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Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 10 – Cap. 07 – Fim da Recepção do Casamento

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A recepção foi um sucesso. Não selamos nossa promessa com um beijo ou trocamos anéis, mas passamos o tempo todo comendo, bebendo, conversando e nos divertindo. Apreciei a facilidade e a informalidade disso tudo.

Quando chegou a hora de ir para casa, as pessoas se dividiram em grupos de dois ou três. As primeiras a se despedir foram Linia e Pursena. Será que o povo-fera considerava que não se demorar muito era boa educação?

— Bem, mew… Divirta-se, Chefe.

— Agora sim você é o chefe da escola. Fico ansiosa pelo próximo semestre.

Depois de dizer isso, as duas começaram a caminhar pela neve, rumo à casa delas.

A segunda a sair foi Nanahoshi, com quem Luke aleatoriamente puxou uma conversa. Era quase como se ele estivesse tentando dar em cima dela, embora não estivesse sendo lá tão  transparente a respeito disso. Ele se esforçou para falar sobre roupas e comida, tópicos que pareciam ser do interesse de Nanahoshi. O rapaz era bom em parecer interessado em tópicos de interesse da outra pessoa, mesmo estando um pouco deslocado. Ainda assim, isso foi educacional. Mas não era como se eu pretendesse fazer uso de tal conhecimento.

Nanahoshi, por outro lado, não fez nenhuma tentativa para disfarçar o quanto estava se sentindo incomodada. Ela olhou para ele, irritada, e também suspirou, aborrecida. No final, correu para o banheiro só para se livrar de Luke. Quando reapareceu, foi direto para onde eu estava, parecendo até mesmo agitada.

— Já está na hora de eu ir embora. Aquele lá está me irritando.

— Então tá bom. Tenho certeza de que você está exausta. Obrigado por ter vindo hoje — falei.

— Amanhã estarei contando com a sua ajuda novamente. E mais uma coisa.

— O que seria?

— Em algum momento no futuro, posso usar a sua banheira?

Ela aparentemente deu uma boa olhada no nosso banheiro. Por ser uma japonesa, provavelmente estava sentindo falta das banheiras. Afinal, o seu nome era Shizuka.

— Certo. Mas Nobita pode acabar te espiando…

— Esqueça o que eu disse.

— Não, sério, eu só estava brincando. Pode vir quando quiser.

Nanahoshi acenou com a cabeça e começou a se retirar. O sol ainda não tinha se posto, mas me perguntei se ela estaria segura ao retornar sozinha, embora tivesse chegado sem companhia e tivesse itens mágicos que tomariam conta da sua proteção.

— Escolte a Mestra Silente de volta para a sua residência, por favor.

— Sim, Princesa.

Enquanto eu hesitava a respeito do que fazer, a Princesa ordenou que uma de suas acompanhantes servisse como sua escolta. Eu já devia esperar isso de alguém com tanto carisma. Nanahoshi, entretanto, foi obstinada ao recusar a oferta e foi para casa sozinha.

Os próximos foram Zanoba e Julie, depois Badigadi. Badigadi, Zanoba e Ariel compartilharam bebidas enquanto conversavam alegremente entre si. Como eu sabia da afinidade de Badi com o álcool, preparei uma boa quantidade, só como medida de segurança mesmo. Mas parecia que não foi o bastante. Antes que eu percebesse, dois dos três tonéis de vinho que escondi no porão ficaram vazios. Pensei em pedir mais, mas, antes que eu pudesse fazer isso, Zanoba já estava caindo.

— Bwahaha! Você com certeza é bem fraco para uma “Criança Abençoada” — gargalhou Badigadi.

— Ha ha ha… urgh, que vergonha. Parece que me empolguei.

— Mestre, você está bem? — A Pequena Julie estava tentando servir de apoio para Zanoba enquanto ele tropeçava.

— Hee hee hee. Será que você não deve descansar em um dos quartos? — sugeriu Ariel. Ela não tinha bebido muito; manter a integridade provavelmente fazia parte do seu treinamento como uma dama nobre. Tudo o que ela fazia era elegante, desde a forma como inclinava o copo até a maneira como ria. Ela provavelmente estava um pouco tonta, mas o leve rubor que o álcool havia lhe dado apenas a deixou mais charmosa.

