Dark?

Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 12 – Cap. 14 – Relatório

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As coisas aconteceram em frenesi depois que voltei. Primeiro, Aisha correu para buscar Norn na escola. Roxy, por consideração ou porque parecia muito estranho ficar aqui, saiu para buscar Geese e os outros. Elinalise parecia ansiosa para correr para o lado de seu amado Cliff, mas resistiu à tentação.

Enquanto esperávamos que todos se reunissem, passei o tempo perguntando a Sylphie o que aconteceu desde a minha partida. Eu tinha certeza de que ela não queria nada mais do que ouvir como minha aventura foi, mas não reclamou enquanto contava os acontecimentos durante minha ausência.

Sua gravidez estava seguindo sem problemas. Segundo o médico, a criança provavelmente nasceria na hora certa. Quanto aos outros, pareciam estar indo bem. Houve um pequeno incidente na escola alguns dias atrás, mas Nanahoshi cuidou de tudo. Algo devia ter mudado nela, já que estava saindo de seu caminho para ajudar as pessoas deste mundo.

Nem Aisha nem Norn ficaram doentes ou se machucaram; as duas estavam bem. O hobby de jardinagem de Aisha decolou, e ela estava cuidando de algumas plantas até no seu quarto. Eu teria que conferir pessoalmente assim que tivesse a oportunidade. Norn estava gradualmente se tornando algo parecido a uma idol na escola, tendo conquistado algo semelhante a um fã-clube. Fazia sentido, considerando o quão fofa ela era.

Zanoba, Cliff, Linia e Pursena apareciam de vez em quando em casa para conferir as coisas. Ariel parecia ter reclamado por eu não ter contado que iria sair. Pensando bem, ela estava certa. Eu precisaria me desculpar na próxima vez que a visse.

Mesmo assim, tudo que ouvi sugeria que estavam todos bem. Quando tivesse tempo, teria que informar a todos que tinha retornado.

Pelo visto, a única exceção ao nosso grupo de amigos era Badigadi, que continuou desaparecido. Bem, ele era imortal, então eu duvidava que algo de ruim tivesse lhe acontecido.

Sylphie parecia adorável como sempre, com um dedo pressionado no queixo enquanto tentava se lembrar dos últimos seis meses.

— Portanto, nada aconteceu a ninguém — comentei.

— Não. Pelo menos nada que eu ache que iria preocupá-lo.

— Certo.

Sylphie mudou de assunto.

— De qualquer forma, então me diga. O que aconteceu com você?

— Ah, eu vou contar — prometi. — Espere até que todos estejam reunidos. Aconteceu muita coisa.

— Certo… Ah, parece que já chegaram.

Enquanto conversávamos, Roxy voltou, junto com Geese, Talhand, Lilia, Vierra, Shierra, Elinalise e Zenith. Com Sylphie e eu incluídos, éramos dez. Nossa sala de estar era espaçosa o suficiente para acomodá-los, e inclusive sobrava espaço.

— Ah, você deve ser a esposa do chefe — percebeu Geese. — Heh heh heh, você é mesmo fofa. Chefe, você é um sortudo e tanto.

— Essa é a minha neta — informou Elinalise.

— Sim, e se não fosse por sua avó vadia, ela seria perfeita.

— Como é?!

O resto do grupo ignorou seus dois companheiros briguentos, movendo-se um a um para cumprimentar Sylphie. Ela os recebeu humildemente, retribuindo suas saudações com gentileza.

— Prazer. Sou Roxy… Migurdia.

— Roxy? Igual a mestra de que Rudy está sempre se gabando? — perguntou Sylphie.

— Sim, eu mesma — disse Roxy, então fez uma pausa antes de continuar — Embora eu não seja especial o suficiente para justificar tudo que ele diz.

— Bem, prazer em conhecê-la. O Rudeus já me contou muito sobre você. Me chamo Sylphiette. É uma honra.

— S-Sim, para mim também… — disse Roxy, parecendo um pouco estranha. Acho que fazia sentido que estivesse assim. Não passou muito tempo desde aquela nossa conversa sobre ela se juntar à nossa família. Mas essa conversa teria que ficar para outra hora.

— Já faz um tempo, Senhora Sylphiette — disse Lilia cumprimentando com uma reverência de cabeça.

