Elinalise e eu revisamos nossos planos de viagem às pressas.
Primeiro de tudo, compraríamos um cavalo e cavalgaríamos juntos até a floresta onde o teletransportador estava escondido. Então nos transportaríamos para o Continente Begaritt.
Se a memória de Nanahoshi estivesse correta, isso nos levaria a uma jornada de uma semana ao sul de uma cidade oásis chamada Bazaar. Infelizmente, estaríamos viajando por um deserto quase estéril. Nanahoshi ficou tão exausta que Orsted acabou precisando carregá-la nas costas. Teríamos que estar bem preparados.
Eu tinha a minha magia, então não nos faltaria água fria. Só isso já tornaria as coisas significativamente mais simples. Não tínhamos um mapa para a cidade de Bazaar, mas Elinalise confiava em sua habilidade de viajar por territórios desconhecidos. Ela alegava que elfos podiam viajar até mesmo pelas florestas mais densas sem nunca ficarem perdidos.
Senti a necessidade de mencionar que um deserto não era nada parecido com uma floresta, mas isso só me rendeu um sermão irado sobre seus muitos anos de experiência como aventureira. Dado o quão confiante ela estava, tive de presumir que ficaríamos bem.
Assim que chegássemos em Bazaar, poderíamos contratar um guia para o nosso destino final. Rapan ficava a cerca de um mês ao norte, e essa seria uma longa jornada. Elinalise poderia nos manter na direção correta, mas seria muito mais fácil encontrar algum habitante local que conhecesse um caminho mais prático.
Depois de chegar a Rapan, resgataríamos minha mãe o mais rápido possível e voltaríamos para casa pelo mesmo caminho que usamos. Ou seja, precisaria contar sobre os círculos de teletransporte a mais gente, mas não tínhamos muitas escolhas. Eu não poderia dizer aos meus pais para pegarem o caminho mais longo na volta.
Pelo que sabíamos, Paul estava viajando em um grupo de seis pessoas. Provavelmente sete, presumindo que Geese se juntou a ele. Só teríamos que fazer todos jurarem segredo.
A propósito, fiz questão de avisar Sylphie e minhas irmãs a não contar sobre os teletransportadores a ninguém. Só para deixar claro, mencionei que um cara muito assustador, um que poderia derrotar Ruijerd em um instante, poderia ficar muito bravo se dessem com a língua nos dentes.
Com nosso plano básico definido, Elinalise e eu começamos a trabalhar nos detalhes.
Eu já tinha organizado o meu equipamento. Levaria meu cajado de confiança, Aqua Heartia, e um robe que Sylphie escolheu para mim. A única outra coisa que passou pela minha mente foi o feitiço de invocação que Nanahoshi me deu anteriormente. Eu não sabia quando poderia ser útil, mas decidi levar dez cópias do pergaminho comigo. Poderia fazer uma nova chapa de impressão em um único dia, mas não queria carregar tinta pelo deserto. Os pergaminhos eram muito mais leves e menos frágeis. E se acabasse precisando de mais, poderia simplesmente comprar um pouco de tinta em Rapan.
Por falar nisso, eu não tinha a moeda local. Sequer tinha certeza de que tipo de dinheiro usavam por lá. Provavelmente seria mais fácil se levasse algo que pudesse trocar por dinheiro com facilidade.
Fora isso, só precisava de rações comestíveis para a viagem. Era a minha primeira viagem a Begaritt, então não fazia ideia de que tipo de ferramentas ou equipamento poderia precisar. Teria que obter tudo no local, conforme necessário.
Como nossa jornada iria durar apenas seis semanas, fiquei com algum espaço livre nas minhas malas. Eu poderia tecnicamente levar algumas coisas que nem precisava.
Mas isso não significava que seria inteligente me sobrecarregar com bobagens. Viajar com pouca bagagem deveria ser melhor. Estaríamos chegando a Bazaar dentro de uma semana, então não era como se fôssemos vagar pelo deserto por muito tempo. Ainda assim, decidi levar um livro que continha detalhes sobre magia de teletransporte, dados os potenciais riscos que estaríamos enfrentando. Eu sabia que Orsted usou essas coisas no passado, mas isso não significava que estaríamos em segurança.
