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Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 08 – Cap. 03 – Primeiro Dia de Escola

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A Universidade de Magia de Ranoa.  A maior escola de magia do mundo, ocupando um vasto terreno e patrocinada por três países distintos, bem como pela Guilda dos Magos. O diretor atual era um dos chefões da Guilda dos Magos, o mago do Vento de nível Rei, Georg. O corpo discente era composto por mais de dez mil alunos, com vários professores contratados pela universidade. Apesar do nome de “Universidade de Magia”, as pessoas poderiam aprender uma variedade de coisas diferentes por ali.

Estudantes de todas as raças eram bem-vindos, inclusive demônios, que ainda estavam profundamente condenados ao ostracismo pela crença Millis, ou homens-fera, que tendiam a ser isolacionistas. Aceitavam até parte da realeza humana que fora expulsa de seu país devido aos conflitos pelo poder, ou crianças nobres que nasceram amaldiçoadas. Se alguém tivesse mana e pudesse lançar magia, poderia se matricular, seja lá quais fossem seus antecedentes. Essa política havia atraído alguma oposição, pelo que ouvi, mas apenas o Reino Asura poderia se opor ao poder da aliança e da Guilda dos Magos, e ele investiu uma quantia considerável de dinheiro na própria Guilda dos Magos.

A propósito, uma certa seita dentro do País Sagrado de Millis – os Cavaleiros do Templo, como eram chamados – posicionou-se em oposição direta à universidade e a tudo que ela representava. No entanto, como estavam do outro lado do mundo, parecia que não se importavam o suficiente para iniciar uma guerra por causa disso.

O período de estudo dos alunos era de sete anos. Poderiam passar um ou dois anos fora, podendo passar até nove anos matriculados. Caso se tornasse um pesquisador afiliado à Guilda dos Magos, poderia continuar usando o equipamento da universidade mesmo após a formatura.

A escola tinha um dormitório enorme de cinco andares, mas ficar lá era opcional. Aqueles com casas na cidade se deslocavam diariamente para suas casas. Em geral, porém, a maioria dos alunos morava no dormitório. Me foi preparado um quarto, um espaço simples com cerca de vinte tatames de largura, com um beliche. Havia também uma mesa e uma cadeira. Um quarto normalmente era compartilhado por dois alunos, mas os bolsistas moravam sozinhos. Se eu quisesse, poderia pedir por um colega de quarto, mas decidi não fazer isso. Não estava na universidade para fazer amigos.

Pelo visto, também poderia pagar para ser transferido para um quarto exclusivo para nobres, que era mais espaçoso e seguro. Mas não era algo de que eu precisava, estava certo disso. No momento não estava sendo alvo de nenhum assassino.

O banheiro ficava no corredor. Era, surpreendentemente, um com descarga. De fato, não era como se a pessoa pudesse apenas puxar uma cordinha e whoosh! Havia um jarro de água por perto cuja água deveria ser despejada para uma descarga manual, o que iria enviar todos os dejetos até o esgoto. Claro, aqueles como eu se sentiriam encorajados a usar a magia de água para uma descarga. Nessa nota, a tarefa de encher o jarro de água cabia ao responsável pelo uso, mas como aluno especial, eu estava dispensado disso.

Também foram fornecidos alguns uniformes. Os homens recebiam um terno, enquanto as mulheres recebiam o que parecia ser um blazer com saia. Para ser sincero, achei os modelos bem bonitos. Devia haver shorts de ginástica para serem usados na hora dos exercícios, certo? Ou assim qualquer um pensaria, mas, infelizmente, usavam apenas robes. A escola não os fornecia e não especificava quaisquer restrições ou preferências. Os alunos que ainda não tinham seus próprios robes provavelmente só compravam o que queriam. Eu ainda tinha o mesmo que já usava há algum tempo, então não precisei comprar outro.

— Bom, como ficou em mim?

Elinalise, em seu novo traje escolar, estava atualmente se mostrando para mim. A forma como seu cabelo possuía um penteado com cachos lustrosos fazia que seu robe parecesse até com um cosplay, mas o uniforme estava, na verdade, combinando bem com ela. Embora isso só me parecesse um cosplay por eu conhecer sua verdadeira personalidade.

— Se você dobrar a saia e deixá-la um pouco mais curta, será mais fácil pegar os homens. Certifique-se de dobrar apenas o suficiente para que todos possam quase ver a sua calcinha.

Elinalise olhou para mim como se eu fosse um gênio.

— Mas isso não vai me deixar com frio? — perguntou ela.

— Se colocar meia-calça até nas coxas vai ficar tudo bem, não vai?

— Entendo. Eu devia esperar isso de você, Rudeus. Você é um gênio. — Ela seguiu o meu conselho e dobrou a saia igual uma colegial. Em seguida, moveu a cintura até que sua calcinha extravagante ficasse quase visível.

Hmm… sim, calcinhas sexy como essa simplesmente não combinam com um uniforme, decidi.

 

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Fomos para a cerimônia de abertura, que aparentemente era algo importante nesta escola. A recepção para os novatos seria feita no pátio frio. Havia uma garota solitária que parecia entediada, enquanto outro garoto ouvia atentamente o discurso do diretor. Os conhecidos foram aos poucos se reunindo e alguns estavam até conversando à toa. Não havia ninguém formando uma fila ordenada. Se fosse uma escola japonesa, o professor de orientação cívica estaria sem dúvidas gritando feito louco. O diretor estava diante de nosso grupo heterogêneo, no topo de um palco construído com tijolo resistente à magia, fazendo seu discurso.

— Senhoras e senhores, muitas luas se passaram desde que aqueles conhecidos como magos foram considerados inferiores aos espadachins. É verdade que os estilos de esgrima criados pelos Deuses da Espada são supremos. Porém! A magia é simplesmente incomparável! Afinal, a esgrima nada mais é do que uma ferramenta para matar. Magia é diferente. A magia tem futuro! Vamos retomar o que perdemos e combinar isso aos estilos atuais de encantamento para trazer um novo…

Fiquei quieto ao lado de Elinalise. A palestra do diretor deste mundo parecia tão longa quanto a daqueles do meu antigo, mas esta foi mais tolerável. Talvez porque sua fala transbordava com paixão pela magia!

Não, não era isso… Era por causa de como foi hilário vê-lo tentando freneticamente manter a peruca em sua cabeça.

Elinalise estava inspecionando a área, avaliando os homens que viu. Ela parecia estar lutando para decidir com qual começar.

— Isso é tudo. Senhoras e senhores, o caminho da magia se estende diante de vocês!

Não cantamos o hino escolar. Para começar, não havia nem hino escolar, apesar de o país ter sua própria música.

— E agora, algumas palavras da Presidente do Conselho Estudantil para os novos alunos.

Ao ouvir as palavras do Vice-Diretor, três pessoas, uma garota e dois garotos, subiram ao palco. De pé e à frente estava uma jovem com cabelos dourados penteados em longas tranças sedosas e entrelaçadas. Suas roupas – um uniforme escolar novinho em folha – eram iguais às minhas, mas até a maneira como ela andava era cheia de graça.

— Ora, ora, aquela não é a criança que você fez chorar há alguns dias? — meditou Elinalise.

Com suas palavras, olhei para os dois garotos andando atrás da garota. Um deles tinha cabelos brancos e óculos escuros – Fitz. Ele mantinha a guarda erguida, observando os arredores enquanto subiam no palco. E só para ressaltar, não acho que ele chorou quando o derrotei.

O outro garoto era alguém que eu não conhecia. Ele parecia um pouco mais velho do que eu. Com seu cabelo castanho penteado para trás, tinha uma aparência frívola e uma espada pendurada em sua cintura. Ele não parecia um mago e, a julgar pela maneira como se portava, provavelmente era um espadachim. A única outra coisa digna de nota a respeito dele era sua boa aparência.

