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Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 02 – Cap. 05 – A Jovem Senhorita Chega aos Dez

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Mais um ano se passou.

A educação de Eris estava progredindo sem qualquer problema. Sua esgrima ficou tão impressionante que ela chegou ao nível Intermediário antes de seu décimo aniversário. Isso indicava que poderia lutar contra um espadachim mediano.

Ghislaine disse que, embora ela tivesse apenas nove anos, em pouco tempo poderia chegar ao nível Avançado. Nossa Jovem Senhora era um tipo de gênio.

E quanto a mim? Se alguém me perguntasse pessoalmente, eu desviaria o olhar. Parecia que não era nada genial na esgrima.

A capacidade de Eris de ler e escrever estava, bem, funcional, ao menos. Ghislaine, que tinha sido enganada várias vezes e até mesmo foi vendida como escrava, já que não sabia ler, estava desesperadamente tentando memorizar tudo.

Infelizmente, Eris foi ultrapassada quando se tratando de aritmética. Era seu ponto fraco. Não havia motivo para entrar em pânico. Eu não tinha ideia do que ela faria quando crescesse, mas matemática avançada não era algo necessário neste mundo. Só seria necessário dominar os quatro princípios básicos em cinco anos. Seria o suficiente.

As aulas de magia estavam avançando a passos largos, mas parecia que havíamos chegado a um pequeno impasse. Através dos cânticos, as duas podiam executar a maioria dos feitiços básicos. Eris tinha dominado quase todas as escolas de magia, fora a da terra, mas Ghislaine só conseguia lançar feitiços de fogo. Me perguntei sobre a diferença entre suas habilidades, embora ambas estivessem aprendendo a mesma coisa. Ghislaine era simplesmente ruim com feitiços de água, vento e terra? Minhas observações pareciam indicar isso, mas ainda não tinha certeza.

De qualquer forma, estava claro que apenas recitar os feitiços do livro de magia não seria o bastante para elas superarem os problemas. Lançar magias de diferentes escolas era algo bem natural para mim, então eu não sabia como ajudar as duas. Fiz com que praticassem os feitiços silenciosos várias vezes, mas os resultados foram menos do que satisfatórios. Sylphie foi capaz de fazer essas coisas facilmente, então me perguntei se não era uma questão de idade. Ou talvez fosse só que Sylphie revelou-se especialmente habilidosa.

Talvez isso tudo não fosse nada mais que esforço inútil. Poderia ser melhor avançar para os feitiços intermediários. Mas Eris e Ghislaine eram espadachins, então seria melhor se dominassem os feitiços básicos quando estivessem mais experientes. No final, decidi que, algum dia, seriam capazes de lançar feitiços silenciosos.

 

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O décimo aniversário de Eris estava chegando. E o décimo aniversário de uma pessoa era algo especial. Era costume que a nobreza fizesse grandes festas para uma criança quando estivesse completando seu quinto, décimo e décimo quinto aniversário.

No aniversário de Eris, o grande salão de recepção e o pátio anexo seriam abertos para uma enorme festa. Choveriam presentes de todos os lados, todos os nobres de Roa foram convidados a comparecer. Como Sauros era visto como alguém do tipo rústico e militar, o plano inicial era fazer um buffet self-service, até que Philip resolveu intervir e transformou tudo em um tipo de baile, visando facilitar a participação dos nobres locais, aqueles menos ricos.

A mansão ficou agitada nos momentos mais frenéticos. Empregadas com orelhas de cachorro corriam de um lado para o outro pelos corredores. Geralmente elas não deveriam correr, mas, pelo visto, podiam fazer isso caso estivessem ocupadas demais. Algumas até mesmo correram a toda velocidade, rápido o suficiente para acertar alguém em alguma esquina e mandar a pessoa voando até a lua.

Fiquei sempre nos cantos dos corredores, onde não iria atrapalhar o caminho de ninguém. Não tinha nenhum destino real em minha mente, só queria dar uma caminhada. Isso mesmo, nada mais do que uma caminhada.

Eu não tinha nada a ver com o movimento frenético. No momento, Eris estava se preparando para tomar o papel principal na festa, tendo aulas especiais de etiqueta, então nossas aulas foram canceladas. Philip havia solicitado que ela “ao menos se certificasse de agir como uma criança de dez anos, sem passar vergonha”. Pelo visto, a garota não entendeu isso, já que Edna, com uma silhueta cansada, solicitou um drástico aumento no número de aulas.

Aceitei o pedido de Edna, e assim surgiram dias em que ela ficou educando Eris da manhã até a noite, dando várias aulas especiais. Isso me deixou completamente desocupado.

Claro, estaria participando da festa como um convidado, já que era a celebração de Eris. Não havia nada a fazer, a não ser ficar em um canto, quieto, e comer. Não exigiram nada de especial de mim.

Achei que talvez devesse praticar um pouco de etiqueta, agora que tinha uma recém-descoberta liberdade, mas se ficasse todos os dias treinando, ficaria apenas cansado. Além disso, eu queria dar uma olhada na mansão enquanto estavam todos ocupados com os preparativos. Seria o primeiro grande evento do qual estaria participando. De certo havia alguém por perto que poderia aceitar minha ajuda. Embora a única coisa que poderia realmente fazer seria provar as coisas.

