— É um incêndio! — gritei e pulei dos ombros de Geese.
— Mmm? Espere só um… Ei! — Geese saltou para a claraboia e deu uma espiada. — Você não estava brincando! O-o que devemos fazer, chefe?!
O que estava acontecendo? Ali estava eu planejando fugir no dia seguinte, e agora, se não agisse, acabaríamos assados feito dois bolos.
— Vamos dar o fora daqui, é claro! E usaremos o caos para fugir! — declarei.
— Mas como vamos sair?! Sabe, a porta está trancada!
— Não se preocupe — falei. — Isso não é um problema! — Deslizei na direção da porta e peguei a chave que escondi para destrancá-la.
— Uau! Quando você conseguiu roubar uma chave?
— Só é algo que preparei para o caso de uma coisa assim acontecer, arrumei isso quando comecei a planejar minha fuga!
Geese disse:
— Entendo, então você é o tipo de criminoso que espera até que todos fiquem distraídos por uma crise antes de atacar.
Que falta de educação. Não era como se eu tivesse roubado nada. Simplesmente fiz uma cópia da original, foi só isso. De qualquer forma, enfiei a chave na fechadura e a girei até ouvir um clique quando a porta se abriu. Era a hora do desafio de fuga da prisão!
— Certo, vamos lá!
— Isso aí! — Geese concordou.
A porta foi aberta e uma onda de ar quente nos deu um tapa na cara. As chamas dançaram violentamente enquanto as labaredas, brilhantes e ferozes, devoravam a floresta com uma fome voraz. As casas nas copas das árvores foram engolidas, ameaçando até desmoronar.
— Isso é muito ruim — murmurou Geese.
Bem ruim mesmo. Balancei a cabeça concordando.
As pessoas provavelmente eram proibidas de acender fogueiras nesta floresta, mas sem dúvida algum espertinho decidiu sentar na cama e fumar, assim causando tudo isso. Eu não sabia quem era que fez algo assim, mas graças a isso poderíamos escapar, então não iria reclamar.
— Certo, novato, para que lado fica Porto Zant?
— O quê? E como diabos eu saberia? — gritou para mim enquanto olhava ao redor.
— Então quer dizer que você não sabe? — gritei de volta. — Você disse que sabia o caminho, não disse?
— Não quando estamos totalmente cercados por fogo!
Hmm… bem, agora que ele mencionou, até que fazia sentido. Afinal, a frase “cortina de fumaça” não teria significado se alguém pudesse apenas ver através da fumaça preta e das chamas vermelhas.
Então, o que fazer? Apagar as chamas? Não, precisávamos da confusão causada por elas para escapar. Se as apagássemos, seríamos imediatamente encontrados. Além disso, podíamos ser confundidos com incendiários. E se simplesmente fugíssemos do alcance do fogo para que pudéssemos procurar um caminho de volta para a cidade? Espera… poderíamos ao menos escapar sem apagar o fogo?
— O que faremos?! Estamos ficando sem rotas de fuga!
Para começo de conversa, qual era o tamanho do incêndio? Mesmo se corrêssemos e corrêssemos, havia a possibilidade de não conseguirmos escapar da área incendiada.
— Ei, chefe! Olha! — Geese estava apontando para algo.
Estava apontando para uma criança. Uma criancinha com orelhas de gato. Ela estava esfregando os olhos e tossindo enquanto cambaleava em nossa direção, tinha inalado um pouco da fumaça. Perto dali, a folhagem de uma árvore explodiu em chamas que estalaram enquanto a coisa toda ameaçava desabar. A criança olhou para a árvore, mas tudo estava acontecendo tão de repente que ela só conseguiu olhar, estupefata.
— Cuidado! — gritei, instantaneamente liberando magia do vento para tirar a árvore fora do caminho.
A fumaça havia turvado sua visão, mas a criança nos viu e se aproximou.
— S-socorro…
A peguei em meus braços e usei magia de água para limpar seus olhos. Ela também tinha algumas queimaduras leves em seu corpo, então resolvi usar alguma magia de cura. Eu não tinha certeza do que deveria estar fazendo, mas imaginei que seria bom ajudar ao menos um pouco. O que estavam fazendo? Não conseguiam dar um jeito de fugir?
— Não me diga… os moradores ainda não foram todos evacuados?
— Isso é bem possível — disse Geese. — Os incêndios são muito raros quando a estação das chuvas se aproxima… uau!
Outra árvore desabou. Uma pequena casa que estava acima de nós também estava colapsando, espalhando pedaços de chamas que serviam como pólvora. Parecia que nenhum esforço estava sendo feito para apagar o fogo. Se eu continuasse perdendo tempo, também acabaria em perigo. Ainda assim, não poderia simplesmente deixar essa criança para trás e fugir.
— Certo… — Tomei minha decisão. — Novato, você sabe onde fica o centro do vilarejo?
— Sim, sei onde fica… mas o que você vai fazer?
— Vou fazer um favor a eles para que se sintam em dívida comigo!
Depois que falei isso, Geese sorriu, pegou a criança nos braços e começou a correr.
— Então tá, por aqui. Siga-me!
Me movi para o seguir… mas depois lembrei das minhas roupas. Ainda deviam estar trancadas naquela prisão. Logo usei minha magia da água para envolver o prédio em gelo antes de começar a seguir Geese.
