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Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 05 – Cap. 06.5 – Interlúdio – Eris, a Matadora de Goblins

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Peço desculpas pela digressão abrupta, mas vamos falar sobre um jovem chamado Cliff Grimor.

Cliff, atualmente, tinha doze anos – estava bem entre a idade de Eris e Rudeus. Quando era criança, viveu em um orfanato em Millishion. O lugar era operado pela Igreja Millis e servia como um símbolo de seu poder e prestígio. Naturalmente, não faltava financiamento ou apoio; as crianças eram muito bem tratadas e tudo mais, e muitas delas eventualmente acabavam sendo adotadas.

Após vários anos naquela instituição de luxo, Cliff foi adotado, quando tinha cinco anos, por seu atual pai adotivo. Harry Grimor, um homem idoso e de alta posição na Igreja Millis.

Depois que Cliff se juntou à casa de Harry, passou por um rigoroso programa educacional projetado para cultivar seus talentos naturais. Em apenas alguns anos, alcançou o nível Avançado em magia de Cura, Desintoxicação e no Ataque Divino. Ele também aprendeu a lançar feitiços de nível Intermediário em todas as disciplinas de magia ofensiva, e até mesmo feitiços de Fogo de nível Avançado.

Cliff era, em outras palavras, um prodígio.

Todos ao redor do garoto o elogiavam; todos diziam que, um dia, ele deixaria sua marca no mundo.

Analisando assim, seus anos iniciais foram bem parecidos aos de Rudeus. Mas, ao contrário de Rudeus, que tinha as memórias de sua vida anterior e sabia que era melhor demonstrar humildade, Cliff se tornou arrogante. Para ser sincero, o garoto vivia cheio de si. Muito mesmo.

De certa forma, seria difícil culpá-lo. Mesmo entre seus instrutores, não havia ninguém proficiente em uma variedade de magias tão grande quanto ele. Alguns podiam até lançar feitiços de Cura de nível Santo, verdade; outros também tinham dominado os feitiços de Desintoxicação de nível Santo. Entretanto, apenas Cliff tinha alcançado o nível Avançado em quatro disciplinas distintas. A amplitude de suas habilidades era tal que alguns diziam que ele estava trilhando o caminho de um sábio. O ego do garoto aumentava a cada dia. Aos poucos, ele parou de dar ouvidos a seus tutores.

Algum dia, no futuro, seria esperado que Cliff sucedesse seu pai adotivo e assumisse um cargo na Igreja Millis. E ele estava ciente disso, claro. Mas, no momento, só queria ser um aventureiro.

Mas, por que um aventureiro?

A causa para isso era derivada de seu passado no orfanato. Muitos dos que cresceram naquele lugar tornaram-se aventureiros. As crianças que não eram adotadas até o décimo aniversário seriam enviadas para uma escola administrada pela Igreja Millis, onde passariam por cinco anos de treinamento nas artes práticas de combate, esgrima e magia. Após a formatura, aceitariam empregos adequados aos seus talentos específicos. Aqueles que produzissem resultados acadêmicos excelentes, além de serem bons em esgrima e magia, às vezes se tornavam cavaleiros, mas a maioria desses graduados acabava como aventureiros.

Aqueles rapazes e moças frequentemente faziam uma pausa para visitar seu antigo lar. Sempre se deleitavam quando tinham a chance de falar com seus velhos professores – e de contar histórias emocionantes sobre suas aventuras para todas as crianças que viam. Muitos dos órfãos, cativados por essas histórias, sonhavam em seguir seus passos, e Cliff não era exceção.

Claro, ele não acreditava que seu sonho se tornaria realidade. Apesar do que seu coração queria, o garoto entendia suas circunstâncias com clareza. Uma criança adotada de um orfanato não teria o direito de escolher seu próprio destino.

Ele pôde aceitar isso… ao menos no começo. Mas a rotina monótona de sua vida diária o desgastou, e os elogios constantes que recebia o deixaram cheio de si. E então, um dia, teve a ideia de fugir de sua casa para se registrar como um aventureiro.

Na verdade, o garoto só queria colocar suas habilidades à prova. Alguns de seus instrutores eram inclusive aventureiros renomados. Ele, de certo, teria uma experiência semelhante àquelas que escutara quando era jovem… ou ao menos foi o que imaginou. Com o cajado que ganhou de seu pai adotivo em seu décimo aniversário em mãos, Cliff se dirigiu do Distrito Divino ao Distrito dos Aventureiros, onde comprou um robe azul de mago para usar.

Agora que estava trajado para a função, se dirigiu até a Guilda. Preocupado com a possibilidade de ser rastreado pela igreja, rapidamente se registrou como um curandeiro, e então decidiu listar sua profissão como “mago”. Ele pensou que, por algum motivo, isso poderia fazer diferença.

O registro de Cliff foi, em pouco tempo, concluído. Agora era oficialmente um aventureiro. Um novo mundo de perigo, excitação e glória se abriu diante dele.

Com o coração acelerado graças à alegria, Cliff olhou para os lados. Quase todas as pessoas que viu eram homens musculosos. Estava claro que a profissão da maioria era espadachim ou guerreiro.

Cliff já tinha ouvido os aventureiros que visitavam o orfanato comentando que lançadores de feitiços talentosos eram muito requisitados. Ele presumiu que só por ser mago, rapidamente encontraria lugar no grupo de alguém. O garoto não tinha prestado atenção à explicação da recepcionista sobre o sistema de ranks da Guilda, então pensou que poderia entrar em qualquer um, independentemente de seu rank.

— Não vai dar certo, garoto.

E então foi, inevitavelmente, rejeitado. Todos que ele abordou o rejeitaram sem pensar duas vezes. Quando isso aconteceu pela quarta vez consecutiva, a paciência do menino finalmente se esgotou.

