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Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 13 – Cap. 01 – O Novo Trabalho de Roxy

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Certa manhã, fui despertado do sono pelo mais delicioso dos cheiros. Flutuou em minhas narinas enquanto eu dormia, enchendo meu coração de calorosas e maravilhosas emoções.

— O qu…?!

Assustado com este aroma sedutor, abri meus olhos… e me deparei com uma deusa na cama, ao meu lado, dormindo profundamente. Seu rosto angelical estava a centímetros de meus olhos. Eu podia até mesmo ouvir sua respiração suave através de seu narizinho encantador.

— Ooh…

Lentamente saí dos cobertores e então me prostrei, de joelhos, o mais silenciosamente que pude. Juntando minhas mãos, ofereci a ela um breve gesto de súplica. Havia uma pessoa sagrada em minha cama. Era natural que eu mostrasse a devida deferência.

— Espera aí. Isso poderia significar…

Com a mão trêmula, a estendi para puxar o cobertor de cima da deusa. Era exatamente como eu esperava! Por incrível que pareça, seu corpo todo se manifestou ao meu lado!

— Ooooh!

Sua silhueta esguia e enganosamente jovem, sem curvas em certos lugares onde se costumaria esperar. Estava escuro demais para ver direito, mas… será que aquela pinta que vi em seu peito era um símbolo divino? Uma marca auspiciosa, destinada a representar seu terceiro olho?

Não, provavelmente não. Ainda assim, era algo não menos sagrado.

— Gulp…

Seria permitido eu tocá-la? Eu certamente tinha a bênção implícita dos céus. Afinal, a deusa foi até mim. Eu fui o escolhido. O messias. E um messias com certeza tinha a permissão para tocar em sua divindade.

Mas era permitido que eu fizesse isso enquanto seu espírito vagava por outro lugar? Havia o risco de sobrecarregar minha alma com o pecado e me barrar diante dos portões do Nirvana. No momento em que estendesse minha mão, ela poderia inundar o quarto com uma luz brilhante, gritar: “Suma, maldito Mara!” e me purificar até não restar nada.

Que dilema cruel. Eu não pude evitar que meu pequeno apóstolo estivesse se sentindo particularmente fervoroso nesta manhã!

— Hm… Tão frio…

A deusa cegamente agarrou o cobertor, puxou-o sobre ela e se virou para o outro lado.

— Oooh…

Verdadeiramente maravilhoso! Eu podia ver a nuca branca de seu pescoço aparecendo por baixo de seu cabelo azul! Podia ver os chupões que deixei lá na última noite! Verdadeiramente esplêndido. Eu, por ser agraciado com vistas tão belas assim que acordei, era com certeza o homem mais sortudo do mundo.

Ah, é mesmo… Não temos muito tempo pela manhã, temos? Melhor acordá-la…

— Roxy, acorde. Já amanheceu.

— Hm…?

Minha deusa abriu os olhos e se sentou lentamente. Enquanto ela fazia isso, o cobertor escorregou, revelando suas lindas costas nuas. Era o alvorecer de uma nova era.

— Bom dia…

Ela, lentamente, se virou para me encarar, seus olhos nublados de sono. Possuía duas marcas auspiciosas no peito e umbigo bonitinho abaixo delas. E então sua calcinha, que escondia ainda mais delícias espirituais.

Minha estupa estava acumulando carma em uma velocidade perigosa. Nesse ritmo, eu alcançaria a iluminação em pouco tempo.

— Oh…

Talvez percebendo o estado dessas coisas, ela agarrou o cobertor e o puxou para esconder seu corpo. A deusa me abandonou. Todas as luzes desapareceram do mundo. Uma nova era das trevas estava sobre nós…

— Existe uma razão para você parecer tão abatido? — perguntou ela secamente.

— Ah, não é nada. Eu só queria dar uma boa olhada em seu corpo à luz do dia, Mestra.

— De qualquer forma, não acho que tenha muito para olhar…

— Não fale bobagens! Vamos, tire esse cobertor. Aqueça-me com seu esplendor!

— Minha nossa, esta manhã você está mesmo cheio de energia… Bem, tanto faz. Suponho que não haja mais motivos para ser tímida…

Roxy, lentamente, colocou o cobertor de lado. E, assim, a luz voltou a iluminar o meu mundo. Sim, eu vi a luz, e isso era bom!

Também vi a escuridão; chamei isso de Eros, e a luz de Apollo. Ao lado da escuridão, vi um umbigo e coxas. Os chamei de Cupido e Amor. Parecia trabalho suficiente para o primeiro dia.

— Tudo bem, acho que é o suficiente.

Mais uma vez, aquele cobertor amaldiçoado escondeu as glórias da criação de meus olhos. Outra era de trevas estava… Certo, até eu estava ficando com nojo disso.

— Uhm, Rudy?

— Sim, querida?

— Obrigada. Pela noite passada.

Roxy abaixou a cabeça para mim em uma pequena reverência desajeitada.

A noite passada foi algo especial para nós. Foi algo que construímos ao longo de algumas semanas. Concordamos que Roxy se tornaria oficialmente minha segunda esposa, assim que Sylphie desse à luz. Isso tinha acontecido há um tempo. Mas, até o dia anterior, Roxy e eu não tínhamos dormido realmente juntos, desde nossa chegada em Sharia. Parte disso era porque todos estavam ocupados se ajustando à chegada de Lucie, mas eu poderia dizer que Roxy também estava ansiosa com nosso acordo. Isso era compreensível, mas eu queria fazer algo a respeito.

E, então, fiz um esforço especial para aliviá-la. Na noite passada tratei Roxy como uma princesa. Nesta manhã minha mandíbula ainda estava meio dolorida – fiz um trabalho e tanto.

Mas valeu a pena. Ela definitivamente ficou satisfeita.

— Para ser sincera, eu nem sabia que existiam… técnicas assim. — Seus olhos se desviaram dos meus, Roxy corou um pouco.

— Heh heh. Bem, o mundo é vasto, sabe?

Usei todos os truques que conhecia. Ao longo dos anos, desenvolvi uma rotina especial que sempre deixava Sylphie sem fôlego de tanto gemer. Eu também queria sobrecarregar Roxy com prazer, e achei que minhas “técnicas” seriam a melhor maneira para fazer isso.