As chamas ainda não tinham alcançado o coração do vilarejo. Ainda assim, eu não esperava ver o que vi. O povo-fera estava tentando fugir. Estavam em pânico, gritando e uivando enquanto corriam de um lado para outro. Essa parte já esperava, mas por alguma razão também havia humanos usando equipamento de batalha perseguindo o povo-fera. Mais longe, conseguia ver o que parecia serem guerreiros lutando contra humanos. Ainda mais longe, vi homens de aparência robusta carregando uma crianças debaixo dos braços, provavelmente tentando carregá-las para algum lugar.
O que era isso? O que diabos estava acontecendo?
Geese falou:
— Hmm, pensei que algo estranho estava acontecendo…
— Novato, sabe o que está havendo? — perguntei.
— Só o que parece. Esses caras estão atacando o povo-fera.
Verdade. Isso era exatamente o que parecia.
— Acho que também são os responsáveis pelos incêndios — falou Geese.
Então, atacaram provocando incêndios. Igual bandidos. Realmente havia algumas pessoas cruéis por aí. Por outro lado, o povo-fera me aprisionou por uma semana enquanto eu era inocente de qualquer crime. As pessoas diziam que as maldições eram como galinhas: Sempre voltavam para o poleiro.
— Ainda assim, isso é… um pouco demais.
Meninas estavam sendo arrastadas por homens. Uma criança gritava, chamando pela mãe, que tentou persegui-la apenas para ser fatiada. Os guerreiros do povo-fera tentaram evitar os sequestros, mas seus movimentos eram inúteis. A fumaça havia prejudicado sua visão e olfato. Os humanos os oprimiram com seu grande número e os homens-fera se viram cercados, forçados a uma luta amarga.
Terrível, verdadeiramente terrível.
— Então… chefe.
— O que foi?
— Qual lado você vai ajudar?
Voltei a encarar a cena. Outro guerreiro do povo-fera caiu. Homens humanos forçaram a entrada no prédio que o guerreiro estava protegendo e emergiram arrastando uma criança pelos cabelos.
Estava óbvio qual era o lado da justiça. Mas qual seria o pior para mim?
Eu não tinha ideia de quem eram esses humanos. Visto que estavam sequestrando crianças, provavelmente estavam trabalhando com traficantes de escravos ou contrabandistas, com os quais eu tinha uma dívida. Os sujeitos atravessaram Ruijerd pelo mar para mim. Entretanto, compensamos as coisas aniquilando todos daquela base, então estávamos quites.
Em comparação, o povo-fera me aprisionou sob uma acusação falsa. Não quiseram nem ouvir o que eu tinha a dizer. Tiraram minha roupa e depois me molharam com água fria, e após tudo isso me jogaram em uma cela. Considerando o nível emocional, minha impressão sobre eles era ruim.
Mesmo assim. Mesmo assim, a cena diante de mim… era nauseante.
— O povo-fera, é claro — falei, finalmente.
— Haha! Falou e disse! — gritou Geese antes de pegar uma espada do cadáver mais próximo e tomar uma posição. — Tudo bem, deixe a linha de frente comigo! Posso não ser muito bom com uma espada, mas posso ao menos servir como uma parede para você!
— Sim, estou contando com você para me proteger — falei e levantei as duas mãos para o céu.
Primeiro, teria que apagar as chamas. Usei Rajada, uma magia de água de nível avançado. Canalizei mana em minha mão direita, conjurando nuvens cinzentas no céu. Me certifiquei de que o alcance e o poder do feitiço seriam grandes. Eu não tinha ideia de quão longe o fogo havia se espalhado, mas provavelmente poderia apagar a maior parte dele se expandisse meu feitiço tanto quanto possível. Também aumentei a taxa de precipitação para que caísse como uma grande chuva torrencial.
Manipulei as nuvens da mesma forma que aprendi a fazer ao lançar Cumulonimbus. Comprimi minha mana até que formasse uma nuvem, então a inchei mais e mais, sem deixar uma única gota de chuva cair. Ninguém percebeu que eu estava ali, mesmo com meus braços erguidos em direção ao céu. E graças à fumaça preta, também não perceberam as nuvens surgindo acima.
— Certo! — Uma vez que as nuvens estavam grandes o suficiente, liberei o controle que exercia sobre elas com minha mana.
— Uau… — Geese olhou para cima por reflexo, bem quando a chuva começou a cair sobre nós como se fosse a água de uma cachoeira.
Foi um dilúvio que chegou até todos. A área ficou inundada em segundos. As chamas soltaram alguns assobios enquanto se dissipavam. As pessoas olharam para o céu, algumas até mesmo desconfiadas da chuva repentina. Logo me notaram de pé com as duas mãos levantadas. O humano mais próximo sacou sua espada e começou a correr em minha direção.
— E-ei, o que você vai fazer, chefe, eles estão vindo!
— Lamaçal! — Enquanto eu pronunciava o nome do feitiço, um poço lamacento se abriu abaixo deles. Incapazes de passar por aquilo, os homens perderam o equilíbrio e caíram. — Canhão de Pedra! — Lancei o próximo feitiço sem me demorar, martelando-os com minha magia de terra e nocauteando-os. Moleza. Aqueles caras não eram nada de especial.
— Ooh… isso foi incrível, chefe!