A propósito, de acordo com minha pesquisa, traços bem definidos, que eu considerava bonitos, eram populares nos países do Continente Central. Tirando isso, esse cara meio que se parecia com Paul. Em uma nota semelhante, muitas vezes me disseram que eu não parecia nem um pouco ruim, exceto quando sorria. Já que ninguém elogiava, o único sorriso que eu mostrava era um falso.

Quando os três subiram ao palco, a multidão de jovens ao nosso redor explodiu em murmúrios.

— Aquela não é a Princesa Ariel…?

— Então aquele ali deve ser o Fitz Silencioso!

— Aaah, é o Lorde Luke!

A julgar pelos murmúrios, eles eram famosos. Luke provavelmente se parecia com Paul. Ele recebeu aplausos estridentes das garotas e ergueu a mão para acenar para elas. Tch, e o nome dele parece o de uma estrela dos filmes adultos.

— Ora, ora, mas que homem bom. — E parecia que Elinalise também não era boa julgando as características de alguém.

— Silêncio! A Princesa Ariel tem algo a dizer! — Por ordem (presumivelmente) de Luke, o clamor caiu em silêncio. Impressionante, visto que ele não usou um microfone. — Vá em frente, Princesa Ariel.

Ela esperou que as coisas se acalmassem antes de chegar à frente do palco.

— Meu nome é Ariel Anemoi Asura. Sou a Segunda Princesa do Reino Asura e Presidente do Conselho Estudantil da Universidade de Magia!

Sua voz soou em meio ao silêncio. Minha mente tremeu quando ouvi o som de sua voz. Provavelmente era isso que as pessoas chamavam de carisma. Sua voz não era apenas alta e clara – também havia algo que a tornava agradável de se ouvir.

— Vocês todos se reuniram de todos os cantos do mundo aqui. Muitos de vocês têm ideias diferentes das nossas sobre o que constitui a normalidade. No entanto, aqui nesta Universidade, mantemos um senso de ordem que difere de seus lugares de origem.

O resto do discurso dela foi principalmente sobre as regras da escola e resumiu-se ao fato de que, mesmo que as regras locais fossem diferentes das de sua terra natal, ainda precisariam obedecê-las. Mas havia algo em suas palavras que chegava ao fundo da alma e lá ficava. Precisamos obedecer às regras, pensei, e não porque eu tinha sido japonês na minha vida anterior. Me senti compelido a fazer isso, já que foi ela quem disse para fazer.

— Agora, então, espero que todos tenham um período agradável como estudantes. — Ariel encerrou seu discurso com essa linha final e desceu do palco.

Foi nesse momento que de repente capturei o olhar de Fitz. Eu não deveria ter sido capaz de dizer que ele estava me olhando através de seus óculos escuros, mas tinha certeza por causa do quão forte seu olhar era.

Isto é ruim. É melhor eu me apressar e comprar aquele bolo.

Assim que a cerimônia acabou, me separei de Elinalise e me dirigi para minha sala de aula. Havia aula uma vez por mês e eu precisava assistir. De acordo com o que ouvi, havia apenas seis alunos especiais, incluindo eu. Pelo visto, eram uma variedade de indivíduos excêntricos e problemáticos. Jenius, o Vice-Diretor, até disse: “Por favor, por favor, tome cuidado para não entrar em nenhuma briga.” Não que ele precisasse fazer isso; eu não tinha intenção de causar tumultos. Não importa o que alguém me dissesse, apenas abaixaria minha cabeça e deixaria entrar por um ouvido e sair pelo outro.

Me dirigi para a parte de trás de três prédios, para a sala de aula mais interna no terceiro andar. No meio do caminho, encontrei uma linha desenhada no chão com as palavras, Além Deste Ponto Fica a Sala de Aula dos Alunos Especiais.  Era quase como se estivessem nos segregando, embora os alunos especiais devessem ter permissão para vagar livremente pelo terreno da escola. Não, talvez fosse o contrário. Alunos especiais tendiam a ser arrogantes e causar problemas, então essa era uma medida para evitar que os alunos da admissão normal se aproximassem deles.

Enquanto refletia sobre isso, cheguei à sala de aula. Havia uma placa acima da porta que dizia Sala dos Alunos Especiais.

— Perdoe a intrusão — murmurei enquanto abria a porta e entrava. A sala de aula era uma visão familiar. Havia um quadro-negro novinho em folha, algo como um púlpito e a mesa de um professor. Mesas de madeira formavam filas na sala. As janelas estavam bem fechadas, mas o cômodo estava claro. Em contraste com a vastidão da sala, havia apenas quatro pessoas sentadas às mesas.

Na primeira fila, havia um garoto lendo e fazendo anotações. A coisa mais impressionante nele era a forma como seu cabelo castanho-escuro cobria seus olhos. Ele olhou brevemente na minha direção, antes de perder o interesse na mesma hora e retornar ao seu livro. Mais para dentro e mais perto das janelas, sentavam-se duas garotas, ambas do povo-fera. Uma estava mastigando um pedaço de carne com o osso todo pegajoso. Uma do tipo canino. Seus olhos me encararam com desconfiança. A outra, uma do tipo felino, estava com as pernas apoiadas na mesa e as duas mãos cruzadas atrás da cabeça enquanto se inclinava para trás, olhando na minha direção.

Vê-las me lembrou das duas garotas que conheci na aldeia Doldia. Quais eram os nomes delas mesmo? Eram ambas boas crianças. Em comparação, essas duas pareciam um pouco mal-educadas. Me lembraram daquelas adolescentes obcecadas por moda do meu outro mundo.

E então havia o último cara – um homem que eu já tinha visto em algum lugar. Ele tinha um rosto comprido e óculos redondos, o tipo de cara que poderia ter sido apelidado de Spock. Ficou me olhando boquiaberto por algum tempo, depois se levantou e gritou com a boca ainda aberta.

Na mesma hora ativei meu Olho da Previsão.

— M-mestreeeeeee!! — Ele fez sua mesa voar como se fosse um simples obstáculo no seu caminho. Era como um limpa-neve enquanto atravessava todas as carteiras entre nós. Uma por uma, saíram voando enquanto ele avançava. Sim, avançava – estava correndo na minha direção!

— Canhão de Pedra! — Eu iria acertá-lo antes que me alcançasse.

— Mestreeeee!

Ele levou meu Canhão de Pedra direto na cara, com um estalo alto, mas não cambaleou nem um pouco. Aquele canhão tinha força suficiente para nocautear um homem adulto, mas não teve absolutamente nenhum efeito nesse cara? Impossível. Este era realmente o poder de uma Criança Abençoada?!

Ele me agarrou pela cintura e tentou me içar até o teto.

— Whoa, whoa, calma, calma! Libere a tensão de seus ombros, relaxe, acalme-se! Pare com isso!

Seus braços tinham força suficiente para me enviar voando até o teto, mas, felizmente, ele apenas me levantou.

— Mestre! Você se esqueceu de mim? Sou eu, Zanoba! — Zanoba estava sorrindo de orelha a orelha enquanto cuidadosamente envolvia seus braços me abraçando.

— Sim, eu lembro. Meu caro aluno, por favor, me solte, isso é assustador.

Diante de mim estava o Terceiro Príncipe do Reino Shirone, Zanoba Shirone. Ao que parece, quando ele foi mandado embora com o pretexto de estudar no exterior, fora mandado para a Universidade de Magia de Ranoa. Em circunstâncias normais, uma Criança Abençoada que não conseguia controlar seu poder seria tratado como uma Criança Amaldiçoada. No entanto, a Guilda dos Magos tinha um departamento que estudava maldições e bênçãos, e as Crianças Abençoadas eram espécimes excelentes.

— Tenho tentado ser como você, Mestre. Tenho diligentemente praticado com minha magia de terra todos os dias — declarou meu dedicado pupilo.