Porém, não foi exatamente como o esperado. Principalmente porque Roxy fazia perguntas em cada etapa do processo – geralmente algo como “O que eu faço agora?” Ela parecia ser bem aplicada, mesmo na cama. A guiei com breves dicas e explicações, seguidas por extensas demonstrações práticas.

— Ensine-me mais detalhes da próxima vez, certo?

— Você pode só deitar e deixar tudo comigo, Roxy. Vou garantir que você se divirta.

— Não, obrigada. Quero desenvolver minhas próprias habilidades.

Para ser sincero, não era isso que imaginei quando estava planejando as coisas de antemão. Mas, à sua maneira, não foi tão ruim. Sylphie tinha uma abordagem para o sexo, e Roxy outra. Achei as duas muito satisfatórias, então não iria reclamar.

— Ugh. Vou me atrasar para o trabalho…

Com o rosto ainda um pouco vermelho, Roxy virou a cara e saiu da cama. Fiquei exatamente onde estava – sentado formalmente na cama – banhado pela radiância de sua bunda enquanto ela caminhava pelo quarto.

— Hm? O que foi?

— Ah, nada. Absolutamente nada.

Sentindo meu olhar, Roxy olhou para mim. Virei e fingi que estava o tempo todo me vestindo.

— …

Senti o olhar de Roxy em minhas costas. Eu estava começando a pensar em me flexionar para diverti-la quando ela se aproximou e tocou minhas costas.

— Sinto muito, Rudy. Parece que te arranhei. Está doendo?

— Hm?

Quando virei a cabeça para dar uma olhada, pude ver apenas quatro vergões longos e finos em um lado das minhas costas. Doeu um pouco quando os toquei. Roxy os fez em mim ontem à noite. Em outras palavras, eram uma medalha de honra.

Gah, agora ela me fez lembrar da expressão que tinha no rosto enquanto fazia isso… Calma, garoto! Calma! Não temos tempo para suas palhaçadas agora!

— Estou bem, Roxy.

— Espero que não deixem cicatriz nem nada…

O rosto de Roxy brilhava de tão vermelho enquanto ela murmurava essas palavras. O fato de que nem mesmo pensou em curá-los com magia me fez sentir como se também estivesse ocupada lembrando da noite passada. Ergui os olhos e encontrei o olhar dela. Pude ver o reflexo de meu rosto em seus grandes olhos azuis. Um momento depois, ela os fechou, claramente esperando por um beijo.

Eu, porém, não poderia aceitar isso. Acabaríamos de novo na cama dentro de dez segundos. Então me contive em acariciar afetuosamente sua bochecha.

— Acho que está na hora de nos vestirmos, Professora

— Ah. Certo. C-Claro!

Roxy se afastou de mim, parecendo bastante envergonhada, e começou a vestir as roupas íntimas. Me virei e também comecei a me vestir.

— Eu pareço bem, Rudy?

Depois de colocar suas vestes, Roxy ficou na minha frente para que eu pudesse conferir tudo por ela.

— Sim.

— Sério?

— Claro, Roxy. Você está ótima.

Isso, na verdade, era eufemismo. Se existisse alguém estúpido o suficiente para sugerir que Roxy parecia algo abaixo de perfeita, eu teria certeza de fazer essa pessoa enxergar que estava errada.

— Bem, tá bom. É meu primeiro dia de trabalho, sabe? Não posso acabar com tudo!

Roxy fechou a mão em um punho e balançou a cabeça para si mesma. A partir deste dia, ela também estaria indo para a Universidade de Magia… mas como parte do corpo docente. Este também seria meu primeiro dia como estudante do terceiro ano.

Mas, antes de começarmos com isso, provavelmente devo voltar um pouco no tempo.

Vamos falar sobre o dia em que Roxy conseguiu seu novo emprego.

 

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Vários Meses Antes

Passou mais ou menos uma semana desde que voltei da minha jornada. As coisas passaram algum tempo agitadas, mas finalmente estavam começando a se acalmar novamente.

Eu estava relaxando no sofá da sala quando Roxy entrou.

— Rudy, acho que eu gostaria de trabalhar na Universidade de Magia. Estaria tudo bem para você?

— Huh?

No começo eu não entendi muito bem o que ela queria dizer. Roxy olhou para mim com a expressão estável de sempre, fixando seus olhos nos meus.

— Sinto que tenho muito tempo livre, então queria ser um pouco mais útil.

— Hm, então… está dizendo que quer ser professora ou algo assim?

— Bem, é a ideia. — Roxy balançou a cabeça, seu rosto sério e solene.

Isso fazia sentido. Ela parecia um pouco inquieta desde que chegamos.

Roxy não era exatamente o tipo de dona de casa. Ela passou a maior parte da vida como uma aventureira solitária pela estrada, então podia lidar com quase qualquer trabalho quando precisava… mas quando se tratava de serviços domésticos, não era tão eficiente quanto Aisha, Sylphie ou Lilia.

Além disso, já tínhamos duas criadas dedicadas vivendo em casa, então não havia muito para ela fazer.

Às vezes ela ocupava o lugar da minha mão esquerda. Eu ainda não estava acostumado a ser um maneta, e isso tornava as coisas realmente inconvenientes. Ter Roxy por perto para me auxiliar a me vestir e fazer minhas refeições era de grande ajuda.

Ainda assim, não era como se eu precisasse dela por perto o tempo todo. Poderia andar sozinho quando fosse necessário.

— Hmm…

De qualquer forma… Roxy queria ser professora, não é? Ela era uma professora incrível, é claro. Eu sabia, pessoalmente, que bênção poderia ser aprender magia com ela.

Dados seus talentos e sabedoria, mantê-la por perto como nada mais do que uma substituta para a minha mão perdida seria um crime da minha parte. Mantê-la só para mim tinha seus apelos, mas, pelo bem de todas as outras pessoas no mundo, ela deveria estar lá, enriquecendo nossa sociedade com sua presença.

— Tenho certeza de que isso te parece um pouco arrogante, já que não sou nada especial como maga… mas sempre gostei de ensinar o que sei aos outros.

— O quê? Não era isso que eu estava pensando!

Na verdade, de certa forma, fiquei meio ofendido.

Não importa quantos universos paralelos possam existir, nunca existiria um onde eu pensasse que Roxy era arrogante. Eu estava destinado a respeitá-la profundamente, em qualquer que fosse a linha temporal. Essa era a escolha de Steins;Gate!

— Você deveria ir em frente, Roxy. Com certeza. Você será uma ótima professora!

