Reino Shirone
Roxy Migurdia olhou pela janela enquanto franzia as sobrancelhas. A cor do céu estava estranha. Marrom, preto, roxo e amarelo; uma mistura de cores anormal. E, ainda assim, ela já tinha visto aquelas cores em algum lugar.
— O que é, me pergunto.
Os tons eram familiares, mas ela nunca tinha visto um céu assim antes. A única coisa evidente era que não se tratava de um fenômeno natural.
A explicação mais provável seria que fora causado por magia e, por algum motivo, acabou saindo de controle. A escala era tão grande que ela podia ver tudo girando mesmo à distância.
Então lembrou. O jeito que brilhava – ela já tinha visto aquilo antes na Universidade de Magia. A luz parecia ser de magia de invocação.
— Aquela direção… ao leste. Reino Asura? Não me diga que é Rudeus? — Ela lembrou do garoto que uma vez teve como aluno. Aquele menino era, mesmo na tenra idade de cinco anos, capaz de produzir uma tempestade totalmente composta. Agora ele já devia ter dez anos. Com metade dessa idade, já tinha total controle sobre sua insondável reserva de mana, então era possível que fizesse algo do tipo.
Em sua carta mais recente, ele escreveu sobre suas dificuldades ao tentar estudar magia de invocação. Talvez tenha de alguma forma conseguido um livro sobre isso, ou talvez tenha encontrado um professor.
— Uma abertura!
Enquanto ela estava perdida em seus pensamentos, alguém jogou os braços ao seu redor, por trás. Quando seus seios foram agarrados, sentiu algo duro sendo pressionado entre suas coxas.
— Hnnngh…
Roxy já estava farta. Não importava como ele a apalpasse, a espessura de suas roupas não deixava sentir nada. Além disso, mesmo que ele sentisse algum prazer ao fazer isso, a única coisa que ela sentia era desagrado.
— Que as chamas violentas consumam meu corpo – Queima Local!
— Gyaah!
A força das chamas que cobriram seu corpo enviou a pessoa atrás dela voando. Ela ainda não conseguia lançar feitiços sem entoá-los, mas encurtou muito a duração deles nos últimos cinco anos. Quando soube que Rudeus estava ensinando seus próprios alunos a lançar feitiços silenciosos, decidiu praticar enquanto encurtava seus próprios encantamentos. Não era fácil. Quanto aquele garoto gênio esperava de seus alunos? Nem todo mundo era abençoado com tanto talento quanto ele.
Roxy se virou e olhou para o garoto caído no chão.
— Sua Alteza, você não pode aparecer por trás de uma mulher e simplesmente começar a apalpar seus seios.
— Roxy! Você estava tentando me matar?! Vou te jogar na prisão!
O sétimo príncipe do Reino Shirone, Pax Shirone, era uma criança mal-educada que acabara de completar quinze anos. Seu comportamento horrível foi cativante no começo, mas ultimamente ele havia desenvolvido um interesse real por sexo e fazia avanços sexuais em relação a Roxy todos os dias.
— Minhas desculpas. Não imaginei que um ataque tão fraco pudesse ser fatal. Você deve ter a constituição de um inseto.
— Grrr! Crime de desrespeito! Eu não vou perdoar isso! Se quiser meu perdão, então enrole suas roupas e deixe-me ver sua calcinha!
— Passo.
Ele já havia colocado as mãos em várias empregadas, deixando o rei preocupado sobre como lidar com a situação. Agora parecia que havia voltado a atenção para sua tutora da corte.
Apenas o que ele via de atraente em uma garota rude como ela? Roxy não entendia. Ainda assim, não importa o quanto o príncipe a procurasse, ela não tinha nenhuma razão para obedecer suas ordens. De acordo com o contrato firmado com o grupo que governa o país, independentemente das exigências egoístas do príncipe, cabia apenas a ela como decidiria lidar com ele.
