Agora, então… hora de um pequeno interrogatório.
Quem deveria questionar primeiro, o homem ou a mulher?
No momento, a mulher estava claramente apavorada e de olhos esbugalhados. Ela estava resmungando: “Mmm!” enquanto tentava desesperadamente se afastar de nós. Se eu tirasse sua mordaça, tinha a sensação de que começaria a balbuciar um monte de bobagens sem sentido. Parecia mais inteligente esperar até que se acalmasse um pouco.
Quanto ao homem-lagarto… Eu realmente não poderia dizer se sua expressão havia mudado muito, graças ao seu rosto reptiliano. Parecia que ficou um pouco pálido, mas também parecia que estava observando atentamente os arredores. Seu olhar voou do rosto de Eris para o de Ruijerd, depois para o meu. Tive a sensação de que sua mente estava completamente focada na questão de como poderia escapar disso com vida.
Era realmente lamentável que Ruijerd tivesse matado seu amigo. Um cara durão de pavio curto como aquele teria sido o osso mais fácil de quebrar, fácil, fácil.
Neste ponto, será que devíamos apenas tirar a mordaça dos dois ao mesmo tempo? Poderíamos levar um deles para uma sala diferente, interrogá-los separadamente e depois comparar suas respostas.
Sim, vale à pena tentar.
— Eris, fique aqui e vigie a mulher, certo?
— Entendi — respondeu com um aceno energético.
Puxei o homem-lagarto para que ficasse de pé e prontamente o levei para fora da sala. Uma vez que estávamos longe o suficiente no corredor, para que nossas vozes não chegassem à amiga dele, parei e removi sua mordaça, tomando cuidado para não dar qualquer chance de me morder.
— Tenho algumas perguntas e gostaria que você respondesse.
— Claro, claro! V-vou te dizer o que quiser saber! Só não me mate!
— É justo. Desde que você fale, vou te deixar ir.
— Eek!
Eu sorri brilhantemente na tentativa de tranquilizá-lo, mas por algum motivo o homem-lagarto recuou com medo. Talvez não fosse tão calculista quanto pensei a princípio.
— Por que há tantos animais enjaulados neste prédio?
— Nós… os p-pegamos na rua.
— Hmm! Isso é realmente impressionante! E exatamente onde os encontrou?
— Uh, bem, digo… — Os olhos do homem dispararam entre o rosto de Ruijerd e o meu. Ele estava realmente planejando continuar mentindo mesmo neste ponto? — P-passeando… pela cidade…
Certo, isso mal se qualificaria como mentira. O cara tinha um rosto de aparência inteligente, mas talvez não fosse tão esperto assim.
— Uau, fala sério! Ainda devem ter muitos animais espalhados por aí, hein? — Parei por um momento, então o encarei com meu olhar mais feroz. — Olha, amigo. Você acha que sou estúpido só porque sou criança?
— Não, não! N-nem um pouco!
Sim, isso realmente não funcionou. Com este corpo, qualquer tentativa de intimidação parecia meio ridícula. Afinal, eu tinha apenas dez anos. Ah, bom. Acho que vou ter que assustá-lo um pouco.
— Explosão.
Com um agudo estalar de dedos, disparei uma pequena explosão de fogo bem na frente do rosto do homem.
— Gaaah! Owch! — Queimou a pontinha do seu nariz. — C-cara, mas o que diabos você está fazendo?!
Naturalmente, optei por ignorar essa pergunta.
— Faça um favor a nós dois e pense um pouco mais nas suas respostas. Você não quer morrer, certo?
O homem-lagarto estremeceu, provavelmente se lembrando do momento em que Ruijerd assassinou seu parceiro.
Nesse ponto, finalmente me ocorreu que toda a nossa conversa lá atrás havia sido na língua do Deus Demônio. Eu havia tagarelado sobre Ruijerd e os Superds em uma língua que essas pessoas obviamente falavam.
Ah, bom. Se eles sabem, fazer o quê? Será melhor tentar usar isso a nosso favor.
— Isso aqui não é piada. Meu amigo está pintando o cabelo de azul, mas realmente é o Fim da Linha em pessoa. E também não sou tão jovem quanto pareço.
— S-sério…?
— Somos o mesmo tipo de pessoa que vocês, certo? Apenas seja honesto conosco. Talvez possamos até ajudar.
Talvez não, mas vamos ver o que acontece.
