Mais uma vez, estava sonhando. Desta vez, estava assistindo um grupo de anjos descendo dos céus. Parecia algo bastante agradável, em comparação com meus pesadelos mais recentes.
Então percebi que algumas partes deles estavam escondidas por mosaicos pixelados. À medida que se aproximavam, riam de mim juntos, e sorrisos assustadores apareciam em seus rostos.
No instante em que percebi que não seria um bom sonho, acordei.
— Outro pesadelo… — Tive muitos deles recentemente.
Sentei-me devagar e estudei todo o campo de terra, árido e rochoso, à minha frente. Era o Continente Demônio – uma parte do supercontinente que foi destruído em uma guerra entre humanos e demônios, lar de várias raças de demônios que uma vez se uniram graças ao Deus Demônio Laplace.
Sua área tinha quase metade do tamanho do Continente Central, mas era um lugar muito mais hostil. Para começar, havia muito pouca vegetação. O solo era marcado por várias erosões e fissuras; as mudanças na elevação eram abruptas, com enormes encostas rochosas projetando-se como degraus de uma escada gigante. Os viajantes costumavam encontrar os caminhos bloqueados por pilhas de pedras maiores do que um homem. O lugar era basicamente um labirinto.
Além do mais, suas densas concentrações naturais de energia mágica indicavam que o local seria infestado por inúmeros monstros poderosos. Pelo que li, para chegar de uma ponta a outra levaria mais tempo do que uma jornada por todo o Continente Central. Tínhamos um percurso muito complicado pela frente, e eu não tinha certeza de como dar a notícia a Eris.
Mas quando percebi, encontrei-a olhando para a paisagem desolada com entusiasmo brilhando em seus olhos.
— Uhm, Eris. Parece que estamos no Continente Demônio, então…
— O Continente Demônio! Isso vai ser uma aventura e tanto!
Aquilo foi alegria em sua voz? Bem, melhor assim. Não há razão para ser um estraga prazeres e falar sobre o quanto isso vai ser perigoso.
— Vamos andando — disse Ruijerd. — Sigam-me.
Juntos, nós três começamos a cruzar as planícies áridas.
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Pelo visto, Eris tinha feito amizade com Ruijerd enquanto eu dormia. Ela tagarelava com ele enquanto caminhávamos, descrevendo sua vida em casa, suas lições de magia e a prática com espada, tudo demonstrando enorme entusiasmo. Ruijerd não contribuiu muito com a conversa, mas oferecia expressões educadas de interesse sempre que parecia apropriado.
Era difícil de acreditar que Eris esteve completamente apavorada com o homem na noite anterior. Nesse momento, não parecia nada intimidada. Na verdade, até fez alguns comentários impróprios e que soaram rudes. Isso me deixou mais do que ansioso, mas Ruijerd não parecia se ofender.
Quem foi que disse que os Superds tinham um temperamento terrível? Eles estavam claramente se dando bem.
Claro, Eris não era mais tão propensa a, do nada, insultar as pessoas como costumava fazer. Edna e eu tínhamos basicamente ceifado esse seu hábito, então ela provavelmente não iria deixar nada de terrível escapar – ou era nisso que eu queria acreditar. Ainda assim, era difícil saber o que enfureceria um estranho de uma cultura desconhecida. Realmente esperava que ela tomasse cuidado com o que diria.
Além disso, Eris tendia a ficar furiosa muito facilmente, então… imaginava que Ruijerd poderia ser parecido.
Enquanto esse pensamento corria minha mente, ouvi a voz de Eris ficando mais aguda e irritada.
— Então Rudeus não é seu irmão mais velho?
— É claro que não!
— Mas vocês dois têm o nome Greyrat. É um nome de família, não é?
— Isso não o torna meu irmão!
— Ele nasceu de uma mãe diferente? Ou foi o pai?
— Não, não. Não é nada disso.
— Não sei como os humanos tratam essas coisas, mas você deveria ser grata por tê-lo.
— Olha, você acabou de entender tudo errado!
— Independentemente disso, seja grata por tê-lo.
— Ugh… — Ruijerd falou com firmeza, e Eris hesitou por um momento antes de finalmente ceder. — C-claro que sou grata…
Claro, não era como se fôssemos irmãos. Além disso, ela era mais velha do que eu.