Não havia muitos vivendo no castelo que obedeceriam a alguma de suas ordens. Além disso, ele era apenas o sétimo príncipe. Estava bem atrás na linha de sucessão, então não tinha quase nenhuma autoridade. Na verdade, se olhasse os privilégios a ele concedidos, Roxy estaria em uma posição muito mais elevada, já que era a maga da corte imperial.
O príncipe tentou uma abordagem diferente.
— Roxy, já sei. Eu sei que você tem um amante!
— Entendo, e exatamente quando eu consegui fazer algo tão incrível quanto encontrar um amante? — respondeu de súbito, inclinando a cabeça. Um amante? Ela até queria encontrar um em algum momento, mas ainda não tinha encontrado seu par ideal. Mesmo se tivesse, com sua aparência de alguém da raça Migurd, certamente não seria correspondida. Ela já tinha desistido.
O príncipe por si só era estranho, provavelmente era por isso que queria provar seu corpo, mesmo que fosse apenas uma vez. Mas Roxy não tinha intenção de ser facilmente seduzida.
— Eheheh, entrei no seu quarto e vi todas aquelas cartas que você escondeu! Não sei que tipo de caipira ele é, mas com meu poder seria fácil esmagá-lo! Se não quer o ver enfrentando uma execução cruel, é melhor que se torne minha mulher!
Então era este seu outro método. Ele tomaria como refém o amante da pessoa em quem estava interessado, então exigiria a submissão do objeto de sua afeição, apenas para manter o amante em questão em segurança. Após isso, a levaria até a frente de seu amante apenas para que pudesse se sentir fortalecido por dominar outra pessoa.
Ele não tinha esse tipo de autoridade. Entretanto, ainda era o príncipe de um país. Tinha algumas tropas particulares com as quais podia fazer o que quisesse, e havia um boato de que já havia anteriormente tomado o amante de uma empregada como refém.
Que podre. Ele só me assusta, pensou Roxy. Estou feliz por não ter um amante. Todas as cartas eram de Rudeus. Rudeus, um respeitado aluno, e não seu amante.
— Sinta-se à vontade para fazer isso — respondeu.
— O quê?! Eu vou mesmo, sabia?! Se quiser se desculpar, é melhor fazer isso agora! Se fizer isso agora, tudo que terá que me dar é o seu corpo!
O príncipe era claramente irracional. Nem mesmo sabia onde Rudeus estava, para começo de conversa. Com base em sua atitude, não havia lido o conteúdo de nenhuma das cartas.
— Se você realmente pode ter sucesso ao fazer algo contra Rudeus, então poderá fazer o que quiser com meu corpo.
— Por que está agindo com tanta confiança? Você deveria saber o tipo de poder que eu tenho!
Claro que ela sabia. Sabia que o pouco poder concedido a ele como um príncipe da família real era desprezível.
— Rudeus está sob a proteção da família Boreas, uma família nobre de elite do Reino Asura.
— Boreas…? Como se nobres pudessem enfrentar a autoridade de um membro da família real!
Ele sequer sabia o nome das famílias de elite do Reino Asura. Essa constatação fez Roxy soltar um suspiro. Os outros tutores não ensinaram nada ao garoto?
Como os quatro grandes lordes suseranos regionais, as famílias Notos, Euros, Zepiroth e Boreas tinham um grande renome. Quando o Reino Asura entrava em batalha, eram as únicas que ficavam na linha de frente. Tinham sido militares por gerações e gerações. Além disso, membros dessas famílias nobres de elite poderiam ocasionalmente viajar para Shirone em alguns compromissos diplomáticos. Esses nomes definitivamente deveriam ser lembrados.
— O país de Asura é dez vezes maior do que Shirone. Para tomar a criança de uma família nobre de elite sob alguma suspeita infundada e trazê-la à força, você teria que possuir um poder político colossal, além de ser um mestre da estratégia. Isso é impossível para você, Vossa Alteza.
