Agendamos a festa surpresa de aniversário para um dia em que Norn ficaria em casa e Roxy não estivesse trabalhando. Sylphie normalmente estaria trabalhando como guarda-costas, mas Ariel lhe deu um dia especial de folga.
Todos os preparativos foram concluídos; agora era apenas uma questão de finalização.
Comecei as coisas chamando Norn, Aisha e Roxy para a sala de estar.
— Ei, planejei algumas coisas para o dia de hoje. Que tal vocês três virem?
— Ir junto… para quê?
Minhas irmãs inclinaram a cabeça com curiosidade.
O objetivo principal dessa saída, é claro, era tirá-las de casa por algumas horas para que minhas cúmplices pudessem pegar os presentes e preparar toda a comida.
— Claro, Rudy. Eu ficaria feliz.
Havíamos planejado tudo isso com antecedência, então Roxy não perdeu tempo em concordar com a proposta.
Mal sabia ela que também iria ficar surpresa! Muahaha!
— Ei, mãe, posso ir? — perguntou Aisha, virando para a mãe. — Eu ainda tenho trabalho a fazer.
— Você foi convidada pelo próprio Mestre Rudeus. Claro que pode ir — respondeu Lilia. Aisha acenou com a cabeça, feliz.
Norn, por outro lado, não respondeu de imediato. Ela estava olhando para Sylphie com uma expressão ansiosa no rosto. Depois de um momento, ela se virou para mim e falou:
— Você convidou a Roxy, e a Sylphie?
— Hã?! — disse Sylphie, balançando a cabeça em nossa direção. Ela parecia um pouco nervosa com essa mudança repentina na conversa. — Uh, bem, sabe… eu tenho que cuidar da Lucie!
— Vocês duas não saíram com Rudeus outro dia? Está realmente bem com isso?
— Uhhh… — Sylphie olhou para mim incerta. Mas então ela olhou para Roxy e pareceu ter algum tipo de ideia. — N-Na verdade, isso foi tudo ideia minha.
— Hein? Como assim?
— Bem, Norn… você ainda não gosta da Roxy, não é?
— Acho que não.
— E não é muito divertido ter esse tipo de tensão em casa. Achei que ajudaria se vocês passassem um tempo juntas, sabe? Não custa nada nos conhecermos melhor.
— Ah, agora entendi… Então tá bom.
Norn parecia convencida, mas Aisha parecia um pouco duvidosa. Afinal, ela já se dava bem com Roxy. Eu a tinha visto levando chá e lanches para Roxy quando ela estava acordada até tarde se preparando para as aulas do dia seguinte.
Depois de alguns minutos, Aisha pareceu decidir que esses detalhes não eram muito importantes. Ela deu de ombros ligeiramente e sorriu para si mesma.
Por favor, não me diga que ela já descobriu…
— Então é isso — disse Sylphie com um sorriso satisfeito. — Vocês vão se divertir, tá?
— Tá! — responderam minhas irmãs.
— Agradeço sua consideração — acrescentou Roxy.
Foi um pouco difícil, mas conseguimos superar o primeiro obstáculo.
Os preparativos para esta festa demorariam um tempo.
Havia apenas duas pessoas para pegar os presentes, cozinhar e arrumar todas as decorações. Para dar a elas um pouco de espaço para respirar, meu objetivo era passar o tempo com as meninas até o início da tarde.
No entanto, eu não podia correr o risco de levá-las para o Distrito do Comércio. Havia uma chance de que encontrassem Sylphie enquanto ela pegava os presentes.
Ainda faltava o Distrito de Hospedagem, Distrito de Oficinas e a própria Universidade, mas eu tinha uma ideia diferente em mente.
— Pesca, hein…?
Nós quatro estávamos fora da cidade. Estava quieto o suficiente para ouvir o pequeno riacho abaixo de nós gorgolejando suavemente. E a água estava clara o suficiente para ver os peixes.
— Sim. Parece uma boa atividade para melhorar o vínculo familiar, não acha?
