Dark?

Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 07 – Cap. 06 – O Mago Impotente

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Uma hora depois, esvaziei aquele frasco. Saí cambaleando e entrei em um bar qualquer. Então, na mesma hora me sentei ao balcão e fiz o pedido.

— Mestre, me dê o álcool mais forte que tiver aqui.

— Para uma criança? Não temos… — Ele começou a protestar, mas sua expressão se tornou surpresa quando tirei uma moeda de ouro Asurano do bolso e a coloquei no balcão. A surpresa foi logo substituída por desgosto quando ele imediatamente pegou uma garrafa na prateleira atrás de si e a colocou na minha frente. Por que me deixa esperando quando você tem o que eu pedi? pensei amargamente.

— Ahh… — Bebi direto da garrafa, erguendo-a, jogando minha cabeça para trás e engolindo tudo. Eu nunca tinha bebido álcool assim, mas era surpreendentemente bom. Minha cabeça estava girando e girando. Envenenamento agudo por álcool? Quem se importava com isso? Se eu pudesse morrer me sentindo tão bem assim, seria como um sonho se tornando realidade. — Ei, velho, mais uma! E também me dê algo para mastigar.

— Ei, você não deveria beber assim.

— Vá! Ande logo e me traga uma bebida! — retruquei, então o taberneiro apenas deu de ombros e me deu a próxima garrafa.

Ahh, isso com certeza despertou algumas memórias. Era exatamente assim que as coisas eram na minha vida anterior. Eu tinha meus ataques de raiva e, meu pai e minha mãe, apavorados, faziam exatamente o que eu pedia. Hah, depois de viver neste mundo por tantos anos e chegar tão longe, ali estava eu repetindo a mesma história.

Droga, droga…!

Tomei outro gole. Este álcool era muito quente, descendo rasgando com força o suficiente para fazer a língua doer. Entretanto, o gosto não importava. Quanto mais eu bebia, menos sentia o frio cortante que me congelou por dentro.

Os petiscos fornecidos pelo taberneiro eram apenas feijões. Feijão torrado, especificamente. Como que eles eram chamados mesmo? Os comi várias vezes, mas não conseguia lembrar. Que seja, poderia chamá-los de feijões. Afinal, esta cidade não tinha muito além disso.

— Oho, o que é isso?

Enquanto eu avidamente colocava os grãos na boca e os banhava com álcool, ouvi uma voz atrás de mim.

— Bem, se não é o Atoleiro. Isso é incomum, sabe, você aparecer para beber em um bar que frequentamos o tempo todo. Mas, ei, se você ficar aqui, vai estragar o gosto da bebida. Então saia. Está me ouvindo? Ei! Olhe para mim, estou falando com você.

Soldat apareceu e se jogou no banquinho ao meu lado. Olhei para ele. O homem tinha a mesma expressão maliciosa e zombeteira de sempre.

— O que diabos há com você e esse olhar deprimente em seu rosto? Deixe-me adivinhar, algo terrível aconteceu? Que surpresa… Não que isso importe. Você é sempre assim, não é? Sempre que algo não sai do seu jeito, você corre e corre, sorri como um completo idiota e espera que as pessoas ao seu redor o confortem. Não é? Isso é exatamente o que… urgh?!

Seu rosto tinha se aproximado demais, então enfiei meu punho nele. Com o impacto, Soldat saiu de onde estava, cambaleando, e caiu no chão, embora na mesma hora tenha saltado e ficado de pé.

— Seu merdinha!

Pulei do banquinho e o agarrei pelo colarinho.

— Por que você está ficando irritado?! Você é o único que sempre fica procurando brigas comigo. Isso é exatamente o que você queria, não é?!

— Seu…

E voltei a dar socos nele. Soldat não se defendeu, nem tentou desviar. Apenas levou meu soco de direita no rosto e tropeçou alguns passos.

— O que há de errado em sorrir como um idiota? — Outro soco. — Se eu pudesse ser como você… se eu pudesse menosprezar e rebaixar as outras pessoas enquanto me gabava de minhas próprias realizações, mesmo que as pessoas se ressentissem de mim e meu coração se enchesse de ressentimento quando todos começassem a me odiar e se afastar… se eu pudesse passar tudo isso e ainda ter o seu tipo de atitude, eu faria!

E continuei:

— Não quero que as pessoas me odeiem. É por isso que sorrio assim! O que te incomoda tanto nisso, hein?! — As palavras continuavam saindo. — Por que foram todos embora?! Só fiquem comigo! Não me importo se for tudo mentira, só precisam sorrir! Quando você é cruel comigo, isso dói!

Não pude me conter.

— Tanto faz, já está tudo arruinado. Já acabou para mim. Além disso, qual é o seu problema? Você não sabe nada sobre mim e, ainda assim, fica sempre tirando sarro. Quem você pensa que está chamando de “lobo solitário” e “meia-boca”? O que há de errado em fugir quando as coisas ficam difíceis?! — Apenas continuei. — Porra! Siga em frente e venha até mim! Me soque, faça o que quiser. Então, quando eu estiver caído no chão, você pode olhar para mim e rir! De qualquer forma, você deve ser mais forte do que eu.

Fiz uma chuva de socos cair sobre ele enquanto berrava meu discurso. Os outros do bar começaram a zombar de nós, dizendo “Briga! Acerte ele!”, mesmo assim, Soldat não se mexeu. Ele decerto poderia ter reagido aos meus ataques, mas, em vez disso, continuou deixando meu corpo viciado em álcool acertar golpes débeis nele.

Gradualmente, as vozes ao nosso redor morreram. A única coisa que me restou, depois que me cansei e afundei no chão, foi o som de mim sufocando um soluço.

— Ei, Soldat… Não chateie tanto a criança.

— C-certo.

Todos no bar, incluindo os membros do Líder Escalonado que estavam bebendo mais no fundo, e até o próprio Soldat ficaram completamente pasmos enquanto me encaravam.

— Sinto muito. Foi mal. Estraguei tudo. Talvez você realmente esteja pior do que todo mundo. Não chore. Tenho certeza de que coisas boas esperam por você no futuro.

— O que diabos você sabe? — cuspi de volta.

— Hmm… Ah, uh, bem, beba. Então você pode me contar sobre isso. Assim, talvez possamos descobrir algo, ou você pode ao menos tirar isso do peito. Então… enxugue essas lágrimas — disse ele, batendo no meu ombro.

E então, de alguma forma, antes mesmo que eu percebesse o que estava acontecendo, Soldat e eu estávamos bebendo juntos.

— Então, basicamente, você não conseguiu ficar de pé e a garota deu um fora em você, hein?

Sniff… Que foi, está querendo tirar sarro de mim? — perguntei acusadoramente.

— Nah, de forma alguma. É só que é importante falar essas coisas quando você está se sentindo mal, pode ajudar a descobrir os motivos.

— Acho que sim.

Para minha surpresa, Soldat me ouviu em silêncio enquanto eu soluçava e contava o que aconteceu. Ele até mesmo manteve os outros membros do Líder Escalonado afastados e me levou a um canto do balcão, onde estávamos apenas nós dois.

— Então, Senhor Soldat, o que realmente me deixou tão terrivelmente chateado foi…

— Só relaxa — interrompeu ele.

— Hein?

— Há um momento atrás, você estava falando como uma pessoa normal. Não precisa colocar nenhuma máscara, falando todo duro e formal. Quando faz isso, você está mentindo para si mesmo — explicou Soldat.

— Certo…

— Você continua mentindo para si mesmo, e isso é como um veneno. É bom ser educado, mas seja você mesmo.

Considerando o último ano, ele talvez tivesse razão.

— Então o que me deixou tão deprimido foi algo que aconteceu antes disso. Havia uma garota que eu gostava.

— É?

— Muita coisa aconteceu e, bem, nós fizemos… quero dizer, você sabe. Foi a primeira vez para nós dois.

— Bem, todo mundo tem uma primeira vez.

Continuei:

— Quando acordei, ela foi embora e já tinha até partido em uma viagem.

— Então ela te deixou de lado, hein?