— E-eu vou mandar assassiná-lo! Vou enviar meus guardas imperiais!
Guardas imperiais? Ela suspirou para si mesma. Ele realmente nem parou para pensar.
— Não há como seus guardas cruzarem a fronteira do país. Mesmo se pudessem, as chances seriam de um em um milhão, já que a família Boreas tem a Rei da Espada Ghislaine hospedada em sua casa. Você acha mesmo que eles poderiam se esgueirar pela Cidadela de Roa, entrar na mansão dos Boreas, passar pela vigilância de Ghislaine e matar um mestre mago?
— G-grrr! — O príncipe cerrou os dentes e bateu os pés.
Roxy deixou outro suspiro escapar. Ah, não posso acreditar nisso. Ele já tem quinze anos e ainda nem sabe como distinguir o que é possível do que não é.
Anos atrás, ela o achou cativante e até reconheceu seu talento para a magia. Infelizmente, assim que percebeu que tipo de poder tinha, sua vontade de continuar melhorando desapareceu e ele começou a dormir na maioria das aulas. Agora ela não via mais qualquer potencial nele.
— De qualquer forma, logo irei abandonar minha posição como sua tutora, então você não conseguiria nada a tempo, mesmo se enviasse assassinos agora mesmo.
Assim que ela disse isso, o príncipe ergueu a voz, aparentemente em estado de choque.
— O-o quêêêê?! Não ouvi nada sobre isso!
— Então você não deve lembrar
Desde o começo o acordo foi de que ela trabalharia como sua tutora até que ele chegasse à maturidade. Na época, Roxy havia até considerado pedir para estender o contrato. Entretanto, havia muitos no palácio real que não toleravam sua presença. Partir seria o mais sábio.
— E também é uma boa oportunidade. — Acrescentou ela.
— Uma boa oportunidade para quê?
— Há algo de estranho no céu ao oeste. Agora posso ir conferir pessoalmente o que está acontecendo.
— O-o que diabos…
Ela não disse que era porque queria ver o rosto de Rudeus depois de tanto tempo. Isso só serviria para enfurecer o príncipe.
— E-eu ainda preciso de você! Ainda estamos no meio de nossas aulas!
— Irrelevante. Você dorme durante todas elas, de qualquer forma.
— Então a culpa é sua por não me acordar!
— Ah, sério? Então, como uma péssima professora, deveria me demitir logo. Certifique-se de que, na próxima vez, contratará alguém que irá te acordar na hora certa. Não estou interessada.
Este príncipe é impossível para mim, pensou Roxy. Não consigo parar de comparar ele a Rudeus. Tudo que eu precisava fazer era ensinar uma vez que Rudeus já aprendia, ia estudar e aprendia dez ou vinte coisas novas. Talvez eu não consiga mais trabalhar como professora após ter um aluno daqueles.
E, assim, Roxy deixou Shirone e partiu em sua jornada. Ela foi abordada pelo sétimo príncipe e seus guardas pessoais ao sair, mas rapidamente os repeliu.
Depois, o sétimo príncipe insistiu obstinadamente falando que ela deveria ser presa e levada à sua presença para responder pelo imperdoável ato de violência que cometera contra ele. Entretanto, o rei recusou-se a prestar atenção às suas reivindicações. Em vez disso, o príncipe foi severamente repreendido e punido por ser incapaz de convencer a maga de água de nível Rei, Roxy Migurdia, a ficar.
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Roxy não foi a única que notou a mudança no céu. Cada pessoa em qualquer parte do mundo notou aquela anormalidade que apareceu abruptamente. Mesmo aqueles de grande renome perceberam.
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Nas Montanhas dos Wyrms Vermelhos
O Deus Dragão Orsted ergueu seus olhos para o céu ao oeste.
— Há um acúmulo de mana lá? O que é isso, o que causou essa loucura? — Ele fez uma careta de suspeita. — Não importa. Saberei assim que confirmar por mim mesmo.