Ignorei o elogio de Geese e segui em frente. Os humanos estavam aqui e ali, por toda parte. Comecei a golpeá-los com meu Canhão de Pedra ali de onde estava mesmo. Eu continuaria esse ataque gradual e, em seguida, pegaria de volta as crianças que foram sequestradas. Se Ruijerd e Eris estivessem presentes para perseguir os bandidos, o trabalho teria sido muito mais simples, mas teria que ser cauteloso, já que estava sozinho.
Bem, não exatamente. Geese estava comigo. Mas suas habilidades pareciam meio inúteis, então não esperava que ele fosse de muita ajuda.
— Ei, tem um mago aqui! Ele apagou o fogo!
— Porra! Mas que inferno?!
— Matem ele! Usem os números e não deixem ele lançar nada!
Enquanto eu me distraia, guerreiros humanos avançaram contra mim, um após o outro.
— Canhão de Pedra! — Virei minha mão na direção deles e os golpeei com meu feitiço. Um, dois, três… Ah, merda, agora não estavam apenas seguindo ordens, como também demonstrando seus números esmagadores.
— D-droga! Então cai pro pau! Não vou deixar vocês colocarem a mão no meu chefe! — gritou Geese bravamente, embora estivesse recuando um passo de cada vez. Inútil.
E quanto a mim? Também devo recuar? pensei.
Naquele exato momento, uma sombra marrom voou na minha frente.
— Não sei quem você é, mas obrigado pela ajuda!
Ele falou na língua do Deus Fera. Era um homem-fera com uma cauda de cachorro espessa que já estava com a espada desembainhada e cortou um dos homens que corria em nossa direção. Seu único golpe o decepou e enviou sua cabeça voando.
— Não seremos derrotados por sua laia, ainda mais agora que a chuva limpou meu rosto e meu nariz está funcionando direito!
Ooh, que fala mais heróica! Mas foi exatamente como ele disse: Todos os homens-fera da área estavam retornando.
— Pequeno mago! Por favor, ajude-nos a reunir nossos guerreiros e recuperar nossas crianças!
— Certo!
O homem-fera na minha frente parecia um pouco surpreso por eu ter respondido na língua do Deus Fera, mas ele balançou a cabeça vigorosamente e uivou já longe. Vários outros do povo-fera pularam das árvores ou do matagal para se juntar a nós. Outros que haviam derrotado seus inimigos correram até nós, de quatro.
— Gunther, Gilbad, venham comigo. Vamos trabalhar com esse mago para resgatar as crianças. O resto de vocês, proteja esta área.
— Woo! — Todos assentiram e se dispersaram. Eu também me movi, perdendo de vista aquele primeiro guerreiro que apareceu na minha frente. Geese estava logo atrás de mim.
Os guerreiros, em grande parte, correram em frente sem parar, ocasionalmente levantando o nariz para farejar o ar. Se encontrássemos um humano ao longo do caminho, rapidamente o eliminariam.
Foi quando ouvimos um grito estridente que parecia o de um cachorro.
Ao fazer uma inspeção, encontramos uma pessoa-fera sendo acuada por três humanos. Eles pareciam desfrutar de sua vantagem numérica injusta, assim como gatos atormentando um rato. Isso também significava que sua guarda estava baixa.
Na mesma hora deixei um inconsciente ao usar o Canhão de Pedra. O guerreiro que corria ao meu lado saltou para frente e atacou um dos outros. O último humano, em pânico pelo fato de seus companheiros terem morrido tão repentinamente, morreu pelas próprias mãos da criatura que estiveram torturando.
— Laklana! Você está bem?!
— S-sim, Guerreiro Gimbal! Você me salvou! — A pessoa-fera que foi encurralada era uma mulher. Uma guerreira. Ela estava coberta de feridas graças à sua batalha.
Eu estava prestes a lançar um feitiço de cura sobre seu corpo quando de repente percebi que a reconheci.
Ela ficou igualmente assustada quando olhou para mim.
— Gimbal! Este garoto é…
— Não é nosso inimigo. Foi ele quem conjurou a chuva. Sua roupa é meio estranha, mas está nos ajudando.
— O quê? — Ela arfou.
Sua confusão não era só porque apenas um colete de pele cobria meu corpo nu (ou melhor, seminu). Eu a conhecia. Acabei de descobrir seu nome, mas conhecia aqueles seios fartos e mãos habilidosas para cozinhar. Era ela quem guardava nossa cela.
Ela alternou seu olhar entre mim e Gimbal, seu rosto ficando pálido. Provavelmente se lembrou de como me tratou mal e percebeu o erro que cometeu.
Não se preocupe. Na verdade não tenho nada contra você, pensei. As pessoas às vezes entendiam as coisas errado e cometem erros. Eu sou Rudeus, o iluminado e compassivo!
Tirando isso, a mulher precisava me deixar lançar um pouco de cura nela.
Parecia em conflito enquanto eu a curava, imaginando o que deveria fazer, se deveria ou não pedir desculpas.
Antes que eu pudesse terminar de curá-la, Gimbal gritou:
— Laklana, você deve retornar e proteger a Fera Sagrada!
— T-tudo bem…! — Ela não agradeceu. Mas parecia que queria dizer algo, mesmo enquanto seguia as ordens de Gimbal e saia correndo.
Nossa perseguição continuou. Saímos do vilarejo e entramos na floresta. Nesse ponto, um dos guerreiros me deixou montar em suas costas, já que eu era muito lento. A partir dessa posição, me tornei uma máquina de lançamento de Canhão de Pedra.
Equipamento de Ombro: Rudeus.