Me deixou de lado? A verdade dessas palavras foi como uma lâmina apunhalando minha garganta. Novas lágrimas surgiram borbulhando em meus olhos, e minha mão tremeu enquanto eu segurava meu copo, deixando outro soluço escapar.

— Já disse para parar com essas lágrimas. De qualquer forma, se você está chorando por causa disso, essa deve ser a fonte do seu problema. Você tem se agarrado a isso o tempo todo, e é isso que te colocou na sua posição atual. Certo. Já sei o que aconteceu. Agora vamos lá, beba. Engula essas lágrimas — disse ele, derramando mais licor caro no meu copo.

Joguei minha cabeça para trás e bebi. Meu estômago estava completamente dormente. Eu não tinha noção de quanto havia bebido, embora minhas lágrimas estivessem começando a diminuir.

— Por que ela… Por que Eris me deixou? Porque…

— Ahh, então o nome dela é Eris, hein? Ela é uma mulher cruel. Mas você não pode perder tempo se perguntando qual é a razão por trás de cada movimento de uma mulher. Mulheres são como gatos. Nós somos mais como cães. Não há como cães e gatos entenderem o que um e outro estão pensando, certo?

— Mesmo assim, por quê? Por qual motivo…?

— Hmm. Com base na minha experiência, quando uma mulher desaparece de repente assim, é porque você estragou algo logo antes disso. De repente, ficam irritadas e saem por conta própria, dizendo que não se importam mais.

— Algo que fiz logo antes — repeti, pensando. Uma coisa me veio à mente. — Então eu acho que realmente fui péssimo na cama…

— Melhor não tomar suas próprias decisões sobre o que a deixou tão irritada. O que quer que você imagine provavelmente estará errado, então tome cuidado com isso. Se começar a se desculpar pensando que é isso, elas vão ficar com raiva de você e gritar: “Não estou nem chateada com isso!”

— Eu não sei nem onde ela está, então não posso me desculpar — confessei.

— Sim, eu entendo. Entendo. — Soldat esvaziou o resto de seu copo. Depois de colocá-lo de volta na mesa, passou o polegar pela borda, enxugando as gotas de líquido que estavam ali. Depois de parecer contemplar por alguns segundos, ele murmurou: — Se você continuar assim vai ser deprimente.

Essas palavras capturaram meus sentimentos perfeitamente. A expressão de Soldat não mudou. Ele continuava com aquele olhar de total ressentimento pelo mundo – aquela expressão sarcásticas e zombeteira. Ainda assim, era apenas seu rosto. Seus olhos estavam fixos em mim e suas palavras foram sinceras.

— Vamos arrumar isso —disse ele finalmente.

— Mas, como?

— Não faço ideia. — Ele balançou a cabeça e continuou: — Mas se essa é a fonte do seu problema, então só precisa substituí-la por algo igual.

Substitua isso com sexo. Sexo, entretanto, indicava que eu teria que usar exatamente o que não estava funcionando no momento, certo? Consertar isso exigiria que a própria coisa que estava com defeito voltasse a temporariamente funcionar.

— Isso não é impossível?

— Você só fez isso uma vez, certo?

— Sim…

— Então quem sabe? Ouça, encontrar prazer não significa necessariamente que você tem que enfiar em um buraco.

Eu meio que entendi o que ele queria dizer. Ele com certeza estava certo. Se não fosse assim, filmes adultos não teriam duas horas de duração, e também não haveria tantos tipos deles por aí.

— O que você propõe? — perguntei.

— Vamos deixar isso para uma profissional.

Por sugestão do Soldat, partimos para o distrito do prazer de Rosenburg.

Foi minha primeira vez no lugar e, de fato, minha primeira vez frequentando qualquer distrito da luz vermelha. Para ser mais preciso, deliberadamente evitei chegar perto do local.

O sol já havia sumido do céu, e os bordéis estavam todos iluminados com um respeitável número de pessoas vagando pelas ruas ao redor deles. A maioria dessas pessoas eram homens, mas também havia um número considerável de mulheres. A maior parte delas estava lá para trabalhar, mas, pelo que ouvi, algumas também estavam servindo como clientes à procura de homens. Estavam todas usando tanta maquiagem que era difícil distinguir uma da outra.

Não, as mulheres embaixo dos beirais, fumando o que pareciam cigarros, estavam indubitavelmente em busca de trabalho. Usavam roupas sugestivas com os seios expostos. Pela maneira como olhavam para mim – não, para Soldat – pude perceber que estavam tentando atrair clientes.

— E-esta é minha primeira vez em um lugar como este — confessei.

— Eu sei.

— Q-que tipo de garota devo escolher?

— Nah, você não tem que escolher alguém daqui. Essas garotas, para ser franco, são do tipo que deitam e fazem qualquer coisa desde que você pague. Isso me serve, mas você não é como eu.

— Ah, certo. — Então, mesmo as prostitutas tinham níveis de habilidade e serviços variados, hein? E as de baixo escalão estavam, em todos os sentidos da palavra, vendendo apenas seus corpos. Definitivamente não era esse o tipo de parceira que eu estava procurando.

— Estamos indo para um lugar um pouco mais especial — declarou Soldat.

— Eh, especial, hein?

— Bem, eu digo “especial”, mas há uma boa variedade disponível. Existem lugares que permitem que você faça coisas que um bordel comum não permitiria, e do tipo que irá satisfazer quaisquer fetiches secretos que você tenha. E há ainda mais estabelecimentos desonestos… lugares sobre os quais as pessoas se recusam a falar.

Mais inescrupulosos do que os outros que mencionou? Senti como se tivesse apenas uma vaga ideia do que ele estava falando.

— Por enquanto, vamos apenas para o bordel padrão. Um local com profissionais qualificadas que utilizarão técnicas como você nunca viu. Isso realmente vai te surpreender.

Apenas ouvir sobre isso foi o suficiente para me deixar animado. Eu nunca tinha estado em um lugar assim antes, nem mesmo em minha vida anterior. Desde então estive interessado, mas também tinha sido o tipo de pessoa que afirmava arrogantemente que apenas idiotas iam a tais lugares. Eu era jovem – jovem e tolo.

Agora, em contraste, tudo que sentia era ansiedade. Mas meu parceiro entre minhas pernas não parecia sentir o mesmo.

— Soldat… Senhor, você frequenta muito esses tipos de lugares?

— Esqueça o “senhor”. E, bem, sim. Eu sou um homem, por que não?

— Mas você não tem uma mulher no seu grupo?

— Isso é contra as regras do nosso grupo, ou melhor, do nosso clã. Grupos são apenas um amontoado de aventureiros escolhidos com base em suas habilidades. A regra é: se um homem e uma mulher em um grupo forem descobertos em um relacionamento, serão expulsos do clã.

— Ah, certo.

Tivemos problemas com relacionamentos do tipo em um jogo online que joguei na minha vida anterior. Os jogadores se encontravam offline, começavam a namorar e então as coisas ficavam estranhas para toda a guilda quando o relacionamento azedava. Também tínhamos trolls que estavam lá apenas para criar problemas.

Este, entretanto, era um mundo diferente. Ninguém tinha como se esconder atrás de um avatar, e as consequências do drama do relacionamento poderiam colocar a vida dos aventureiros em perigo. Provavelmente era por esse motivo que havia regras tão rígidas contra isso, ainda mais em clãs de tamanho considerável.

— Mas ainda assim — protestei —, estar em situações de vida ou morte por dias a fio cria naturalmente esse tipo de vínculo entre homens e mulheres.

— Sim — concordou Soldat. — É por isso que somos tão rígidos quanto à substituição de membros. Se um líder sentir esse tipo de sentimento entre duas pessoas, elas são convidadas a se retirar na mesma hora.

— Mas você está com eles há tanto tempo. O que acontece com o seu trabalho em equipe quando você de repente troca uma pessoa?

— Bem, nós apenas reformulamos as diretrizes básicas de batalha administradas pelo clã, e um pouco de prática cuida do resto. Ainda leva um pouco de tempo, mas é por isso que líderes como eu são proativos ao apresentar recomendações para novos membros. Enfim, chegamos. — Soldat parou sua caminhada. — Vamos, siga-me.

