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Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 12 – Cap. 08 – O Guardião do Labirinto de Teletransporte

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Até este momento, todos os círculos de teletransporte emitiam uma luz pálida, mas este era vermelho. A cor que sinalizava perigo. A frase “zona  vermelha” surgiu em minha mente.

— É aqui, depois disso — murmurou Paul.

Isso, com certeza, era sua intuição falando. Mas sobre o que se referia? A prisão de Zenith? O guardião? Independentemente do que fosse, me senti estranhamente confiante. Confiante de que a parte final deste labirinto estava à nossa frente.

— O que vamos fazer, Paul? Ainda temos suprimentos, mas podemos voltar, caso queira — disse Geese.

Passamos com facilidade pelo sexto piso. Os Demônios Vorazes foram praticamente nada graças à raiz de Talfro. Não usamos muito de nossos suprimentos; ainda estávamos completamente abastecidos. Conseguiríamos continuar. Além disso, tivemos tempo de sobra para descansar na sala anterior.

— Não, vamos continuar. Todos, chequem seus equipamentos.

— Entendido.

Após ouvirmos a decisão de Paul, todos nós sentamos no chão e começamos a examinar nossos equipamentos.

— Venha, Rudy, você também.

A pedido de Roxy, eu me sentei. Retirei tudo que carregava em minha mochila e alinhei-os no chão para fazermos um levantamento do que tínhamos. Não que eu estivesse carregando muita coisa. Tudo que eu tinha eram alguns pergaminhos de espíritos.

— Quer alguns dos meus pergaminhos? — Roxy tinha escondido alguns em sua mochila apenas para o caso de necessidade. Tinha magia de nível avançado neles. Ela conseguia lançar feitiços relativamente rápido, graças aos seus cânticos encurtados, mas magia de nível avançado exige encantamentos um pouco longos. Havia uma obrigação com o tempo do cântico e isso demoraria muito. Esses eram seus trunfos.

— É uma boa ideia. Posso pegar alguns dos seus de cura?

— Claro.

Eu conseguia usar magia sem recitá-la, então não precisava de pergaminhos de nível avançado. Magia de cura, no entanto, era outro caso.  Seria bom tê-los no caso de minha garganta ou meus pulmões serem destruídos, igual no passado.

Roxy me passou eles e eu os fechei e enfiei em meu robe. Se não os usasse, poderia apenas devolvê-los depois. Na verdade, gostaria de levar um para casa e pedir para Nanahoshi ou Cliff recriar para mim.

Espera, fazer cópias sem permissão era proibido, não era? Embora eu não achasse que seria pego, já que era somente para uso pessoal.

— Não tenho ideia de que tipo de guardião iremos enfrentar, mas temos poder de fogo o suficiente. Vou me esforçar ao máximo para te auxiliar, assim você nem vai precisar usar esses pergaminhos — disse Roxy.

— Por favor. Posso ser um pouco covarde às vezes, então, por favor, me ajude se eu precisar.

— Claro. Pode contar comigo — Roxy bateu o punho em seu peito pequeno. Era reconfortante ouvi-la dizer isso.

— Rudeus, Roxy. — De repente Elinalise jogou algo para nós.

Após pegar o objeto que voou para minha mão, percebi que era uma pedra do tamanho de uma bolinha de gude. Um dos vários cristais imbuídos em magia que Elinalise carregava consigo.

— Se ficar sem mana, use — ela disse.

Eu olhei para ela.

— Tem certeza?

— Estou apenas te emprestando. Se não usar, devolva depois.

— Ah, claro. Entendi.

Não era incomum que um mago ficasse sem mana quando explorasse um labirinto. Normalmente, o grupo iria recuar em tal situação. Esse era o motivo pelo qual derrotavam todos os inimigos que encontravam, para que pudessem recuar, repor as energias, e prosseguir novamente.

