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Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 04 – Cap. 03 – Conexões Perdidas, a Continuação

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De qualquer forma, comecei a voltar para a pousada e amaldiçoei minha própria ingenuidade. As pessoas que circulavam pela cidade estavam todas duplicadas. Qual era o futuro e qual era o passado? Mesmo que eu pudesse dizer, os movimentos das pessoas eram imprevisíveis. Continuei julgando tudo errado com meus olhos e esbarrando nas pessoas.

— Tsk! Olha por onde anda!

Pela aparência do homem, imaginei que fosse um bandidinho qualquer. Ele tinha uma barba volumosa no queixo e uma cicatriz no rosto. Não tive a impressão de que era um aventureiro, mas sim uma das muitas pragas que infestavam a cidade.

— Sim, desculpa. Meus olhos não estão muito bons.

— Seus olhos não estão bons, eh? Então ande fora do caminho! Sabe, parece que todo mundo que não vê ou escuta direito gosta de sair pedindo desculpas enquanto anda por aí!

Ele só estava tentando arranjar confusão. Suas ameaças eram intimidantes, mas eu poderia dizer que o sujeito não estava com raiva, apenas um pouco irritado.

— De agora em diante vou tomar mais cuidado — falei.

— Isso mesmo, cuidado!

Eu não queria que as coisas piorassem ainda mais, então apenas segurei minha língua e olhei para o outro lado.

O bandido se precipitou e cuspiu no chão antes de se afastar. Mas ele parou por um instante.

— Tch… ah, é mesmo — falou. — Só tenho uma pergunta. Viu um bêbado idiota andando por aqui? Desde ontem que ele não volta.

Eu vi assim que ele olhou para mim: um vaso de flores quebrando bem na sua cabeça. O que aconteceu a seguir foi instantâneo. Canalizei mana com minha mão direita e lancei magia do vento para o tirar do caminho.

— Gah! — Ele deu uma cambalhota no chão e, em seguida, pôs-se de pé em uma postura defensiva. O homem sacou sua espada e a apontou para mim. — Bastardo, o que diabos acha que…

Foi então que o vaso de flores bateu no chão, se espatifando. Nós dois seguimos sua trajetória com o olhar. Uma mulher de meia-idade olhou para nós com uma expressão perplexa no rosto.

— E-eu sinto muito! Vocês estão bem?

— Ah, sim, estamos bem!

Ela voltou para a casa depois que eu respondi. O olhar do bandido voou entre mim, o local onde o vaso havia caído e sua posição atual. Ele engoliu em seco.

— Umm… sobre aquele cara bêbado, acho que desmaiou em um dos becos. Provavelmente brigou com alguém. De qualquer forma, vou embora. — Falei o mais rápido possível antes de virar as costas para a cena. Não queria me envolver ainda mais com aquele bandido.

O olho parecia ter sua utilidade, embora fosse um incômodo se causasse problemas como esse o tempo todo. Decidi trabalhar para dominá-lo rapidamente.

 

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Voltei para a pousada. Quando disse a Eris e Ruijerd que tinha encontrado o Grande Imperador do Mundo Demônio, os dois ficaram pasmos.

— O Grande Imperador do Mundo Demônio? Não pensei que ela iria reviver. — Ruijerd tinha uma rara expressão de surpresa no rosto.

— E nunca sonhei que receberia algo como um olho demoníaco tão de repente.

— Conceder olhos demoníacos é um poder que apenas o Grande Imperador possui — explicou.

O Grande Imperador do Mundo Demônio, Kishirika Kishirisu, também era conhecido como o Imperador Demônio da Ressurreição. E seu outro nome era o Imperador Demônio dos Olhos Demoníacos. Aparentemente, ela não era tão hábil em combate, mas com doze olhos demoníacos em sua posse, havia muitas coisas que podia ver que a maioria não podia. Seu poder mais temível era sua habilidade de transformar os olhos de outra pessoa em olhos demoníacos. Foi através desse poder que concedeu olhos demoníacos a todos os seus seguidores, dando-lhe o poder para governar todas as tribos de demônios. Houve até mesmo aqueles que se tornaram seus seguidores apenas para obter mais poder.

— O que ela estava fazendo nesta cidade? — perguntei.

— E quem é que sabe? Eu não tenho ideia do que se passava nas mentes dos Reis Demônios ou Imperadores Demônios — disse Ruijerd encolhendo os ombros.

Verdade, pensei. Afinal, você nem sabia as verdadeiras intenções do Deus Demônio a quem serviu por tantos anos. Mas não é como se eu fosse dizer algo assim, sabendo que isso só o deprimiria.

Eris, por outro lado, estava maravilhada com o título de “Grande Imperador do Mundo Demônio”.

— Isso é incrível. Eu também quero encontrar ela!

— Você quer?

Eris e Kishirika. Que tipo de conversa as duas teriam caso se encontrassem? Até eu fiquei um pouco curioso. Por mais improvável que parecesse, poderiam até encontrar algum assunto em comum.

— Me pergunto se ela ainda está na cidade.

— Não tenho certeza — respondi.

