está fazendo Pursena sofrer! Esse é um tipo totalmente novo de dor, o qual ela não estava esperando! Santo deus! Linia acabou de abrir um buraco no uniforme dela! Acabamos de chegar ao território da nudez acidental! Talvez tenhamos que cortar para os comerciais, meus amigos!

“Olha só, a Pursena está partindo para o ataque do mesmo jeito! Ela não liga! Agora ela é uma boxeadora, não uma adolescente envergonhada! Boom! E acertou um gancho em cheio no corpo da Linia! Será que vai acabar assim? Pursena irá finalizar?!”

— Se não tem regras, por que não estão usando magia? — perguntou Nanahoshi.

— Ah, boa pergunta. Após a Pursena começar a briga corpo a corpo, a magia se tornou irrelevante. Elas não estão dando tempo o suficiente para a outra terminar o cântico. Sylphie ou eu ainda conseguiríamos lançar algumas magias não verbais nessa situação, mas essas duas são guerreiras de natureza. E com uma movimentação intensa dessas, seria difícil dizerem uma única palavra que fosse. Um maratonista conseguiria recitar um poema enquanto corre pela estrada? Não, isso seria impo…

— Tá bom, eu entendi. Desculpa por ter te interrompido. Agora pode continuar.

— Linia parou de se mover! Talvez seja o fim, pessoal! Elas estão trocando socos! Acabaram as esperanças? Os socos de Pursena conseguiram neutralizar a velocidade de Linia! Ela não pode mais usar o “bate-e-corre!” A borboleta perdeu suas asas? Ela caiu nas presas de sua adversária?

“Não! Ainda não acabou! Ela está desviando dos socos! Ela realmente está desviando! Com seus reflexos de gato, se abaixa e esquiva! Está se esquivando de tudo com a sua técnica apurada ao máximo! Ela ainda não levou um dano sólido! E, agora, um contra-ataque! Um soco gatuno brutal! Pingos de sangue! Acertou a bochecha da Pursena e a fez cambalear para trás!

“Linia deu um passo para frente para continuar com a vantagem. Meu deus, um chute circular! Ela quer deixar aquela garota inconsciente! Aah! Pursena…  Pursena faz uma investida! Ela se joga no ataque! Meu Deus, ela mordeu a perna da Linia! Ela mordeu enquanto ia em direção ao seu pescoço! Ela é um cão de caça, meus amigos! Ela é uma máquina, uma besta enjaulada com ódio! Seus punhos não são sua única arma!

“Pursena a pressiona e… derruba sua presa no chão! Linia chegou perto demais?! Mas Pursena não é a única com dentes mortais! Ela foi mordida de volta! Olhe para esses dentes! Agora já é uma luta livre que só tende a piorar!”

— Sendo honesta, para mim só parece que estão caindo e esbofeteando uma à outra…

— Bom, sim. Também poderíamos falar isso.

— Olha, eu odeio ser estraga-prazeres, mas posso te perguntar uma coisa?

— Claro. O que foi?

— Elas parecem estar levando essa luta a sério, então por que você está fazendo parecer uma grande piada?

— Desculpa…

O duelo durou um bom tempo.

De alguma maneira, começou com uma troca de insultos e, depois, seguiu para a troca de socos. No início parecia uma luta de boxe de alto nível, mas no final já tinha virado algo mais parecido com uma briga de criança, que só utilizava arranhões e mordidas.

Pelo que pareceram horas, ambas ficaram rolando na neve, brigando uma com a outra… mas, então, finalmente pararam.

Somente uma delas se levantou.

— Eu consegui, porra…

Foi Pursena.

Ela estava com arranhões, mordidas e hematomas dos pés à cabeça. Sua roupa estava em farrapos, molhada com neve e manchada de sangue. Algumas de suas feridas ainda estavam sangrando.

Era uma visão admirável.

Essa era uma mulher que tinha lutado pela vida… e triunfou.

— …

Pursena olhou para sua adversária caída e pareceu estar em um dilema por um momento. Mas então virou o seu rosto de forma arrogante.

Um tempo depois, cambaleou em nossa direção.

— Eu venci, Chefe.

— Hm, é. Parabéns… Senta um pouco que eu vou te curar, tá?

Ergui minha mão para tocar a ferida aberta em seu ombro, mas ela afastou a minha mão.

— Obrigada, mas não precisa. Essas são cicatrizes de honra. Eu prefiro mantê-las.

— Ah… certo.

Cicatrizes de honra, né?

Elas estavam extremamente sérias sobre isso. Me senti um pouco envergonhado por assumir que ninguém iria se ferir.

— Eu não sei se vou ver a Linia de novo, sabe? Então quero, pelo menos, manter isso para lembrar dela.

— Hm, mas… vocês não vão ficar juntas pelo menos até deixar a cidade?

— Não, vamos nos separar aqui e agora. Já arrumamos nossas malas e tudo mais.

Elas deviam ter combinado essas coisas antecipadamente, já que esse era o lugar onde seus caminhos começariam a se divergir, então também deveria ser onde se despediriam. Isso era meio poético.

Aparentemente eu teria que cancelar os meus planos para uma festa de despedida. Se não, estragaria tudo.

— Só tenta pedir para alguém te ajudar com as feridas, tá? Mesmo que não seja um mago.

— Certo, pode deixar.

Após isso, Pursena começou a cambalear em direção aos dormitórios.

Enquanto eu observava, Nanahoshi correu até ela. Ela colocou sua capa sobre os ombros de Pursena para cobri-la e partiram para os dormitórios enquanto Pursena se apoiava nela para caminhar. Ela realmente tinha um lado gentil.

Bom, agora…

Caminhei para onde Linia estava e a observei de cima.

— Está viva?