Voltei para os escritórios da universidade, adulei Jenius por um tempo e consegui permissão para pegar alguns títulos da biblioteca emprestados por um longo prazo. Peguei o livro que tinha em mente, Uma Consideração Exploratória sobre Teletransportação em Labirintos, e peguei um volume chamado O Continente Begaritt e a Língua do Deus Lutador que também estava por lá. Achei que poderia ser útil se eu passasse por dificuldades de compreensão.
Lembrei que Ginger sabia uma ou outra coisa sobre cavalos, então pedi a ela que me acompanhasse até um estábulo local. Aproveitei para avisar Zanoba a respeito da situação.
— Entendo! Você então poderá voltar em cerca de meio ano?
— Sim. Mas não posso explicar como.
— É mesmo? Hmm… sabe, eu poderia ordenar que Ginger vá junto, caso queira.
— Não seja ridículo, Zanoba. — Por que eu sairia do meu caminho para tornar a pobre mulher em minha inimiga?
— Hrm. Bem, como desejar.
— Não se preocupe comigo, certo? Apenas se preocupe em cuidar de Sylphie e das minhas irmãs.
— Não há necessidade em se preocupar com isso. Talvez eu até possa designar Ginger para protegê-las em sua ausência.
Eu bufei.
— É coisa da minha cabeça ou você está tentando afastá-la?
Zanoba olhou na direção de Ginger, então se inclinou para sussurrar ao meu ouvido.
— A mulher é meio incômoda, Rudeus. Desde que eu era criança, ela me dava sermões sobre cada erro que cometia. E, ultimamente, também tem sido rígida demais com Julie. Isso está ficando irritante.
O cara parecia um estudante universitário reclamando da mãe. Pensando bem, ele devia ter uns vinte e poucos anos. Eu conseguia entender como ele se sentia. Mais ou menos.
Mas, acima de tudo, me sentia mal por Ginger. Ela ainda era jovem. A garota estava gastando seu tempo cuidando de um bebê superdesenvolvido.
— O que você acha disso, Julie? — perguntei.
Nossa aluna mais nova havia se juntado a nós na expedição para comprar cavalos. Teria que encorajá-la a continuar com o treinamento enquanto eu estivesse fora. Poderíamos retomar o projeto da estatueta de Ruijerd após o meu retorno.
— A Srta. Ginger só… aponta os… maus hábitos do Mestre Zanoba.
— Bem, lá vamos nós. Melhore a forma, Zanoba. Você precisa dar um bom exemplo para ela.
— Hrm…
Sim, isso realmente me lembrava uma mãe invadindo o apartamento imundo que seus dois filhos estavam enchendo com pilhas de lixo. Isso era, de certa forma, reconfortante.
— Enfim. Continue praticando enquanto eu estiver fora, de acordo com o prometido, certo, Julie?
— Sim, Grão-Mestre. Vou dar o meu melhor.
Julie não estava mais tropeçando tanto nas palavras. Também tínhamos que agradecer a Ginger por isso.
Nesse ponto, a mulher em questão chegou onde estávamos, conduzindo um cavalo pelas rédeas.
— Aqui está, Sir Rudeus. Acredito que este deve atender às suas necessidades.
— Ooh…
Os cavalos nessas partes costumavam ser criaturas volumosas, já que precisavam passar a maior parte do ano abrindo caminho pela neve. Este, de perto, parecia quase uma espécie de cavalo diferente daqueles de corrida com os quais eu estava familiarizado. Não correria tão rápido, mas poderia continuar andando por vários dias. Os cavalos deste mundo eram, no geral, monstruosamente fortes.
Por nenhum motivo em particular, decidi que ele era digno do nome Matsukaze.
— Obrigado, Ginger. Você tem sido de grande ajuda.
— Está tudo bem. Não foi nenhum problema.
— Quer que eu peça a Zanoba para fazer algo por você? Quem sabe massagear os seus ombros?
— Sir Rudeus… tenho muito respeito por você, mas gostaria que mostrasse um pouco mais…
— Tá bom, tá bom. Foi mal. Foi uma piada.
