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Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 01 – Cap. 09 – Reunião Familiar Emergencial

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Zenith descobriu que estava grávida. Eu teria um irmãozinho ou uma irmãzinha. Nossa família estava crescendo. Ah, Rudy, seu sortudo!

Por alguns anos, Zenith ficou preocupada com sua incapacidade de conceber mais um filho. Eu a ouvi murmurando e suspirando sobre como talvez não fosse conseguir ter mais nenhum, mas há cerca de um mês, seus desejos por comida passaram por uma mudança, e também apareceram náuseas, vômitos e uma sensação contínua de fadiga – em outras palavras, os clássicos sintomas daquelas que ficaram buchudas. Os sentimentos eram familiares, e uma visita ao médico confirmou que seu autodiagnostico estava praticamente correto.

A casa dos Greyrat ficou alarmada com o anúncio. Como chamaremos o bebê se for menino? E como vamos chamar se for menina? Ainda temos quartos suficientes, certo? Ah, podemos reutilizar as roupas antigas do Rudy. Não havia fim para os tópicos a serem discutidos.

O dia foi alegre e borbulhou com incontáveis sorrisos. Eu estava sinceramente feliz, muito, esperando ganhar uma irmãzinha. Já que um irmão mais novo poderia destruir todas as coisas preciosas para mim (usando um taco de beisebol).

Os problemas não surgiram até o mês seguinte.

 

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Nossa empregada, Lilia, descobriu que também estava grávida.

— Sinto muito. — Anunciou bem naturalmente à família quando sentamos à mesa: — Estou grávida.

Nesse instante, toda a família Greyrat congelou. Quem é o pai? Mas, dadas as circunstâncias, ninguém poderia perguntar.

Todo mundo tinha percebido isso em algum momento. Lilia era nossa empregada. Ela mandava quase todo o seu pagamento para a casa de sua família. Ao contrário de Paul, que frequentemente ia à cidade para ajudar a resolver alguns problemas, ou Zenith, que ajudava na clínica local em variados momentos, Lilia quase nunca saía, a menos que tivesse alguma tarefa relacionada ao trabalho, e ninguém tinha ouvido nenhum rumor sobre ela estar desenvolvendo algum relacionamento excepcionalmente próximo com alguém. Talvez fosse resultado de uma aventura casual?

Entretanto, eu sabia a verdade.

Desde que Zenith engravidou, Paul foi forçado a ficar sem sexo. E ele estava furtivamente se enfiando no quarto de Lilia no meio das noites. Se eu fosse mesmo uma criança, pensaria que estavam apenas jogando cartas ou coisa do tipo.

Infelizmente, sabia muito bem o que estava acontecendo. Eles não estavam brincando ou jogando jogo da velha; claro, devia ser uma brincadeira envolvendo uma empregada, mas não era nada semelhante a um jogo de cartas.

Ainda assim, gostaria que tivessem tomado mais cuidado, e os dois deviam estar pensando nessa mesma coisa.

Olá, meninos e meninas! A frase do dia é “Você pode fazer isso!” Hoje vamos aprender tudo sobre a importância da contracepção!

Parte de mim queria falar algo assim para Paul, mantendo um rosto totalmente impassível, mas não sabia se o conceito de contracepção era conhecido neste mundo. E, claro, não era como se eu quisesse separar toda a família, jogando toda a merda no ventilador. Além disso, se perturbasse a empregada, tenho certeza de que ela nunca me perdoaria.

Ao mesmo tempo, porém, Zenith lançou um olhar direto para Paul, com uma suspeita chocante estampada no rosto.

Convenientemente, nossos olhares se voltaram para ele ao mesmo tempo.

— Uh, foi mal.. — Deixou escapar. — Esta criança é, uh… deve ser minha.

Minha nossa. É sério? Bem, não; Suponho que devia elogiar a honestidade desse homem. Suponho que, já que sempre falava para “ser honesto”, “ser um homem de verdade”, “não esquecer de proteger as mulheres” e “nunca impor seu senso de honra”, além de outras coisas imponentes e fora de moda, o mínimo que podia fazer era colocar em ação o que pregava.

Bem, tanto faz. Eu não poderia dizer que o odiava por isso.

Enfim, esse era realmente o pior dos cenários. Esse sentimento se solidificou quando vi Zenith se levantando, com o rosto lívido, sua mão já subindo no ar.

E assim foi invocada uma reunião familiar emergencial, com participação especial da Lilia.

 

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Foi Zenith a primeira a quebrar o silêncio. Ela detinha a autoridade nesta reunião.

— Então, o que vamos fazer?

