Cinco pessoas permaneceram na sala de estar: Sylphie, Norn, Aisha, Roxy e eu. Também havia o tatu (que nomeei de Tu) deitado perto da lareira com um olhar de felicidade em seu rosto, mas ele não contava.
Lilia estava ajudando Zenith a tomar banho. Antes de ir, ela tinha me perguntado se ficaria tudo bem e eu assenti. Queria ter essa conversa sem depender de sua ajuda.
Ao invés de voltar ao seu quarto, Norn ficou. Ela estava mal, ainda fungando. Ela era muito apegada ao Paul, então estava sofrendo muito com a perda.
— Bom, tem uma última coisa que tenho que falar.
Quando falei isso, as três se sentaram novamente. Olhei para Roxy e ela caminhou para o meu lado em silêncio.
— …
Ver o quanto a barriga da Sylphie estava grande me fez hesitar, mas eu tinha uma responsabilidade. Roxy, eventualmente, chegaria na mesma fase da gravidez. Se Sylphie se recusasse a aceitá-la, Roxy iria dar à luz completamente sozinha? Isso é o que foi combinado, mas se realmente acontecesse, eu planejava ajudá-la de alguma forma, seja financeiramente ou de outra maneira.
— Eu gostaria de tomar a Roxy como minha segunda esposa — falei.
— Hã…?
Quem expressou sua confusão não foi Sylphie, mas sim Norn. Sylphie apenas tinha um olhar surpreso em seu rosto.
— O-O que está falando?! — inquiriu Norn.
— Deixe-me explicar desde o começo.
Comecei recontando o que havia acontecido no Continente Begaritt, que quando Paul morreu eu entrei em uma depressão profunda. Contei que foi Roxy quem me salvou e que eu desenvolvi sentimentos por ela como resultado. Contei que a respeitava profundamente e queria que ela fizesse parte da nossa família a partir de então.
— Não tinha a intenção de te trair, Sylphie, mas, no final, quebrei minha promessa. Eu sinto muito. — Me ajoelhei. Havia um carpete estendido no chão, mas o inverno nos Territórios Nortenhos era muito frio, então obviamente o carpete também estava. Me inclinei para frente e pressionei minha cabeça no chão.
— Hã? Espe… Rudy?! — Ouvi a voz assustada da Sylphie me chamar.
— Eu ainda amo a Sylphie, tanto quanto antes, mas, aparentemente, engravidei a Roxy. Preciso me responsabilizar por isso. — Quanto mais eu falava, mais minhas palavras soavam baratas, mesmo que fossem meus verdadeiros sentimentos.
Quando olhei para cima, Sylphie estava com um olhar perturbado em seu rosto. Talvez estivesse confusa. Não podia culpá-la por isso. Eu disse que a amava, jurei que, com certeza, voltaria. Agora voltei arruinando tudo, sem um membro da família e uma mão faltando. Ela devia ter pensado que, ao menos, poderia se alegrar por eu estar seguro, mas lá estava eu; dizendo que queria tomar outra mulher como minha segunda esposa. Em seu lugar, eu teria chorado, gritado e insultado.
Mas assim, pedi o impossível:
— Sylphie, por favor, me perdoe.
— Mas é claro que não! — Quem gritou comigo foi Norn, não Sylphie. Ela pisou forte no chão e me segurou pelo colarinho. — Como pode falar isso? Você sabe como ela se sentiu esse tempo todo em que ficou te esperando?!
— …
— Todos os dias ela dizia: “Espero que o Rudy esteja bem” ou “Sinto falta do Rudy” ou “Me pergunto se o Rudy está comendo direito.” Sabe o quão solitária ela pareceu e soou esse tempo todo?!
Eu não sabia. Não fazia ideia, mas conseguia imaginar. A expressão em seu rosto enquanto me esperava. O quão solitária soou. O que ela devia ter sentido ao se sentar em uma cadeira sem nada para fazer além de ficar batendo o pé enquanto esperava?