— Por quê?! Por que não me deixam entrar em seus grupos?!

— Eu já falei. Nossos ranks são diferentes.

— E daí?! Sou tão poderoso quanto qualquer mago de rank A! Vocês deviam estar é gratos por eu estar disposto a trabalhar com gente como vocês!

— Mas que merda é essa? Já cansei dessas suas idiotices, moleque estúpido! Você quer mesmo cair na porrada comigo?!

— Idiotas, vocês só sabem brandir uma espada. Eu não ficaria tão convencido assim se estivesse no seu lugar!

— Seu merdinha…

O aventureiro corpulento na frente de Cliff deu um passo à frente e o agarrou pela gola de sua camisa. O garoto não tinha esperado que isso acontecesse, mas, se conseguisse derrubar o homem, conseguiria fazer uma verdadeira demonstração de sua força.

— Já chega. Você está sendo infantil.

Antes que ele tivesse qualquer chance, entretanto, uma garota ruiva mais ou menos com a sua idade acabou intervindo.

 

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Vamos retroceder um pouco mais no tempo.

Naquela mesma manhã, Eris Boreas Greyrat se separou de Rudeus e Ruijerd para fazer uma visita à Guilda dos Aventureiros de Millishion. Enquanto ela descia a rua principal que levava ao prédio, sempre correndo, o sorriso em seu rosto estava tão grande que qualquer pessoa que visse acabaria sorrindo junto. Eris estava usando sua roupa padrão de aventureira: uma camisa grossa, protetor de peito feito de couro, calças de couro e botas de sola fina, mas resistentes. Com sua arma pendurada ao quadril, mesmo à primeira vista ficava óbvio que se tratava de uma espadachim.

Entretanto, neste dia, não estava usando seu capuz de sempre. No último ano, tinha aprendido que usar aquela coisa na Guilda faria confundirem ela com uma maga… e isso tendia a encorajar sujeitos estranhos a se aproximarem.

E, em pouco tempo, a garota chegou ao seu destino. A Guilda dos Aventureiros de Millishion ficava no fim da rua principal. Era a sede de toda a organização e o maior edifício do Distrito dos Aventureiros.

Seu portão de entrada, todo imponente, não foi o suficiente para intimidar Eris. Ela foi direto lá para dentro. A entrada do prédio, entretanto, foi quase o suficiente para fazê-la parar e cruzar os braços. O lugar não era apenas maior do que qualquer um que tinha visto nas outras filiais da guilda, como também era maior que o salão de banquete da mansão de sua família, lá em Roa. Qualquer garoto ou garota que colocasse os pés nesse lugar para se registrar na Guilda provavelmente teria hesitado diante dessa visão impressionante.

Mas, claro, Eris não era uma recém-chegada tímida. Ela era uma aventureira de rank A – uma verdadeira veterana. Levou apenas um segundo para que fizesse um caminho rápido até o quadro de avisos.

Este quadro era muito maior do que qualquer outro que ela já tinha visto, mas mesmo assim estava cheio de folhas de papel. Cruzando os braços, a garota começou a olhar para todos.

Entretanto, em vez de seguir para as tarefas de rank B, que eram moleza para o Fim da Linha, estava estudando a seção de rank E do quadro, procurando tarefas classificadas como Missões Abertas. Eram missões especiais, postadas periodicamente pelo país em que a Guilda estava localizada. Suas recompensas eram menores, mas como eram de alta prioridade, qualquer aventureiro poderia aceitá-las, independentemente de seu rank.

Claro, não existia algo assim no Continente Demônio. Não existiam “países” lá.

Entre um punhado de Missões Abertas, os olhos de Eris se fixaram em uma em particular.

 

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Aberta

TAREFA: Exterminar Goblins

RECOMPENSA: 10 moedas de cobre Millis por orelha

DETALHES: Ajude a abater a população local de Goblins

LOCALIZAÇÃO: Leste de Millishion

DURAÇÃO: Nenhuma

Prazo: Nenhum

CLIENTE: Os Cavaleiros Sagrados de Millis

NOTAS: Novos aventureiros devem ser cautelosos com os Hobgoblins, que às vezes são encontrados entre grupos de Goblins. Não remova esta solicitação do quadro; simplesmente traga as orelhas coletadas diretamente para o balcão da frente.

 

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Os Goblins eram uma espécie de monstros que viviam principalmente nas fronteiras entre florestas e planícies abertas. Eles tinham forma humanóide e usavam armas grosseiras, mas não podiam compreender a fala humana. Em pequenos números, eram em sua maioria inofensivos, mas se deixados sozinhos por muito tempo, se reproduziam rapidamente e começavam a atacar quaisquer vilarejos próximos. Eram considerados um tipo de praga um tanto perigosa. No entanto, como residiam na periferia de áreas arborizadas, também agiam como uma espécie de amortecedor natural contra os monstros mais perigosos que surgiam dentro das florestas.

Eram criaturas fracas e podiam ser mortos sem muita dificuldade por qualquer um que soubesse usar uma espada. A Guilda dos Aventureiros se aproveitou desse fato, oferecendo tarefas regulares de extermínio de Goblins com recompensas generosas, servindo como uma espécie de introdução às missões de combate.

Além do mais, embora Eris não soubesse disso, as criaturas às vezes também eram usadas como ferramenta de tortura contra espiões estrangeiros que acabavam sendo capturados. Por todas essas razões, o País Sagrado de Millis não fazia nenhum esforço para exterminar os Goblins dentro de suas fronteiras, preferindo manter sua população em um nível estável.

Eris era uma aventureira de rank A cujas habilidades foram reconhecidas por Ruijerd Superdia, e era perfeitamente capaz de derrotar um guerreiro de rank C comum usando apenas seus punhos. Ninguém entenderia por que ela se importava com um trabalho tão básico em um momento destes.

Mas existiam duas razões.