— Faz sim, Senhorita Lilia! — Sylphie parecia encantada com o reencontro, seus lábios ameaçando revelar um sorriso genuíno, apenas para se tornarem amargos com a mesma rapidez. — Hm, não precisa me chamar de “Senhora Sylphiette”. Não pode me chamar só de Sylphie, igual sempre fez?

— Não. — Lilia balançou a cabeça. — Não posso tratá-la como antes, não agora que se casou com Lorde Rudeus.

— A-Ah, certo… — Sylphie parecia envergonhada.

Lilia ensinou-lhe tudo que sabia sobre serviços domésticos. De certa forma, ela era a “mestra” de Sylphie, assim como Roxy era a minha. Claro que Sylphie a respeitava.

— Já faz algum tempo, Senhorita Zenith — disse Sylphie, finalmente se virando para cumprimentar minha mãe. — Hm… Senhorita Zenith?

— …

Zenith ficou apenas olhando fixamente para a frente, mesmo com Sylphie a chamando.

— Hm…? — Perturbada, Sylphie olhou para mim. A expressão em seu rosto dizia que estava preocupada com a possibilidade de Zenith não estar satisfeita com nosso casamento.

— Sylphie — falei —, vou explicar sobre minha mãe e meu pai assim que Norn chegar.

— Ah, sim, não vejo o Senhor Paul por aqui… — disse ela, seus olhos procurando pela sala. Não demorou muito para inferir o que tinha acontecido depois que todos ficaram em silêncio com ela vislumbrando seus rostos. Sylphie franziu os lábios e ficou quieta.

O silêncio reinou enquanto esperávamos a chegada de Norn. Foi tacitamente entendido que não poderíamos começar sem a sua presença.

Passado algum tempo, Aisha e Norn chegaram, ambas sem fôlego por terem corrido demais.

— I-Irmão, bem-vindo de volta de sua longa viagem! — Norn bufava e ofegava enquanto falava, baixando a cabeça. Ela teve um vislumbre da minha mão e deu um pulo. — Sua mão está bem?

— Está tudo bem. É inconveniente, mas não dói — falei. Comparado ao que estávamos prestes a discutir, minha mão esquerda não merecia qualquer consideração.

— A-Ah, certo. — Norn ainda estava lutando para recuperar o fôlego enquanto olhava pela sala. — Huh? — ela murmurou, confusa, incapaz de encontrar quem procurava quando se sentou.

Aisha se aproximou de mim e perguntou:

— Antes de prosseguirmos, não seria apropriado servir chá aos convidados?

— Sim, tem razão — concordei. — Vai demorar um pouco, então, por favor, faça isso.

— Ah, sinto muito — disse Sylphie. — Eu devia cuidar disso. Deixe-me ajudar.

— De forma alguma, Senhora, fique aqui.

Tomando a tarefa para si, Aisha começou a trabalhar na mesma hora. Ela preparou chá suficiente para todos, juntou as malas em um só lugar e pendurou os casacos molhados de neve. Então ofereceu chinelos para que todos usassem, pegando os sapatos úmidos e os colocando para secar perto da lareira.

Fiquei sentado imóvel enquanto a observava fazer tudo isso. E não era só eu quem observava. Lilia também estava observando sua filha com atenção. Pensando bem, em Rapan, era sempre Lilia quem fazia esse tipo de trabalho. Mas agora, meio ao silêncio mortal, ela ficou parada, sem erguer um dedo. Essa era uma visão rara.

— Aisha. — Assim que o trabalho da filha estava quase concluído, Lilia a chamou.

— Sim, o que deseja, Mãe?

— Parece que você está cumprindo suas obrigações de maneira adequada e não está causando problemas para o seu irmão.

— Sim. — Aisha acenou com a cabeça.

— Você pode ser parente de sangue de Lorde Rudeus, mas foi ele quem salvou sua vida. Tenha isso em mente enquanto cumpre seus deveres como sua criada.

— Sim, Mãe — respondeu Aisha, soando tão formal quanto Lilia.

Não parecia certo ouvir uma mãe e sua filha conversando assim. Era a primeira vez que se viam em um bom tempo. Senti que deveriam ser… bem, sabe, mais afetuosas uma com a outra. Mas, bom, Lilia talvez estivesse se contendo. Afinal, a conversa que viria a seguir seria dolorosa.