— É? Fico feliz em ver que Vossa Majestade está indo tão bem. Assim que as coisas se acalmarem, vamos fazer uma estatueta juntos.

— Sim! — Ele sorriu e balançou a cabeça.

Isso foi legal. Me fez lembrar dos alunos dos anos anteriores no meu ensino fundamental, que se agarraram a mim da mesma forma enquanto eu me gabava por ter montado meu computador sozinho.

— Além disso, enquanto estamos aqui na escola, você é um veterano. Em que ano já está?

— Segundo ano. Ha ha, por favor, não se refira a mim como “Vossa Majestade” ou como um veterano. Pode me chamar só de Zanoba. Afinal, você é meu mestre.

— Zanoba, então.

— Sim, Mestre.

Um estalo alto e repentino interrompeu nossa conversa agradável. Eu instintivamente olhei em sua direção. Uma garota-fera que estava com os dois pés em cima da mesa bateu com um deles no chão. O outro ainda permanecia na mesa, o que significava que sua saia estava aberta o bastante para que eu pudesse ver alguma coisa.

— Não estou gostando disso, mew.

Ela disse “mew”! Isso era algo que eu associava à tribo Doldia. E Eris… não, não vamos por esse caminho.

— Ei, Zanoba, do que você e o garoto novo estão falando sem parar?

— Senhora Linia, esta é a pessoa de quem falei antes, meu mestre.

— Não é sobre isso que estou perguntando, mew! — A garota com orelhas de gato bateu com o calcanhar do outro pé contra a mesa, irritada. — Ei, Zanoba, não brinque, viu! Você sabe do que estou falando, certo, mew? Você sabe, não é, hein?!

O rosto dele ficou rígido.

O que estava acontecendo? Ele estava realmente sendo intimidado? Zanoba deveria ser muito forte, mas isso poderia ser uma questão de hierarquia social.

— Se entendeu, traga-o até aqui. — Ela fez um gesto acenando em minha direção.

— Sinto muito, Mestre.

— Não, tudo bem. — Me aproximei da garota com orelhas de gato assim como foi dito.

Uma garota com orelhas de gato e outra com orelhas de cachorro. No passado, seus olhares penetrantes teriam feito minhas pernas tremerem, mas agora não pareciam assustadores. Seus olhares precisavam de um pouco mais de… bem, já sabe, certo? Precisavam de alguma intenção assassina ali, não é? Era assim que as pessoas realmente assustadoras – como Ruijerd – olhavam.

— Saudações. Prazer em conhecer, me chamo Rudeus Greyrat. A partir de hoje estarei sob seus cuidados. Terei cuidado para não me intrometer em nada. Espero que possamos nos dar bem. — Me curvei em uma reverência ao estilo japonês.

Linia ronronou uma risada.

— Objetivo, eh? Nada mal, mew. Sou Linia Dedoldia, quinto ano, mew. Embora você possa não saber apenas de olhar para mim, na verdade sou filha de Gyes, o Guerreiro Chefe da Vila Doldia da Grande Floresta. Em algum momento, vou herdar a posição de Chefe da Vila, então é melhor começar a me servir agora mesmo, mew!

Então ela era realmente da Tribo Doldia. E, ainda por cima, a filha de Gyes. Pensando bem, disseram que sua filha mais velha fora enviada para estudar em outro país. Então era ela? Cara, isso com certeza despertou algumas memórias.

Eu disse:

— Ah, é mesmo? O Senhor Gyes cuidou bem de mim quando visitei a Vila Doldia! Ah, fico tão emocionado! E pensar que poderia encontrar a filha do homem que cuidou de mim em um lugar como este! Ah, isso significa que você também deve ser neta do Senhor Gustav, certo? O Senhor Gustav também foi bom para mim. Até mesmo me deixou ficar na casa dele durante a estação das chuvas!

— A-ah, sério? É mesmo? Então você é um conhecido do Vovô…

Em contraste com seu discurso anterior, cuspindo palavra após palavra como uma metralhadora, Linia ficou olhando para mim estupefata. Não que isso realmente importasse, mas a força com que chutou a mesa tornou uma certa peça de roupa supervisível. Azul-aqua, hein?

Ao lado dela, a garota que estava mordendo o osso com carne torceu o nariz e fez uma careta.

— Isso fede.

Mas que rude. Ela estava se referindo a mim, não é? Ainda assim, não deixei meu rosto trair minhas emoções, mas graciosamente me virei para a garota cachorro e me curvei.

— Perdão. Posso perguntar seu nome?

— Pursena. Sou basicamente a mesma coisa que a Linia.

— Senhorita Pursena, que nome adorável! Prazer em te conhecer!

Ela torceu o nariz e virou o rosto.

— Porra.

Apesar de tudo, este foi um ataque preventivo bem-sucedido. Eu queria ao menos acreditar que meus esforços foram bons o suficiente para evitar que fosse posteriormente pego em algo ultrajante.

 

 

 

Zanoba tinha um olhar conflituoso em seu rosto enquanto me observava interagir com as duas. Assim que nos afastamos, ele falou em voz baixa:

— Mestre, por que você está agindo tão submisso a elas?

— Meu caro aluno, é importante evitar conflitos desnecessários.

— Acha mesmo…? Bem, já que é você quem está dizendo isso, vou manter minha boca fechada. — Ele parecia irritado mesmo enquanto acenava com a cabeça.

Eu não fazia ideia do que havia acontecido, mas se ele corresse o risco de ser intimidado no futuro, eu com certeza o protegeria disso. Bullying era inaceitável. Um completo não-não.

Enquanto me preocupava com essa resolução, alguém chamou atrás de mim.

— Ei.

— Sim, pois não?

Olhei para trás e vi o garoto da frente da fila parado ali.

— Você. Você disse que seu nome era Rudeus, certo?

— Sim, meu nome é Rudeus Greyrat. Prazer em conhecer.

Ele pareceu surpreso quando abaixei a cabeça.

— Cliff Grimor. Sou um mago gênio.

Um mago gênio, eh? Incrível. Mas ele realmente estava se chamando de gênio? Não se sentia envergonhado por fazer isso?

— Estou no segundo ano, mas já cheguei ao nível Avançado em todas as magias ofensivas. Também estou no avançado em cura, desintoxicação e magia divina. Ainda sou iniciante no que se trata de barreiras, mas em breve estarei no nível Intermediário. Não existem professores decentes para isso nesta escola.

— Isso é incrível — elogiei com sinceridade. Até que fazia sentido ele se chamar de gênio. O que era necessário para se tornar um usuário avançado em todos os sete tipos de magia em apenas dois anos? Até o momento eu só podia usar magia de cura de nível Intermediário e magia de desintoxicação básica.

Então isso que era a classe de alunos especiais. Sempre soube que em algum lugar existiria alguém melhor do que eu, mas isso deixou tudo bem claro. Provavelmente, a única razão pela qual minha própria autoestima não mergulhou de cabeça foi porque eu era de nível Santo em magia da água.

— Levei dois anos para chegar ao nível Avançado em quatro tipos de magias ofensivas. Você realmente é incrível.

— Tch, não se empolgue.

Sinceramente, pretendia elogiá-lo, mas ele estalou a língua e ficou mal-humorado. Cliff olhou para mim com tanta força que poderia muito bem ter me agarrado pelo colarinho da camisa. Embora eu fosse um pouco mais alto e ele tinha que inclinar um pouco a cabeça para me encarar.

— Você pode empunhar uma espada e também usar magia, não é?

— Sim, bem, mas não sou muito bom nisso. — Eu era tecnicamente de nível Intermediário no Estilo Deus da Espada. E não lembrava de quase nada do Estilo Deus da Água. Parte do meu regime de exercícios incluía brandir uma espada de madeira, mas isso não era o tipo de esgrima que poderia ser usado em combate.