A julgar pela forma como estava me encarando, Ginger não achou isso muito engraçado.
Enfim. Consegui meu cavalo e deixaria as pessoas mais importantes da minha vida saberem o que estava acontecendo. Eu estava me esquecendo de alguém? Talvez. Mas senti como se tivesse falado com todos os meus amigos. Badigadi ainda não estava por perto, mas não havia nada que eu pudesse fazer a respeito.
Bem, tanto faz. Verifiquei cada um dos itens da minha lista de tarefas e fiz todos que sabiam sobre os círculos de teletransporte jurarem segredo. Estávamos prontos para ir.
No dia da nossa partida, minha esposa e minhas irmãs me acompanharam até a porta da frente.
— Voltarei antes que você perceba, Sylphie.
— Rudy…
Ela jogou os braços ao meu redor enquanto lacrimejava. Me acostumei a abraçá-la nos últimos seis meses. Seu corpo era pequeno e irradiava calor. Às vezes era como abraçar um animalzinho afetuoso.
Mas, desta vez, seus ombros estavam tremendo e ela também fungava um pouco. Isso não estava tornando a partida mais fácil, sinceramente.
Afinal, deveria ficar…? Talvez pudesse esperar o nascimento da minha criança para só então ir ajudar o meu velho.
Digo, pense nisso. Normalmente, levaria um ano apenas para chegar lá. Eu não poderia ficar em casa por mais sete meses e partir depois do nascimento da minha criança? A viagem deve levar apenas seis semanas, então eu poderia fazer isso dentro do prazo.
Eu não era forte o suficiente para impedir que essas coisas passassem pela minha mente. Mas, no final das contas, Geese estava desesperado o suficiente para enviar uma mensagem expressa do Continente Begaritt. Esses serviços não eram baratos, mesmo para as cartas mais curtas; não era algo que alguém faria, a menos que fosse necessário. O tempo provavelmente era essencial.
E se eu fosse logo, ainda poderia voltar em tempo para ver o nascimento da minha criança. Só precisava pensar nisso como uma espécie de viagem de negócios.
Enxugando as lágrimas de Sylphie, falei com minhas irmãs, que estavam atrás dela, sem jeito, no vestíbulo.
— Aisha, Norn, vejo vocês depois. Cuidem das coisas por mim, certo?
Eu mesmo não tinha certeza do significado disso, mas as duas concordaram enfaticamente.
— Não se preocupe, irmão querido. Vou manter as coisas por aqui sob controle.
— Claro, Rudeus! Tome cuidado!
Balancei a cabeça.
— Bom saber. Tentem não brigar uma com a outra, certo?
Elas responderam “Sim!” em perfeito uníssono. Não pude deixar de sorrir diante das expressões severamente sérias em seus rostos.
— Sylphie!
Elinalise escolheu este momento para dramaticamente montar em nosso cavalo. Ele estava com duas semanas inteiras de provisões no lombo, mas nem parecia sentir o peso. Nosso Matsukaze era realmente uma fera.
— Seja corajosa, querida, você vai ficar bem! De qualquer forma, você não precisa do marido por perto para dar à luz. Confie em mim, estou falando por experiência própria.
— Acho que sim — disse Sylphie com um sorriso fraco. — Tome cuidado também, Vovó.
— Ah, não se preocupe comigo. Consigo me virar.
Elinalise jogou o cabelo para cima em um gesto de suprema confiança. A mulher podia ser legal quando queria. Parecia até um cavaleiro de um conto de fadas ou algo assim.
Era uma pena que eu a tivesse visto fazendo birra no outro dia. Aquele tipo de memória destruiu a experiência toda.
Bem, acho que todo mundo tem seus pontos fracos, não?
Eu mesmo com certeza tinha vários.
— Então tá bom. É melhor pegarmos a estrada.
Sem desperdiçar mais tempo, pulei atrás de Elinalise. Ela era uma mulher magra, mas sentou-se na sela ereta feito uma vareta. Era meio reconfortante saber que era ela quem ficaria nas rédeas.