— Entendo que não posso culpá-lo por não ser capaz de salvar o Papai. Se as coisas estavam difíceis a ponto de você perder sua mão esquerda, então não havia nada que pudesse ser feito. Então parecia errado te culpar por isso. Mas agora está me dizendo que você estava bem o suficiente em meio a tudo isso para transar com outra mulher? E agora quer fazer dela sua esposa?!
— Não! Eu não estava bem. Estava deprimido! Por isso que Roxy deixou seus próprios sentimentos de lado para me salvar!
— A Senhorita Sylphie teria feito o mesmo por você se estivesse lá! — Norn retrucou.
Sylphie com certeza teria me salvado se estivesse lá. Afinal, ela tinha curado minha impotência. Mas quem me salvou foi Roxy. Mesmo que tivesse sentimentos por mim; mesmo que soubesse que eu já estava com alguém. Ela decidiu fazer aquilo, mesmo sabendo que depois poderia ser deixada de lado.
— Norn, você deve entender como é se prender em seu quarto, sentir como se estivesse em um buraco tão fundo que não consegue ver a luz no fim do túnel. Como é possível deixar a pessoa que te salvou disso de lado? — argumentei.
— Eu sei! Sou grata a você por me ajudar com isso, mas este é um problema totalmente diferente! Lorde Millis jamais permitiria alguém ter uma segunda esposa!
Ah, verdade. Norn era uma seguidora de Millis. Não, a religião dela não era o problema. Talvez fosse eu. Talvez eu tivesse feito algo errado e tentado forçar a parecer que estava certo.
— Além disso, por que com aquela garotinha? Ela é quase igual a mim! — Norn encarou Roxy.
Roxy olhou para a garotinha com seu olhar neutro de sempre. Ela era mais alta que Norn, mas por pouco, talvez nem tinha centímetros de diferença. Diante do olhar hostil de minha irmã mais nova, Roxy permaneceu inabalável enquanto murmurava:
— Posso ser pequena, mas pelo menos sou uma adulta.
Eu estava imaginando o que ela diria. Sua voz estava trêmula, um indicativo claro do que havia em seu coração, mas as palavras poderiam ser consideradas insolentes.
Norn estava enfurecida.
— Se é tão adulta assim, não acha que está sendo uma sem-vergonha?!
— …
— Não se sente mal por invadir o relacionamento deles?!
— Norn, isso está indo longe demais. Quem disse que gostaria de trazê-la para nossa família fui eu. Roxy não fez nada de errado. Ela tentou não atrapalhar. — Me opus com uma voz firme.
Norn nem mesmo me olhou, somente continuou seu ataque verbal a Roxy.
— Você fica quieto! — gritou para mim. — Além disso, se ela realmente tentou “não atrapalhar”, então por que ainda está grudada em você? Ela só está se aproveitando da sua oferta!
Pensei honestamente em dar uns tapas nela, mas não era necessário falar que eu não tinha esse direito. Se batesse nela, sentiria que realmente me tornaria um completo lixo.
— …
Roxy ficou em silêncio enquanto Norn gritava com ela. Ela parecia indiferente como sempre, seus olhos se voltaram para o chão. E então, finalmente levantou sua cabeça e curvou-se para Norn.
— Está certa. Foi uma falta de vergonha da minha parte. Peço desculpas.
Então se levantou e foi para o canto da sala. Ela pegou sua bagagem, colocou seu chapéu na cabeça e moveu-se rapidamente para a saída.
Eu nem ao menos consegui pará-la. Sabia que encontraríamos resistência, sabia que não devia subestimar o quão difícil seria para todas aceitarem isso, mas pensei que poderia convencê-las. Esse pensamento foi ingênuo. Agora, aqui estávamos nós, com Roxy tendo sido repreendida. Ela provavelmente sentiu como se estivesse caminhando sobre espinhos e que as coisas possivelmente continuariam sendo dolorosas se ficasse.
Com essa possibilidade em mente, ninguém escolheria ficar. Até mesmo eu sairia correndo pela porta, incapaz de suportar.