Quem sabe? Talvez se eu voltasse pelos becos no dia seguinte, a encontrasse mais uma vez desmaiada de fome. Parecia uma daquelas piadas ruins, mas possíveis, levando em conta como ela era. Mas ainda assim, bastante improvável. Parecia que estava procurando por alguém, então provavelmente já tinha partido. Era como se fosse uma garota mágica sendo guiada pela Lei dos Ciclos, ou algo assim.

— Tenho certeza de que ela provavelmente já deixou a cidade.

— Sério? Isso é muito ruim — disse Eris. De qualquer forma, ela provavlemente verificaria os becos à sua procura, mesmo depois do que eu disse.

— De qualquer forma, dito isso, vou ficar na pousada. Vocês dois estão livres para sair por conta própria.

Cada um dos dois deu um aceno de cabeça.

 

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Demorou uma semana para aprender como usar o olho demoníaco. Simplificando, não foi lá tão difícil. Seria possível controlar o olho por meio da mana. Era muito parecido com o modo como eu usava magia não verbal, o que já havia feito muitas vezes antes. Por meio da mana, poderia controlar tudo que visse. Fiquei confuso até que percebi que havia dois tipos de foco. Então as coisas logo começaram a se encaixar.

Um dos tipos de foco controlava a opacidade, era parecido com o modo como se muda a opacidade das janelas de um jogo erótico. No início, estava no máximo, então tudo parecia totalmente duplicado. Coloquei a opacidade no mínimo possível. Ao canalizar mana para a parte interna do meu olho, poderia enfraquecer minha capacidade de previsão o suficiente para ver apenas o presente. Vislumbres do futuro seriam benéficos, então, ajustei a opacidade para o ponto exato em que não fosse se tonrar uma distração, mas que ainda continuasse visível. Então tentei manter as coisas assim. Se eu perdesse o foco por um segundo, a opacidade mudaria. Levei três dias até conseguir manter tudo consistente.

O próximo passo seria a duração – ou melhor, a latência. Poderia mudar o quanto do futuro poderia ver, canalizando mana para a parte dianteira do meu olho. Eu só conseguia ver cerca de um segundo do futuro, mas com o uso de mana conseguia ver até dois ou mais segundos. As possibilidades se desenvolviam em segundas ou terceiras, igual a um galho e árvore sendo partido e apresentando diferentes futuros.

Eu podia ver até três ou quatro segundos com mais mana, mas se tentasse ver cerca de cinco segundos do porvir, a imagem se dividia e embaçava tanto que me dava dor de cabeça. Isso representava o tanto de formas que o futuro poderia ter. Além disso, quanto mais tentava ver o futuro, aparentemente mais isso sobrecarregava o cérebro. Kishirika até disse que ter dois olhos demoníacos poderia resultar em loucura. Talvez fosse graças à influência de todos seus olhos demoníacos que ela parecia uma cabeça de vento.

Mas, independentemente disso, eu sabia que poderia ver um segundo do futuro e continuar em segurança. Levei três dias para dominar isso, depois um dia extra para aprender como controlar ambos os fatores ao mesmo tempo. No total, levei sete dias para aprender o básico do uso do meu Olho da Previsão.

 

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Enquanto estava ocupado canalizando mana em meu olho e comandando: Cumpra minhas ordens, Olho da Previsão! Eris e Ruijerd iam a algum lugar juntos todos os dias. Quando voltavam, Eris estava sempre banhada de suor enquanto Ruijerd parecia tão composto quanto sempre, apenas suando um pouco mais do que o normal. Deviam estar fazendo algo para suar tanto. E, ainda por cima, todos os dias!

— Só por saber mesmo, mas gostaria de perguntar. O que vocês dois estão fazendo?

Eris estava torcendo um pano encharcado de suor quando perguntei. Ela respondeu:

— Heh heh, isso é segredo! — A garota parecia estar realmente se divertindo.

Então estava fazendo algo em segredo que não podia me contar? Ah, entendi. Algumas tardes de prazer, eh? Acho que a única coisa que eu poderia fazer era me afogar no cheiro daquele trapo encharcado de suor que ela segurava.

Não tenha a ideia errada – eu não estava particularmente preocupado com isso. Eles só deviam estar saindo para treinar. Embora sua atitude pudesse sugerir o contrário, Eris, na verdade, era do tipo que trabalhava duro em segredo. Quando estávamos na região de Fittoa, fazia a mesma coisa, frequentemente treinando com Ghislaine nos dias de folga. Naquela época, sempre que eu perguntava o que estava fazendo, a garota exibia o mesmo sorriso cheio de confiança no rosto e dizia: “É segredo!” Então, eu tinha certeza que desta vez também devia estar treinando.

Naquela noite, tive um sonho com um recluso de trinta e quatro anos me cutucando na bochecha enquanto sussurrava em meu ouvido: “De agora em diante seu apelido será perdedor patético.” Achei que devia ser obra do Deus Homem. Aquele bastardo era mesmo bom para absolutamente nada.

 

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Uma semana depois, informei Eris e Ruijerd sobre minha capacidade de controlar o Olho da Previsão. Quando o fiz, Ruijerd sugeriu: “Então por que você e Eris não lutam?” Era para testar o quão útil essa coisa seria em batalha? Ou para me mostrar os resultados de seu treinamento especial? Fazer as duas coisas ao mesmo tempo seria um ótimo negócio, então topei.