— M-mas… Eeek! — O homem-lagarto olhou para Ruijerd, apenas para desviar o olhar na mesma hora. Ele provavelmente recebeu um olhar desagradável.
— Vamos, apenas fale logo. O que vocês estavam fazendo aqui?
— Nós… Estávamos pegando os animais de estimação das pessoas…
— Não diga. Porquê?
— Esperávamos até que seus donos fizessem um pedido… então levávamos os animais de estimação de volta e agíamos como se tivéssemos acabado de encontrá-los…
— Hmm. Entendi. — Provavelmente era verdade. Eu não tinha nenhuma prova disso; mas simplesmente fazia sentido e parecia consistente de acordo com tudo o que tínhamos visto.
O pedido que nos trouxe ao local foi feito por uma jovem inocente, mas provavelmente deixaria uma senhora rica desesperada para encontrar Christine, seu amorzinho. Embora as tarefas da guilda parecessem pagar dentro de uma determinada faixa dependendo de sua dificuldade, talvez clientes assim às vezes oferecessem bônus especiais. Com um pouco de sorte, poderia viver bem apenas “encontrando” animais de estimação o tempo todo.
— O que você faz se o proprietário nunca fizer uma solicitação?
— Depois de um tempo, simplesmente os soltamos…
— Hmm. Por que não os vende para um pet shop e levanta algum lucro adicional?
— Hah! Seria uma ótima maneira para sermos pegos, garoto.
No instante em que o homem-lagarto bufou zombeteiramente para mim, Ruijerd bateu no chão com a coronha de sua lança. Nosso cativo recuou com o som.
Que lindo! Sério, lindo! Só quando o cara parecia estar ficando convencido, foi lembrado de quem estava aqui! Você é um interrogador nato!
— Parece que você já se divertiu um bom tanto, hein?
— S-sim, muito.
— Eu, porém, ainda teria transformado os animais remanescentes em dinheiro. Você sempre pode esquartejá-los e vender a carne para um açougueiro, certo? Não haveria qualquer risco real de ser pego se fizesse isso. — Digo, as pessoas pareciam gostar de comer carne de monstro por aqui. Provavelmente não veriam problemas ao comprar a carne misteriosa de alguns animais diversos.
Ah. Agora, o homem-lagarto está olhando para mim como se eu fosse uma espécie de assassino em série. Vamos lá! As pessoas comem Grandes Tartarugas por aqui, não é? Qual seria a diferença para uma tartaruga de estimação?
Me virei para olhar para Ruijerd, esperando por uma confirmação de que eu não estava louco.
— Rudeus — disse ele solenemente —, você pretende se livrar dessas pessoas da mesma maneira?
Que pergunta alarmante.
Pelo menos a reação de nosso prisioneiro começou a fazer sentido. Ele provavelmente estava se perguntando algo semelhante.
— Hmm, parece uma boa ideia… — O rosto do homem-lagarto se contraiu enquanto eu sorria ameaçadoramente para ele. Ah, agora essa expressão pude reconhecer. Isso realmente me acordou. Na minha outra vida, as pessoas costumavam me olhar assim o tempo todo.
— Rudeus…
Ruijerd, por favor. Você não tem que fazer buracos nas minhas costas assim. Só estou brincando, tá? Eu na verdade não faria isso.
— Bem, nós só viemos aqui para encontrar um gato em específico. Não é como se fôssemos um bando de vigilantes errantes ou algo assim. Podemos apenas ir embora e fingir que não vimos nada.
— S-Sério?
— O único problema é que vocês dois sabem que nosso Ruijerd aqui é realmente um Superd. Hmm. O que faremos a respeito disso?
— E-eu não vou contar para ninguém! Inferno, não é como se alguém fosse acreditar em mim se dissesse que o Fim da Linha está vagando pela cidade!
— Não acho que seja verdade. Rumores ruins sempre se espalham como vento. — De qualquer forma, seria melhor assumir a existência da possibilidade. Especialmente quando era um boato que não queria ver sendo espalhado. — Do meu ponto de vista, a coisa mais fácil seria matar todos vocês e enterrar seus corpos em algum lugar, sabe?
— V-vamos lá, cara, não fale assim… Farei o que você quiser, certo? Só não me mate…
Essas eram as palavras que eu esperava ouvir. Era hora de acabar com a fase de intimidação.