Quando se tratava de lutar contra um guardião, por outro lado, ouvi que havia casos que não era possível fugir. Aparentemente, poderia até mesmo se encontrar preso em um local parecido com uma arena, incapaz de sair até derrotar a criatura.

O círculo vermelho em nossa frente parecia um círculo de mão dupla. Mas podia ser que, na verdade, fosse de uma só mão. Nesse caso, precisaríamos de alguma forma de recuperar nossa mana uma vez que entrássemos.

— Certo, estão todos prontos?

Nos reunimos de pé ao som da voz de Paul. Olhei para os rostos de todos e percebi que suas expressões estavam tensas. Eu também precisava fazer uma cara séria.

— Rudy. — Paul se virou para mim.

— O que foi?

— Me sinto mal por te falar isso em um momento como esse, mas…

Ali estava. Uma death flag.

— Então, por favor, não diga. — Eu o interrompi.

— Ah, tá. — Paul parecia desanimado. Talvez aquilo tivesse afetado um pouco o seu moral. Mas eu não podia deixar ele dizer algo importante antes de nossa batalha final. Tudo que tivesse para dizer, poderia me dizer depois que voltássemos para casa.

— Certo, então vamos!

Trocamos olhares uns com os outros e pulamos para dentro do círculo ao mesmo tempo.

A área para que fomos teletransportados era vasta. Parecia com um salão de recepção de um palácio, modelado em uma forma oblonga do tamanho de um campo de beisebol. Havia pilares grossos nos cantos da sala e o teto era tão alto que tinha que dobrar o pescoço para trás para vê-lo. O chão abaixo de nossos pés estava coberto com azulejos, cada um tinha seu próprio padrão complexo gravado nele, formando um relevo. Se eu tivesse que escolher uma única palavra para descrever o local, “majestoso” serviria.

— Uou…!

Tinha um monstro localizado nas profundezas desta estrutura cinza semelhante a um palácio. Um enorme, aproximadamente com o dobro do tamanho de um wyrm vermelho. Mesmo de longe, pude ver o brilho de suas escamas verde-esmeralda, bem como seu corpo curto e robusto, e as várias cabeças que saíam dele.

— Uma hidra? Sério? Nunca vi uma dessas antes — murmurou Geese, suas palavras sacudiram minha memória.

Verdade, esse tipo de criatura era chamado de hidra. Era um enorme dragão com nove cabeças.

— Lá está ela!

Isso, no entanto, não foi onde os olhos de Paul, ou até mesmo os meus, focaram.

Lá, um pouco além da hidra, dentro da sala que ela estava protegendo, havia um único cristal imbuído magicamente. Um com um tamanho magnífico, verde e com espinhos que se espalhavam para fora. Nunca vi nenhum desse tamanho. Era completamente diferente dos de tamanho de bolinha de gude que Elinalise carregava consigo.

Não que isso importasse. Não, o tamanho era irrelevante. Mais importante era o que estava preso lá dentro: minha mãe.

Lá estava ela, envolvida pelo cristal.

— Zenith! — gritou Paul.

Eu estava completamente confuso. Por quê? Como isso aconteceu? Como ela ficou presa dentro daquele cristal? Antes que pudesse expressar minhas dúvidas, Paul já estava com uma espada em cada mão e avançando.

A hidra gentilmente ergueu seus pescoços com formato de foice.

— Seu imbecil! Não corra para lá! — vociferou Geese.

— Tsk…! — Elinalise estalou a língua e correu atrás dele. Talhand saiu cambaleando atrás dela.

Ela não conseguia alcançá-lo.

— Irei dar cobertura! — gritou Roxy.

Finalmente voltei aos meus sentidos e estendi meu cajado em direção à hidra. Primeiro tínhamos que derrotar nosso oponente.

Vou derrubar esse monstro em um só golpe!

Carreguei meu Canhão de Pedra com a mesma potência que deixou até mesmo um Rei Demônio em pedaços.

