Eris começou a se comportar melhor após seu décimo aniversário. Ela passou a levar as aulas mais a sério e começou a me dar socos com menos frequência do que antes. Mais relaxado após me livrar do medo da violência doméstica, decidi me concentrar um pouco mais em meus próprios estudos.
Comecei a ter uma perspectiva geral da história deste mundo com um livro que peguei na biblioteca. De acordo com ele, a história deste mundo tinha pelo menos dez mil anos. Era verdadeiramente fantástica. Sua essência era a seguinte:
Mais de Cem Mil Anos Atrás
O mundo foi dividido em sete mundos menores, cada um com seu próprio deus para governar sobre ele. Isso foi chamado de Idade Antiga dos Deuses. Estes eram cada um dos sete mundos e seus deuses:
O mundo dos humanos, Deus Humano.
O mundo dos demônios, Deus Demônio.
O mundo dos dragões, Deus Dragão.
O mundo das feras, Deus Fera.
O mundo do oceano, Deus do Mar.
O mundo do céu, Deus do Céu.
O mundo árido, Deus Árido.
Esses mundos foram separados por barreiras, então ir e vir entre eles não era algo fácil. Alguém que vivia em um não fazia ideia da existência dos outros. Apenas os deuses e aqueles poderosos o bastante para cruzar as barreiras sabiam sobre essas coisas.
Entre Dez ou Vinte Mil Anos Atrás
No mundo dos dragões, nasceu um Deus Dragão incorrigivelmente mau. Com seu incrível e terrível poder, destruiu as barreiras que separavam os mundos. Com seus seguidores, conhecidos como os Cinco Comandantes Dragão, começou a destruir os outros mundos. Os sobreviventes de cada um dos mundos destruídos fugiram para os outros, buscando por abrigo.
Quando havia apenas um último mundo sobrando, os comandantes do Deus Dragão finalmente se voltaram contra ele. O chefe dos Cinco Comandantes Dragão, o Imperador Dragão, e os outros quatro Reis Dragões lutaram contra o Deus Dragão e seu poder esmagador. Foi uma batalha até a morte de cinco contra um.
Acabou em um empate. Em consequência, o mundo dos dragões desmoronou, sobrando apenas o mundo humano. O meu mundo.
Entre Dez a Oito Mil Anos Atrás
Conhecido como Período Caótico. Um período em que os ancestrais dos humanos modernos e os refugiados dos outros mundos, após serem colocados juntos, começaram a se confrontar.
Quase não existia produção literária sobre aquele período, mas, de acordo com os estudiosos, após muitos anos de luta, as raças foram lentamente sendo segregadas. O povo fera começou a viver na floresta, o povo da água tomou controle dos oceanos e o povo do céu garantiu que ficariam com os lugares mais altos que pudessem encontrar. Não sobrou quase nenhum dragão, mas eles evitavam chamar a atenção e viviam em segredo, enquanto os demais povos, que podiam viver em qualquer lugar, foram se espalhando.
Isso deixou os humanos e os demônios lutando entre si pelas planícies. Na época, o Continente Central e o Continente Demônio ainda estavam unidos por terra e eram chamados de Grande Continente.
Aproximadamente Sete Mil Anos Atrás
As artes marciais e a magia foram sendo desenvolvidas e a população aumentou. Foi então que ocorreu a Primeira Grande Guerra Humano-Demônio. Como indicado pelo nome, foi uma colisão frontal entre os humanos e os demônios. Algo como uma guerra mundial do meu velho mundo. Foi uma longa batalha que envolveu não apenas os humanos e demônios, como também as outras raças.
Aproximadamente Seis Mil Anos Atrás
Mil anos passaram enquanto a Grande Guerra continuava, com o período intercalando entre calmarias e ferozes batalhas. O herói Arus liderou seus seis camaradas para a batalha, dando continuidade às hostilidades até derrotar os Cinco Grandes Reis Demônios e o Grande Imperador do Mundo Demônio, Kishirika.
Com base no nome do Grande Imperador, imaginei que deveria ser uma mulher. Na minha cabeça, imaginei Eris usando uma roupa de couro e gargalhando alto.
Espera aí… Arus? Mas o que diabos é isso, Dragon Quest 7?
Aproximadamente Cinco Mil e Quinhentos Anos Atrás
Sendo os tolos que eram, os humanos ficaram embriagados com o poder capaz de derrotar os demônios e começaram a guerrear contra as outras raças, bem como entre si mesmos. Os demônios foram supostamente usados como escravos durante esse período. O momento de constantes guerras continuou por quase quinhentos anos.
Cinco Mil Anos Atrás
A Segunda Grande Guerra Humano-Demônio estourou. Buscando vingança por um rancor de mil anos, Kishirika, o Grande Imperador do Mundo Demônio, incitou os demônios à ação.
Achei que Kishirika fosse algum tipo de nome que todos os imperadores recebiam ao assumir o trono, mas, pelo visto, o imperador era imortal. Mesmo se morresse, ressuscitaria centenas de anos depois. Talvez a razão pela qual fosse chamado de Grande Imperador do Mundo Demônio fosse por estar em uma classificação superior à dos outros Imperadores Dragões.
De qualquer forma, os demônios se aliaram ao povo fera e ao povo do mar, oprimindo os humanos. Assim a raça humana foi reprimida.
Quatro Mil e Duzentos Anos Atrás
A Segunda Grande Guerra Humano-Demônio chegou ao fim.