Hmm. O que devo fazer? Essas pessoas eram sequestradoras de mascotes, o que os tornava criminosas, também conhecidos como “caras maus”. Mas eram claramente vigaristas sem nenhuma conexão com o submundo local. Deixá-los soltos por aí não representaria nenhum perigo verdadeiro.
Dito isso, viram Ruijerd matar um homem, então poderiam eventualmente atrapalhar nosso plano de torná-lo um herói local. Eu realmente preferiria não ter esse risco pairando sobre nossas cabeças.
Assassiná-los a sangue frio estava fora de questão. Digo, eu tinha acabado de dar uma palestra sobre a mesma coisa para Ruijerd. Talvez pudesse entregá-los para a guarda da cidade ou algo assim?
Não. Tudo o que fizeram foi roubar um monte de animais de estimação, e esse não era o mais grave dos crimes. Os policiais poderiam soltá-los com uma multa alta ou algo assim, e eles voltariam às ruas, possivelmente guardando rancor. Não importa o quão submissos estivessem sendo agora, uma vez que meu pé estivesse fora de sua garganta, todas as apostas seriam perdidas.
Para ser sincero, queria mantê-los em algum lugar onde pudesse ficar de olho neles… e periodicamente ameaçá-los de novo. Pelo menos até saber que não nos causariam problemas. Mas isso também viria com alguns riscos. Se continuássemos nos apoiando neles, seu ressentimento poderia acabar virando ódio. Afinal, já tínhamos matado um de seus amigos. Por enquanto, isso estava alimentando seu medo de nós, mas algum dia poderia levá-los a buscar uma vingança.
Não podíamos matá-los… e não podíamos entregá-los aos policiais.
Então que tal os controlar? Isso os manteria por perto e poderiam nos ajudar a ganhar dinheiro e subir nos ranks. Faríamos com que reunissem informações pela cidade e executassem tarefas aleatórias de acordo com nossas ordens. Inferno, poderíamos até mesmo assumir o controle de sua iniciativa de rapto de animais.
Claro, Ruijerd provavelmente não gostaria nada desse plano. Ele já havia classificado essas pessoas como vilãs, más o suficiente para que merecessem morrer. De qualquer forma, duvido que o homem quisesse trabalhar com eles.
Hmm. Vamos comparar o risco e o retorno de todas as nossas opções:
1. Assassiná-los
RISCO: Ruijerd ficará extremamente confuso. Podemos adquirir o mau hábito de matar para sairmos de problemas.
RETORNO: Previne quaisquer futuros problemas em potencial. Podemos pegar o dinheiro que estiverem carregando.
2. Entregá-los à guarda da cidade
RISCO: Podem guardar rancor.
RETORNO: Um pouco de boas relações públicas, quem sabe?
3. Deixá-los em paz
RISCO: Podem guardar rancor.
RETORNO: Nada em particular.
4. Controlá-los
RISCO: Não vai cair bem para o meu companheiro. As pessoas podem pensar que estamos envolvidos em algum negócio duvidoso.
RETORNO: Maneira fácil de ficar de olho neles. Fornece alguma ajuda extra.
A primeira opção era fácil de descartar. Parecia que estaríamos seguindo pelo rumo errado. Eu não era um idiota de coração mole nem nada, mas matar pessoas a torto e a direito seria apenas tolice. Tive a sensação de que no final das contas isso voltaria para nos perturbar.
Os números dois e três eram opções de baixo risco e baixo retorno. Mesmo que nossos novos amigos tentassem se vingar de nós de alguma forma, Ruijerd poderia rastreá-los facilmente… mas, no final, de qualquer forma, provavelmente acabaríamos matando-os. Isso seria um péssimo resultado e um esforço em vão.
A última opção parecia ser a melhor de todas. Isso poderia arruinar a impressão que Ruijerd tinha de mim, mas… deixando todo o resto de lado, também tínhamos, no momento, necessidade urgente de conseguir dinheiro.
Sim, é isso mesmo. No momento, o dinheiro precisa ser nossa prioridade, não? E alguma ajuda extra dever tornar tudo muito mais fácil.
Ajudar com seu esquema de rapto de animais era uma opção, mas também podíamos adicioná-los ao nosso grupo e depois nos dividir para lidar com vários empregos de rank F de uma só vez. Isso nos faria subir na classificação mais rápido, e isso por si só já seria um benefício enorme. Uma vez que pudéssemos assumir as tarefas de rank C, nossas vidas ficariam muito mais fáceis.