— Ah. Bem, é bom ouvir isso… e acho que um pouco embaraçoso.

Agora que o assunto estava resolvido, não havia motivo para perder tempo.

— Então tá bom. Por que não vamos falar com o Vice-Diretor Jenius?

Roxy ficou surpresa.

— Jenius? Espera, o Professor Jenius agora é Vice-Diretor?

— Isso mesmo. Você conhece ele?

Roxy, por alguma razão, hesitou por um momento com algo parecido com uma careta no rosto.

— Ele era meu mestre, na verdade.

Oh? Jenius então é um Mago de Água de nível Santo? Achei que a especialidade dele fosse magia de fogo… Será que eu estava equivocado?

Mas, bem, não era incomum que um mago estudasse mais de um elemento. Jenius, presumivelmente, também era um Mago de Água, e acabou esquecendo de mencionar isso para mim.

— Receio ter dito algumas coisas muito duras da última vez que o vi. Agora me arrependo disso, mas eu era uma jovem de cabeça quente…

— Não se preocupe com isso, Roxy. O passado é passado.

Pelo que ela me disse, o mestre de Roxy era um tolo orgulhoso e pomposo. Mas o Jenius que eu conhecia era um cara diligente e educado que passava a maior parte do tempo vendo documentos. Ela provavelmente mudou muito com o passar do tempo.

— Mas e se ele usar isso contra mim?

— Vou me certificar de que ele deixe tudo para trás. Quer ele queira ou não.

Eu já devia muito a Jenius por sua ajuda ao longo dos anos, mas, pelo bem de Roxy, não hesitaria em aumentar ainda mais a minha dívida.

— Bem, então tá. Espero que não chegue a esse ponto.

Com isso resolvido, partimos para a Universidade de Magia.

Encontramos Jenius enterrado sob uma montanha de documentos, como sempre.

— Bem… Minha nossa.

Ao ver Roxy, ele nos recepcionou com um sorriso que mais parecia uma careta.

Sorrisos estranhos eram a expressão padrão dele, mas este era definitivamente mais estranho do que o normal.

— Desculpe interromper, Vice-Diretor Jenius. Podemos ter um pouco do seu tempo?

— Claro, Rudeus. Por que não vamos para a outra sala?

Ainda assim, apesar do fato de que estava obviamente ocupado, Jenius prontamente concordou em falar conosco. O homem sempre tinha muito o que fazer, mas nunca me enxotou quando precisei de ajuda. Ele não era um cara de coração ruim.

— Sentem-se, por favor.

Depois de ir para a sala de recepção, Roxy e eu nos acomodamos em um sofá diante de Jenius.

Quando foi a última vez que estive aqui? Depois de meu duelo com Badigadi? Já fazia um bom tempo desde aquilo.

— Primeiro… é bom te ver de novo, Roxy.

— Já faz muito tempo, Mestre Jenius…

— Hm. Você não disse que eu, ah… não era digno desse título?

Roxy deixou seu olhar cair no chão.

— Sinto muito por isso. Eu era jovem e arrogante, suponho.

A conversa começou provisoriamente. Os dois claramente pensavam que uma palavra errada poderia resultar em uma explosão de raiva.

— Acho que isso vale para nós dois. Eu era orgulhoso demais.

Assim que se desculparam, ambos visivelmente relaxaram.

Eles pensavam um no outro como obstáculos por um longo tempo, mas em algum momento deviam ter desenvolvido uma espécie de respeito mútuo. E só então, anos após o ocorrido, foram capazes de admitir isso para si mesmos.

Eu não tinha como saber sobre o que discutiram no passado, mas depois desse tempo todo, pareciam ser águas passadas. Uma ou duas décadas são suficientes para mudar a maioria das pessoas.

Alguns segundos depois, Jenius ergueu a cabeça e pigarreou.

— De qualquer forma… o que posso fazer por vocês?

— Bem, Mestre Jenius… em minhas viagens após deixar a Universidade, acabei entendendo as alegrias e recompensas de ensinar. Eu esperava me tornar uma instrutora aqui, se possível.

— Ora, ora — disse Jenius com a sombra de um sorriso. — Em determinado momento você não considerou os professores “totalmente inúteis”? Você certamente mudou, Roxy.

Ele nos causaria problemas por causa disso?

Ficando um pouco nervoso, lancei um olhar para Roxy, apenas para notar que ela também estava sorrindo um pouco. Os dois talvez tivessem visto algo de engraçado na situação. Me senti um pouco excluído.

Se Jenius tivesse rejeitado a ideia, eu planejava ser bem agressivo em nome de Roxy, mas não parecia que isso seria necessário. Minha presença ali, na verdade, foi provavelmente inútil.

— Mestra, estaria tudo bem se eu deixasse vocês dois resolverem os detalhes?

— Huh…? Hm, certo. Mas não me importo se você ficar por perto.

— Bem, eu estava pensando em visitar um amigo meu.

Roxy e Jenius eram velhos conhecidos. Provavelmente tinham muito a conversar. E, de alguma forma, senti que Roxy poderia relutar em me deixar ouvir muitas histórias embaraçosas de sua juventude.

Isso me deixou um pouco triste, mas me pareceu que sair dali seria melhor.

 

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Fui direto para o laboratório de Zanoba.Falei para ele que poderia ficar fora por dois anos, e consegui voltar em apenas seis meses. Ele provavelmente ficaria surpreso em me ver. O resultado da minha viagem não foi necessariamente bom, é claro, mas não havia motivos para também deixá-lo deprimido. Eu teria que tentar agir o mais alegremente possível.

— Certo…

Bati na porta e entrei sem esperar resposta.

— Notícias de última hora, Zanoba! Estou de volta!

— O qu…?!

Lá dentro, encontrei meu amigo montado em um manequim em tamanho real com uma expressão de êxtase no rosto.

— …

— …

Nós dois nos encaramos em silêncio por alguns segundos.

O que Zanoba estava sentindo neste instante? Que emoções estavam tomando sua mente?

Eu sabia, é claro. Eu sabia muito bem disso.

— …

Desviando o olhar, fechei a porta sem dizer uma palavra.

Na mesma hora, houve um enorme estrondo vindo de dentro da sala. Esperei cerca de dez minutos até que os sons finalmente parassem e uma voz estrangulada chamasse: 

— Estou pronto.

Pela segunda vez abri a porta com tudo.