E ter meus braços ao redor dela também não era desagradável. Senti uma pontada de culpa, mas… ei, só estava a pegando emprestada de Cliff por um tempinho, certo?
— Rudy?
Sylphie inclinou a cabeça curiosamente para mim. Não que eu estivesse fazendo algo suspeito! Sério! Eu tinha que segurar firme para não cair – isso era tudo.
— Certo, pessoal. Nos vemos logo.
Por fim, nossa jornada começou.
Levamos cinco dias para chegar à floresta a sudoeste de Sharia.
Durante a primeira etapa da jornada, fomos acompanhados por um aventureiro que contratamos na guilda. Ele seria o responsável por levar nosso cavalo de volta para a cidade. Os cavalos apenas atrasariam em uma floresta densa, e não sabíamos o tamanho do teletransportador que usaríamos. Ter um animal de carga para nossas viagens pelo deserto seria conveniente, mas seria mais inteligente se conseguíssemos um por lá. Provavelmente encontraríamos algo mais adequado ao clima local.
Resumindo, ter alguém escoltando nosso cavalo de volta para Sharia fazia mais sentido. Ele não custou barato, então eu pretendia ficar com ele.
Nunca aprendi a cavalgar, então passei a maior parte da viagem agarrado a Elinalise. Claro, me mantive ocupado… de forma completamente platônica. Passei um dia inteiro carregando aquela fralda mágica que Cliff criou. Isso envolvia passar meus braços ao redor da cintura de Elinalise, então notei nosso guia contratado me lançando alguns olhares de inveja.
Depois de chegar à floresta, nos despedimos de Matsukaze. Ele esperançosamente se daria bem com Aisha e os outros.
Agora tínhamos uma floresta para investigar. Esqueci qual era exatamente o nome dela. Algo semelhante a Floresta Lumen, será? Uma palavra que significa “estômago” em um ou outro idioma.
Essa escolha faz sentido quando se entra no local. A vegetação era incrivelmente densa; havia tantas árvores altas e antigas que seus galhos chegavam a bloquear o sol. Um lugar meio sombrio, na verdade. O solo estava cheio de raízes, então muitas vezes parecia que estávamos andando em cima de um piso de madeira todo furado e irregular. Era preciso tomar cuidado por onde anda o tempo todo. As árvores maiores tinham raízes ainda maiores e, em alguns lugares, até mesmo formavam um tipo de escada natural. Era quase como uma masmorra ao ar livre.
Mesmo um patrulheiro experiente poderia facilmente se perder em um lugar destes. E uma vez que desviasse do caminho, seria fácil se tornar a presa de um monstro ou escorregar e cair de uma “plataforma” de madeira. Muitos corpos humanos foram, sem dúvidas, digeridos por esta floresta ao longo dos séculos.
Não parecia que recebia visitas frequentes de lenhadores. Será que os monstros locais eram fortes? Ou numerosos? Ou talvez existissem outras florestas próximas que estivessem melhor localizadas. Sinceramente, a resposta devia ser uma combinação de todas as opções.
Só para ficar claro, os lenhadores deste mundo não eram motivo para zombaria. Um grupo deles costumava ser mais organizado e capaz do que um bando regular de aventureiros. As florestas ofereciam madeira de sobra, mas também eram o lar de muitos monstros. O ato de cortar uma única árvore se tornava uma tarefa perigosa. As pessoas precisavam formar times – e às vezes até mesmo contratar guarda-costas. Uma expedição típica envolvia alguns combates sérios que iam além de cortar madeira, então a guilda dos lenhadores era o lar de muitos sujeitos formidáveis.
Além disso, o trabalho deles tinha uma função vital neste mundo. Se as árvores não fossem regularmente cortadas, em algum momento teriam que lidar com enxames de Entes perigosos.
— Lembra da formação que discutimos antes, Rudeus? — disse Elinalise. — Vamos tomar nossas posições.
— Certo.
Ainda assim, isso não era nada para aventureiros veteranos como nós. Estávamos alertas, é claro, mas calmos. Elinalise assumiu a liderança e eu a segui de certa distância.