Nós fomos para a praia. Ruijerd ficou à margem para observar enquanto tomávamos posições opostas um ao outro, empunhando as espadas.

— Você realmente acha que pode me vencer agora só porque tem esse olho demoníaco?! — Eris estava se sentindo particularmente confiante. Devia ter aprendido alguma técnica nova ou algo do tipo na semana que passou.

Eu queria manter aquele sorriso atrevido em seu rosto.

— Não, tudo bem se eu perder. Só quero saber o quanto posso ver com este olho durante uma batalha, só isso. — Era por esse motivo que não usaria magia. Eu também queria ver os frutos do meu próprio trabalho. Ajustei meu olho para poder ver um segundo do futuro e a luta começou.

— Hmph, isso soa como algo que você diria, mas…

Eu podia ver o que ela faria mesmo enquanto a garota ainda estava falando. Eris vai de repente balançar o punho esquerdo na minha direção. Se eu não tivesse esse olho, não teria sido capaz de reagir a tempo. Seus ataques preventivos eram algo quase que natural.

— Hah!

— Oho! — Consegui me esquivar de seu ataque. Rebati batendo palmas do lado do seu rosto.

Então surgiu a próxima visão. Eris não vai sequer recuar – na verdade vai dar início a um ataque violento, usando a espada empunhada em sua mão direita. Esse era o seu ponto forte. Ela poderia ignorar qualquer número de ataques e lançar-se direto à ofensiva. A parte inferior de seu corpo era tão forte que a maioria dos ataques não a faria cambalear. Na verdade, quanto mais dano a garota tomasse, mais aumentava sua raiva e mais agressivos seus ataques se tornavam.

— Tah!

— Certo! — Golpeei seu antebraço com força. Eris largou a espada. Anteriormente, eu teria considerado um momento desses como o fim da batalha. Deixar sua espada cair indicava a derrota, ou pelo menos era o que acontecia quando eu estava treinando com Ghislaine. No entanto, pude ver com meus olhos que isso ainda não havia acabado.

Eris já está retornando com seus ataques sucessivos.

Em outras palavras, foi apenas uma de suas fintas. Ela largou a espada para me fazer baixar a guarda.

Vai me dar um soco bem no queixo com o punho esquerdo.

Em outras palavras, soltou a espada de propósito para me atrair a uma falsa sensação de segurança, para que pudesse se lançar em seu estilo usual de combate corpo a corpo: o Soco Boreas especial de Eris.

— O qu…!

— Suas pernas estão abertas. — Enganchei meu pé ao dela, atrapalhando o seu equilíbrio. Seu punho golpeou o ar vazio e ela caiu no chão.

Ainda assim, parecia que a batalha não havia acabado.

Eris vai se segurar com as mãos, usar o rebote e o torque para dar um giro e se agarrar à minha perna direita.

— Uhum. — Recuei e ao mesmo tempo abaixei meus joelhos, prendendo-a para que não pudesse se mover.

Graças à maneira como ela contorceu seu corpo em uma tentativa desesperada de me morder, o corpo de Eris ficou todo torcido. Um braço estava esmagado embaixo dela, enquanto uma de suas pernas estava dobrada em direção ao seu traseiro. Me perguntei o que ela faria a seguir, mas tudo que podia prever era mais luta.

— Basta — gritou nosso juíz.

Eris caiu como se sua energia tivesse sido drenada.

Eu ganhei? Eu realmente ganhei? Foi a primeira vez que derrotei Eris em combate corpo a corpo e sem magia.

— Perdi, hein… — Ela tinha um olhar surpreendentemente tranquilo em seu rosto quando olhou para mim.

Saí de cima dela. A garota se levantou devagar e limpou a sujeira de sua roupa.

Ela vai me dar um soco.

A expressão de Eris azedou quando parei seu punho com minha mão.

— Estou indo para casa! — declarou em voz alta. Seus ombros tremeram quando ela se retirou em direção à pousada.

Realmente a irritei? Não, não era isso. Provavelmente só a fiz perder um pouco de confiança. Até então ela sempre me derrotou com bastante facilidade. Agora eu tinha ficado repentinamente mais forte. Se estivesse no lugar dela, provavelmente também ficaria com inveja.

— Eris ainda é uma criança — disse Ruijerd enquanto a observava partir.

— Isso é normal para a idade dela — respondi antes de olhar para ele.

O homem me olhou nos olhos e acenou com a cabeça.

— Bom trabalho.

— Qualquer um que tivesse um olho demoníaco poderia fazer isso.

Eu tinha melhorado um pouco a minha forma, mas havia dezenas de outras pessoas neste mundo com habilidades físicas semelhantes. Qualquer um que tivesse um olho demoníaco deveria ser capaz de fazer o mesmo.

— Um olho demoníaco não é algo que uma pessoa pode dominar logo após conseguir.

— Ah, sério?

— Havia um Superd no meu bando de batalha que tinha um olho demoníaco. Ele usava um tapa-olho o tempo todo e nunca conseguiu controlá-lo, nem mesmo no dia em que morreu. Você que é estranho por ser capaz de controlar isso depois de apenas uma semana.