— Não. Como aluno, e um orgulhoso membro da família Nobre Shirone, já me traz vergonha por estar tão completamente embriagado na casa do meu próprio mestre. Vou me despedir enquanto ainda posso andar.

Zanoba veio se despedir de mim. Eu, pessoalmente, não via problemas nele ficando em nosso quarto de hóspedes… Mas, bom, tanto faz o que ele quisesse fazer.

— Suponho que eu também devia ir. Princesa de Asura, passe bem! — disse Badigadi.

— Sim, vossa alteza. Espero que também passe bem.

— Bwahaha! Eu não fico doente nem sou ferido!

E assim, tanto Zanoba quanto Badigadi se despediram. Huh. Eu tinha certeza de que eles seriam os últimos a partir.

Quando Ariel e seu grupo se prepararam para partir, a recepção chegou ao fim. Enquanto se preparavam para isso, decidi verificar Elinalise. Subi até o segundo andar e dei uma espiada no quarto de hóspedes.

Fui recebido por uma exibição emocionante – não, não, não do tipo sexual. Era apenas Elinalise usando o colo de Cliff como travesseiro. Ele parecia ter conseguido confortá-la, e então partiram para as demonstrações de afeto. Fiquei com um pouco de inveja. Depois precisaria fazer o mesmo com Sylphie.

— Hm, Senhor Cliff, gostaria de falar com a vo… Digo, com a Senhorita Elinalise. Se importa? — perguntou Sylphie timidamente enquanto se escondia atrás de mim.

Cliff me encarou como se em busca de ajuda. Elinalise se levantou e acenou para mim. Eu acenei de volta. Com isso, Cliff se levantou e saiu do quarto.

— Obrigada, Rudy. — Sylphie sorriu suavemente antes de entrar.

Eu e Cliff descemos as escadas juntos. Ele parecia ansioso.

— Aquelas duas vão ficar bem?

— Se não ficarem, só precisamos estar de braços abertos para elas — respondi enquanto caminhávamos para o térreo.

Quando chegamos, Ariel e seu grupo tinham acabado de terminar os preparativos para a partida. As duas atendentes estavam ajudando a Princesa a vestir o casaco. Quando ela me viu, acenou com o queixo.

— Lorde Rudeus. Obrigada por hoje. — O resto do grupo também fez uma enorme reverência.

Me curvei em resposta, ao estilo japonês, embora tivesse certeza de que não deveria fazer isso em uma situação destas.

— Como está a Sylphie? — perguntou Ariel.

— Ela está conversando com Elinalise.

— Entendo. Com certeza foi uma surpresa e tanto descobrir alguém da família de Sylphie aqui. Achei que ela tinha perdido todos os familiares.

— De fato. O mundo é mesmo pequeno. — Sem mencionar que Elinalise e Sylphie eram tão diferentes quanto o dia e a noite. Principalmente em termos de castidade.

— De qualquer forma, esta é a oportunidade perfeita. Lorde Rudeus, posso ter um minuto do seu tempo?

Suas palavras me pareciam meio misteriosas, mas concordei da mesma forma.

— Pois bem. Por aqui. — Enquanto falava, Ariel rapidamente cruzou a sala e foi até o corredor. De lá, ela procedeu à entrada da frente, abriu a porta e saiu. Como se fosse tão natural quanto respirar, os outros três a seguiram. Eu segui o exemplo.

Lá fora, o sol começava a se pôr. Ariel parou no caminho por onde as pessoas caminhavam e a neve mal tinha a oportunidade de se acumular. E então virou-se para mim.

— Lorde Rudeus. Sei que te perguntar isso pode parecer inapropriado da minha parte… — Um momento de hesitação. — Você concordaria em um duelo com Luke? Sem magia, apenas espada contra espada.

Um pedido muito repentino. Incapaz de responder, franzi os lábios. Luke parecia completamente composto, a mão apoiada no punho de sua espada. Isso com certeza não era algo que Ariel havia decidido no calor do momento.

— Poderia explicar o seu raciocínio para isso?

Ela apenas sorriu suavemente.

— Apenas por diversão.

— “Por diversão”? — falei, e Luke desembainhou o que era uma espada bem real. Considerando que era uma de dois gumes, ele não iria me acertar com um lado cego. — Podemos ao menos usar espadas de madeira? Não tenho uma espada de verdade.

— Não me importo se você conjurar uma para o seu uso — respondeu ela.