 

 

 

Diante de nós estava um edifício, encantador com sua pintura vermelha e fogueiras acesas. Parecia muito intimidante para se entrar; eu normalmente nunca me aproximaria de um lugar assim, muito menos entraria.

Ainda assim, enquanto corria atrás de Soldat, me vi cruzando a soleira sem nenhum problema. Costumava me perguntar como alguém tão desagradável como Soldat poderia liderar um grupo de aventureiros, mas meio que entendi. Ele era estranhamente fácil de seguir, um pouco parecido com Suzanne. Seria possível confiar em ambos para ir a lugares.

— Não fique tão nervoso. Ah, você tem dinheiro, certo?

— Eu… acho que tenho o suficiente. — Havia algo na entrada que lembrava uma lista de opções disponíveis, e confirmei que o dinheiro em minha carteira era mais do que suficiente para pagar a opção mais cara que ofereciam.

— Você andou economizando todo o seu dinheiro, certo? Então deve ficar bem… ao menos por uma noite. Você vai se ferrar se for fisgado e voltar todas as noites.

Quando entramos, fomos recebidos por um arco-íris de cores, com estofados elegantes que se estendiam até onde a vista alcançava. À nossa direita havia um balcão e à nossa esquerda cerca de seis mulheres com vestidos, todas sentadas. Em vez da maquiagem espalhafatosa de seus colegas do lado de fora, usavam apenas o suficiente para acentuar sua beleza natural, tornando-as sedutoras e sensuais. Esta era provavelmente uma de suas muitas habilidades.

À primeira vista, eu poderia dizer que seus vestidos e mobílias eram coisas caras. As prostitutas de luxo, como o nome indicava, transmitiam uma sensação de grandeza.

— Esses vestidos são incríveis — comentei.

— Sim, aparentemente são importados do Reino Asura. São vestidos feitos para a nobreza real, mas os comerciantes se livram dos impostos e os vendem por um preço decente, transportando-os em partes separadas, e então as pessoas as costuram juntas e vendem.

— V-você sabe muito sobre isso.

— Ouvi falar na última vez que vim aqui. O líder da rede Recompanhia, Silent, teve a ideia. É assim que conseguiram ficar tão grandes.

— Ah, nossa. — Isso definitivamente era do meu interesse, mas eu não tinha tempo ou dinheiro para isso no momento.

Soldat foi direto até o balcão e apoiou o cotovelo nele.

— Yo.

— Ora, ora, se não é Lorde Soldat. Bem-vindo ao nosso humilde estabelecimento. Ah, mas lamento informar que sua acompanhante preferida está ocupada no momento.

— Hoje só vim para beber. Mas é a primeira vez do meu companheiro aqui, então pode explicar como as coisas funcionam? — Ele se afastou do balcão e me empurrou para frente.

Me aproximei do recepcionista, assim como solicitado. A pessoa do outro lado do balcão era um homem elegante com um sorriso agradável e, embora eu claramente parecesse uma criança aos seus olhos, ele ainda me olhou com a maior cortesia.

— É um prazer conhecê-lo — disse ele. — Permita-me estender a minha gratidão a você por ter escolhido visitar o nosso estabelecimento, o Palácio Rosa Azul, hoje. Eu sou o gerente deste lugar, Profen.

— Ah, prazer em conhecer. Meu nome é Rudeus Greyrat.

— Ah! Você é o Rudeus Atoleiro! Já faz algum tempo que ouço rumores sobre você. — Que tipo de rumores? Parte de mim queria saber, e outra parte não. — Lorde Soldat mencionou que é sua primeira vez aqui. Se eu puder perguntar, isso significa que também será sua primeira vez na vida?

— Ah, não, não é. — Balancei a cabeça.

— Tudo bem. Vou explicar como nosso sistema funciona. — E ele explicou.

Primeiro, escolheria uma das garotas esperando nas cadeiras. Em seguida, o preço seria determinado com base no itinerário que fosse selecionado. Os itinerários tinham várias opções diferentes e tudo o que não era listado estava simplesmente fora de questão. O cliente receberia uma lista do que era ou não permitido, é claro, mas normalmente não precisava se preocupar muito com os detalhes. As acompanhantes já haviam memorizado tudo nas listas.

Depois de escolher, entraria em um dos banheiros para se limpar e seria conduzido a um quarto. Lá, se juntaria à mulher escolhida, e os dois ficariam sozinhos para fazer o que quisessem. Contando que o que quisesse estivesse na lista, seria atendido. Caso propusesse algo que não estava na lista, ela recusaria, e ponto final.

Dito isso, se realmente quisesse algo que não estava na lista, talvez pudesse negociar a inclusão ao custo de uma taxa adicional. Claro, o estabelecimento tinha vários métodos à sua disposição para garantir que fosse tudo pago. Setenta por cento da taxa seria paga adiantada e trinta por cento mais as taxas adicionais posteriormente.

— Então, quem você vai escolher?

Por recomendação de Soldat, escolhi o itinerário mais caro disponível e rapidamente paguei a primeira metade da conta. Isso me permitiria tentar uma variedade de métodos diferentes para resolver meu problema. Depois disso, avaliei as mulheres que estavam esperando. Como eu era um cliente pagante, podia dar uma olhada mais de perto, e até apalpá-las, se quisesse. Cada uma das acompanhantes exibia um sorriso deslumbrante quando me aproximei, sorrisos tão sedutores que eu poderia ter me apaixonado por suas portadoras se nos encontrássemos literalmente em qualquer lugar, menos neste.

Quatro dos assentos estavam vazios, o que provavelmente significava que aquelas garotas já estavam com outros clientes. Mesmo assim, me senti um pouco desconfortável sentindo o sorriso de alguém para mim, então…

— Acho que… vou com ela.

A garota que escolhi era a segunda da esquerda. Ela parecia um pouco tímida, de vinte anos, e era um pouco mais baixa do que eu. Tinha seios consideráveis, uma cintura justa e uma bela bunda arredondada. Seus traços faciais pareciam Asuranos e ela tinha um ar confiante. Seu cabelo era ruivo e ligeiramente cacheado e ondulado.

Em outras palavras, sua aparência física era semelhante à de Eris.

— Me chamo Elise. É um prazer estar em sua companhia.

Até seu nome era parecido. Não – provavelmente não era seu nome verdadeiro, de qualquer forma.

— Posso solicitar o seu nome também, meu lorde?

— Ah, Rudeus. Rudeus Greyrat.

Ela pareceu chocada por um momento, mas então seus lábios se contraíram.

— Bem, então, Lorde Rudeus, fico ansiosa para servi-lo. — Elise tinha um sorriso encantador no rosto enquanto rapidamente girava nos calcanhares e desaparecia em outro cômodo.

— Bem, boa sorte — disse Soldat. — Voltarei para buscá-lo quando seu tempo acabar.

— C-certo.

Assim que disse isso, Soldat selecionou a garota mais distante à direita e desapareceu em outro lugar. Assim que fiquei sozinho, me senti repentinamente impotente.

— Por aqui, para o banho. Sinta-se à vontade para tomar seu tempo se limpando, pois isso não conta para o seu tempo concedido com sua companhia.

Afastei a sensação de solidão e segui o guia, vagando mais para fundo no edifício. A área de banho incluía uma banheira transbordando com água morna e duas garotas vestindo o que equivalia a maiôs. Também eram muito jovens e subdesenvolvidas. As duas começaram a silenciosamente me lavar. Talvez fossem aprendizes, ainda não tinham idade suficiente para receber clientes, mas ainda assim estavam aprendendo as habilidades como potenciais candidatas a se tornarem acompanhantes. Esfregaram cada centímetro do meu corpo. E quando digo que limparam cada centímetro, quis dizer isso mesmo. Escovaram até meus dentes e me poliram até eu brilhar. Se minha metade inferior estivesse em seu estado adequado, meu camarada de armas certamente teria ficado em posição de sentido e saudado os céus. No entanto, como sempre, ele estava completamente silencioso.

Depois de vestir a cueca e a camisa que forneceram, colocando minhas roupas e objetos de valor em uma cesta que me deram, disseram-me para ir ao Quarto 5.