Os guerreiros humanos lutaram por oitocentos anos sem admitir a derrota e finalmente forçaram o inimigo a recuar. Foi tudo graças aos esforços do herói lendário, o Cavaleiro Dourado Aldebaran.
Aquele cara era completamente roubado. Ele derrotou mais de dez mil homens sozinho. Derrotou todos os demônios poderosos que encontrou e lutou de frente com o Grande Imperador Demônio. Seu ataque final foi tão poderoso que criou uma cratera no Grande Continente, dividindo-o em Continente Central e Continente Demônio, com o Mar Ringus separando-os.
Uma passagem do livro mencionava que ele devia ser o próprio deus Humano. O único Aldebaran que eu conhecia era aquele que morreria se usasse sua própria técnica suprema. Portanto, parecia que o Santo Dourado deste mundo fora feito de um material mais resistente. A história toda sobre ele dividir o continente parecia só baboseira, mas era verdade que o continente fora separado em duas partes, formando um novo oceano.
Uma paz que fora buscada por muito tempo finalmente se estabeleceu sobre a terra após a separação dos continentes.
Entre Quatro Mil e Duzentos a Mil Anos Atrás
O tempo passou rapidamente após isso. O mundo ficou em paz, mas os demônios estavam sendo expulsos do Continente Central. Os humanos formavam um grupo inteligente, então usaram diplomacia para encurralar todos os demônios no Continente Demônio.
A terra do Continente Central era naturalmente fértil e boa para semear, enquanto a do Continente Demônio era estéril e propensa ao acúmulo de magia em certas áreas. Expulsando o último daqueles demônios nojentos para o Continente Demônio e prendendo-os, os humanos estavam metaforicamente enrolando uma corda de seda ao redor de seus pescoços e estrangulando-os. Tudo isso foi feito com a cooperação das outras raças, na esperança de que nunca mais viesse a ocorrer outra Grande Guerra Humano-Demônio.
Os demônios provavelmente tentaram de alguma forma resistir a isso. Afinal, estavam recebendo um golpe duro. Mas, qualquer que fosse a ação que tomassem, nenhuma guerra estourou. Como resultado, logo ficaram insensíveis a como foram presos em seu continente.
Nesse ambiente hostil e com os poucos recursos sendo disputados, uma guerra civil naturalmente estourou. Isso os transformou em guerreiros ferozes, mas seu número diminuiu.
Mil Anos Atrás
O Deus Demônio Laplace apareceu.
Na longa história dos demônios, apareceram vários Reis Demônios e Imperadores Demônios, mas houve apenas um a quem as pessoas se referiram como Deus Demônio.
Em um breve piscar de olhos, Laplace reuniu os demônios e conquistou o Continente Demônio. Os registros das batalhas daquela época se transformaram em crônicas de guerra que foram transmitidas entre gerações. Mesmo agora, no Continente Demônio, Laplace ainda era tratado como um ídolo.
Ele passou muitos anos cuidando de seu império, preparando sua raça para tornar-se resistente e feroz.
Quinhentos Anos Atrás
A campanha militar de Laplace começou.
Após muitos anos gastos superando o povo fera e o povo do mar, Laplace finalmente fez seu ataque ao Continente Central. Os humanos foram forçados a uma guerra muito mais brutal do que qualquer outra que travaram anteriormente.
Laplace começou sua invasão pelo sul, atraindo todo o poder militar humano para lá. Então colocou seus wyrms sobre a terra, tornando impossível que alguém atravessasse as montanhas. Depois disso, pegou os humanos de surpresa, atacando com uma unidade independente pelo norte, dispersando seus inimigos.
Em pouco tempo, tomou o total controle tanto do norte quanto do sul. Então, de ambas as direções, direcionou seu ataque à região oeste.
Quatrocentos Anos Atrás
Forçados a recuar, os humanos fizeram sua última aposta. Os sete heróis convenceram o povo do mar a suspender o bloqueio que fora estabelecido, depois partiram em direção ao Continente Millis, seguindo pelos mares.
Millis havia escapado da invasão por vários motivos, sendo alguns deles a barreira ao redor da Sagrada Millis, seu robusto exército de cavaleiros sagrados e o terreno que dificultaria a passagem de um grande exército. Parte da razão para estarem tão isolados era devido a uma grande floresta que cobria toda a sua costa norte.
Agora aliado aos demônios, o povo fera assumiu o controle da Cidade Sagrada de Millis. Então os sete heróis começaram a persuadi-los a trocar de lado. Ou melhor, os sete foram até o chefe de cada clã, tomaram seus filhos como reféns e os ameaçaram para que cooperassem. No livro estava escrito que as crianças cooperaram de boa vontade, mas eu não seria enganado com uma troca de lado tão repentina.
Chegou o dia da batalha decisiva. O último reino de humanos que remanescia no Continente Central, o Reino de Asura, dedicou todos os seus esforços à batalha final. Logo os sete heróis chegaram, liderando os cavaleiros sagrados de Millis e o povo fera, fazendo um ataque à principal fortaleza de Laplace.
Após um confronto violento, quatro dos sete heróis morreram, mas selaram Laplace com sucesso e destruíram seus companheiros mais próximos. Três heróis sobreviveram: o Rei Dragão Urupen, o Deus do Norte Kalman, e o Rei Dragão Blindado Perugius. Foram chamados de os Três Lendários Caçadores do Deus Demônio, mas… não mataram nada!