— Mas você não disse para ser sem magia?

— Não vejo problemas se você usá-la para criar uma arma.

Então tá bom. Usei minha magia de terra para criar uma lâmina de pedra. A tornei espessa e durável, o que significava que também era pesada. Costumava praticar meus golpes todos os dias, então poderia manejá-la com facilidade, mas, se acertasse alguém em um lugar errado e acontecesse o pior, essa pessoa poderia morrer. Não era algo que deveria bater em alguém só “por diversão”.

— Não se preocupe — disse Ariel. — Foi Luke quem pediu por isso.

— Pediu, foi?

— Não me importo se você usar todo o seu poder para nocauteá-lo.

Sem minha magia, eu não passava de um espadachim comum. Não havia garantias de que poderia vencê-lo ou nocauteá-lo.

— Só para referência, Luke está no nível intermediário no Estilo Deus da Espada e iniciante no Estilo Deus da Água. A espada dele também é um item mágico, feita para cortar escudos de aço com tanta facilidade quanto cortaria manteiga. As botas que ele usa são como as de Sylphie, capazes de aumentar a velocidade do usuário. Sua capa pode bloquear calor, suas luvas aumentam a força e, por baixo do uniforme, usa roupas à prova de projéteis.

— Isso é incrível. — Então ele estava trajado da cabeça aos pés com um equipamento digno de um herói! Mesmo vendendo a minha casa recém-reformada, eu não teria dinheiro suficiente para conseguir isso tudo. — Em outras palavras, pode ser eu quem acabe nocauteado.

— Duvido. Mas, caso sinta que sua vida corre perigo, sinta-se à vontade para usar magia.

— Vou rezar para que ele não me corte ao meio antes que eu tenha a chance.

Aliás, por que ele propôs isso? Nenhum de nós se beneficiaria com a morte do outro.

— Antes de começarmos, gostaria que você me dissesse por que estamos fazendo isso. Fiz algo que te chateou? — perguntei.

— Não. É só por diversão. Mas, claro, se quiser, pode recusar.

— Quer eu aceite ou não, isso me preocupa. Se acertar no lugar errado, mesmo esta espada de pedra é mortal o suficiente para acabar com uma vida.

— Luke está preparado para essa possibilidade.

Bem, eu não estava. Eu era recém-casado e não queria matar ou ser morto.

— Por favor — disse Ariel. Sua voz parecia sombria.

O que isso iria provar? Talvez fosse algum tipo de tradição do Reino Asura. Eu poderia facilmente imaginar o velho Sauros dizendo algo como: “Se quiser tomar Eris como a sua esposa, primeiro deve me derrotar!”

Mas Sauros estava morto.

— Rudeus. Por favor, aceite. Se você for homem, deve entender — disse Luke.

Lá estava a frase – “se você for homem”. Uma observação injusta. Era como se ele estivesse dizendo que eu não era homem porque não entendia.

Ah, enfim. Não era como se fôssemos lutar a sério e mirar na garganta um do outro.

— Muito bem. Por favor, seja gentil comigo. — Mas eu ainda usaria meu Olho Demoníaco da Previsão. Não queria que ninguém morresse por acidente.

— Obrigada por aceitar o nosso pedido.

Eu ainda não entendia por que eles queriam fazer isso, mas após as palavras de Ariel, Luke ficou pronto. Assim que Cliff viu tudo, chamou por mim, confuso.

— E-ei, Rudeus, você tem certeza disso?

— Ah, Mestre Cliff. Se as coisas começarem a ficar ruins, por favor, lance um feitiço de cura na mesma hora.

— S-sim. Já estava planejando fazer isso.

Com a espada de pedra em mãos, lentamente assumi uma postura. Estávamos separados por cerca de três passos. Isso significava que após dar um passo poderíamos atacar um ao outro. Isso era mais perto do que a distância que eu normalmente estabelecia em minhas simulações.

— Pois bem, está pronto?

— Sim.

Após ouvir a minha confirmação, Ariel disse bruscamente:

— Comecem!

— Haaaaah! — berrou Luke, dando um pontapé no chão. Quando a neve se espalhou, ele lançou o seu corpo em direção ao meu.

