O Reino de Ranoa era o maior país da região norte do Continente Central, exercendo o mesmo tipo de influência e poder que o Reino Shirone no sul. No entanto, também tinha uma aliança com Basherant e Neris, bem como laços íntimos com a Guilda dos Magos. Os três países, Ranoa, Basherant e Neris eram chamados de Três Nações Mágicas.
Por que “mágicas”, pergunta? Isso era porque o QG da Guilda dos Magos estava localizado lá? Esse era um motivo, mas o verdadeiro era que esses três países colocaram uma quantidade enorme de recursos em pesquisas mágicas. Criada por esse propósito e atuando como líder da aliança, era uma grande cidade construída nos limites do Reino de Ranoa: a Cidade Mágica de Sharia. A Universidade de Magia de Ranoa, o QG da Guilda dos Magos e a Oficina de Implementos Mágicos de Neris foram todos empurrados para aquela cidade florescente que era basicamente o centro das Nações Mágicas.
Se alguém a visse por cima, encontraria a Guilda dos Magos bem no seu centro, construída com o mais recente tipo de tijolo resistente à magia. No leste, o Distrito Estudantil estava centrado em torno da Universidade de Magia, enquanto no oeste, a Oficina de Implementos Mágicos era o coração do Distrito de Oficinas. Aninhada no meio do Distrito Comercial ficava a Guilda dos Mercadores e, no sul, o Distrito de Hospedagem, que recebia aqueles que entravam na cidade, incluindo aventureiros. Olhando para o mapa, percebi que seu esquema era baseado no de Millishion. Não que houvesse algo de útil nessa descoberta.
Elinalise e eu fizemos uma reserva em uma pousada no Distrito de Hospedagem. Desta vez, escolhemos uma de primeira, equipada com uma lareira. Ela mergulhava na minha cama sempre que ficava frio, e a tentação apenas me deixava deprimido.
Como descobri ao longo de nossa jornada, ela tinha um motivo pelo qual precisava se deitar com os homens. Enquanto estávamos na estrada, tomamos um caminho errado e não alcançamos a próxima cidade por mais de uma semana. Durante esse tempo, sua saúde se deteriorou rapidamente. Tremores inexplicáveis correram por seu corpo, seu rosto ficou pálido, mas havia algo de perigoso em seus olhos quando ela olhava para mim.
Lancei magia de desintoxicação nela várias vezes, e ela me revelou que era alvo de uma maldição: se não dormisse periodicamente com os homens, morreria. Ouvindo isso, senti alguma simpatia por sua situação, mas parecia que Elinalise não se sentia nem um pouco ressentida com isso.
— Eu amo sexo, então mesmo se não fosse amaldiçoada, estaria fazendo o mesmo — disse ela. Ao contrário de mim, estava administrando sua doença única muito bem.
— Bem, então, vou ver esse tal senhor Jenius em pessoa. O que você vai fazer, Senhorita Elinalise?
— Também vou.
— Por quê…? — Achei que ela iria a algum lugar como a Guilda dos Aventureiros para farejar um homem.
— Já que viemos até aqui, também vou tentar me matricular nessa Universidade de Magia.
— Por quê? Você está interessada em magia?
— Não, mas estou interessada em homens jovens.
— Ah, então é isso. — Eu não fazia ideia de como eram as leis de Ranoa, mas mesmo que ela as infringisse, não era eu quem seria preso. — Você provavelmente terá que pagar mensalidades e taxas integrais.
— Sem problemas. Isso pode ser uma surpresa para você, mas tenho muito dinheiro, sabe — disse ela, dando um tapa na bolsa de moedas. Aquilo continha não apenas moedas desta região, como também mais de cinco moedas de ouro asurano. Eu também sabia que ela tinha uma série de cristais mágicos em sua mochila – lindos cristais, em forma de orbe, grandes o suficiente para caber na palma da minha mão. Cada um devia custar pelo menos dez moedas de ouro asurano. Me perguntei onde ela pôs as mãos naquelas coisas, mas Elinalise era uma aventureira que normalmente mergulhava em labirintos. Talvez já os tivesse há algum tempo, carregando-os no lugar de dinheiro.
— Certo. Então vamos lá.
Nós dois rumamos para a Universidade de Magia.