Ah, certo. Tá, certo. Sim, entendi o que ele quis dizer.

Bem, trabalhei muito para controlar meu fluxo de mana e dominei o uso dele em apenas uma semana. Então eu era o único capaz de controlar isso tão rapidamente, hein? Entendo, entendo. Mwahaha!

— Talvez eu já consiga te derrotar, Senhor Ruijerd.

— Se usar magia — concordou.

— E em combate próximo?

— Quer tentar?

Decidi aceitar essa oferta. Para ser franco, eu estava me precipitando.

— Sim, por favor.

Ruijerd colocou sua lança de lado e assumiu uma postura de mãos vazias. Em outras palavras, não precisava de sua arma característica para lutar contra um nanico como eu.

— Você pode usar magia se quiser —falou.

— Não, se vamos fazer isso, faremos com nossas próprias mãos.

Antes mesmo de terminar, uma visão apareceu diante de mim. A palma de Ruijerd virá direto na minha direção.

Eu conseguia ver. Podia ver o que ele iria fazer e reagir a isso.

— Oho! — Estendi minha mão para detê-lo.

Ele vai agarrar minha mão.

No momento em que tive a visão, instintivamente puxei minha mão de volta. No momento seguinte, a visão ficou turva.

Ele vai acertar meu rosto com seu punho.

Apareceram duas visões; em outras palavras, existiam dois futuros em potencial. Um em que ele agarrava meu braço e outro em que batia com o punho na minha cara. O que estava acontecendo? A dúvida se agitou dentro de mim. Minha visão não deveria ficar embaçada no intervalo de um segundo.

— Ow! — Inclinei meu corpo para trás, evitando seu ataque por pouco.

O punho de Ruijerd vai acertar a minha cara.

Eu conseguia ver. E podia ver tudo nos mínimos detalhes. Mas meu corpo já estava contorcido após evitar seu último ataque. Mesmo se pudesse ver o que ele faria a seguir, não seria capaz de me mover a tempo de desviar.

— Bwah!

Seu punho acertou o meu rosto em cheio. Minha cabeça bateu na areia da praia enquanto eu caia no chão. Fiquei ali deitado de bruços.

Levantei a mão para verificar se havia algum ferimento. Eu estava bem, certo? Esperava que ele não destruísse todo o meu lindo rosto. Agora não estava com o rosto todo distorcido igual ao de um pug, certo?

— Se rende?

No momento em que ele perguntou, senti que estava acabado.

— Sim, admito a derrota. — Achei que poderia vencer quando tive a primeira visão, mas parecia que as coisas não eram tão simples.

— Mas agora você entende, certo?

Peguei a mão que ele estendeu para mim e me levantei.

— Não, eu não entendo. O futuro que eu vi ficou borrado. Como é que você fez aquilo?

— Não tenho ideia do que você viu, mas decidi que se tentasse se defender com a mão eu a agarraria, e se não o fizesse, daria um soco. Isso foi tudo que passou pela minha cabeça.

Em outras palavras, enquanto ele pudesse adivinhar o que eu faria a seguir, poderia reagir a isso. Havia uma brecha tão grande entre nossos níveis de habilidade que minha capacidade de ver um segundo no futuro, parando para pensar, não significava nada. Pode-se dizer que era algo parecido com shogi. Mesmo que um novato pudesse ver um movimento à frente, ainda não havia como vencer um mestre.

Os habitantes deste mundo eram, em um grau incomum, altamente habilidosos. Provavelmente havia muitos outros por aí que poderiam lutar como Ruijerd.

— Mais importante, eu lutei com alguém com o mesmo olho demoníaco antes. Desde então, tenho lutado seguindo a suposição de que todos têm a mesma habilidade. Você e eu temos diferentes níveis de experiência.

— Isso é verdade.

Então ele usou sua experiência para combater o Olho da Previsão. Talvez os estilos de espada deste mundo também tivessem maneiras de se opor ao poder de um olho demoníaco – por exemplo, a Espada Longa da Luz, do Estilo Deus da Espada. Tive a sensação de que, mesmo se pudesse ver, não seria capaz de me esquivar.

— Parece que me precipitei um pouco.

Parecia que as fraquezas do olho demoníaco já estavam estabelecidas há muito tempo, sendo algo como encontrar uma maneira de bloquear a visão do portador, usar um escudo, atacar por trás ou mesmo lutar no escuro.

Deixando tudo isso de lado, esse olho ainda tinha seu encanto. Afinal, venci Eris. Só de pensar em como poderia usá-lo no futuro, meu coração disparava. Eu tinha previsto tudo o que Eris faria. Foi totalmente diferente de como as coisas costumavam ser. Em outras palavras, com prática, poderia até ser capaz de prever os movimentos de Ruijerd.

Foi então que o eremita apareceu com um puf dentro da minha cabeça, com sua careca brilhante e óculos escuros. Agora você não precisa ser espancado o tempo todo para ver o quão longe chegou! disse ele.

Então tudo certo. Obrigado, eremita amante de seios. Hmm. Pensar em todas as maneiras como eu poderia usar esse olho realmente fez meu coração disparar!