— Parando para pensar, será que os aniversários daqui têm bolos? — Eles não fizeram um lá em Buena Village, mas aparentemente existiam por aqui. Nunca vi um, mas às vezes sentia vontade de comer algo doce.

Com esses pensamentos em mente, fui até a cozinha. Poderia ter perguntado a respeito da existência de bolos, mas só queria dar uma caminhada. Se tivesse boa sorte, também poderia encontrar algumas amostras das comidas que seriam servidas na festa.

É. Além disso, estava com fome. Ainda não era hora do almoço?

— Chega! — Nesse momento, a porta à minha frente foi aberta e Eris saiu voando. Seus ombros estavam curvados enquanto ela corria pelo corredor a uma velocidade impressionante e desaparecia fazendo uma curva.

Edna saiu correndo atrás dela.

— Jovem Senhora! — A mulher olhou para os dois lados, depois suspirou ao não ver nenhum vestígio de Eris. Ela começou a bocejar, mas só me viu quando estava na metade do caminho.

A mulher revelou um sorriso cansado.

— Bem, olá Lorde Rudeus. — Foi o sorriso de alguém que implorava por ajuda. Essa era uma expressão rara de se ver em Edna.

— Você deve estar exausta, Senhorita Edna.

— Lamento que tenha visto isso.

Levantei a mão ao me aproximar dela, e Edna se curvou em um movimento gracioso. Coloquei minha mão no peito e retornei a saudação.

— O que há de errado? — perguntei.

— Bem, isso é um pouco embaraçoso, mas a Jovem Senhora fugiu.

Bem, sim, eu sabia, já que vi tudo acontecendo. Foi incrível. Ela sumiu em poucos segundos. Eu mesmo era muito bom em fugas, mas não era nada comparado a Eris.

Edna parecia preocupada quando colocou a mão no rosto.

— Veja, ultimamente tenho a ensinado a dançar, mas ela simplesmente não acerta os passos. Agora, toda vez que tento a ensinar, ela foge.

— Entendo, isso é preocupante. Sei como você se sente. — Principalmente porque ela costumava fugir de mim também. Eris era do tipo que se recusava a fazer aquilo que não gostava. Edna estava passando por dificuldades. Pegar a garota não era uma tarefa fácil.

— Falta menos de um mês para o aniversário dela. Se as coisas continuarem assim, vai passar vergonha na frente dos convidados.

Edna fez parecer que isso seria algo terrível. Mas já não estava meio tarde demais? Eris já tinha feito sua reputação como uma coisinha violenta. Ser incapaz de dançar em uma festa parecia estar bem longe de ser uma verdadeira vergonha.

— Será o décimo aniversário dela. É especial. Ser motivo de chacota em um dia assim seria cruel demais, não acha, Lorde Rudeus? — disse, ainda olhando para mim.

Se ela queria algo de mim, eu preferia se falasse com todas as palavras.

— Então o que você quer que eu faça?

— Poderia, digo, se você não se importar, Lorde Rudeus, não poderia persuadi-la por mim? Para que retome as aulas de dança.

Era isso.

 

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Por que concordei com seu pedido? Porque não tinha mais nada para fazer, suponho, e por causa de algo que Edna falou: “Ser motivo de chacota em um dia assim seria cruel demais.”

Neste mundo, havia um costume de fazer grandes celebrações no quinto, décimo e décimo quinto aniversário; apenas nessas três ocasiões. Seria trágico imaginar um dia tão feliz gerando nada além de lembranças dolorosas. Com um pouco de esforço da minha parte, o dia poderia acabar sendo agradável; sem isso, acabaria na mais pura tristeza.

Se eu tivesse me esforçado um pouco mais na minha vida anterior, poderia ter entrado em outra escola, então aquelas coisas horríveis poderiam nunca ter acontecido. Poderia não ter me fechado para o mundo. Não que eu achasse que Eris faria isso, mas poderia acabar com memórias horríveis, as quais poderiam permanecer por muito tempo.

Com isso em mente, comecei a procurá-la.

Por sorte, a encontrei facilmente. Estava atrás dos estábulos, deitada de costas sobre uma pilha de feno.

— Hmph. — Ela bufou e me olhou feio quando me viu.

Fui e sentei ao seu lado.

— Ouvi dizer que você não consegue dançar muito bem… Uauuuuu!

Ela me empurrou do palheiro com um chute. Consegui cair em segurança, me virando para me proteger. Eris era o tipo de pessoa que sempre lançava um ataque seguido. Se eu não estivesse preparado, levaria um chute na parte de trás da cabeça, que estaria desprotegida.

Ou foi o que pensei, mas o ataque seguido nunca chegou. Ela só ficou lá, esparramada no feno, olhando para o céu.

Voltei a subir no palheiro e sentei ao lado dela. Desta vez, agarrei o feno para não ser expulso de novo. Na verdade, esse era o meu plano, até sentir um impacto em minha cabeça.

— Ai!

Seu calcanhar ficou sobre o topo de minha cabeça. Não havia muita força por trás dele, então não foi um chute, só parecia que ela resolveu o descansar ali. Estava de mau humor, mas não parecia ter muita energia de sobra.

 

 

 

— Você não vai mais… praticar?

— Não preciso aprender a dançar.

Olhei para ela. A garota ainda estava olhando para o céu.