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A Universidade de Magia de Ranoa ocupava um vasto terreno, o campus era repleto de enormes edifícios de tijolos, incluindo um no centro que parecia com um castelo. Para um olho destreinado, poderia parecer uma fortaleza. Isso me lembrou da Universidade Tsukuba na Prefeitura de Ibaraki, embora eu só tivesse a visto em fotos.
Passei minha carta para o par de guardas no portão da frente.
— Com licença, recebi esta carta.
O guarda deu uma olhada, grunhiu e acenou com a cabeça.
— Sabe qual é o Prédio dos Professores?
— Não sei.
— Siga reto e vire à direita quando chegar na estátua da primeira diretora. É o prédio com telhado azul. Entregue isso na recepção de lá e avisarão o vice-diretor de que você está aqui.
— Obrigado.
Antes que Elinalise pudesse dar ao homem um olhar sugestivo, eu a arrastei para a frente pela orelha. Suas orelhas compridas forneciam uma boa vantagem para isso.
Seguir reto até a estátua da primeira diretora, disse ele. A estrada era ladeada por árvores com galhos nus. Me perguntei se as flores de cerejeira iriam florescer quando a primavera chegasse – na verdade, não fazia ideia se este mundo possuía flores de cerejeira. Erguendo-se por trás das árvores, havia uma parede de tijolos com cerca de três metros de altura.
— São todas feitas com tijolos resistentes à magia.
— Hm. — Com a declaração de Elinalise, voltei minha atenção para a parede. Os tijolos resistentes à magia, como o nome indicava, eram tijolos que repeliam mana. Pelo visto, poderiam resistir até a um ataque mágico em grande escala.
Pelo que ouvi, a Guilda dos Magos tinha o monopólio da venda e produção de tijolos resistentes à magia. Eles eram tão caros que o único lugar onde eram usados no Reino Asura era a capital. Eu não tinha visto nenhum no País Sagrado de Millis ou no Reino Rei Dragão, mas os vi aos montes nas Nações Mágicas. Eram usados até mesmo nas paredes das Guildas dos Aventureiros locais. Seu processo de criação era um segredo bem guardado, mas as matérias-primas, por si só, talvez não fossem tão caras.
Chegamos a uma praça um tanto grande, no centro da qual havia uma estátua de uma garota vestindo um robe. Havia uma placa presa a ela que dizia Primeira Diretora, Líder da Quinquagésima Sexta Geração da Guilda dos Magos, Frau Claudia. A parede de tijolos terminava no local, e diante de nós se erguia uma mansão grande o suficiente para ser uma fortaleza, cercada por pelo menos outros seis edifícios. Tive um vislumbre de chamas rugindo no terreno ao lado do edifício. Considerando que ninguém estava fazendo uma confusão, presumi que fosse parte de uma aula.
À esquerda, havia vários edifícios grandes com telhados vermelhos, muitas janelas e varandas. Pela roupa secando nas ditas varandas, presumi que fossem os dormitórios dos estudantes. À direita, havia um prédio com telhado azul e, à minha esquerda, outro com telhado vermelho. Já que eu não fazia parte da Família Sylvanian, estava indo para o lado direito.
— Estou ficando um pouco animada — murmurou repentinamente Elinalise.
— Está?
— Digo, olhe só para essas construções enormes!
Por que essa vulgar estava de repente agindo toda fofa? Suponho que aventureiros não se deparavam com edifícios tão grandes com muita frequência. Viam, no máximo, a Guilda dos Aventureiros.
— Qual é o maior edifício em que você já esteve antes?
— No QG da Guilda dos Aventureiros em Millishion — disse ela.
— Ahh, pensando bem, aquele lugar também era muito grande.
— Você é um desmancha-prazeres — disse ela. — Quando vi a Guilda dos Aventureiros de Millishion pela primeira vez, fiquei tão animada que quase joguei meus braços em volta de Paul sem nem mesmo pensar… tch. Essas são memórias que prefiro esquecer.
Enquanto Elinalise murmurava consigo mesma, sua expressão se contorceu em desgosto. Exatamente o que Paul fez para que esta mulher – que se gabava por se dar bem com qualquer homem – o odiasse tanto? Pensando bem, há quanto tempo os dois se separaram? Eu já estava com quinze anos, então devia ter sido há mais tempo que isso…
— Isso é um pouco repentino, mas quantos anos você tem, Senhorita Elinalise?