 

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Quando voltei para a pousada, com um olhar sonhador no rosto, encontrei Eris empoleirada na cama abraçando os joelhos. Ah, claro, eu tinha esquecido dela. Ela estava deprimida. Enquanto isso, meu eremita interior pulou em seu casco de tartaruga e desapareceu indo para outro lugar.

— Um, Eris?

— O que você quer?

Depois de nossa batalha, Ruijerd me contou o que os dois fizeram na última semana. Pelo visto, no final das contas, foi um treinamento especial. Claro, não era nada pervertido. Para se fortalecer, Eris se dedicou diariamente à prática da espada. Como resultado, conseguiu vencê-lo uma vez.

Ela venceu Ruijerd uma vez. Isso era extraordinário. Eu provavelmente nunca faria isso em toda a minha vida. Pelo visto, Eris ficou muito arrogante por causa disso. É por isso que o Superd me usou para esvaziar seu ego.

Sério, mas que diabos? Foi seu próprio erro e ainda assim aquele aspirante a guerreiro amante de crianças me fez limpar sua bagunça. Ainda assim, foi efetivo. Seu ego tinha inchado muito depois de reivindicar vitória contra um oponente que nunca havia vencido antes (Ruijerd), apenas para ser perfurado ao perder para um oponente que nunca a havia derrotado antes (eu).

Dito isso, não acho que essa fosse a maneira certa de lidar com isso. Eu sabia como era finalmente começar a pensar: Ei, será que peguei o jeito disso? apenas para provar o contrário. Isso deixaria qualquer um se sentindo completamente miserável, como se tudo o que tivesse feito até o momento fosse inútil.

Claro, talvez tenha ajudado a esfriar sua cabeça. Talvez assim ela evitasse cometer grandes erros. Mas Eris provavelmente estava em um período de crescimento acelerado. Não achei que ferir o ego dela seria a resposta certa. Em vez disso, era melhor deixá-la ir mais além para que pudesse se desenvolver ainda mais rápido. Então, poderia apontar suas deficiências e corrigi-las depois.

— Você realmente ficou muito forte, Eris.

— Está tudo bem, não precisa me confortar. De qualquer forma, eu sabia que não iria conseguir te derrotar. — Ainda irritada, ela esticou o lábio e fez beicinho.

Hmm, o que eu poderia dizer? Eu não tinha boas frases para momentos como este.

Ruijerd não tinha voltado para o quarto comigo. Para começo de conversa, foi por culpa dele que o ego dela ficou fora de controle, então desejei que ele fizesse algo sobre isso, embora fosse verdade que eu era o único que realmente tinha estourado sua bolha.

Então, mais uma vez, se pudesse confortá-la adequadamente, seu medidor de afeição sem dúvida aumentaria. Eris se apaixonaria por mim, e nós dois nos abraçaríamos e esfregaríamos as bochechas enquanto dançávamos apaixonados. Ruijerd devia ter pensado que era isso que aconteceria, e é por isso que nos deixou em paz.

— Não perca toda a sua confiança com isso. Ouvi dizer que você conseguiu derrotar Ruijerd uma vez. Isso é incrível, certo? — Sentei-me ao lado dela enquanto falava. Quando fiz isso, Eris encostou seu corpo contra o meu. O doce aroma de suor encheu minhas narinas. Era um cheiro bom, mas eu precisava me controlar. Em situações assim precisava ser um cavalheiro.

 

 

 

— Isso é trapaça, Rudeus. Você ganhou um olho demoníaco enquanto eu tive que trabalhar duro…

Congelei. Minha cabeça ficou dormente. Meu lobo interior recuou com a cauda enfiada firmemente entre as pernas. Não havia nada que eu pudesse dizer em resposta.

Ela estava certa. Por que eu estava ficando tão feliz? Era trapaça. O que eu fiz foi desonesto. O poder do olho demoníaco não era algo que trabalhei duro para conquistar. Simplesmente caiu no meu colo. Tudo o que fiz foi comprar comida em alguma barraca e vagar pelos becos. Verdade, levei uma semana para dominar seus poderes. Mas era só isso. Não precisei me esforçar. O que diabos estava fazendo ao usar esse poder e agir feliz por ter vencido Eris quando ela passou uma semana inteira trabalhando duro, ficando encharcada de suor?

— Sinto muito.

— Não se desculpe.

Depois disso Eris ficou em completo silêncio. Entretanto, não se afastou de mim. Meu coração normalmente estaria batendo forte com o cheiro dela ou o calor de seu corpo, mas desta vez não o fez. Em vez disso, apenas me senti envergonhado, como se seu calor e o cheiro de seu suor estivessem me criticando. O ar estava pesado.

Talvez fosse melhor para mim não usar o olho demoníaco, a menos que fosse absolutamente necessário. Sua conveniência podia atrapalhar meu crescimento. Eu entendi isso depois de lutar com Ruijerd.

No momento, a coisa mais importante não era pensar em como usar esse olho demoníaco. Em vez disso, precisava aprimorar minha habilidade de combate. É verdade, eu me tornava um lutador melhor quando usava o olho. Mas minhas habilidades acabariam estagnando se dependesse disso. Depender de alguma coisa só serviria como algo para me assombrar mais tarde. Isso era perigoso. Quase me permiti pular direto nos esquemas daquele diabo traiçoeiro, o Deus Homem.