— Já que estão todos reunidos, por que não começamos? — Meu coração estava pesado, mas era meu dever falar. Paul não estava presente para fazer isso por mim.

— Mas o Papai ainda não chegou — disse Norn ansiosamente em protesto.

Será que ela ficaria com raiva quando soubesse? Antes de eu partir, ela se agarrou a mim, chorando para que eu o ajudasse. Eu falei que podia deixar tudo comigo. Ela provavelmente me culparia quando descobrisse que ele estava morto.

Estava tudo bem se fizesse isso. Fui eu quem falhou em realizar o seu desejo.

Olhei para todos e disse:

— Nosso pai está… Paul Greyrat está morto.

— Hã…? — Norn ergueu a voz, confusa.

Sylphie abaixou a cabeça, a tristeza evidente em seu rosto.

Aisha arregalou os olhos, cerrando os punhos com força.

— Foi isso que ele deixou para trás — falei, colocando cada uma das peças de seu equipamento na mesa. Sua espada, sua espada curta, sua armadura e seus restos mortais. Apenas essas quatro coisas.

— P-Por quê?! — Norn se levantou e se aproximou. — Mas você foi! Por que ele morreu?!

— Sinto muito… Não fui forte o suficiente.

— Mas você é…! — Norn se aproximou, como se tivesse a intenção de me agarrar pelo colarinho. Mas sua fúria de repente perdeu a força. Eu pude ver minha mão esquerda – ou melhor, a falta dela – refletida em seus olhos. Seu olhar vagou entre ela, os pertences de Paul e meu rosto, e as lágrimas começaram a lentamente brotar em seus olhos.

Cobri meu pulso esquerdo com a mão direita e continuei:

— Agora vou explicar com mais detalhes.

Ela fungou e murmurou:

— Tá…

Aisha caminhou por trás dela, agarrando-a pelos ombros.

— Por agora…

— Chega, eu sei! — Norn deu um tapa na mão dela e voltou ao seu assento.

Aisha ficou parada por um momento antes de retornar à sua posição atrás de Sylphie.

— Tudo bem, vou explicar desde o começo…

Resumi tudo o que havia acontecido. Como Elinalise e eu partimos para Rapan e lá nos reunimos com Paul e os outros. Como, com base nas informações que tínhamos sobre o paradeiro de Zenith, mergulhamos no Labirinto de Teleportação juntos e começamos a mapear. Eu contei como as coisas correram bem até que topamos com o guardião. Como a luta que se seguiu foi tão dura que perdi a mão e Paul a vida. Embora tivéssemos resgatado Zenith, ela se tornou uma casca. Geese interferiu uma vez ou outra para fornecer informações adicionais enquanto eu lentamente traçava um caminho através de tudo.

Então, no fim, Norn perguntou:

— Então isso significa que você não conseguiu salvar a Mamãe nem o Papai?

— Isso mesmo…

Senti como se pudesse ver sua raiva aumentando no momento em que concordei. Mas ela não explodiu. Em vez disso, mordeu o lábio inferior e olhou para minha mão esquerda.

— Você fez tudo que podia?

— Sim. Dei tudo de mim.

— Se você tentou tanto e ainda assim falhou, então não teria importado se… — Ela falou com calma, mas sua voz sumiu. Pude ver as lágrimas começando a encher seus olhos de novo. — Tenho certeza que não importa se… O Papai se… foi… Waah… wah… waaaaah! — Ela começou a soluçar, enormes lágrimas corriam por suas bochechas.

Norn estava chorando. Bem alto. Em um tom que me atingiu bem no coração. Todos os presentes exibiam expressões graves enquanto ouviam, e o corpo dela tremia enquanto soluçava. E soluçava. E soluçava. E soluçava. Ela chorou todas as lágrimas que o resto de nós não chorou, e apenas escutamos enquanto ela fazia isso.

— Hic… waah…

Depois de um tempo, ela parou. Seus olhos estavam inchados e vermelhos, alguns ruídos estrangulados continuavam escapando de sua garganta. Mas ela se virou para mim, seus olhos cheios de determinação.

— Irmão?

— Sim? — perguntei.