Saí do banheiro por uma porta diferente da que havia entrado e segui um corredor estreito para chegar ao quarto designado. Com os números claramente escritos na porta, era fácil identificá-los. Os quartos depois da porta 6 ficavam no andar superior.

Abri a porta timidamente. Só de pensar que havia uma garota esperando do outro lado, disposta a fazer qualquer coisa dentro das regras deste estabelecimento, já me excitava. Mesmo assim, meu precioso parceiro permanecia desinteressado.

— Perdão — falei automaticamente quando entrei.

O quarto estava escuro. A única luz saía de vários candelabros e algumas velas sobre a mesa. Sob aquela luz fraca havia uma cama com dossel. Elise estava na borda, vestida com roupas transparentes.

— Estive esperando por você, Lorde Rudeus. Por favor, venha por aqui. — Ela sorriu suavemente enquanto se aproximava de mim, pegando meu braço. Pela forma como seu peito proeminente pressionava meu braço, pude notar que Elise era claramente diferente de Sara. Meu coração bateu furiosamente. — Já devemos começar? Ou você prefere conversar um pouco primeiro?

— Uh, um…

— Parece que você está nervoso. Nesse caso, por que não conversamos um pouco? Não se preocupe, a noite ainda é jovem. Não há necessidade para pressa.

Ahh, então isso era uma profissional. Isso era fácil de dizer, só pela maneira como ela conduzia e falava enquanto se acomodava ao meu lado na cama. Com mãos experientes, pegou uma garrafa de álcool da mesa e despejou em um dos copos fornecidos.

— Gostaria de tomar alguma coisa? — perguntou ela.

— Uh, sim, gostaria.

Persuadido por sua oferta, esvaziei o vidro. Por um momento me perguntei se ela não se juntaria a mim, mas então me lembrei de ter visto escrito na entrada que as companheiras não beberiam. Também havia um aviso de que se um patrono insistisse que sua companheira se juntasse a eles, suas habilidades poderiam ser enfraquecidas e suas palavras menos filtradas devido à embriaguez. Então, eu beberia sozinho por enquanto. A caminhada até o local havia me deixado sóbrio. O que aconteceria logo depois disso seria essencial, então eu precisava da influência do álcool para me ajudar.

— Esses doces são do Reino Asura. Quer um pouco?

— S-sim.

Quando fiz o que Elise sugeriu e comi um, ela soltou uma risadinha.

— Já ouvi falar de você antes, Lorde Rudeus.

— Ah, sim… Bem, eu me tornei muito famoso na Guilda dos Aventureiros. Isso é verdade. Acho que você deve ter ouvido outro aventureiro falando algo, não é?

— Não, foi a minha irmãzinha. Uma vez você curou as feridas dela sem pedir nada em troca.

— “Uma vez”? — repeti questionadoramente.

— Ouvi dizer que foi no inverno passado, quando você estava ajudando a limpar a neve.

— Ahh. — Parando  para pensar, algo assim aconteceu.

— Os aventureiros são gentis conosco quando nos vestimos assim, colocamos maquiagem e tocamos pele com pele, mas, caso contrário, muitos deles tendem a ser bastante violentos. Principalmente com as jovens aprendizes daqui, que não têm dinheiro, cujas roupas estão em farrapos e que muitas vezes são confundidas com órfãs. Muitos aventureiros não param para considerar que, à medida que essas crianças ficam mais velhas, vão aceitar clientes, e que esses mesmos aventureiros podem se tornar seus clientes.

Uma órfã imunda nas ruelas e uma bela mulher aceitando clientes em um bordel pareciam a mundos de distância. Se eu tivesse me dado ao trabalho de olhar mais de perto, poderia ter percebido que as crianças que me deram banho antes pareciam as molecas que às vezes via em becos durante o dia.

— Creio que isso pode estar certo. Admito, também pensei que elas eram órfãs.

— Mas você foi diferente dos outros — insistiu ela. — Não buscou nada em troca e ajudou o que pensava ser uma órfã sem um tostão no bolso pela bondade de seu coração. Você é uma pessoa incrível. Surgiram alguns rumores de que algumas garotas fariam um esforço extra para te agradar se você algum dia viesse.

Isso definitivamente devia ser da boca para fora, eu tinha certeza. Ainda assim, foi bom de ouvir.

— Tenho certeza de que as outras garotas vão ficar com inveja quando souberem que fui eu que dormi com você.

— Uh, sim, claro… Um, posso tomar outro copo?

— Sim, é claro. Mas não devia beber até ficar cansado, sabe? Ainda temos muito tempo sobrando nesta noite. Em vez de desfrutar do licor, por que não tenta desfrutar de mim?

— Ah, é claro. Sim.

Depois de comer e beber, meu cérebro parecia suficientemente confuso com o álcool. Quanto a Elise, ela ficou sentada ao meu lado o tempo todo, colada no meu braço, sua mão acariciando minha coxa até a base da minha perna enquanto dizia: “Tem um gosto bom?” e, “Você certamente pode aguentar um pouco de licor.”

— Um, podemos começar agora? — perguntei, finalmente.

— É claro. — Elise soltou meu braço, ao qual ficou agarrada o tempo todo, e deu um passo na minha frente. — Você gostaria de me despir pessoalmente?

— Uh, o quê? Ah, não, tudo bem.

— Muito bem.

A maneira como ela se movia enquanto tirava suas roupas transparentes era tão sedutora que chegava a ser fascinante.

— Agora, então, Lorde Rudeus, para a cama.

Seu corpo nu me manteve enraizado no lugar enquanto eu tateava minhas próprias roupas. Depois que elas saíram, segui seu convite e me juntei a ela em cima do colchão.

— Vou fazer o meu melhor para agradá-lo.

A situação toda era tão sensual que parecia uma ilusão, como se eu estivesse em um sonho. Foi o suficiente para me fazer acreditar: Ah, sim, eu definitivamente posso fazer isso.

 

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Simplificando, não funcionou.

— Sinto muito por não ter sido útil para você.

No momento em que fui para a cama com ela, Elise logo percebeu o meu problema. Ela então começou a se desculpar profusamente, perguntando se eu preferia escolher outra pessoa para ficar. Não era uma má ideia, mas eu teria me sentido culpado, então expliquei minhas circunstâncias. Isso a deixou determinada a me ajudar, usando todas as técnicas que possuía – incluindo algumas não listadas no meu itinerário selecionado.

Honestamente, ela era maravilhosa. Foi ótimo. Tive uma noção clara de como eram as habilidades de uma profissional. No entanto, as sensações físicas não levaram a lugar nenhum. Meu amigo permaneceu sempre em silêncio, quase como se seus dois garotinhos tivessem sido cortados fora. Na verdade, quanto mais tentávamos, mais vazio eu me sentia, e mais longe parecíamos de descobrir a origem do problema.

Então nosso tempo acabou.

— Não, Senhorita Elise, você fez o seu melhor — assegurei a ela.

— Mesmo assim, eu… Ah, não, o que devo fazer…

— Eu vou pagar a taxa. Para as coisas que não foram listadas também, se você me disser o custo.

— Ah, não, não precisa se preocupar com isso. Fiz aquilo porque realmente queria te ajudar.

Verdade, eu não tinha pedido para ela fazer aquelas coisas. Entretanto, tive uma sensação clara de que ela normalmente não as teria feito sem a compensação apropriada.

— Tem certeza? — perguntei, desconfortável.

— Eu quis mesmo dizer o que te falei antes. Algumas de nós juramos que nos esforçaríamos para te agradar se você viesse aqui.

Não consegui esconder minha descrença.

— Eh. Sério?

— Ouvi dizer que você ainda era muito jovem, então achei que não viria aqui por algum tempo — confessou Elise.

Então era uma mistura de verdade e bajulação.

— Vou acreditar na sua palavra — decidi.

— Mas já que é verdade que não fui capaz de satisfazê-lo, você pelo menos me permitiria acompanhá-lo para fora do distrito do prazer?

— Uh, claro.