 

 

 

Ele era lento. Não – em comparação com uma pessoa comum, provavelmente não era tão lento. Devia ser tão rápido quanto Linia, mas, ainda assim, lento o suficiente para que eu pudesse prever os seus movimentos. Ele não estava no mesmo nível que Eris ou Ruijerd, muito menos no de Orsted. Devia estar abaixo até mesmo de Soldat. Isso era tudo que podia fazer, mesmo com tantos itens mágicos?

Luke se aproximou, balançando sua espada em um corte diagonal.

— Hah!

Sua forma estava tecnicamente correta e também estava colocando seu peso no balanço. Ele também não estava contando muito com os seus itens mágicos, mas ainda se movia muito mais devagar do que as minhas simulações mentais.

— Hah!

Mirei no seu antebraço. Estilo Deus da Espada – Ataque Inicial, Fatia Braço! Era uma habilidade que aprendi há muito tempo, um movimento enraizado em mim através de centenas de milhares de balanços de prática.

— Guh!

O peso da minha lâmina quebrou o braço dele em um único golpe. Ele largou a espada e ela desapareceu na neve.

— Ainda não! — Luke na mesma hora tentou pegá-la com a mão esquerda.

— Não, acabou. — Eu impedi que ele agarrasse a espada, batendo o pé em seu peito e fazendo com que voasse. Ele saiu rolando pela neve. Quando tentou se levantar de novo, apontei a minha espada em sua direção.

— Já chega! — A exclamação de Ariel encerrou o duelo.

— Grr… — Luke usou a mão quebrada para dar um soco no chão, depois gemeu de dor e pôs uma tala em seu braço.

— Ellemoi, cure-o.

Ao comando da Princesa, uma de suas assistentes correu até ele. Ela segurou o seu braço quebrado bem perto de seus enormes seios, que ameaçaram envolvê-lo todo, e então lançou uma magia de cura.

— Incrível — disse Cliff, admirado. Ele não sabia nada de esgrima, então não fazia ideia da piada que a partida tinha sido. Existiam muitos espadachins e guerreiros mais habilidosos do que eu, como Eris ou Soldat. Eu tinha certeza de que não poderia derrotar qualquer um deles sem usar magia e meu Olho Demoníaco. Luke não passava de um espadachim comum. Se eu não tivesse usado o meu Olho, poderíamos ter trocado alguns golpes, mas foi exatamente como Ariel havia dito. Ele não era páreo para mim.

— Mestre Luke, você está bem?

— Estou bem.

Assim que ouvi a sua resposta calma, joguei minha espada de pedra de lado. Ela afundou na neve.

Luke se levantou e olhou na minha direção. Seu sorriso superficial de sempre havia sumido. Ele parecia sério.

— Cuide bem da Sylphie.

— É claro. — Ele estava me testando para ver se eu era forte o suficiente para a proteger? — Seria bom se você explicasse o seu raciocínio.

— Isso não é tão importante — observou Ariel. — Luke só tinha suas próprias incertezas a respeito do assunto. Orgulho masculino, suponho.

— Orgulho masculino? O quê, ele também está apaixonado pela Sylphie?

Não tive a intenção de zombar dele, mas Ariel franziu a testa diante da minha pergunta. Merda. Podia ter sido uma pergunta rude.

— Todos nós amamos a Sylphie, mas não no sentido romântico da palavra — disse ela. — Como camaradas que passaram por situações de vida ou morte juntos, compartilhamos de um vínculo poderoso.

— Minhas desculpas. Foi uma pergunta rude.

— Contanto que você entenda. — A expressão dela retornou à sua compostura usual. Ela olhou em direção à casa, onde Sylphie e Elinalise provavelmente continuavam conversando. — Eu eventualmente retornarei para o Reino Asura. A partir deste momento existirão apenas dois caminhos: Ou eu tomo o trono, ou morro. Há uma probabilidade significativamente alta de que seja a segunda opção e o palácio acabe se tornando o meu túmulo.

— Você tem que voltar?

— Se não fizesse isso, trairia as memórias daqueles que morreram para me colocar onde estou. Voltar para Asura é o meu dever.

Não existem privilégios sem responsabilidades. Apesar das suas palavras severas, não havia qualquer emoção no rosto de Ariel. O rosto dela era o de alguém que não duvidava em nada a respeito do que devia fazer. Não que eu estivesse em posição para julgar, mas, no que me dizia respeito, era essa convicção que a tornava uma boa candidata ao trono.