Um equipamento que, ao encontrar um inimigo, desviará qualquer ataque através do uso do Olho da Previsão e também derrubará inimigos automaticamente.
Certo, eu só usei força suficiente para deixar aqueles homens inconscientes, mas o povo-fera poderia desferir o golpe final no meu lugar.
— Aquele é o último!
O último humano parou no momento em que o alcançamos, largando sua carga para que pudesse desembainhar sua espada. A carga era um garoto com uma bolsa na cabeça e as mãos amarradas atrás das costas. A julgar pela forma como ele caiu no chão, provavelmente já estava inconsciente. O homem se ajoelhou ao seu lado e colocou uma espada no pescoço da criança. Um refém, hein?
— Grrrr…! — Gimbal e os outros rosnaram e cercaram o guerreiro, mantendo distância.
O homem parecia imperturbável enquanto examinava a cena, até que seus olhos finalmente pousaram em mim.
— Mestre do Canil, o que diabos está fazendo aqui?
Reconheci seu rosto barbudo. Gallus. O homem que contrabandeou Ruijerd através do mar para mim, aquele que nos confiou um trabalho. Aquele que trabalhava para aquela organização de contrabando.
— Bem, muita coisa aconteceu… e você, Senhor Gallus, por que está aqui?
— Por quê? Hmph, esse foi o meu plano desde o começo.
Gimbal e os outros olharam para nós, perguntando-se se éramos conhecidos ou camaradas.
Ugh… eu realmente não queria falar sobre isso, mas também não poderia ficar em silêncio.
— O que quer dizer com isso?
Gallus se curvou e cuspiu.
— Não há necessidade de te dizer.
Bem, isso era verdade. Mas era um pouco estranho.
— Foi você quem nos pediu para salvar as crianças do povo-fera. Você disse que, de outra forma, isso te causaria problemas. Mas está aqui as sequestrando… então quais são as suas verdadeiras intenções?
Gallus sorriu e olhou para os lados. Mesmo cercado por mim, três guerreiros do povo-fera e Geese, ainda parecia relaxado.
— Sim, os pirralhos eram algo, mas se sequestrassem a Fera Sagrada de Doldia também, isso realmente nos colocaria em apuros.
Pelo visto, o problema era aquele filhote. Eu gostaria que ele tivesse dito isso desde o começo. Poderia pelo menos ter me dito para soltar o cachorro.
— Achei que tínhamos um bom plano. Nós cronometramos a hora certa e vazamos informações para o bando de guerreiros Doldia para que vocês se encontrassem. Então, enquanto o Superd massacrava todos eles, íamos vir furtivamente, atacar seu assentamento e roubar o resto de suas crianças.
Fiquei sem palavras.
— Quando percebessem o ataque ao vilarejo já seria tarde demais. Quando a estação das chuvas chegasse, não conseguiriam fazer nada e só poderiam chorar até dormir à noite, visto que não poderiam vir atrás de nós.
Durante a estação das chuvas, a maioria das pessoas não conseguia sair de onde estava. Os contrabandistas deviam ter pensado que poderiam isolar seus perseguidores no momento certo.
— Você com certeza faz as coisas de uma maneira muito indireta — falei.
— Já te falei, não somos uma organização muito unida. Não posso deixar meus camaradas chegarem na minha frente.
Que vulgar. Ele libertaria os escravos de seus camaradas e depois venderia os seus próprios. Conseguiria um lucro enorme, enquanto os outros não receberiam nem um centavo. Sua posição subiria enquanto a de seus camaradas fracassados cairia. Depois de semear suas sementes com bastante cuidado, Gallus colheria as recompensas.
— Sabe, Mestre do Canil? Esses pirralhos Doldia são vendidos a um preço excepcionalmente alto. Alguma família nobre pervertida no Reino Asura os adora, e aqueles caras vão pagar muito dinheiro por eles.
Ah, sim. Acho que sei de qual família ele estava falando.
— Não saiu exatamente como planejado, mas seu Superd manteve o bando de guerreiros Doldia preso em Porto Zant. Então por que você está aqui?
— Estraguei tudo e fui capturado.
— Ah sim, então por que não se junta a mim?
Com essas palavras, Gimbal voltou seu olhar para mim. Parecia entender um pouco da língua humana, e me observava com cautela. Eu realmente não queria que ele fizesse isso.
— Senhor Gallus … Desculpe, mas quando resgato crianças, não sou o Mestre do Canil Ruijerd. Sou Ruijerd, da tribo Superd. E Ruijerd nunca perdoa aqueles que querem vender crianças como escravas.
— Hah, então o Fim da Linha gosta de fingir que está do lado da justiça, hein?
— Isso é o que eu gostaria que as pessoas acreditassem.
As negociações falharam.
Gallus manteve sua espada apontada para o pescoço da criança enquanto se levantava. Ele lançou um olhar para Gimbal e seus homens, que estavam tentando cercá-lo, e riu.
— Entendo… Bem, Mestre do Canil, você cometeu um erro.
Eu literalmente acabei de dizer que não sou o Mestre do Canil, sou Ruijerd, gracejei comigo mesmo.
Dois dos homens de Gimbal se esgueiraram atrás de Gallus, furtivos como gatos, aproximando-se dele.
— Cinco de vocês não são suficientes para me derrotar.
Os três pularam sobre ele quase instantaneamente. Atrás e à direita apareceu o Guerreiro A, cortando; e à esquerda, o guerreiro B surgiu, tentando resgatar a criança. Gimbal usou o momento para atacar Gallus pela frente.