— Punho silencioso do gigante de gelo, Estrondo de Gelo! — Roxy recitou um encantamento de nível intermediário e entrou na batalha. Um bloco de gelo maciço foi lançado em direção à criatura, passando perto de Paul antes de…

Piiing!

Um som de rangido, como unhas em vidro, cortou o vento.

Roxy, surpresa, arregalou os olhos.

— O quê?!

A hidra estava completamente ilesa.

Era resistente ao gelo? A possibilidade cruzou minha mente por uma fração de segundo, mas Paul já estava quase chegando na localização da criatura.

— Canhão de Pedra! — Lancei meu feitiço. O projétil de pedra perfeitamente polido assobiou pelo ar. Passou um pouco acima da cabeça de Paul, enquanto ele estava a poucos passos da enorme serpente.

Piiing!

De novo, o barulho ensurdecedor.

— Foi refletido?! — Fiquei sem ar, incrédulo.

A criatura não conseguiria ter desviado. Meu canhão com certeza deveria ter atingido. O tiro foi certeiro, sabia que foi, estava certo disso.

Mas lá estava a hidra, imponentemente de pé, como se não tivesse sentido nada.  Com sequer um arranhão.

— Gruoaaaaah! — O grito de guerra do Paul foi tão feroz que chegou até mesmo aos meus ouvidos.

A hidra moveu a cabeça como uma cobra, atacando Paul conforme ele se aproximava. Ele foi perspicaz e preciso para desviar, movendo-se somente o necessário. No próximo momento, a cabeça da serpente estava dançando no ar. A espada na mão esquerda de Paul a transpassando. Sua velocidade era impressionante.

Então, por um momento, o corpo de Paul ficou turvo. Foi tão rápido que nem mesmo meu Olho da Previsão conseguiu acompanhar. Sangue jorrou de um dos pescoços da hidra. Novamente, a espada na mão esquerda dele cortou a carne dela, ainda que sua espada não tivesse o tamanho necessário para decapitar totalmente a criatura.

Ele virou seu corpo, aproveitando a força centrífuga para cortar de novo. Um dos pescoços da serpente, que estava murchando, caiu no chão.

— Shaaaa!

Em um instante, ela perdeu duas cabeças.

Infelizmente, hidras tinham várias cabeças. Então as outras apareceram chicoteando pelo ar, cercando Paul por todas as direções. Ele recuou um passo para tentar conseguir alguma distância, mas o tamanho de seu passo não foi suficiente para escapar do alcance da hidra.

— Paul! — Elinalise finalmente o alcançou. Ela levantou seu escudo e estocou para frente com sua arma. Uma onda de choque repercutiu pelo ar.

Piiiing!

De novo. Aquele som.

A hidra continuou perseguindo Paul, como se não tivesse notado o ataque.

— Velozes correntezas lamacentas, jorrem adiante! Dilúvio Instantâneo! — O encantamento de Roxy conjurou água diante de Paul, empurrando-o para um lugar seguro e fora do alcance da hidra.

Conforme ele girava, cambalhotando pela água, Elinalise imediatamente avançou para cobri-lo. Atrás deles, Talhand derrapou até parar e começou seu próprio encantamento.

Apesar de um pouco irregular, nossa formação agora tinha sua vanguarda, seu meio e sua retaguarda de sempre. Ainda assim, o que o resto de nós deveríamos fazer? Os ataques de Paul estavam acertando, mas meu Canhão de Pedra foi desviado. A magia de Roxy também. Deveria tentar fogo na próxima vez? Ou vento? Mas não havia garantia de que Paul e os outros não seriam pegos no impacto.

O que eu deveria fazer?

— Coluna de Terra! — Talhand finalmente completou seu encantamento, Ele estava usando magia de terra.

Uma rocha apareceu acima da hidra e despencou em sua direção.

Piiiing!

De novo, o mesmo som.