— Nossa, essa não é uma pergunta que você deveria fazer a uma moça — repreendeu ela. — Aliás, tenho cinquenta anos.
— Mentirosa.
Enquanto conversávamos, finalmente chegamos ao prédio com telhado azul. Entreguei minha carta à recepcionista – uma velha – e fomos levados a uma sala mobiliada de maneira barata com um sofá e uma mesa.
— Por favor, espere aqui por um momento — disse ela, e desapareceu.
— Uff — exalei.
— Se você suspirar assim, vai deixar toda a sua sorte ir embora.
Sentei no sofá e Elinalise aninhou-se contra mim. Ela sempre fazia isso quando se sentava ao lado de um homem, mas realmente não me incomodava. Acariciar o corpo de um homem a fazia feliz, e eu ficava feliz ao ter uma bela mulher mais velha se agarrando a mim. Não havia razão para qualquer um de nós objetar – exceto meu homenzinho, que se recusava a responder mesmo nesta situação.
Preocupado com esses pensamentos, examinei nossos arredores. Se eu tivesse que classificar a área de recepção, daria um C. A sala era antiquada e o sofá duro. Isso talvez a tornasse um lugar adequado para receber aventureiros.
— Sinto muito por te fazer esperar. Me chamo Jenius, sou o Vice-Diretor.
O homem que apareceu após cerca de vinte minutos era velho e de aparência agitada, com a cabeça toda calva. Como ele estava vestindo um robe de cor azul-profunda, presumi que fosse um usuário de magia da água.
— Prazer em conhecê-lo, me chamo Rudeus Greyrat. — Me levantei na mesma hora, oferecendo uma saudação nobre e curvando-me diante dele. Quando olhei para Elinalise, percebi que ela estava fazendo algo semelhante enquanto abaixava a cabeça.
— E você é?
— Meu nome é Elinalise Dragonroad. Sou membro do grupo de Rudeus.
— Uhum…
Ele deu a ela um olhar que dizia: Quem diabos é você e o que está fazendo aqui? mas Elinalise parecia totalmente imperturbável. Jenius encolheu os ombros e fez um gesto para que nos sentássemos.
— Nunca imaginei que você chegaria até nós tão rápido — disse ele.
— Vim por recomendação de alguém.
— De alguém? Ahh, diz da Roxy?
Para você é Senhorita Roxy, seu punk! Gritei por dentro, embora tenha ficado quieto.
— Não foi isso que eu quis dizer, embora ela também tenha me recomendado esta escola.
— Aha… bem, então podemos prosseguir com sua matrícula na universidade?
— Sim, claro. — Confuso pela maneira como Jenius de repente se inclinou para frente com entusiasmo, eu hesitantemente balancei a cabeça.
— Ah, onde estão minhas maneiras? A maioria dos magos que trabalham sozinhos tendem a ser muito orgulhosos, especialmente aqueles tão jovens quanto você.
— Entendo.
— Ouvi dizer que você derrubou um Wyrm Vermelho errante há alguns dias. Nunca esperei que alguém como você concordasse em se matricular em nossa universidade.
Embora diferissem um pouco por país ou raça, na maioria das vezes, as pessoas deste mundo eram consideradas adultas ao completar quinze anos. Daqueles que se tornavam aventureiros antes de atingirem a idade adulta, a maioria nunca subia muito no rank. Os poucos que o faziam, entretanto, costumavam desenvolver egos enormes. Eu mesmo cheguei a conhecer duas dessas pessoas. Um era um garoto de quatorze anos de rank B (qual era o nome dele mesmo?) que era incrivelmente cheio de si e me considerava, por algum motivo, um rival. Na época tínhamos a mesma idade, e ele provavelmente não gostava do fato de eu ser de rank A. Na época comecei a pensar: huh, já não o vejo há um tempo, e descobri que ele falhou em uma missão de extermínio e morreu.
A outra era uma garota de 15 anos de rank B. Seu nome era Sara. Eu não queria pensar muito nela, mas ela era muito orgulhosa e nós brigávamos muito no começo.
Jenius provavelmente pensava que eu seria como eles – alguém com uma cabeça grande demais com os pensamentos sobre si. Infelizmente, a única cabeçona que eu tinha não estava se sentindo muito enérgica nos últimos tempos.