Conforme solicitado, saí do quarto com ela e caminhamos juntos pelo estreito corredor. No meio do caminho, senti alguém atrás de nós e olhei por cima do ombro. Avistei algumas garotas entrando no quarto do qual tínhamos acabado de sair. Carregavam suprimentos de limpeza e imaginei que eram encarregadas de arrumar os quartos assim que os clientes se retiravam. Reconheci uma delas – tenho certeza de que era a garota cujo ferimento eu havia curado.

— Acho que o que você disse antes realmente era verdade — comentei com surpresa.

— Você não acreditou em mim?

— Pensei que era da boca para fora.

Quando respondi honestamente, ela apenas passou os dedos em volta do meu braço e o acariciou.

— Para dizer a verdade, em parte era.

— Imaginei.

— Mas daqui a dez anos, quando aquela garota começar a receber seus próprios clientes, tenho certeza de que vai lhe dar sinceridade, não bajulação.

Ela estava tentando me convencer a me tornar um cliente frequente? Decidi levar suas palavras com desconfiança enquanto caminhávamos de volta para o saguão.

Não conseguimos convencer o balconista a renunciar aos meus honorários. No entanto, a pedido pessoal de Elise, recebi mais tempo com ela, embora qualquer coisa que fizesse durante esse período seria sem compensação.

— Disseram que Lorde Soldat está bebendo na porta ao lado.

Segui as instruções de Elise e fui até o bar vizinho. Como era operado pela mesma companhia, poderia chegar lá caminhando pelo mesmo prédio, sem precisar dar a volta por fora. Talvez aqueles que não estivessem afim de sexo iam até o local para beber ao lado de acompanhantes novatas que tinham idade suficiente para fazer o trabalho, mas ainda não estavam prontas para receber seus próprios clientes. Ali, as aprendizes da arte poderiam praticar e refinar suas habilidades de conversação até que pudessem lisonjear tão naturalmente quanto Elise. Claro, provavelmente recebiam orientação em outro lugar para desenvolver suas outras habilidades.

— Então foi quando eu disse a eles: “Apenas um golpe, é tudo que eu preciso para acabar com essas feras na nossa frente. Vocês apenas se concentrem nos inimigos ao nosso lado e flanco.”

— Aaah! Senhor Soldat, você é tão sexy!

— Sim! Você me acha sexy, não é?

Soldat estava aos fundos apreciando sua bebida enquanto duas garotas o atendiam. Quando ele me viu se aproximando, se levantou na mesma hora.

— Ah, Atoleiro! Como foi?

— Ela tentou várias técnicas diferentes comigo, mas… nada funcionou.

— Ahh, então foi um fracasso. — Soldat coçou a cabeça e soltou um suspiro. — Como diabos devemos consertar isso? — Ele cruzou os braços, aparentemente refletindo sobre o assunto, mas eu já tinha desistido. Na verdade, parecia que meu coração poderia se despedaçar se eu continuasse tentando em vão.

— Ei, você, o que acha? — Soldat voltou a conversa para Elise.

— Eu? — perguntou ela, surpresa. — Receio não ter uma resposta, além de lamentar não poder ajudar mais.

Soldat não se intimidou.

— Como ele se compara aos seus outros clientes? Houve algo que chamou sua atenção?

Elise ficou pasma.

— Eu não poderia compará-lo a outros clientes, isso seria…

— Vamos lá, apenas diga — insistiu Soldat rispidamente enquanto o olhar dela passava entre nós dois.

— Lorde Rudeus parece ter… bem, medo de mulheres. Ele parecia muito tímido sempre que falava comigo, olhava para mim ou me tocava.

— Continue.

— Talvez se sua parceira fosse alguém de quem ele não precisasse ter medo, alguém que tinha certeza que não o odiaria, não importa como as coisas acontecessem, poderia ser capaz de fazer isso.

— Você tem alguém assim? — Ele me encarou.

Balancei a cabeça. Por um momento, imaginei Roxy em minha mente, mas era inútil. Roxy era a pessoa que eu mais respeitava no mundo inteiro e, portanto, a pessoa número um que eu não queria que me odiasse. Em outras palavras, exatamente o oposto do que Elise estava propondo.

— Não acho que isso é algo que ele encontrará imediatamente. É algo que deve ser construído aos poucos ao longo do tempo — acrescentou Elise.

— Sim, eu percebi.

Bebi enquanto ouvia a conversa deles. Soldat parecia sério enquanto discutia a situação com Elise e continuava a considerar o assunto.

— Bem, por enquanto vamos apenas beber. Beba o suficiente para cair de bunda!

Com seu incentivo, tomei um assento.

— Perdão, senhores, mas está na hora de fecharmos.

— Ahh, já está tão tarde, hein?

— Mm… — murmurei de volta para Soldat.

Quando nos levantamos, Elise passou o braço em volta do meu.

— Permita-me ver você partir.

Pagamos nossa conta e saímos pela porta. Em algum momento, a escuridão começou a dar lugar à luz quando o amanhecer começou a nascer. Quando voltei para a cidade após resgatar Sara também estava de madrugada. Uma lembrança agora amarga.

— Urrgh… Ahh, nós realmente tomamos todas. Um pouco demais… — disse Soldat.

— Sim… — E eu concordei com ele.

Tínhamos bebido aos montes – bebido até ficarmos perdidos. Agora meus pés estavam tropeçando e o mundo girando ao meu redor. Eu não sabia qual era o caminho a seguir. O que era baixo poderia muito bem ser alto, e não conseguia diferenciar a esquerda da direita. Heh heh. Aproveitei meu estado para sentir a bunda de Elise.

— Ei, Rudeus — disse Soldat.

— O quêê?

— Sabe, eu… Bem, quando estou em um labirinto, tento não apressar as coisas.

— Mm. — Ouvi, mesmo enquanto me perguntava sobre o que diabos ele estava de repente falando.

— Veja, quanto mais você avança em um labirinto, mais fortes são os monstros que você vai encontrar — explicou ele. — Às vezes, os bastardos até se unem. Se você entrar em pânico e correr para lá às cegas, só vai ter o seu traseiro chutado. Então você toma seu tempo lutando contra monstros nos primeiros andares para que possa se estabelecer em sua formação e se acostumar com as coisas. Isso é realmente eficaz, sacou? Porque muitos daqueles monstros surgem novamente em outros andares.

— Sim, eficaz…! Entendi! — Portanto, deve-se observar os movimentos do seu oponente nos andares anteriores, se acostumar com a forma como lutaram e então passar para o próximo, certo? Sim, isso seria eficaz!

— Qual é o nome dela mesmo, Sara? Você não acha que vocês dois apressaram muito as coisas?

— Apressamos? O que você quer dizer? — Minhas palavras estavam misturadas. — Sim, quero dizer, sou muito rápido na cama, mas não sei se você pode realmente dizer o mesmo sobre Sara.

— Não é isso que estou dizendo. — Ele acenou com a mão em desdém. — Parecia que ela estava pronta para isso, mas você precisava de mais tempo e se preparar mentalmente, sabe?

— Nah — discordei. — Não tinha nada a ver com estar preparado. Já falei, não falei? Ela não queria fazer aquilo. Era obrigação, essa é a única razão pela qual dormiria comigo.

— Não. Se você me perguntar, aquela arqueira realmente parecia sentir tesão por você.

Nenhum de nós conseguiu articular nossos pensamentos corretamente, mas ainda estávamos mantendo essa conversa. Mas sobre o que o Soldat estava falando? Sara sentia tesão por mim? E daí, ela só disse o que disse para esconder seu constrangimento? Hmm. Parando para pensar, isso parecia um pouco com uma tsundere

Nah, não poderia ser isso. Se ela realmente tivesse esse tipo de sentimento por mim, não teria me chamado de desastre.

— Bem, você ainda tem tempo, certo? Encontre-a de novo, leve as coisas casualmente e tente falar com ela como se nada tivesse acontecido. Se funcionar, então aos poucos você pode se abrir e deixá-la entrar, certo?

— Aham, imagino que sim…

Minha mente, carregada de álcool, começou a se agitar. Ele tinha razão. Eu não teria certeza se não tentasse falar com ela. Essa era uma lição que aprendi ao conversar com ele, na verdade. A comunicação realmente era a chave para nós, humanos.