— Mas…

— E também não vou dançar no meu aniversário — proclamou francamente.

Mas não havia como a estrela de uma festa do tipo baile renunciar à dança. Eu nunca tinha participado de algo parecido, mas sabia que, de alguma forma, Eris seria arrastada para uma dança na frente de todos assim que o dia chegasse.

— Por que tenho que fazer algo que não sei? — resmungou, fazendo beicinho.

Eu entendia seus sentimentos. Mas fugir só iria piorar as coisas no futuro.

— É, quando você coloca as coisas assim, fica meio difícil de responder.

O que eu precisaria fazer para que ela entendesse? Eu sabia que não escutaria se apenas dissesse que um dia iria se arrepender. Essa era a lógica de um adulto arrependido. Seria necessário provar a emoção para compreendê-la.

—Você não entende. Parece até que pode fazer qualquer coisa — disse ela.

— Não, com certeza tem coisas que não posso fazer.

— Tem?

— Claro.

— Hmm. — Ela não me perguntou o que era. No lugar disso, só olhou para mim com uma expressão descrente.

— Mas acho que quando você coloca o máximo de esforço em algo em que não é bom, sente uma realização muito maior quando finalmente alcança o objetivo.

— Acha mesmo? — Ela continuou olhando para o céu, parecendo nada convencida.

— Posso te ajudar. Por que não tenta praticar a dança mais um pouco?

— Não quero.

Isso acabou com a conversa ali mesmo. Não consegui encontrar nada para dizer. Afinal, parecia ser impossível mudar sua mente.

Talvez fosse melhor pedir ajuda a Ghislaine. Claro, ela provavelmente não veria motivos para aprender a dançar; nem eu via. As únicas pessoas que viam algum deviam ser Edna e Philip. Será que deveria conversar com o pai dela?

Enquanto pensava nisso, Eris tirou o pé da minha cabeça. Depois, me chutou com tudo, aproveitando o impulso para se lançar do topo feno para o chão.

— Rudeus.

— Sim?

— Vou retomar as lições de dança. Venha comigo.

O que eu falei funcionou? Ou ela só estava fazendo o mesmo de sempre e sendo caprichosa? Seja lá o que fosse, parecia ter encontrado alguma motivação, então fiquei feliz.

— Muito bem, Jovem Senhora.

E então a segui de volta para o salão de dança.

 

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Para ajudar nas aulas eu precisaria aprender a dançar.

Em coisas assim, seria muito mais fácil melhorar caso tivesse um parceiro.

Assim sendo, eu nunca tinha dançado em nenhuma das minhas vidas. Minha experiência, na melhor das hipóteses, limitava-se a jogar algum simulador de dança quando estava na escola, então fiquei até um pouco preocupado.

— Maravilha. Você é realmente bom nisso.

Ao contrário do esperado, consegui facilmente dominar os primeiros passos. Dança se resumia a combinar os passos com o ritmo. Meu velho eu podia até ter sido um grandioso sedentário, mas o atual estava em boa forma. Os passos mais simples foram bem fáceis de aprender.

— Hmph. — Eris ficou de mau humor quando Edna me elogiou.

Ela passou meses trabalhando nisso e sempre falhava, então ficou claro que sentiu uma enorme amargura ao me ver dominando os passos com tanta facilidade. E eu não estava apenas aprendendo a dançar. Estava observando Eris para que pudesse descobrir suas dificuldades.

Existiam duas razões para isso. A primeira era que Edna provou-se uma péssima professora. Bem, talvez péssima fosse exagero; ela provavelmente estava na média. Era o seu modo de dizer: “Faça isso”, “Faça aquilo” e “Só memorize o que estou falando”, esse que era o problema. Ela nunca falou sobre a necessidade dessas coisas.

A segunda razão era a falha de Eris. Seus passos eram muito rápidos e afiados. Sua personalidade e movimentos estavam alinhados ao Estilo Deus da Espada, mas era uma desvantagem em danças. Onde ela deveria mover os pés levemente, de acordo com o ritmo da música, manobrava o corpo rigidamente e em alta velocidade, ficando fora de sincronia com seu parceiro. Eris tinha seu próprio ritmo e, por instinto, não gostava de ser interrompida. Ela mantinha isso como uma medida de proteção, independentemente das circunstâncias, para que ninguém conseguisse interromper seu ritmo. Era uma habilidade incrível para o campo de batalha, mas atrapalharia a dança. Dança se resumia a sincronia com o parceiro.

De acordo com Edna, esta era a primeira vez que ela achou um aluno com absolutamente nenhuma habilidade para danças. Mas na verdade não era esse o caso. Movimentos tão rápidos deixavam a nitidez transparecer. Em uma dança que exigia isso, poderia demonstrar lindos movimentos.

Então era por isso que seu método de ensino não estava funcionando. Entretanto, culpar Edna não iria ajudar com os movimentos de Eris. Ainda assim, havia algo que poderia ser feito.

Enquanto eu observava os movimentos desajeitados da garota, vendo seus passos de dança, decidi tentar algo.

— Eris, por favor, feche os olhos e tente movimentar seu corpo em seu próprio ritmo.

Ela olhou para mim em dúvida.

— O que está planejando fazer, mandando eu fechar os olhos?!

— Lorde Rudeus…? — Até mesmo o sorriso gentil de Edna vacilou.