Eu não poderia deixá-la ir com essa sensação desagradável. Não era como eu queria que as coisas tivessem acontecido. Queria recompensá-la por tudo que fez, não queria levá-la para minha casa só para que fosse humilhada. Ela estava ali para que eu pudesse fazê-la feliz.
E, mesmo assim, não importa como me sentisse, não conseguia pará-la. Eu não poderia segurá-la. Será que não seria capaz de fazê-la feliz?
Não, pense! Roxy sairia pela porta a qualquer momento. Precisava, pelo menos, pará-la! Mesmo que precisasse bater em Norn, mesmo que isso significasse que faria minha irmã me odiar, eu…
— Espera! — Uma voz a chamou por trás. — Senhorita Roxy, por favor, espera!
Foi Sylphie. Ela se levantou e foi rapidamente segurar Roxy pela mão. Roxy olhou para trás, seus olhos transbordando de lágrimas.
— Por que está parando ela?! — Norn se surpreendeu. — Só deixe ela ir!
— Norn, poderia, por favor, ficar quieta?
Perplexa, Norn falou:
— Hã?
— Você foi rude demais. Nunca expressei qualquer objeção — disse Sylphie.
Norn congelou, sem saber o que dizer.
— Por favor, sente-se — disse Sylphie, virando suas costas para Norn para que conseguisse guiar Roxy em direção a um assento no sofá. Roxy se sentou voluntariamente, sem sinais de resistência. Então Sylphie se sentou ao seu lado. — Eu estava um pouco confusa a princípio… mas então foi você quem salvou o Rudy, Senhorita Roxy?
Roxy concordou timidamente:
— Sim… Mas eu tive segundas intenções e não pretendo dar nenhuma desculpa para isso.
— Sim — concordou Sylphie. — Bem, Rudy realmente é bonito. Eu não teria acreditado se dissesse que não tinha segundas intenções.
— …
— Acho que se eu estivesse no seu lugar, teria feito exatamente a mesma coisa. — Sylphie sorriu para Roxy, com uma expressão gentil em seu rosto. Em contraste, Roxy estava tensa. Sylphie permaneceu sorrindo conforme continuou: — Sendo honesta, achei que era apenas uma questão de tempo.
— Hm, o que era uma questão de tempo? — Roxy perguntou, confusa.
— Rudy trazer outra mulher para casa.
Apenas uma questão de tempo antes que eu trouxesse outra garota? Hm…? Espera, isso significava que ela não confiava em mim?
— Sabe, o Rudy é um pervertido, não é? Pensei que ele fosse fazer isso com outra pessoa se eu não estivesse por perto. Mas ele é leal, então achei que se fizesse com outra pessoa, iria querer trazê-la para nossa família, como fez comigo. Eu não pensei que conseguiria mantê-lo só para mim para sempre.
Quis protestar, mas ela acertou em cheio. Eu não tinha o direito de falar algo.
— Honestamente, pensei que, se fosse para trazer alguém para casa, seria Linia, Pursena ou a Senhorita Nanahoshi.
Roxy comentou:
— Não tinha ouvido esses nomes antes, exceto pela Senhorita Nanahoshi.
— São amigas dele no colégio. Todas são muito sexys, com peitos grandes.
Bem, Nanahoshi não é necessariamente tão sexy assim, protestei internamente. Espera, isso não importa agora.
— Sinceramente, o que ouvi da sua viagem pareceu brutal, além de que também teve a morte do Paul. Tinha esquecido completamente da possibilidade de ele ter encontrado outra pessoa. Por isso fiquei tão surpresa quando ouvi… — Sylphie pausou. — Mas até que faz sentido.
— O que faz? — Perguntou Roxy.
— Desde que chegou, você ficou o olhando com um olhar preocupado em seu rosto. Me perguntei o porquê daquilo. De início pensei que estivesse apreensiva sobre ele anunciar a morte de Paul, mas na verdade era por causa disso.
— …
Sylphie continuou:
— Você estava com o olhar de uma garota apaixonada, Senhorita Roxy.