Para ser honesto, não importa quanto tempo passasse, ainda não conseguia dominar o que acontecia com tanta facilidade quanto respirar para outros espadachins como Eris e Ruijerd. Então meio que abri mão do caminho da espada. Nunca usei isso, uma vez que fosse, enquanto vivia como aventureiro. Mesmo assim…

— Quem te disse isso? Que eu posso lutar com espadas.

— Senhorita Eris…

Isso me abalou. Ele encontrou Eris nos últimos dois anos? Sem chances… ela estava na Universidade?!

— Ela também está nesta escola?

— O quê? Claro que não — retorquiu ele.

— Um, então… onde foi que você a encontrou?

Ele olhou para mim sem responder. Essa era uma pergunta ruim? Ah, será que ele era uma das pessoas que ela socou no passado? Sinto muito, realmente sinto, peço desculpas por ela, pensei comigo mesmo.

— Uhh… ela disse mais alguma coisa sobre mim?

Ele me encarou com tanta fúria que eu poderia até escutar um efeito sonoro. Depois de me olhar de cima a baixo, ele finalmente disse:

— Hmph. Ela disse que você era pequeno.

— S-sério? Ela disse que sou pequeno? — Tipo, lá embaixo?

Senti que iria chorar. Então realmente foi o sexo que a afastou de mim. Se eu fosse maior, então… Pensando bem, também senti uma vibração parecida pela maneira como Sara olhou para mim. Seu rosto dizia: “Ah, nossa, você é menor do que pensei que seria.”

Não, ela estava errada! Só parecia pequeno porque não estava reagindo! Uma vez com energia e em posição de sentido, teria a ferocidade de um leão!

— B-bem, já se passaram dois anos desde que nos separamos, e desde então fiquei maior — gaguejei.

— O quê? Você e a Senhorita Eris se separaram?

— Hm? — Tive a sensação de que não estávamos falando exatamente sobre a mesma coisa. Uma sensação de mal-estar surgiu em mim. Mas antes que pudesse confirmar o motivo da inquietação…

— Hm, bem, que seja. Independentemente, você não combina com a Senhorita Eris!

Essas palavras foram como punhais no coração. Cliff bufou pelo nariz e voltou ao seu lugar. Eu teria que ficar de olho nele.

A professora chegou logo depois, então me apresentei e, após uma breve conversa, a aula começou. Embora ainda estivesse faltando uma pessoa.

— Hã? Não devia ter mais um aluno especial?

Quando tentei perguntar a Zanoba, ele apenas balançou a cabeça.

— O Senhor Silencioso é isento da aula mensal.

— E qual é o motivo para isso?

— Boa pergunta, mas não tenho uma resposta para ela.

— Acho que ele deve ser bem incrível, hein?

— Todo mundo sabe. Ele influencia a Academia em todas as oportunidades, ou foi o que ouvi. Aumentou a variedade no cardápio da escola, criou implementos mágicos… e esses uniformes também foram sugestões do Mestre Silencioso. Há rumores de que foi recomendado por um dos Sete Grandes Poderes, então está recebendo tratamento especial.

A imagem que surgiu na minha cabeça foi a de um cientista louco com um jaleco branco e óculos fundo de garrafa, carregando frascos com gosma verde nas mãos. Alguém que era inteligente e apresentava resultados bem-sucedidos, mas fora isso, um tipo de ser humano lamentável.

— Geralmente se fecha na sala de pesquisa privada, mas emerge se tiver motivos, então tenho certeza que você acabará o encontrando — disse Zanoba. Ele também mencionou que o Silencioso era um estudante do terceiro ano. Se eu o visse, com certeza mostraria a ele o devido respeito.

E, assim, fui absorvido entre os alunos especiais.

 

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Quando a aula acabou, Zanoba e os outros foram para suas aulas. Era natural para alguém tão sério quanto Cliff frequentar as aulas, mas Linia e Pursena, que pareciam mais do tipo que matam aula, também o estavam fazendo. Segundo Zanoba, o intervalo para o almoço seria em cerca de duas horas. Ele sorriu ao me convidar para almoçarmos juntos, e fiquei feliz em aceitar.

Eventualmente, eu mesmo teria minhas aulas. Não estava na escola apenas para estudar, mas também não pensava em ficar vadiando. Enquanto isso, decidi verificar as instalações locais.

Primeiro, a enfermaria. Ela era espaçosa, com oito camas e dois curandeiros, o que provavelmente indicava que aconteciam muitos incidentes mágicos em que as pessoas se feriam. Naquele exato momento, um homem com o dobro da minha altura estava sendo carregado em uma maca. Ele estava segurando o braço e uma de suas pernas estava dobrada em um ângulo estranho. Um dos curandeiros segurou a área ferida e começou um cântico apressado de magia de cura de nível Intermediário, e a angústia no rosto do ferido rapidamente desapareceu. Eu não queria atrapalhar, então saí, localizando a placa na entrada que dizia Consultório Médico Um ao sair.

O próximo lugar que visitei foi o depósito do ginásio, uma sala adjacente à área de prática onde eu havia feito meu exame de admissão. A entrada estava trancada, é claro. Eu tinha algumas opções: ir até o prédio dos professores pegar a chave ou perguntar ao professor de educação física se poderia pegar a chave emprestada. Depois, havia a opção de abri-la com um feitiço não verbal. Foi isso que escolhi, usando minha magia da terra para remover a fechadura e poder entrar.

O interior cheirava um pouco a mofo e poeira. As prateleiras estavam forradas com couraças e máscaras que pareciam de kendo, e no canto estava o que parecia ser uma caixa de guarda-chuva cheia de varinhas mágicas. Havia um espantalho de ferro e um pó branco não identificável em uma jarra.

Pelo visto, as aulas não envolviam saltos altos ou ginástica de solo, então não havia colchonetes. Na verdade, o nome da sala nem mesmo era Depósito do Ginásio, era Equipamentos de Treino.

Pensei em depois ir até o telhado, mas esta era uma região em que nevava muito, então muitos dos prédios da escola tinham o telhado inclinado. Tinham uma cobertura, mas decidi deixar isso de lado e seguir para a biblioteca.

A biblioteca desta escola era separada dos outros edifícios, então tive que deixar o campus principal para chegar lá. Após cerca de dez minutos de caminhada, cheguei ao prédio de dois andares e fui interrompido pelo porteiro na entrada.

— Parado!

— Eh?

— Nunca te vi antes. Você é novo por aqui? Por que não está na aula?

— Uh, sim, sou um aluno novo. Um aluno especial com dispensa de aulas.

— Mostre-me sua carteira de estudante.

Meus movimentos enquanto mostrava a carteira de estudante que recebi no outro dia foram rígidos.

O porteiro olhou fixamente para meu rosto enquanto confirmava minha identidade e dizia: “Certo.”

Ele me apalpou cuidadosamente e depois me deu uma visão geral sobre com o que devia tomar cuidado quando estivesse usando a biblioteca.

O uso de magia era proibido no local.

Em geral, tirar livros da biblioteca era estritamente proibido, mas havia uma certa seção da qual poderia pegar emprestado.

E por último, precisava de permissão do bibliotecário e era obrigado a registrar o nome.

E, é claro, seria penalizado por quaisquer livros que destruísse ou profanasse.

As mesmas regras de uma biblioteca normal, mas rasgar um livro poderia resultar em uma multa e possível expulsão, embora a maioria dos livros na biblioteca fossem apenas cópias. Continuava normal, suponho, dado o quão preciosos eram os livros neste mundo.

— Isso é bastante rígido, não é? — falei.

— Alguns canalhas já trocaram alguns livros em segredo uma vez. E venderam os originais no mercado, vê se pode.

— Entendo.