— Esta espada, posso… hic… posso ficar com ela…? — Norn apontou para a arma favorita de Paul. A que ele tinha consigo desde antes de eu nascer. Aquela que sempre manteve consigo, aquela que nunca saiu do seu lado.

— Sim, claro. Você devia ficar com ela. Só não use de forma imprudente.

— Hã…?

— Não confunda ter a espada como um sinal de que você de repente ficou mais forte.

Foi no meu quinto aniversário que Paul me entregou uma espada e disse a mesma coisa para mim.

— Eu… entendo — disse Norn, abraçando-a perto do peito.

Ela era forte. Não seria incomum que uma criança da sua idade se trancasse no quarto e ficasse chorando, mas ela estava enfrentando a morte de Paul de frente. Completamente diferente de mim, que não conseguia nem voltar a se levantar sem a ajuda da Roxy.

Sério, ela era forte.

Decidimos dividir suas outras lembranças entre nossa família. Aisha escolheu a espada curta e eu a sua armadura. Quanto aos seus restos mortais, faríamos um túmulo adequado para ele e o enterraríamos lá. Esse era o plano, até que Zenith avançou e pegou a armadura dele em suas mãos.

— Mãe?

— …

Chamei por ela, mas ela não respondeu. Como de costume, ficou apenas olhando fixamente para a frente, igual uma casca. E, ainda assim, ela se moveu como se entendesse o que estava acontecendo. Ou foi só coincidência? Não… talvez o núcleo dela continuasse sendo o mesmo de antes.

Independentemente disso, isso significava que fiquei sem nenhuma lembrança dele. Mas fiquei satisfeito com isso. Eu já tinha recebido muito.

— Bem, então agora vamos falar sobre a Mãe. — Mais uma vez, expliquei a condição de Zenith para todos – que ela tinha perdido suas memórias e parecia quase completamente vazia por dentro.

— Ela não vai melhorar? — perguntou Sylphie.

Balancei a cabeça.

— Não sei.

Eu pretendia pedir para que médicos e curandeiros a examinassem só para ter certeza, mas nunca tinha ouvido falar de magia de cura que pudesse restaurar memórias perdidas. Sinceramente, nem sabíamos a causa para a sua condição. Sabíamos que ela ficou envolvida por um cristal mágico e perdeu as memórias, mas isso era tudo. Podia muito bem ser algo semelhante à deficiência de oxigênio.

Eu não tinha certeza de nada, é claro. Mas eu achava que as chances de curar sua condição eram mínimas. Se houve dano cerebral, a tecnologia médica deste mundo não seria suficiente para ajudá-la. Mesmo a magia de cura de nível Avançado não serviria de nada. Li um ou dois mangás nos quais infligir o mesmo nível de choque que fez a pessoa perder as memórias as trouxe de volta ao normal, mas não poderíamos testar isso em Zenith.

Além disso, eu não tinha certeza se ela ficaria feliz, mesmo que a curássemos. Paul morreu tentando salvá-la. Eu tinha certeza de que ela se culparia, dizendo: “Se ele ao menos não tivesse tentado me ajudar.” Talvez fosse melhor que não se lembrasse.

Não, isso não estava certo. Devíamos nos esforçar para restaurar suas memórias.

— De qualquer forma, ela vai precisar de tratamento e cuidados — falei. — Planejo que ela more aqui conosco.

Se meus pais da minha vida anterior continuassem vivendo, envelhecessem e acabassem acamados, eu teria cuidado deles da mesma forma?

Lilia tinha inicialmente dito que planejava alugar aposentos para que não atrapalhassem a minha vida. Ela ganhou o suficiente com o Labirinto de Teletransporte, poderia viver por mais de uma década nesta cidade. Eu rejeitei essa ideia. Não permitiria algo assim. Paul não permitiria tal coisa. Era nosso dever, como a família restante, cuidar dela.

— Pretendo confiar seus cuidados à Senhorita Lilia — continuei —, mas tenho certeza de que todos acabarão precisando ajudar.

— Pois bem. Também farei o meu melhor para ajudar — disse Sylphie de bom grado.

Ninguém parecia discordar – não que eu fosse permitir. Paul me disse para salvar Zenith, mesmo que isso me matasse. Mesmo agora, eu ainda não sabia o que ele quis dizer com aquilo. Mas como ele se foi, a proteção dela cabia a mim.