— Notícias de última hora, Zanoba! Estou de volta!

— Ohhhh! Que esplêndido! Se não é meu amado mestre, Rudeus!

Nós dois nos alegramos com nosso reencontro e nos abraçamos como se nada tivesse acontecido. Não havia motivo para nenhum de nós agir estranho. Éramos melhores amigos. Eu não vi nada. Não aconteceu nada.

— Você realmente voltou rápido, Mestre! Achei que ficaria fora por dois anos!

— Bem, é uma longa história, mas acabamos voltando mais cedo.

— Ah, então você cumpriu uma missão de dois anos em menos da metade do tempo! Você nunca para de me surpreender!

Dei uma olhada ao redor. Estava cheio de bonecos e estátuas, muitos dos quais pareciam ser algum tipo de arte popular. Eu já tinha estado neste quarto muitas vezes, é claro, mas estar de volta era quase nostálgico. Ele com certeza acumulou muitos brinquedos novos enquanto estive fora. A mesa de Julie, em particular, estava virtualmente coberta por bonecos de argila e estatuetas. Ela esteve obviamente trabalhando duro durante minha ausência.

— Onde estão Ginger e Julie?

— As duas estão fazendo compras no momento. Algumas das coisas que pedi não estarão disponíveis até a noite, então levarão algum tempo para retornar.

Entendo. Então é por isso que ele sentiu que seria seguro ter um “encontro” com sua amada amiga boneca.

Esta provavelmente era uma oportunidade incomum para Zanoba. Quase me senti mal por ter interrompido.

— Oh? Mestre, sua mão…

Nesse momento, Zanoba finalmente percebeu que eu voltei sem a mão esquerda. Ele estava olhando para o coto do meu pulso com uma expressão preocupada no rosto.

— Sim, já era. Fui um pouco descuidado.

— Que oponente seria temível o suficiente para prejudicá-lo tanto…?

— Era uma hidra imune à magia.

— Uma hidra? Hmm, entendo. Essa não é uma ameaça pequena.

Quando parei para pensar naquela batalha, tornou-se óbvio que estávamos com pouco dano físico. Se Zanoba estivesse conosco, talvez pudéssemos ter derrotado a hidra com mais facilidade. Talvez devêssemos ter voltado temporariamente para recrutá-lo, ou outra pessoa, para nos ajudar.

Mas não fazia muito sentido ficar pensando nisso.

— Se a besta era resistente à magia, posso ver porque até mesmo você sofreu para derrotá-la.

— Sim. Ah, e mesmo quando conseguimos cortar uma de suas cabeças, ela voltava a crescer. Não foi brincadeira, com certeza.

— Ela também era capaz de se regenerar? Então como conseguiu matá-la?

— Meu… Nosso espadachim cortou suas cabeças e queimei os tocos com fogo.

— Ah, agora entendo. A carne era vulnerável, mesmo a pele não sendo! Devo presumir que você mesmo pensou nessa estratégia, Mestre?

— Acabei lembrando que ouvi dizerem que essa era a melhor maneira de fazer isso.

Pensar nessa batalha não estava fazendo bem para o meu humor. Descobri como matar aquele monstro, mas Paul acabou morrendo. Quanto mais Zanoba elogiava nossa vitória, mais deprimido eu ficava.

— Devo dizer, Mestre, você parece bastante para baixo.

— Bem… nós ganhamos, mas custou muito caro.

— Ah, entendo. — Olhando para minha mão, Zanoba balançou a cabeça para si mesmo. — Por falar nisso, acho que tenho uma ideia.

Sorrindo, ele trotou até sua mesa de trabalho e começou a vasculhar a última gaveta. Alguns momentos depois, puxou um modelo de uma mão.

Talvez essa não seja a maneira correta de descrever. Era um pouco desajeitado para ser uma “mão”. Talvez fosse um protótipo de algum tipo de luva.

— Dê uma olhada nisso, por favor.

— O que é isso, Zanoba?

— Heh heh. É o fruto de um trabalho de cerca de seis meses!

— Oh?

— De fato — disse Zanoba com orgulho, um sorriso significativo no rosto. — Durante sua ausência não fiquei apenas sentado, Mestre.

Verdade. Você também tem feito amor com objetos inanimados… Opa. Não, eu não vi aquilo. Eu não vi nada!

— Então tá. O que é isso exatamente ?

— Observe!

Com o rosto cheio de confiança, Zanoba fechou a mão livre em um punho, depois, mergulhou-a dentro da luva modelo. 

Nesse ponto, ele gritou algo que parecia um encantamento: 

— Terra, seja minha mão!

O modelo de repente começou a se mover. Foi fixado em forma de punho, mas agora seus dedos parecidos com argila se estendiam lentamente. Voltou a fechar, depois abriu e então dobrou os dedos um a um.

Todos esses movimentos eram surpreendentemente suaves e pareciam naturais.

— É um instrumento mágico em forma de mão. Ele se move exatamente como seu portador deseja.

— …

— Segui seu conselho, Mestre, e continuei meu estudo a respeito daquele boneco misterioso com a ajuda de Cliff. Esta é a primeira implementação prática de minhas descobertas.

— …

— Mestre? Er… Mestre?

— Uh, sim. Sinto muito por isso.

Na verdade, fiquei sem palavras por um momento, tudo devido à surpresa. Eu lembrava de ter dito a Zanoba para se concentrar em estudar as mãos e os braços daquele boneco, mas eu certamente não esperava que ele fizesse algo tão impressionante em questão de meses.

— Isso é incrível, Zanoba. Estou sinceramente impressionado.

— Heh heh heh. Ah, mas ainda não cheguei na melhor parte. Ao usar este dispositivo, sou capaz de controlar minha força terrível!

— Espera, sério?

— De fato.

Zanoba assentiu com um sorriso de genuína alegria no rosto. Sua felicidade era evidente e contagiante.

Se Zanoba podia controlar sua força, significava que ele mesmo poderia fazer estatuetas. Finalmente encontrou uma forma de criar as coisas que mais amava. Era difícil para mim imaginar o quanto isso significava para ele.

— Minha mão, volte para a terra.

Com o segundo encantamento de Zanoba, a mão parou de se mover. Pelo visto, poderia ligá-la e desligá-la à vontade.

— Então…

Tirando a mão do implemento mágico, Zanoba o ofereceu para mim.