— Há muito que eu ainda gostaria de aprender. A universidade parece um bom lugar para fazer isso. E, é claro, com certeza defenderei a escola depois de me formar — falei, relembrando minha conversa com Conrad.
Jenius riu amargamente.
— Aprecio que você tenha ido direto ao ponto.
— Dito isso, não sei exatamente o que é um aluno especial. Esperava que você pudesse me explicar.
O vice-diretor balançou a cabeça, depois parou, como se de repente tivesse se lembrado de algo, e me deu um sorriso tenso.
— Antes disso, você estaria disposto a fazer um pequeno teste?
— Um teste? — Tipo um vestibular? Merda. Eu não tinha me preparado. E também já fazia dez anos desde que Roxy havia me ensinado algo sobre magia. Uhh, se a memória me servisse corretamente, então a combinação mágica era… ah, merda. Se eu soubesse que isso iria acontecer, teria me preparado com antecedência.
— Sim, um teste para determinar se os rumores que ouvimos sobre suas habilidades estão corretos. Um teste prático.
Então não era um teste escrito. Ouvir isso foi um alívio.
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Eu esperava que eles não quisessem que eu derrotasse outro monstro errante, porque, francamente, não estava pronto para fazer isso. Afinal de contas, eu era um completo covarde! Quando mencionei isso com Jenius, ele apenas soltou uma risada tensa e disse: “Claro que não.” Sua risada muitas vezes soava assim. Ele já devia ter passado por muita coisa.
O vice-diretor me guiou para fora, onde nos dirigimos a uma linha de edifícios. Segundo ele, nosso destino era a sala de treinamento do prédio de prática, onde eram realizados experimentos e testes mágicos.
— Vocês com certeza têm muitos edifícios por aqui. Realmente possuem tantos alunos assim?
Jenius acenou com a cabeça.
— A Universidade de Ranoa difere de uma escola de magia típica porque também oferece cursos normais. Existem cursos específicos para nobres, bem como cursos de aritmética para comerciantes e pessoas que estão iniciando o negócio e muito mais. Claro, não importa em que curso uma pessoa esteja, ela ainda estará aprendendo magia.
Era exatamente como Roxy havia dito: esta escola poderia acomodar qualquer pessoa. Não era de se admirar que fosse enorme.
— Claro, não temos ninguém nesta escola que possa ensinar magia de nível Imperador, mas temos uma série de professores cujas habilidades mágicas superam as da equipe da Academia Real Asura.
— Impressionante.
— Também temos um curso de estratégia militar, mas são poucos os alunos matriculados nele.
— Vocês por acaso oferecem um curso de medicina que, por exemplo, ensina os alunos a lidar com doenças mentais?
— Um curso de medicina sobre doenças mentais? Não, definitivamente não temos tal coisa. Temos uma variedade de professores qualificados em magia de cura e desintoxicação, mas o campo sobre o qual você está falando não está relacionado à magia, está?
— Verdade, não está. — Acho que era apenas uma universidade, afinal, não um hospital universitário. Minha condição poderia realmente ser curada neste lugar? Bem, o Deus Homem havia dito que sim. Não havia necessidade de ficar impaciente.
— Alguém que você conhece está doente? — perguntou Jenius.
— Eu não iria tão longe a ponto de dizer que está doente. É mais como… se estivesse sofrendo com uma maldição ou coisa assim.
— Entendo, então você veio aqui para pesquisar como remover uma maldição? Isso é louvável.
— Minhas intenções não são tão nobres assim — falei.
Enquanto conversávamos, entramos em um dos edifícios construídos com tijolos resistentes à magia. Dentro havia uma grande área aberta quase como um ginásio, e no chão havia quatro círculos mágicos com um raio de cerca de cinco metros cada. Aglomerados em torno de suas bordas estavam cerca de vinte garotos e garotas, todos usando robes semelhantes. Eles entravam nos círculos em grupos de dois e começavam a lançar magia ofensiva um no outro. Não iriam se machucar fazendo aquilo?
— Aqueles são alunos do quarto ano. Acredito que esta turma inteira é principalmente de ascendência nobre. Nossa escola enfatiza a experiência em combate, por isso conduzimos simulações de batalha como essas.