Embora Laplace tenha sido derrotado, os humanos ficaram exaustos com a batalha e seriam incapazes de continuar lutando. Então assinaram um tratado com um dos reis demônio do Continente Demônio, um que não era aliado de Laplace e liderava uma facção de demônios moderada.
O bloqueio ao Continente Demônio foi novamente imposto. Os demônios agora poderiam viajar livremente aos outros continentes. De acordo com os termos do tratado, a discriminação racial contra os demônios seria proibida. Foi algo parecido com a Declaração Universal dos Direitos Humanos do meu velho mundo.
Dias Atuais
A enorme tendência para discriminação contra os demônios continuou, mas a maioria das coisas parecia pacífica.
Com tudo isso, entendi algumas coisas:
- 01 – Separar as coisas em sete era algo feito por razões históricas. Havia sete heróis lendários e sete mundos. Portanto, o número da sorte era sete. Seis indicava azar, pois havia Cinco Generais Dragão e Cinco Grandes Reis Demônios, cada um dos quais resultava em seis se contados com seus respectivos líderes.
- 02 – As variadas raças, como elfos, anões e metadílios1O termo em inglês é halfling, é uma referência a uma das sub-raças criadas por Tolkien em seu conjunto de obras. Metadílio é o termo oficial usado nas traduções em português. eram algo como subespécies, mas eram contados como demônios. Era possível que fossem novas raças que se desenvolveram durante o Período Caótico. Ou talvez tivessem algo a ver com os primeiros do povo árido que apareceram neste mundo.
A propósito, parte do motivo para tanto conhecimento sobre essa longa história era porque algumas espécies eram imortais. Este era o caso do Grande Imperador Demônio Kishirika, bem como de alguns outros Reis Demônios. Talvez houvesse algum tipo de magia que permitia que vivessem para sempre.
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Ao aprender um pouco sobre a história deste mundo, também descobri algumas informações sobre as outras línguas existentes. A mais usadas eram:
A língua Humana: usada no Continente Central.
A língua do Deus Fera: usada na parte norte do Continente Millis.
A língua do Deus Lutador: usada no Continente Begaritt.
A língua do Deus do Céu: usada no Continente Divino.
A língua do Deus Demônio: usada no Continente Demônio.
A língua do Deus do Mar: usada em todos os mares.
Para distingui-las, os idiomas foram nomeados de acordo com os deuses das várias raças que residiam em diferentes locais. Apenas a linguagem Humana não seguia essa linha, era uma decisão que poderia incorrer na ira de seu deus.
Os humanos que falavam a língua Humana no Continente Central estavam divididos em três regiões: norte, oeste e sul. O idioma variava um pouco de um local para o outro, seria algo como a diferença entre o português do Brasil e o de Portugal.
Minha língua nativa seguia o dialeto ocidental da língua Humana. Pelo visto, esse dialeto era inteligível para aqueles do norte, mas era melhor não o usar em outras regiões. Os homens da região oeste eram considerados ricos, e a riqueza só iria atrair atenção indesejada – às vezes até infeliz.
O Continente Millis também foi dividido entre norte e sul. No norte falavam a língua do Deus Fera, enquanto no sul falavam a língua Humana.
Quanto ao mar, o povo do mar vivia em todos os cantos do mundo, desde que tivesse água. Eu já tinha ouvido o termo “povo peixe” antes, mas nunca tinha visto nenhum deles.
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Além de minha renda mensal padrão, eu fazia e vendia figures, ajudava Philip a administrar a contratação diária de trabalhadores de meio período e, às vezes, revendia mercadorias que havia anteriormente comprado. Com um troquinho aqui e outro ali, consegui juntar uma pequena quantia de moedas.
Infelizmente, aquele livro que eu queria foi vendido. Eu não poderia comprar o que não estava à venda. Comecei a pensar em usar o dinheiro que economizei para comprar outra coisa. O que poderia comprar com quatro moedas de ouro? Não, não preciso gastar tudo de uma vez, pensei.
Foi então que um livro de um idioma desconhecido chamou minha atenção. Depois de ler sobre a história do mundo e aprender sobre as línguas existentes, lembrei sobre como seria importante aprendê-las.
Foi assim que comecei a aprender uma língua desconhecida. Decidi começar com a língua nativa de Ghislaine, a língua do Deus Fera. Eu também queria aprender a Língua do Deus Demônio. Decidi enviar uma carta para Roxy, mantendo a esperança de que ela talvez pudesse me ensinar, mesmo que fosse pouco.
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Completei nove anos. Isso significava que passaram dois anos desde que virei o tutor particular de Eris.
Passei um ano inteiro aprendendo a língua do Deus Fera. Tive a ajuda de Ghislaine, e aprender a língua até que não foi tão difícil. Não havia um monte de letras para memorizar e, contanto que entendesse todo o padrão gramatical, seria fácil falar. Na minha outra vida fui péssimo com línguas estrangeiras, mas este corpo parecia ser bom em lembrar das coisas.
Agora, aprenderia a língua do deus Demônio. Comprei um livro barato que serviria para aprender o idioma. Durante a venda, o dono da livraria já deu um aviso:
— Não faço ideia do que está escrito aí, só para você saber.
Custava sete moedas de ouro, mas pechinchei até ele fazer por seis.
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Passaram-se três meses. Meu estudo da língua do Deus Demônio não estava progredindo muito. A tradução por si só já tornava tudo difícil; na verdade, sendo honesto, eu não fazia ideia do que estava escrito no livro. Se soubesse ao menos o seu título, talvez pudesse ter adivinhado seu conteúdo a partir do contexto sugerido e trilhado algum caminho de aprendizado. Mas eu não sabia nada, absolutamente nada, então desisti.