Primeiro: isso era algo que ela sonhava fazer há muito tempo.

Durante o breve período de sua vida em que frequentou a escola, costumava escutar um grupo de meninos de sua classe. Eles sempre ficavam falando sobre o que fariam quando virassem aventureiros. O plano deles era começar caçando Goblins. Depois de economizar algum dinheiro e ficar mais fortes, finalmente seguiriam para as regiões ao sul do Continente Central, onde poderiam assumir tarefas de alto nível e mergulhar em labirintos.

Ouvindo sua conversa animada, Eris começou a se entregar a essas mesmas fantasias.

Um dia, caminhou até o pequeno grupo e exigiu que a deixassem entrar na conversa, o que de alguma forma levou a uma briga na qual a garota venceu brutalmente contra três garotos. Ela foi expulsa da escola, mas logo conheceu Ghislaine, cujas histórias apenas intensificaram seu desejo por uma vida cheia de aventuras.

Depois de conhecer Rudeus, constantemente sonhava em se tornar uma aventureira em um grupo com ele. Em sua imaginação, formariam um grupo de dois: Eris, a espadachim, e Rudeus, o mago. Juntos, desafiaram labirintos desconhecidos em busca de tesouros.

Quando ela realmente se encontrou presa no Continente Demônio com ele, no entanto, as coisas aconteceram de forma muito diferente de suas fantasias. Rudeus, em particular, agia muito cheio de profissionalismo em relação a tudo. Ele manteve o grupo longe de labirintos e de seus perigos desconhecidos. Se Eris tivesse proposto que fossem matar alguns Goblins, o garoto provavelmente teria levantado uma sobrancelha e dito: “Por que nos incomodaríamos em fazer isso?”

Bem, só ressaltando, ela não era mais uma novata. Já tinha lutado durante todo seu caminho cheio de perigos pelo Continente Demônio, então sabia que não havia nenhum motivo real para aceitar este trabalho em um momento desses. Mas, mesmo sendo inútil, matar Goblins sempre esteve no topo de sua lista de “Coisas que quero fazer quando me tornar uma aventureira”. Ela só queria passar pela experiência, nada além disso.

Essa era a sua primeira razão. A segunda… era segredo.

— Será que consigo voltar antes do sol se por…

Estudando a tarefa que encontrou no quadro, Eris tentou descobrir quanto tempo levaria para a viagem de ida e volta. Desta vez, viajaria à pé. Ainda estava cedo, mas seria melhor ter uma margem de erro confortável.

— Hm…?

Mas enquanto estava pensando nisso, percebeu uma nota postada na borda do quadro, além das tarefas de rank F.

Cidadãos deslocados da Região de Fittoa: Por favor, entrem em contato com o seguinte endereço:

Depois de ler a primeira linha, Eris desviou o olhar. Ela tinha visto essa mesma nota na Guilda dos Aventureiros de Porto Zant.

Rudeus nunca mencionou a Região de Fittoa. Eris presumiu que era só porque não queria a deixar ansiosa. A garota suspeitou que a razão pela qual ele havia criado mais “dias de folga” era para que pudesse tomar algumas providências necessárias quanto a isso.

Então tentou não pensar muito em coisas complicadas. A garota se convenceu de que não era inteligente o suficiente para entender o que estava acontecendo, e também tinha Rudeus para pensar pelos dois. Quando chegasse a hora, tinha certeza de que ele explicaria seu plano de uma maneira que qualquer um pudesse entender. Ela jamais sonhou que Rudeus nem estava ciente da existência desse aviso.

— Então tá bom!

Tendo feito o que foi fazer, Eris se afastou do quadro com bom humor e se dirigiu para a saída. Agora só faltava ir para o leste e matar alguns Goblins. Dado o quão entusiasmada estava no momento, provavelmente destruiria um ou dois ninhos inteiros antes de se cansar. Não havia nada nem ninguém que pudesse detê-la. Por favor, um minuto de silêncio por nossos amiguinhos verdes…

— Por quê?!

Não, espera, parece que nos adiantamos um pouco. Quando ela estava prestes a deixar o prédio, parou de andar graças ao som de um grito.

Virando-se naquela direção, viu um menino cercado por um grupo de homens com quase duas vezes seu tamanho.

— Por que não me deixam entrar em seus grupos?!

Levando em conta aquele robe azul, o garoto gritando parecia ser um mago. Ele era um pouco mais baixo do que Rudeus; seu cabelo castanho escuro era longo na frente, escondendo seus olhos de vista. O cajado que carregava não era tão impressionante quanto o Aqua Heartia de Rudeus, mas pelo tamanho de seu cristal mágico, qualquer um poderia dizer que era feito de materiais de qualidade. Sua família provavelmente era rica, mas não tão rica quanto a de Eris.

— Sou tão poderoso quanto qualquer mago de rank A! Vocês deviam estar é gratos por eu estar disposto a trabalhar com gente como vocês!

Sua atitude arrogante também não estava sendo muito bem recebida pelos homens que o cercavam. Isso não foi lá muito surpreendente. Caso aquele garoto estivesse gritando essas coisas para ela, Eris daria um soco em sua cara e não diria nada.

— Mas que merda é essa? Já cansei dessas suas idiotices, moleque estúpido! Você quer mesmo cair na porrada comigo?!

— Idiotas, vocês só sabem brandir uma espada. Eu não ficaria tão convencido assim se estivesse no seu lugar!

— Seu merdinha…

Um dos aventureiros agarrou o menino pela gola. O rosto do garoto permanecia calmo, mas Eris podia ver que suas pernas estavam tremendo um pouco.

Caminhando até o grupo, ela resolveu intervir.

— Já chega. Vocês estão sendo infantis. — Se Rudeus estivesse lá, provavelmente teria ficado de boca aberta neste momento. Este não era o tipo de coisa que se esperava escutar, dentre todas as pessoas, logo de Eris.