Pelo que pude ver, Zenith estava tão calma quanto possível; em vez de ter um ataque de histeria, falando sobre como o marido a traiu, contentou-se com um único tapa. Uma marca tão vermelha quanto uma folha de bordo estampava a bochecha de Paul.

— Depois de ter ajudado com o parto da dona da casa — disse Lilia —, presumo que deverei me despedir. — Ela parecia bem calma também. Será que isso era algo comum neste mundo?

Paul estava todo encolhido em seu lugar. Quanta dignidade paternal.

— E quanto à criança? — perguntou Zenith.

— Estava pensando em dar à luz em Fittoa e depois criar o bebê em minha cidade natal — respondeu Lilia.

— Você é do sul, não é?

— Isso mesmo.

— Ficará fisicamente esgotada após o parto — disse Zenith. — Não estará em condições para fazer uma longa viagem.

— Talvez sim, mas não tenho nenhum outro lugar para onde ir.

A Região de Fittoa ficava na parte nordeste do Reino Asura. Com base no meu entendimento, para alcançar o que era considerado “o sul”, levando todo o contexto geográfico em conta, demoraria mais de um mês e exigiria alternância entre múltiplas diligências. Ainda assim, seria pelo menos um mês inteiro viajando por terras seguras e com um bom clima, e andar em diligências não era exatamente um tipo de sofrimento.

Isso, porém, era ao se tratar de um viajante típico. Lilia não tinha dinheiro. Ela não podia se dar ao luxo de andar em diligências e teria que ir a pé. Mesmo se os Greyrats pagassem suas despesas de viagem, isso não tornaria o processo menos arriscado. Ela seria uma mulher, viajando sozinha, tendo dado à luz recentemente. Se eu fosse um cara mal e a visse, o que faria?

Atacaria. Ela era um alvo fácil, praticamente implorando para ser acertada. Seria só tomar a criança como refém e manter a mãe distraída com promessas vazias. Enquanto isso, poderia tomar todo seu dinheiro e posses. Deduzi que a escravidão existia neste mundo, então, no final, tanto a mãe quanto a criança seriam vendidas.

Mesmo com as pessoas dizendo que o Reino Asura era o mais seguro do mundo, isso não significava que era completamente livre de malfeitores. Aposto que ainda havia uma alta probabilidade de um ataque acontecer.

E, como Zenith havia dito, também existia o aspecto físico que deveria ser considerado. Mesmo que Lilia tivesse a força necessária para isso, e quanto à criança? Um recém-nascido poderia suportar uma longa jornada dessas? Provavelmente não.

Claro, se Lilia não sobrevivesse à jornada, a criança também não iria. Mesmo se ela simplesmente adoecesse, ou se não tivesse dinheiro para consultar um médico, estaria preparada para isso. De repente, vi a ilusão de uma Lilia morta em meio a uma nevasca, com um bebê nos braços. Eu, por exemplo, não queria vê-la acabar com esse tipo de destino.

— Querida… — Paul começou a dizer. — Ela não poderia simplesmente…

Você, cale a boca! — Zenith disparou, cortando-o. Ele se encolheu feito uma criança arrependida. Definitivamente, esse era um caso em que não tinha o direito de falar. Paul era o maior inútil do local.

Zenith roeu as unhas com um olhar consternado. Ela também estava em meio a um claro conflito. Não queria que Lilia sofresse; pelo contrário, eram boas amigas. Considerando como passaram os últimos seis anos cuidando da casa juntas, provavelmente era justo dizer que eram melhores amigas.

Bem, o único problema era Lilia estar carregando um filho de Paul.

Se ela tivesse engravidado em qualquer outra circunstância, Zenith com certeza a abrigaria, e permitiria que – não, insistiria para que a criança fosse criada em nossa casa.

Com base na conversa, presumi que o aborto não era algo facilmente acessível neste mundo.

Zenith parecia estar lutando com duas emoções independentes: sua afeição por Lilia e os sentimentos por ser traída. Considerando as circunstâncias, achei que ela era incrível por ser capaz de deixar as emoções de lado no momento. Se fosse eu, teria cedido ao ciúme.

O fato de Zenith conseguir manter a calma parecia estar ligado à atitude de Lilia; ela não tentou falar nada e assumiu total responsabilidade por ter traído a família que serviu por tanto tempo.

Se alguém me perguntasse, era Paul que deveria assumir toda a responsabilidade. Era estranho jogar toda a culpa em Lilia. Muito, muito estranho.

Eu não poderia permitir que tudo fosse colocado em termos tão estranhos.

Decidi ajudá-la.