O olhar de uma garota apaixonada. Quando Roxy ouviu isso, seu rosto esquentou.
— Sinto muito por fazer você ver algo tão desagradável. — Ela abaixou a cabeça, com suas bochechas ainda vermelhas feito um tomate.
Do ponto de vista de uma esposa, não seria agradável ver outra mulher olhar apaixonadamente para seu marido. Pude entender o porquê de Roxy ter pensado dessa maneira.
Mas Sylphie apenas balançou a cabeça.
— Não foi desagradável.
— Mas… — Roxy começou a protestar.
— Como posso dizer isso…? — Sylphie inclinou sua cabeça pensativamente, e quase instantaneamente assentiu. — Sabe, Rudy sempre me falava sobre você, Senhorita Roxy.
— O que ele dizia?
— Coisas como: “Ela é a única maga que respeito.” Ele falou dessa forma sobre você tanto antes quanto depois do Incidente de Deslocamento.
Roxy se arrumou em seu lugar, sem jeito.
— Não tenho certeza do que dizer, mas me sinto mal por você ter que escutar isso.
— Bem, foi por isso que também senti um pouco de ciúmes — confessou Sylphie. — Ele tinha tamanha admiração estampada em seus olhos toda vez que falava sobre você.
— …
— Eu pensava comigo mesma: “Essa Roxy Migurdia deve ser uma maga incrível, não há como eu ficar lado a lado com ela.”
— …
— Mas agora que eu te vi de fato e sei que é apenas uma garota normal que ama o Rudy, esse ciúme se foi. Isso significa que você é igual a mim — disse Sylphie conforme tirava o chapéu de Roxy e acariciava seu rosto.
Roxy apenas olhou para a outra mulher e deixou isso acontecer.
E, enquanto continuava acariciando, Sylphie disse:
— Norn pode ter expressado sua oposição, mas eu te aceito.
O rosto de Roxy se preencheu de surpresa.
Eu também senti meu maxilar se soltar em choque. Jamais imaginei que Sylphie aceitaria tão facilmente.
— Senhorita… Sylphiette — disse Roxy, hesitante.
— Pode chamar só de Sylphie. Espero que possamos nos dar bem. Hm, Rox?
— Hmm, na verdade eu fiz cinquenta anos nesse ano, então esse tipo de apelido parece um pouco infantil…
— Ah, tudo bem. — Sylphie assentiu para si mesma. — Então você é mais velha do que eu. Sinto muito. Parando para pensar, Rudy mencionou isso, mas não consegui assimilar ao te ver.
— Bem, eu sou pequena — admitiu Roxy.
— Eu também não sou muito grande.
Uma olhou para a outra, segurando as mãos, e riram.
— Bem, Roxy, então vamos apoiar o Rudy juntas.
— Obrigada, Sylphie.
Após dizerem essas palavras, elas apertaram as mãos. A ação irradiou um tipo interessante de solidariedade e, vendo isso, deixei um suspiro de alívio escapar. Uma reação involuntária que fugiu de mim no momento em que vi que tudo ficaria bem.
Norn me olhou e franziu a testa.
— Se a Senhorita Sylphie está bem com isso, eu não tenho mais nada para dizer. — Aparentemente, ela não tinha aceitado muito bem. Ela franziu um pouco a testa, claramente ainda insatisfeita, enquanto nos olhava. Talvez eu tenha conquistado seu desprezo de novo.
Foi Syphie quem a acalmou dizendo:
— Perdoe-o, Norn. Rudy não é um seguidor de Millis.
— Mas… — Norn começou a protestar.
— O Senhor Paul também tinha duas esposas, não?
Ela ficou quieta por um tempo antes de dizer:
— Verdade, ele tinha.
Sylphie continuou:
— Então você diria o mesmo tipo de coisa para a Senhorita Lilia?
Norn arregalou os olhos, surpresa. Ela se virou para Aisha, a qual estava sentada ao seu lado.
Aisha ficou quieta o tempo todo, seu rosto era a definição de compostura.