A bola de fogo de um aluno envolveu outro – apenas para ser extinta pelo círculo a seus pés, que emitiu um brilho fraco. O aluno reapareceu sob as chamas desaparecendo sem uma única queimadura no corpo.
— Que círculo mágico é aquele? — perguntei.
— Um círculo de cura de nível Santo.
— Whoa, isso é incrível.
— Ele está bem no meio de uma barreira de nível Avançado que apresenta certa resistência à magia.
Entendo. Um círculo mágico. Não prestei muita atenção quando os encontrei pela primeira vez em um livro de magia anos atrás, mas me causaram problemas várias vezes durante minha jornada do Continente Demônio para casa. Talvez devesse aprender como usá-los – dito isso, se algum dia ficasse preso em um círculo como aquele que encontrei em Shirone novamente, já deveria ser forte o suficiente para o explodir.
Nós nos movemos em direção a um círculo em frente aos alunos em duelo.
— Então, o que devo fazer? — perguntei.
— Ouvi dizer que você é um usuário de magia não verbal, Senhor Rudeus. Gostaria que me mostrasse isso.
— Só isso? Se eu realmente fosse um impostor, estaria preparado para fazer ao menos isso, não acha?
— Hm? Bem, isso com certeza é verdade… mas nossa escola só tinha um professor de magia não verbal e ele morreu no ano passado. Idade. — Ele se preocupou com o que fazer por um momento, então, bateu com o punho na palma da mão. — Aha, já sei. Na verdade, há mais alguém que pode usar magia não verbal nesta classe! Pode até não ser páreo para você, mas é um de nossos premiados alunos. Também está envolvido com o Conselho Estudantil… mas, bem, isso não importa tanto. — Jenius correu para o outro círculo mágico, chamando a professora de lá. — Professora Gueta! Posso pegar o Fitz emprestado?
Depois de alguns momentos, fomos abordados por um garoto de cabelo branco curto e óculos escuros. Suas orelhas também eram longas: um elfo, talvez? Seu corpo era pequeno – não, ele era apenas jovem. Uns treze anos, será? Mais cérebro do que força, com certeza. Possivelmente mais jovem do que eu e com certeza menos musculoso, mas ele seria meu veterano. Eu deveria pelo menos prestar os meus respeitos.
No momento em que seus olhos encontraram os meus, inclinei minha cabeça e me apresentei em voz alta.
— Prazer em conhecer. Meu nome é Rudeus Greyrat. Desde que tudo corra bem, estarei no primeiro ano a partir do próximo semestre. Se você achar que estou falhando em algo, espero que me ajude e me oriente enquanto me encoraja.
— Ah… hm? As, s-sim! — Fitz tentou dizer algo, mas eu já tinha terminado a minha apresentação. Afinal, a primeira pessoa a se apresentar era a vencedora! Sua boca continuava abrindo e fechando, mas, finalmente, ele conseguiu dizer: — Fitz. Prazer.
Sua voz estava um pouco estranha e alta; parecia que ainda não havia chegado à puberdade. Definitivamente mais jovem do que eu, mas um veterano ainda era um veterano. Com medo de deixar uma má impressão, decidi mostrar alguma deferência.
— Sei que isso é um inconveniente, mas obrigado por ajudar no meu teste.
— Uh… sim.
Uma vez que ambos estávamos dentro do círculo mágico, Jenius murmurou algo e o círculo começou a emanar uma luz fraca. Tentei testar a barreira externa batendo nela, mas minha mão passou direto.
— Hã? Vice-Diretor Jenius, isso não está funcionando corretamente.
— Senhor Rudeus, esta barreira apenas repele magia.
— Portanto, ataques físicos funcionam normalmente.
Certo – a barreira que eu encontrei em Shirone havia bloqueado ataques físicos e mágicos, mas era de nível Rei.
— Bem, vamos. Já que você é um aventureiro, não se importará em conduzir uma batalha simulada com Fitz, certo? Gostaria que você usasse principalmente magia não verbal.
— Claro, por mim tudo bem. — Balancei a cabeça, encarando Fitz.
Entretanto – se eu fosse derrotado, teria que pagar a mensalidade em vez de conseguir uma bolsa integral? Consegui uma nota preta eliminando aquele wyrm errante, mas como alguém que contou cada centavo que conseguiu durante anos, eu queria evitar de pagar, se possível.