Hm…? Espera aí.
— Pensando bem, se vocês estavam aceitando trabalhos de busca por animais de estimação perdidos, isso não os tornaria aventureiros?
— S-sim, isso mesmo.
Ah, ei! Nós também! Mas que coincidência.
— Qual é a classificação do seu grupo?
— Uh, D…
Eles não eram apenas aventureiros, como também estavam alguns degraus acima de nós.
— Então vocês estão pegando tarefas de rank E, mesmo sendo de rank D?
— Sim. Na verdade, já poderíamos estar pegando as de rank C, mas o negócio de sequestro de animais rende um dinheiro fixo, sabe?
Depois de chegar ao rank C, não teria mais permissão para assumir as tarefas do rank E. Talvez algumas pessoas ficassem no D de propósito, para que pudessem continuar trabalhando em tarefas mais simples e seguras… ou para que pudessem continuar executando um golpe, como neste caso em específico. Se estivéssemos no lugar deles, saltaríamos para o C na mesma hora e começaríamos a pegar missões de rank B, para matar monstros, mas talvez alguns aventureiros preferissem evitar tantos combates.
Hm. Talvez pudéssemos pedir que esses dois pegassem tarefas de rank C e depois os ajudássemos com a execução? Mesmo se dividíssemos o dinheiro igualmente, isso deveria resolver nossa crise de monetária.
Não, não… nós nunca subiríamos nos ranks se fizéssemos isso.
— Ah… — De repente, uma lâmpada acendeu na minha cabeça. Acabei encontrando a solução perfeita. — Ei, vocês dois conseguem continuar fazendo este trabalho mesmo sem o cara que morreu?
— N-nah, vamos apenas parar com isso e nos tornar legítimos…
— Seja honesto, por favor.
— Sim, conseguimos! Aquele cara nos viu pegando um animal e nos chantageou para ficar com uma parte!
Uau, sério? Acho que tivemos sorte…
Era uma chance em três, mas Ruijerd aparentemente matou o cara certo. Talvez o Deus Homem estivesse olhando por nós ou algo assim.
— Tudo bem então. Por que não viramos sócios?
— Você quer unir forças com eles?! — Disparou Ruijerd, atrás de mim. — Isso não pode ser sério!
— Ruijerd, você pode ficar quieto por um minuto, por favor?
— O quê?!
— Não se preocupe. Eu sei o que estou fazendo.
Me virei por um momento. Conforme esperado, Ruijerd não parecia nada satisfeito. A ideia aparentava ser boa, mas talvez precisasse ser reconsiderada. Era tão… perfeita. Poderíamos ganhar dinheiro, aumentar nosso rank e trabalhar na reputação de Ruijerd, tudo ao mesmo tempo.
Sim. A menos que eu estivesse negligenciando algo, não havia nada além de vantagens.
Voltei-me para o homem-lagarto e olhei em seus olhos.
— Mais cedo você disse que faria qualquer coisa que eu quisesse, certo?
— C-claro. Posso te d-dar dinheiro, se quiser. Só não nos mate…
— Não preciso do seu dinheiro. Mas quero que você eleve seu rank na guilda.
— Uh, o quê?
Certo, preciso explicar calma e lentamente.
— Olhe. Todos em nosso grupo são especialistas em combate, como você provavelmente já percebeu. Podemos procurar mascotes perdidos se precisarmos, mas seria muito mais eficiente para nós sairmos em tarefas de caça a monstros.
— Sim, eu aposto… E-então, er… por que vocês estão em um trabalho de busca por animais agora mesmo?
— É uma longa história, mas acabamos de nos tornar aventureiros.
— Uh, c-certo…
Parecia que estávamos começando a fugir do assunto.
— Enfim! O que quero dizer é que queremos trabalhar em combate, mas nosso rank é muito baixo. Vocês, por outro lado, não são realmente capazes de matar monstros. Me entende?
— S-sim…
— Bem, aqui está uma solução simples e agradável: Vamos começar a trocar serviços.
O homem-lagarto inclinou a cabeça para o lado, perplexo.
— Como assim?
— Vocês dois vão assumir missões de caça a monstros, de rank C ou B, na guilda. Vamos pegar mais empregos de busca por animais perdidos, para que possamos subir de rank. Cuidaremos de seus trabalhos por vocês e vocês cuidarão de nossos trabalhos por nós.