Eu estava em dívida com ela. Não fizemos muitas coisas juntos, e quase nunca conversávamos, mas sempre estava lá, pronta para ajudar. Ela até mesmo me levava toalhas quando eu estava praticando com a espada; me dava banhos quando voltava para casa ensopado; me buscava cobertores nas noites mais frias; organizava as prateleiras quando eu colocava algum livro no lugar errado.

Mas, o mais importante, mais do que qualquer outra coisa…

Ela sabia sobre minha preciosa calcinha, e manteve isso em segredo.

Sim, Lilia sabia disso. Aconteceu quando ainda achava que Sylphie era um garoto. Estava chovendo, e eu estava no meu quarto lendo e revisando minha enciclopédia botânica quando ela entrou e começou a cuidar da limpeza. Estava tão absorto na leitura que nem percebi que, conforme limpava, foi chegando mais perto do meu esconderijo secreto na prateleira. Quando percebi, já era tarde demais; já estava com minha preciosa calcinha em mãos.

Fui tão estúpido. Por quase vinte anos fiquei completamente recluso, deixando minhas coisas jogadas pelos cantos, sem me preocupar com ninguém tropeçando nas coisas. Eu até mantinha minha pasta de pornografia na área de trabalho. Talvez minha habilidade para esconder as coisas tenha enferrujado graças a isso, mas não esperava que minhas coisas fossem encontradas com tanta facilidade. Na verdade, tinha até me esforçado para esconder aquilo! Esse era um tipo de superpoder que as empregadas tinham?

No fundo, senti algo começar a desmoronar e pude ouvir o sangue começando a correr em minha cabeça. O interrogatório começou.

Lilia perguntou:

— O que é isso?

Respondi:

— Sim, o que é isso? Ahahahahahahah.

Lilia disse:

— Tem cheiro.

Respondi:

— S-sim, acho que talvez seja algo como óleo de gergelim ou coisa do tipo, não?

Lilia perguntou:

— De quem é?

Respondi:

— Me desculpe… é da Roxy.

Lilia perguntou:

— Não deveria lavar?

Respondi:

— Ah, não, não lave!

Ela, sem dizer nada, devolveu meu tesouro de volta ao seu esconderijo sagrado. Então, enquanto eu tremia de medo, saiu do quarto.

Naquela noite, me preparei para a inevitável reunião de família – mas nunca aconteceu. Passei a longa noite tremendo de medo no meu futon, mas mesmo quando a manhã chegou, não aconteceu nada. Ela não contou para ninguém.

Eu tinha que pagar essa dívida.

— Mãe? — Chamei, mantendo meu tom o mais infantil possível. — Por que todos estão agindo de maneira tão sombria a respeito de eu ganhar dois irmãos ao mesmo tempo?

Eu queria passar a impressão ingênua de: Ei, se a Lilia está grávida, então significa que nossa família vai ficar ainda maior! Viva! Por que todos estão tão chateados com isso?

— Por que Lilia e seu pai fizeram algo que não deveriam — disse Zenith suspirando, uma raiva insondável estava misturada com essas palavras. Mas não foram dirigidas a Lilia, ela sabia muito bem quem era o culpado da situação.

— Ah, entendi — falei. — Mas Lilia pode ir contra a vontade do Pai?

— O que quer dizer com isso? — perguntou Zenith.

Estava na hora de Paul colher o que plantou.

— Bem, eu sei que o Pai insistiu bastante.

— O quê? Isso é verdade? — perguntou Zenith, olhando para Lilia com surpresa.

Ela estava com seu mesmo rosto de pedra de sempre, embora tivesse levantado uma sobrancelha com a curiosidade, como se minha afirmação fosse real. E aí encontrei minha abertura.

— Há algum tempo, levantei no meio da noite para ir até o banheiro e, quando passei pelo quarto da Lilia, ouvi o Pai falar algo como… “Abra suas pernas!”

— Hein?! — Paul deixou escapar. — Droga, Rudy, o que diabos voc…

Você, cale a boca! — Disparou Zenith, deixando-o em cheque. — Lilia, isso é verdade?

O olhar dela vagou.

— Hum, então, bem, na verdade… — Ela estava enrolando?

— Ah, entendi — respondeu Zenith, parecendo ter entendido tudo. — Você não pode dizer isso em voz alta.

Paul piscava os olhos sem parar, abria e fechava a boca várias vezes, igual um peixe dourado, sem nenhuma palavra saindo.

Perfeito. Hora de acabar com tudo.

— Mãe, eu não acho que a Lilia seja a culpada.

— Suponho que não.

— Acho que a culpa é do Pai.

— Suponho que seja.

— Não seria certo que ela ficasse em uma posição complicada por causa de uma coisa que é culpa do Pai.