Ele seguiu direto para o oeste, passando por cima do cadáver do wyrm vermelho que acabara de matar com um único ataque. Outros wyrms vermelhos enxameavam a área como uma nuvem de insetos, mas nenhum tentou se aproximar. Sabiam o que aconteceria se chegassem perto. Sabiam que, mesmo no caso de se unirem para atacar, acabariam mortos. E também sabiam que se ficassem longe, estariam em segurança.
Esse ser era o Deus Dragão, um ser que existia além das regras deste mundo. Um ser que não podiam tocar.
Cheio de orgulho, outro jovem wyrm que não conhecia seu lugar no mundo sobrevoou Orsted. Em uma fração de segundo, foi transformado em nada mais do que carne moída.
Wyrms vermelhos eram criaturas terrivelmente fortes que residiam no Continente Central. Não era apenas sua destreza em batalha que os tornava temíveis, mas também sua inteligência. Era por isso que sabiam que aquele era o dito homem mais forte do mundo, um oponente cuja esperança de derrotar era zero, não importava quais fossem seus números.
Orsted desceu a montanha lentamente enquanto os wyrms vermelhos observavam, suas intenções eram secretas e apenas ele as conhecia.
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Fortaleza Flutuante
O Dragão Blindado Perugius, um dos três heróis lendários, olhou para o céu ao norte.
— O que é aquilo? Parece a luz que é emitida quando o Grande Imperador do Mundo Demônio revive.
Parada por perto estava uma mulher com uma máscara de corvo branca sobre o rosto, alguém do povo do céu que possuía asas negras. Ela sussurrou:
— O nível de mana é diferente.
— De fato. Mas, no mínimo, lembra a cor de uma convocação.
— Sim, mas, dito isso, nunca vi tanta luz em uma única convocação.
— Parece com quando criamos a Destruidora do Caos. — Perugius teria que agir.
Ele havia passado os dias como qualquer outro, sentado em seu trono na Destruidora do Caos, sendo servido por seus doze seguidores, continuando a monitorar toda a superfície. Tinha apenas um objetivo: derrotar seu inimigo repulsivo, o Deus Demônio Laplace, assim que fosse revivido. O herói esperou no céu pelo momento em que o selo seria rompido.
— Será que o Grande Imperador do Mundo Demônio está tentando destruir o selo de Laplace?
— É possível. O Imperador ficou perturbadoramente quieto nos últimos trezentos anos desde que reviveu — respondeu.
— Certo. Arumanfi!
— Estou aqui. — Um homem envolto em branco e usando uma máscara amarela apareceu e se ajoelhou diante de Perugius.
— Procure imediatamente e… hmm, tenho certeza de que quem está por trás disso deve estar tramando algo. Se encontrar alguém suspeito que pareça estar envolvido com isso, mate-o.
— Entendido.
O Dragão Blindado Perugius fez seu movimento, levando consigo seus doze seguidores. Tudo para vingar os quatro amigos perdidos.
Desta vez, com certeza, daria um golpe final no Deus Demônio Laplace.
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A Terra Sagrada das Espadas
O Deus da Espada Gal Farion olhou para o céu ao sul.
— O que há de errado com o céu? Além disso… — No momento em que seu foco mudou para outra coisa, dois de seus amados pupilos lançaram um ataque sincronizado em sua direção. — Não venham em minha direção enquanto estou prestando atenção a outras coisas.
Ele estava relaxado. Em comparação, seus dois queridos alunos estavam com falta de ar.
Como sempre, dois sem noção, pensou. Eles estavam muito confiantes após conquistarem o título de Imperador da Espada, mas era só isso. A fama não tinha espaço na esgrima. Tudo que precisava ser feito era ficar mais forte. A única coisa que a fama traria seria dinheiro e poder político. Não havia qualquer valor nisso. Qualquer um poderia conquistar essas coisas. Por ser tão bom assim, ele poderia cortar esse tipo de lixo com um único golpe. Se alguém fosse forte, poderia fazer tudo como quisesse. Ter as coisas conforme desejasse seria o que o manteria vivo.