— Muito bem — disse finalmente. — Farei uma tentativa de me envolver com ela, esta noite ou na madrugada do dia seguinte. — Eu tinha certeza de que os membros do Contra-Flecha mencionaram sair cedo nesta manhã para uma missão. A julgar pelo quão claro o céu estava, provavelmente já tinham partido há algum tempo. É…

Espera. Uh, eu não deveria ir com eles?

Oops. Parece que não dei as caras.

— Bem, eu temo que isso seja o mais longe que posso acompanhá-lo. Lorde Rudeus, você vai ficar bem? — Elise se desvencilhou quando nos aproximamos da saída do distrito do prazer. A ausência de seus seios macios e calor deixou meu corpo se sentindo solitário.

— Mm, sim, eu vou ficar bem. Eu sou… um mago! Posso usar a Desintoxicação! — declarei.

— Tem certeza de que ficará bem?

— Mm, sim, beeem. Mas, Elise, apenas uma última vez, posso tocar no seu peito?

Ela ficou quieta por um momento.

— Sim, fique à vontade.

— Sim, obrigado! — Eu os apertei um pouquinho em minhas mãos. Entretanto, o amigão entre minhas pernas continuou dormindo. Sim, ele estava lá, agachado. Afinal, precisava se agachar para pular alto. Ele só estava se preparando.

É, sério. Isso era tudo. Agachado.

— Embora eu não tenha sido capaz de agradar você hoje, espero que venha me ver novamente. — Elise deu um beijo na minha bochecha, recuou alguns passos e fez uma reverência antes de sair.

— Certo! — respondi, mesmo sabendo que provavelmente não voltaria. Talvez se eu conseguisse resolver meu problema. Talvez então, da próxima vez que sentisse aqueles seios, meu parceiro lá embaixo realmente ganhasse vida.

Me virei para Soldat.

— Bem, hora de ir para casa!

— Sim! Certifique-se de falar com ela!

— Sim, sim, eu sei.

Minha aventura no distrito do prazer não tinha consertado nada, mas não parecia que tinha sido um desperdício de dinheiro. Meu tempo com Elise ao menos me deu algum conforto. Mesmo sem eu sentir a eletricidade correndo pela minha espinha, ainda consegui aproveitar a maciez de seus seios.

— Você realmente entendeu? — perguntou Soldat, em dúvida. — Na verdade, hoje eu vou… — Ele parou no meio de uma frase.

— Sim, entendi! — respondi. — Caramba, você realmente não vai desistir. Mesmo se não funcionar, meh. Eu é que devia estar falando “não, obrigado” a uma garota de peito plano feito aquela. As mulheres só são boas se forem como Elise e tiverem algum balanço na área do peito!

Sem resposta.

— Vamos, Soldat, você concorda, não é? Digo, fomos fazer compras e depois comer juntos… Que estupidez. Tipo, vamos brincar de casinha aqui ou o quê?

— Uh, Atoleiro, acho melhor você deixar por isso mesmo.

— Deixar em quê? É um fato simples. Sara é uma criança e Elise é uma mulher adulta adequada.

Finalmente olhei para Soldat, imaginando o que ele estava tentando dizer. Seus olhos estavam fixos em algo na frente dele, e estava com um olhar de “Ah, merda” em seu rosto.

Segui seu olhar e vi duas mulheres paradas ali. Uma era Suzanne, vestida com sua couraça e manoplas de aço, parecendo pronta para partir em uma aventura. A outra era Sara. Ela também parecia preparada para partir, mas seus olhos estavam inchados e com olheiras, quase como se tivesse passado a noite chorando.

Elas também estavam olhando para mim, com choque e consternação em seus rostos. Merda, pensei quando Sara veio até mim. Seus passos foram curtos e rápidos.

— Sara, espera, não é isso que eu quis dizer…

Minha voz ficou presa na garganta com a expressão em seu rosto. Engoli minhas palavras. O olhar de Sara estava frio como gelo, como se estivesse usando uma máscara noh1Clique aqui e conheça os diferentes tipos de máscaras da cultura japonesa.. Elise se afastou rapidamente quando ela se aproximou.

Slap!

Um tapa seco ecoou pelas ruas tranquilas do distrito do prazer. Minha cabeça girou com o impacto e minha bochecha queimou onde foi atingida.

— Seu lixo! Nunca mais me mostre a sua cara! — A ouvi dizer, minha cabeça ainda virada. Quando olhei para trás, ela já estava correndo para Suzanne, que também tinha uma expressão intensa no rosto.

— Isso foi inaceitável — disse Suzanne baixinho, embora fosse alto o suficiente para eu ouvir. Ela colocou a mão no ombro de Sara e as duas saíram juntas.

Eu não fazia ideia do que tinha acontecido. Em uma fração de segundo, fiquei completamente sóbrio. Quando olhei para Soldat, ele estava com a cabeça inclinada para trás e a palma da mão pressionada sobre o rosto.

Havia uma coisa que eu entendia: acabara de ser completamente rejeitado. Não havia dúvida. O que eu falei foi por conta do álcool, mas isso não importava para Sara. Ela ouviu o que eu disse e decidiu que nunca mais queria me ver.

Como aventureiros, éramos obrigados a nos encontrar na Guilda dos Aventureiros. Eu tinha certeza de que ela me olharia com nojo cada vez que nos olhássemos e, agora, talvez Suzanne também. Não só Suzanne, como até Timothy e Patrice. Agora, seriam eles que me olhariam com a repulsa que Soldat mostrava.

Caí de joelhos. Não aguentei.

— Ah… aah…

Era isso. Eu não aguentava mais. Passei um ano inteiro com eles e finalmente, finalmente comecei a me tornar amigo, mas foi assim que tudo acabou. De novo não.

— Eu deveria simplesmente morrer.

Tirei uma faca do bolso e coloquei na base do meu pescoço.

Algo atingiu meu pulso instantaneamente e deixei cair a lâmina. Soldat havia me atingido com o lado de sua mão.

— Idiota, não se apresse! Isso foi só um mal-entendido. Vocês quase dormiram juntos, aí ela te vê saindo do distrito do prazer com uma acompanhante e você falando merda dela. É claro que vai entender errado! Além disso, o fato de ainda estarem aqui significa que deviam estar procurando por você. Anda logo e corra atrás delas! Vá explicar as coisas! Você ainda pode arrumar isso. Então? Pare de brincar… levante-se e vá em frente!

— Nada disso… importa mais. É só… Acabou… Eu não quero mais fazer isso…!

Enquanto eu sufocava um soluço, Soldat me deu um tapa no ombro.

— Então por que não vai para casa? Você não tem que resolver tudo com sua mãe e seu pai, mas pelo menos deixe que eles cuidem de você… Ah, espera, você disse que sua mãe está desaparecida. Onde seu pai estava mesmo? No Reino Asura?

— Millis… No País Sagrado de Millis, como parte do Esquadrão de Busca e Resgate de Fittoa.

— Ah, então eu acho que não vai dar certo. É muito longe. — Soldat coçou a nuca e murmurou pensativo.

Voltar para casa certamente era uma opção. Depois desse baque, não teria mais força de vontade para continuar sozinho. Podia ser bom voltar para onde Paul estava e passar meu tempo cuidando de Norn e Aisha, junto com Lilia. Eu não poderia fazer nada sozinho. Eu era maduro o suficiente, mentalmente falando, mas isso era tudo que era. Não importa quanto tempo passasse, isso era tudo de que era capaz.

Mesmo assim, a casa estava muito longe. A partir de onde estava, levaria pelo menos um ano para chegar em Millis. Paul e os outros poderiam já ter ido para outro lugar. Podíamos inclusive nos desencontrar. Não havia como eu arrastar esse meu coração despedaçado e continuar vivendo enquanto isso.

Era inútil.

— Bem, que tal vir comigo? — Soldat deixou escapar, assim que eu comecei a me desesperar.

— Hein…?