— Por favor, experimente você mesmo, Mestre. Simplesmente ordene com as palavras “Terra, seja minha mão”, e se tornará uma parte de você. Quando quiser tirar, diga as palavras “Minha mão, volte para a terra.”

— Certo.

Aceitando a mão de Zanoba, a empurrei contra meu pulso esquerdo. A coisa foi feita para ter espaço para uma mão fechada dentro dela, é claro; como me faltava a mão, parecia capaz de cair a qualquer momento.

— Mas não tenho certeza se isso vai ficar…

— Isto não será um problema. Vá em frente, experimente o encantamento.

— Certo, então… Terra, seja minha mão.

No instante em que falei essas palavras, senti o dispositivo drenando mana do meu braço.

Não puxou muita. Mas é claro que não iria, já que Zanoba podia usar.

— Whoa!

Assim que absorveu minha mana, senti o dispositivo pressionar com força contra meu coto.

A sensação de que eu estava “vestindo” algo desapareceu na hora. Em seu lugar, pude sentir a mão artificial que estava agora conectada a mim.

— O que acha…?

Cautelosamente, tentei mover minha mão esquerda. Abri e fechei, estiquei cada dedo, começando pelo polegar e dobrando até o dedo mindinho. A argila de aparência bruta respondeu como se fosse apenas outra parte do meu corpo.

 

 

— Está se movendo! Está se mexendo de verdade!

— Ah, mas isso não é tudo. Por que não tenta tocar em algo?

— Certo…

Estendi a mão para pegar uma pequena estatueta de madeira da mesa mais próxima. Era a estatueta de um cavalo, mais ou menos do tamanho do meu punho.

As pontas de meus dedos artificiais podiam “sentir” seu peso e textura. A sensação era um pouco enfadonha e indistinta – quase como se eu estivesse usando luvas de algodão grossas – mas definitivamente existia.

— Dá para até sentir as coisas com isso? Isso é incrível.

— Mas é claro. Dificilmente se poderia esperar fazer uma estatueta sem a sensação de toque.

Verdade. Era preciso ser bastante preciso com a quantia de força usada ao esculpir algo. Já que Zanoba fez isso com seus próprios objetivos em mente, essa sensação de toque seria uma característica essencial.

Só para ver o que poderia acontecer, tentei lançar um feitiço por meio dos meus novos “dedos”. Uma pequena bola de água apareceu na frente deles. Parecia que minha magia também não enfrentaria problemas.

Zanoba criou mesmo essa coisa em apenas meio ano? Não deve ter sido fácil. Sua paixão por estatuetas deve tê-lo mantido incrivelmente motivado.

— Eu não tinha certeza se você seria capaz de usar sem a mão, mas parece que não há grandes problemas — disse Zanoba com um sorriso satisfeito.

— Sim, se move muito bem. Também posso sentir os dedos. E usar magia.

— Se deseja aumentar sua força, só precisa o alimentar com mais mana. Seu poder aumentará de acordo com isso.

— Ah, sério?

— Claro, se você usasse toda sua mana, imagino que acabaria quebrando devido à tensão. É mais resistente do que uma mão humana normal, mas tome cuidado.

— Bem, vejamos…

Enquanto conversávamos, alimentei o dispositivo com um pouco mais de mana. O peso da escultura em minha mão pareceu desaparecer por completo.

— Uau, isso é realmente…

Antes que eu pudesse terminar minha frase, um estalo agudo soou.

— Ah.

— Aaah!

Arranquei uma das pernas do cavalinho sem querer.

— Aaaagh… Mestre, como você pôde…? — Zanoba olhou para mim com um olhar de reprovação no rosto.

— Sinto muito, Zanoba… Vou te compensar por isso.

— Uggh… era uma escultura tradicional do antigo principado de Giara… Duvido que algum dia eu encontre algo parecido de novo…

— U-Uh, bem, e se eu fizer algo novo para você? Seria apenas uma escultura feita com magia de Terra, mas…

Diante desta oferta, o rosto de Zanoba se iluminou.

— Oooh! Que esplêndido! Sinto muito, não quis pressioná-lo!

Tirando a escultura de mim, ele cuidadosamente a guardou em uma mesa. Talvez estivesse planejando colá-la ou algo assim. Esperançosamente, tudo correria bem.

Zanoba se virou para me encarar.

— Pode ficar com essa mão, Mestre Rudeus. Ainda é apenas um protótipo, é claro, mas tenho certeza de que é melhor do que nada.

— Sério? Tem certeza?

— Com você e Cliff me ajudando, tenho certeza que posso fazer outra de qualidade semelhante em um instante.

Fazia sentido. Afinal, ele ainda estava ativamente trabalhando em sua pesquisa.

Seria bom tornar essa coisa mais sensível. Dessa forma, eu poderia usá-la para carícias recreativas.

Claro, havia inúmeras outras melhorias possíveis. Essa coisa tinha muito potencial. Poderíamos, por exemplo, encontrar uma maneira de transformá-la em várias armas ou ferramentas. Quão útil seria ter dedos que se transformavam em brocas sempre que precisava de uma? Ou uma mão que se transformasse em um canhão mágico sob demanda?

— Zanoba, acho que essa pode ser uma invenção incrível…

— Concordo plenamente! Não quero me gabar, mas acho que é um item bastante esplêndido.

Por mais útil que fosse em combate ou na confecção de estatuetas, havia muitas outras aplicações. Para começar, era uma prótese brilhante.

Neste mundo, era possível recolocar um membro decepado caso fosse um mago com habilidades avançadas de Cura. E feridas que levariam ao hospital no meu antigo mundo poderiam ser rapidamente curadas até mesmo com feitiços básicos.

Regenerar uma parte que faltava no corpo, por outro lado, era extremamente caro. A menos que fosse muito rico, provavelmente não conseguiria. E não existiam muitos magos capazes de restaurar um braço ou perna inteiros. Poderia encontrar alguns no País Sagrado de Millis, mas mesmo por lá eram bem raros. Um simples aventureiro não poderia esperar contratar seus serviços.

Quando um aldeão ou aventureiro comum perdia parte do seu corpo, na maior parte das vezes tinham que se contentar com uma substituição grosseira – algo mais parecido com a perna de pau do Capitão Ahab.

Se começássemos a vender próteses mágicas como essa a um preço relativamente acessível, acabaríamos ajudando muitas pessoas. E ganharíamos muito dinheiro no processo.