Ghislaine entendeu isso bem, mas acabou amolecendo. Era por isso que ficou presa no nível de Rei da Espada. Aqueles com um poderoso desejo pela vida eram inatamente fortes, não importa o quão fisicamente fracos ou incapazes de empunhar uma espada fossem. Mas aqueles que se tornavam fortes poderiam acabar perdendo seu impulso. Foi assim que Ghislaine desviou de seu caminho. Ela não foi egoísta o suficiente.
Não era como se os pupilos diante dele fossem especialmente talentosos. Foi a ganância obscena deles que os tornou fortes. O insaciável apetite de uma dupla que vivia em um campo de batalha no limiar entre a vida e a morte.
— Ei, ei, venham aqui. Derrotem-me e então batalhem até a morte para que um de vocês possa se chamar de Deus da Espada! Vocês terão dinheiro suficiente para brincar por cem vidas! Serão capazes de fazer filas de mulheres, de escravas a princesas, e fazer o que quiserem com elas! Apenas seus nomes deixarão qualquer um de joelhos só com o medo! Um passo à frente e multidões abrirão caminho para vocês!
— Não comecei a aprender o manuseio da espada por algo assim!
— Mestre! Por favor, não nos insulte assim!
Era isso. Eles aprenderiam a ser mais honestos consigo mesmos. Pois se o fizessem, seriam facilmente capazes de esmagar alguém como ele e se proclamarem como Deuses da Espada.
O Deus da Espada Gal Farion já havia esquecido do céu ao sul.
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Algum Lugar no Continente Demônio
O Grande Imperador do Mundo Demônio, Kishirika Kishirisu, olhou para o céu ao leste.
— Hmph, quando você se torna tão grande quanto eu, pode ver as coisas mesmo se olhar para a direção errada! E então?! Incrível, não acham?
Não havia ninguém por perto para responder. Nem mesmo uma única pessoa estava presente.
— Então vocês estão me ignorando! Mwahahaha! Muito bem, muito bem! Vou perdoar vocês, humanos! Ou melhor, ninguém chegará perto de mim graças ao tratado de paz, então não tenho escolha a não ser perdoar todos vocês! Mwahahahaaha, mwahahahahaa, mwaha… gurgh…
Kishirika estava sozinha.
No momento em que reviveu, gritou: “Eu, o Grande Imperador do Mundo Demônio, Kishirika, revivi! Devo ter deixado todos vocês esperando! Mwahahaha!” Mas não havia ninguém lá. Ela decidiu que iria para a cidade mais próxima e repetir sua declaração, só para que as pessoas a olhassem como se fosse uma criança lamentável. Desde então, ninguém prestou atenção nela.
Ela tentou visitar seus velhos amigos, mas eles simplesmente disseram: “As coisas agora estão em paz, então se comporte.”
— O que esses amantes de humanos estão fazendo? No passado, quando eu revivia, começavam a tremer de medo na mesma hora, ficavam balbuciando coisas estranhas e depois pulavam pelas janelas. Sem isso, parece que meu renascimento não vale nada. Hah, fala sério, esses jovens de hoje em dia…
Ela chutou uma pedra e olhou para a magia acumulada no céu ao leste. O outro nome do Grande Imperador do Mundo Demônio era Imperador Demônio dos Olhos Demoníacos. Ela possuía mais de dez, e com um único olhar poderia dizer o que estava acontecendo, não importava a distância. Com aqueles olhos, veria o acúmulo de mana, a luz familiar de uma magia de invocação e a pessoa que a controlava.
Ou, ao menos, deveria ser capaz de fazer isso.