Decidi que só usaria meu olho demoníaco como um recurso final.

 

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Naquela noite, passei um tempo pensando comigo mesmo.

No final das contas, ainda não havíamos encontrado uma maneira de cruzar o oceano. Eu fiz alguma confusão? Segui o conselho do Deus Homem ao pé da letra, mas tudo que ganhei foi o olho demoníaco.

Isso deveria ajudar em algo? Tipo em apostas? Mas prazeres como apostas não existiam no Continente Demônio. Se o fizessem, provavelmente estavam na forma de apostas em brigas entre duas pessoas. Isso não me renderia muito dinheiro. Poderíamos usar Ruijerd como um gladiador e cobrar uma taxa de participação de um ferro bruto com um prêmio de cinco moedas de minério verde, mas ele eventualmente ficaria sem oponentes.

Hmm. Não importa o quanto eu pensasse nisso, não conseguia encontrar nenhuma solução. Ainda estávamos na mesma situação de antes de receber o conselho do Deus Homem. De certa forma, perdemos uma semana. Desperdiçamos uma semana inteira .

— Certo… acho que devo vender isso. — Dizer as palavras em voz alta ajudou a fortalecer minha determinação.

Felizmente Ruijerd não estava por perto nesta noite, e Eris já estava debruçada em sua cama e com a barriga para fora. Seria problemático se ela pegasse um resfriado, então puxei um cobertor sobre seu corpo.

Não havia ninguém para me impedir. A casa de penhores que ficava em um daqueles becos ainda estaria aberta, certo? Afinal, as lojas que trabalhavam com coisas suspeitas sempre ficavam abertas à noite. Com meu cajado em uma das mãos, saí da pousada.

Só dei três passos para fora.

— Onde você está indo tão tarde da noite?

Ruijerd apareceu no meu caminho. Ele não estava no quarto, então pensei que estivesse em outro lugar. Mas claramente estive errado. Droga, o que ele estava tentando fazer, espiar as pessoas? Tinha que, de alguma forma, o enganar.

— Um, estava indo atrás de um pouco de diversão sexy e perigosa passeando pelos bordéis.

— E você precisa de seu cajado para fazer sexo com uma mulher?

— Uh… é um acessório para brincadeiras sexuais.

Silêncio. Eu sabia que isso não ia funcionar.

— Você pretende vendê-lo?

— Sim… — Seu palpite foi tão preciso que tive que confessar.

— Vou perguntar de novo. Você vai vender esse cajado?

— Sim. Este cajado é feito de materiais de qualidade realmente boa, então deve custar uma boa quantia.

— Eu não estou falando sobre isso. Ele não é importante para você? Assim como este pingente. — Ele ergueu o pingente de Roxy, pendurado em seu pescoço.

— Sim, é igualmente importante.

— Se problemas semelhantes acontecerem no futuro, também venderá este pingente?

Parei.

— Se for necessário.

Ele respirou fundo. Achei que fosse gritar, embora não fosse do tipo que levantava a voz, a menos que tivesse algo a ver com crianças. Ele não gritou. Em vez disso, soltou um suspiro enquanto falava.

— Eu nunca desistiria da minha lança, nem mesmo se estivesse encurralado.

— Isso é porque é uma lembrança do seu filho, certo?

— Não, porque é a personificação do espírito de um guerreiro.

O espírito de um guerreiro, hein? Essas eram palavras elegantes, mas não nos ajudariam a atravessar o oceano.

Havia tristeza nos olhos de Ruijerd.

— Antes você mencionou que tínhamos três opções.

— Mencionei — concordei.

— Não me lembro de nenhuma que mencionasse vender o seu cajado.

— Não mencionavam.

Parecia que ele iria me repreender por mentir. Não, nunca tive a intenção de mentir. Vender meu cajado fazia parte da opção de ataque frontal.

— Ainda não ganhei sua confiança?

— Confiança? Eu confio em você — falei.

— Então por que não discutiu isso comigo?

Desviei meus olhos com a pergunta. Eu sabia que ele não aprovaria meu plano. É por isso que não falei com ninguém sobre isso. Talvez pudessem dizer que isso era a prova de que eu realmente não confiava nele.

— Acredito que, no ano passado, consegui compreender o estado atual do mundo. Mesmo se completássemos as missões da guilda ou mergulhássemos em labirintos, nunca seríamos capazes de economizar duzentas moedas de minério de ferro. É muito dinheiro. —Nesta noite Ruijerd estava sendo extraordinariamente direto em seu discurso. Ele comeu algo estragado? — Você já sabia. É por isso que pensou em usar um contrabandista. Eu não teria pensado nisso. Mas essa é a única maneira de eu chegar ao Continente Millis. Nisso você está certo. Então, por que está tentando vender seu cajado?

A única coisa que descobri foi uma opção melhor, não a melhor das opções. A melhor opção, aquela em que tudo funcionaria perfeitamente, era muito difícil e provavelmente terminaria em fracasso. Então, eu não sabia a solução correta, assim como não sabia antes. Por isso também não estava convencido de que usar um contrabandista fosse realmente a opção certa.

— Mesmo se for a opção certa, não adianta criar um desacordo dentro do nosso grupo — falei.