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O Continente Demônio fazia jus à sua reputação de ter um terreno íngreme e rochoso. O solo também era duro, seco e arenoso — era mais areia do que terra. Dificilmente alguém poderia culpar os demônios por iniciarem uma guerra para sair deste lugar horrível. Quase não havia plantas. De vez em quando, eu via uma coisa rochosa que parecia uma espécie de cacto, mas isso era tudo.
— Hm. Esperem um momento aqui. Não saiam deste lugar, entenderam?
Isso acontecia mais ou menos a cada dez minutos, Ruijerd mandava que parássemos e depois saía correndo. Desta vez, ele facilmente pulou sobre um monte de pedras enormes, rapidamente desaparecendo de vista. As habilidades físicas do homem eram inacreditáveis. Sempre pensei em Ghislaine como alguém quase sobre-humano, mas se colocasse sua agilidade bruta em números, Ruijerd poderia facilmente passar por cima disso.
Menos de cinco minutos após sua abrupta partida, ele voltou saltando em nossa direção.
— Desculpem-me por deixá-los esperando. Vamos continuar.
Ruijerd não deu nenhuma explicação, mas havia um leve cheiro de sangue na ponta de seu tridente. Pelo visto, ele fatiou algum tipo de monstro que poderia aparecer no nosso caminho. Pelo que lembrei do dicionário de Roxy, aquela coisa parecida com uma joia em sua cabeça funcionava como um tipo de radar. Provavelmente estava usando aquilo para identificar potenciais ameaças antes que se aproximassem demais, e então as eliminava antes que elas soubessem o que estava acontecendo.
— Certo, olha! Por que você continua fugindo toda hora? — perguntou Eris, direta como sempre.
— Estou lidando com os monstros mais à frente — respondeu Ruijerd concisamente. Separando o cabelo para os dois lados, mostrou para Eris o cristal vermelho brilhante no meio da sua testa. Ela se encolheu, surpresa, por apenas um momento; mas a “joia” era, na verdade, muito bonita, e logo a garota já estava olhando para aquilo com evidente curiosidade.
— Ah, certo. Isso deve ser útil!
— Suponho que sim, mas às vezes gostaria de não ter ela.
— Bem, eu aceito se não quiser mais. Vamos, deixe-me arrancá-la!
— Não é tão simples, infelizmente. — Ruijerd sorriu um pouco após falar isso.
Eris realmente avançou. Ela estava bem brincalhona ultimamente.
Uh. Isso foi uma brincadeira, certo?
— Aliás, Ruijerd… Ouvi que os monstros do Continente Demônio são muito fortes.
— Não são tão temíveis nesta área. Mas estamos a alguma distância da estrada principal, então eles são bem numerosos.
Isso parecia até um eufemismo, para ser sincero. Ruijerd estava lutando contra monstros a mais ou menos cada quinze minutos. De volta a Asura, seria possível viajar por horas em uma carruagem sem ver nenhum. É verdade que os cavaleiros e aventureiros do Reino regularmente se esforçavam para exterminar quaisquer monstros dentro de seus limites, mas, mesmo assim, a taxa de encontros no Continente Demônio era absurdamente elevada.
— Ruijerd, esse tempo todo você lutou sozinho. Como está indo?
— Sem problemas. Derrubei todos com um único golpe.
— Certo, tudo bem… mas me avise se começar a ficar cansado, tá bom? Eu poderia ao menos cuidar de você. Sei muito bem como usar magia de cura.
— Não se preocupe, criança. — Ruijerd estendeu a mão e timidamente voltou a afagar a minha cabeça. Ele realmente amava fazer isso, não é? — Você deve ficar com sua irmãzinha e manter uma distância segura, entendeu?
— Ouça! Eu não sou irmãzinha dele, entendeu?! Eu sou mais velha!
— Hm. Sério? Me desculpe.
Ruijerd tentou afagar a cabeça de Eris também, mas ela deu um tapa em sua mão, emburrada.
Mais sorte da próxima vez, garotão.
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— Aqui estamos.
A caminhada durou, no total, cerca de três horas. Seguimos um caminho longo e tortuoso com uma boa subida, então demorou um pouco. Mas, em linha reta, estávamos a apenas meia milha do ponto de partida.
Fiquei surpreendentemente exausto. Estava me sentindo letárgico desde a noite anterior. Era algum tipo de efeito colateral daquele feitiço de teletransporte? Talvez eu só precisasse melhorar minha resistência… Não era como se tivesse relaxado em comparação ao treinamento que tinha com Ghislaine.