— Entendi. Então Sylphie não estava inventando aquilo…
Conversando baixinho com Roxy, comecei a desempacotar o equipamento de pesca que tinha preparado para esta expedição. Infelizmente não tínhamos nada tão conveniente quanto um carretel ou isca. Estávamos com simples varas de madeira, com linhas feitas de seda trançada de aranha gigante. Também tínhamos boias feitas de papo de Sapo Radiata, anzóis de ferro e minhocas como isca.
— Eu nunca pesquei, sabe — disse Norn um pouco nervosa.
— Nem eu! — disse Aisha. — Mas sempre tive vontade.
Apesar da inexperiência, as duas não hesitaram em pegar seus equipamentos. Aisha rapidamente colocou a boia e o anzol em sua linha, pôs uma minhoca e saiu correndo em direção ao riacho. Em segundos, ela jogou sua linha na água com um movimento exagerado.
Fiquei um pouco impressionado, apesar de tudo. Esta era realmente a primeira vez que ela fazia isso?
— Hmm, Rudeus? Como faço para colocá-los direitinho?
Norn, por outro lado, estava olhando para a boia e o gancho com uma expressão incerta.
— Heh heh. Também não sei! Nunca pesquei na minha vida, sabe.
Em minha encarnação anterior, eu era um tipo de cara muito fechado. Nunca fui e nunca tive interesse em pescar. E, claro, nunca senti necessidade de tentar neste mundo também. Quando eu queria peixes, podia pegar facilmente congelando a água.
— Você gostaria que eu te ensinasse, Norn? — ofereceu Roxy, hesitante.
Parecia que ela tinha um pouco de experiência. Que sorte. Também poderíamos ter ido pelo caminho de tentativas e erros, mas aprender com alguém que sabia o que estava fazendo era mais rápido.
— Sim, por favor.
Norn acabou aceitando a oferta de Roxy, mas ela parecia um pouco confusa. A garota era uma seguidora fiel da Igreja Millis. Tive de presumir que ela se sentia um pouco estranha perto de Roxy, já que era minha segunda esposa.
Ainda assim, não parecia que ela a odiava. Não em um nível pessoal, pelo menos.
— Tudo bem, agora tenta…
— Assim?
— Isso mesmo. Você é boa nisso.
— Obrigada…
Roxy a ensinou com paciência e educação. Norn retribuiu o favor ouvindo com atenção.
Parecia um bom sinal. Eu realmente queria que elas se dessem bem.
Depois disso, nós quatro nos sentamos ao longo do riacho.
A experiência de Roxy era bem clara. Sentada em uma pequena “cadeira” que eu fiz com minha magia da Terra, ela cerrou os olhos cuidadosamente na água, segurando sua vara firmemente em uma das mãos. Quando ela sentiu a menor vibração, puxou a vara rapidamente.
Eu ainda não a tinha visto pegar nada particularmente grande, mas ela pegou mais peixes do que nós todos.
Sua pose e concentração me lembrava um monge meditando sobre os mistérios do universo.
— Você realmente é boa nisso, Srta. Roxy.
— Bem, sim. Quando eu estava sozinha na estrada, era importante encontrar minha própria comida sempre que podia.
— Pensando bem… Ruijerd costumava pescar muitos peixes quando viajávamos juntos.
— Oh, ele também era pescador?
— Não, ele usava a lança. Ele a lançava na água e, logo em seguida, puxava de volta com um peixe em todas as três pontas…
Norn se sentou ao lado dela, e elas ficaram conversando por um tempo. A conversa ainda era um pouco hesitante, mas parecia um progresso.
— Ah! Norn, você fisgou um. Puxe.
— Hein? O qu… T-Tá! Ah…
— Não se preocupe; isso acontece o tempo todo. Vamos colocar outra isca.
Norn estava tendo problemas para se concentrar em sua tarefa. Não era o primeiro peixe que ela deixou escapar.
Ainda assim, sua expressão era alegre. Ela parecia estar gostando de sua conversa com Roxy.