Uh, não, no que vocês estão pensando? Não quero a beijar, pensei defensivamente. Que grosseria da parte de vocês, acusando um cavalheiro como eu!

— Vou usar magia para te ajudar a dançar.

— O quê?! Existe um feitiço para isso?!

— Não, eu disse magia. Não é nenhum feitiço. É mais parecido com um fenômeno milagroso.

Ela inclinou a cabeça, mas fez o que pedi.

Sua dança seguia o mesmo ritmo que vi tantas vezes durante nossas aulas de esgrima: rápida, detalhada, precisa, mas sempre irregular. Seus movimentos eram confusos e naturalmente atrapalhariam o ritmo do oponente. Eu jamais poderia imitá-la, nem mesmo se quisesse. Era um ritmo naturalmente egoísta.

— Agora vou bater palmas. Tente combinar esse ritmo aos seus passos, como se estivesse se esquivando de um ataque. — Assim que falei isso, comecei a bater as mãos em batidas regulares.

Eris combinou o ritmo com seus movimentos rápidos e precisos. Repeti isso por algum tempo, falando com ela em alguns intervalos determinados.

— Sim! Sim!

Sempre fazia isso antes de bater palmas. Eris iria parar por um momento e reagiria assim que ouvisse o som de minhas mãos se juntando.

— É-é isso! — Edna ergueu a voz, espantada.

Eris fez os passos perfeitamente. Ela ainda estava um pouco rápida demais, mas ao menos conseguiu seguir o ritmo.

Edna cerrou os punhos e, com um sorriso excepcionalmente animado, gritou:

— Você conseguiu! Você conseguiu, Jovem Senhora!

Eris abriu os olhos, toda alegre e sorridente, e disse:

— Sério?!

Continuei com minhas instruções, com foco especial em suas paradas.

— Certo, certo, mantenha os olhos fechados. Agora você precisa se lembrar do que fez.

— Lembrar? Eu só preciso observar as fintas do oponente e as evitar!

Exatamente. Essa era a mesma coisa que fazíamos em nossas aulas de esgrima, enquanto nos esquivávamos dos ataques de Ghislaine. Cada vez que ela fazia uma finta, gritava “sim” para que aprendêssemos a desviar de ataques reais.

Mesmo as fintas de Ghislaine eram repletas de intenção assassina. Em comparação, era fácil de dizer pela minha voz se eu estava fingindo ou não. Aliás, alcancei mais resultados durante as lições do que Eris. Ela era muito confiante, então caia facilmente nas fintas.

— Eris. Você pode usar as coisas que aprendeu em outras lições. Quando estiver lutando com algo, tente lembrar se já fez algo parecido em alguma de suas outras aulas.

— C-certo. — Em contraste ao seu comportamento usual, Eris não falou mais nada, apenas balançou a cabeça, mantendo os olhos ainda bem abertos.

Parecia que o problema fora resolvido.

— Eu não deveria ficar surpresa. Afinal, você tem dado aulas de aritmética à Jovem Senhorita já faz mais de um ano — disse Edna. Ela parecia completamente impressionada, seus olhos transbordavam emoção enquanto olhava para mim.

Não deveria ficar surpresa, hein? Então era esse o nível de desesperança associado aos aprendizados de Eris na área da aritmética. Bem, eu sofri um pouco. Metade do crédito era de Ghislaine. Eu não poderia deixar isso subir à cabeça.

— Foi um incrível aprendizado para mim. Parece que esgrima e dança, na verdade, têm muito em comum. — Edna parecia ter visto algo inacreditável. Algo tipo: “Ó, Pai Celestial, testemunhei um milagre ou coisa do tipo”. Quanto exagero.

— Bem, existem até danças que usam espadas. A dança e a esgrima são intimamente relacionadas — falei.

— Danças que usam espadas? Algo assim realmente existe? — perguntou maravilhada.

A dança da espada parecia algo comum para o nerd dentro de mim, mas talvez não existisse neste mundo.

— Uh, sim, mas só li sobre isso em alguns livros — disse.

— Bem, então, no que você leu… de onde dizem que essa dança é?

— U-uh, bem, parece que era de um país deserto.

— Deserto… Então é no Continente Begaritt?

— Não sei. Por mais improvável que pareça, pode ser que as raças de demônios do Continente Demônio dancem assim. Ouvi dizer que eles têm vários clãs menores, então talvez tenha algum que dance usando espadas — respondi, incerto.

— Entendo, então isso faz parte da coleção de conhecimentos que te dá tanta sabedoria, Lorde Rudeus — falou a mulher, sorrindo gentilmente enquanto me elogiava. Parece que estava convencida disso.

— Isso mesmo, Rudeus é incrível! — disse Eris, por algum motivo estranho, orgulhosamente interrompendo.

Isso mesmo, me elogie mais um pouco, pensei. Sou do tipo que ama elogios. Bwahahahaha!

 

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No dia do baile.

Eris estava toda arrumada, sentada como uma princesa, quando Sauros gritou ordenando que a festa começasse. Me esgueirei para um canto e fiquei observando.

Durante a cerimônia de abertura da festa, Philip e sua esposa lidaram habilmente com os nobres mais pobres e inferiores que apareceram aos montes. Eles se comportaram de um modo tão impressionante que ninguém conseguiria encontrar qualquer falha.