Sério, ela estava achando isso tudo muito emocionante. Como aventureira de rank A, estava acima de qualquer uma dessas pessoas. Ela era a veterana calma, intervindo para proteger o novato de um bando de valentões! Se alguém perguntasse, diria que isso era muito legal.

Claro, Ruijerd frequentemente tinha que intervir assim para impedi-la de socar algum idiota infeliz bem no meio da cara, mas esse fato inconveniente havia fugido de sua memória.

— Tch… É, acho que você tem razão. Não fui lá muito maduro.

Para sua surpresa, o homem recuou na mesma hora. Ela esperava que isso se transformasse em uma luta, então foi meio anticlimático.

— Vamos lá gente. Vamos embora. — Os homens foram embora, deixando o menino mago para trás. Eris esperou que ele agradecesse com um sorriso no rosto.

Em sua imaginação, seria algo assim:

Menino: Obrigado por me ajudar, senhorita. Quem é você?

Eris: Ah, ninguém especial.

Menino: Por favor! Pelo menos me diga seu nome!

Eris: Hmm. Tudo bem… então você pode me chamar de Ruijerd do Fim da Linha.

Às vezes Rudeus gostava de falar essas coisas. Ela queria sentir o mesmo gostinho.

— E quem foi que pediu a sua ajuda, hein?! — A expressão orgulhosa de Eris congelou no lugar quando o menino gritou com ela. — Eu podia lidar com aqueles valentões muito bem usando a minha magia! Não enfie o nariz onde não é chamada!

De certa forma, o garoto teve sorte. Afinal, foi nocauteado pelo primeiro soco dela, e aqueles homens de antes ainda estavam por perto. Se não tivessem corrido de volta para tirar Eris de cima dele, o garoto provavelmente teria acordado após perder uma parte bastante delicada de sua anatomia.

 

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Com um humor um tanto ruim, ela fez seu caminho para o portão da frente de Millishion. Eris geralmente deixava as coisas desagradáveis para trás quase na mesma hora, mas, desta vez, ainda estava se sentindo irritada. Havia uma razão para isso, é claro.

— Espera! Por favor, espera! — Foi porque o garoto da Guilda, tendo recuperado a consciência, saiu correndo atrás dela. — Sinto muito pelo que falei naquela hora. Foi só por causa do calor do momento…

Assim que ele a alcançou, imediatamente se desculpou e curvou a cabeça de forma educada. Por causa disso, o humor de Eris ficou apenas “um pouco” ruim. O menino havia escapado de um destino horrível – mas foi por pouco.

Claro, se ele tivesse permanecido consciente depois do primeiro soco para testemunhar sua raiva, não teria sido tolo o suficiente para a perseguir dessa forma.

— Meu nome é Cliff. Cliff Grimor!

— Meu nome é Eris… — Por um momento ela pensou em usar o nome Fim da Linha, mas decidiu não fazer isso. Não iria mencionar o nome de Ruijerd para alguém que a irritou.

— Eris! É um nome maravilhoso! Pela sua roupa, suponho que seja uma espadachim, sim? Gostaria de fazer um grupo comigo? — Cliff se plantou bem no meio da estrada para tagarelar. Eris ficou extremamente tentada a socá-lo na cara de novo, mas conseguiu se controlar.

— Não, obrigada. — Ela desdenhosamente virou a cara e voltou a andar.

Bem, a garota não estava muito acostumada a lidar com esse tipo de coisa. Rudeus era basicamente a única pessoa que voltou para mais depois de sua primeira surra.

— Ah. Tudo bem. Nesse caso, ao menos deixe-me te apoiar pela retaguarda! Todo mundo diz que sou um sábio em formação, sabe. Com certeza vou ajudar!

Se Rudeus estivesse lá para testemunhar essa tentativa de avanço desesperada, provavelmente teria feito um comentário do tipo: “Está mais para um coroinha em desenvolvimento, seu virjão idiota!” para si mesmo.

Eris, entretanto, não era tão bruta. Ela, por um momento, se perguntou quão “útil” o garoto poderia se tornar após ser picado e usado como adubo.

— Tenho certeza de que você nunca viu um feiticeiro tão incrível quanto eu antes, Eris — disse Cliff com um sorriso confiante. — Eu sou ainda melhor do que os magos de rank A normais, e isso é verdade!

Esta observação acabou a irritando. Para ela, o mago mais incrível do mundo era, claramente, Rudeus Greyrat. Até Ruijerd reconhecia suas habilidades. Embora ele fosse um aventureiro de rank A, não havia nada de “normal” nele.

— Você devia ao menos querer ver o que eu faço por si mesma!

Tudo bem então, Eris se pegou pensando. Vamos ver se você é tudo isso.

— Tá bom, certo. Siga-me.

— É claro!

E então, Eris e o jovem mago Cliff começaram a matar alguns monstros.

 

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Em um instante, uma grande onda de chamas consumiu sete Goblins de uma vez.

— O que achou disso? Bem incrível, não é? — disse Cliff, examinando os cadáveres dos monstros com uma expressão de imensa satisfação no rosto. — Os magos comuns que você conhece jamais seriam capazes de fazer isso!

Eris também olhou para os restos mortais. Todas as criaturas foram reduzidas a cinzas, o que significa que não havia mais orelhas para coletar.

— Você acha? Não posso dizer que estou impressionada. — Essa era sua mais sincera opinião. Na verdade, ela não poderia estar menos impressionada. Cliff usou um feitiço de Fogo de nível Avançado chamado “Chamas do Êxodo”. Ela já tinha visto Rudeus lançando a mesma coisa. Mas, ao contrário de Cliff, ele não pronunciava um longo encantamento, e suas chamas também eram mais poderosas. Claro, para começo de conversa, Rudeus não usaria um feitiço desses contra um bando de Goblins. Ele teria matado todos de uma vez sem tocar nas orelhas.