— Hee hee hee. Qual é o problema, Rudeus? Você não pegou nada.
Por outro lado, Aisha já estava dando resultados impressionantes. Ela perdeu algumas iscas, mas também fisgou três peixes.
— Não se esqueça da nossa aposta! O perdedor tem que fazer tudo o que o vencedor disser, não importa o que aconteça!
Um pouco antes, eu tolamente concordei em competir com ela para ver quem pegaria mais peixes. No momento, minha pontuação era um grandessíssimo zero. Isso não parecia promissor.
Nós dois éramos novatos, não é? Por que ela estava se dando muito melhor do que eu?
— Beleza, criança. Escolha algo que eu realmente consiga fazer, nada de coisas impossíveis.
— Hmm, o que devo escolher? Talvez eu faça você me abraçar a noite toda enquanto sussurra como eu sou bonita. Ah, ou você poderia me ensinar algumas das coisas que você faz com Roxy e Sylphie…
— Nada muito adulto, por favor. Não quero que Papai fique bravo comigo.
— Ei! Não é justo trazer o Papai à tona!
Eu não estava muito preocupado, para ser sincero. Apesar de todas as suas provocações ultrajantes, ela provavelmente se contentaria em me pedir uma bugiganga um pouco cara.
Então… perder para minha irmã era mesmo um problema? Não era um pouco cedo para ela estar me superando assim?
De fato era. Eu tinha minha dignidade como chefe desta família e precisava defendê-la!
Sim, era bom ser um irmão mais velho amado. Mas era melhor ser um irmão mais velho temido!
— Tudo bem, Aisha. Agora vai ser sério.
— O quê? Você estava pegando leve comigo?
— Isso mesmo. De agora em diante, vou usar meu Olho Demoníaco!
— Heeeey! Isso não é justo!
Reclame o quanto quiser. É disso que sou realmente capaz! Ao olhar um segundo no futuro, irei destruir todos os peixes deste riacho!
Com um pequeno sorriso, ativei meu Olho Demoníaco da Previsão e encarei minha boia.
Nenhum movimento.
Nenhum movimento.
A boia estremeceu ligeiramente.
— Peeeeeixe!
Graças ao meu menu de treino regular, meus braços eram fortes, e acostumados a balançar as coisas para cima e para baixo. E agora eu tinha o poder adicional de minha mão artificial. Nenhum peixe conhecido pelo homem poderia resistir a mim.
Com um movimento rápido e violento, tirei minha presa da água.
— Sim! É um grande…
Minha presa sendo, neste caso, uma bota grande.
— …
A maioria das pessoas deste mundo usava sapatos e botas, é claro. E esse riacho estava conectado a um rio que passava pela movimentada Cidade Mágica de Sharia.
Os habitantes da área usavam esse rio regularmente para lavar suas roupas ou encher seus baldes de água. Os aventureiros também faziam uso dele em toda a sua extensão. Provavelmente alguém caiu e perdeu as botas.
Assim sendo…
— Rudeus…
Aisha estava olhando para mim com piedade nos olhos.
Hmm. Talvez eu precisasse mudar a maneira como eu via isso. Essa coisa não era uma bota. Não era mesmo!
Sim, estava começando a parecer algo totalmente diferente. Talvez até um peixe? Possivelmente! De certa forma, parecia um. E isso não era bom o suficiente? Isso não o tornava um peixe, em certo sentido?
Claro que sim. Era um peixe!
Acenando para mim mesmo, joguei a bota no balde.
— Tudo bem, Aisha, já foi um. Eu vou te alcançar logo, logo!
— O quê?! Era uma bota, Rudeus!
— Tenho certeza de que parecia assim para você, mas na verdade é um organismo parecido com uma bota que vive na água. Eu chamo de… Peixe-bota.
— Nem para ser criativo! Isso não conta, tá? Realmente não conta!
Alcançando o balde, Aisha agarrou meu prêmio e o jogou de volta na água.
— Nããão! — Você não deve jogar lixo no rio!