Ela não estava inconsciente nem nada assim, só estava olhando para o céu com um olhar vazio em seu rosto.

— É — disse ela após um momento. — Acho que sim.

Ela parecia estar tão mal quanto Pursena, se não estivesse pior. Suas roupas estavam rasgadas e esfarrapadas, um de seus ombros estava sangrando profundamente deixando a neve vermelha, além de que seu rosto estava inchado por todos os socos que tinha levado. Havia um pouco de sangue saindo de sua boca. Parecia ser mais um corte dentro da boca do que uma ferida interna.

— Você não está muito sexy agora, sabia?

— Eu também não estou me sentindo sexy.

Olhando de perto, percebi que a roupa da Linia não estava mais cobrindo adequadamente certas partes de sua anatomia. Tirei o meu casaco e coloquei em cima dela. Não queria me distrair nessa hora. Ficou um pouco frio sem ele. Com sorte, o resfriado da Nanahoshi não pioraria.

— Valeu, Chefe.

Linia moveu lentamente as suas mãos, que estavam tremendo, e as juntou debaixo de sua cabeça. Ela também cruzou as pernas. Parecia que estava deitada em um sofá, ao invés de um monte sujo de neve.

— Cara… acho que eu perdi, miau.

Suas palavras flutuaram pelo ar e se dissiparam, como uma nuvem de vapor.

— Mas foi uma luta e tanto — falei.

— Me poupe disso, Chefe. Eu ouvi os seus comentários. Você parecia estar se divertindo bastante.

Ela tinha razão. Talvez eu não tivesse levado isso muito a sério.

Mas, ainda assim, a luta delas tinha sido, de fato, interessante. Era quase como… uma luta feroz entre gatos? Ou uma batalha ardente entre dois candidatos ao título?

É… Na verdade, vamos tentar evitar as metáforas de boxe. Provavelmente só a irritaria…

— Pelo menos eu te fiz rir um pouco para lembrar de mim, né?

— Desculpa. Estou arrependido.

— Tá tudo bem. Tenho certeza de que só pareceu uma rixa maluca para quem via, não foi? Além disso, a vida se trata de se divertir mesmo.

Enquanto falava isso, Linia fez careta. Ela se virou para lamber um corte feio em seu braço.

— Você também não vai querer a magia de cura? — perguntei cuidadosamente.

— Bom, falando a verdade, eu não gosto de carregar as lembranças das minhas derrotas… mas, é, acho que vou abrir uma exceção para essas. Talvez eu possa me gabar sobre elas daqui a alguns anos.

Eu também já tinha deixado algumas cicatrizes em alguns guerreiros do povo-fera. Me perguntei se algum deles as mostrou com orgulho.

— …

Linia ficou em silêncio e olhou para o céu.

Eu também olhei para cima. Era um dia cinza; um céu típico dos Territórios Nortenhos. Teríamos mais neve durante a noite, sem dúvidas.

— O que planeja fazer agora, Linia?

— Hmm. O que quer dizer?

— Bom, você disse algo sobre viver da maneira que quiser. Tem algo em mente?

— Sim, claro. Pensei em viajar um pouco por aí e, depois, abrir a minha própria loja.

Era… bem difícil de imaginar a Linia conseguindo manter um negócio aberto. Eu conseguia ver ela como uma aventureira, talvez, mas…

— Espero que tenha pensado em um plano.

— Claro que sim!

Bom, ela parecia confiante, pelo menos. Com um plano conseguiria, né?

Eu ainda não confiava muito nisso. Tinha essa sensação de que ela iria se enrolar no meio de ideias mal pensadas e acabar entrando em problemas.

— Do jeito que pensei, vou rolar em dinheiro daqui a, mais ou menos, cinco anos.

— Hmm… Ah, tá. Mas só para deixar claro, você pode vir pedir ajuda para mim, caso precise.

— Miahaha. Quando eu ficar rica, vou deixar você pegar meu dinheiro emprestado!

Sem considerar que ela tinha acabado de perder o duelo mais importante de sua vida, Linia não parecia estar muito triste. Talvez estivesse feliz em ter se libertado das responsabilidades da tribo Doldia, pelo menos por enquanto. Ou talvez só estivesse fingindo.

De toda forma, parecia que ela tinha aceitado que esse capítulo de sua vida tinha chegado ao fim.

Linia e Pursena não se despediram dos outros.

Após o duelo foram direto para o dormitório, uma um pouco depois da outra. Lá, desinfectaram e enfaixaram suas feridas, pegaram suas malas e deixaram o campus em horários diferentes.

Observei Linia enquanto partia, e Nanahoshi fez o mesmo com Pursena.

Nenhuma delas queria conversar muito. Elas nos pediram para dizer adeus para Cliff e Zanoba por elas, mas somente isso. Nossos amigos provavelmente ficariam tristes por não poder se despedir.

Pursena presumidamente voltaria direto para a Grande Floresta, onde iria treinar exaustivamente para assumir a liderança da tribo. O futuro de Linia era mais incerto, mas eu queria acreditar que ela encontraria seu próprio caminho.

Parecia que elas estavam decididas a nunca mais se ver. Isso era uma pena, se levarmos em conta o quão próximas eram. Ainda assim, não pude deixar de admirar suas decisões e determinações.

Fugindo um pouco do assunto, mas naquela mesma noite escutei uma conversa na rua.

Alguém disse: “É, eu vi duas mulheres do povo-fera, totalmente enfaixadas, discutindo algo na parte de trás da carruagem.”

Elas provavelmente negligenciaram a checagem de horários das carruagens que levavam para fora da cidade e acabaram na mesma.

Isso tudo depois daquela luta dramática.

 

Lendas da Universidade #11: O Chefe sempre acertas as contas.

 


 

Tradução: Jeagles

Revisão: Guilherme

 

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