Se acontecesse de alguém passar pelo casal, iria se deparar com Sauros. As pessoas logo procuravam formas de fugir após serem recepcionadas por sua voz estrondosa e seu irracional costume de ser o único a falar.

Se por acaso alguém passasse por ele, finalmente chegaria onde desejava, ficaria diante da própria estrela: Eris. Ela, que não tinha qualquer autoridade e não sabia nada de política. A garota virou um tipo de robô, repetindo apenas as mesmas palavras: “Por favor, fale com meu pai”, sempre que alguém mencionava algo.

Alguns apareceram querendo apresentar os filhos a ela; homens jovens e também de meia-idade, todos de boa origem. Alguns tinham até nossa idade, mas quase todos eram barulhentos e desagradáveis. Provavelmente passavam a vida toda em casa, sem qualquer preocupação com o mundo. Era como olhar para o velho eu.

Assim que comecei a sentir algum tipo de afinidade, chegou a hora da dança.

Assim como planejado desde o início, assumi meu papel como o primeiro parceiro de dança que Eris teria. Era uma dança simples e infantilizada, mas como ela era a estrela, fomos até o centro do salão. Só precisávamos fazer o que havíamos praticado.

— O-o-o que você está fazendo?

Quando a música começou a tocar, Eris ficou rígida de tanto nervosismo. Não havia como dançarmos adequadamente em uma situação dessas. Esqueça, ela realmente poderia resolver me dar um chute na bunda e sair correndo.

Hmm.

Usei meus olhares e passos para adicionar algumas fintas ao nosso ritmo. Quando fiz isso, ela imediatamente formou um beicinho nos lábios.

— Para que está fazendo isso? — murmurou, mas desta vez parecia menos nervosa e mais parecida com seu eu normal. Depois disso, pisou no meu pé algumas vezes, mas conseguimos encerrar a dança sem nenhuma queda.

— Você fez muito bem, Lorde Rudeus — disse Edna quando terminamos. Pelo visto, a mulher percebera que acalmei os nervos da Jovem Senhora, mesmo de longe.

Quando ela me perguntou como consegui isso, simplesmente respondi que foi a mesma coisa que fizemos nas práticas. Edna estava com uma expressão espantada, mas quando eu disse que era a mesma coisa que esgrima, deixou uma risadinha escapar.

Cumpri com meus deveres, então era hora de comer até não aguentar mais. Havia uma variedade incomumente grande, incluindo um tipo de torta estranha com frutas agridoces, um prato de carne que usava uma cabeça de vaca inteira e um bolo lindamente modelado.

Enquanto enchia a boca, avistei Ghislaine, que estava de guarda. Seus olhos não estavam exatamente implorando por comida, mas parecia haver um pouco de baba em seu queixo.

Por sorte, eu era um homem capaz de ler o clima. Enrolei um pouco de comida em um guardanapo e instruí uma empregada a levar o pacotinho aos meus aposentos. Os guardas e criados teriam um banquete bem luxuoso após o baile, ouvi dizer, mas não seria nada parecido com a comida que estava sendo atualmente servida.

Quando eu estava quase terminando de empacotar meu lanche, meus olhos caíram sobre uma linda garotinha diante de mim.

— Prazer em conhecê-lo — disse ela, antes de anunciar seu nome. Era a filha de um dos nobres menores. Seu nome era tão longo que não consegui lembrar dele inteiro. — Não quer dividir uma dança comigo? — perguntou.

Antes de irmos para a pista de dança, expliquei que eu só sabia o básico. Mas acho que realmente dancei muito bem. Quando a dança acabou, apareceu outra garota, que também me convidou para uma dança.

O que diabos é isso? Sou bem popular, hein? Elas apareceram uma após a outra, e entre as garotas, apareceu uma mulher com mais de trinta anos e uma menininha menor do que eu. Se a diferença de altura fosse criar algum obstáculo eu recusaria, mas no geral falei sim para todo mundo.

Não era como se eu fosse um japonês incapaz de falar não. Acontece que, após dizer sim à primeira garota, seria difícil recusar as outras. Talvez eu possuísse algum motivo oculto, mas elas eram tantas que seria impossível lembrar seus nomes ou rostos, então fiquei cansado.

Depois que minha popularidade decaiu, Philip se aproximou de mim e explicou:

— Isso foi obra do meu pai.

Pelo visto, quando as pessoas perguntaram a Sauros quem era o garoto que dançou com Eris, ele orgulhosamente disse que era um membro da família Greyrat. Em outras palavras, foi tudo culpa do velho Sauros.

Não era como se eu pudesse o culpar. Ele foi questionado a meu respeito:

— Aquele menino que dançou com a Jovem Senhora fez um trabalho esplêndido acalmando os nervos dela. Seria ele um de seus filhos ilegítimos, Lorde Sauros?

Pelo visto, essa pergunta foi suficiente para conquistar seu bom humor. Tínhamos planejado manter meu sobrenome em segredo, mas talvez isso fosse inevitável, já que o álcool estava em ação. Mas agora que sabiam meu sobrenome, podiam presumir que eu era um membro da família ou filho de alguma amante. Eu seria importante em qualquer um dos casos, então os nobres mandaram suas filhas atrás de mim.