— Então, acha que se confiarmos em um contrabandista, isso criará um desacordo?

— Sim. Porque de acordo com seus valores, um contrabandista nada mais é do que um criminoso.

Contrabandistas… Escravos estavam incluídos na lista de mercadorias com as quais trabalhavam. Além disso, um dos crimes mais populares neste mundo era o sequestro. Crianças eram fáceis de sequestrar. Simplificando, os contrabandistas eram cúmplices no sequestro e venda de crianças.

— Rudeus.

— Sim?

— É minha culpa que as coisas tenham chegado a esse ponto. Se fossem apenas vocês dois, você não teria que se preocupar em ganhar duzentas moedas de minério verde.

Por outro lado, se ele não estivesse conosco, poderíamos ter nos deparado com um desastre no meio do caminho. Ruijerd nos ajudou inúmeras vezes.

— Mesmo se você resolver o problema vendendo seu cajado, meu orgulho não pode aceitar isso.

Seu orgulho não mudava o que precisava ser feito.

— Se eu vender o cajado, vou conseguir o dinheiro. Então podemos seguir todas as regras, pagar e cruzar o mar. Ninguém precisa se arrepender. Ninguém precisa comprometer nada. Essa é a maneira mais inteligente de fazer isso, certo?

— Mas a vergonha que vou sentir porque você vendeu isso ainda vai permanecer. Eris também ficará incomodada. Não é esse o desacordo que você estava falando querer evitar?

Fiquei em silêncio enquanto Ruijerd olhava diretamente para mim.

— Procure um contrabandista. Vou fechar os olhos aos crimes deles. — Ele tinha uma expressão séria no rosto. Provavelmente decidiu não interferir, mesmo se encontrasse uma criança sequestrada, apenas para que eu não tivesse que vender meu cajado. Isso era tudo por minha causa. Ele estava sufocando seus próprios princípios e crenças por minha causa. Se sua determinação fosse tão forte, eu não poderia discutir.

— Se, durante a viagem, você vir algo desprezível de verdade e não conseguir se conter, por favor, me diga. Devemos ao menos ser capazes de ajudar alguma criança.

Se Ruijerd estivesse tão sério sobre isso, então desistiria do plano, por mais inteligente que achasse que fosse. Contaríamos com um contrabandista para cruzar o mar. Mas desta vez eu não iria dar atenção ao desnecessário. Se o Superd não pudesse se conter, nós os trairíamos sem hesitação e ajudaríamos quem precisasse. Usaríamos os criminosos conforme necessário e depois os jogaríamos de lado.

— Tudo bem, então vamos começar a procurar um contrabandista — falei.

— Sim. Vamos fazer isso.

— Receio que você verá muitas coisas desagradáveis ao longo do caminho, mas vamos superar isso juntos.

— Digo o mesmo.

Nós dois trocamos um aperto de mão firme.

Soltamos nossas mãos e estávamos prestes a voltar a dormir quando o rosto de Ruijerd ficou rígido. De repente, ele preparou a lança em suas mãos.

— Quem é? Que negócios tem aqui!

Tremi de surpresa com o quão repentinas e intimidantes suas ações foram, então segui seu olhar. Lá, na escuridão de um beco, estava a figura de um homem solitário com um sorriso amarelo no rosto barbudo. Ele estava com os braços levantados para demonstrar que não tinha más intenções. Havia uma espada pendurada em sua cintura. Parecia até ter saído direto de uma cena de combate de algum filme.

— Ooh, que assustador. E eu aqui pensei que tudo o que tinha ouvido sobre a raça Superd era um monte de merda, mas aqui está você, a coisa real. — Ele exibia um sorrisinho ao se aproximar. Eu já tinha visto esse cara em algum lugar antes. — Em primeiro lugar, poderia guardar essa arma de aparência perigosa? Não vim procurando por briga. Estava te procurando para agradecer.

— Tão tarde da noite?

— Ainda é um pouco cedo para ir para a terra dos sonhos, não acha?

Ah, agora lembrei. Era o homem com o qual me encontrei antes, o cara com quem esbarrei logo depois de ganhar meu Olho da Previsão. Nunca sonhei que ele apareceria para me agradecer no meio da noite. Com certeza era um bandido.

— Demorei um pouco para te encontrar. Ninguém sabia nada sobre um mago com a vista ruim. Mas quando ouvi os rumores sobre o Fim da Linha, soube que era você. Seu robe cinza e capacidade de lançar feitiços não verbais, bem como sua altura – baixo como um hobbit – e aquela maneira condescendente e educada de falar.

Mas eu não era um hobbit.

— Mestre do Canil Ruijerd. Você me ajudou há sete dias. E graças a você também encontrei aquele idiota. Quando o encontrei, ele estava com o queixo esmagado e desmaiado em um beco. Pobre tolo. No estado em que está, não conseguirá beber nada além de álcool por um tempo. Mas não é como se o sujeito bebesse alguma outra coisa.

Sério?

— Nah, é brincadeira. Há ao menos um curandeiro dentre meus amigos.

Bom. O homem com quem topei podia até ser um lolicon pervertido, mas pelo menos não estava com a boca aberta.

— Então é por isso que você veio me agradecer?