Além disso, embora eu tenha dito que ela precisava de tratamento, não era como se tivesse Alzheimer. Ela estava mais para uma casca vazia. Com Lilia o tempo todo ao seu lado, eu tinha certeza de que ficaria tudo bem, embora eu precisasse reunir os suprimentos necessários para seus cuidados.

— Então isso significa que a Mamãe também vai morar aqui? — Aisha deixou escapar, a voz cheia de confusão e ansiedade.

— Sim, Aisha. Estarei a serviço de Lorde Rudeus.

Será que Aisha via Lilia como um problema para ela? Lilia foi uma disciplinadora severa enquanto ela estava crescendo, e percebi que Aisha gostava de morar longe da mãe. Mesmo assim, não achei apropriado que ela expressasse seu descontentamento. Se ela expressasse tais queixas em voz alta, eu teria que castigá-la da devida forma.

— Também vamos dividir o trabalho? — continuou Aisha.

— Podemos discutir isso depois — disse Lilia. — Pretendo tornar os cuidados da Senhora o meu foco principal, deixando a maior parte do serviço doméstico para você, Aisha.

— Tá bom… — Aisha não protestou, mas parecia se sentir incomodada com a presença de sua mãe. Sua voz estava rígida, sua expressão sombria.

Tendo notado isso, Norn interrompeu.

— Ei, Aisha. — Ela colocou a mão no ombro da irmã e sussurrou: — Não precisa se conter por nossa causa, tá?

Aisha olhou para Norn, depois para Lilia e depois para mim. Então, novamente para Lilia e de volta para mim. Eu não tinha certeza do porquê ela estava procurando a minha aprovação – ou para o que estava procurando aprovação – mas, mesmo assim, assenti.

Aisha levantou- se com um pulo e abraçou Lilia.

— M-Mãe…! Mãe, estou tão feliz por você estar bem! — gritou ela, enterrando o rosto na barriga de Lilia.

— Agora estou em casa, Aisha. — A expressão de Lilia ficou gentil enquanto ela acariciava o cabelo da filha.

Ah, sim. Agora sim fazia sentido.

Aisha devia ter se sentido em conflito. Afinal, Lilia era sua mãe. Eu tinha certeza de que ela também orou pelo bem-estar de Paul e Zenith, mas foi pela segurança de Lilia que pediu, acima de qualquer coisa. E agora que ela tinha voltado para casa, as circunstâncias estavam complicadas demais para Aisha expressar sua alegria com sinceridade.

Perdoe-me por duvidar de você, Aisha.

Depois disso conversamos sobre várias outras coisas, concluindo nosso anúncio de retorno. A conversa incluiu o relatório financeiro de Geese, provando que tínhamos partido sem nada, mas que nossos bolsos estavam cheios o suficiente para iluminar a expressão de todos.

— Bem, então acho que podemos sair e procurar por uma pousada. — Assim que terminamos, Geese se levantou. Talhand, Vierra e Shierra seguiram seu exemplo.

Corri para detê-los.

— Não me importo se vocês ficarem conosco hoje.

— Hein, Chefe? Não seja ridículo. Temos cérebro o suficiente para saber que se ficássemos aqui só iríamos atrapalhar a sua família — rebateu Geese.

Os outros três pareceram concordar, movendo-se para recuperar suas bagagens, calçando os sapatos e colocando os casacos ainda úmidos.

— …

No final, decidi me despedir deles na entrada da frente e, enquanto observava os quatro partirem, gritei:

— Pessoal, obrigado por toda a ajuda que vocês deram ao meu pai por esse tempo todo.

Vierra e Shierra, em particular, curvaram suas cabeças profundamente. Elas ajudaram Paul desde seu tempo em Millishion. Eu não tinha conversado muito com elas, mas nos apoiaram de inúmeras maneiras enquanto entrávamos e saíamos do Labirinto de Teletransporte. Foram como heróis nos bastidores.

— Não, devemos nos desculpar por não termos sido mais úteis.

— Agradeceríamos se você nos informasse onde ficará o túmulo do capitão assim que estiver pronto.