Pouco antes do impacto, a enorme rocha se despedaçou em pó e desapareceu. E teve aquele som de novo. Aquele som penetrante e agudo que anulava magia quando ecoava pelo ar.

— Magia não funciona contra essa coisa?! — gritou Talhand.

Merda, o que deveríamos fazer? Continuar tentando? Ou deveríamos recuar por enquanto?

O que eu deveria fazer?

Roxy de repente ergueu sua voz ao meu lado, aflita:

— Rudy, olhe! Está se curando!

Olhei a tempo de ver um dos tocos, onde Paul cortou a cabeça, começando a se expandir, carne e músculo se unindo novamente. O outro pescoço fez o mesmo logo depois.

Estava se regenerando.

Isso significava que apenas cortar seus pescoços fora não seria o suficiente para causar um dano considerável nela.

— Vamos recuar! — gritou Roxy, mas sua voz não alcançou Paul.

Ele estava soltando ferozes gritos de guerra enquanto obstinadamente cortava a hidra com sua espada. Seu estilo estava tão descuidado que estava colocando Elinalise, a qual estava agindo como seu suporte, em perigo.

— Geese! — gritou Talhand.

Geese avançou, passou correndo por Talhand e se apressou atrás de Paul. Ele agarrou algo em sua mão e lançou-o na hidra.

Po-pow!

Uma explosão soou. Uma fumaça densa se propagou, tendo a hidra como seu centro. Uma bomba de fumaça?

Geese gritou algo enquanto enlaçava seus braços por baixo dos de Paul, o segurando por trás. No entanto, só ele não era o suficiente para segurar Paul. Em segundos, o último estava próximo de se soltar até Elinalise bater em sua cabeça com seu escudo.

— Ah…!

Geese o soltou, falou algumas palavras que não consegui entender e Paul começou a se apressar de volta para nós.

— Rudeus! — chamou Elinalise, e então meu corpo se moveu.

Foquei toda a mana que pude em minhas mãos, conjurando uma névoa branca densa no espaço vazio entre Paul e a hidra. Uma cortina de fumaça. Através dela, conseguíamos ouvir os estrondos da criatura se aproximando, mas, felizmente, não era tão rápida. Paul e os outros puderam voltar até nós.

— Rudy, vamos recuar. De volta para o círculo mágico! — disse Roxy.

— Sim, Mestra!

Conduzi o caminho e pulei para o círculo de teletransporte.

 

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Todos voltaram em segurança para o outro lado: Roxy, Talhand e Geese, assim como Paul, o qual estava bufando. E então, finalmente, a Elinalise que estava ferida apareceu atrás dele. Sangue estava escorrendo de um ferimento sofrido em seu ombro.

— Está bem? — perguntei.

— É só um arranhão.

Um pedaço considerável foi cortado fora dela. Estranho, já que não me lembrava de ela levar algum ataque.

Ela explicou:

— As escamas me cortaram. — Aparentemente, a camada exterior era bem afiada.

Nível básico de magia de cura foi suficiente para fechar o ferimento sem deixar nem mesmo um arranhão para trás. O mesmo ferimento iria necessitar de vários pontos no meu mundo anterior. A magia deste mundo com certeza era conveniente.

— Obrigada — disse Elinalise.

Agora vinha o problema de como lidar com a origem de seu ferimento: a hidra.

Paul se sentou em frente ao círculo mágico. Ele fixou seu olhar nele, intenção assassina estava vazando de seu corpo como uma nuvem venenosa.

Eu o chamei:

— Pai?

— Aquela era Zenith. Tenho certeza disso — ele disse. Seus olhos nem mesmo perceberam o ferimento de Elinalise. Contudo, ela era nossa tanque, então poderia dizer que ser ferida era apenas parte de sua função. Ainda assim…

— Por favor, acalme-se um pouco — pedi.

— Sim, aquilo foi minha culpa. Já estou bem. — A voz de Paul estava baixa. Ele estava calmo, mas não estava racional. A frase “calmaria antes da tempestade” me surgiu à mente.