— Um enorme labirinto foi descoberto no Ducado de Neris. Alguns grupos dentro do Raio receberam ordens para ir conquistá-lo. Isso inclui o nosso, então estamos pensando em partir hoje. Quer ir junto?

Fiquei confuso. Partiriam no mesmo dia? Então isso significava que ele passou a noite antes de sua partida cuidando de mim?

— Mas eu não quero entrar em nenhum…

— Você não tem que se juntar ao nosso grupo. Só estou perguntando se você quer vir comigo. Se está com tanto medo de ver aqueles caras de novo, pode ir para outro lugar e encontrar novas pessoas, certo? Há tantas mulheres lá fora quanto estrelas no céu. O que você acha?

Lentamente levantei a minha cabeça. Soldat estava olhando para mim. Como sempre, sua expressão beirava a zombaria. O olhar em seus olhos, no entanto, era genuíno.

— Por que você está… disposto a ir tão longe por mim?

Ele encolheu os ombros.

— Nenhuma razão particular.

— Mas você não me odiava?

— Sim, aquele seu sorriso assustador e aquele discurso doentiamente educado feito algum tipo de santo… Aquela merda toda realmente me irrita. Queria que você tirasse a máscara. Mas agora sei tudo sobre o que está acontecendo com você. Entendo que tem razões válidas para agir da maneira que age. Não há mais razão para odiá-lo.

Então era isso. Soldat realmente não me odiava mais.

— Incitei e cutuquei e só quando pensei que você tivesse explodido comigo, começou a soluçar como uma criança. Sinto que também errei. As pessoas têm coisas que querem manter para si mesmas, sabe? Mas mesmo assim continuei pressionando.

Senti como se tivesse realmente passado por um mal-entendido com Soldat. Houve mais de uma ocasião em que me perguntei como um grupo funcional poderia ter um líder como ele, mas o homem acabou se revelando uma pessoa muito melhor do que eu imaginava. Sim, claro, ele também tinha seus defeitos. Na verdade, suas falhas eram principalmente as que eu tinha sido exposto até o momento.

Mas os membros de seu grupo riam disso porque também estavam cientes de seus pontos positivos.

— Então, e aí? — perguntou Soldat enquanto eu refletia sobre tudo.

No momento, eu só queria sair de onde estava. A ideia de me encontrar com Sara enquanto estivesse arrastando os pés me apavorava.

— Eu vou. Por favor, me leve com você.

Eu sabia que isso era o mesmo que fugir, mas queria me livrar daquele lugar. Mesmo que fosse para uma nova terra, não tinha intenção de procurar por outra pessoa. Eu estava farto de tentar ficar íntimo de outra pessoa. Se possível, queria consertar meu problema, é claro, mas tinha certeza absoluta de que deixar Rosenburg não seria o suficiente. Que seja. Isso servia. Passei a minha vida anterior inteira sem sexo. Abrir mão disso não iria me matar.

— Certo, bem, então vamos embora.

Eu gradualmente me ergui com o incentivo de Soldat, olhei para o sol nascente e jurei para mim mesmo que nunca mais contaria com um único grupo.

 

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Ponto de Vista de Sara

Enquanto isso, Sara ficou chocada e ressentida após o encontro, nutrindo um ódio feroz por aquele chamado Rudeus Greyrat.

— Não consigo acreditar nisso. Eu simplesmente não consigo, não consigo! — gritou ela.

Era pouco mais que meio-dia. Uma quantidade substancial de tempo passou desde que ela deu um tapa no garoto. No momento, estava na margem de um rio a cerca de meio dia de distância de Rosenburg. O grupo estava escoltando alguns pescadores, um pedido de rank C que não representava perigo. Em outras palavras, Sara não tinha nada para fazer. Como resultado, passou seu tempo livre amaldiçoando Rudeus.

— Não consigo acreditar que eu… com aquele canalha…! Aquele lixo! Um completo cretino!

Ela estava frustrada. Ela realmente gostava dele.

Claro, no começo não pôde o suportar. Mas assim que fizeram seu primeiro trabalho juntos, meio que entendeu que ele não era uma pessoa . Seus sentimentos por ele não iam além disso: era apenas um garoto nobre covarde, apesar do enorme poder que possuía.

Essa impressão só mudou depois do que aconteceu nas Ruínas Galgau. Ele assumiu a retaguarda e enfrentou a horda de Drakes Nevosos sem dizer uma palavra, apenas para que o restante deles pudesse escapar.

Rudeus com certeza era forte o suficiente para ter cuidado das criaturas sozinho, mas priorizou manter o Contra-Flecha vivo. Naquela época, ela não entendia por que ele tinha escondido suas habilidades, mas percebeu que o garoto era o tipo de pessoa que se sacrificaria para salvar os outros.

A partir daí, seus sentimentos por ele começaram a gradualmente mudar. Sara começou a se interessar pelo que ele dizia e fazia. Ela tentou ignorar seus sentimentos iniciais, lembrando-se de que odiava aventureiros que nasceram na nobreza, ou que odiava os nobres como um todo. Mas a negação não funcionou, e em algum lugar em seu coração percebeu que Rudeus era diferente dos nobres que odiava.

A confusão na Floresta Trier foi a gota d’água para fazê-la admitir seus verdadeiros sentimentos. Ou talvez fosse melhor chamar de oportunidade do que de confusão. Às portas da morte naquela floresta, testemunhando Rudeus saindo para salvá-la sozinho, finalmente reconheceu que não era ódio em seu coração, mas sim afeto. Ela se apaixonou por Rudeus.

Com essa constatação, Sara adotou uma abordagem assertiva. Começou a convidá-lo para seus lazeres e a envolvê-lo ativamente na conversa. Quanto mais conversavam, mais seu afeto por ele aumentava. Quando ela olhou para ele, sentiu seu afeto florescente. Sara estava com vergonha de confessar seus sentimentos diretamente, então planejou usar sua dívida de vida para com ele como um pretexto para irem para a cama. Então, decidiu, revelaria seus verdadeiros sentimentos, uma vez que dormissem juntos.

Razão pela qual o que aconteceu foi um choque tão grande.

O corpo dele não reagiu ao dela. Rudeus parecia se importar com ela, e até parecia receptivo aos sentimentos dela por ele, mas aparentemente não sentia atração por seu corpo. Foi como um tapa na cara.

Se ela tivesse tido a inteligência de observar a reação de Rudeus mais de perto, teria percebido que ele também estava em choque – que não tinha a intenção de que isso acontecesse, e estava tão ansioso quanto ela. Infelizmente, foi a primeira vez de Sara e ela não teve compostura o suficiente para isso. Tudo o que pôde fazer foi cuspir algumas palavras para salvar seu orgulho e sair de lá. Ela soluçou enquanto fugia de volta para sua pousada e continuou a chorar enquanto explicava a situação para Suzanne. Passou a noite inteira chorando, mas, no dia seguinte, de alguma forma resolveu mostrar uma cara superficialmente alegre.

Mas no dia seguinte Rudeus não apareceu no ponto de encontro. Em sua pousada, o proprietário disse que ele havia saído na noite anterior e não havia retornado. Perguntando por aí, descobriram que Soldat o arrastou para algum lugar.

Rudeus – e todo o Contra-Flecha na verdade – não se dava bem com Soldat. Será que eles dois tinham se enfiado em alguma coisa e Soldat o arrastou para enforcá-lo? Enquanto Sara se preocupava com as possibilidades, ela e Suzanne seguiram os passos de Rudeus. Foi quando o viram – na entrada do distrito da luz vermelha, beijando uma acompanhante ruiva.

Inacreditável. Depois que Sara não foi capaz de satisfazê-lo, ele foi e fez sexo com uma prostituta. Soldat estava por perto, e os dois estavam claramente feridos.

Então ela ouviu o que ele disse.

Baseada em tudo que viu e ouviu, Sara chegou a esta conclusão: Rudeus tinha passado a noite com Soldat, dormindo com mulheres e tomando o mesmo álcool que se recusou a beber com ela e os outros membros do Contra-Flecha. Ele riu enquanto contava como o corpo dela era totalmente indesejável e sem atrativos. Seu choque e devastação fugiram de controle, impedindo-a de juntar as pistas reveladoras que sugeriam o contrário. Seu afeto por ele instantaneamente se transformou em ódio.