— Ah… Desculpa, Aisha — disse Norn.
— Está tudo bem, de verdade. Já sei que você costuma falar sem pensar nas coisas.
— Por que você precisa falar assim…?
— Pense no que aconteceu — salientou Aisha. — Não era seu lugar de fala. Ficou falando sobre a Senhorita Sylphie e seus sentimentos, mas, na verdade, estava apenas forçando suas crenças nos outros.
— O quê?! — Norn saltou para ficar de pé.
Vi os punhos se formando em suas mãos e entrei no meio para repreender Aisha.
— Aisha, foi longe demais.
— Mas…
Eu a interrompi.
— Eu também entendo o que a Norn disse. Se a própria Sylphie tivesse dito as mesmas coisas, seria compreensível. Sou igualmente culpado por não ter considerado como todos se sentiriam. Não podemos culpar a Norn.
— Se você diz isso, tudo bem, eu acho.
— …
Norn tinha uma expressão conflituosa no rosto, como se não tivesse certeza do que dizer. Ela devia estar se sentido desconfortável, já que suas próximas palavras foram:
— Vou para a cama.
Seus pés se moveram rapidamente para que ela saísse da sala de estar. Mas então ela parou, como se tivesse se lembrado de algo, e olhou de volta para mim.
— Hm, Irmão…?
— Oi?
Ela iria soltar um último comentário severo? Esse era meu medo, mas o que saiu de sua boca superou minhas expectativas.
— Poderia me ensinar esgrima? Quando tiver tempo.
— Hã…?
Foi tão repentino que, por um segundo, as palavras não fizeram sentido para mim.
Esgrima; ela tentaria usar a espada do Paul? Parte de mim sentiu que uma tentativa meia-boca de se defender seria apenas autodestrutivo, mas esse mundo não era como o meu anterior. Provavelmente seria bom que aprendesse um pouco de esgrima. Mesmo um pouco de poder a mais já seria melhor do que nada. O maior problema era se eu seria um bom professor ou não.
— Tem certeza de que quer que eu te ensine? — perguntei.
— Não posso aprovar o que fez, mas também não te odeio.
— Certo…
Na verdade, eu estava perguntando se ela tinha certeza de que queria que eu a ensinasse, mesmo não sendo tão bom nisso, mas não podia recusá-la após ela admitir indiretamente que ainda gostava de mim.
— Tudo bem — falei. — Vou reservar um tempo para te ensinar após a escola ou algo assim.
— Por favor. — Após dizer isso, Norn foi para seu quarto no segundo andar.
No final das contas, fui completamente inútil. Sylphie tinha me ajudado com sua generosidade.
— Irmãozão. — Aisha me chamou. — Você pareceu muito patético agora, sabia?
Incapaz de dizer algo em minha defesa, apenas assenti.
Depois disso, nós três (Sylphie, Roxy e eu) começamos a conversar sobre como ficariam as coisas, como, por exemplo, a ordem em que passaríamos as noites juntos ou como passaríamos um tempo de qualidade. A discussão foi sincera o suficiente para fazer Aisha sair.
— Bem, então, Senhorita Roxy, conto com você daqui para frente — disse Aisha.
— Sim, digo o mesmo.
Aisha resmungava baixo enquanto saía, mas também sorria enquanto ia embora.
O que havia com ela? Bem, não importa. Sylphie, Roxy e eu tínhamos que conversar sobre o futuro. Algumas pessoas poderiam ficar espantadas por conseguirmos discutir tais coisas quando Paul tinha acabado de morrer, mas era precisamente por isso que eu queria um tópico mais alegre para conversarmos.
— Por favor, faça da Sylphie sua maior prioridade, Rudy. Só um pouco de sua atenção quando estiver livre já basta para mim — disse Roxy.
— Bobagem, devemos ser justas — insistiu Sylphie.
— Mas…
— Ele pode trazer ainda mais esposas, então não vamos ser acanhadas.
Mais? Só de ouvir essa palavra pude perceber o quanto ela confiava na minha parte inferior.