Além do mais, Eris manteve os monstros ocupados até Cliff terminar seu encantamento, dando-lhe a chance de mostrar o que poderia fazer; mas como o garoto não a avisou quando terminou, ela quase foi pega no alcance de seu feitiço. Rudeus nunca teria cometido um erro desses.

— Ah, parece que você não sabe muito sobre magia, Eris. Olha só, existem vários tipos diferentes de feitiços, e…

Cliff começou a dar uma longa palestra sobre os vários níveis de feitiços, explicando que a magia que acabara de usar era um feitiço de nível Avançado, tão complexo que até mesmo a maioria dos adultos era incapaz de lançar.

Mas, claro, Eris já sabia tudo isso. Ela aprendeu essas coisas durante suas aulas com Rudeus. E, em comparação com as explicações desconexas de Cliff, as aulas de Rudeus tinham sido dez vezes mais fáceis de entender.

— E aí? Agora entende o quão incrível eu sou?

Eris queria muito dar um soco na cara desse idiota. Ele realmente estava acabando com seu tão esperado dia de matadora de Goblins. Com os braços ainda cruzados, ela friamente deu seu veredito.

— Certo, já vi o bastante. Você não vai ser de muita ajuda, então já pode ir embora.

Se Rudeus estivesse no lugar de Cliff neste momento, provavelmente teria escolhido bater em retirada tática. Mas esse garoto não percebeu a hostilidade nos olhos de Eris.

— Isso é sério?! Não posso te deixar aqui sozinha! Você estava sofrendo pra matar um punhado de Goblins!

Assim que essas palavras, soaram, Eris o acertou. Com força.

Cliff cambaleou para trás e levou a mão ao rosto. Havia sangue escorrendo de seu nariz. Ele rapidamente lançou um feitiço básico de Cura em si mesmo para parar o fluxo.

— Ei, mas o que foi isso?!

Eris, irritada, estalou a língua. Ela foi um pouco mole com ele desta vez, já que deixá-lo inconsciente em um campo aberto não parecia uma opção muito boa. Mas, pelo visto, o garoto precisava de uma punição maior para aprender.

Assim que ela cerrou o punho para um ataque consecutivo, porém, Cliff finalmente pareceu entender a situação.

— Espera, não! Entendi! Eris, você com certeza é muito forte. Então que tal darmos uma passada pela floresta? Eu realmente não posso demonstrar meu real valor como mago lutando só contra um bando de Goblins.

Não havia quaisquer segundas intenções por trás dessa proposta. Cliff só queria se exibir na frente de Eris. Não era que ele tivesse uma queda por ela ou quisesse impressioná-la; só estava ansioso para se deleitar com seu próprio poder.

— Florestas são perigosas — disse Eris secamente. Isso era algo que Rudeus sempre dizia, e Ruijerd concordava com ele. E ela confiava plenamente no julgamento daqueles dois.

— Você não está com medo, está?

— Claro que não!

Mas, claro, Eris era uma garota simples. Quando alguém desafiava seu orgulho, ela mordia a isca de uma só vez. Afinal, ninguém da família Boreas que se prezasse deixaria algum aventureiro novato falar esse tipo de bobagem.

— A floresta, certo? Tá bom! Vamos!

E então, os dois fizeram um desvio para uma floresta sombria e escura que ficava nas proximidades.

— Acho que nem a floresta de Millis é tão ruim assim, hein?

Eris fatiou uma criatura parecida com um macaco, chamada Gotango, enquanto falava. Este era um monstro de rank D, consideravelmente mais perigoso do que um Goblin, mas não representava uma ameaça real para ela.

— Acho que não. Essas coisas não são páreo para mim!

Cliff, por sua vez, estava matando Gotangos com feitiços de Vento de nível Intermediário enquanto entrava cada vez mais para dentro da floresta.

— Ah… — De repente, Eris parou no meio do caminho.

— Eris, qual o problema? — disse Cliff, voltando-se e se aproximando dela com um grande sorriso no rosto.

Com uma careta, a garota cruzou os braços, plantou os pés no chão e ergueu o queixo para o ar.

— Me conta uma coisa. Você está marcando a nossa rota de retorno?

— Não, na verdade não. — Cliff nem pensou em dar atenção a isso. Toda sua viagem estava sendo impulsiva, levada pelo momento, então ele não tinha feito nenhum planejamento ou preparado qualquer coisa de antemão.

— Entendi. Então estamos perdidos — disse Eris, cheia de categoria.

Cliff ficou em silêncio. Depois de um momento, seu rosto ficou muito pálido.

— Uh… o que devíamos fazer?

Como Eris parecia imperturbável, Cliff presumiu que ela devia ter algum tipo de plano. Mas não era o caso.

Isso não era nada bom. O que Rudeus e Ruijerd diriam se descobrissem que ela se perdeu na floresta? Como poderia explicar como acabou ali, quando deveria estar caçando Goblins?

Claro, Eris não deixou sua ansiedade transparecer. Como uma mulher da família Greyrat, esperava-se que permanecesse calma e composta o tempo todo.

— Cliff, atire-se para o céu e veja para que direção fica a cidade.

— Você está brincando? Isso é um absurdo.

— Rudeus consegue fazer isso sem qualquer problema.

— Rudeus? Quem diabos é Rudeus?

— Ele é meu tutor.

— O quê?!

Eris soltou um breve suspiro. Não fazia sentido entrar em uma discussão. O que deveria estar fazendo em uma situação como essa? Ghislaine não ensinou o que deveria fazer ao se perder?

Claro. Deveria juntar um monte de galhos e acender uma fogueira, certo? Seria possível ver a fumaça mesmo de longe. Mas quem veria o sinal? Ruijerd e Rudeus tinham que cuidar de outras coisas. Eles não sairiam à sua procura.