Então era hora de ficar sério.
O espaço vazio entre nós aumentou quando Fitz assumiu sua posição. Ele segurava em sua mão uma única varinha pequena. Isso despertou algumas de minhas memórias: uma vez usei um instrumento parecido. Preparei meu cajado, aquele que usei nos últimos anos – Aqua Heartia. O usei tanto que estava pensando em nomeá-lo, algo como Charlene. Embora, honestamente, dar a ele um nome de garota não o tornaria mais poderoso.
— Então…
Decidi levar as coisas a sério, mas também foi minha primeira vez lutando contra outra pessoa que poderia usar magia sem encantamentos. Elaborei estratégias para esse cenário, mas não tinha certeza se funcionariam.
— Tudo bem, comecem!
No instante em que o comando foi dado, meu olho demoníaco mostrou Fitz preparando sua varinha. Ele provavelmente planejava usar a velocidade de sua magia não verbal para lançar o primeiro ataque. Nesse caso, eu apenas teria que contra-atacar, usando minha magia para interromper a dele.
— Atrapalhar Magia!
— Hã? O quê? Como assim?! — Fitz olhou para sua varinha em estado de choque quando ela não funcionou como deveria.
— Boa pergunta. O que foi isso? — Com minha mão esquerda, conjurei um de meus Canhões de Pedra que eram minha marca registrada. Poderoso, flexível e facilmente disparado em rápida sucessão; esse feitiço, junto com o Atoleiro, fazia parte da minha estratégia padrão para solicitações de eliminação.
Fiz meu canhão do tamanho da ponta de um dedo, o girei com força e lancei em alta velocidade. Inicialmente pretendia mirar bem na cabeça de Fitz… mas mudei de ideia.
E fogo!
O canhão assobiou no ar, roçando a ponta na bochecha de Fitz e estourando através da barreira com um belo estrondo. Ele parou quando atingiu a parede de tijolos resistentes à magia, espalhando detritos por toda parte.
— …!
Um filete de sangue escorreu pela bochecha de Fitz enquanto ele ficava congelado no lugar. A ferida fechou quase na mesma hora, graças ao círculo de cura. Fitz enxugou o sangue com um dedo e olhou para trás, para onde o canhão de pedra se cravou na parede. Então, caiu para trás com um baque.
Ainda bem que eu preferi errar. A magia de cura não era onipotente. Uma magia de cura de nível Santo poderia curar feridas simples em um instante, mas não ressuscitar os mortos, e um golpe direto poderia matá-lo.
O olhar de Fitz encontrou o meu. Ele estava usando óculos escuros, mas, de alguma forma, eu sabia que nossos olhos se encontraram.
Nenhum de nós disse nada. Seu olhar ficou cada vez mais intenso. Tive a sensação, de alguma forma, de que realmente tinha estragado tudo. Aqueles reunidos em torno do outro círculo mágico também se viraram para olhar na minha direção. Jenius estava com os olhos arregalados. Elinalise bocejou.
— C-como você fez aquilo? — A voz de Fitz estava tremendo. Jenius também parecia curioso para saber a resposta.
— É chamado de Atrapalhar Magia. Não sabe fazer isso?
Fitz balançou a cabeça. Acho que não. Isso não devia ser tão conhecido, embora eu achasse particularmente útil em batalhas com outros magos… Pensando bem, nos dois anos em que estive me aventurando, nunca vi ninguém usando tal magia, fora Orsted.
O estudante apenas olhou diretamente para mim. Seu olhar estava tão intenso, mesmo através dos óculos escuros, que silenciosamente desviei o meu. Jenius disse que ele era um prodígio, e eu o forcei a cair de bunda na frente de todos. Havia uma boa chance de eu ter arruinado sua reputação.
Ele ia guardar rancor de mim, não ia? Provavelmente tentaria me fazer tropeçar durante as refeições, derramaria suas bebidas em mim e me regaria com risadas zombeteiras. Eu tinha certeza. Precisava evitar isso a todo custo.
Certo, isso mesmo!
— Obrigado, senhor! Por perder propositalmente para que eu pudesse me sair bem na frente de todos os outros! — Mostrei um sorriso radiante e falei alto o suficiente para todos os outros alunos ouvirem enquanto me aproximava dele.