A razão pela qual a língua do Deus Fera foi tão fácil para se aprender foi em parte graças a Ghislaine, e em parte porque o livro que comprei contava a história de um dos heróis do povo fera que participava da Lenda de Perugius. Era como uma história paralela, mas enquanto eu tivesse a Lenda de Perugius ao meu lado, poderia ir descobrindo todo o vocabulário facilmente.
Para o livro na língua do Deus Demônio, não tinha a menor ideia de por onde começar. De qualquer forma, como os arqueólogos eram capazes de decifrar línguas? Começam descobrindo algum vocabulário, pensei. Primeiro, começariam procurando por palavras de vocabulários semelhantes, depois começariam a criar hipóteses para o significado de cada palavra. Provavelmente faziam algo assim.
De qualquer forma, agora eu não fazia ideia de quais partes usar para começar a criar meu vocabulário. Não tinha nenhum palpite.
Assim que estava perdido sobre o que fazer depois, a resposta de Roxy finalmente chegou. Eu não tinha recebido nada em mais de um ano. Estava começando a me perguntar se havia acontecido algo com a minha carta, ou se ela não estava mais no Palácio Real de Shirone. Mas, finalmente, chegou uma resposta.
— Heheh… — Fiquei feliz com o simples fato de estar recebendo uma carta de Roxy. Esperava que ela estivesse bem. Me contive enquanto pegava a carta com uma das empregadas. Uma carta? Parecia mais um pacote. Era uma caixa de madeira bastante pesada. Não muito grande, mas tinha pelo menos o tamanho de uma daquelas listas telefônicas antigas.
Dentro da caixa estava uma carta e um livro grosso. O livro não tinha título, mas a capa era feita com a pele de algum animal. Era como uma lista telefônica enrolada em uma jaqueta.
Decidi começar lendo a carta. A cheirei antes de abri-la, foi quase como se estivesse inalando o perfume de Roxy.
Para Lorde Rudeus,
Recebi sua carta.
Tenho certeza de que você cresceu muito em pouco tempo. Fiquei de queixo caído ao descobrir que virou o tutor particular da neta do lorde suserano de Fittoa. Se quer saber, até eu falhei na entrevista para esse trabalho. Você deve ter algumas conexões e tanto para ter conseguido isso.
Se eu não fosse atualmente a professora particular do filho do rei, poderia até ficar com inveja. Ainda assim, você até mesmo conheceu a Rei da Espada, Ghislaine, e além disso virou pupilo dela. Ela é muito famosa. Afinal, é a quarta pessoa mais forte do Estilo Deus da Espada.
Ahh, para onde foi aquela criança de cinco anos que me espiava enquanto eu tomava banho? Agora você parece tão distante.
Bem, vamos ao que interessa. Você disse que quer aprender a língua do Deus Demônio, certo? Cada sub-raça possui uma magia única desconhecida para os humanos. Duvido que ainda exista algum registro literário, mas se aprender o idioma, poderia visitar os assentamentos de cada sub-raça e pedir para que te ensinem. Claro, isso apenas SE estabelecer um bom relacionamento com elas, em primeiro lugar. Isso seria impossível para um mago comum, mas talvez não para você.
São com essas grandes expectativas que estou te mandando este livro. Eu mesma escrevi. Levei muito tempo, então espero que use e valorize, não jogue fora e tampouco venda. Se eu ver isso à venda em algum lugar, posso acabar chorando.
Ah, falando em lojas, o príncipe fugiu do castelo outro dia e comprou uma pequena estatueta que se parece comigo. O manto é removível e até mesmo as pintas na pele estão perfeitamente localizadas.
Que assustador. Talvez eu esteja amaldiçoada. Não tenho ideia do que devo esperar, mas… contanto que pareça seguro, vou te enviar esta carta.
De Roxy.
P.S. Você será reconhecido entre os aventureiros se tiver um cajado.
Entendo.
Em primeiro lugar, toda a história sobre a espiar no banho foi um enorme mal-entendido. Eu não estava espiando; só acabei dando uma olhada lá dentro. Foi uma total coincidência. Digo. Certo, eu sabia que ela estaria no banho, mas minha espiadinha foi por completo acaso. Muitas vezes resolvi caminhar pela casa, mas daquela vez foi um completo acidente!
Deixando isso de lado, Ghislaine realmente era a quarta pessoa mais forte do Estilo Deus da Espada? Havia o nível Divino, o nível Imperial e o nível Rei… Espera, o quê?
Ah, talvez houvesse duas pessoas no nível Imperial. Isso significava que havia apenas uma pessoa no nível Rei? Ouvi dizer que a maioria dos espadachins do mundo usava o Estilo Deus da Espada, então pensei que deveriam haver cerca de dez com proficiência de nível Rei, mas talvez isso fosse mais difícil do que eu pensava.
Além disso, parecia que a estatueta que fiz de Roxy tinha acidentalmente encontrado o caminho até a minha inspiração. Aquele príncipe tinha bom gosto.
Mas, mais importante ainda, o livro que chegou junto em seu pacote foi algo que ela mesma escreveu. Eu não sabia quanto tempo demorou para a minha carta chegar, mas Roxy devia ter escrito o livro em menos de meio ano. Ela trabalhou tanto para escrevê-lo para mim, então eu tinha certeza de que seria fundamental para decifrar a língua do Deus Demônio. Faria o meu melhor para conseguir isso.