Não havia muito que eu pudesse fazer. Ele estava certo; aquela era Zenith. Mesmo de longe, consegui instantaneamente dizer que era ela. Tinha certeza que Paul também não se enganaria sobre algo assim. A pessoa presa dentro daquele cristal imbuído em magia era Zenith, certeza.

Mas por que raios que ela estava presa lá?

Não, a razão não importava. Havia diversas possíveis explicações. Talvez quando o Incidente de Teletransporte aconteceu, ela foi enviada para dentro do cristal. Era raro que tal coisa ocorresse, mas raro significa improvável, não impossível.

Mas, espera, Geese não nos contou que ela tinha sido encontrada por aventureiros? A palavra que ele usou foi “capturada.” Espera um pouco. Isso significava que Geese sabia em que tipo de condição ela estava…?

Não, impossível. Não podia ser.

Não ajudaria em nada o interrogar sobre o embasamento de sua informação. Poderia o pressionar por respostas depois, após isso acabar. Esse não era o problema iminente.

— Me pergunto se ela continua viva lá dentro… — suspirei, falando minhas preocupações.

— O que é isso?! — Paul saltou para ficar de pé e me segurou pelo colarinho. — Não importa se está viva ou não!

— Tem razão. — Ele tinha um ponto. Foi inapropriado de minha parte dizer isso.

As chances de sobrevivência da Zenith sempre foram quase nulas, para começo de conversa. Até mesmo considerei a possibilidade de não acharmos nem o corpo, talvez nada além de uma lembrança, algo que deixou para trás. Poderíamos pelo menos nos agarrar àquilo em nosso luto, se ela realmente estivesse morta.

Pode-se dizer que encontrá-la desta forma, com seu corpo inteiro, era bem melhor do que poderíamos esperar.

— Chega de briga! — Geese perdeu a paciência.

 

 

Mas Paul só aproximou seu rosto do meu, como se estivesse me intimidando.

— Rudy. Ela está lá. Zenith está lá, sua mãe! Como consegue ficar tão calmo?

— Preferiria que eu entrasse em pânico? Como perder minha compostura resolveria algo?

— Não é disso que estou falando! — vociferou ele em resposta.

Eu sabia o que queria dizer. Verdade, talvez eu estivesse sendo um pouco racional demais. Minha atitude certamente não era apropriada para uma criança que encontrou sua mãe que estava desaparecida há seis anos.

Mas, bem, não tive muito contato com Zenith desde que era uma criança. Não tinha uma sensação tão grande de ela ser minha mãe. Na verdade, era mais como se fosse uma pessoa que por acaso tinha vivido conosco. Afinal de contas, deixei a casa deles quando tinha sete anos e não a via há quase dez.

Então, talvez a culpa não fosse inteiramente minha por ter uma reação morna.

— Por enquanto, vamos tentar entender a nossa atual situação — falei.

— Hã?!

Ignorei o resmungo de Paul e comecei a falar naturalmente:

— Nossa magia não funcionou naquele guardião. Ele tem habilidades regenerativas incríveis e sua força ofensiva é tão avassaladora que conseguiu quebrar as defesas da Senhorita Elinalise apenas raspando nela. Então tem minha mãe, a qual está presa dentro de um cristal. Falando francamente, não sabemos se está viva ou não.

— Vai se ferrar! Eu já sei disso! Estou dizendo que essa não é a atitude que se deve ter quando finalmente a encontramos! — disse Paul.

Geese interrompeu novamente:

— Já te falei, para com isso! Vocês podem brigar quando voltarmos para a pousada! — Nessa hora ele afastou Paul de mim à força.

Paul resmungou baixo conforme se sentava no chão:

— Droga, cansei disso.

Ele já entendia a situação, não precisava que eu falasse para ele. Era só que não suportava a minha atitude. Até eu mesmo concordava que estava sendo muito insensível, mas não conseguia controlar isso. O que ele queria que eu fizesse?