Bem, que assim seja. Vamos dizer que capturei e liberei. Essa bota ainda era um filhote, não é? Agora que o devolvemos ao seu habitat natural, ele nadará até o oceano e voltará bom e gordinho.
Isso. Vamos com isso.
— Ah! Hngh… sim! Esse é o quarto!
Enquanto eu refletia sobre essas questões, Aisha pescou seu quarto peixe do dia.
Talvez eu não fosse vencer essa batalha, afinal.
Sinto muito, Sylphie, Roxy… Acho que vou ser o brinquedo da minha irmã mais nova esta noite…
— É isso aí, Norn! Desse jeito mesmo! Puxe! Puxe!
— Ugh… hnngh… Ah!
— Continue! Agora com cuidado!
As coisas estavam ficando barulhentas do meu outro lado. Olhei bem a tempo de ver Norn pescar um peixe.
Também era grande, do tamanho de uma carpa colorida.
— Sim! Eu consegui! Peguei meu primeiro peixe!
— Uau, olha só! É um dos grandes!
Norn comemorou com um grande sorriso no rosto e Roxy bateu palmas de alegria.
Era um momento comovente. Deixando todo o resto de lado, fiquei feliz por termos feito isso.
Nós continuamos por mais algumas horas, mas assim que o sol começou a se pôr, era hora de encerrar nossa expedição.
— Beleza, pessoal. Acho que é hora de voltarmos para casa.
Porém, minhas irmãs não aceitaram esse anúncio muito bem.
— O quêêê? Já?
— Eu só queria pegar mais um…
O tempo voa quando você está se divertindo. Eu poderia entender como elas se sentiam. Ainda assim, a verdadeira diversão viria um pouco depois.
— Desculpe, garotas. Monstros podem começar a aparecer ao redor quando escurecer.
— Você poderia explodi-los para nós!
— Também temos a Srta. Roxy aqui…
Era um ponto justo. Os monstros nesta área não eram fortes, mesmo em grupos. Com Roxy e eu presentes, era difícil imaginar um cenário em que Norn ou Aisha pudessem se machucar.
Mas isso não era motivo para ceder às suas exigências. Se eu cedesse, passaríamos a noite toda ali.
Mesmo se eu não tivesse planejado nada para a noite, já era hora de arrastá-las para casa.
— Desculpe, mas a resposta é não. Podemos voltar outro dia.
— Hmph. Você só está bravo porque não pegou nenhum.
— Ei, qual foi. Se eu ficasse sério, poderia pegar todos os peixes que eu quisesse…
Isso era verdade, em certo sentido. Talvez eu não fosse o melhor com uma vara, mas poderia eletrificar a água ou provocar uma explosão subaquática!
Eu definitivamente não estava sendo um mau perdedor.
— De qualquer forma, já decidi. Vamos indo.
— Tuuudo bem…
— Tá bom.
Antes de sairmos, parei por um momento para congelar com minha magia os peixes que pegamos. Poderíamos levá-los para casa para mais tarde. Eu pensei em grelhá-los para um lanche no caminho de volta, mas deveria aparecer em uma festa com fome, certo? O peixe poderia esperar um ou dois dias.
Enquanto voltávamos para casa, Norn e Aisha tagarelavam alegremente, gabando-se de quantos peixes tinham pescado e do tamanho deles. Roxy e eu seguimos logo atrás delas.
Roxy também tinha uma expressão satisfatória no rosto. As coisas vinham sendo estranhas entre ela e Norn há muito tempo, mas hoje parecia um grande passo na direção certa.
— Chegamos!
— Parabéns!
No instante em que colocamos os pés dentro de casa, fomos recebidos por uma explosão de aplausos. Uma ovação esparsa, mas entusiástica. Sylphie, Lilia e Zenith estavam paradas no saguão, esperando por nós.
Zenith não bateu palmas, mas acho que vi uma sugestão de sorriso em seu rosto.
— Hein?!
Norn soltou um pequeno grito e Aisha congelou completamente.
Tomando isso como nossa deixa, Roxy e eu nos juntamos aos aplausos.