Comparado com as feras ágeis, o contrabandistas se moveu quase vagarosamente. Primeiro ele lançou a criança contra Gimbal. O homem-fera pegou o garoto nos braços enquanto o Guerreiro B, que agora havia perdido seu alvo, se atrapalhou por uma fração de segundo. Foi naquele momento, usando o impulso que ganhou ao descartar a criança, que Gallus girou e picou o Guerreiro A. Sua lâmina era uma espada longa comum, que usou para desviar o ataque que se aproximava antes de enterrá-la no peito do Guerreiro A.
Ele puxou sua espada enquanto recuava para o Guerreiro B no momento em que este último se atrapalhou em seu ataque. Nesse ponto, Guerreiro B e Gimbal estavam em linha logo na frente de Gallus, e os braços de Gimbal estavam ocupados com a criança que havia recuperado, então não conseguia se mover. Vindo do nada, o bandido sacou uma espada curta com a mão esquerda e a enfiou fundo no peito do Guerreiro B. Então usou o corpo do guerreiro como escudo e avançou direto para Gimbal.
Gimbal colocou a criança sob a dobra do braço e tentou interceptar o bandido, mas já era tarde demais. Gallus lançou seu ataque entre a abertura das pernas de seu escudo vivo, perfurando o homem do povo-fera. Quando Gimbal largou a criança e começou a cair, Gallus logo passou sua lâmina pelo pescoço de seu oponente.
Rápido, preciso e terminado em segundos. Sequer tive a chance de ajudar. Enquanto eu olhava estupefato, os guerreiros do povo-fera derramaram sangue de suas bocas antes de desabar onde estavam.
Sério mesmo? pensei em descrença.
— E-ei, chefe, isso é ruim. Esse aí é o Estilo Deus do Norte. E também ao estilo Atofe. Não usa truques inteligentes, é só um estilo de luta bruto que é moldado pela experiência de enfrentar vários oponentes em batalha.
Gallus reagiu ao pânico presente na voz de Geese com uma risada.
— Você sabe das coisas, homem macaco. Isso mesmo, eu sou o Cleaner, o Santo do Norte Gallus. — Quando Gallus disse isso, já tinha o refém de volta em suas mãos.
Isso era ruim. Eu não achava que ele era tão forte quanto Ruijerd, mas, naquele rank, provavelmente seria mais do que eu poderia lidar. O que poderia fazer ao lutar usando o Olho da Previsão?
— Muito interessante, não é? O estilo Deus do Norte ainda tem uma tática para lutar usando um refém.
Lembrei-me de como meu pai deste mundo, Paul, costumava desgostar do Estilo Deus do Norte. Agora isso fazia sentido. Eu podia entender por que alguém odiaria um estilo que possuía táticas de batalha como essa. Era uma desgraça. Completamente dissimulada. Eu queria que ele lutasse de forma justa.
— Bem, venha, Mestre do Canil. Ou você é um covarde que perdeu a coragem só com isso, então agora vai me deixar ir?
Nenhuma quantidade de críticas mentais mudaria nossas circunstâncias. Será que deveria deixá-lo partir? Eu não era como Ruijerd. Eu não tinha um senso de justiça tão forte para colocar minha vida em risco só para salvar crianças que nem conhecia. A única coisa pela qual valeria a pena arriscar minha vida seria Eris.
— O quê, então realmente não vai me encarar? Então tá bom. É um favor para nós dois.
Em contraste, Gallus parecia desconfiado de mim. Talvez tivesse testemunhado meu uso de magia para apagar os incêndios florestais. Eu também tinha mostrado a ele que podia usar magia não verbal. O homem poderia me atacar assim que visse qualquer indicação de que eu tentaria algo.
Não importava o quão alta fosse a estimativa de Gallus sobre minhas habilidades, não havia nada que eu pudesse fazer no momento. Mesmo se usasse meu Olho da Previsão, derrotar um mestre espadachim como ele sem ferir o refém seria provavelmente impossível. Se atacá-lo resultasse na perda de minha própria e preciosa vida, então eu não tinha escolha a não ser deixar que fosse embora.
— Tudo bem — Gallus começou a falar. — Nos vemos por aí, Mestre do Canil. Se voltarmos a nos encontrar em algum lugar…
— RAAAAH!
Naquele momento, assim que ele baixou a guarda e puxou o refém para os braços, um borrão branco o atacou pelo lado. Mordeu sua mão que empunhava a espada.
— Gaaaah! O que é isso?!
Um cão. Aquele enorme Shiba Inu branco saltou de repente do meio dos arbustos e cravou suas presas no bandido.
Me movi por reflexo, usando magia para criar uma onda de choque entre Gallus e o refém.
— Guh?!
Isso resultou em um recuo que separou os dois. A Fera Sagrada também se distanciou no momento do impacto.
Gallus recuperou sua espada e se virou para mim.
— Droga, Mestre do Canil! Eu sabia que você não me deixaria em paz! — Seus olhos ardiam de ódio, como se fosse eu quem tivesse lançado o primeiro ataque. — É como os rumores diziam! Você realmente joga seus cães sobre as pessoas. Que truque mais baixo!
Que tipo de boato era esse?! Não, deixando isso de lado, o mais importante era que eu acabei recebendo alguma ajuda para lidar com o contrabandista.