— Ah! É uma cidade! — exclamou Eris, analisando o pequeno povoado à nossa frente com enorme interesse. A garota não parecia nada ofegante. Fiquei com um pouco de inveja de sua resistência.
Aos meus olhos, o lugar aonde chegamos parecia mais um vilarejo do que uma cidade. Havia talvez dez ou quinze casas, no máximo, e a cerca em volta de todas era bem imperfeita. Percebi um pequeno campo de cultivo por ali. Era difícil dizer o que estavam plantando, mas, pelo jeito das coisas, a safra não seria das melhores.
Seria mesmo possível cultivar em terras assim, sem um rio por perto?
— Alto lá!
Do lado de fora do portão da frente, fomos parados por um garoto que parecia estar no ginásio. Seu cabelo azul me lembrava o de Roxy.
— Ruijerd, quem são esses dois?!
Ele estava falando na língua do Deus Demônio, mas eu conseguia entender bem o suficiente. Minhas habilidades de compreensão auditiva aparentemente eram boas o bastante.
— Lembra da estrela cadente de ontem à noite? Eram eles.
— Não posso deixar esses estranhos suspeitos entrarem em nossa aldeia!
— O que há de tão suspeito neles? Explique. — O rosto de Ruijerd ficou repentinamente sério, e também adotou um tom de voz ameaçador. Se ele tivesse falado assim comigo na noite anterior, eu provavelmente teria fugido para as montanhas sem pensar duas vezes.
— E-explicar o quê? É só olhar para eles!
— São vítimas de um desastre mágico que ocorreu em Asura. Por acaso foram teletransportados para cá, isso é tudo.
— Mas… Olha, mesmo se isso for verdade…
— Qual é o seu problema? Realmente deixaria essas crianças ao léu?
Nesse momento, percebi que Ruijerd estava cerrando os punhos. Agindo por instinto, estendi a mão para segurar seu braço.
— Ele só está cumprindo o dever, Ruijerd. Por favor, acalme-se.
— O quê…?
— Discutir com um lacaio não vai nos levar a lugar nenhum. Por que não pedimos para ele buscar alguém com verdadeira autoridade?
O garoto fez uma careta quando ouviu a palavra lacaio, mas Ruijerd concordou balançando a cabeça.
— Você está certo. Rowin, pode chamar o ancião?
— Sim. Na verdade, eu já estava pensando em fazer isso. — Rowin fechou os olhos com força. Então ficou parado, em silêncio, pelos próximos dez segundos.
Uh… o que é isso? Você vai se mexer ou não? Por favor, não me diga que esse garoto simplesmente dormiu no meio do turno… Hmm. Talvez ele esteja esperando ser acordado por um bom beijo molhado?
— Uh, Ruijerd, ele está…
— Os Migurds podem conversar com os outros de sua raça, mesmo à distância.
— Ah. Agora que você mencionou, acho que minha mestra me falou um pouco sobre isso. — Para ser mais específico, ela escreveu em seu Dicionário do Tipo Demônio que os Migurds eram capazes de se comunicar telepaticamente com seus amigos íntimos e familiares. Roxy também escreveu que ela não tinha essa habilidade e havia deixado sua aldeia por causa disso.
Pobre garota.
Pensando bem… se essa era uma aldeia Migurd, mencionar o nome de Roxy não ajudaria? Então, mais uma vez, eu não sabia se ela era especificamente deste lugar. Havia também a chance de o tiro sair pela culatra.
— O ancião está vindo — disse Rowin, finalmente abrindo os olhos.
— Poderíamos encontrá-lo no meio do caminho, se…
— Você não dará um passo para dentro desta aldeia!
— Então tá.
Com as negociações em um impasse, ficamos ali por um tempo. Enquanto o constrangedor silêncio se prolongava, Eris puxou minha manga e sussurrou:
— Ei, o que está acontecendo?
Ah, é mesmo. Ela não sabe a língua do Deus Demônio.
— O guarda ali nos achou suspeitos, então estamos esperando que o ancião da aldeia venha nos analisar pessoalmente.
— Mas que diabos? O que há de suspeito sobre nós? — Franzindo a testa, Eris olhou para suas roupas. Quando fomos para fora da cidade naquele dia, vestiu a mesma roupa de treino que sempre usava; estava um pouco gasta, mas, em comparação com o que Ruijerd usava, não parecia estranha. Não era como se Eris estivesse usando um vestido cheio de babados. — Umm, preciso me preocupar?
— Com o quê?
— Não sei. Só… com tudo.
— Eris, vamos ficar bem.