— E-espera aí, o quê? A guilda não vai deixar você entregar nosso trabalho por nós…
— Não seja idiota. O grupo que assumir a tarefa também será o único a se apresentar assim que tudo estiver concluído.
— Ah…
Eu podia ver a compreensão surgindo nos olhos do homem-lagarto.
O conceito era realmente simples:
FIM DA LINHA: Aceita serviços de rank E; executa trabalhos de rank B
Reporta-se a empregos de rank E e recebe as recompensas
SEU GRUPO: Aceita serviços de rank B; executa trabalhos de rank E
Reporta-se a empregos de rank B e recebe as recompensas
Depois, é claro, nos encontraríamos e trocaríamos as recompensas recebidas.
Poderia haver alguns problemas com os termos de regulamento da guilda, mas ouvi que aventureiros de rank mais alto às vezes ajudavam novatos em suas tarefas. Estaríamos meio que apenas fazendo o contrário disso. Provavelmente não seria contra o regulamento.
— Queremos dinheiro e um rank superior. Vocês querem ter uma vida boa e estável. Parece que podemos ajudar uns aos outros, certo? Vamos até dar a você uma parte das recompensas de rank B, como uma comissão, se quiser.
— Uma c-comissão, hein…? — O homem-lagarto engoliu em seco.
Empregos de rank B pagavam bem. Essa era a cenoura que balançaríamos na frente deles; não podíamos confiar inteiramente na vara, ou eventualmente nos trairiam. Nosso acordo tinha que ser um bom negócio para ambas as partes.
— Entretanto, há uma condição.
— Q-qual?
— Você precisa espalhar a palavra sobre o Fim da Linha por toda a cidade.
— O quê…? Uh, acho que todo mundo já conhece o nome…
Claro que conheciam.
— Sim, mas queremos que pensem que ele é um cara legal. Conte a todos sobre nossas boas ações, mesmo se tiver que inventar coisas. Você pode até se chamar de “Fim da Linha” enquanto estiver lidando com serviços aleatórios de rank F.
— Existe… algum motivo para tudo isso?
Certamente havia, mas… se déssemos uma longa explicação para esse cara, falando sobre o passado trágico de Ruijerd, ele a engoliria?
Não, provavelmente não. O homem tinha acabado de testemunhar o Superd matando um membro de seu grupo a sangue frio. Não parecia que os dois tinham sido muito amigáveis, mas sua impressão do Superd provavelmente já estava, neste momento, gravada em pedra.
— Há algumas coisas que é melhor você não saber, amigo.
— C-certo… Tá, tanto faz.
Acabei partindo com uma resposta carente e meia-boca, mas o cara aceitou de imediato.
— Basicamente, só quer que a gente fale sobre vocês, certo?
— Exatamente. E certifique-se de não usar nosso nome de uma forma que não gostaríamos, é claro. Lembre-se de que temos um cara que pode rastreá-lo até aos confins da terra.
O homem-lagarto olhou com medo para Ruijerd e acenou com a cabeça várias vezes.
— Tudo bem então — falei. — Estou ansioso para trabalhar com você, amigo… pelo menos até conseguirmos um rank decente.
— C-claro. Certo.
— Vamos nos encontrar amanhã de manhã na guilda. Não se atrase. — Com um sorriso, bati nas costas do homem-lagarto.
Só para garantir, também interrogamos a mulher, para ver se sua história se alinhava com a de seu amigo.
Segundo ela, os dois eram especialistas em animais perdidos antes de virarem criminosos. Esse tinha sido seu ganha-pão por algum tempo. Um dia, se preveniram ao capturar um animal que claramente se tratava de um mascote perdido, o que os fez pensar em como seu trabalho seria mais fácil se pudessem pegar seus alvos antes que os pedidos fossem feitos. As coisas pioraram com o tempo e, eventualmente, se viram no negócio de sequestro de animais de estimação.
A princípio, era uma operação em pequena escala, mas então o Homem A os pegou em flagrante no meio de um sequestro. Ele forçou sua entrada no grupo, operando como um “guarda-costas”, e começou a agir como se fosse o líder e logo ampliou seu ramo de atividades. Além de tomar uma grande parte dos lucros para si mesmo, também coagiu a mulher a dormir com ele como parte de sua “taxa”. Como resultado, não ficaram muito chateados conosco por matá-lo. Principalmente a mulher.