— O que é isso? Não consigo ver o que está fazendo aquilo? Me pergunto se existe alguma barreira. Você deve ser tímido, já que está escondendo o rosto depois de criar uma confusão dessas.
Os olhos de Kishirika não eram todo-poderosos. Era por isso que ela era apenas o Grande Imperador do Mundo Demônio, e nunca seria chamada de Deus Demônio, não importa quanto tempo passasse. Não que estivesse particularmente desconfortável com isso.
— Seria bom se pudessem ao menos convocar um herói. Mas ultimamente é tudo Laplace isso, Laplace aquilo… “Kishirika? Quem é essa?” Então não é como se isso me importasse. Acho que até os heróis preferem jovens com boa aparência igual ao Laplace. Também quero ficar sob os holofotes. Quero receber atenção enquanto desfilo!
Ela suspirou e começou sua jornada. Uma viagem sem destino específico em mente.
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Ao Mesmo Tempo – Perspectiva de Rudeus
Fomos até uma colina nos arredores da Cidadela de Roa. Conforme prometi em meu aniversário, mostraria a Ghislaine como era uma magia de água de nível Santo – Eris, claro, estava acompanhando.
Peguei Aqua Heartia e soltei o pano que embrulhei em volta do cristal, só por garantia. Por mais estranho que parecesse, isso era melhor do que deixar à vista de potenciais ladrões o item caro que eu tinha. O embrulhei para parecer um pano imbuído em mana que poderia amplificar a magia do cajado. Ao menos seria melhor do que deixar todos verem que estava carregando uma joia enorme.
Decidi testar o cajado com um feitiço básico antes de tentar lançar a magia de água de nível Santo. Concentrei a mesma quantidade de mana que sempre usava para criar uma Bola de Água, mas o resultado foi bem melhor do que o previsto.
— Uau, isso é enorme!
Quanto tentei comprimir a bola, ela ficou tão pequena que não dava nem para ver. Fui ajustando lentamente. Após trinta minutos fazendo testes, descobri que o cajado aumentava em cinco vezes os efeitos de minhas magias. Isso significava que minha magia ofensiva, criada com o mesmo consumo de mana, ficou mais potente e que meu custo de mana foi reduzido.
Representando com números:
Sem o Cajado: Custo de Mana 10, Poder 5.
Com o Cajado: Custo de Mana 10, Poder 25.
Com o Cajado: Custo de Mana 2, Poder 5.
Algo assim. Em outras palavras, funcionava como uma lupa ou um microscópio. Ajustes mais elaborados seriam complicados no momento, mas provavelmente ficariam ótimos assim que eu me acostumasse com o uso do cajado.
— E-e então? — Eris estava com uma expressão nervosa no rosto.
Não se preocupe, estou oficialmente obcecado pelo meu novo brinquedo, pensei.
— É difícil fazer os ajustes, mas é realmente incrível.
— S-sério?! Fico feliz!
Continuei fazendo testes e descobri que a magia de fogo era amplificada em duas vezes. Usar o cajado para combinar diferentes tipos de magia, entretanto, parecia complicado. Ou será que também era uma questão de costume?
— Tudo bem então, finalmente o que vocês esperavam. Eu, Rudeus Greyrat, vou mostrar minha grande e poderosa técnica secreta!
— Yay! — Eris bateu palmas de tanta alegria. Ghislaine também parecia profundamente interessada. Até eu estava animado. Era hora de mostrar como sou legal!
— Bwahahahaha! — Levantei meu cajado em direção ao céu enquanto entoava meu feitiço de magia de água de nível Santo.
— Mana, junte-se a mim! Magnífico Espírito de Água, erga-se aos céus… Hein? — Foi então que percebi.
— Hm?
— O que é aquilo?
As duas seguiram meu olhar e também olharam para cima.
— Não sei, mas é um acúmulo de mana incrível!
Então ela conseguia ver a mana com aquele olho. Depois de três anos finalmente conheci seu verdadeiro poder… um olho do demônio.