Elinalise bateu palmas.

— Tudo bem, chega de briga. Agora vamos discutir!

Paul e eu tomamos nosso precioso tempo juntando-nos a eles em seu círculo no chão. Roxy parecia um pouco agitada enquanto olhava para nós dois. Parecia que eu a preocupava.

 — Estou bem. — Assegurei.

— Tem certeza…?

Não era a primeira vez que algo assim acontecia entre nós. Uma vez que as coisas fossem resolvidas, Paul iria recuperar o juízo. Tinha certeza de que também sentiria algo, uma vez que Zenith estivesse segura e eu pudesse ouvir sua voz novamente.

Isso. Tinha que ser isso. As coisas só saíram um pouco fora dos eixos; era somente isso.

— Ahem. — Roxy pigarreou. — Bem, sobre Zenith estar cristalizada, acho que há algo que podemos fazer sobre isso — disse ela, parecendo um pouco mais animada que o normal.

— Sério?! — Paul pareceu aliviado.

— Sim. Ocasionalmente ouvi sobre lendas de poderosos itens mágicos presos em cristais mágicos. Assim que derrotarmos o guardião, o cristal vai se liquefazer e conseguiremos retirá-la de lá. Ou ao menos é o que dizem as histórias.

Isso não era algo que eu tinha ouvido antes. Ainda assim, foi dito pela Roxy. Tinha certeza que ela não inventaria coisas.

— Sim, eu sei do que está falando. — Elinalise entrou na conversa. — Conheço uma pessoa que já esteve como Zenith está e continua viva.

— …

Isso só podia ser mentira. Elinalise era o tipo de pessoa que tranquilamente inventa uma história nesses momentos. Não podia culpá-la por dar o seu melhor para aliviar a tensão, mas um precedente não significava que Zenith ficaria bem.

Não que eu precisasse dizer isso. Todos já sabiam.

— Nosso problema é aquele guardião. — Ela continuou, a primeira a caminhar para o real problema. — Honestamente, nunca vi um monstro daqueles antes.

Geese continuou:

— Nem brinque. Posso dizer só de olhar que é uma hidra, mas nunca ouvi  falar de uma com escamas verdes.

— Não só isso, a coisa também consegue se regenerar. — Talhand tinha um olhar preocupado em seu rosto e estava com as mãos cruzadas em sua frente.

A hidra era um tipo de dragão. Um lobo solitário com várias cabeças, sua força incomparável. Até onde eu sabia, elas deviam habitar em uma parte do Continente Demonio. Havia três espécies atualmente confirmadas, separadas pelas cores de suas escamas: brancas, cinzas e douradas. Não havia nenhuma hidra com escamas verdes.

— Provavelmente é uma Hidra de Mana — disse Roxy. — Li sobre ela em um livro. É um dragão infernal cujo corpo inteiro é coberto de escamas de pedra mágica que absorvem mana. Foi descoberta durante a segunda Grande Guerra Humano-Demônio e, de acordo com o livro, foram aniquiladas quando o continente foi dividido. Eu tinha certeza de que não era nada além de conto de fada, mas… parece ser real.

Absorção de mana… Isso significava que toda mágica era inútil contra ela?

Apenas para ter certeza, perguntei:

— Está dizendo que nós não seremos capazes de causar nenhum dano?

— Se o que li for verdade, deve conseguir atingi-la com seus feitiços desde que os lance à queima-roupa — respondeu Roxy.

— A queima-roupa…

Aquela coisa era enorme. Sem mencionar que iria fatiar qualquer um igual um ralador de queijo caso entrasse em contato com seu corpo. Ela estava me dizendo para colocar minha mão diretamente contra aquilo e tentar lançar meus feitiços? Poderia perder todos os meus dedos.

— Ainda vai se reviver mesmo se conseguirmos dar dano — murmurou Talhand. — O que deveríamos fazer sobre isso?