— Mmm. Suponho que sim.

As respostas de minha mãe foram mais descomprometidas do que imaginei. Eu só precisava pressionar um pouco mais.

— Eu me divirto brincando com a Sylphie todos os dias, então acho que será muito bom que meu irmão ou irmã tenha alguém da mesma idade para brincar!

— Eu… suponho que sim.

— E, além disso, Mãe serão meus dois irmãos mais novos!

— Certo, Rudy. Entendi. Você ganhou. — Zenith soltou um longo suspiro.

Nossa, mas que maneira de mandar eu ficar quieto, Mãe.

— Lilia, insisto que você fique conosco — pronunciou Zenith. — Você já faz parte da família! Não vou deixar fazer algo tão tolo quanto partir!

E essa parecia ser a palavra que encerrava o assunto. Paul arregalou os olhos; Lilia levou a mão à boca, tentando conter as lágrimas.

Tudo certo então. Tudo dito e feito.

 

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E assim, com toda a responsabilidade jogada em Paul, passamos por tudo sem maiores problemas. No final, Zenith começou a olhar para ele com a frieza de alguém que estaria a ponto de matar um porco. Minhas bolas encolhiam só de imaginar a punição que ele poderia receber. Com aquele olhar ainda nos olhos, ela simplesmente voltou para o quarto.

Lilia estava chorando, seu rosto vazio e sem expressão, mas com lágrimas escorrendo dos olhos. Paul parecia estar em conflito sobre dever abraçá-la ou não. Por enquanto, deixaria aquele playboy fazer o que quisesse.

Segui Zenith. Se essa situação acabasse em divórcio, isso desencadearia uma série de problemas.

Bati na porta do quarto e ela enfiou a cabeça para fora.

— Mãe — falei, decidindo ir direto ao ponto —, as coisas que eu disse antes foram todas mentiras. Por favor, não odeie o Pai.

Por um momento, Zenith ficou surpresa, mas então fez uma careta e gentilmente deu um tapinha na minha cabeça.

— Eu sei, querido. Nunca teria me apaixonado por um homem tão terrível — disse ela. — Seu pai tem um fraco por mulheres, então me preparei para o dia em que algo assim aconteceria.

— O Pai tem um fraco por mulheres? — perguntei, fingindo ignorância.

— Sim. Nos últimos tempos nem tanto, mas antigamente ele era bem sem-vergonha. Você pode ter um monte de irmãos e irmãs mais velhos por aí, Rudy. — Ela então colocou um pouco mais de pressão na mão que estava bagunçando meu cabelo. — Certifique-se de que você não será assim, viu, Rudy? — E esfregou – não, agarrou o topo da minha cabeça com bastante firmeza. — Certifique-se de tratar Sylphie muito bem, viu Rudy?

— Ah, ai! Claro, Mãe! I-isso machuca! — Parecia até que ela estava prevendo o futuro.

As coisas ficariam bem se continuassem assim. Independentemente de qualquer coisa – tudo foi considerado culpa do Paul.

Ainda assim, era difícil saber que meu pai era um maldito hedonista.

Não havia mais segundas chances comigo, señor.

No dia seguinte, a prática com espadas foi extremamente dura.

Eu era capaz de acompanhar o ritmo dele e tudo mais; mas só queria que não me tratasse assim.

 

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Ponto de Vista da Lilia

Eu vou me adiantar e dizer: fui eu quem seduziu o Paul.

Não tinha a intenção de fazer isso quando cheguei a esta casa. Mas ouvir os gemidos deles noite após noite e limpar um quarto que cheirava a um homem e a uma mulher satisfeitos – eu tinha minhas necessidades e elas estavam se acumulando.

No começo, fui capaz de lidar com essas necessidades por conta própria. Observar Paul praticando no quintal todas as manhãs, no entanto, alimentou o fogo dentro de mim, um que nunca tinha sido apagado por completo.

Observá-lo praticando me lembrou da nossa primeira vez.

Ainda éramos tão jovens quando ele frequentou o centro de treinamento. Paul entrou no meu quarto em uma noite, e foi isso. Não o detestava, mas certamente também não o amava. Não era algo exatamente romântico.

A próxima pessoa que avançou em minha direção, porém, foi aquele ministro gordo e careca. Isso certamente fez eu pensar que Paul era melhor.

Além disso, quando soube que ele estava contratando uma empregada, imaginei que poderia usar aquele acontecimento para alavancar as negociações.

Paul se tornara um sujeito muito mais másculo do que naquela época; qualquer semelhança com uma criança sumiu, substituída pelo olhar de um homem que refinou tanto seu físico quanto mente. Ao vê-lo, um dos primeiros pensamentos que passaram pela minha cabeça foi que os últimos seis anos foram gentis com ele.