Ghislaine rapidamente recolocou o tapa-olho.
— Vamos voltar para a cidade? — Eu não sabia o que esse céu estranho anunciava, mas se algo acontecesse, queria ter um teto para me refugiar. Estaríamos em apuros se uma chuva de lanças irrompesse.
— Não, quanto mais perto da cidade, mais a mana está concentrada. Talvez seja melhor nos distanciarmos.
— Mas temos que ao menos voltar até a mansão para avisar a todos! — Certamente seria melhor informar Philip e os outros, para que colocassem os habitantes da cidade em segurança.
— Nesse caso, eu vou… Rudeus! A cabeça!
Me agachei por reflexo. Algo passou voando, cortando o ar em alta velocidade, justo onde minha cabeça estava. Um arrepio percorreu minha espinha.
O quê… o que foi aquilo? O que acabou de acontecer?
— Você!
Ao meu lado, Ghislaine colocou a mão em sua espada e sua silhueta ficou embaçada. No momento seguinte, ela estava na pose que assumia após acabar de desferir um golpe de espada. Já havia me demonstrado isso muitas vezes antes. A técnica de nível Santo do Estilo Deus da Espada, Espada Longa de Luz. Uma técnica secreta do Estilo Deus da Espada, dizia-se que, se fosse executada perfeitamente, a ponta da espada atingira a velocidade da luz. Ghislaine me disse que era essa técnica que tornava o Estilo Deus da Espada o mais forte dos três principais.
— Hm. — Ela franziu as sobrancelhas. Devia ter errado o alvo. Seu oponente se esquivou daquele golpe mortal que era rápido demais para ser visto a olho nu. O rosto de Ghislaine ficou sério e cauteloso enquanto a mulher olhava para algo atrás de mim.
Me virei lentamente para ver quem havia tentado me atacar e se esquivou do contra-ataque de Ghislaine.
— Quem…?
E lá estava um homem. Ele tinha cabelos loiros e vestia algo parecido com um uniforme escolar branco puro, abotoado na frente. Provavelmente tinha um rosto bonito, mas estava escondido atrás de uma máscara amarela que lembrava uma raposa. Em sua mão direita estava uma adaga.
Devia ter sido aquilo. Foi aquilo que passou sobre minha cabeça.
— Quem é você? Diga-nos seu nome!
No momento que Ghislaine gritou, o rosto dele brilhou. Foi um brilho tão forte que nos cegou por um momento. Fechei os olhos de imediato.
— Gaah!
Ouvi Ghislaine uivando. Depois, o barulho de metal chocando contra metal soou. E logo após isso, surgiu o som de um movimento rápido.
Suas lâminas se encontraram duas vezes, e depois uma terceira vez. Quando recuperei a visão, Ghislaine estava na minha frente com o tapa-olho removido.
Então foi isso que ela fez. No momento que a luz nos cegou, puxou o tapa-olho para que pudesse ver com o outro olho.
— Bastardo, quem é você? É um inimigo da família Greyrat?!
— Arumanfi, o Brilho. Esse é meu nome.
— Arumanfi?
— Vim sob ordens de Lorde Perugius para parar este fenômeno estranho.
Perugius. Bem, esse era um nome que eu já conhecia. Um dos três heróis lendários que mataram o Deus Demônio e também um dos sobreviventes daquela batalha. Um invocador com doze familiares. Então, como se fosse uma reação em cadeia, lembrei do nome Arumanfi. Ele era um daqueles doze familiares. Arumanfi, o Brilho.
— Cuidado, Ghislaine. De acordo com o que li, esse cara pode se mover na velocidade da luz.
— Rudeus, pegue a Jovem Senhora e recue.
Conforme Ghislaine pediu, usei minhas costas como escudo e escoltei Eris para uma distância segura o suficiente para que não fôssemos envolvidos na batalha. Tive o cuidado de não ir muito longe, ficando ao alcance da proteção de Ghislaine.