Norn se virou para olhar para nós, com os olhos arregalados de surpresa, e murmurou “Hein?” mais uma vez.
Ela claramente ainda não tinha entendido o que estava acontecendo.
— Tudo bem, pessoal! Vamos para a sala de jantar!
Dando um passo à frente com um sorriso, empurrei uma Norn confusa e uma Aisha duvidosa para frente.
A sala de jantar estava cheia de decorações simples, mas atraentes. Não havia bandeiras grandes penduradas ou algo assim, mas tínhamos algumas flores muito bonitas nas paredes, e havia velas brilhando por todo o lugar.
A mesa estava coberta com uma toalha branca muito bonita, com pratos e vasos de flores em cima dela. As bebidas já tinham sido servidas, mas ainda não havia comida. Provavelmente colocariam na mesa mais tarde.
Na outra extremidade da mesa, o assento de honra habitual, tinha duas cadeiras colocadas uma ao lado da outra. Levei Aisha e Norn até elas e lhes ofereci seus lugares.
— Espera, mas… Hã? O que está acontecendo?
Norn ainda parecia completamente perplexa.
— Ahaha. Então era disso que se tratava…
Aisha, por outro lado, estava sorrindo maliciosamente. A garota era esperta. Ela devia ter percebido que estávamos tramando algo.
Depois que minhas irmãs se sentaram, Lilia ajudou Zenith a se sentar. Sylphie e Roxy seguiram o exemplo.
Depois que todas se acomodaram em seus lugares, limpei minha garganta ruidosamente e comecei a falar:
— Já se passaram sete anos desde o Incidente de Deslocamento. Não foi fácil, nem um pouco, mas nossa família finalmente está junta novamente. Perdemos nosso pai, sim, e as memórias de nossa mãe podem nunca mais voltar. Mas não acho que o Papai ficaria muito satisfeito se ficássemos deprimidos para sempre. — Fiz uma pequena pausa em que olhei para todas. — E é por isso que quero que tentemos sorrir novamente. Quando pudermos, pelo menos. Pode até parecer desrespeitoso, de certa forma… mas o Papai queria que a gente fizesse uma festa assim que chegássemos em casa, sabe? Acho que essa comemoração é algo que devemos a ele.
Tudo isso foi ideia de Paul, em certo sentido. Ele até nos mandou uma carta.
Era triste que ele não estivesse conosco para ver isso acontecer. Pensar nisso fez meu peito doer. Mas para o bem dele, assim como o nosso, eu realmente queria que nos divertíssemos.
Norn e Aisha tinham toda a vida pela frente. Eu não queria que elas ficassem presas ao passado para sempre. Claro, dar uma longa palestra sentimental não era a maneira certa de definir o clima que eu queria. Poderíamos poupar nossas memórias dos tempos difíceis e dolorosos que passamos, os momentos mais sombrios que enfrentamos ao longo da vida. No mínimo, pode ajudar a saber: Já passei por coisas piores antes.
Agora, era hora de olhar para o futuro. E então, parei de falar e levantei meu copo.
— Saúde, pessoal!
— Saúde!
Todas, exceto Norn, que ainda estava olhando para mim com os olhos arregalados, silenciosamente levantaram seus copos. Aisha estava sorrindo ainda mais amplamente do que antes. Ela obviamente tinha descoberto tudo.
Em qualquer caso, eu não tinha certeza de como tinha ido tudo. Meu objetivo era estabelecer um tom alegre, mas acabou soando um pouco… emocional.
Isso não era nada bom. Eu precisava de todo mundo sorrindo.
— Sylphie!
— Ah, certo.
Chamei o nome de Sylphie e ela se abaixou para pegar algo debaixo da mesa. Isso era bom. Estávamos na mesma sintonia.
Um momento depois, Sylphie reapareceu com duas caixas grandes, ambas lindamente embrulhadas. Ela passou uma para Roxy. Elas prontamente se levantaram de seus assentos, caminharam até a cabeceira da mesa e entregaram as caixas, Roxy para Norn e Sylphie para Aisha.