— Grrrr…! — A Fera Sagrada estava pronta para a batalha. Antes mesmo de eu notar, aquilo ficou ao meu lado, assumindo uma postura de apoio com o corpo agachado.
— Heh heh, exatamente o que eu esperaria de você, chefe. Depois que eu morrer, cuide de minhas cinzas. — O novato, Geese, posicionou-se um pouco à minha frente, timidamente empunhando sua espada.
Gallus não baixou a guarda por um instante ao se posicionar de frente para mim. Parecia que eu não poderia mais recuar, mesmo se quisesse. Ah, bem. Decidi que faria o povo-fera se sentir em dívida comigo, então por que não encarar isso até o amargo fim?
— Foi mal, Gallus. Mas Ruijerd do Fim da Linha não pode ser um cara mau.
As palavras soaram heróicas o suficiente, mas minha situação não era ideal. Estávamos atualmente em três contra um, mas no chão também estavam os guerreiros do povo-fera, que certamente pareciam mais fortes do que nosso grupo atual, e todos foram massacrados em um instante. No momento o bandido não tinha seu refém, mas tudo o que tínhamos era um grupo não confiável de três: o novato, o filhote e eu. Queria muito que Ruijerd estivesse entre nós, mas… Não, esta seria uma boa oportunidade para praticar.
— Chefe… me consiga um pouco de tempo.
Enquanto eu tentava preparar minha mente, o novato sussurrou para mim. Ele tinha algum tipo de plano?
— Como ele é um espadachim do Estilo Deus do Norte, acho que tenho algo que o pegará.
— Certo… — Pisei bem diante do homem. Então isso indicava que eu teria que enfrentar um espadachim de nível Santo de frente? Merda, meu coração estava batendo furiosamente. Acalme-se, apenas acalme-se, disse a mim mesmo.
— Woof! — Como se para injetar coragem em mim, a bola de pêlo ao meu lado latiu.
— Graaah! — E como se em resposta, Gallus deu o pontapé inicial do chão.
Ele correu em nossa direção, e a Fera Sagrada disparou ao seu encontro.
O cara vai dar a volta e lançar um ataque cortante por baixo da Fera Sagrada. Eu conseguia ver. Se usasse meu Canhão de Pedra… Não, a Fera Sagrada ficaria no meio da trajetória do meu disparo. Eu precisava usar um feitiço diferente. Qual? O novato me disse para chamar sua atenção, então…
— Explosão!
— Gaaah!
Assim que a Fera Sagrada saltou sobre Gallus, conjurei uma pequena explosão bem na frente de seus olhos.
— Não foi o suficiente! — O contrabandista jogou todo o peso de seu corpo no chão e rolou. Ele conseguiu escapar por baixo da Fera Sagrada e, depois de um giro, começou a se levantar…
Assim que começar a se levantar, vai me cortar de baixo para cima.
— Ha!
Recuei para evitar o ataque. Foi por pouco. Se eu não tivesse o Olho da Previsão, teria morrido no mesmo instante..
— Tsk, então você conseguiu evitar isso! — gritou enquanto avançava novamente, chicoteando sua lâmina pelo ar.
Ele vai cortar a lateral do meu abdômen, então irá usar o impulso para dar um golpe de retorno.
Se eu pudesse ver, poderia me esquivar. Ele era mais rápido do que Eris, mas não tinha aquele seu ritmo único que era tão difícil de ler. Não havia aberturas para lançar um contra-ataque, mas vi a Fera Sagrada voltando para a periferia da minha visão, para que pudesse aparecer e morder o bandido por trás.
Ele vai trocar a mão que empunha a espada repentinamente, depois torcer o corpo e dar um salto.
Por um momento não consegui entender. Não entendi a motivação por trás de seus movimentos.
— Gah…!
Por reflexo, dei um passo para o lado em vez de recuar. No momento em que percebi o que estava acontecendo, sua espada curta foi direto para cima para mim e atingiu o meu pé. Mesmo com a dor intensa que percorreu meu corpo, pude ver o que aconteceria a seguir.
Ele vai brandir sua espada, pronto para um balanço.
Meu cérebro lentamente descobriu o que tinha acontecido. Foi o pé dele – o sujeito atirou aquela espada curta em mim com o pé. Provavelmente havia algo embutido em sua bota! Ser capaz de ver o futuro não me ajudaria em nada com um oponente como esse. Eu devia ter sido mais esperto!
— Acabou, Mestre do Canil!
— Graaah! — A Fera Sagrada saltou e cravou os dentes no ombro de Gallus.
— Gwah! Seu…!
— Cain! — O filhote guinchou ao ser jogado para longe, batendo com força em uma árvore.
No intervalo daquele momento, canalizei mana em minha mão e lancei um Canhão de Pedra.
— Tsk!
Meu feitiço voou em direção a ele em alta velocidade, mas Gallus apenas o partiu em dois no meio do ar. Faíscas saíram da lâmina quando ela quebrou mesmo na mão dele. Bom, agora poderia usar a oportunidade para arrancar a espada curta do meu…
Ele vai pegar a espada nos seus pés e vai acabar com isso.
Ah, não. Foi então que percebi que em algum momento o sujeito conseguiu me colocar de volta no lugar onde os corpos daqueles homens-fera estavam. A lâmina aos seus pés pertencia a eles. O cara me guiou ao local.
— Eu disse que seria o fim. Desista de lutar, Mestre do Canil!