Perguntei:

— Não faria mais sentido aproximarem-se de mim logo após a primeira dança? — E Philip disse que me percebeu embrulhando doces em guardanapos, e achou a cena tão cativante que decidiu esperar até que eu terminasse. Pessoas atenciosas realmente notam todos os detalhes.

Quando perguntei o que deveria fazer com as mulheres no meu encalço, ele disse para que fizesse o que bem entendesse. Parecia que não importava o que aconteceria no futuro, não havia nenhum interesse de me envolver com política. Ou talvez Philip tivesse pensado que se eu acabasse escolhendo alguma daquelas garotas, poderia resultar em algum benefício político. Não tinha o menor interesse em poder político, então, para mim, o breve encontro que tive com a fama não passou de um sonho passageiro.

Mas, espera, talvez, caso eu fique poderoso, possa ficar com todas as garotas bonitas que quiser, pensei por um momento.

— Peço que se abstenha de seguir o exemplo de Paul, não durma com qualquer mulher que encontrar, ou então vai manchar o nobre nome de nossa casa. — Bem. Philip jogou meus sonhos no lixo.

Eris foi a última garota que se aproximou de mim. Sua estética usual, vívida e energética, foi substituída por um vestido azul. Seu cabelo estava arrumado em um coque amarrado com um ornamento floral. Estava adorável.

Parecia até que estava exausta depois de ter seu primeiro baile e ser abordada por vários adultos desconhecidos, um após o outro. Mesmo assim, parecia animada, talvez por ser a estrela de uma festa que estava indo tão bem.

— Não vai dançar comigo?

Com a voz alta de sempre, aquela postura com pernas ligeiramente abertas e sua expressão indomável e mal-educada, ali estava a Eris que eu conhecia. Mas ela se apresentou tão graciosamente quanto qualquer uma das outras garotas que se aproximaram de mim.

— Será um prazer.

Peguei sua mão e fomos para o centro do salão. Enquanto nos movíamos até a parte central da pista de dança, Eris olhou para os lados e riu um pouco, toda feliz e emotiva.

De repente, uma música de ritmo irregular e acelerado começou a tocar, uma que nunca tínhamos praticado antes.

— Uh, o quê…? — Aquele baque foi o bastante para abalar Eris. Tudo porque ela estava agindo de modo estranho.

A garota olhou para mim, e então comecei a seguir o ritmo da música. Tinha uma batida irregular, mas se encaixava melhor ao estilo dela, embora seus passos fossem um tanto apressados. Se Edna visse isso, provavelmente ficaria exasperada ou zangada.

Segurei sua mão e a movi para um lado e para o outro, assim como fazíamos em nossas aulas de esgrima. Combinamos nossos movimentos com a música, mas eles continuaram erráticos. Provavelmente parecíamos bastante peculiares para todos que assistiam.

Eris estava se divertindo. Ela finalmente estava rindo assim como uma garota de sua idade deveria estar, em vez de ficar carrancuda e brava como sempre. Só de ver isso foi o bastante para fazer eu sentir que a festa valeu à pena.

 

 

Choveram aplausos quando paramos de dançar. Sauros apareceu correndo, nos colocou em seus ombros e desfilou pelo salão rindo o tempo todo.

Foi uma festa divertida.

 

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Quando a festa acabou, convidei Ghislaine e Eris para o meu quarto. Na verdade, só pretendia convidar Ghislaine, mas Eris estava com ela, então resolvi estender a oferta.

O estômago da garota roncou quando ela viu a mesa repleta de comida. Devia ter ficado muito animada e nervosa para poder comer qualquer coisa durante o baile.

Soltei uma risada irônica antes de pegar um vinho barato que comprei na cidade, ele estava bem escondido nas profundezas de minha cômoda. Era para Ghislaine, mas Eris também queria beber, então servi três taças. Brindamos e bebemos. A idade legal para beber neste país era quinze anos, mas resolvemos ignorar isso ao menos uma vez. Fazer algo selvagem de vez em quando é algo normal.

Depois de tomar o último gole de minha taça, pensei em algo. Fiquei de pé.

— Este momento é perfeito para dar o meu presente — anunciei, pegando duas varinhas em um criado-mudo ao lado da minha cama.

— O quê? O que é isso?

— Acho que você pode chamar de presente de aniversário

— Sério? Eu preferia uma daquelas. — Eris apontou para as várias réplicas em miniatura que eu havia recentemente feito enquanto praticava minha magia da terra. Havia um dragão, um navio e até mesmo uma estatueta perfeita de Sylphie.

Não que eu queira me gabar, mas, na minha vida anterior, quando tinha vinte anos, realmente gostava de figures e modelos de plástico. Eu até mesmo fiz uma estrutura de papelão para que pudesse pintá-las. Infelizmente, os materiais eram muito caros neste mundo, e não existia algo como tinta spray, então não havia nada pintado. Ainda assim, era divertido, e eu adorava fazer as peças e colocá-las juntas, então eram cheias de detalhes, mesmo sendo apenas as criações de um amador.

Vendi minha primeira estatueta de Roxy, feita em uma escala de 1:8, a um mascate, cobrei uma moeda de ouro. Ele provavelmente deveria estar viajando pelo mundo. Mas, bem, isso não importa.

— De acordo com minha mestra, um professor de magia deve presentear seu aprendiz com uma varinha. Eu não sabia como fazer uma, nem tinha dinheiro para comprar os materiais, então, por mais que já esteja um pouco tarde, espero que vocês aceitem.