Como podia se esperar de uma elfa, ela sabia como andar neste terreno. E graças à sua excelente audição, recebíamos avisos antecipados sempre que algum inimigo tentava nos emboscar.
— Três monstros às duas horas!
— Certo.
Ao comando, disparei um Canhão de Pedra à frente e à direita. O projétil acertou um javali verde, bem no momento em que ele rompeu a folhagem, fazendo-o voar para trás enquanto esguichava sangue. Seus dois companheiros na mesma hora deram meia-volta e fugiram.
Elinalise estava lidando com a parte de “busca” e eu com o dever de “destruir”. Até então, estávamos eliminando todas as ameaças antes mesmo de se aproximarem de nós. Não tínhamos nos envolvido em nenhum combate real até o momento, o que era bom para mim. Elinalise parecia estar nos guiando em torno de áreas perigosas onde os animais se reuniam em grande número. Evidentemente, era uma habilidade que adquiriu ao longo dos anos, e não algum tipo de instinto élfico natural.
— Acho que encontrei. É este o monumento que estávamos procurando, certo?
Passado algum tempo, ela avistou o que estávamos tentando encontrar. Era uma chapa de pedra plana com um símbolo esculpido na superfície, em frente a uma espessa parede de vegetação. Me resignei com a possibilidade de vasculhar a floresta por dois ou três dias, mas conseguimos encontrar a coisa antes do pôr do sol. A mulher talvez tivesse colocado pontos de habilidades em Encontrar Segredos ou algo assim.
As escritas na pedra me eram familiares às do monumento dos Sete Grandes Poderes. Tinha o brasão do Deus Dragão – um padrão afiado e angular composto principalmente de triângulos. Me lembrava um pouco do símbolo mágico que aparecia na testa de um personagem de anime quando ele ficava mais forte, embora os detalhes específicos fossem totalmente diferentes. Talvez fossem ambos representações do rosto de um dragão.
Ainda assim… eu já tinha visto esse brasão sozinho?
Ah, é mesmo. Parecia muito com o símbolo que estava naqueles documentos que encontrei no porão da minha casa. Existiam algumas diferenças sutis, mas eram definitivamente semelhantes. Será que o homem que criou aquele robô assassino possuía alguma conexão com o Deus Dragão?
Bem, provavelmente existia um monte de símbolos parecidos por aí. No meu velho mundo, muitos países tinham bandeiras semelhantes.
— Algum problema?
— Nah, não é nada.
Elinalise percebeu que eu passei um bom tempo estudando o símbolo, mas decidi não prosseguir mais com a mesma linha de pensamento. Tínhamos outras prioridades no momento.
— Então vou começar a remover a barreira — falei.
— Certo. — Elinalise se virou para cuidar da retaguarda enquanto eu trabalhava.
Coloquei a mão na superfície da pedra e abri o diário de Nanahoshi, na página onde ela havia escrito suas anotações. Havia um encantamento específico que eu deveria usar.
— O wyrm viveu apenas pelos seus ideais. Ninguém poderia escapar do alcance de seus poderosos braços. Ele foi o segundo a morrer… um General Dragão, suas escamas verdes e douradas, sua vida sendo o mais efêmero dos sonhos. Em nome do Imperador Dragão Sagrado Shirad, quebro seu selo.
No instante em que a palavra final saiu da minha boca, senti a mana fluindo do meu braço para a pedra, e o mundo começou a se distorcer diante dos meus olhos. O próprio ar pareceu circular de um jeito estranho por um momento; quando passou, a espessa parede de árvores e plantas à minha frente sumiu, deixando um edifício de pedra no lugar de tudo.
— Whoa!
— Nunca vi um encantamento como este — disse Elinalise, olhando espantada para a estrutura.
Também não era como nada que eu já tinha visto. Mas a maneira como a pedra sugou a minha mana era familiar. Provavelmente era um implemento mágico estacionário e superdimensionado. Se o quebrássemos ao meio, devíamos encontrar um monte de círculos mágicos complexos gravados lá dentro.