Com essas coisas em mente, sentei-me e abri o livro. Foi como se tivesse aparecido uma legenda sobre minha cabeça, dizendo: LENDO.
— Nossa, isso é incrível.
Não consegui esconder minha surpresa quando olhei para o conteúdo. Era um livro didático, mas também serviria como dicionário. Havia traduções para cada palavra na língua do Deus Demônio.
Roxy provavelmente pegou um dicionário do palácio real e copiou todas as palavras. Ela falou sobre vocabulário, frases com sentido específico e até mesmo descreveu por extenso como pronunciar cada coisa.
Essa foi apenas a primeira das surpresas.
Na segunda metade do livro, também escreveu o que sabia sobre as várias raças de demônios. As descrições de cada uma estavam acompanhadas por comentários pessoais. “Não faça isso com esta raça”, “Não faça aquilo com aquela outra raça”. Havia até mesmo ilustrações (mal desenhadas) feitas com os traços peculiares de cada uma das raças.
Havia uma parte especialmente extensa, com cinco páginas, onde ela escreveu até mesmo os mínimos detalhes sobre a Raça Migurd. Fiquei feliz em pensar que fez isso porque realmente queria que eu soubesse um pouco mais sobre ela e seu povo.
O povo da raça Migurd tende a gostar de coisas doces, escreveu ela. Eu me perguntei se isso era verdade. Se fosse, queria preparar algo doce para a próxima vez que nos encontrássemos.
Dito isso, o fato de ter escrito tanta coisa em menos de um ano fez eu sentir que não era nada comparado a ela. Se nos encontrássemos novamente, teria que beijar seus pés.
Deixando tudo isso de lado, o livro era melhor do que eu poderia ter pedido. Em minha outra vida não tive notas particularmente boas, mas era incrivelmente bom quando se tratando de aprender novas coisas nesta nova vida. Tinha certeza de que em seis meses teria dominado perfeitamente todo o conteúdo do livro. Queria ser capaz de, no mínimo, dominar o bastante para uma conversa básica. Era hora de colocar a mão na massa.
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Ponto de Vista da Ghislaine
Rudeus havia se trancado em seu quarto. Estava mais uma vez tramando algo. Ele tinha o hábito de às vezes surpreender Ghislaine. Quando ela o conheceu, pensou que não passava de uma criança que não merecia confiança. Achava que Paul estava sendo confiante demais e orgulhoso demais ao forçar o filho para ela.
Ghislaine devia a Paul. Ela não tinha nenhum sentimento por ele, a não ser senso de obrigação. Caso Rudeus não fosse nomeado tutor de Eris, a mulher ainda planejava mantê-lo por perto.
No final, o garoto conquistou a confiança de Eris em tempo recorde e garantiu um lugar na casa, ficando como tutor.
O sequestro foi algo proposto por ele. Ghislaine ouviu que o mordomo se aproveitou da situação por pura ganância, mas quando ela entrou em cena para ajudar Rudeus e Eris, o menino já estava lidando com as duas pessoas contratadas pelo mordomo, e estava lutando em pé de igualdade.
Ele conseguiu manipular duas escolas de magia diferentes juntando-as em um estilo de luta único – embora imperfeito – e oprimiu seu oponente, um espadachim do Estilo Deus do Norte de nível Avançado. No final o garoto baixou a guarda, talvez por ainda ser uma criança, mas seus instintos de combate eram geniais para alguém de sua idade. Mesmo para Ghislaine, iniciar uma batalha com um oponente que fosse muito superior provavelmente resultaria em derrota.
Além de seu instinto para lutas, ele era excepcionalmente bom ao planejar aulas fáceis e eficazes para Eris. Ghislaine nunca pensou que seria capaz de aprender a ler, escrever, fazer aritmética ou ganhar uma varinha. Ela, o maior incômodo da aldeia, que fora confiada a um espadachim errante aleatório antes mesmo de completar dez anos. Ela, que foi rejeitada por grupos de aventureiros, apesar de ser uma espadachim de nível Santo. Quando finalmente conseguiu encontrar um grupo, foi continuamente infernizada por um homem frívolo que continuava dizendo que ela tinha apenas músculos no lugar do cérebro, então não havia por que perder tempo pensando em nada. O que essas pessoas diriam se a vissem agora? Só de pensar nisso, era capaz de quase sorrir.
Ghislaine nunca pensou que chegaria o dia em que pensar nas pessoas de sua aldeia faria com que se sentisse triunfante. E, tudo isso, por incrível que pareça, foi fruto do trabalho de uma criança com idade para ser seu filho.
Depois que seu grupo debandou, ela foi enganada quase todos os dias. Deixaram-na sem um tostão, mas a rígida disciplina de seu mestre incluía não tocar nos pertences de outras pessoas, então não poderia recorrer a roubo. Estava à beira da inanição. Foi então que Sauros e Eris a acolheram.
Ghislaine prestou a Rudeus o mesmo respeito que prestou àqueles dois. Se fosse tão longe ao ponto de chamá-lo de “mestre”, seu mestre da espada provavelmente ficaria furioso. “Não se atreva a me colocar no mesmo patamar que aquele pirralho!” Provavelmente seria melhor chamá-lo apenas de professor.