Suas respostas foram curtas. O que será que Paul foi para elas? Elas o seguiram até o Continente Begaritt, mesmo depois que o Esquadrão de Busca e Resgate de Fittoa se desfez. Será que tinham sentimentos especiais por ele? Mas, mesmo que o amassem, agora estava tudo acabado.

— O que vocês vão fazer agora? — perguntei.

— Assim que o inverno acabar, voltaremos ao Reino Asura. Existem outras pessoas do Esquadrão de Busca e Resgate com quem temos dívidas.

— Entendo — falei. — Bem, tomem cuidado.

— Você também, Lorde Rudeus. Sei que você terá muita coisa sobre os ombros daqui em diante, mas se cuide. — Elas se curvaram uma última vez antes de desaparecerem na cortina de neve que caía.

O Esquadrão de Busca e Resgate… Ah, sim, alguém não disse algo sobre a família de Zenith ter dado apoio financeiro para ajudar com as atividades de Paul? Zenith não estava exatamente sã e salva, mas ainda assim deveríamos informar que ela foi encontrada. Eu poderia ao menos escrever uma carta para eles.

Enquanto eu me ocupava com esses pensamentos, Geese chegou por trás e deu um tapa no meu ombro.

— Bem, até mais, Chefe.

— Senhor Geese, Senhor Talhand. — Olhei para cada um deles.

— O quê? Tire esse olhar sombrio do rosto — resmungou Geese.

— O que vocês dois farão agora?

Geese coçou a cabeça.

— Planejamos ir para Asura. Queremos trocar nossa moeda de Begaritt e vender esses itens mágicos que conseguimos.

— Você vai vender tudo? — perguntei.

— Planejamos ficar com algumas coisas, mas vamos vender a maior parte.

Geese ainda estava com a mão em meu ombro. Me disseram o que os itens faziam quando os avaliaram, mas a maioria não era nada de especial – só coisas aleatórias, como espadas curtas que poderiam ser usadas no lugar de um fósforo. Achei que em algum momento poderia achar um uso para tudo, então joguei na área de armazenamento no porão. Não importa o quão ridículos fossem os efeitos, ainda nos trariam algum dinheiro se ficássemos em apuros.

As pedras mágicas que absorviam mana eram outro assunto. Queria estudá-las assim que tivesse tempo. Se eu enfrentasse um oponente semelhante no futuro, não queria uma repetição do que aconteceu no Labirinto. Eu não queria ficar impotente. Podia não ser habilidoso o suficiente para conseguir alguma coisa pesquisando as pedras, mas preferia tentar do que apenas desistir.

— Se quiser, podemos levar seus itens conosco e vender em Asura. O seu investimento vai dar muito mais retorno lá do que aqui, sabe?

Asura pagava bem por commodities, e sua moeda corrente era amplamente aceita em todo o Continente Central. Se fosse vender algo, Asura era o lugar ideal para isso.

— E deixe-me adivinhar — falei com conhecimento de causa —, no caminho de volta para cá, você vai apostar tudo e dar no pé?

— Ah, ei, sem essa, eu não colocaria as mãos no seu dinheiro, Chefe. — Seus olhos correram para um lado e para o outro, sem olhar para mim. Talvez realmente estivesse planejando usar o dinheiro para apostar.

Ah, bem. Se não fosse por Geese, nunca teríamos concluído aquele labirinto. Eu tinha uma dívida enorme com ele. Isso, em comparação, era algo trivial.

— Estou brincando — falei no final.

— Bem, eu planejava apostar um pouco — ele confessou, as bordas de seus lábios se curvando para formar um sorriso.

— E depois disso?

— Vou continuar como um aventureiro. — Geese deu de ombros. — Essas são nossas únicas habilidades.

— Certo.

— Bem, ficaremos aqui até a primavera, então apareça para beber conosco quando puder. Você disse que me apresentaria a uma bela macaca, certo? Ah, acho que já que você tem esposa e um filho a caminho, provavelmente não frequenta esses lugares. Heh heh.

Verdade, ainda não era nossa última vez nos vendo. Mesmo assim, Geese era o tipo de homem que simplesmente se levantaria e partiria em sua próxima aventura sem dizer uma palavra que fosse antes de sumir. Queria ao menos me despedir enquanto tinha a oportunidade.

— Senhor Geese — comecei a falar.