Eris cruzou os braços e começou a fechar a cara. Fechou os olhos e tentou pensar cuidadosamente. Ghislaine sempre disse que era fundamental manter a calma, ainda mais quando se sentia ansiosa, por isso a garota nunca se permitiu a entrar em pânico.

— E-Eris, o-o que devemos fazer?

— Provavelmente existem alguns outros aventureiros nesta floresta, certo?

— Ah, é claro! Podemos apenas gritar por socorro… Vamos tentar encontrar alguém!

Cliff não perdeu tempo e começou a correr, mas Eris não se moveu. Ruijerd sempre falava que nesse tipo de situação seria melhor não se mover. Ele ensinou a garota a ficar quieta e conscientemente aguçar seus sentidos. Ela não tinha aquele terceiro olho conveniente dele, mas tinha suas orelhas e seu nariz. E podia até sentir o fluxo de energia mágica na área. A garota ainda era inexperiente em muitas coisas, mas treinava duro todos os dias.

— Uh, Eris…?

— Fica quieto!

Com os olhos ainda fechados, ela respirou fundo e esvaziou a mente. Ouviu os sons da floresta. Podia escutar o farfalhar de galhos, monstros em movimento, o zumbido de insetos voando… e em algum lugar meio longe, breves sons de um combate.

— Tudo certo. Siga-me. — Sem um momento de hesitação, ela voltou a andar.

— O que está acontecendo?! — disse Cliff, correndo atrás dela. — Você achou algo?!

— Bem, tem mais gente aqui. Estão nessa direção.

— E como você sabe disso?!

— Fiquei apurando meus sentidos por algum tempo.

— Seu professor te ensinou a fazer até isso?!

Eris teve que pensar nisso por um segundo. Ruijerd era seu professor? Provavelmente sim. Ele a ensinou muitas coisas, se não tantas quanto Ghislaine. Ela provavelmente poderia até mesmo chamá-lo de seu mestre atual.

— Aham, isso mesmo.

— Este Rudeus deve ser realmente alguma coisa…

— Hm…? Aham, Rudeus é incrível.

Um pouco confusa sobre por que o assunto mudou tão de repente, Eris seguiu em frente.

Assim que os dois chegaram à orla da floresta, avistaram uma carruagem tombada no meio dos sulcos que suas rodas haviam feito.

— Abaixe-se!

— Ack!

Eris agarrou Cliff pela cabeça e empurrou-o para o chão, então se abaixou ao lado dele para observar a situação.

Ainda tinham outras seis pessoas de pé. Uma delas era uma cavaleira totalmente armada e usando elmo, de pé com as costas contra uma árvore e a espada desembainhada. Os outros cinco eram homens vestidos todos de preto, posicionados em um semicírculo em torno da guerreira solitária.

Três cadáveres jaziam na grama. Todos usavam a mesma armadura que a cavaleira que estava sendo cercada. Lenta, mas continuamente, os homens de preto estavam se aproximando de sua presa.

A batalha já estava decidida. Mas, por alguma razão, a cavaleira não fez nenhum movimento para fugir. Olhando mais de perto, Eris percebeu que havia uma jovem se encolhendo na base da árvore atrás da guerreira de armadura – uma garota cujo rosto estava transparecendo terror e brilhando com lágrimas.

— Aquela armadura… Eris, ela é uma Cavaleira do Templo! — sussurrou Cliff

O coração de Eris acelerou. Ela sabia sobre os Cavaleiros do Templo. Eram uma das três ordens militares sagradas de Millis. Os Cavaleiros da Catedral de elite eram encarregados de questões de defesa nacional. Os Cavaleiros Missionários eram despachados para o exterior como uma espécie de mercenários, para que pudessem espalhar os ensinamentos da Igreja Millis e demonstrar seu poder. E os temidos Cavaleiros do Templo, com seus infames Inquisidores, eram encarregados de erradicar a heresia.

Os Cavaleiros da Catedral usavam branco, os Cavaleiros Missionários, prata, e os Cavaleiros do Templo, cerúleo. Mesmo de longe, a armadura da cavaleira emboscado era visivelmente de um tom azul. Então não sobrava qualquer dúvida. Um grupo de Cavaleiros do Templo tinha sido emboscado.

— Seus tolos! Vocês não sabem quem é esta lady?! — Foi só quando a cavaleira encurralada gritou essas palavras que Cliff e Eris perceberam que ela era uma mulher.

Os homens vestidos de preto se entreolharam e bufaram de tanto rir.

— É claro que sabemos.

— Então por que iriam querer machucá-la?!

— Não deveria ser óbvio?

— Então vocês são lacaios do Papa?! Brutos malditos!

Eris não conseguiu entender a conversa. Mas uma coisa estava muito clara: aqueles homens ameaçadores vestidos de preto iam matar aquela garotinha aterrorizada. Ela alcançou a espada em seu quadril.

— O que você acha que está fazendo? — sibilou Cliff. — Não podemos nos envolver nisso! Aquela garota é a Criança Abençoada que supostamente será a próxima Papa, sabia? Isso significa que aqueles homens de preto são os assassinos pessoais do atual Papa! Eles são bem treinados e implacáveis. Mesmo eu não teria chance contra eles!

Eris nem mesmo parou para se perguntar por que Cliff sabia tanto sobre tudo isso. Só havia uma coisa em sua mente: a menos que interviesse, aquela garota iria morrer diante de seus olhos.

Ela, afinal de contas, era parte do Fim da Linha. Caso se escondesse e observasse uma criança sendo assassinada, nunca seria capaz de voltar a olhar Ruijerd nos olhos. E, mais de uma vez, viu Rudeus se colocar em perigo por razões muito semelhantes.