E Rudeus merecia respeito por suas habilidades como professor. Ele era realmente paciente enquanto ensinava magia e aritmética. Ghislaine deu o seu melhor, mas não conseguia aprender coisas novas com facilidade. Cometia os mesmos erros várias vezes. Apesar disso, o garoto nunca demonstrou qualquer aborrecimento enquanto explicava cuidadosamente as mesmas coisas. Até mesmo mudava as explicações para ajudá-la a entender melhor.
Graças a seus esforços, em dois curtos anos, havia dominado o básico da magia de fogo e de água. E agora, de acordo com os planos de Rudeus, não iria passar para os feitiços de nível Intermediário, mas sim para o lançamento de feitiços silenciosos.
Era lógico – se ela pudesse dominar isso, poderia usar magia mesmo quando estivesse com as duas mãos ocupadas. A mulher entendeu essa lógica e estava trabalhando duro para alcançar seus objetivos. Claro, trabalhar duro em algo não significa que vai necessariamente conseguir.
O mestre da espada de Ghislaine, que era um espadachim de nível Divino, estava sempre falando para ela sobre lógica. Ele dizia coisas como: “Em outras palavras, a lógica é a base de tudo”. Por isso seu estilo de esgrima, polido ao longo de muitos anos, se baseava na racionalidade. A jovem Ghislaine detestava a simplicidade daquilo que era básico, então seu mestre fez um enorme esforço para ensiná-la. Ela foi forçada a praticar a mesma coisa várias vezes.
O estilo de ensino de Rudeus era muito semelhante. Quando ele não estava por perto, Eris costumava reclamar, falando: “Quero usar magias mais poderosas”, mas Ghislaine estava de acordo com o ritmo das coisas. Em uma batalha real, o lutador mais confiável não seria o mago de nível Avançado que levaria uma eternidade para lançar um feitiço poderoso. Seria o mago que pudesse se adaptar à situação e tivesse total domínio das magias de nível básico e intermediário.
No passado, ela pensava que magos eram inúteis em batalhas. Mas após ver Rudeus lutando, mudou de ideia. Um oponente que se movia rapidamente enquanto usava magia ofensiva para restringir os movimentos do oponente seria um inimigo formidável para qualquer espadachim.
Ela ouviu que o único que estava realmente em páreo com ele em sua aldeia era Paul. Paul, que era um imaturo, e com certeza avançou contra Rudeus sem se conter. Se o resultado fosse dar ao garoto a habilidade para se mover estrategicamente em uma luta com espadas… então seria uma feliz coincidência.
Então, Paul, no final das contas, serviu para alguma coisa. Se ele tivesse dado um passo em falso que fosse, Rudeus poderia ter desistido de lutar e desperdiçaria todo o seu potencial. O garoto devia ter herdado essa teimosia de não desistir do pai.
Ghislaine acabou por querer ensiná-lo uma técnica para derrotar Paul. Infelizmente, Rudeus não tinha talento para o Estilo Deus da Espada. Ele pensava muito. O garoto pegou todas as técnicas básicas do estilo, tentou executá-las seguindo alguma lógica, e então os resultados foram completamente ilógicos.
Isso não era uma coisa ruim, dada a sua personalidade. Ele provavelmente não estava usando magia enquanto praticava esgrima. Isso não era, entretanto, apropriado ao Estilo Deus da Espada, onde um único avanço decidiria tudo e a batalha terminaria em uma fração de segundos, assim como um cruzar de espadas. O garoto era mais adequado para o Estilo Deus do Norte e para o Estilo Deus da Água, mas parecia que Paul também não havia ensinada nada disso. Infelizmente, Ghislaine sabia apenas o Estilo Deus da Espada. Ela não poderia ensinar os outros, mas conhecia alguém que poderia. Se em três anos o menino ainda tivesse vontade de aprender esgrima, ela mesma o apresentaria a um usuário do Estilo Deus do Norte.
No momento, só poderia continuar ensinando os fundamentos do Estilo Deus da Espada. Se ele os dominasse, veria uma melhora exponencial assim que começasse a aprender o Estilo Deus do Norte. Isso se ainda quisesse aprender mais, claro.
Ele atualmente parecia estar travado no que diz respeito a magia, já que não tinha nenhum mestre para ensiná-lo, mas certamente um dia seria um mago realizado. Rudeus poderia até não chegar ao nível Divino, um feito que parecia quase fora da realidade, mas poderia chegar ao nível Imperial.
Ghislaine se perguntou como guiá-lo. Roxy, sua instrutora de magia, certamente tinha lutado contra a mesma pergunta. Ela achou um pouco patético o modo como a garota fugiu do problema, mas não podia culpar a maga por fazer isso. Na verdade, deveria agradecer. Afinal, foi graças às instruções de Roxy que Ghislaine pôde começar a aprender magia.
Aprender com um professor incapaz iria apenas atrapalhar o aluno. Ela pôde sentir o gosto dessa realidade enquanto, em outro momento, ensinava a arte da espada a outra pessoa.
Seus pensamentos acabaram perdendo o rumo. Ah, sim. Ela se perguntou o que Rudeus estava fazendo naquele quarto. Ao contrário da Jovem Senhora, que parecia extremamente ocupada com o tempo livre propiciado pelo dia de folga, o garoto sempre colocava as mãos em algo novo. Mais recentemente, até mesmo foi ao quarto da mulher após o jantar, com um livros em mãos, e disse que queria aprender a língua do Deus Fera.