— Sylphie, no entanto, não tem esse dever — continuou ela.

Verdade. Sylphie não era nobre e nem da realeza; apenas uma estranha que foi jogada no palácio real durante o Incidente de Deslocamento.

— Sylphie salvou a minha vida. Ela esteve o tempo todo disponível para mim como uma amiga; mesmo após descobrir que os pais dela faleceram. Eu dependi muito dela. Mas agora já basta. Já era hora de eu parar de depender dela e deixá-la seguir o seu próprio caminho.

Mesmo assim, Sylphie tinha intenção de continuar seguindo a Princesa. Elas tinham passado por tantas coisas juntas, eu podia entender por que Sylphie queria ver as coisas até o fim. Se Ruijerd decidisse desafiar Laplace em uma batalha, por exemplo, eu provavelmente me juntaria a ele, mesmo com as minhas pernas tremendo o tempo todo.

Espera, essa provavelmente não era uma boa comparação. Mas a vontade de lutar ao lado do amigo era a mesma. Se Sylphie escolhesse seguir Ariel, eu ficaria orgulhoso dela. Mas se eu achasse que era uma luta na qual não tinha chances de vitória, gostaria de impedi-la.

— Sylphie pretende ficar comigo até o fim — disse Ariel. — Mas ela agora se casou, e se vocês dois tentarem o seu melhor, tenho certeza de que eventualmente terão filhos. Quando isso acontecer, espero que a vontade dela de me seguir acabe se esvaindo sozinha.

Eu não estava tão certo sobre isso. Quando essa hora chegasse, eu seria capaz de pará-la? Acho que não. De qualquer forma, eu provavelmente estaria ao lado dela para ajudar.

— Tendo dito isso — continuou Ariel. — Se você maltratar a Sylphie, então eu a tomarei de volta. Tenho certeza de que não podemos derrotá-lo com uma simples demonstração de poder, mas existem muitos outros métodos. Então, por favor, não me faça sentir que seria melhor mantê-la sempre comigo.

— Vou levar essas palavras a sério.

— Pois bem, Lorde Rudeus. Por favor, tome conta de Sylphie.

Ariel girou nos calcanhares. Suas duas atendentes se curvaram para mim. Luke me deu um olhar de reconhecimento enquanto pegava a sua espada. Os quatro então se retiraram, arrastando os pés pela neve até desaparecer, sem nem mesmo esperar que Sylphie descesse.

Enquanto via a partida deles, pensei comigo mesmo: Quando o dia chegar, não importa o que Ariel diga, estaremos lá para ajudá-la.

Quando voltamos para casa, Sylphie e Elinalise estavam descendo as escadas. Os olhos de Sylphie estavam inchados, mas parecia que um bom peso havia sido tirado de seus ombros.

— Ah, Rudy. Onde está a Princesa Ariel?

— Ela acabou de sair.

— Ah. Sinto muito por ter demorado. Ela disse alguma coisa?

— Só “Cuide bem da Sylphie”.

Eu ainda estava pensando a respeito da melhor maneira de mencionar o duelo, mas Cliff me interrompeu.

— Luke de repente desafiou o Rudeus para um duelo! Mas deixe que o Rudeus conte isso. Ele acabou com aquele lá com um único golpe. Ahh, eu queria poder mostrar a forma como aquele idiota insuportável se encolheu enquanto segurava o braço quebrado.

Você nunca decepciona, não é, Cliff? E, de novo, não soube ler o clima, pensei secamente. Não que isso importasse, mas tive a sensação de que ele não gostava muito de Luke. Bem, tanto faz.

Quando Sylphie ouviu isso, ela franziu as sobrancelhas.

— Rudy, você lutou com o Luke?

— Não, eu não chamaria aquilo de luta. Fui convidado a duelar com ele, a Princesa Ariel estava observando.

— Entendo. Luke provavelmente queria ver por ele mesmo.

— Ver o quê? — perguntei.

— Sua força. Até agora, tem sido ele quem protegeu à Princesa e eu.

Entendi o que ela estava tentando dizer, mas fiquei surpreso ao saber que o zelo dele era tanto. Acho que nunca se conhece o suficiente do coração de uma pessoa, hein? Mais importante, minha esposa tinha acabado de ser informada que eu tinha duelado e não estava nem preocupada? O meu oponente até mesmo usou uma espada de verdade.