— Vamos lá. Vamos ficar quietos e esperar que não nos percebam…

— Desculpe, mas isso é inútil. Já sabem que estamos aqui. — Um dos homens vestidos de preto percebeu sua presença no momento em que ela empurrou Cliff para o chão. Eris não tinha esquecido da breve reação que tinha sido demonstrada.

Ela não sabia exatamente o que fariam uma vez que sua missão fosse cumprida, mas isso não importava. A garota pretendia tomar a iniciativa ali, naquele mesmo momento.

— Apenas se esconda aqui, Cliff!

— Eris! Não!

Sacando sua espada, a garota saltou na frente dos assassinos.

Os homens vestidos de preto imediatamente se espalharam, mas…

— Lentos demais!

Ela se moveu muito mais rápido do que eles haviam esperado. Seu ataque principal foi a técnica de nível Avançado do Estilo Deus da Espada: “Espada Silenciosa” – um movimento de menos complexidade do que a “Espada de Luz”, mas tão mortal quanto. Sua espada cortou o ar sem sequer fazer som.

Ao decorrer de seu treinamento com Ghislaine e Ruijerd, suas habilidades de esgrima foram aperfeiçoadas a um grau notável. Sua lâmina acertou um dos homens pelo ombro, cortou sua caixa torácica na diagonal e o dividiu em dois.

Embora esta fosse a primeira vez que Eris matava alguém, não vacilou nem por um instante. Seu foco já havia mudado para seu próximo alvo. Os homens vestidos de preto estavam se movendo rapidamente para cercá-la, mas Eris continuava um passo mais rápido do que qualquer um deles. Ruijerd havia a ensinado a maneira correta de se mover quando cercada por vários inimigos. Muitos monstros caçavam em bandos; o objetivo normalmente seria eliminá-los o quanto antes, sem dar uma chance para que criassem um cerco.

— Haaah! — Em um piscar de olhos, Eris matou outro dos assassinos.

Os três homens restantes estavam visivelmente nervosos. Os movimentos dessa garota eram erráticos e seus ataques surgiam de ângulos inesperados, sem qualquer aviso prévio. Era quase impossível evitá-los enquanto tentavam fazer qualquer outra coisa.

Mesmo assim, ainda eram assassinos profissionais. No momento em que Eris matou seus camaradas, a cercaram com sucesso. Dois dos assassinos pularam em direção dela quase ao mesmo tempo, escalonando seus ataques.

Eles eram rápidos, mas não tão rápidos quanto Ruijerd. E não eram tão bem coordenados quanto os Coiotes Pax do Continente Demônio.

Esses homens não eram bons o suficiente.

— Suas adagas estão envenenadas! Tome cuidado! — Gritando palavras de advertência, a cavaleira que estava defendendo a menina correu para acertar um dos assassinos pelas costas.

Eris antecipou com precisão como os homens vestidos de preto reagiriam a isso, e encontrou sua chance de se libertar de seu cerco. No mesmo instante em que percebeu que iria vencer a luta, sua espada cortou um terceiro assassino.

— Maldição! Retirada!

Os dois homens restantes giraram bruscamente e começaram a correr. Mas Eris jamais deixaria um trabalho pela metade. Em um piscar de olhos, alcançou um e ferozmente o cortou pelas costas, estripando-o. Suas entranhas se espalharam pelo chão enquanto ele caía.

 

 

 

O último assassino não olhou para trás. No momento em que Eris se virou para ele, o sujeito já tinha fugido para muito longe.

Com um pequeno bufo de desdém, ela agitou vigorosamente a espada para espirrar o sangue e entranhas para longe. Pelo que parecia, a garota estava tão calma como sempre. Mas seu coração ainda estava disparado. Eris tinha acabado de experimentar sua primeira batalha de vida ou morte contra outros seres humanos. E, pela primeira vez, matou alguém.

Além do mais, seus oponentes empunhavam adagas envenenadas – até mesmo um único arranhão poderia ser fatal. E Rudeus e Ruijerd também não estavam por perto para protegê-la. Ela entrou na briga sem pensar muito, mas se não fosse por aquela mulher cavaleira, poderia ter morrido.

Naturalmente, manteve esses pensamentos apenas para si mesma. Embainhando sua espada, ela se virou para enfrentar a Cavaleira do Templo.

— Desculpa. Um deles acabou escapando.

Essas palavras deixaram a cavaleira um tanto perplexa. A garota que estava diante dela não era nem mesmo uma adulta, mas abriu caminho através de um grupo de assassinos. E, para completar, parecia completamente imperturbável.

Sem nem mesmo tirar o elmo, a mulher pressionou o punho contra o estômago e se curvou ao estilo dos Cavaleiros Sagrados de Millis.

— Meus sinceros agradecimentos por sua ajuda.

Eris se lembrou de como Ruijerd respondia palavras como essas e decidiu seguir seu exemplo. Sem fazer nenhuma reverência, disse:

— Estou feliz que a criança esteja ilesa. — E nada mais.

— Sou Therese Latria dos Cavaleiros do Templo. Senhorita, é certo presumir que seja uma aventureira? Posso perguntar seu nome?

— Eu me chamo Er… — Eris começou a dar seu nome verdadeiro, mas então parou bruscamente. Não, isso não estava certo. O que Rudeus sempre fazia nessas situações? — Sou o Ruijerd do Fim da Linha. Queira ou não acreditar, eu sou, na verdade, uma Superd.

Sob o elmo, o rosto de Therese ficou tenso. Embora Eris não soubesse disso, os Cavaleiros do Templo, como um todo, defendiam a expulsão de todos os demônios do Continente Millis.

Claro, a garota não tinha todas as características distintas de um verdadeiro Superd. Therese levou apenas um momento para voltar a relaxar. A menina tinha dado um nome claramente falso e assumiu a identidade de um demônio contra o qual os Cavaleiros do Tempo seriam hostis. Parecia ser uma mensagem de que não tinha interesse em criar qualquer tipo de envolvimento duradouro.