Assim que Ghislaine ouviu isso, levantou-se e ficou respeitosamente ajoelhada diante de mim. Ah, eu sabia o que era isso. Esta era a pose usada por um discípulo do Estilo Deus da Espada para pagar respeitos ao seu professor.

— Sim, Mestre Rudeus. Aceitarei isso com prazer.

— Claro. — Ela se prostrou com tanta humildade que tive que entregar o item o mais rápido possível.

Ela olhou para o item, feliz.

— Agora posso me chamar de maga, certo?

Ah, então era disso que se tratava? Ela queria se chamar de maga? Eu e Roxy nunca discutimos isso, mas… Não. Isso era mais como um objeto para demonstrar que havia começado a estudar, nada além disso. A pessoa só poderia se chamar de maga após começar a aprender magia? Hm. Parecia que minha mestra não havia me explicado tudo.

— Uh, então, Eris, é essa que você quer? — Tentei aliviar o clima entregando a estatueta de Sylphie para ela, mas a garota apenas balançou a cabeça.

— Não! Aquilo, eu quero aquela varinha!

— Tudo bem, aqui está.

Ela já ia a tomando de minhas mãos. Então, como se tivesse lembrado da humildade demonstrada por Ghislaine, se corrigiu e respeitosamente pegou o item com ambas as mãos.

— O-obrigada, Mestre Rudeus.

— Certo, certifique-se de cuidar disso.

Eris olhou significativamente para Ghislaine.

O que é isso? me perguntei.

Ghislaine congelou por um momento antes de desviar o olhar.

— Lamento, mas não existe um costume dessas na minha raça. Não tenho nada. — Então era isso, Eris estava querendo um presente de aniversário.

A garota se retirou para o sofá, parecendo desapontada. Talvez não tivesse nenhum costume onde os empregados ofereceriam presentes aos empregadores, mas eu ainda me senti mal por ela não ter ganho nada. A garota amava Ghislaine e a via quase como uma irmã mais velha. Eu poderia ao menos tentar ajudar.

— Ghislaine. Você não tem que dar nada de especial. Só algo que geralmente carrega consigo, algo que ela poderia considerar como um amuleto. Alguma coisa assim.

— Hm. — Ela pensou por um momento, então tirou um dos anéis de seu dedo. Era um anel feito de madeira, bastante gasto e com arranhões por todas as partes. Ele refletia uma luz esverdeada. Eu não tinha certeza se era por causa de alguma magia ou se era simplesmente graças ao material com qual foi feito.

— Este anel é um talismã passado adiante no meu clã.. Dizem que protege o portador de ser atacado por um lobo mau à noite.

— R-realmente posso ficar com ele?

— Sim. Não passa de superstição.

Eris pegou o objeto nervosamente. Depois de colocá-lo em seu dedo médio direito, apertou as duas mãos contra o peito.

— Vou cuidar bem disso. — Ela parecia ainda mais feliz do que ao ganhar a varinha.

Agora eu sentia que tinha perdido para Ghislaine. Bem, era um anel. Eris era uma garota, certo? Então até que fazia sentido.

Algo me incomodou, então expressei minhas suspeitas:

— Superstição? Então isso significa que você já foi atacada por lobos?

Ghislaine estava com uma expressão preocupada.

— Sim. Aquela noite estava tão quente, eu não conseguia dormir. Então Paul me convidou para tomar um banho, e depois…

— Mudei de ideia, basta. Já sei o que aconteceu depois.

Chega. Se continuássemos com essa conversa, isso só iria prejudicar a minha reputação. Droga, Paul. Ele sempre ficava no meu caminho.

— Certo. Bem, eu não quero detalhar o que aconteceu.

— Parece ótimo para mim. Certo, vamos comer. A comida está fria, mas vamos comer de qualquer forma. E vamos esquecer de toda e qualquer relação professor-aprendiz por enquanto.

E foi assim que o décimo aniversário de Eris chegou ao fim em segurança.

 

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Quando acordei no dia seguinte, Eris estava bem ao meu lado. Ela tinha uma personalidade forte, mas seu rosto adormecido ficava tão relaxado e adorável.

— Uau.

Ah não, eu acabei perdendo meu cartão V?!

Claro que não! Eu ainda conseguia lembrar claramente de tudo que aconteceu. No meio da festa da noite anterior, Eris ficou com sono, então desmaiou ali, na minha cama mesmo. Foi então que Ghislaine disse que estaria partindo e deixou a garota lá, retornando ao seu quarto.

Heheh, vou pregar uma peça nela, pensei.

Mas Eris estava dormindo satisfeita, abraçando a varinha que eu tinha dado a ela contra seu peito, e a bugiganga que ganhou de Ghislaine estava em seu dedo. O lobo mau recuou.

— Parece que seu talismã, na verdade, tem algum efeito — murmurei. Saí da cama sem perturbar seu descanso.

Ainda era de manhã cedo. Se olhasse para o lado de fora, veria o céu começando a clarear, mas ainda estava tudo escuro. Eu poderia ter ficado ali observando Eris a dormir, mas ela provavelmente me socaria assim que acordasse. Em vez disso, decidi dar uma caminhada. Então, deixei minha cama e saí do quarto andando nas pontas dos pés.