— Feliz décimo aniversário, Norn e Aisha!
— Feliz aniversário!
Nenhuma delas pareceu entender a princípio. Nem mesmo Aisha.
— Hmm, mas… já temos onze, sabe?
Esta devia ser a primeira vez que vi aquela garotinha inteligente parecer totalmente confusa. Ela podia ter descoberto o plano geral, mas claramente não esperava um presente.
Essa era exatamente a expressão que eu esperava ver.
— Sim. Nós não comemoramos seu décimo aniversário, não é? Eu sei que é um pouco tarde para comemorar, mas Rudy disse que um ano a mais não tem problema.
— Ele disse…?
Aisha agarrou a caixa com força em seus braços. Depois de um momento, olhou para Lilia, que sorriu e acenou gentilmente com a cabeça.
Um grande sorriso de felicidade se espalhou por seu rosto quando ela se virou para Sylphie.
— Podemos abrir?!
— É claro que podem.
Aisha estava abrindo antes mesmo de Sylphie terminar a frase. Norn, que estava olhando de sua caixa para mim com uma expressão atordoada no rosto, rapidamente seguiu o exemplo.
No início, elas tentaram vigorosamente, prontas para rasgar o papel de embrulho. Mas então as duas pararam, reconsideraram e começaram a ir mais devagar. Elas desamarraram as fitas e abriram o papel com cuidado, tentando não rasgá-lo.
Era um pouco estranho como os seus movimentos estavam sincronizados. Elas não eram muito parecidas, mas às vezes poderia realmente dizer que eram irmãs.
— Oooh! É um par de botas novas! O que você ganhou, Norn?!
— Olha, Aisha! Eu ganhei um casaco!
As duas compararam seus presentes alegremente. Era bom ver que tínhamos feito um trabalho decente ao escolher eles.
— Minha nossa. Vocês duas ganharam presentes muito bons, não é?
Lilia, que estava assistindo de lado com um sorriso, se aproximou das duas com Zenith ao seu lado.
— Ah, Mamãe! Olha isso!
Norn abriu o casaco para mostrar a Zenith, sorrindo de orelha a orelha. Ela não reagiu de acordo, é claro. Isso me fez sentir um pouco para baixo, apesar de tudo.
Zenith sempre foi o tipo de pessoa que ficava toda agitada com esse tipo de coisa. Eu ainda me lembrava de como ela ficou entusiasmada na minha festa do quinto aniversário e seu orgulho ao me presentear com um livro cuidadosamente escolhido. Se não fosse por sua condição, provavelmente estaria gritando de animação com sua filha. Vê-la tão inexpressiva me deixou triste.
Claro, se ela se recuperasse e soubesse que Paul estava morto, não havia garantia de que sorriria como costumava. Ainda assim, era doloroso vê-la assim, nem triste, nem feliz, apenas sem emoção.
Mas assim que esse pensamento passou pela minha cabeça…
Zenith sorriu.
— O qu…?
A expressão desapareceu rapidamente. Só esteve lá por um instante. Meus olhos estavam me pregando uma peça?
— Ela… sorriu?
Não. Todo mundo viu.
Lilia, Aisha, Sylphie e Roxy estavam olhando para Zenith com surpresa.
— Mamãe…?
E Norn, a quem o sorriso fora direcionado, estava prestes a desabar em lágrimas.
— …
Zenith se abaixou e acariciou a cabeça de Norn, então fez o mesmo com Aisha. Seus movimentos estavam ainda mais suaves do que o normal. Ela estava feliz, feliz em ver suas meninas crescendo.
— Ah, Senhora… estou tão feliz…
Lilia colocou suavemente os braços em volta dos ombros de Zenith. Seu rosto estava mais emocionado do que nunca. Com sua expressão vazia de costume, Zenith estendeu a mão e acariciou suas mãos. Lilia teve que morder o lábio para não chorar.
Depois de levar Zenith para seu assento, Lilia voltou para oferecer a Norn e Aisha outro presente.