— Honestamente, nesse momento eu só me sinto extremamente culpada por tudo isso. Irei ficar de lado até seu bebê nascer — disse Roxy.
— Então é assim que se sente — disse Sylphie, pensativa. — Bem, falta um pouco mais de um mês até o nascimento. Se importa se eu ficar com ele só para mim por esse tempo?
— Tudo bem para mim. Então vamos esperar até o próximo mês para eu oficialmente me tornar sua esposa, Rudy.
— …
Eu provavelmente era uma péssima pessoa por ficar desapontado em ter que viver uma vida celibatária pelo próximo mês. Mas quando comecei a pensar que seria capaz de fazer sexo com as duas, o quanto quisesse, após Sylphie dar à luz… Meu amigo lá de baixo começou a ficar de pé.
— …
— …
Conforme essas fantasias se concretizavam na minha cabeça, as duas mulheres se viraram para mim.
— Hm, Rudy? — Sylphie me chamou. — Se realmente não conseguir esperar, fale, tá bom? Iremos fazer algo sobre isso.
— Ah, não, eu mesmo cuido disso.
Não importava o quão safado eu fosse, não iria trair mais do que já tinha traído. Queria que ela confiasse que eu, Rudeus Greyrat, jamais fraquejaria novamente. O único motivo de eu ter vacilado foi por causa da situação única em que estive e porque minha parceira foi a Roxy. Desde que nunca entrasse em um ciclo depressivo e uma mulher do calibre da Roxy nunca aparecesse em minha frente, de modo algum trairia novamente. Jamais.
— Ah, mas você disse que Roxy também está grávida. Nesse caso, se esperarmos um mês, também não será capaz de fazer sexo com ela. O que iremos fazer nesse caso? — perguntou Sylphie, preocupada.
Roxy, parecendo envergonhada, disse:
— Hm, sobre o que o Rudy disse em relação a isso… Acho que ele estava mentindo. Não tive a oportunidade para falar isso, mas não estou grávida.
— Hã? — Acabei deixando escapar.
Ela não estava? Então do que diabos Elinalise estava falando naquela hora?
— Ah…
Ela me enganou. Aquela cretina. Droga. E eu dancei na palma de sua mão.
— O que aconteceu, Rudy? — perguntou Roxy.
— Nada, mas deixe-me esclarecer que eu não estava mentindo. Foi somente um mal-entendido meu.
— Ah, então tá bom. — Roxy coçou suas bochechas e seu rosto corou. — Mas espero ansiosamente por isso.
— Ah, sim. Eu também — falei. A frase “planejamento familiar feliz” surgiu em minha mente, o que fez um sorriso surgir em meu rosto. Ahh, eu realmente estava animado para o que viria no futuro.
— Rudy é um pervertido, não é? — provocou Sylphie.
— Sim, realmente sou — concordei.
— Me pergunto o que nosso Rudy pervertido irá fazer comigo… — questionou Roxy em voz alta.
Continuamos a falar e a rir juntos.
E foi assim que passei a ter uma segunda esposa.
Preparamos um quarto para Lilia e para minha mãe após terminarem o banho, e então nos recolhemos para dormir. Assim como tinha sido discutido anteriormente, eu estava passando a noite com a Sylphie. Fiz um travesseiro para ela com meu braço e nos aconchegamos próximos um ao outro, com seu rosto virado para mim. Mas ainda não tínhamos adormecido. Ambos estávamos olhando um para o outro em silêncio.
— Sobre nossa conversa de antes… — Ela começou, sendo a primeira a falar. — Algo trágico tinha passado em minha mente quando você falou que tinha algo para falar com Roxy de pé do seu lado.
— O que era? — perguntei.
— Pensei que fosse me dizer que não conseguia mais me amar e queria que eu fosse embora.
— Eu nunca diria isso!
Que tipo de babaca diria algo assim?!