— Mas obrigada, Rudy.

— Por quê?

— Por pegar leve com o Luke. Ele é fraco. Você poderia matá-lo se fosse com tudo.

Parecia que a hipótese de eu ser derrotado não havia nem passado pela cabeça dela. Mas, pobre Luke.

— Bem, chega de falar sobre mim — falei. — Terminaram de conversar?

— Sim — concordou Sylphie alegremente.

 

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No final das contas, Elinalise era avó de Sylphie. Em outras palavras, a mãe de Laws. Elinalise teve filhos meio-elfos pelo mundo todo e, devido à maldição e à sua personalidade, problemas a seguiram por todos os cantos. Suas habilidades para solucionar conflitos eram algo que dominou apenas nas últimas décadas; antes disso, costumava deixar escândalos e tormentas por todos os lugares que passava, e algumas dessas coisas ainda a assombravam.

Sua reputação era particularmente ruim entre os elfos, que costumavam condenar seus filhos ao ostracismo pelo crime de serem seus parentes. Muitos de seus filhos e netos a menosprezavam, tentando manter distância, então parou de revelar o seu nome verdadeiro a todos os filhos que tinha. Ela os educava até a idade adulta, depois cortava os laços com eles. Era assim que esteve vivendo, pelo menos até o momento.

Elinalise soube, com um único olhar, que Sylphie devia ser sua neta ou bisneta. Ela não tinha a intenção de revelar a verdade, mas quando viu Sylphie parecendo tão feliz no casamento, acabou tomada pela emoção. Era uma história emocionante. Eu mesmo fiquei com os olhos marejados enquanto escutava isso tudo. Mas Elinalise recusou todas as tentativas de ser confortada, alegando que isso era o resultado das suas próprias ações.

Assim que a conversa acabou, Cliff me chamou para um canto da sala.

— Rudeus? — disse ele.

— Sim, Mestre Cliff?

— Pare com essa merda de “Mestre”, e não precisa ficar falando bonito. Por favor, de agora em diante me chame de Cliff. Pare de ficar enrolando, por favor; apenas faça isso.

Portanto, não havia necessidade para o respeito, e ele estava me dando ordens como se fosse uma figura de autoridade? Ah, enfim. Desta vez eu deixaria passar.

— É sobre a Lise — continuou ele.

— Certo.

— Honestamente, ela não é a pessoa que eu pensei que era.

— Uhum. E?

Eu entenderia se ele estivesse desiludido. Afinal, a pessoa que amou por esse tempo todo não tinha apenas filhos, mas até mesmo netos. A julgar pelas suas palavras, existia a possibilidade de que tivesse até mesmo bisnetos. Até eu ficaria consideravelmente chocado. No entanto, se ele dissesse algo como “Ajude-me a terminar com ela” depois da conversa que ouvimos, até eu ficaria chateado. Não era como se Elinalise tivesse o enganado. Cliff a entendeu mal e se apaixonou por vontade própria. Pessoas em situações parecidas costumavam se sentir desiludidas depois de ouvir a verdade, mas, ainda assim, isso me dava nojo.

Porém, eu não iria impedi-lo. Elinalise ficaria melhor sem um pedaço de merda desses, e poderia até mesmo morar conosco. Então, se Sylphie permitisse, poderíamos ter nossa própria pseudo-família – espera, não, eu não poderia ficar com ninguém além de Sylphie. Bem, espera, poderia até dizer que estávamos fazendo isso pelo bem dela.

— A vida dela é ainda mais trágica do que eu pensava. Vou me livrar daquela maldição, não importa a que custo. Já que sou um gênio, tenho certeza de que eventualmente vou descobrir como fazer isso, mas, só para ter certeza, você se importaria em me ajudar?

E agora, qual de nós que era o pedaço de merda? Eu. Desculpa, Cliff.

— Então você não está desiludido depois de ouvir o que ela disse?

— Desiludido? Claro que não. Por que está dizendo isso? — respondeu ele sem qualquer hesitação.

— M-mas a mulher que você ama dormiu com um monte de gente, e não tem só filhos como até mesmo netos, sabe?

— E daí? Sou um seguidor de Millis. Não importa quais sejam as circunstâncias ou o quão longe ela esteja do meu ideal perfeito, ela me ama e tenho o dever de fazê-la feliz — disse ele.