— Então, agora… — Comecei a pensar sobre para onde ir enquanto atravessava os frios corredores. Os portões da mansão só seriam abertos no final da manhã, então eu não poderia sair. Não havia muitas opções.

Eu tinha decorado toda a estrutura geral da mansão, mas ainda havia vários lugares aos quais não fui. Por exemplo, a única e imponente torre da qual me disseram para nunca me aproximar; isso despertou o meu interesse. Talvez pudesse encontrar algo bom por lá, algo para colocar minhas mãos, algo como a roupa íntima de alguém em um varal.

Com isso em mente, comecei a subir as escadas em direção ao último andar da mansão. Lá, vaguei sem rumo até que finalmente encontrei uma escada em espiral, bem interessante. Ela tinha que ser a entrada para a torre. Disseram-me para não chegar perto, mas o dia anterior fora o aniversário de Eris. Decidi que isso significava que poderia descumprir algumas regras e comecei a subir.

A altura externa da torre correspondia ao seu número de degraus sinuosos. Fui girando e girando e girando enquanto subia mais degraus do que podia contar. Foi então que escutei um som lá em cima.

— Miau, miau. — Uma voz sedutora que parecia com a de um gato no cio. Tentei silenciar meus passos andando nas pontas dos pés enquanto subia o resto da escada.

Lá no topo, encontrei Sauros. Ele estava em um quartinho onde mal cabia uma única pessoa, ocupando-se com uma das empregadas com orelhas de gato.

Aha, então é por isso que disseram que não podia vir aqui.

— Mm? — Sauros percebeu minha presença após eu dar uma boa olhada neles.

A empregada havia me notado primeiro. Isso pareceu até excitá-la. Assim que tudo estava finalizado, a garota com orelhas de gato passou por mim e desceu as escadas.

— Rudeus, hein? — A voz de Sauros soou baixa, calma. Diferia muito de seu comportamento normal.

Era o modo de velho sábio.

— Sim, Lorde Sauros. Bom dia.

Ele me impediu com um gesto assim que coloquei minha mão no peito e comecei a me curvar.

— Basta. Por que veio aqui?

— Vi algumas escadas e resolvi subir.

— Gosta de lugares altos? — perguntou.

— Sim. — Mas se eu olhasse por uma janela dali, minhas pernas provavelmente tremeriam. Gostar de lugares altos e se sentir bem com eles eram duas coisas bastante diferentes. Mesmo se conquistasse o mundo inteiro e construísse a torre mais alta de todas, ainda manteria meu quarto no térreo.

— Mas, então, o que você estava fazendo aí? — perguntei.

— Eu estava orando para aquela joia lá. — Huh.

Esta família tinha uma maneira terrivelmente degenerada de se orar, mas eu não ia mencionar isso. Embora Sauros normalmente parecesse bem rígido, ainda era um membro da família Greyrat. Era um fruto do mesmo pé.

— Que joia? — Olhei pela janela saliente e vi uma única joia pairando no céu. Talvez fosse por causa da luz, mas parecia que algo se movia dentro dela. Era fantástica. Estava flutuando lá com magia?

— O que é aquilo?

— Não sei. — Ele balançou a cabeça. — A vi pela primeira vez há três anos, mas não é nada de ruim.

— Como pode afirmar isso?

— É melhor pensar assim.

Eu entendi; ele estava certo. A joia estava fora do alcance. Convencer-se de que era algo ruim só iria resultar em um impacto negativo em sua saúde mental. Seria melhor, em vez disso, pensar que era algo bom e, então, orar por isso.

Eu também orei.

— Rudeus, vou dar uma longa caminhada. Quer vir?

— Ficaria honrado.

O velho havia acabado de dar uma disparada com sua arma, por assim dizer, mas ainda estava transbordando energia. Ele estava aparentemente disposto a passear comigo, já que não tinha outros planos. Eu provavelmente deveria ter dito algo como um “Yay!”, mas parecia que isso seria exaustivo.

— A propósito… — Comecei a falar.

— O quê?

— Você não tem esposa?

Ouvi um barulho parecido com algo sendo esmagado. Quando percebi que era Sauros rangendo os dentes, senti um arrepio na espinha.

— Ela morreu.

— Ah, entendo. Lamento em ouvir isso. — Ele havia acabado de se divertir com a garota de orelhas de gato e agora eu fiz com que lembrasse de algo desagradável.

Nesse caso, seria melhor não perguntar se Eris tinha irmãos.

— Está tudo bem, vamos.

— Certo.

Era um de nossos dias de folga. No dia seguinte, Eris teria que voltar a trabalhar duro.

 

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NOME: Eris Boreas Greyrat. Eris
OCUPAÇÃO: Neta do lorde suserano de Fittoa.
PERSONALIDADE: Um pouco violenta.
FAZ: Escutar apropriadamente.
LEITURA/ESCRITA: Quase perfeita na leitura.
ARITMÉTICA: Consegue contar até 99.
MAGIA: Pode entoar quase todos os feitiços básicos.
ESGRIMA: Estilo Deus da Espada – Nível Intermediário.
ETIQUETA: Hábil o suficiente para não se envergonhar em uma festa.
PESSOAS DE QUEM GOSTA: Avô, Ghislaine, Rudeus.

 


 

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Vol. 02 – Cap. 05