Em outras palavras, não esperava recompensa, apesar de ter salvo a vida de alguém importante. A Cavaleira achou isso agradavelmente surpreendente.

— Entendi. Tudo bem, então… — Por um momento, ela parou para estudar Eris enquanto a garota a observava com os braços cruzados. Depois de memorizar seu rosto, assobiou bem alto.

Em pouco tempo, um cavalo saiu correndo da floresta.

Era o animal que estava anteriormente puxando a carruagem. Ele fugiu quando a carruagem tombou, mas retornou ao chamado de Therese, exatamente como fora treinado para fazer. Depois de colocar a jovem no lombo do animal, a Cavaleira saltou atrás dela.

— Se você precisar de ajuda, procure por Therese dos Cavaleiros do Templo! — Com essas palavras finais, saiu a galope. Eris a observou partindo sem dizer uma palavra.

De volta às sombras, um certo jovem – ainda incapaz até de ficar de pé – também estava observando. E, aos olhos dele, a cavaleira em fuga e a destemida espadachim ruiva que a viu partir pareciam nada menos que personagens de um conto de fadas.

Algum tempo atrás, um prelado da Igreja Millis se apaixonou por uma mulher da raça Hobbit. A mulher deu-lhe um filho e, com o tempo, a criança cresceu e tomou uma esposa para si. Cliff foi o primeiro e único filho desse casal.

Na época de seu nascimento, várias facções dentro da igreja estavam envolvidas em uma violenta luta pelo poder. A violência custou a vida de seus pais. Para manter Cliff a uma distância segura do conflito, seu avô – o prelado – o deixou temporariamente com o orfanato em Millishion. Ele triunfou sobre seus inimigos, tomou o papado para si e o levou de volta para sua casa.

Em outras palavras, Cliff Grimor era o verdadeiro neto do atual Papa de Millis… embora poucos, mesmo dentro da Igreja, estivessem cientes desse fato.

Por causa disso, o garoto sabia perfeitamente bem por que aquela carruagem fora atacada. Aquela Criança Abençoada, que supostamente possuía poderes milagrosos, era a ferramenta mais poderosa no arsenal de um certo arcebispo. E a facção daquele arcebispo estava atualmente em conflito ativo com o avô de Cliff.

Ele, na verdade, já tinha até se encontrado com a garota antes. Não fazia ideia do que ela estava fazendo naquela floresta; mas já estava familiarizado com os assassinos vestidos de preto que a atacaram. Aqueles homens eram seus instrutores. Cliff já tinha descoberto, há algum tempo, que eles realizavam esse tipo de trabalho para seu avô. E também sabia o quão poderosos eram. Já tinham lutado muitas vezes, mas ele nunca chegou sequer perto da vitória. E, ainda assim, não tiveram uma chance contra Eris.

Na verdade, a luta fora bastante equilibrada. Mas, da maneira como Cliff via, essa garota havia superado totalmente um grupo de homens que ele nunca poderia ter vencido, mesmo em um milhão de anos. Enquanto faziam seu caminho de retorno, o garoto se viu olhando para o rosto cansado dela com profunda e genuína admiração.

Essa garota um dia seria alguém.

Com esse pensamento firmemente formado em sua mente, Cliff fez uma oferta impulsiva.

— Eris, aceita se casar comigo?!

— O quê?! Sem chances! — Foi um golpe sem misericórdia. E ainda por cima fazendo uma careta horrível.

Parecia bizarro para Cliff que qualquer garota recusasse uma proposta de alguém tão profundamente talentoso quanto ele, então começou a buscar uma explicação. O garoto pensou em todas as conversas que tiveram. Depois de um momento, se lembrou dela mencionando um certo “professor” por diversas vezes. Como é que ele se chamava? Ru… Ru…

— Rudeus.

Eris se virou ao som desse nome.

— Esse é o nome do seu professor, certo? Como ele é?

Em minutos, Cliff começaria a se xingar por ter feito essa pergunta. Ele teve a impressão de que Eris não era do tipo que falava muito, mas esse claramente não era o caso. Depois que a garota começava a falar sobre Rudeus, se enchia de orgulho enquanto tagarelava sem parar. Ela falou das planícies além de Millishion até a Guilda dos Aventureiros. Tudo o que falava eram elogios enormes, e a expressão em seu rosto deixava muito clara a intensidade de seus sentimentos. Foi mais do que suficiente para deixar Cliff com um ciúme profundo.

— Já vou voltar para casa — disse quando finalmente decidiu interromper, ciente de que sua expressão devia estar um tanto quanto abatida.

Eris parecia pronta para continuar falando por mais uma ou duas horas, mas apenas acenou com a mão, fazendo um gesto vago e desinteressado.

— Ah, tá bom. Tchau. — Era difícil acreditar que ela era a mesma garota que tinha falado tão apaixonadamente sobre seu tutor apenas alguns segundos antes.

Cliff silenciosamente a observou se afastar até que a garota desapareceu de vista. Quem era esse “Rudeus” que encantou tanto aquela jovem poderosa, linda e perfeita?

Com visões de um rival misterioso flutuando em sua mente, o jovem mago voltou para a sede da Igreja Millis, onde levou um sermão das pessoas que estavam procurando por ele.

Incidentalmente, a luta pelo poder dentro da Igreja logo se intensificou após o incidente com a Criança Abençoada. O Papa então decidiu que era muito perigoso para seu neto permanecer em Millishion, então Cliff foi enviado para viver em uma terra estrangeira. Mas, é claro, isso não tinha nada a ver com Eris.

Quanto à própria garota, ela basicamente se esqueceu de todo o encontro no momento em que voltou para a pousada e viu Rudeus sentado miseravelmente em sua cama. Mas isso também era uma outra história.

 


 

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