Ela não tinha certeza do que ele planejava fazer com uma língua que só era usada em aldeias na floresta, mas ele passou seis meses estudando com afinco. A língua do Deus Fera não tinha nenhum termo complicado, então o garoto provavelmente poderia até mesmo se envolver em conversas sem sofrer complicações.
— Agora posso ir para a grande aldeia da floresta quando quiser — falou ele depois, sem qualquer expressão de alegria.
E o que Rudeus planejava fazer em um lugar tão isolado? Ele ficou nervoso ao ser questionado por Ghislaine.
— Hã? Nada em particular… Ah, pode ser que tenha algumas garotas bonitas por lá. Com orelhas de gato.
Isso a convenceu. O garoto definitivamente era filho de Paul e herdou o sangue dos Greyrat.
Sua certeza partia do fato de que todos na casa dos Greyrat pareciam olhá-la de um jeito estranho. Se estivessem apenas olhando porque ela era uma mulher, não incomodaria tanto. Seus olhares eram peculiares. Outros homens olhavam para os seus seios. Primeiro seu rosto, depois fingiam olha para outros lugares enquanto encaravam seus peitos. Depois disso, iriam olhar mais para baixo, para sua barriga, então sua virilha, e depois as coxas. Quando estavam atrás dela, Ghislaine sabia que estariam olhando para sua bunda.
Mas os homens da família Greyrat, entretanto, eram diferentes. A princípio, ela pensou que seriam iguais, olhando para seu rosto e traseiro. Sem problemas, contanto que não quisessem nada. Deixando Paul e seus gostos estranhos de lado.
Mas ela percebeu que os olhos de todos eles focavam em lugares estranhos. Não em seu rosto, mas um pouco acima. Também não era exatamente para a sua bunda que olhavam. Ela descobriu que só encaravam suas orelhas e cauda. Eris, Sauros e Philip seguiam todos o mesmo padrão. Antes de a mulher partir para buscar Rudeus em Buena Village, perguntou, pela primeira vez, por que ficavam olhando para suas orelhas.
Quando ela o fez, Philip respondeu, não parecendo nada envergonhado pelo que falou.
— Porque a família Boreas gosta do povo fera. — E olhou para suas orelhas ao falar isso.
Rudeus, disseram, era um caso diferente. Embora não tivesse herdado o nome nobre de Notos, ainda fazia parte da família.
— Como filho de Paul, não tenho dúvidas de que ele compartilha o mesmo carinho por mulheres que seu pai — disse Philip.
Ghislaine tinha poucas dúvidas quanto a isso naquela época. Quando realmente o viu, entretanto, percebeu que Rudeus era um cavalheiro que dificilmente seria mencionado na mesma frase que Paul. Ao contrário de seu pai, trabalhava duro, levava os estudos muito a sério e mostrava um enorme autocontrole quando se tratava de sexo… Bem, talvez a última parte não fosse exatamente verdade. Mas ela suspeitava que ele poderia não ser filho de Paul.
Desde então, Ghislaine corrigiu seu modo de pensar. Não havia qualquer dúvida sobre isso:
Rudeus Greyrat era filho biológico de Paul.
— Então, você realmente é filho do seu pai. Não se satisfaz apenas com mulheres da mesma raça, hein?
— Eu só estava brincando. Por favor, não fale isso.
Definitivamente não foi só uma piada. Este garoto algum dia seria um mulherengo.
Ultimamente, um brilho começou a se formar nos olhos da Senhorita Eris sempre que ela olhava para Rudeus. Ghislaine pode ter sido ignorante quanto aos casos de amor, mas até ela podia notar isso. A garota parecia com Zenith quando começou a ficar apaixonada por Paul.
Rudeus aparentemente tinha começado a aprender a língua do Deus Demônio. Primeiro, a língua do Deus Fera, agora a língua do Deus Demônio. No futuro, parecia provável que partiria em uma missão para encontrar todos os tipos de mulheres do mundo.
Uma vez, Paul disse algo parecido, sobre viajar por todo o Continente Central formando um harém. Ele abandonou a ideia no Continente Millis, quando Zenith o pegou, mas talvez Rudeus tivesse herdado esse ideal. Sério, que par de pai e filho inúteis…
Não. Ghislaine respeitava Rudeus. Isso não era mentira. Paul era o único que ela desprezava. O garoto poderia ter até demonstrado vislumbres de ter a mesma disposição, mas ainda não havia feito nada de errado. Ainda.
Ele ainda era um garoto digno de respeito. Sim. Ao menos por enquanto.
— O que houve, Ghislaine? — Eris apareceu diante dela enquanto a mulher estava perdida em pensamentos.
A garota havia crescido muito nos últimos dois anos. Ghislaine a conhecia a cinco anos. Naquela época, a mulher pensava que a menina não passava de uma criaturinha totalmente egoísta e sem esperanças. No primeiro dia de aulas de esgrima dela, Ghislaine a treinou até que a menina mal suportasse ficar em pé. Então, à noite, Eris avançou contra ela com uma espada de madeira. Ela pôs um fim rápido a isso, trocando suas posições, mas o olhar feroz da garota a rastreou por meses após isso, buscando por qualquer abertura.
Ghislaine costumava ser uma criança problemática, então tinha certo carinho por Eris. Afinal, ela também era assim quando jovem.
No começo, a garota sempre reclamava disso ou daquilo durante o treinamento. Recentemente havia diminuído. E depois de seu aniversário no último ano, parou de gritar e sujar as roupas. Em vez de atribuir isso às aulas de etiqueta, seria melhor pensar que era por ela querer parecer boa na frente de Rudeus.