— Isto… é para vocês duas, meu e da Srta. Zenith.
Era um conjunto de lenços, lindamente bordados com desenhos florais, um para cada uma delas.
— Muito obrigada, Srta. Lilia — disse Norn, aceitando o dela. — É lindo.
Aisha, por outro lado, hesitou. Provavelmente teve algo a ver com ganhar o mesmo presente que sua irmã.
— Hmm, Mamãe? Tem certeza de que também posso ficar com um?
— Sim, tenho certeza. Você também é filha de Paul, sabe.
Isso parecia… uma mudança. Lilia não passou anos martelando na cabeça da filha as palavras você é apenas uma criada?
— Claro, eu ainda espero que você mostre a Madame Norn e Mestre Rudeus o respeito que merecem. Estamos entendidas?
— Tá, Mamãe…
Hmm. Acho que a Lilia ainda é a Lilia.
Mesmo assim… apesar do que ela estava dizendo, eu não a tinha visto importunando muito a filha ultimamente. Nem mesmo sobre seu tom de fala.
Eu tinha que presumir que ela mesma tinha pensado um pouco nas coisas nos últimos meses.
Quando Lilia voltou ao seu lugar, Zenith estendeu sua mão para colocá-la em seu ombro.
— Senhora…
— …
Lilia apertou aquela mão na sua e suavemente falou a palavra “Obrigada”.
Quase parecia que tinham acabado de ter uma conversa sem palavras.
Roxy parecia particularmente comovida com isso.
Enquanto eu estudava seu rosto, alguém puxou minha manga por trás.
— Hm?
Olhei para trás e descobri que era Sylphie. Ela estava carregando uma terceira caixa, aquela que não era para minhas irmãs. Certo, não posso esquecer a próxima parte…
— Roxy.
Quando chamei seu nome, Roxy se virou… e piscou surpresa ao ver Sylphie parada ao meu lado com a caixa.
— Uh… pois não?
Sylphie falou antes de mim:
— Este é nosso presente para você, Roxy.
— O qu… Uh, por quê? Para quê?
— É um presente de casamento. Parabéns! — disse Sylphie, entregando a caixa para Roxy antes que ela pudesse protestar. — Vá em frente, abra.
Roxy obedeceu. E quando ela viu o chapéu como seu presente, arregalou seus olhos o máximo possível.
— Hmm… Sylphie? Rudy? Isto…
— Bem-vinda à família, Roxy. Vamos tentar o nosso melhor para ser como Zenith e Lilia, viu?
O sorriso no rosto de Sylphie enquanto ela dizia essa frase só poderia ser descrito como angelical.
Diante de seu poder esmagador, Roxy mordeu o lábio, olhou ligeiramente para baixo e apertou o chapéu contra o peito. Depois de um momento, ela conseguiu falar as palavras
— O… obrigada, Sylphie.
Eu podia ver as lágrimas brilhando em seus olhos.
Eu não ouviria sobre isso por um bom tempo, mas de acordo com Roxy, este foi o momento em que ela sentiu que Sylphie realmente a aceitou em nossas vidas.
Com o evento principal atrás de nós, o resto da festa correu bem.
Em primeiro lugar, Lilia fez um grande bolo. Era um tipo de bolo fofo, mesmo que não houvesse creme. Em vez disso, havia frutas secas no recheio. A massa em si tinha um lado ligeiramente amargo, mas a doçura das frutas equilibrava lindamente.
Eu já tinha comido bolos assim antes, no Reino Asura. Fizeram um no meu quinto aniversário, e eu parecia me lembrar dele sendo servido na festa do meu décimo também.
Ah, isso desperta algumas memórias… Como será que Eris está?
Onde quer que ela estivesse, eu tinha que presumir que estava alegremente abrindo caminho pela vida. Será que não teria até casado, igual eu?
Nah, provavelmente não. Não havia homem no mundo que pudesse lidar com aquela garota.