Realmente tivemos sorte.
A propósito, o nome do homem-lagarto era Jalil, e a dama-inseto era Vizquel.
Depois de uma rápida reunião em grupo, finalmente tirei suas algemas.
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Quando saímos do prédio com o gato da nossa cliente, Ruijerd olhou para mim e quebrou o silêncio.
— Rudeus! O que significa isso?!
— O que significa… exatamente o quê?
Com isso, ele me agarrou pelo colarinho, levantando-me alguns centímetros do chão.
— Não se faça de idiota! Essas pessoas são vilãs! Você realmente espera que eu junte forças com elas?!
Certo. O homem estava genuinamente furioso. Seu rosto ficou… assustador de se olhar. Eu não pude deixar de lembrar do fato de que ele casualmente matou um homem há pouco tempo.
— B-bem, concordo, não são ótimas pessoas. Mas são apenas pequenos vigaristas… não estavam fazendo nada tão ruim.
— Um vilão é um vilão! A escala de sua maldade é irrelevante!
Eu sabia que isso ia acontecer, não sabia? Por algum motivo, minhas pernas ainda tremiam. Minha voz estava vacilando e havia pequenas lágrimas se formando no canto dos meus olhos.
— M-mas olha, isso nos permite matar dois coelhos com uma cajadada…
— E de que isso importa?!
Ruijerd realmente não estava aceitando isso, certo? Isso não era bom. Eu estava com muito medo para pensar direito. O bater dos meus dentes ecoou alto na minha cabeça.
— Vilões vão traí-lo no final! — gritou Ruijerd enquanto apertava seus olhos.
Era verdade. Eu levei essa possibilidade em consideração. Mas, da perspectiva deles, o plano parecia oferecer tantos benefícios. Provavelmente não seria um problema a curto prazo.
— No que estava pensando? Por que devemos conspirar com essas pessoas?!
Agora, essa pergunta… me parou.
O homem tinha razão. Não era como se tivéssemos que unir forças com aqueles dois. Sempre poderíamos fazer as coisas em um ritmo mais tranquilo – assumindo tarefas da guilda quando pudéssemos, caçando fora da cidade quando precisássemos de dinheiro e lentamente subindo nos ranks. Essa era uma alternativa perfeitamente viável. E não envolveria confiar em algumas pessoas sombrias. Haveria um pouco de perda de tempo, mas não seria o fim do mundo.
Talvez tenha sido uma má ideia. Devíamos desistir, voltar e matar aqueles dois? Resolver tudo com um bom banho de sangue?
Eu estava certo nisso? Já não tinha mais tanta certeza.
— Ruijerd!
Nesse ponto, meu debate interno foi interrompido por um grito feroz.
O corpo de Ruijerd balançou uma vez, depois duas.
— Tire suas mãos de Rudeus!
Eris estava chutando-o nas costas… várias vezes.
— Afinal, do que você está reclamando?!
Sua voz estava alta o suficiente para fazer meus ouvidos zumbirem. Alguns transeuntes olharam em nossa direção, se perguntando qual era o motivo para tanto barulho.
— Não gosto da ideia de unir forças com dois vilões.
— Oh, boo-hoo! E daí se não gosta? Ele está fazendo isso por você, estúpido! E por mim!
Ruijerd arregalou os olhos e me soltou no chão. Eris imediatamente parou de chutá-lo, mas ainda não tinha parado com os gritos.
— Em primeiro lugar, qual é o problema por terem sequestrado alguns animais?!
— Você me entendeu mal. O tipo de pessoa que chutaria uma criança não pode ser…
— Ah, vamos lá! Eu chuto as pessoas o tempo todo!
— Ainda assim, não se pode confiar em malfeitores…
— Você mesmo fez algumas coisas más no passado, não foi?!
Bem, agora ela o deixou sem palavras.
Senhorita Eris… Estou muito grato por você estar me defendendo aqui, mas talvez não devêssemos cutucar a ferida dele com muita força…
— Rudeus é muito inteligente, entendeu?! Ele vai fazer tudo dar certo! Então apenas… cale a boca e obedeça! E não comece a choramingar toda vez que se sentir um pouco infeliz!
— Mas…
— Se você vai reclamar de tudo, vá embora agora mesmo! Rudeus e eu podemos nos virar sozinhos!