— Bom… então tá.
Por mais corajosa que ela fosse, a possibilidade de uma discussão na entrada da aldeia claramente a deixava mais do que ansiosa. Pelo menos minha tentativa de tranquilizá-la pareceu funcionar.
— O ancião parece ter chegado — murmurou Ruijerd após algum tempo.
Olhei na direção da aldeia e vi um homem careca segurando uma bengala, mas ele parecia estranhamente jovem. Estava caminhando em nossa direção com duas garotas que pareciam adolescentes. Nenhum deles era particularmente alto.
Talvez os Migurds fossem todos pequenos, mesmo os adultos.
Não havia qualquer menção sobre isso no dicionário da Mestra Roxy… mas a garota que ela desenhou como ilustração parecia estar no ginásio. Na época presumi que era um autorretrato, o que foi até um tanto charmoso, mas talvez estivesse apenas retratando o Migurd adulto típico.
Enquanto refletia sobre o assunto, o ancião da aldeia começou a interrogar Rowin enquanto estava um pouco longe de nosso grupo.
— Então são essas as crianças?
— Sim. Uma delas consegue falar a língua do Deus Demônio. Isso é bem estranho.
— Mas qualquer um consegue aprender a língua se estudar.
— Por que uma criança humana estudaria, dentre todas as coisas, logo a nossa língua?!
Eu tinha que reconhecer. Rowin marcou um ponto nisso. Felizmente, o ancião da aldeia só deu um tapinha gentil em seu ombro.
— Não vamos nos precipitar, Rowin. Tente se acalmar, certo? Vou falar com eles.
Com isso dito, o homenzinho começou a lentamente caminhar em nossa direção. Por falta de ideias melhores, fiz uma reverência – uma simples saudação japonesa, no lugar daquela elegante usada pela realeza Asurana.
— Prazer em conhecer, senhor. Meu nome é Rudeus Greyrat.
— Bem, você com certeza é educado. Sou Rokkus, o ancião desta aldeia.
Olhei para Eris, tentando fazê-la seguir meu exemplo. Pelo visto, confusa com o aparente contraste entre a digna postura do homem e sua juventude, ela cruzou e descruzou os braços. Parecia que estava pensando se devia ou não assumir sua característica pose de desafio.
— Eris, você precisa se apresentar.
— Mas… uh, eu não sei essa língua.
— Apenas faça o que aprendeu. Vou dizer a ele o que você falar.
— Ugh… P-prazer em conhecê-lo, senhor. Meu nome é Eris Boreas Greyrat.
Após um momento de hesitação, ela fez uma reverência que poderia ser usada como exemplo, assim como havia praticado em suas aulas de etiqueta. O rosto do ancião da aldeia se abriu em um enorme sorriso.
— A mocinha aí acabou de se apresentar também, filho?
— Sim. É assim que se faz na nossa terra.
— Hmm. Mas não foi muito parecido com o que você fez.
— Bem, os costumes diferem entre homens e mulheres…
Rokkus balançou a cabeça pensativamente diante disso, então curvou-se para Eris da mesma forma que fiz em meu cumprimento.
— Meu nome é Rokkus. Sou o ancião desta aldeia.
Um pouco assustada, ela olhou para mim, incerta.
— Rudeus, o que ele falou?
— Ele é o ancião da aldeia, e seu nome é Rokkus.
— Ah. S-sério? Então acho que ele te entendeu. Isso é bom. — Eris sorriu obviamente aliviada.
Isso provavelmente finalizava todas as formalidades iniciais. Era hora de começar com os negócios.
— Você nos permitiria entrar em sua aldeia, Rokkus?
— Hrm… — Em vez de responder minha pergunta, o homenzinho começou a me analisar da cabeça aos pés.
Ooh! Que olhar apaixonado. Pare com isso… você está me fazendo querer fazer um strip-tease…
Depois de um longo tempo, seus olhos pararam, fixos na parte superior do meu peito.
— Onde conseguiu esse pingente que está usando, meu jovem?
— Foi um presente da minha mestra.
— E quem era essa sua mestra, se é que posso perguntar?
— O nome dela é Roxy. — Uma resposta honesta parecia ser a melhor opção. No final das contas, sempre fui orgulhoso de ter aprendido com ela.
— Como é que é?! — gritou Rowin. Antes que eu pudesse responder, ele passou direto por Rokkus e me agarrou pelos ombros. — V-você acabou de dizer Roxy?!