Canalizei mana entre minhas mãos, apostando minhas últimas esperanças nisso. O tempo pareceu desacelerar. Gallus assumiu uma postura com a espada abaixada em direção aos quadris, prestes a desencadear seu ataque. Mesmo se eu usasse uma onda de choque para colocar distância entre nós, já era tarde demais. Em vez de usar aqueles Canhões de Pedra, teria sido melhor arrancar a faca do pé ou usar uma onda de choque. Recorri ao movimento errado.
— Ao Estilo original Deus do Norte, Bomba Lamuriante! — Só então, ouvi a voz do novato soando atrás de mim. Algo de repente voou sobre minha cabeça… uma bolsa preta? E quando isso aconteceu, minha visão, focada em Gallus, ficou turva.
Ele se moverá para cortar a bolsa cheia de pó pela metade, mas depois hesitará e cobrirá o rosto com os dois braços.
A bolsa bateu no rosto de Gallus. Uma substância semelhante a cinzas explodiu a partir daquilo. Algo para cegá-lo, imaginei. Mas, infelizmente, falhou… Espera, não, apareceu uma abertura!
Naquele momento, terminei meu feitiço e desencadeei uma explosão de fogos no espaço entre nós. Meu corpo foi jogado para trás a uma velocidade ridícula. Por apenas uma fração de segundo, perdi a consciência.
Suportei a dor que devastou meu corpo e meus pés e me forcei a retornar. O ferimento no meu pé estava… bem. O impacto, pelo visto, fez a faca ser solta. Todos os meus dedos continuaram intactos. Eu poderia usar magia de cura para me recuperar disso. Para ser honesto, doeu o bastante para que não pudesse andar, mas não era hora para reclamar. No momento precisava ficar de pé e lutar. A batalha ainda não havia acabado.
— Hã…?
Gallus já estava no chão, de barriga para cima. Seu corpo nem mesmo estremecia.
— Uhuuul…! Conseguimos! — Quando olhei para o lado, vi Geese com o punho no ar. — No momento em que esses caras do Estilo Deus do Norte ouvem o nome “Bomba Lamuriante”, sempre usam as duas mãos para cobrir o rosto!
Eu não tinha ideia do que isso significava, mas pelo visto aqueles treinados neste estilo em específico tinham algum hábito estranho. Apesar de tudo, abordei Gallus com enorme cautela.
— Ei, chefe, tome cuidado!
Conforme aconselhado pelo novato, mantive minha guarda alta enquanto inspecionava nosso oponente inconsciente. Peguei sua espada, que estava caída por perto, e a joguei fora. Quando fiz isso, a Fera Sagrada saltou no ar e a pegou em sua boca antes de retornar para mim, balançando o rabo vigorosamente.
Sim, sim, você é um bom garoto, pensei. Mas vamos jogar frisbee outra hora, tá bom?
— Novato, pegue isso. — Dei alguns tapinhas na cabeça do filhote antes de jogar a espada para Geese. Então peguei um pedaço de pau e comecei a cutucar Gallus com ele.
O homem não se moveu. Mesmo ao cutucar seus olhos, sequer resmungou. Amarrei suas mãos e pernas e coloquei uma mordaça em sua boca, mas seus olhos permaneceram fechados. Parecia que estava completamente inconsciente.
— Nós ganhamos. — Quando as palavras saíram da minha boca, a Fera Sagrada gemeu e Geese, que havia retirado a bolsa da cabeça do refém, riu. Realmente vencemos? Eu ainda estava me deleitando com o brilho da vitória quando a criança refém acordou e começou a soluçar. Pouco depois disso, os guerreiros do povo-fera finalmente chegaram.
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Esse era um caso de sequestro. Foi uma operação em grande escala planejada pela organização de contrabando. Planejavam roubar a Fera Sagrada, a divindade guardiã dos Doldia. Suas motivações exatas não eram claras, mas pelo visto muitas pessoas desejavam a Fera Sagrada por causa de quão especial ela era.
Dito isso, mesmo o simples ato de sequestrar a Fera seria um desafio. Supondo que conseguissem, o povo-fera, com seu olfato apurado, ficaria no encalço dos contrabandistas e imediatamente recapturaria a Fera. É por isso que a organização executou seu plano perto da estação das chuvas.
A estação das chuvas duraria três meses. Cada povoado se ocupava com os preparativos e os guerreiros de cada vilarejo ficavam de mãos amarradas. Dito isso, seria impossível conseguir um navio bem no meio da estação das chuvas. Então, um pouco antes das chuvas começarem, roubariam a Fera e a carregariam para o Continente Demônio. Dessa forma, poderiam escapar facilmente e os guerreiros não conseguiriam os perseguir.
O povo-fera estava, é claro, vigilante. Durante os preparativos para a estação das chuvas, as crianças ficavam proibidas de sair de casa e até os adultos passavam a ser mais cautelosos. Não seria necessário mencionar que a Fera Sagrada também era mais vigiada nesta época. A organização também levou isso em consideração.
Primeiro, empregaram todos os sequestradores da área e, então, esperaram pacientemente. Quando chegou a hora certa, invadiram cada aldeia e sequestraram mulheres e crianças. Foi então que os guerreiros entraram em pânico. A organização havia intencionalmente contratado várias pessoas para diminuir os sequestros durante o ano, para que as tribos do povo-fera baixassem a guarda. Então, de uma só vez, os contrabandistas sequestraram mulheres e crianças de vários assentamentos.