Ainda assim, o encantamento me pareceu ser original do Deus Dragão, com todas as, uh… referências a dragões. Aquele cara, Imperador Dragão Sagrado Shirad, era um dos cinco Generais Dragões das velhas histórias, não?
O encantamento parecia incompleto, visto que faltava o nome do feitiço em si. Mas se tivesse a coisa toda, talvez pudesse imitar o poder da pedra e dissipar as barreiras mágicas livremente. Isso parecia perturbadoramente plausível.
— Bem, vamos indo.
— Uh, certo.
Eu meio que queria arrancar a pedra e levá-la para casa comigo, mas parecia o tipo de coisa que poderia me fazer ser assassinado por Orsted. Já tive o suficiente disso por uma vida.
O prédio diante de nós era uma estrutura atarracada de um único andar. Vinhas de hera corriam ao longo de suas paredes, e havia lugares onde as pedras se desintegraram ao longo dos anos.
— Hmm… o lugar parece uma típica ruína antiga, não?
— Vi alguns labirintos com entradas parecidas com isso — disse Elinalise. — Ah, é mesmo. Você não tem nenhuma experiência com labirintos, tem, Rudeus?
— Não. Explorei algumas ruínas antigas e tal, acho, mas nunca um labirinto de verdade.
— Nesse caso, certifique-se de ficar atrás de mim. Só pise onde eu pisar.
— Certo, posso fazer isso. Mas, uh, não acho que este lugar seja um labirinto, ou é?
— Melhor prevenir do que remediar.
Justo. Pelo que sabíamos, podiam existir armadilhas.
Ainda assim, Elinalise não era uma ladra nem nada do tipo. Seria capaz de encontrar armadilhas? Só por garantia, ativei meu Olho da Previsão. Não era exatamente um sistema de alerta antecipado, mas poderia me ajudar a lidar um pouco melhor com emboscadas repentinas.
— Então tá, Rudeus. Vamos lá. Esteja pronto para me cobrir no caso de as coisas ficarem feias.
— Certo.
Cautelosamente, Elinalise e eu entramos juntos na ruína de pedra.
— …
O interior também era feito de pedra. Aqui e ali, podia ver vinhas ou raízes de árvores cutucando as paredes. Uma situação clássica de “ruínas florestais”, basicamente.
Mas a estrutura não era tão grande. Na verdade, parecia que possuía apenas quatro cômodos. Nos movemos sem pressa, certificando-nos de investigar todos os cantos.
Os dois cômodos mais próximos da entrada eram espaços completamente vazios com cerca de sete metros quadrados. O terceiro tinha um armarinho em um canto; quando abrimos a porta, encontramos roupas de inverno masculinas ali guardadas. Ficou claro que não estavam ali por décadas. Alguém havia trocado de roupas neste lugar há relativamente pouco tempo. E, por alguém, digo Orsted.
O círculo de teletransporte supostamente nos levaria para o meio do deserto, e essa região sofria com nevascas durante boa parte do ano. Eu imaginava que seria difícil comprar roupas adequadas para esse clima em Begaritt, e provavelmente era por isso que as deixou ali para a sua próxima visita.
Se eu soubesse que poderíamos deixar coisas assim para trás, poderia ter preparado um pouco mais de bagagem. Mas não faz sentido chorar pelo leite derramado.
— Qual o problema? Existe algum motivo para você ficar olhando para essas roupas?
— Nah. Só estou me perguntando se há algo que poderíamos deixar para a nossa viagem de volta.
— Hmm… não sei. Se deixássemos suprimentos aqui, estaríamos basicamente os desperdiçando.
Claro, se deixássemos a comida que preparamos ali por meses, ela definitivamente não continuaria comestível. Com ou sem barreira, deviam existir insetos no local.
— Então vamos embora — disse Elinalise, virando-se para a saída.
— Certo.
No quarto e último cômodo, encontramos um conjunto de escadas que desciam para a escuridão.
— Minha nossa. Isso sim parece suspeito.
Elinalise examinou a área ao redor das escadas e verificou todos os cantos do cômodo, igual um jogador de FPS limpando a área. Acredito que as escadas eram lugares populares para colocar armadilhas.
— Então tá… acho que está tudo bem.