Se fosse mesmo Arumanfi, o Brilho, uma simples espada não poderia tocá-lo. Eu tinha certeza de ter lido algo do tipo na Lenda de Perugius.
Dito isso, de onde ele apareceu? Não, espera Arumanfi, o Brilho, era considerado o espírito governante da luz. Foi dito que ele poderia viajar qualquer distância em um instante, desde que fosse algo dentro de seu campo de visão. Quando li aquilo, pensei que era só besteira, mas então ele apareceu atrás de mim em um piscar de olhos. Ghislaine nunca ficaria de guarda baixa, e ele não tinha motivos para estar preparando qualquer emboscada. Devia ter voado na velocidade da luz. Afinal, essa era uma de suas habilidades.
— Mulher, mova-se. Esta ocorrência estranha pode cessar se eu matar aquele menino.
Espera, do que ele estava falando? Ocorrência estranha; quis dizer aquela coisa no céu? Que tipo de mal-entendido era esse?
— Eu sou o Rei da Espada Ghislaine Dedoldia. Aquela coisa no céu não tem nada a ver conosco. Retire-se!
— Rei da Espada? Como posso acreditar nisso? Prove.
— Veja! Esta é uma das famosas lâminas dos Deuses das Sete Espadas Originais, Hiramune – Núcleo Plano. Você não vai acreditar mesmo após ver isso? — Ela empurrou sua espada em direção à Arumanfi enquanto ainda a segurava seu cabo firmemente.
— Jure pelos nomes de seu mestre e família.
— Juro pelo nome de meu mestre, Deus da Espada Gal Farion e pela honra do povo Dedoldia!
— Dedoldia, é? Muito bem. Se depois descobrirmos que você não é tão inocente quanto afirma, Lorde Perugius decidirá seu destino.
— Isso está bom para mim.
Arumanfi guardou sua adaga. Eu não tinha certeza do que estava acontecendo, mas o problema parecia estar resolvido. Para mim, parecia óbvio que jurar que algo era verdade não indicava que alguém estava sendo honesto, mas pelo visto as coisas funcionavam assim neste mundo.
Dito isso, jurar pelo nome dessas pessoas realmente tinha alguma credibilidade? Seria algo como, digamos, o Papa Católico Apostólico Romano jurando em nome de Deus?
— Certo, contanto que vocês não sejam os responsáveis.
— E você não vai nem pedir desculpas por nos atacar do nada?
— A culpa foi de vocês por estarem fazendo algo suspeito aqui — disse ele, girando nos calcanhares.
Vamos apenas nos acalmar e pensar nisso de forma racional, pensei. Primeiro, algo estranho apareceu no céu. Então, esse cara apareceu, o familiar de um herói lendário e histórico. Essa pessoa lendária me atacou. Ele pensou que era eu quem estava criando o fenômeno no céu. Isso não era verdade, claro, mas talvez o homem não soubesse algo sobre o que estava acontecendo, certo? Não, não sabia, ou não teria me atacado, para começo de conversa.
— Um… — Comecei a falar.
— Hm?
— Ah!
Assim que chamei a atenção de Arumanfi, o céu ficou branco e um dedo de luz disparou em direção ao solo. No instante em que aquilo atingiu a terra, a luz se expandiu em uma velocidade incrível, engolindo violentamente tudo em seu caminho, parecendo até um maremoto. A mansão, a cidade, a cidadela, as flores e as árvores. Tudo foi devorado enquanto aquilo se expandia.
Assim que Arumanfi viu o que estava acontecendo, desapareceu em uma explosão de luz dourada. Ghislaine correu em nossa direção, mas foi engolida antes que pudesse nos alcançar. Eris ficou congelada e confusa, e eu envolvi meu corpo ao redor dela para protegê-la.
Esse foi o dia em que a Região de Fittoa desapareceu.
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