Talvez ele tivesse dito algo a ela em seu aniversário. Algo que aprendera com Paul, Ghislaine tinha certeza disso, o tipo de palavra que balançaria o coração de uma mulher.
Parando para pensar nisso, Eris tinha passado a noite no quarto de Rudeus. Será que… Não, não era possível, os dois ainda eram muito jovens. Ainda assim, Ghislaine não ficaria surpresa se eventualmente formassem um casal. Não existiam muitos homens capazes de lidar com a garota.
— Estava pensando em Rudeus.
— Hmm, como assim? — Eris inclinou a cabeça, deixando o ciúme claro em seus olhos.
Não se preocupe, pensou Ghislaine, não vou roubar ele de você.
— Estava me perguntando, por que ele está tentando aprender a linguagem do Continente Demônio?
— Ele já falou sobre isso.
Falou? Ghislaine achava que prestava atenção nas aulas, mas não fazia ideia do que havia despertado seu repentino interesse por línguas desconhecidas.
— Qual é o motivo?
— “Algum dia pode acabar sendo útil”.
Certo, ele falou isso quando estavam vagando pelas lojas, quando estava escrevendo os nomes e preços de diferentes produtos. Isso realmente poderia se provar útil?
Agora que pensava nisso, aquele ladrão de seu grupo, há muito tempo, sabia muito bem o valor de mercado de tudo. Certa vez, encontrou uma loja com remédios bons para cura que custavam metade do preço normal e propôs que o grupo comprasse tanto quanto pudesse, mas depois descobriram que todos os produtos eram de qualidade duvidosa. Era uma lembrança desagradável.
Se não soubesse o valor de mercado das coisas, talvez vendessem mercadorias por um preço errado e nem mesmo saberia. Na época, Ghislaine disse a Rudeus que não entendia seu raciocínio, mas, pensando bem, no final das contas, parecia uma boa ideia.
Graças às aulas de aritmética de Rudeus, ela não seria mais roubada no troco. Mas ainda era possível que fosse enganada se o dono de uma loja manipulasse os preços de um modo prejudicial. Ninguém poderia virar um comerciante apenas por ter aprendido um pouco de matemática, mas essas habilidades de certo teriam vários usos.
— Esqueça Rudeus por enquanto. Você pode pensar nele o quanto quiser e não vai entender — disse Eris. — Mais importante, Ghislaine, se você estiver livre, me acompanhe na prática com espada.
Ela realmente estava se dedicando à esgrima. Ghislaine não tinha certeza do porquê, mas talvez a garota estivesse sentindo alguma pressão. Rudeus tinha apenas nove anos. Eris tinha essa idade quando eles se conheceram. Estava claro que o garoto já era muito mais maduro do que ela naquele tempo. Não apenas em leitura, escrita, aritmética e magia, mas também em suas habilidades sociais e de conversação. Ele poderia não saber etiqueta, mas tinha boas maneiras. Era educado como um comerciante e também tinha senso de humor. Às vezes parecia demonstrar traços de que tinha muito mais do que apenas nove anos. Se interagisse com o garoto apenas por palavras escritas, provavelmente acreditaria nele caso falasse que tinha quarenta anos.
Aparentemente havia um golpe bem popular no Reino Dragão. Um bandido alfabetizado fingiria ser filho de alguma família nobre e escreveria uma carta para a filha de outra família nobre. Passaria algumas semanas conquistando a confiança alheia, então a levaria para além dos muros seguros de sua casa. Então a capturaria e venderia aos escravocratas.
Talvez Eris quisesse ser melhor do que Rudeus em alguma coisa. Se fosse em esgrima, Ghislaine ficaria mais do que feliz em ajudar.
— Tudo bem, Eris. Para o pátio.
— Certo! — Ela balançou a cabeça entusiasmada.
Se Eris continuasse treinando para valer, poderia um dia superar a própria Ghislaine. No momento, seu nível de habilidade era apenas Intermediário, mas após três anos trabalhando no básico, seu potencial estava começando a transparecer. Seus passos eram rápidos e afiados. Seu espírito de luta estava começando a impulsionar seus movimentos. Se aprendesse a usar isso conscientemente, com certeza alcançaria o nível Avançado do Estilo Deus da Espada. E se dominasse tudo, poderia até mesmo chegar ao nível Santo.
Esse futuro certamente não era algo muito distante. Ghislaine não sabia o quanto Eris iria crescer, mas se ela conseguisse alcançar as habilidades do nível Santo enquanto ainda estava aprendendo, então a mulher apresentaria a garota ao seu mestre. Se possível, gostaria de levar Rudeus para conhecê-lo também.
Ghislaine se perguntou como seu mestre reagiria a isso. Estava ansiosa para descobrir.
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NOME: Eris Boreas Greyrat. | |
OCUPAÇÃO: Neta do lorde suserano de Fittoa. | |
PERSONALIDADE: Um pouco violenta. | |
FAZ: Escutar apropriadamente. | |
LEITURA/ESCRITA: Sua escrita está melhorando. | |
ARITMÉTICA: Continua ruim em divisão. | |
MAGIA: Não consegue lançar feitiços sem entoar um encantamento. | |
ESGRIMA: Estilo Deus da Espada – Nível Intermediário (quase no Avançado). | |
ETIQUETA: Consegue reproduzir modos femininos. | |
PESSOAS DE QUEM GOSTA: Avô, Ghislaine, Rudeus. |
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