Ruijerd vacilou, surpreso com a emoção crua no rosto de Eris.
— Muito bem… Sinto muito, Rudeus. — Ele se desculpou comigo depois de um momento. O homem foi dominado pela veemência de Eris. Mas isso não significa que estava realmente convencido, é claro.
— E-está tudo bem, Ruijerd…
A barra que eu precisava limpar tinha ficado muito maior. Depois de tudo isso, não podia admitir sequer que eu também ficasse inseguro.
Juntar-se àqueles dois podia ter sido um movimento precipitado. Mas agora que chegou a esse ponto, teria que me manter firme, não importa o quão ansioso pudesse estar.
No começo achei que era uma ideia brilhante. Só teria que confiar em mim mesmo.
Não era como se houvesse muitas pessoas em quem eu tivesse menos fé…
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Quando devolvemos seu gato, Meicel ficou radiante. Ela veio correndo no momento em que pôs os olhos em nós, abraçou Mii e começou a chorar de alegria.
A garota obviamente adorava seu animal de estimação. O gato era surpreendentemente tolerante diante do afeto dela… já que era uma pantera.
— Obrigada! Obrigada! Uhm, aqui está! — Depois de um tempo, nossa cliente entregou um cartãozinho metálico para Ruijerd. Havia algo que parecia um número de serviço nele, junto com a palavra “Completo”.
— O que é isso? — perguntei.
— Você não sabe? — perguntou a garota, incrédula. — Vocês não são aventureiros?
Bem, acho que vou deixar você me contar, se insiste! Harumph!
— S-se importaria em explicar, senhorita?
— Tá! Quando você levar isso para a Guilda dos Aventureiros, eles te darão dinheiro. Só o cartão não serve! Mas se você colocar o dedo na parte em branco e dizer “tarefa concluída”, ficará tudo certo!
Uma tradução literal seria: “Se colocar o dedo no cartão e falar as palavras tarefa concluída, o cartão indicará que o trabalho foi concluído”. Hmm. Isso era uma prevenção contra a possibilidade de alguém roubar o cartão? Mas e se eu mesmo fizesse a parte da “tarefa concluída”? Funcionaria? Em caso afirmativo, poderia simplesmente trocar os cartões e transformá-los em dinheiro fácil…
Naaah. Mesmo se funcionasse, a Guilda em algum momento me descobriria. E provavelmente tinham algumas medidas estabelecidas para evitar esse tipo de coisa.
— Uhm… parece que este já diz “Completo”. — Normalmente, se esperaria até que o trabalho estivesse realmente feito para concluir tudo, certo?
— Sim! Eu sabia que Ruijerd iria encontrar Mii, então fiz isso com antecedência!
Pela deusa. Que fofa! A confiança de uma criança é uma coisa tão linda!
Agachando-se, Ruijerd deu um tapinha gentil na cabeça dela.
— Entendo… Você teve fé em mim, não é? Obrigado, Meicel.
— Sim! Eu não sabia que existiam demônios bons, mas agora sei!
Por um momento, o rosto de Ruijerd pareceu congelar. Eu sei como você se sente, cara, mas é exatamente essa a sua reputação atual.
— Então tudo certo, senhorita. Não se esqueça do Fim da Linha e do seu amigo Ruijerd, viu?
— Sim! Venham me ajudar se ela desaparecer de novo!
As palavras finais e alegres da garota fizeram meu peito doer um pouco.
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Quando nós três voltamos para a Guilda dos Aventureiros, já estava anoitecendo. Se cada trabalho demorasse tanto, acabaríamos falidos em pouco tempo.
— Ei, mas que diabos? Eles voltaram!
— Uau! Você já encontrou aquele bichinho perdido, garoto?!
No momento em que entramos no prédio, o mesmo Cara de Cavalo voltou a nos incitar. Ele era fácil de se reconhecer, já que sua cabeça de cavalo contrastava estranhamente com seu corpo de minotauro. O sujeito ficava dentro da guilda o dia todo ou o quê?
— Ah, se não é o homem com cabeça de cavalo desta manhã… Você tirou uma folga do trabalho hoje? — Não era muito divertido lidar com esse cara, sério. Ele me lembrava muito alguém que me intimidou no passado. Eles faziam um enorme show enquanto atentavam seu alvo, basicamente convidando todos para participar.