— Sim, eu sei. — Sylphie se mexeu um pouco. Pude sentir algo tocar onde já havia sido minha mão esquerda. Os dedos da Sylphie; ela estava acariciando. — Mas ainda assim fiquei com medo. Não sei por quê. Só tive uma sensação de que não iria voltar para mim.
Um mau pressentimento? Bom, realmente foi por um triz. Não teria sido surpreendente se eu tivesse morrido.
Olhei para Sylphie.
— Te preocupei?
— Sim.
— Agora está tudo bem. — Acariciei sua cabeça com minha mão direita. Ela fechou os olhos conforme se apoiava ao meu toque. Seu cabelo com uma cor linda, pálida, cresceu enquanto estive longe. — Seu cabelo está crescendo.
— Você disse que gosta de cabelo longo.
— Está fazendo isso por mim?
— É.
Ela esperou por mim esse tempo todo, e eu fui estúpido o suficiente para…
— Desculpa, Sylphie, por quebrar a promessa que fiz para você.
Ela balançou a cabeça.
— Está tudo bem. Eu te amo do jeito que você é.
— Mas se você tivesse feito o mesmo comigo, eu teria gritado, chorado como um bebê e teria ficado revoltado por ter me traído. Tenho certeza.
Ela riu.
— Hee hee, mas eu não faria isso com você. Não tenho olhos para ninguém, além de você, Rudy. — Sylphie aproximou seu rosto, beijando a minha bochecha.
Uma onda de afeto começou a borbulhar em meu peito. Eu iria amar Sylphie pelo resto da minha vida. Ela provavelmente ficou preocupada, devia querer chorar e, mesmo assim, aceitou tudo sem nenhuma queixa.
— Sylphie — sussurrei.
— Hee hee.
Como retribuição pelo seu beijo, também a beijei, colocando meus lábios em sua bochecha macia e suave.
— …
Normalmente isso seria o prefácio para fazermos amor, mas nesse dia paramos por aí. Não queria forçar seu corpo, não quando já estava suportando um bebê.
Mas, nesse momento, senti algo se contorcer na parte de baixo do meu abdômen.
— Vamos, Sylphie, não podemos fazer isso. Se começar a me tocar aí, não vou conseguir me controlar. Quero dizer, estou interessado em sexo durante a gravidez, mas…
— Não, não podemos, Rudy — disse ela, ao mesmo tempo. — Não seria bom para o bebê.
— Hm?
— Hã?
Nesse momento, nós dois olhamos para baixo. Lá, logo ao lado da barriga inchada de Sylphie, havia uma saliência densa e montanhosa. Levantamos o cobertor para descobrir…
— Tu?!
O enorme tatu tinha deslizado sua cabeça a partir do pé da cama, entre Sylphie e eu. Quando ele se enfiou aqui? Nem ao menos percebi ele entrar.
— Bichinho pervertido, colocando a cabeça nas virilhas das pessoas. — Eu ri.
— Igualzinho a você, Rudy.
— Não, eu… — Comecei a protestar, mas então pensei bem. — Ah, bem, acho que pode dormir com a gente hoje.
— Sim, parece bom.
Deslizei para fora da cama, peguei um outro cobertor e criei um lugar no chão ao lado da nossa cama para o Tu dormir. Ele se deitou sobre o local e fechou seus olhos.
A criatura parecia um tatu, mas era basicamente como um cachorro grande. Nós teríamos que construir uma casinha para cachorro em breve. Mantê-lo dentro de casa era bom, mas seria ruim se ele começasse a fazer cocô por todo canto. Espera… acho que poderíamos apenas treiná-lo para que fosse domesticado, como um cachorro. Bom, essa era uma conversa que teríamos depois, como uma família.
— Vamos dormir? — Comecei a deslizar para a cama no lado direito da Sylphie, mas parei e retornei para sua esquerda ao invés disso, para que pudesse segurar sua mão com a minha direita. Ela apertou minha mão firmemente. — Boa noite, Sylphie.
— Sim. Fico feliz que esteja de volta, Rudy.
E então apaguei igual uma lâmpada.
Tradução: Jeagles
Revisão: Guilherme
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