— Chefe. Você está falando de um jeito bem engraçado, sabe? Fale comigo como você sempre faz, tipo, “Ei, Novato!”

Curioso, perguntei:

— Por que você quer tanto ser chamado de “Novato”?

— Isso é um azar.

Um azar. Esse termo por si só deveria ter sido uma explicação inadequada, mas me atingiu direto no coração. Se fosse um de seus azares, eu não poderia reclamar.

— Bem, de qualquer forma, obrigado aos dois por tudo que fizeram por mim.

— Eu te disse, não precisa. De qualquer forma, tome cuidado, Chefe.

Assim que baixei a cabeça, Geese acenou com a mão e começou a se afastar.

— Ele está certo, você não nos deve nada. Se alguém deve, é o Paul. O que quero dizer é que não precisamos de agradecimentos — disse Talhand enquanto movia seu corpo robusto para seguir Geese.

Observei até eles desaparecerem.

— Os homens sempre querem se exibir assim — disse uma voz.

Olhei e vi Elinalise parada ao meu lado. Pelo visto, ela estava conversando com Sylphie enquanto eu me despedia deles. Será que era sobre Roxy? Eu disse a ela que o dever de contar tudo para Sylphie era meu, mas sendo a intrometida que era, Elinalise poderia ter dito algumas palavras por mim. Sinceramente, eu não estava tão ansioso para essa conversa, então fiquei um pouco grato por sua consideração.

— Bem, eu devia ir ver o Cliff. Não tenho muito mais tempo. — Elinalise acariciou a parte inferior do abdômen enquanto falava. Eu também a fiz passar por muita coisa. Em nosso caminho de ida e volta, ela dormiu com um total de três desconhecidos. Isso era normal para ela, é claro, e ela até riu disso, mas eu não poderia ser petulante.

— Senhorita Elinalise, você realmente me ajudou — falei.

Ela estava com uma expressão amarga no rosto.

— Sinto muito pelo Paul…

— Não, aquilo foi minha…

Minha culpa, meu erro. Tentei dizer isso, mas ela me interrompeu.

— Meu dever naquele grupo era garantir que essas coisas não acontecessem. Paul morreu por causa das minhas falhas.

Não tinha como isso ser verdade. Estávamos lutando por nossas vidas, nenhum de nós poderia saber o que estava à espera depois de termos esquivado do ataque final da hidra e ficarmos a uma única cabeça da vitória. Havia apenas duas pessoas que poderiam culpá-la: a própria Elinalise e o falecido Paul.

— Não posso te culpar — falei. — Nem ninguém.

— Então também não se culpe.

— Tá bom…

— Certo, hora de ir! — disse Elinalise antes de correr para a neve. Havia alguém importante ainda esperando para saber que ela tinha retornado.

— Uff. — Soltei um longo suspiro, minha respiração formando uma nuvem visível que se elevou e se dissipou em meio à neve.

Finalmente, o Incidente de Deslocamento acabou. Pelo menos pra mim. Todos os meus familiares desaparecidos foram encontrados. Provavelmente existiam outras vítimas desaparecidas por aí, mas eu não tinha a obrigação de procurá-las.

Estava acabado. Foi a conclusão de uma longa, frustrante e amarga jornada. Agora a vida poderia passar para a próxima etapa. Sem olhar para trás. Eu tinha que viver e olhar para frente. Ainda havia muito para fazer neste mundo. Tanta coisa que eu ainda queria fazer.

Portanto, vamos olhar para o futuro.

— Rudy, já foi todo mundo embora? — A voz de uma garota chamou por trás. Olhei por cima do ombro para ver Roxy parada ali. — Também queria falar um pouco com eles…

— Parece que vão ficar na cidade por enquanto, então você pode vê-los quando tiver algum tempo — assegurei.

— Verdade.

Roxy não saiu para a neve. Ela permaneceu dentro da casa, a única pessoa do grupo que fez isso. Se ela continuaria ou sairia para procurar um quarto em uma pousada, dependia de como acabaria a discussão iminente.

— Bem, Roxy…

— Sim?

— Vamos.

Voltei para dentro, a forma delicada de Roxy seguindo ao meu lado.

 


 

Tradução: Sahad

 

Revisão: Guilherme

 

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