— Uh… o quê? Garoto, parece que de repente você ficou muito educado. É até meio assustador…
Opa! Esqueci de adotar minha outra personalidade. Acho que vou só seguir em frente…
— Você é um aventureiro veterano e foi bom o suficiente para nos dar alguns conselhos. Por que não demonstraria respeito ao falar com você?
— O-oh… Claro. Acho que você tem razão. — O Cara de Cavalo ficou um pouco tímido após isso. Mas que perdedor.
— Graças a você ter nos apontado a direção certa, nosso primeiro trabalho correu sem problemas.
— Como é que é?
Abanei nosso cartão de tarefas na frente dele. O homem parecia genuinamente impressionado.
— Bem, mas isso não foi nada! É muito difícil rastrear um único animal de estimação em uma cidade tão grande, sabe?
Na verdade, tenho certeza de que normalmente seria. Ainda mais quando o animal de estimação em questão foi realmente sequestrado.
— Mas, ei, não é grande coisa quando você tem Ruijerd, o Fim da Linha, do seu lado.
— Droga. Para um enganador, até que esse cara não é tão ruim!
— Toma essa, Cara de Cavalo! Ele é a coisa real!
Com um pequeno deslize de personalidade, me afastei em direção aos balcões de recepção. Lá, entreguei o cartão de tarefa e nossos três cartões de aventureiro à balconista; depois de um tempo, ela devolveu nossos cartões, junto com uma única moeda grosseira do tamanho de uma moeda de 100 ienes.
Quando voltei para perto dos outros, encontrei o Cara de Cavalo e Ruijerd conversando.
— Ei, afinal de contas, como encontraram aquela coisa? Apenas para referência.
— Da mesma forma que rastreio a presa em uma caça.
— Aah. Uma caça, hein? Qual é o nome do seu povo mesmo?
— Superds…
— Hah. Claro, claro. Sei como é, cara. Isso que você está usando diz tudo. — O Cara de Cavalo estava olhando para o pingente de Roxy, agora pendurado à mostra em volta do pescoço de Ruijerd. — Eu sou Nokopara. Rank C.
— Ruijerd, Rank F.
— Sim, eu sei o seu rank, cara! Ah, bom. Se quiser saber alguma coisa, pode ficar à vontade para perguntar. Eu não sou mesquinho quando se trata de ajudar os novatos! Gahahah!
Apesar dos pesares, parecia ser um bate-papo bem-humorado. Foi bom ver o ser desprezado do nosso grupo falando com um estranho, mas eu também estava muito preocupado com a possibilidade de ele acabar falando muito… ou de repente pirando e começando a atacar. Torcia para que crianças não acabassem se tornando um assunto.
Eris, sentada ao lado de Ruijerd, também era um motivo para preocupação. Eu tinha notado pessoas aparecendo para falar com ela de vez em quando, mas como não falava a língua local, nunca respondia.
— Uau, essa é uma bela espada. Onde você conseguiu isso?
E ela ficava em silêncio.
— Ei! Vamos lá! Não me ignore! — Uma guerreira parecia estar ficando particularmente irritada com o silêncio.
— Senhorita, posso ajudar?
Eu me coloquei entre elas para intervir e a mulher apenas resmungou: “Ah, esqueça”, e saiu andando.
Nesse ponto, Nokopara voltou sua atenção para mim.
— Ei, você aí, garoto. Conseguiu pegar sua recompensa direitinho?
— Aham. Uma moeda de sucata! É o primeiro dinheiro que conseguimos desde que formamos o grupo!
— Haha! Cara, eles realmente só dão migalhas para os iniciantes.
— Vamos. Isso não é maneira de falar sobre as economias de uma pobre criança.
— Continuam sendo só migalhas, garoto.
— Apenas no sentido monetário. — Aquela doce menina tinha economizado sua mesada pelo bem de seu amado gatinho. Quando mantinha esse fato em mente, mesmo uma única moeda grosseira como essa não parecia tão insignificante, certo? — Você obviamente não entende o valor real desta recompensa. Por que não vai embora, hein? Xô, xô.
— Nossa cara, quanta hostilidade. Tudo bem então. Continue assim, garoto! — Com um aceno de mão, Nokopara vagou para uma parte diferente do lugar. Afinal de contas, o que diabos ele fazia para viver?
Em todo caso, tínhamos conseguido concluir com sucesso nosso primeiro trabalho como aventureiros.
Ficou confuso
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