Fiz uma reverência para o porteiro e me dirigi para dentro, onde o cheiro sutil de livros me esperava. Era uma mistura única de aromas: o cheiro de mofo, de tinta e de papel. Havia um banheiro na entrada, algo conveniente para aqueles que sentiam necessidades no momento em que pisavam na biblioteca. Antes de prosseguir, ofereci uma breve saudação ao bibliotecário. Havia escrivaninhas e mesas alinhadas na entrada, e mais adiante havia fileiras de estantes altas.

— Whoa. — Espantado, acabei soltando um suspiro sem querer. Eu tinha lido muito desde que cheguei a este mundo, mas foi a primeira vez que vi um número tão grande de livros em um só lugar. Uma escada conduzia por uma abertura no teto ao segundo andar, que era, como esperado, ocupado por ainda mais estantes de livros. As mesas e cadeiras espalhadas sugeriam que algumas pessoas tinham o hábito de estudar no local.

Lembrei do conselho do Deus Homem:

“Rudeus, vá em frente e matricule-se na Universidade de Magia de Ranoa. Lá, investigue o Incidente de Deslocamento da Região de Fittoa. Se fizer isso, será capaz de recuperar suas habilidades e confiança como um homem.”

Uff – eu tinha esquecido quase tudo a respeito da primeira parte. Mas isso era perfeito. Com o grande volume de livros no local, eu estava fadado a encontrar algo sobre teletransporte. Entretanto – por onde começar?

— Será que devo perguntar ao bibliotecário…?

Não. Não precisava de pressa. Nem mesmo o Reino Asura havia descoberto o que causou o Incidente de Deslocamento ainda. Se eu pudesse descobrir isso tão rápido, o Deus Homem não teria me dito para me matricular na universidade. Teria me dito para entrar furtivamente e investigar, em vez disso. Na verdade, apenas me disse para investigar o incidente, não para descobrir sua causa. Talvez devesse estar acontecendo algo enquanto eu procurava.

No momento, decidi compreender o sistema de prateleiras. A maioria dos livros era escrita na língua humana, mas entre eles estavam aqueles escritos na Língua do Deus Demônio e na Língua do Deus Fera. Também havia um livro na Língua do Deus Lutador. Os alfabetos que eu não conhecia deviam ser a Língua do Deus do Céu ou talvez a Língua do Deus do Mar. Gostaria que traduzissem aqueles volumes para línguas que eu poderia ler.

— Ah!

Houve um gritinho repentino por trás de mim. Me virei e vi um garoto com cabelos brancos e óculos escuros, carregando uma série de tomos e pergaminhos e olhando na minha direção.

É o Fitz, percebi. Me apressei a me endireitar, pressionei meus pés juntos e me curvei.

— Peço desculpas pelo outro dia. Minhas ações descuidadas fizeram você perder um pouco de prestígio. Eu planejava te dar uma caixa de doces, mas, infelizmente, como um aluno novo, tenho me ocupado com muitas coisas…

— Guh?! N-não, está tudo bem, por favor, não se curve.

Havia um cara na minha vida anterior que eu realmente respeitava, chamado Masa. Um trabalhador que poderia enfrentar qualquer coisa que a vida jogasse sobre ele prostrando-se sobre as mãos e joelhos. Um de seus decretos era: “Sempre que você estragar alguma coisa, encontre um lugar inócuo como o banheiro para pedir desculpas sinceras, para que você não grite em um local mais público.” Meu súbito pedido de desculpas fez Fitz entrar em pânico e parecia que estávamos indo em uma direção em que ele provavelmente me perdoaria. Sucesso!

— Rudy… um, quero dizer, Rudeus, certo? O que está fazendo aqui?

— Só um pouco de pesquisa.

— Sobre o quê? — pressionou Fitz.

— O Incidente de Deslocamento.

Quando eu disse isso, suas sobrancelhas se uniram. Falei algo estranho?

— O Incidente de Deslocamento? Por quê? — perguntou ele.

— Eu morava na Região de Fittoa do Reino Asura e fui teletransportado para o Continente Demônio após o incidente.

— O Continente Demônio?! — disse Fitz. Achei sua surpresa um pouco exagerada.

— Sim. Demorei três anos para voltar para casa. Toda minha família já foi encontrada, mas ainda há uma pessoa que está perdida. Esta parece ser uma boa oportunidade para fazer algumas pesquisas.

— É por isso que você veio para esta escola?

— Isso mesmo. — Eu não poderia dizer a ele que o verdadeiro motivo era encontrar uma cura para minha impotência. Além disso, eu não estava mentindo; queria saber por que o Incidente de Deslocamento aconteceu.

— Entendo. No final das contas, você realmente é incrível — disse ele, coçando a parte de trás da orelha.

Eu não tinha certeza do que era tão “incrível”, já que ainda não tinha descoberto nada. Talvez ele tivesse reconhecido o meu poder após nossa simulação de batalha no outro dia. Bem, tanto faz.

— E o que, posso perguntar, você está fazendo aqui? — falei.

— Ah, sim. Estou trabalhando em alguns documentos. Preciso ir. Nos vemos de novo, Rudeus.

— Sim, claro, até mais.

Fitz se virou com pressa, indo em direção à entrada da biblioteca. No entanto, depois de apenas alguns passos, ele de repente olhou para trás.

— Ah, claro. Você deveria ler um livro escrito por Animus sobre teletransporte, chamado Uma Consideração Exploratória sobre Teletransportação em Labirintos. Isso não é ficção criativa, mas é fácil de ler.

E então ele saiu correndo.

Não parecia guardar rancor pelo exame. Talvez fosse mesmo um cara muito bom.

Fui ao bibliotecário perguntar sobre o livro Uma Consideração Exploratória sobre Teletransportação em Labirintos e li até a hora do almoço. Era um volume fino, com menos de cem páginas de espessura, e contava a história de Animus Macedonius, um aventureiro nativo das regiões nortenhas que foi explorar um labirinto.

O labirinto, apropriadamente chamado de labirinto de teletransporte, era um tipo raro cujas armadilhas eram todas focadas em teletransporte. Havia cinco tipos de bestas que viviam lá dentro, todas criaturas altamente inteligentes que entendiam o formato do labirinto e para onde as armadilhas de teletransporte enviariam uma pessoa. Se alguém tivesse o azar de pisar em uma armadilha, se depararia com monstros esperando do outro lado. Era difícil evitá-las durante o combate, e se uma batalha se tornasse caótica, o grupo poderia ser imediatamente separado, então o labirinto foi classificado como perigoso ao extremo.

Enquanto Animus e seus companheiros mergulhavam lá, ele estudou as armadilhas de teletransporte que encontrou pelo local. Havia basicamente três tipos de armadilhas: O primeiro era um teletransportador de via única. Mandaria as pessoas sempre para o mesmo local, mas não havia como voltar de lá. Outro era um teletransportador recíproco. Haveria um círculo mágico no destino, para que o retorno fosse possível. E por fim, havia o teletransportador aleatório, que enviava a pessoa para um local que não faria ideia.

A estratégia básica que os aventureiros empregavam no labirinto de teletransporte era usar os círculos mágicos para se teletransportar repetidamente cada vez mais para o fundo, mas misturados entre as armadilhas estavam teletransportadores aleatórios. Se acabasse pisando em algum deles por engano, seria separado do grupo e forçado a lutar sozinho contra um monte de bestas.

O livro de Animus continha suas pesquisas e teorias sobre como distinguir os teletransportadores aleatórios dos outros. No meio de sua jornada, ele descobriu como diferenciá-los e rapidamente avançou mais fundo no labirinto. Mas acabou se empolgando, esquecendo que seu método não era infalível. No final da história, identificou um tipo de armadilha incorretamente e pisou em um teletransportador aleatório. Cercado por um grande número de inimigos, perdeu um braço, mas de alguma forma conseguiu escapar com vida. No entanto, perdeu todos os seus três camaradas no processo. O próprio Animus não podia mais lutar, então abandonou sua vida como aventureiro. A história terminava com uma linha dizendo que deixaria a conquista daquele labirinto para o leitor.