Quando perguntei a Lilia sobre o bolo, ela explicou que era um doce tradicional de Asura. Muitas famílias faziam um sempre que havia algo que valesse a pena comemorar. Paul odiava o sabor, então quase nunca fazíamos um. Era um pouco divertido ouvir que o homem era um comedor exigente na sua idade, mas isso era a cara dele.
Sylphie ajudou com este bolo e parecia confiante de que poderia fazer um sozinha na próxima vez. Norn parecia estar realmente gostando, e eu meio que também gostei.
Porém, Aisha não era tão fã. Eu podia vê-la tirando os pedaços de fruta enquanto comia seu pedaço de bolo. Lilia a repreendeu um pouco, mas enfraqueceu ao murmurar “Isso me lembra o Mestre Paul” com um sorriso no rosto.
Depois de um tempo, Aisha começou a se aninhar em mim e me implorar para comer o resto para ela. Mas decidi passar o trabalho para Roxy, que aparentemente gostava de doces. Eu estava meio que esperando que elas acabassem comendo juntas, ou algo do tipo.
Infelizmente, Roxy levou sua tarefa um pouco mais a sério. Acho que ela pode ter entendido mal o que eu estava procurando.
— Ouça com atenção, Aisha. Você é uma garota muito sortuda, então pode ser difícil para você entender isso… mas às vezes, quando você está realmente desesperada, pode precisar comer tudo o que puder. Até mesmo um escorpião venenoso.
— Ick! Uh… certo.
Minha pobre irmãzinha acabou levando um sermão.
Isso me lembrou de uma conversa semelhante que tive com Ghislaine em algum momento, na verdade. Talvez fosse algo pelo que todos os aventureiros já passaram.
Eu mesmo tinha tolerado uma comida nojenta em minha jornada pelo Continente Demônio, é claro, mas tinha quase certeza de que nunca recorri a comer monstros venenosos. Talvez eu também tenha sido “afortunado”.
— Este bolo, por outro lado, é doce e delicioso. Seria errado não comer tudo. Coma, por favor.
— Tudo bem.
O tom de Roxy não era muito áspero, mas seus argumentos eram intensos o suficiente para que Aisha realmente parecesse um pouco assustada, pela primeira vez. Fiel à sua palavra, ela começou a comer seu bolo em um silêncio solene.
Parecia a primeira vez que eu a via fazer o que mandavam.
Bem, não. Isso não era justo. Ela me ouvia… na maior parte do tempo.
De qualquer forma. Pensando bem nisso, superar a coisa de comedor exigente provavelmente era importante. Talvez tenha sido eu quem tenha lidado mal com a situação.
Ainda bem que eu tinha alguém por perto para fazer tudo certo. Muito bem, Mestra!
— Então, você não precisa se forçar a terminar se estiver tão cheia que não poderá dar outra mordida. Comerei o resto, se necessário.
Aliás, Roxy já tinha terminado o seu pedaço de bolo. Muito bem, Mestra.
— Estou tão cheia que não posso dar outra mordida!
A resposta de Aisha chegou rapidamente. Bem rápido mesmo.
— Você estava me ouvindo? Coma seu bolo!
Hmm. Talvez isso seja uma coisa boa…
Sylphie e eu não repreendíamos Aisha com muita frequência, e eu sentia que Lilia estava pegando leve com ela por causa disso. Aisha era uma garota muito inteligente, mas tinha apenas onze anos. Ela provavelmente precisava de alguém para dar um sermão de vez em quando.
Em todo o caso. Roxy parecia estar ficando mais amigável com minhas irmãs. As duas também não brigavam mais uma com a outra. E tínhamos acabado de ver a prova de que a condição de Zenith estava melhorando. Senti como se nossa família tivesse se tornado mais próxima.
Em outras palavras, a celebração foi um sucesso. E eu aproveitei cada minuto.
Fiz uma nota mental para dar uma festa ainda mais bem planejada quando as meninas fizessem quinze anos.
Lendas da Universidade #9: O Chefe é misericordioso na pesca.
Tradução: Rlc
Revisão: Guilherme
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