Também enviaram grupos de forças armadas que haviam preparado para atacar os vilarejos, mas deixaram a aldeia da tribo Doldia intacta. Como isso indicaria que os guerreiros de Doldia estavam desocupados, todos os outros exigiram ajuda. Os Doldia teriam que dividir suas forças para enviar ajuda aos vários assentamentos.
Como resultado, os defensores da aldeia Doldia ficaram com uma equipe escassa. Foi então que a organização de contrabando usou suas forças de elite para atacar. Conseguiram sequestrar não apenas a neta do chefe tribal, como também a Fera Sagrada. Foi uma tática de blitzkrieg em que forças menores distraíram os outros assentamentos enquanto a principal corria em direção ao seu verdadeiro objetivo.
O ataque das forças armadas, o sequestro de crianças e o rapto da Fera Sagrada… Com tudo isso, não importaria o quão excepcionais os guerreiros do povo-fera seriam, já que não haveria o suficiente deles. O chefe tribal, Gustav, decidiu abandonar as crianças. Reuniu seus guerreiros e reforçou as defesas locais, então começou a busca pela Fera Sagrada. Ela era um símbolo importante para seu vilarejo.
Pareceu-lhes pura sorte terem descoberto a área de espera dos contrabandistas. Receberam uma pista sólida e marcharam para o prédio em questão. Por enquanto, vamos apenas ignorar que a fonte da informação foi uma força isolada liderada por Gallus.
Foi aí que começou a história que eu não conhecia: uma sobre o que Ruijerd fez na semana seguinte, quando me deixou naquela cela.
Pelo visto, o Superd ficou abertamente zangado com os contrabandistas quando ouviu sobre o que levou a tudo isso. Ele propôs atacar o navio antes que partisse do porto. Gustav, porém, desaprovou. “Não sabemos em que navio estão as crianças, e sabem como suprimir nosso olfato.”
Foi exatamente aí que Ruijerd entrou. Ele disse com orgulho que poderia usar o cristal em sua testa para procurá-los. Quanto a Eris, ela não participou, pois havia assumido a responsabilidade de cuidar das crianças.
Com um grande sorriso no rosto, devo acrescentar. Com certeza era influência de seu sangue Greyrat.
De qualquer forma, o ataque de Ruijerd foi bem sucedido. Tragicamente para os contrabandistas, ele descobriu seu navio e os capturou apenas após espancá-los até ficarem meio mortos. As crianças saíram arrastando-se das profundezas do navio. Eram ao menos cinquenta delas. Todos foram salvos e foi um belo final feliz, yay! Só que não…
Os funcionários do Porto Zant afirmaram que foi um ataque à última viagem deles antes do início da estação chuvosa. Havia mercadorias importantes armazenadas naquele navio, e atacá-lo era um crime grave.
Gustav, é claro, protestou contra isso. O sequestro e escravidão de pessoas-fera era um crime no que diz respeito ao País Sagrado de Millis e aos líderes tribais da Grande Floresta. Ser punido por impedir isso em suas próprias costas parecia bizarro, disse. Isso só enfureceu ainda mais os funcionários do Porto Zant. Insistiram que deveriam ter sido informados com antecedência. Mas os contrabandistas acabaram sendo dominados no devido tempo. Eles não tiveram tempo para explicar nada. Além disso, existiam cinquenta vítimas. Não cinco, nem dez, mas cinquenta crianças! Sequestraram uma ou duas de cada assentamento. Os funcionários do Porto Zant não sabiam nada disso. Na verdade, alguns deles aceitaram subornos para fingir que não sabiam de nada.
Isso era uma violação do tratado. Se deixado como estava, criaria uma grande fissura no relacionamento entre o povo-fera e o País Sagrado de Millis. Na pior das hipóteses, acabaria resultando em uma guerra. Foi então que toda a conversa ficou complicada. Por ordem de Gustav, os guerreiros foram chamados ao Porto Zant e ficaram na entrada da cidade em um impasse com sua guarnição.
No final, Porto Zant recuou. Pagaram uma enorme soma ao povo-fera, buscando entregar alguma compensação. Demorou cerca de uma semana para que as negociações fossem concluídas e as crianças fossem devolvidas aos pais. Foi por isso que fiquei uma semana naquela cela, eu seria a última coisa para se cuidar.
Bem, não era como se houvesse outra escolha. Na verdade, achei incrível que conseguiram fazer tanto em apenas uma semana.
Foi aí que Gallus tirou vantagem da situação. As defesas da aldeia dos Doldia foram enfraquecidas quando Gyes chamou seu bando de guerreiros para o Porto Zant. Acompanhado por suas tropas, o bandido invadiu o assentamento. O sujeito fez tudo exatamente pelo motivo que mencionou antes. Ele e os camaradas em quem confiava sequestrariam as crianças e, então, conseguiriam um enorme lucro.
O bandido mirou o período logo antes do início da estação das chuvas. Ele se preparou para isso, tendo até mesmo ameaçado o líder dos armadores para que construísse um navio em segredo. O homem devia ter passado muito tempo planejando tudo. As coisas não aconteceram exatamente como esperava, mas foram o suficiente para que agisse. Mas, para seu azar, suas ambições foram pelo ralo. No final, seu plano falhou e acabou sendo entregue aos funcionários do Porto Zant. Assim o assunto foi resolvido e tivemos nosso final feliz.
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