Elinalise concordou.

— Sua capacidade de se regenerar realmente é um incômodo.

— Mas a maldita não deve ser invencível — insistiu o anão.

A hidra podia se regenerar, o que não era nada surpreendente para mim. Até onde sabia, isso era senso comum.

— Cortamos suas cabeças fora e ela as regenerou. Como podemos derrotar algo assim?

Roxy também queria saber.

Eu, entretanto, não conseguia considerar aquilo um adversário invencível, ainda que soubesse que conseguia se regenerar. Por quê, me pergunta? Por causa do meu conhecimento da minha vida anterior.

— Ouvi falar que se queimar o toco de onde a cabeça foi cortada, ela não será capaz de se regenerar — contei o conto mítico de Hércules. Ele lutou contra a hidra. De acordo com as histórias, usou uma tocha para cauterizar as feridas abertas depois de decapitá-la, para impedir sua recuperação.

Honestamente, era só um mito, uma história. Não tinha muita credibilidade.

Entretanto, isso não importava para os membros do meu grupo. A reação deles foi positiva.

— Então é isso. Só queimar as feridas abertas!

— Não trouxemos tochas, mas ela não será capaz de refletir magia se atingirmos onde está ferido. — Elinalise entrou na conversa.

— Acho que vale a pena tentar.

Eu não tinha ideia do quão similar a hidra deste mundo era com a do meu mundo anterior. A hidra dos mitos aparentemente tinha uma cabeça imortal, mas, talvez, por mais improvável que pareça, poderíamos derrotar esta simplesmente queimando todas as suas cabeças. Eu não queria ser muito otimista, mas era uma criatura viva. Coisas vivas podem ser mortas.

— Certo, então vamos tentar isso. — Geese concordou e, com isso, nossa estratégia estava definida.

Minha proposta não garantia o sucesso, então, de qualquer forma, não havia qualquer garantia de vitória.

Francamente, senti que nossa melhor opção era voltar para a cidade. Embora seja verdade que praticamente não usamos nossos suprimentos, tínhamos um inimigo complicado pela frente. Talvez fosse conveniente nos prepararmos para lutar contra esse chefe. Poderíamos até mesmo contratar alguém especialmente para lutar contra a hidra. Eu não fazia ideia de quantos espadachins por aí conseguiriam fazer um corte limpo no pescoço de uma hidra, mas com o número de aventureiros em Rapan, tinha certeza de que conseguiríamos encontrar pelo menos um.

— …

Mas eu sabia que Paul não permitiria isso. Em seu estado atual, se eu sugerisse voltarmos, ele poderia insistir em desafiar a besta sozinho. Além disso, mesmo se voltássemos, eu não conseguia nos ver sendo sortudos o suficiente para encontrar itens especificamente para derrotar uma hidra ou mercenários para contratar.

Tínhamos uma contramedida. Tínhamos o número necessário de pessoas. Portanto, tínhamos que seguir para a batalha.

— Ei, Paul. Está de acordo com isso? — perguntou Geese.

— Sim…

— Essa não é uma boa resposta. Está ouvindo? Você é o único que consegue cortar a cabeça daquela coisa fora.

Era possível que Elinalise e Talhand conseguissem danificar as escamas da criatura, mas não conseguiriam atravessá-la. Paul tinha que decepar e, como o único que conseguia usar magia sem cântico, eu tinha que ser a pessoa que cauterizaria a ferida aberta. A divisão de tarefas era crucial.

Dependendo da situação, eu teria até mesmo que diminuir a distância e fazer isso à queima-roupa. Mesmo que estivesse mirando no toco restante do pescoço, havia uma grande chance de que as escamas que o cercam anulassem minha magia. Se isso acontecesse, os outros teriam que agir como iscas para desviar os ataques direcionados a mim. Roxy iria curá-los se levassem algum dano.