A parte de trás do livro estava repleta com teorias sobre teletransporte aleatório. A nomenclatura não era totalmente precisa, uma vez que o alcance de teletransporte das armadilhas aleatórias era predeterminada apenas até certo ponto. Além disso, embora as pessoas pudessem se teletransportar para o meio de uma caverna, era extremamente raro ser teletransportado para a dentro da terra. Animus levantou a hipótese de que isso era devido à resistência entre a mana no destino e a mana da pessoa sendo teletransportada, que era o mesmo princípio que explicava por que alguém não poderia lançar um feitiço ofensivo direto pelo corpo de uma pessoa.

Isso era algo que eu já sabia… embora a magia de cura envolvesse fazer a magia correr pelo corpo de outra pessoa. Suspeitei que estava relacionado ao motivo pelo qual eu não poderia lançar magia de cura sem um encantamento, mas deixaríamos isso para outra hora.

Quanto ao teletransporte, me perguntei se havia uma exceção à teoria. Afinal, era possível canalizar magia ofensiva dentro de coisas. Teletransportar pessoas para uma matéria sólida talvez exigisse uma quantidade obscena de poder mágico.

Enquanto eu pensava, o sino do meio-dia tocou. O tempo estava voando.

 

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Me encontrei com Zanoba e fomos para o refeitório, que ficava em um prédio separado. Tinha três andares, cada um para diferentes tipos de alunos. O terceiro andar era para a realeza humana e a nobreza. O segundo andar era para plebeus humanos e gente-fera. O primeiro andar era para aventureiros e demônios. A escola provavelmente raciocinou que se a nobreza humana comesse ao lado dos aventureiros e do povo demônio, isso apenas aumentaria a possibilidade de um conflito em potencial.

Como um aventureiro, eu poderia comer no primeiro andar, mas…

— Venha, venha, por aqui.

Peguei a comida que Zanoba recomendou e deixei que ele me arrastasse para o terceiro andar.

— Urgh…

No momento em que saí da escada, todos os olhares no andar superior se voltaram para mim… possivelmente porque eu exalava o fedor de um plebeu, mas também porque minhas roupas já haviam visto dias melhores. Por causa do frio, eu estava com meu velho robe cinza por cima do uniforme. Ele já tinha cinco anos e suas mangas estavam esfarrapadas, e sua frente marcada por um enorme remendo no peito. Com meu crescimento recente, minhas roupas também estavam ficando um pouco pequenas. Para ser franco, eu parecia completamente desgrenhado.

Ao contrário do primeiro e segundo andares, nem uma única pessoa usava um robe para se proteger do frio. Estava cheio de pessoas com casacos e capas de aparência aconchegante. Podiam muito bem estar usando ternos, enquanto eu era o único de suéter.

— Zanoba, acho que não me encaixo aqui. Podemos comer ao menos no segundo andar? — implorei.

— Não, no segundo andar não. Linia e Pursena estão lá.

— Certo, então que tal o primeiro andar?

— O primeiro andar está cheio de ignorantes que não conhecem boas maneiras à mesa. Não é um lugar adequado para realeza como eu ir, não importa por quão pouco tempo.

— Certo, então vamos comer em lugares separados — falei por fim.

— Não seja insensível. Você sabe o quanto eu sofri por não poder vê-lo de novo até agora, Mestre? Você pode pelo menos comer uma refeição comigo.

— Não peça ao seu mestre para sofrer em seu lugar.

Estávamos discutindo no topo da escada e, apesar de sua largura, os alunos que passavam deixavam parecer que estávamos os bloqueando. De repente, uma explosão de ruídos veio de baixo: um coro de vozes estridentes, aproximando-se aos poucos.

— Aaah, Lorde Luke!

— Lorde Luke, depois eu!

— Aww, sem chances, Lorde Luke, não é justo.

— Lorde Luke, posso ir no seu próximo encontro?

Um homem bonito, cercado por mulheres, subia as escadas.

— Não, sinto muito — disse ele. — Já decidi que só posso levar duas garotas de cada vez para um encontro. Só tenho dois braços, sabem, então se eu levasse três uma ficaria sozinha, não é?

— Aww, que saco.

— Hehe, foi mal. Mas eu sou um cara requisitado, sabe. Vamos nos encontrar em outra hora. Acho que meu braço esquerdo estará livre no próximo mês.

Essas palavras inacreditáveis saíram da boca do jovem que se parecia com Paul. Eu tinha certeza de que ele era o cara que vi na cerimônia de abertura. Luke ou coisa do tipo. Qual era o seu sobrenome? Skywalker?

Nossos olhos se encontraram.

— Você… — Ele semicerrou os olhos. Aquele olhar despreocupado em seu rosto ficou sombrio. — Do Fitz…

Abaixei a minha cabeça. Então ele sabia do meu teste com Fitz. Fitz não parecia zangado com o que aconteceu, mas seus companheiros talvez estivessem chateados em seu lugar.

— Prazer em conhecer, me chamo Rudeus Greyrat. Estarei sob sua orientação durante meu tempo aqui na escola, já que você é um veterano. Espero que tome conta de mim.

— Sim. Eu sei. Ouvi o Fitz falar de você. Pelo visto, você é insanamente esquecido. — Luke olhou para mim, descontente.

Insanamente esquecido… eu era mesmo? Eu realmente não entendi. O que ele achava que esqueci?

— Você já sabe meu nome, não sabe?

— Não, não sei. — Achei melhor confessar honestamente a minha falta de conhecimento do que dar uma resposta meia-boca.

— Isso faz sentido.

— Uh, foi mal. Então, se não houver problemas, se importaria em me dizer o seu nome?

Ainda descontente, Luke me encarou por alguns instantes antes de bufar e cuspir: “Luke Notos Greyrat.” E então passou por mim.

— Ugh, mas que diabos foi aquilo? Não consigo acreditar!

— Sério, aquele robe está tããão acabado! As bordas dele estavam todas desgastadas!

— Se está se desfazendo, ele devia simplesmente dar uma saída e comprar um novo!

Suas fanáticas seguiram no seu rastro, vomitando insultos, mas não ouvi suas palavras. Luke Notos Greyrat. O nome de nascimento do meu pai era Paul Notos Greyrat. Luke era uma criança ilegítima? Não, isso não poderia ser possível. Paul há muito renunciara o nome Notos. Ele devia ser um primo ou algo assim.

— Mestre, você chamou a atenção de um sujeito desagradável.

— Acho que sim, hein? Por essa conversa, parece que sim.

— Aquele era o Luke, da nobreza superior do Reino Asura. Ele é tecnicamente um estudante, mas também é um dos guardas da Princesa Ariel.

— De qualquer forma, vamos deixar essa coisa de comer aqui de lado — falei.

— Suponho que não tenho escolha.

Nos contentamos comendo fora. O tempo estava bom e usei minha magia da terra para conjurar algumas cadeiras e uma mesa, criando um terraço de café instantâneo. Zanoba expressou sua admiração a cada feitiço que lancei, gritando: “Uau!” Fiquei encantado ao ver como ele estava profundamente comovido.

Enquanto comíamos, Zanoba me contou sobre a Princesa Ariel e seu grupo.

Ariel Anemoi Asura, dezessete anos. Segunda Princesa do Reino Asura. A única filha da rainha e ainda a terceira na linha de sucessão ao trono, apesar de sua relativa juventude. Também disputando o trono estavam o Primeiro Príncipe Grabel e o Segundo Príncipe Halfaust. As pessoas poderosas do Reino Asura criaram facções, na esperança de apoiar o príncipe que se tornaria rei, e então colher os benefícios.