— Isso, e por usar sua magia para me empurrar para fora do caminho. Você me ajudou a não ter a cuca esmagada.

— Então isso é tudo. Bem, fico feliz por ouvir isso.

O homem falou com extrema gravidade:

— No meu ramo de trabalho, não há nada pior do que uma dívida de gratidão. Não importa o quão pequena seja, se você não pagar de volta, ela acabará por alcançá-lo e você pode ficar preso em uma situação em que terá de trair seus camaradas. É por isso que é melhor pagar de volta, e pagar logo. — Ele balançou a cabeça dramaticamente e apontou para mim. — Eu estava ouvindo, Mestre do Canil, e você está com sorte. Acontece que você topou com alguém que é membro de uma organização de contrabando.

Ruijerd e eu nos viramos para olhar um para o outro. Esse cara era membro de uma organização de contrabando? Mas que desenvolvimento conveniente. Eu teria suspeitado que ele estava mentindo, mas havia também o conselho do Deus Homem. Talvez o objetivo principal fosse que eu encontrasse esse homem.

Enquanto eu lutava para tomar uma decisão, o homem pareceu interpretar mal o nosso silêncio e estendeu a palma da mão em nossa direção.

— Dito isso, não tenha a ideia errada. Estou retribuindo um favor, mas contrabandear um Superd está em um nível completamente diferente. Não acho que minha vida valha apenas duzentos minérios verdes.

Sem saber o que ele quis dizer, virei meus olhos para o homem e o encorajei a continuar.

O sujeito sorriu.

— Imagino que o Fim da Linha seja muito forte, então quero um favor. Quer ouvir?

Ele iria retribuir um favor, mas também queria outro? Isso parecia um pouco estranho. Então, novamente, o homem me viu usando magia não verbal. Sua conversa sobre pagar uma dívida provavelmente era apenas uma distração; ele estava na verdade procurando alguém competente para fazer algum trabalho. Foi por isso que apareceu após ouvir nossa conversa.

Ruijerd lançou um olhar na minha direção. Afinal, negociar era meu trabalho.

— Depende dos detalhes do seu pedido.

— Nada muito difícil. — No entanto, as condições que ele listou foram um pouco inesperadas. — Veja, temos que armazenar os produtos contrabandeados antes de entregá-los e depois mantê-los seguros até que o contratante apareça para os buscar. Em um mês a partir de agora, vamos armazenar alguns bens antes de despachá-los. Quero que você liberte algumas pessoas. Se possível, gostaria que tomasse providências para que voltem para suas casas.

— Não é essa a definição exata de trair seus amigos?

— Nah, é para o bem deles. Há um misturado entre essas mercadorias… bem, escravos, como você os chama… que nos causará problemas no futuro. Vendê-los nos renderia uma enorme fortuna, mas isso também voltaria para nos assombrar daqui a um ano. — Ele encolheu os ombros e continuou: — Tentei dizer não, mas não é como se fossemos um grupo único e organizado. Eu estava procurando alguém capaz e calado que pudesse destruir seus planos. O que acha?

Mais uma vez, Ruijerd e eu trocamos olhares. Não estaríamos sequestrando, mas sim salvando pessoas. Se fosse esse o caso, eu não via problema nisso, mas…

— Por que você não pode fazer isso? Com sua espada e suas habilidades, deveria ser capaz, certo?

— Isso mesmo. Posso não parecer, mas sou o mais forte entre meus amigos. Ainda assim, Senhor Superd, não é como se eu quisesse trair meus camaradas. Tenho que considerar o que aconteceria depois, sabe. Mesmo se eu os salvasse, não teria mais para onde ir, então não faria sentido. Só porque você é o mais forte, não significa que está no topo da hierarquia.

Pela expressão no rosto de Ruijerd, era difícil dizer se entendia ou não o que o homem queria dizer. Ele parecia entender de forma lógica, mas não emocional.

— Rudeus, eu não me importo. Você decide.

Ruijerd acabara de dizer que fecharia os olhos a qualquer transgressão. Não importa o quão decadente o homem à nossa frente fosse, ele obedeceria se eu decidisse aceitar.

Considerei isso. Era tudo muito suspeito. Ainda assim, era um dos resultados do conselho do Deus Homem. Embora fosse verdade que eu não podia confiar no próprio deus, provavelmente era melhor não pensar demais nas coisas e seguir o fluxo, assim como fiz da última vez.

Com base no que ouvimos, não estaríamos cometendo nenhum crime. Havia uma boa chance de a pessoa que estávamos ajudando ser um monstro horrível, mas salvar alguém ainda era salvar alguém, independentemente de seu caráter.

Além disso, poderíamos até usar um contrabandista para nos conduzir através do oceano. Este não seria um mau negócio se pudéssemos cruzar sem quaisquer encargos ou taxas. Com tudo isso, foi fácil tomar uma decisão.

— Tudo bem, vamos fazer isso.

Ruijerd assentiu e o homem riu.

— Tudo bem então, vou confiar em você para fazer um bom trabalho. Meu nome é Gallus Cleaner.

— Rudeus Greyrat.

E foi então que trocamos nossos nomes e decidimos assumir a missão de uma organização de contrabando.

 


 

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