— Sim. É o nome da minha mestra…
Com o canto do olho, vi Ruijerd cerrando os punhos. Virando a cabeça para encontrar seu olhar, fiz um ligeiro aceno. Não havia qualquer raiva no rosto de Rowin, apenas excitação. Ele não iria me machucar.
— Onde… onde Roxy está?!
— Bem, eu não a vejo faz algum tempo, mas…
— Por favor! Diga-me tudo o que você sabe! Roxy… Roxy é minha filha!
Desculpa, como é que é?!
— Uhm, eu não tenho certeza se ouvi direito. Poderia repetir?
— Roxy é minha filha! Diga-me, ela ainda está viva?!
Pardon, monsieur? Uhm, não, na verdade, acho que ouvi direito mesmo na primeira vez. Só estou um pouco curioso a respeito da sua idade. O homem não parecia ter idade suficiente para estar no ensino médio. Se ele dissesse que era o irmãozinho de Roxy, eu teria acreditado. Mas, pelo visto… hmm. É. Que interessante.
— Por favor, diga! Já fazem mais de vinte anos desde que ela deixou a vila, e não tivemos nenhuma notícia desde então!
Então Roxy basicamente fugiu de casa. Claro, não é como se ela tivesse mencionado isso para mim. Honestamente, mestra, você não podia ter avisado?
— E então? Por que não está falando nada?!
Ops. Foi mal, amigo.
— Uhm, ela está…
No meio da minha frase, percebi que o homem ainda segurava meus ombros com força. Parecia que estava tentando arrancar a informação de mim, não é? Isso não seria bom. Eu não queria que ninguém pensasse que cedi à pressão… pelo menos não tão facilmente. Digo, se ele tivesse destruído meu computador, me espancado e depois me xingado, a história seria outra. Eu precisava me defender um pouco, ou isso poderia deixar Eris ansiosa.
— Na verdade, quero que primeiro você responda uma pergunta. Atualmente, quantos anos Roxy tem?
— O quê? Por que a idade dela importa? Você devia simplesmente…
— Isso é muito importante. Ah, e enquanto isso, também gostaria de saber por quanto tempo os Migurd vivem.
Claro. Isso definitivamente era algo que precisava ser esclarecido.
— Uh… certo. Roxy faria… quarenta e quatro este ano, acho. E vivemos cerca de duzentos anos, pelo menos a maioria. A menos que alguma doença nos mate.
Huh! Temos a mesma idade! Na verdade isso até me deixa feliz.
— Não diga. Hmm. Aliás, poderia me soltar?
Rowin finalmente soltou meus ombros.
Certo. Agora podemos conversar.
— Há seis meses, Roxy estava no Reino Shirone. Eu não fui lá pessoalmente, mas trocamos cartas por um tempo.
— Cartas? Ela pode escrever na língua Humana?
— Sim. Quando a conheci ela falava a nossa língua perfeitamente. E isso foi há sete anos.
— S-sério? De qualquer forma… você está falando que ela está bem?
— Bem, sempre existe a possibilidade de ela ter adoecido recentemente. Mas, até onde sei, está perfeitamente bem de saúde.
Rowin caiu de joelhos. Havia um indisfarçável alívio em seu rosto enquanto as lágrimas brotavam em seus olhos.
— Entendo… então ela está bem. Ela está bem! Haha… Obrigado deusas…
Ei, estou feliz por você, pai. Me peguei pensando em Paul e me perguntando se ele reagiria da mesma forma quando descobrisse que eu estava seguro. Teria que enviar uma carta para Buena Village assim que pudesse.
Afastando-me do pai choroso de Roxy, me dirigi a Rokkus mais uma vez.
— Agora que esclarecemos isso… estaria disposto a permitir nossa entrada?
— Claro. Não recusaríamos ninguém que nos trouxe notícias tão bem-vindas.
Que bom que tenho esse pingente. Nunca pensei que seria tão útil.
Eu provavelmente poderia ter economizado algum tempo mostrando-o logo de cara. Mas, novamente, dependendo de como fosse a conversa, poderiam ter a impressão de que matei Roxy e a assaltei. Os demônios aparentemente tinham uma longa vida útil e provavelmente não era incomum que parecessem muito mais jovens ou velhos do que realmente eram. Em outras palavras, minha aparência não iria necessariamente me livrar de todas as suspeitas. Teria que dar o meu melhor para agir apropriadamente como uma criança.
Por enquanto, ao menos conseguimos entrar no vilarejo Migurd.
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