Porém, com o tamanho de cada grupo, nem todos tinham certeza de que sentiriam o gosto do mel que escorreria. Até mesmo os ministros eram classificados em uma hierarquia, então foi dado que aqueles que estavam na base seriam ignorados. Quando a Segunda Princesa nasceu, aqueles que achavam que não se beneficiariam com a sucessão de sua candidata passaram a ser leais a ela. No entanto, a dela era a mais fraca das facções, e durante o caos do Incidente de Deslocamento, alguns dos membros mais poderosos do grupo perderam sua posição. Várias tentativas foram feitas contra a vida da Segunda Princesa, e sob o pretexto de estudar no exterior, ela fugiu para esta escola.

A Princesa tinha dois guardas consigo. Um deles era o Fitz. Fitz Silencioso, como fora apelidado. Um mago que usava magia não verbal e matou uma assassina que teve a princesa como alvo. As pessoas sabiam que ele era um elfo, mas onde nasceu e foi criado era um completo mistério. Apenas um punhado de pessoas poderia ensinar magia não verbal, mas seu mestre era desconhecido.

Ariel e seu grupo eram discretos em relação à existência de Fitz. Corriam rumores de que o Palácio Real Asura havia criado ele em segredo, como parte de uma organização de máquinas assassinas sem coração. O que definitivamente não era verdade, a julgar pelas conversas que tivemos.

Seu outro guarda era Luke Notos Greyrat. O segundo filho do atual chefe da família Notos, Pilemon Notos Greyrat. Desde o nascimento, foi treinado para se tornar um dos cavaleiros da guarda da Princesa Ariel, e continuou nesse papel para o caso de a princesa conseguir recuperar o poder e retornar à luta pela sucessão. Desde o momento em que se matriculou na escola, ele foi continuamente banhado pelos holofotes, tornando-o um alvo de inveja, medo e respeito.

Para encerrar, Zanoba disse:

— Mas esteja avisado, algumas dessas informações são minhas próprias conjecturas.

— Sim. Obrigado. Na verdade, você está bem por dentro das coisas.

— Porque fui forçado a investigar o assunto.

— Por quem? — perguntei.

— Duas tolas do povo-fera.

— Linia e Pursena, hein?

— De fato. — Seu rosto era a própria imagem da angústia. Elas haviam o transformado em seu garoto de recados?

— Zanoba… você está sendo intimidado por aquelas duas?

— Intimidado? Não, eu apenas admiti a derrota após perder para elas. Isso é tudo.

— Admitiu a derrota, hein?

Zanoba parecia ligeiramente em conflito, mesmo enquanto falava sem rodeios. Eu queria ajudá-lo… mas não sabia a extensão do poder das minhas possíveis oponentes. O povo-fera costumava tirar conclusões precipitadas e eu não queria torná-las inimigas. No final das contas, porém, sempre ficaria do lado daqueles que são intimidados.

— Se elas estão fazendo algo que você não gosta, por favor me diga. Posso não ter muito poder, mas vou ajudar.

— Hahaha, eu não irei te incomodar, Mestre, fique tranquilo. Mais importante, vamos falar sobre estatuetas! — disse ele com uma risada.

Acho que por um tempo vou só monitorar a situação, pensei.

 

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Depois do almoço, retornei à minha perambulação. Não conseguia pensar em outros lugares em que gostaria de dar uma olhada, então, após uma rápida visita pelos cantos, voltei para a biblioteca.

Procurei referências sobre teletransporte, mas nunca havia frequentado uma biblioteca antes. Demorei um pouco só para vasculhar pelas pilhas de livros. A biblioteca me permitia examinar um catálogo de sua coleção, do qual selecionei livros com a palavra “teletransporte” em seus títulos. Depois disso, os cacei no mar de prateleiras. Só isso tomou várias horas. Além disso, a maior parte do que encontrei não era detalhado o suficiente, escritos em jargões técnicos, em linguagens que eu nem conhecia, ou exigiam conhecimento prévio sobre o assunto para entendê-lo.

— Se vou me enfiar aqui e pesquisar isso, acho que vou precisar de um caderno. — Havia um limite para o que eu poderia guardar na minha memória. Decidi deixar os livros para o dia seguinte e saí da biblioteca.

Lá fora, o sol estava se pondo e os alunos que haviam terminado as aulas estavam aos poucos retornando para o dormitório. Alguns também pareciam ir para a biblioteca. Fui na direção oposta, à loja da escola, na entrada do prédio principal.

A loja estava cheia de alunos comprando em silêncio. Uma rápida olhada ao redor revelou livros de magia, cristais mágicos, robes, espadas de madeira, varinhas de iniciante, bolsas, sapatos e sabonetes, entre outros itens diários essenciais. Também havia alimentos como carne-seca, carne defumada, além de garrafas de água potável e álcool. Comprei uma seleção aleatória de papel, caneta, tinta e um barbante para amarrar o papel. Não poderia ir à escola sem nem mesmo os suprimentos mais básicos.

Quando saí, o lado de fora já estava escuro. Não havia qualquer poste de luz, mas o caminho ainda estava ligeiramente iluminado, então continuei andando. Embora o inverno já tivesse acabado, ainda havia neve nas calçadas. Andei com cuidado e corri em direção ao dormitório.

Quando passei pelo dormitório feminino não vi ninguém por perto. Meus arredores estavam completamente desprovidos de outras pessoas. Foi então que aconteceu.

— Hm?

Algo caiu. Era branco, mas não era neve. Por instinto, agarrei aquilo.

— Ooh.

O que se revelou diante de mim foi um tecido todo branco. Tinha enfeites, mas eram sutis e elegantes. O nome adequado para este item em particular era “calcinha”, e uma de qualidade bastante alta. Parecia, no mínimo, mais cara do que as que Elinalise costumava usar.

Será que alguém estava tentando pendurá-la para secar? Olhei para cima e vi uma pessoa espiando pela borda de uma das varandas. Achei que nossos olhos se encontraram, mas estava escuro, então não pude discernir seu rosto. Parecia que eu já tinha o visto em algum lugar.

— Um, você derrubou…

— Gyaaaah! Ladrão de calcinhas!

Hã?

 

 

 

O grito da aluna não veio de cima, mas sim de trás de mim. Em pânico, me virei para encontrar uma pessoa gritando e apontando o dedo para mim. Isto é um equívoco!

Mas já era tarde demais. Momentos depois do grito, as janelas das outras varandas se abriram fazendo barulho. Então, pessoas surgiram saltando do primeiro andar, uma após a outra.

Antes que eu percebesse o que estava acontecendo, fiquei cercado, a calcinha ainda na minha mão. Não fazia ideia do que estava acontecendo.

— Uh, um, uh…

— Hmph!

De pé na linha de frente estava uma garota bem musculosa. Seus ombros eram quase duas vezes maiores que os meus. Ela era do povo-fera… ou não, uma demônio?

— Pervertido nojento! — Ela cuspiu no chão enquanto eu ficava lá, confuso. O que estava acontecendo? Claro, eu era um garoto de quinze anos com um interesse saudável por roupas íntimas femininas, mas não tinha roubado, nem mesmo tentado cheirar.

— Espere aí — falei. — Por favor, espere, eu não fiz nada.

— Você não fez nada? — A mulher enorme agarrou o meu braço. — Então por que não me diz o que está em sua mão?

Bem, sim, eu estava segurando uma calcinha na mão. A julgar pela expressão em seu rosto, ela considerou essa prova suficiente. Minhas pernas tremeram.

— Não é da Princesa Ariel? Não me importa o quanto você possa admirá-la, fazer algo assim a esta hora é um ato descarado. Você devia ter vergonha!

As outras garotas entraram na conversa, dizendo: “Isso mesmo!”, “Seu pervertido!” e “Morra!” Isso já bastava, eu já estava com vontade de chorar.

— Agora, venha comigo. Faremos com que você se arrependa tanto que nunca mais fará isso de novo!