Eu tremi. Ah, merda. Talvez tivesse realmente o subestimado. Eu provavelmente deveria começar a chamá-lo de Lorde Cliff. Bem, talvez não precisasse ir tão longe assim. Eu continuaria chamando-o apenas de Mestre Cliff, como sempre fiz.

— Certo, entendi. Ficarei feliz em ajudar em tudo o que puder.

— Sim, será bom saber que tenho o seu apoio. — Assim que estendi a mão para um aperto, ele a agarrou firmemente com a dele. — Além disso, pare de ser tão formal. Somos amigos, não somos?

— Eu recuso.

Fui preenchido por um profundo respeito por Cliff. Por menor que fosse a minha ajuda, ficaria feliz em auxiliá-lo.

 

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Cliff e Elinalise foram os últimos a ir embora. Então ficamos apenas Sylphie e eu. Começamos a limpar a bagunça que nossos convidados deixaram para trás. Bem, eu digo “bagunça”, mas nossos convidados eram, na maioria, bem-educados, então tudo o que tivemos que fazer foi limpar os lugares onde derramaram um pouco de álcool. Havia sobrado um pouco de comida, mas sobrar era melhor do que faltar. Poderíamos guardar as sobras para comer depois.

Quando terminamos a limpeza, o sol se pôs e o céu escureceu. Iluminei o lugar e voltei para a sala de estar. Quando tomei o meu lugar no sofá de três lugares, Sylphie sentou-se ao meu lado. Fiquei repentinamente exausto com os eventos do dia.

— Aconteceu bastante coisa, mas fico feliz que tenha corrido tudo bem — disse Sylphie sorrindo, apoiando a cabeça no meu ombro.

— Sim. — Quando passei meu braço em volta de seus ombros, ela apoiou todo o seu peso sobre mim. Enterrei o meu rosto em seu cabelo e respirei fundo, sentindo o seu cheiro. Mmm, que perfume doce.

— Rudy, isso faz cócegas.

Mas ela não me rejeitou. Continuei cheirando.

— Estou pensando em deixar o meu cabelo crescer — declarou ela.

Sugeri várias vezes para que fizesse isso, só para sempre me deparar com um “não”. Sempre pensei que tranças ou um rabo de cavalo combinariam com ela, mas nunca pensei que conseguiria ver isso.

— Tem certeza de que quer fazer isso?

— Por que você está sendo tão formal?

— Porque essa é uma conversa séria.

— Hm, não é tão séria assim. É só que, sabe, meu cabelo não é mais verde, certo? A Princesa Ariel me disse para ser mais feminina, mas ainda pretendo usar calças na escola, então pensei que devia ao menos deixar o meu cabelo crescer.

Então era isso. Ela não se sentia mais constrangida com o seu cabelo. Curioso, perguntei:

— Você não vai usar o uniforme feminino?

— Sem chances. Não ficaria bem em mim.

Vamos lá, ficaria perfeito, pensei. Se ela tem que ver para crer, então eu comprarei um assim que tiver a chance.

Deixando isso de lado…

— Bem, eu gostaria de ver como você fica com o cabelo comprido. Ficaria uma graça, sem dúvidas. Mesmo já sendo linda.

— Hee hee, obrigada. Então tá. Vou deixar crescer.

Isso significava que eu em breve teria que dizer adeus à Sylphie de cabelo curto. Precisava queimar essa imagem dela em minha mente, pelo menos enquanto ainda podia. Embora achasse que seria capaz de voltar a vê-la assim, caso cortasse o cabelo de novo.

— Rudy, vou dar duro para que o seu amor por mim continue forte.

Por que ela tinha que dizer isso? Senti meus olhos ficando marejados. Como eu podia ser tão amado? Também teria que dar duro, então seus sentimentos por mim nunca mudariam. Parecia que o que ela tinha em mente não era um idiota presunçoso, então parei de ser estúpido e comecei a pensar em agir como alguém inteligente. Não tinha certeza de que seria capaz de fazer isso, mas tinha que ao menos tentar.

— Sylphie, obrigado por tudo o que você fez hoje.

— Obrigada também, Rudy.

Como estávamos ambos exaustos, decidi que íamos só tomar um banho e relaxar.

Foi assim que Sylphie e eu nos casamos.

 


 

Tradução: Taipan

Revisão: PcWolf

 

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