No final, porém, ela não achou nada. Não fiquei tão surpreso. Se alguém quisesse colocar armadilhas no lugar, provavelmente também as colocaria na entrada.
— Vou descer primeiro. Cuide da retaguarda, Rudeus.
— Certo.
Elinalise desceu as escadas bem devagar e com muito cuidado. Fiz questão de seguir seus passos. Estranhamente, as ruínas não ficaram mais escuras à medida que descíamos.
O motivo disso ficou claro assim que chegamos ao fim da escada.
— Bem, aí está…
Havia um enorme círculo mágico no chão à nossa frente – tão grande quanto um dos cômodos do andar de cima. Em tamanho, pelo menos, era comparável ao que fiquei preso no palácio real de Shirone. E estava constantemente emitindo uma luz branco-azulada.
— Então seria este o círculo de teletransporte?
— Sim, devo assumir que sim.
Só para ter certeza, tirei o diário de Nanahoshi da minha bolsa e revi as suas anotações. A coisa à nossa frente parecia muito semelhante ao esboço de um círculo de teletransporte bidirecional. Havia pequenas diferenças, mas todos os recursos principais estavam ali. Tudo o que tínhamos a fazer era pisar na coisa e, teoricamente, deveríamos reaparecer no Continente Begaritt.
Elinalise, no entanto, não parecia estar com pressa para fazer isso. Estava olhando para o círculo mágico com uma expressão hesitante no rosto.
— Algum problema, Elinalise?
— Tenho algumas memórias bem dolorosas envolvendo teletransportes, isso é tudo.
Memórias dolorosas? Estava falando sobre algum incidente durante seus dias como aventureira?
— É, bem… você não é a única.
— Ah. Suponho que não.
Elinalise balançou a cabeça e voltou a olhar para o círculo mágico. Desta vez, havia uma expressão realmente determinada em seu rosto.
— Se essa coisa nos jogar no meio do oceano — acrescentei prestativamente —, vamos nos certificar de fazer Nanahoshi se arrepender.
— Tudo bem — disse Elinalise. — Vou segurá-la enquanto você enfia.
— Podemos ir com algo menos sexual?
— Sexual? Não especifiquei o que você estaria enfiando, nem onde, querido. Você pode simplesmente enfiar o dedo no nariz dela ou algo assim. Você que leva tudo por trás.
— Enfiar o dedo no nariz de uma garota, na verdade, ainda me parece algo meio sexual.
— É mesmo? Hmm. Depois vou perguntar se o Cliff quer tentar.
— Não me culpe se ele aceitar.
Sorrindo, Elinalise me pegou pela mão. Apesar de seus dedos finos, seu aperto era forte. Esta era a mão de uma aventureira. Também estava um pouco quente e suada, e fez meu coração começar a bater um pouco mais rápido.
Claro, eu tinha Sylphie, e Elinalise tinha o Cliff. Se acontecesse algo entre nós, estaríamos ambos cometendo adultério. E, de qualquer forma, não era como se tivéssemos sentimentos um pelo outro.
— Espero que não esteja entendendo as coisas mal, Rudeus. É importante mantermos contato físico enquanto nos teletransportamos, isso se quisermos ter certeza de que continuaremos juntos.
— Ah, é mesmo. Sim. Sinto muito por isso. — Opa. Isso foi meio embaraçoso.
Eu não era mais um virgem, então não tinha desculpas para continuar cometendo esse tipo de erro.
— Lá vou eu de novo, seduzindo o marido da minha neta sem nem tentar — suspirou Elinalise. — Suponho que sou tão gostosa que isso chega a ser um crime.
— Sim. É melhor expiar os seus delitos apresentando um pedido de divórcio.
— Ei! Vamos lá, agora você só está sendo rude.
Assim era melhor. Se transformássemos o constrangimento em piada, isso acalmaria a tensão sexual. Elinalise realmente sabia como lidar com esse tipo de situação.
— Certo, e aí, podemos ir?
— Vamos fazer isso.
Pisamos no círculo de teletransporte ao mesmo tempo.
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Tradução: Taipan
Revisão: Milady
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