Essa foi a forma como dividimos nossas tarefas. Era dessa forma que deveria ser.

Claro, ataques inevitavelmente ainda viriam em minha direção. Eu estava em uma posição muito perigosa.

— Fuu… — Paul expirou e olhou para todos nós. — Elinalise, Talhand, Geese e Roxy… — Conforme chamava seus nomes, todos se viraram para olhar para ele. — Todos vocês me ajudaram muito até agora. Anos se passaram desde o Incidente de Deslocamento. Vocês cruzaram o Continente Demônio por mim, procuraram Rudy nos Territórios Nortenhos por mim, foram mais longe do que eu jamais imaginei.

Todos os quatro o observavam em silêncio, de uma forma que pareciam dizer: Se apresse e fale logo.

— Mas agora isso acabou. Nós vamos salvá-la… ou, assumindo que não esteja viva, pelo menos será esclarecido para toda a minha família. Esse é o fim. Por favor, me emprestem suas forças pela última vez.

Todos os quatro sorriram e concordaram.

— Não é do seu feitio agir tão humilde — disse Elinalise. — Mas entendo. Vou dar tudo de mim.

— Hunf, não há um idiota aqui que diria não depois de chegar tão longe — disse Talhand.

Geese se juntou na conversa:

— Você com certeza se acalmou com o passar dos anos. Bem, não é como se eu fosse ser de muita ajuda, mas ainda farei o que der.

— Vamos vencer — disse Roxy com um punho levantado. — Seremos recompensados por nossos esforços após clamarmos a vitória.

Comovido por suas palavras, Paul parecia sufocar as lágrimas enquanto fungava. Mas ele não nos deixou vê-lo chorando. Ao invés disso, se virou para mim.

— Rudy. — Ele gaguejou, mas pude ver a determinação em seus olhos. — Você… Você realmente se tornou um filho confiável.

— Pode me bajular após derrotarmos a hidra.

— Não é bajulação. Estou falando sério — disse Paul, deixando uma risada autodepreciativa escapar. — Não consigo ser calmo como você. Também não consigo ter boas ideias. Sou só um idiota que se joga de cabeça sem pensar. — Ele continuou, seus lábios estavam torcidos como se fosse ranger os dentes. — Sou um pai terrível. Não consigo nem mesmo ser um bom exemplo para meu filho.

Sua voz pesava com convicção. Ele me encarou com força, seus olhos tão focados que senti como se estivesse me perfurando com o olhar.

Determinação; essa era a palavra. Paul estava cheio de determinação.

— Com isso em mente, irei te dizer isso. Sei que não é algo que um pai deva dizer, mas vou dizer mesmo assim.

— Tudo bem — falei, retribuindo seu olhar. Eu sabia o que ele queria dizer, mais ou menos.

— Salve sua mãe, mesmo que isso te mate — ele falou.

Isso era um pai falando com seu filho.

Mesmo que isso te mate.

Isso com certeza não era algo que um pai deveria dizer. Teria sido melhor se, na pior das hipóteses, tivesse me dito: “Irei salvá-la mesmo que isso me mate.”

Mesmo assim, não achei que foi um pai cruel por dizer isso. Esta era a convicção dele, sua confiança em mim. Paul pretendia fazer o que disse: iria salvá-la mesmo que custasse sua vida. E ele pensou em mim como um igual. Acreditou em mim. Me viu como um adulto. Foi por isso que disse o que disse.

Tudo que restava era a minha resposta.

Nós vamos salvar Zenith. Para esse propósito, Paul e eu compartilharíamos da mesma determinação.

— Sim…! — Eu assenti firmemente e Paul balançou sua cabeça. Não tive certeza, mas achei que parecia feliz.

— Certo, então vamos! — disse ele, incitando todos a ficarem de pé.

Nossa revanche contra a hidra estava para começar.

 


 

Tradução: Jeagles

 

Revisão: Guilherme

 


 

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