Ela me puxou pelo braço. Tentei resistir, mas tudo que fiz foi deixar algumas marcas de derrapagem no chão. Nesse ritmo, seria arrastado para algum lugar e levaria uma surra indescritivelmente horrível, e tudo por causa de uma falsa acusação. Deveria correr? Mesmo sem ter feito nada de errado? Mas correr seria como declarar a minha culpa…

Não, eu tinha que manter minha posição. Não fiz nada de errado.

Usei magia da terra para ancorar os meus pés no lugar. A garota olhou para trás com surpresa e depois sorriu com desprezo.

— Eh, o que é isso? Está planejando resistir? Quanta coragem para um ladrão de calcinhas! Acha mesmo que pode lutar contra tantas pessoas?

Boa pergunta. As examinei e concluí que possuía boas chances. Já tinha lutado em situações muito piores nos meus dias como aventureiro; poderia lidar com essas garotas. Ainda assim, não queria agravar a situação e espancar um monte de garotas, aumentando as acusações contra mim – e uma delas acabaria sendo verdade. Isso poderia resultar até mesmo na minha expulsão.

— Esperem! Não façam nada com ele! — A voz de um garoto, ligeiramente aguda, soou.

— Lorde Fitz!

— O quê! Lorde Fitz?!

— Uma voz tão linda…

— O que ele está fazendo aqui?!

A multidão se dividiu, revelando Fitz. Ele se colocou entre mim e a mulher enorme para explicar a situação.

— Sinto muito. Eu estava colocando esta roupa de baixo para secar, mas deixei cair. Ele a pegou para mim. — Seus ombros tremiam enquanto ele tentava recuperar o fôlego.

— Senhor… Fitz. Sei que você está encarregado de lavar as roupas íntimas da Princesa Ariel. Mas — a mulher continuou —, apesar da hora tardia, ele ainda estava andando na frente do dormitório. Embora tenha sido combinado que, uma vez que o sol se põe, este caminho deve ser usado apenas por mulheres.

Sério? Eu não vi nenhuma placa indicando isso.

Fitz olhou para o meu rosto confuso e balançou a cabeça.

— Ele é novo aqui. Além disso, também é um estudante especial, então vive sozinho e não tem um colega de quarto. Ele não devia saber das regras mais intrincadas da universidade. Gostaria que dessa vez deixassem passar.

Ele parecia frenético; eu podia até ouvir o pânico em sua voz. Não estava certo quanto ao motivo, mas fiquei grato.

A mulher musculosa se virou em minha direção. Isso é verdade? Sua expressão parecia perguntar.

Balancei minha cabeça para cima e para baixo.

Ela manteve um aperto firme em mim enquanto estudava o rosto de Fitz.

— Hm, é surpreendente que você tenha ido tão longe para defender alguém. O que você diz deve ser verdade. Ainda assim, permanece o fato de que este garoto violou as regras do dormitório. Faremos dele um exemplo punindo… O quê?!

Enquanto falava, ela tentou me puxar, mas depois congelou. Fitz sacou sua varinha e enfiou a ponta bem no rosto dela.

— Não acabei de dizer que ele não fez nada de errado? Basta. Agora solte a mão dele.

— S-senhor… Fitz?

A sugestão de raiva em sua voz despertou murmúrios ao nosso redor.

Mesmo na escuridão, pude ver o rosto da mulher grande empalidecer.

— Ou vocês gostariam de ser encaminhadas para o consultório médico? — Sua voz podia ser aguda, mas com certeza havia intenção assassina por trás de suas palavras. Eu podia escutar as garotas ao nosso redor engolindo em seco. Que fodão.

— Tch… certo, já entendi. — Ela me soltou, embora com um pouco de violência. Forçadas a obedecer, as outras garotas também recuaram. Meu pulso doía, mas não parecia precisar de cura.

— Lorde Fitz, vou deixar isso passar. Mas você aí! É melhor nunca mais mostrar sua cara no dormitório feminino em uma hora dessas! Da próxima vez que te ver, não vou mostrar misericórdia! — A mulher corpulenta cuspiu essas palavras antes de voltar para a janela da qual havia saltado. As outras garotas também zombaram de mim enquanto desapareciam. Em um instante, foram todas embora.

— Uff… aquela garota. Se ela ao menos escutasse. — Fitz soltou um suspiro ao vê-la partir. Ele olhou para mim e abaixou a cabeça. — Sinto muito. Se eu não tivesse deixado essa roupa de baixo cair, isso nunca teria acontecido.

Afinal, por que diabos um garoto como ele estava lavando roupas íntimas no dormitório feminino? Eu queria perguntar algo assim… mas ele era o guarda-costas capaz e altamente confiável da Princesa, então devia possuir algum tipo de permissão especial. Ele parecia um homem honesto. E era confiável, jovem e seus óculos o faziam parecer ainda mais elegante.

Merda. Meu coração estava disparado, embora a pessoa na minha frente fosse um cara.

Eu poderia estar me apaixonando.

— Você não fez nada de errado. Só me ajudou — falei.

— Te ajudei? São elas que se machucariam se você ficasse sério.

A razão pela qual ele estava tão frenético me acertou. Fitz devia ter pensado que elas se machucariam se eu liberasse o meu poder. Então agiu para garantir a segurança delas… mas mesmo assim, senti compaixão em suas ações. Se isso fosse um mangá shoujo, seria nesse momento que nossa história de amor começaria.

— Ainda assim, aquilo tudo veio do nada. O que ela quis dizer? — perguntei.

— Sim, bem, é como a Senhorita Goliade disse. Quando o sol se põe, os alunos do sexo masculino não podem chegar perto do dormitório feminino.

— Sério? Mas isso não estava escrito nas regras da escola — protestei.

— Isso foi decidido entre os alunos que vivem nos dormitórios. Quando o sol se põe, os garotos não podem usar essa estrada e devem fazer um desvio para chegar até a estrada deles.

Uma regra tácita, hein? Teria sido bom se alguém tivesse me contado sobre isso. Tipo o Zanoba.

— Eu não sabia.

— Não é sua culpa — disse ele. — Da próxima vez tome cuidado.

— Tomarei.

Ele não precisava me dizer duas vezes. Eu provavelmente não voltaria a usar o mesmo caminho – nem mesmo durante o dia. Ainda não conseguia suportar os olhares hostis de uma multidão inteira voltados para mim.

— De qualquer forma, obrigado por me ajudar — falei. — Se você não tivesse vindo ao meu resgate, eu não sei o que teria acontecido.

— Não se preocupe com isso. Só fiz o que qualquer outra pessoa teria feito.

O que qualquer outra pessoa teria feito… sério?

Parando para pensar, eu tinha muitas lembranças ao ser mal interpretado ou falsamente acusado nos últimos tempos. Tinha começado com o povo-fera, depois Paul, e Orsted. Meu rosto era tão indigno de confiança?

No entanto, Fitz não decidiu arbitrariamente que eu era culpado. Na verdade, me defendeu, embora eu fosse parcialmente culpado pelo que tinha acontecido. Ele me deu até conselhos na biblioteca. E tinha muita influência na escola, mas não tinha deixado isso subir à cabeça. Ele era um homem de caráter. Um veterano, em todos os sentidos da palavra. Eu tinha me decidido – como uma demonstração de meu respeito por ele, iria chamá-lo de Mestre Fitz.

— Além disso, Rudeus, você poderia ter saído disso sem machucar ninguém, não poderia?

— De forma alguma. Fico muito grato a você, Mestre Fitz.

Quando inclinei a cabeça, ele coçou a bochecha timidamente.

— Ahaha, é meio estranho ouvir você me agradecer.

— Eh? Por quê?

Quando perguntei, ele só mostrou um sorriso enorme, mostrando os dentes.

— Isso é segredo.

E, assim, meu primeiro dia na escola acabou.

 


 

Tradução: Taipan

Revisão: PcWolf

 

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