Os Curandeiros de Millis podiam não ficar muito satisfeitos com isso, mas, felizmente, estavam do outro lado do mundo, bem longe de nós. Contanto que conseguíssemos o apoio de uma organização maior, como a Universidade ou a Guilda dos Magos, provavelmente funcionaria muito bem.

— Você tem um nome para isso, Zanoba?

— Não, ainda não dei um. Infelizmente, nem Cliff nem eu temos muito talento para nomear as coisas.

— Ah, é? — Isso não era tão legal. Com certeza poderíamos inventar algum, certo?

— Se importaria de fazer as honras por nós, Mestre Rudeus?

— Hein? Uh, claro, eu acho.

Eu também não me considerava lá muito bom em dar nomes às coisas, mas não poderia recusar já que ele queria a minha ajuda.

Olhando para a coisa que agora servia como minha mão esquerda, parei para pensar por um momento.

Quando se tratava de mão artificiais removíveis, as primeiras palavras que passaram pela minha cabeça foram “Punho Foguete”. Mas não era como se eu pudesse atirar isso nos inimigos ou algo assim… embora sempre pudesse beliscá-los.

O segundo termo que passou pela minha mente foi “Mão da Glória”. Como na mão decepada e conservada de um criminoso executado, que supostamente tinha poderes mágicos – não o movimento especial de um personagem de anime pervertido que usava uma bandana.

Não senti necessidade de reutilizar um nome já existente.

Essa coisa era uma invenção completamente nova – algo que este mundo nunca tinha visto. Os inventores talvez merecessem algum crédito.

— Por que não pegamos um pouco de “Zanoba” e um pouco de “Cliff” e chamamos de Prótese Zaliff?

— Não deveria haver também parte do seu nome, Mestre?

— Nah, está tudo bem. Não contribuí em nada para isso.

— Não creio que seja completamente verdade, mas que seja. A partir de agora, vamos chamar esse dispositivo de Prótese Zaliff, Protótipo Um. — Zanoba sorriu com orgulho enquanto falava.

Em qualquer caso, parecia que agora eu tinha um substituto mágico para minha mão perdida. Não era tão precisa ou sensível quanto a minha antiga, mas movia-se muito bem, e eu podia ao menos sentir as coisas com ela. Também podia se tornar muito poderosa com a adição de um pouco mais de mana. Mas eu precisaria de um pouco de prática para pegar o jeito de usar a quantidade certa de força.

Meu objetivo era chegar ao ponto em que poderia apertar os seios de Roxy e Sylphie suavemente.

— Ainda há espaço para melhorias, é claro, mas também precisamos continuar nosso estudo do autômato. O que devemos priorizar, Mestre Rudeus?

— Hmm, vejamos…

Aparentemente, este protótipo tinha alguns problemas fundamentais. Por um lado, seu consumo de mana não era ideal. Eu poderia usar sem parar, mas passadas duas ou três horas Zanoba já não tinha nada sobrando.

Os dedos também eram meio grossos, o que não era esteticamente agradável. E, claro, seu sentido de toque ainda não era perfeito. Se conseguíssemos resolver todos esses problemas, seria uma invenção ainda mais surpreendente.

Dito isso, a prótese não era o foco principal da nossa pesquisa. Era apenas um subproduto dela.

— Bem, não vamos perder o foco.

Nosso objetivo era fazer um autômato próprio, com nossas próprias mãos. Esta prótese definitivamente teria um preço elevado e era uma ferramenta muito conveniente. Provavelmente poderíamos inseri-la no mercado. Mas eu não queria que isso tomasse todo o nosso tempo de pesquisa.

— Estamos tentando fazer um boneco totalmente automatizado, certo? Não podemos esquecer disso.

— Realmente.

— Por enquanto, vamos colocar o aprimoramento da prótese em espera e voltar a estudar aquele autômato.

— Claro. Eu esperava que você dissesse isso, Mestre.

Felizmente, Zanoba e eu parecíamos estar de acordo. Poderíamos sempre trabalhar na prótese no tempo livre.

Continuamos conversando por algum tempo. Na maior parte dele, nossa conversa focou nos vários bonecos e estatuetas que eu tinha visto no Continente Begaritt. Quando contei a ele sobre as esculturas de vidro, os olhos de Zanoba brilharam de entusiasmo.

— De qualquer forma, como Julie esteve enquanto estive fora?

— Muito bem. Outro dia, ela terminou uma estatueta de um certo cavalheiro. Acredito que ela queria te mostrar, Mestre Rudeus.

Hm? Ela já tinha terminado a estatueta de Ruijerd? Eu queria ver isso o quanto antes, mas…

— É bom ouvir isso. Mas se ela não vai voltar até de noite, acho que não poderei vê-la hoje.

— Hrm. Você tem algum outro negócio a tratar?

— Minha mestra está fazendo uma entrevista de emprego no momento. Assim que ela terminar, estava planejando dar uma volta por aí e dizer olá para todos.

— Sua mestra?

Com uma pontualidade impecável, alguém bateu à porta.

— Rudy? Você está aí? É aqui, não é?

Era a voz de Roxy. Ela aparentemente terminou com o vice-diretor enquanto Zanoba e eu conversávamos.

— Entre. Na verdade, estávamos falando sobre você.

— Perdão…

Roxy hesitantemente entrou no cômodo. Ela parou para olhar ao redor da sala por um momento, então cautelosamente caminhou até o meu lado.

— Este é um laboratório impressionante. Está mesmo tudo bem que eu esteja aqui? Sinto que há várias coisas que eu realmente não deveria estar vendo…

— Não seja boba, Roxy. Não há um único lugar neste campus onde você não possa entrar.

— Realmente não acho que isso dependa de você, Rudy.

— Talvez não. Mas ao menos aqui você é bem-vinda.

Enquanto nós dois conversávamos, Zanoba ficou paralisado onde estava. Um momento depois, percebi que ele estava tremendo um pouco.

— Zanoba, deixe-me apresentá-la. Esta é Roxy M. Greyrat, minha mestra em magia.

— É bom te ver de novo, Príncipe Zanoba. Fico feliz em te ver com tanto vigor e boa saúde.

Roxy baixou a cabeça profundamente para Zanoba.

— Oh… Oh… Ohhh…

Zanoba, por sua vez, apenas olhou para ela e tremeu ainda mais do que antes. Por fim, ergueu os braços trêmulos acima da cabeça. De repente, soltou um tipo de rugido estranho.