— Hein?
Ofereci minha mão para ajudá-lo a se levantar. Fitz parecia um pouco confuso, mas aceitou. Sua mão era macia. Ele provavelmente nunca segurou uma espada antes.
— Eu com certeza te agradecerei apropriadamente mais tarde — sussurrei em seu ouvido enquanto o ajudava a se levantar. Ele assentiu rapidamente e um arrepio percorreu seu corpo. Assim que me matriculasse, compraria um bolo ou algo assim para prestar meus respeitos.
Quanto ao teste, passei com louvor. Jenius me elogiou muito. Se eu era capaz de derrubar Fitz daquele jeito, então estavam prontos para me admitir na mesma hora.
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E então, um mês depois, comecei a morar no dormitório da universidade. Também recebi mais detalhes sobre os alunos especiais, que eram isentos de pagar mensalidades e de frequentar as aulas. Se desejassem, poderiam se misturar com os alunos normais e assistir apenas às aulas que desejassem. Desde que frequentassem a sala de aula uma vez por mês, eram basicamente livres para fazer o que quisessem dentro da escola.
Poderiam reivindicar um estudo no prédio de pesquisas e se enterrar no trabalho. Poderiam ocupar uma sala no prédio de prática e passar todo o tempo treinando. Poderiam ir à biblioteca e passar dias com o nariz enfiado em um livro. Poderiam sentar-se no refeitório e comer o quanto quisessem. Poderiam até sair do campus e se tornar aventureiros, ou ir para o distrito do prazer para relaxar e se divertir – embora, é claro, seria responsabilizado por quaisquer ações que fizesse fora do campus. Ainda assim, eu pelo visto teria uma quantidade extraordinária de liberdade.
Claro, essa liberdade tinha seus limites – éramos proibidos de fazer qualquer coisa considerada um crime pelas leis do Reino de Ranoa, ou qualquer coisa que fosse destrutiva para a escola, ou desrespeitosa para a Guilda dos Magos. Recebi um livreto fino com as regras da escola e, ao folheá-lo, concluí que estava tudo bem, contanto que não fizesse nada muito extremo. As regras eram basicamente as mesmas do código de conduta da Guilda dos Aventureiros. Na verdade, isso fazia a Guilda dos Aventureiros parecer até um pouco rígida.
Elinalise também se matriculou, aliás, como aluna de admissão comum. Ela me disse que a mensalidade desde a matrícula até a formatura custava um único pagamento de três moedas de ouro asurano, o que poderia parecer muito barato, mas as moedas de ouro asurano eram a unidade monetária mais alta do mundo. Uma única moeda deixaria uma pessoa viver confortavelmente nesta área por um bom tempo.
Se um aluno de admissão comum obtivesse notas excepcionais em seus exames, receberia algum grau de isenção de mensalidades e taxas de matrícula. Se não tivessem dinheiro, poderiam adiar o pagamento até a formatura. A universidade estava claramente preparada para fazer grandes concessões financeiras a fim de garantir talentos notáveis. Mas não era como se isso me preocupasse.
— Hm. — Eu estava mais uma vez folheando as regras. A seção sobre penalidades por infrações sexuais, especificamente, era bem detalhada. — Senhorita Elinalise, parece que, contanto que você não force ninguém contra a vontade, você tem um certo nível de liberdade para fazer o que quiser.
— Esta é uma escola incrível. Sabia? Tais atos são completamente proibidos na escola de Millishion.
As normas sociais de minha vida anterior me levaram a acreditar que as pessoas que faziam sexo na escola teriam um impacto significativo e negativo na moral pública. No entanto, embora o corpo discente fosse amplamente formado por jovens, abrangia uma enorme gama de idades e raças, então as “normas” eram diferentes. Também havia pessoas como Elinalise, que eram amaldiçoadas e teriam problemas se suas vidas pessoais fossem restringidas por regras.
Basicamente, essa escola tinha tradições relaxadas por um bom motivo. Isso significava que eu estava livre para trabalhar na restauração de minha raison d’être. Aww, vamos nessa! Vamos colocar meu garotinho para funcionar!
Isso é só brincadeira, é claro. Eu tinha a palavra do Deus Homem de que minha condição seria algum dia curada. Não havia necessidade para ficar impaciente.
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