Se Sara fosse um pouco mais velha, poderia ser capaz de pensar sobre isso com calma. Infelizmente, era apenas uma garota de dezesseis anos. Adolescentes de sua idade tinham certeza de que tudo o que viam e sentiam era verdade. Além disso, viveu toda a sua vida como uma aventureira e não tinha ideia de como conter a onda de emoção que a assaltou. Ela certamente não percebeu que tinha o mau hábito de mentir para si mesma e ignorar a verdade.

— Ei, Sara.

Nesse aspecto Suzanne era um pouco mais madura. Ela também tinha visto Rudeus e Soldat, mas sua impressão do encontro foi um pouco diferente. Agora que suas emoções haviam esfriado, percebeu que havia algo estranho no que Rudeus havia dito. O garoto que ela viu naquela noite não era o Rudeus que conhecia. Alguma coisa tinha acontecido. Suzanne já havia passado por esse tipo de situação antes, e sabia o perigo de aceitar o que via pelo valor de face.

Por outro lado, era possível que Rudeus realmente tivesse sido desonesto com eles. Razão pela qual ela optou por primeiro confortar Sara, ao invés de agir como uma mediadora.

— Não acha que podemos ter entendido mal a situação? — perguntou Suzanne.

— Que parte entendemos mal?! — latiu Sara de volta para ela. — Depois de eu… depois de nós… E então ele teve a audácia de aparecer com alguma prostituta e começar a me menosprezar…

— Pense nisso — insistiu Suzanne. — Será que Rudeus realmente é um cara tão desprezível?

— Não, duh, ele só escondeu de nós esse tempo todo! Eu fui enganada… todos nós fomos! Quem sabe, talvez ele estivesse até mesmo aliado ao Líder Escalonado nas Ruínas Galgau!

 

 

— Ah, cara… — Suzanne encolheu os ombros, impotente. Ela não era muito versada em romances, então não tinha nenhum bom conselho a oferecer. Enquanto procurava as palavras, Sara continuou transbordando de ressentimentos ilimitados.

Timothy interrompeu:

— O que há de errado? Não é hora de também me contarem o que aconteceu?

— Sara, posso dar a ele as informações não específicas?

Sara não se importava que Timothy fosse o líder do grupo – ela não tinha interesse em compartilhar os detalhes de sua situação. Mas sabendo como isso poderia afetar o humor do grupo, acenou debilmente para Suzanne.

— Certo, então o que aconteceu foi… — Suzanne falou em um sussurro, transmitindo os eventos para Timothy. Ela fez o possível para manter as coisas vagas e permanecer o mais objetiva possível.

Depois de alguns momentos, Timothy de repente ergueu os olhos.

— Soldat, hein? Então talvez você deva pedir à acompanhante os detalhes exatos do que aconteceu.

— Mas o Soldat nos odeia — protestou Suzanne.

— O único que ele odeia sou eu. E Rudeus, mas você os viu juntos. Será que ele estava tentando ajudar? O homem tem uma atitude ruim e fala mal, mas ouvi rumores de que é bom em cuidar de pessoas. Se realmente fosse tão podre assim, não seria o líder de um grupo veterano de rank S como o Líder Escalonado. Além disso, se Soldat realmente quisesse atingir Sara, não faria isso de maneira tão indireta. Ele teria um homem esperando por ela em seu quarto, ou…

— Timothy, entendemos — interrompeu Suzanne. — Basta.

Sara ergueu a cabeça. Ela teve que admitir que Timothy tinha razão. Estava muito presa na autopiedade para realmente observar o que a rodeava naquela noite, mas parecia que Rudeus também estava deprimido. Talvez a maneira como as coisas aconteceram tenha estado além do seu controle.

— Deixe-me perguntar a ele quando chegarmos em casa — disse Suzanne.

— Não, eu mesma vou perguntar — resolveu Sara. E se eu tiver tirado conclusões precipitadas, então vou me desculpar.

No entanto, quando Sara voltou para a cidade, Rudeus não estava em lugar nenhum. Ele não estava na Guilda dos Aventureiros nem na estalagem.

— Atoleiro? Não sei, não o vi hoje.

— Hmm.

Incapaz de encontrá-lo em qualquer outro lugar, Sara aventurou-se no distrito do prazer. Os negócios já estavam começando a abrir conforme a noite se aproximava, mas os clientes ainda não tinham começado a chegar, então os números nas ruas ainda eram escassos. Sara começou a perguntar sobre a localização de Rudeus. Talvez ela suspeitasse, no fundo de sua mente, que ele poderia voltar ao local durante a noite.

Ela passou por vários bordéis, que ainda estavam se preparando para abrir, antes de avistar uma certa mulher.

— V-você é… — Sara engasgou.

— Hm? Ohh.

Era Elise. Sara não sabia o nome da mulher, apenas que era uma prostituta e que a viu beijando Rudeus na bochecha naquela manhã.

— Ei, por acaso você sabe onde Rudeus está?

— Não, receio que não. Talvez na Guilda dos Aventureiros? — Elise franziu o cenho para a visitante repentina, sem reconhecê-la.

— Ele não estava lá. Ele veio te ver na noite passada, não foi? Sabe de algo?

— Ah, você deve ser a Sara. — Isso foi o suficiente para Elise adivinhar a identidade da garota diante dela. Ela olhou implacavelmente para Sara, lembrando por que Rudeus – que ajudou uma garota que ela considerava como uma irmã mais nova – tinha aparecido. E a expressão em seu rosto e as emoções contra as quais ele lutou ao voltar para casa. — O que você planeja fazer quando o encontrar? Encurralá-lo em um canto de novo?

— Encurralá-lo em um canto? — respondeu Sara, surpresa. — Eu só queria perguntar a ele sobre ontem.

— Muito bem. Então eu responderei para você. — Elise começou a contar a história de Rudeus, com toda a intenção de colocar a culpa em Sara. As acompanhantes eram geralmente proibidas de revelar detalhes sobre seus clientes, mas ela sentia que precisava compartilhar isso.

— Impotência? — Depois de ouvir a coisa toda, Sara inclinou a cabeça. Ela nunca tinha ouvido falar desse tipo de coisa antes.

— É uma doença que faz os homens não conseguirem ficar de pé. Ele já está muito triste e chateado com a situação. O que mais você planeja dizer a ele?

— Não, eu…

Elise a ignorou e continuou:

— Se você não percebeu como ele estava magoado, então não está pronta para ser parceira dele. Não acha que deveria dar algum espaço para ele?

— Sim… imagino que sim.

Sara não tinha nada a dizer em sua defesa, então se despediu. Uma vez fora do distrito do prazer, cambaleou pela estrada de volta para sua pousada, onde Suzanne esperava por ela.

— Ah, bem-vinda de volta, Sara. Acabei de ouvir que Rudeus aparentemente deixou a cidade nessa manhã. O que deseja fazer? Devemos ir atrás dele?

— Não…

Sara apenas continuou em seu quarto com uma expressão carrancuda no rosto. Ela se jogou na cama e refletiu sobre o que havia acontecido. Agora não estava apenas oprimida por sua própria dor, mas por saber que Rudeus também havia sido ferido. Continuou a digerir esse fato até tarde, finalmente resmungando:

— Eu queria ter ao menos me desculpado.

Mas ela estava com muito medo de persegui-lo. Temia que ele pudesse não ouvir, temia que ele a afastasse. Além disso, ela percebeu que sua saída da cidade sem dizer nada a eles também era um sinal de rejeição.

Um soluço escapou de sua garganta. No final, Sara se enrolou em sua cama como uma tartaruga e não se mexeu. Quando o dia amanheceu e finalmente saiu da cama, tinha plena consciência de duas coisas: que estava com olheiras e que Rudeus a rejeitara. Sabia que seu amor havia acabado e, enquanto observava o nascer do sol, pensou consigo mesma: Mas se acontecer de nos encontrarmos novamente, gostaria de me desculpar. E ser sincera quanto a isso.

 

 


 

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