— Ohhhhhhh!!!

Depois de pular no ar igual a um sapo, caiu no chão, prostrando-se com as mãos estendidas para frente.

— Uau! — Roxy se encolheu de surpresa e deu um passo para trás de mim, escondendo-se parcialmente da vista.

— Que bom te ver de novo, Lady Roxy! Minhas mais profundas desculpas pela grosseria com que te tratei no passado! Na época eu não fazia ideia de que você era a mestra do meu mestre!

— Hm, por favor, pare de se rastejar! Você é o príncipe de um reino inteiro e eu sou apenas uma maga. E se alguém visse isso?

Roxy estava obviamente perturbada. Não que eu pudesse culpá-la.

Esta provavelmente era a minha deixa para intervir e acalmar um pouco as coisas.

— Não se preocupe, Mestra. Se alguém tentasse fazer disso um problema, eu mesmo os silenciaria.

— Você também não, Rudy! Ficou louco?!

Deus, ela é tão fofa quando fica toda agitada…

Mas realmente não havia nada com que se preocupar.

— Acho que você só precisa respirar fundo e se acalmar, Roxy. É perfeitamente natural que Zanoba queira se prostrar diante de você.

— Uh, é? Poderia explicar o motivo?

— Bem, Zanoba? É perfeitamente natural, não é?

O rosto dele ainda estava firmemente pressionado contra o chão, mas Zanoba balançou a cabeça com respeito.

— De fato! Afinal, ela é a mestra do meu mestre!

Viu? Perfeitamente razoável.

— Isso não é uma explicação! Eu quero um motivo real!

— Você não precisa de um “motivo” para o que é natural, certo? Apenas aceite o gesto com graça, por que não?

— Mas…

— Ah, então tá bom. Zanoba, se importaria de se levantar?

Parecia que não estávamos progredindo com a conversa, então decidi deixar Zanoba ficar de pé.

O homem era alto, então, assim que ficasse de pé de novo, provavelmente teria uma visão clara do topo da adorável cabeça de Roxy.

Isso me parecia decididamente atrevido, mas eu teria que deixar passar. Afinal, ele não conseguia controlar sua própria altura.

— De qualquer forma, Senhorita Roxy, como foi sua entrevista? — perguntou Zanoba educadamente. — Acha que será contratada como professora?

— Sim. Mestre Jenius, o vice-diretor, digo, achou que minhas habilidades como maga são adequadas.

— Bem, é claro que são — interrompi. — Afinal, foi você quem me ensinou magia!

— Você aprendeu muita coisa sozinho, Rudy. Não tenho certeza do quanto isso diz sobre meu potencial como educadora.

Roxy, pelo visto, estaria começando seu novo trabalho como instrutora assim que o próximo semestre começasse.

Isso claramente exigia uma celebração.

Também não era a única coisa que tínhamos para comemorar. Em breve nos casaríamos, minhas irmãs fariam dez anos em pouco tempo e tínhamos mais um membro da família a caminho.

Pode ser mais fácil juntar todos os eventos em uma grande festa ou algo assim.

Além de tudo, a carta de Paul sugeria uma celebração assim que todos voltassem para casa. Porém, não havia pressa. Todos estávamos de mãos cheias no momento. Seria melhor esperar até que as coisas estivessem um pouco menos agitadas.

— Ah, quase esqueci. Eu estava planejando sair por aí dizendo olá para todo mundo.

— Bastante razoável, Mestre. Tenho certeza de que ficarão muito felizes em vê-lo de volta tão cedo.

Zanoba sorriu tão brilhantemente que não pude deixar de sorrir também.

Mais do que qualquer outra coisa, eu estava animado para finalmente apresentar Roxy aos outros.

— Então tudo bem, Zanoba. Mais uma vez, obrigado pela prótese. Voltarei em breve.

— Por favor, passe por aqui quando tiver tempo, Mestre. Julie ficará feliz em te ver.

— Claro.

— Ah, uma última coisa. Se sua mão nova começar a causar problemas, pode ser melhor mostrar primeiro a Cliff, em vez de vir até mim.

— Entendido.

Com isso, deixamos os aposentos de Zanoba para trás.

Enquanto caminhávamos pelos corredores frios da Universidade, um som de rangido ecoava pelas paredes.

Estava saindo da minha nova prótese; eu estava ativamente testando quanta magia poderia alimentá-la com segurança. Cada vez que eu abria e fechava a mão, emitia um ruído audível.

Suponho que não era razoável esperar que um protótipo fosse projetado para operar em silêncio.

— Rudy, essa prótese é um instrumento mágico? — perguntou Roxy, olhando para a mão cor de barro.

— Isso mesmo. Aparentemente, é o produto de algumas pesquisas e pelo engenhoso desenvolvimento da parte de Zanoba.

— É um trabalho muito impressionante, devo dizer. Parece capaz de fazer movimentos muito precisos.

— Sim, é mesmo. Dado o quão bem funciona, acho que poderei viver muito bem de agora em diante. Mesmo sem ter você por perto o tempo todo.

— Ah… c-claro. Suponho que sim.

O rosto de Roxy, por algum motivo, assumiu uma expressão ligeiramente abatida.

— Sinto muito, Rudy. Suponho que não estava levando sua situação em consideração. Fiquei tão ansiosa para me tornar professora que nem pensei nos problemas que isso poderia te causar…

— Está falando da minha mão perdida? Sério, isso não é grande coisa.

Ter Roxy por perto era de grande ajuda, mas não era como se eu tivesse pedido a ela para assumir o papel de minha assistente pessoal. Obviamente, queria que ela colocasse seus próprios objetivos em primeiro lugar.

Por um lado, há muita gente na minha vida que estão dispostos a me ajudar quando necessário. Não que eu fosse dizer isso, já que soaria como se eu estivesse chamando Roxy de substituível.

— Em qualquer caso, estou feliz por você voltar a ter uma mão esquerda.

— Aham. Agora posso te tocar duas vezes mais.

Estendi a mão e acariciei os ombros de Roxy suavemente com a minha mão artificial.

Pude sentir seu calor e a suavidade de seu corpo, mesmo através de seu robe. Pelo visto, essa coisa também era sensível à temperatura. Era realmente bem feita.

Continuei acariciando Roxy por um longo período de tempo, mas ela aceitou tudo sem reclamar.

— De qualquer forma, quero te apresentar a todos. Se importa de vir um pouco comigo?

— Oh… oh! Claro. — Roxy balançou a cabeça, parecendo um pouco nervosa.

Pelo resto da tarde, percorri o campus apresentando Roxy aos meus amigos e conhecidos. Conseguimos ver Linia, Pursena, Ariel, Luke e Nanahoshi. Eu planejava visitar Cliff também, mas ouvi gemidos apaixonados dentro de seu laboratório quando nos aproximamos, então decidi voltar em outra ocasião.

As reações que obtivemos foram bem variadas.

Linia e Pursena responderam de forma particularmente divertida. No momento em que sentiram o cheiro do perfume de Roxy, as duas ficaram atentas e com olhares de medo em seus rostos.

Enquanto permaneciam ali, docilmente com o rabo entre as pernas, apresentei Roxy como minha amada mestra. Elas curvaram a cabeça na mesma hora.

Acho que o povo-fera é rápido em reconhecer pessoas com quem não devem mexer. Desta vez seus instintos estavam certos.

Ariel e Luke, por outro lado, ficaram surpreendentemente indiferentes.

Quando apareci para dizer olá, as primeiras palavras que saíram da boca de Ariel foram: “Vejo que se lembrou de passar por aqui ao menos depois da viagem.”

Ela não parecia realmente chateada, mas explicou que poderia ter me oferecido ajuda caso eu fosse vê-la antes de partir. Considerando que meus preparativos inadequados acabaram me custando caro, ouvir isso me deixou um pouco envergonhado. Acabei me desculpando por minha omissão.

Entretanto, deixando isso de lado… Quando apresentei Roxy, os dois olharam para ela com uma surpresa inexpressiva, depois se viraram para olhar um para o outro. Estavam obviamente surpresos por uma maga tão “jovem” estar assumindo um papel no corpo docente.

Ainda assim, Ariel era uma princesa, com todas as habilidades diplomáticas a isso implicadas. Ela cumprimentou Roxy com muita educação, sem qualquer sinal de confusão em sua voz. O autocontrole dessa mulher era impressionante.

Encontramos Nanahoshi parecendo um tanto desgastada. Ela podia ter pego um resfriado ou algo assim, já que estava tossindo sem parar. Quando ela viu meu rosto, sorriu de alívio e murmurou: “Agora podemos retomar a pesquisa.”

Quanto apresentei Roxy e expliquei que ela começaria a ensinar na Universidade, sua resposta foi um desinteressado “Entendo”.

Isso me pareceu muito pouco, então dediquei um tempo a falar sobre as muitas virtudes e talentos de Roxy. Infelizmente, Nanahoshi só fez uma careta e me chamou de “papa-anjo”.

Suponho que esperar que uma garota comum do colégio pudesse compreender a grandeza de Roxy era querer demais.

A essa altura, já era noite e tínhamos passado por todos que eu queria visitar.

Porém, quando eu estava prestes a sugerir que fôssemos para casa, Roxy falou com uma expressão ligeiramente descontente no rosto:

— Rudy?

— Sim, Roxy?

— Estou muito feliz que você tenha reservado um tempo para me apresentar aos seus amigos, mas sinto que você está sendo… um pouco exagerado em seus elogios.

— Sério? Não foi intencional, te garanto.

— Está falando sério?

— Bem, no que me diz respeito, nenhuma palavra que pudesse oferecer seria o suficiente para expressar o quão maravilhosa você realmente é. Na verdade, pensei que estava te fazendo passar por menos do que é.

Franzindo a testa, Roxy apontou um dedo para mim.

— Certo, começou de novo! Rudy, você está me provocando ou algo assim?

— Não seja ridícula. Meu respeito e admiração por você é o mais real possível.

— Ah, fala sério… Sabe, sempre que você começa a me chamar de Mestra, não consigo deixar de lado a sensação de que você está tirando sarro de mim.

Roxy fez uma pausa para deixar um longo suspiro escapar.

Sinceramente, eu achava que minha opinião sobre ela era perfeitamente justificável, mas parecia que ela achava meio exagerada.

— Mas deixando isso de lado… Você me apresentou a alguns de seus amigos e disse que eu era sua mestra. Mas não mencionou que eu era sua esposa.

— Oh!

Só nesse momento percebi como estraguei tudo.

Isso pode nem ser algo que eu possa consertar de imediato.

Roxy estava perfeitamente certa. Ela não era mais Roxy Migurdia. Agora era Roxy M. Greyrat.

A apresentei assim para todos, é claro. E ela repetiu isso enquanto cumprimentava. Acho que uma parte de mim presumiu que isso bastava – que era perfeitamente óbvio que estávamos casados.

Eu, no mínimo, estava confiante de que uma pessoa tão astuta quanto Ariel teria percebido.

Ainda assim, isso não era desculpa. Roxy tinha todo o direito de ficar furiosa.

Acho que eu queria enfatizar, acima de qualquer coisa, a sua grandeza. E uma parte de mim ainda achava que ela era boa demais para se casar com alguém como eu. Mas ela claramente queria que eu a apresentasse como minha esposa.

Foi um erro imperdoável da minha parte. Roxy era minha segunda esposa, sim, mas isso não a tornava menos minha esposa. Passaríamos o resto de nossas vidas juntos. Talvez até teríamos filhos.

— Sinto muito, Roxy, querida. Mas você sabe o quanto te amo, certo? Como posso te compensar por isso? Quer que eu me apresente aos seus pais?

— Uh… n-não, não acho que isso seja necessário. Afinal, é uma viagem bem longa. Eventualmente faremos isso.

Eventualmente? Hmm.

Esperançosamente, Rowin e Roraki estavam bem lá no Continente Demônio. Agora que eu era casado com Roxy, eles eram meus sogros. Eu também devia a eles pela ajuda que me deram há muitos anos. Meio que queria arrumar um tempo para ir vê-los.

Se traçássemos uma rota através de alguns círculos de teletransporte, poderíamos chegar lá em pouco mais de dois meses, mas…

— Então tá. Qualquer dia temos que arrumar tempo.

Não havia necessidade de apressar as coisas. Depois que tudo se acalmasse, talvez poderíamos levar toda a família para cumprimentá-los.

Afastando o pensamento para o fundo da minha mente, fui para casa com minha nova esposa ao meu lado.

 

Lendas da Universidade #1: O Chefe pode disparar sua mão igual a um foguete.

 


 

Tradução: Taipan

Revisão: Guilherme

 

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