No início, não tentou dar em cima de mim. De vez em quando, porém, flertava um pouco, e isso me deixava ainda mais excitada. Consegui resistir, mas sabia que estava caminhando em uma linha muito tênue.

E tudo desmoronou quando Zenith ficou grávida.

Sabendo que Paul tinha libido de sobra, percebi que seria minha oportunidade. Vi minha chance e o chamei para o meu quarto. Então, de certa forma, a culpa foi minha.

Mas fui perdoada. Rudeus me perdoou. Aquele moleque esperto, ele conseguiu deduzir corretamente o que tinha acontecido, manipulou a conversa exatamente como queria e até tratou das coisas com elegância. Ele era tão equilibrado e calculista, parecia até que já tinha experiência com essas coisas.

Seria um incômodo – não, seria melhor desistir enquanto ainda estava ganhando.

Rudeus me assustava, e por isso fazia questão de evitá-lo o máximo possível Ele era esperto; provavelmente percebeu que eu o evitava. Mesmo assim, me salvou. Não podia imaginar como isso seria bom para ele, mas ele decidiu tudo sobre mim e minha criança por conta própria.

Deveria a ele pelo resto da vida. Aí estava alguém que merecia meu respeito.

Sim, merecia. Eu lhe deveria por todo o tempo que vivesse. Assim, uma vez que a criança em minha barriga nascesse em segurança, e uma vez crescida, a colocaria a serviço do jovem Mestre Rudeus.

 

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Ponto de vista do Rudeus

Vários meses se passaram sem que mais nada de importante acontecesse.

Sylphie estava melhorando bem rápido. Agora ela já era capaz de lançar feitiços de nível Intermediário sem nenhum encantamento, e estava chegando ao ponto até de obter alguns efeitos mais sutis. Em comparação, minha habilidade com a espada continuava relativamente igual. Melhorei um pouco, mas não consegui vencer Paul nenhuma vez, então seria difícil ficar animado com o meu desempenho.

A atitude de Lilia também mudou. Anteriormente, ela sempre ficava em guarda quando perto de mim – mas como eu brincava com magia desde quando muito pequeno, era natural.

Embora nada tenha realmente mudado quanto à não manifestação de emoções, senti que suas palavras e maneirismos agora transmitiam uma avassaladora sensação de reverência por mim. Entendi que ficou feliz com minha ajuda, mas queria que fosse com mais calma.

Ao menos, desde aquele incidente, Lilia começou até a conversar comigo – principalmente para contar velhas histórias sobre Paul. Pelo visto, os dois estudaram a espada no mesmo local de treinamento por muito tempo. Ela me contou as coisas, sobre como Paul era talentoso naquela época, mas odiava praticar. Ou sobre como Paul matava os treinos para ficar galanteando pela cidade. Ou sobre como Paul tinha entrado no quarto dela e tomado sua pureza. Ou sobre como Paul finalmente fugiu do centro de treinamento.

Pouco a pouco, Lilia começou a se abrir para mim. Quanto mais me contava sobre o passado, mais minha opinião sobre Paul piorava. Ele era um trapaceiro e um mulherengo. Um verdadeiro lixo.

Não era como se ele estivesse podre, mas tinha passado do ponto. Era infantil, irresponsável, e parecia ter algo que despertava o instinto materno das mulheres. Tentou ser um pai bom e rigoroso para mim, mas não conseguiu manter essa fachada; quando se concentrou nisso, demonstrou-se franco e direto, e eu tinha certeza de que não era um cara mau.

— Vamos, olhe para mim — disse Paul, me tirando de meu transe. Estávamos no meio da prática de espadas. — Você não quer crescer e ser um cara legal igual seu pai?

Esse cara, sinceramente.

— É legal ser um cara que trai a esposa e cria o risco de destruir a família?

— Ngh… — Ele fez uma careta. Ao olhar para sua cara, resolvi tomar um pouco mais de cuidado. Supunha-se que eu era um jovem que não sabia dessas coisas.

— Olha — disse —, se falar isso te incomoda tanto, poderia, por favor, manter as mãos longe de alguém que não seja a Mãe?

— F-fora a Lilia, certo?

Esse homem não tinha aprendido nada.

— Da próxima vez, a Mãe pode resolver voltar a viver com a família dela sem nem dizer nada.

— Guh.

Esse cara estava querendo construir um harém? Ficar aposentado, afastado no interior, onde tinha uma bela esposa, uma empregada com quem pudesse brincar sempre que quisesse, e um filho para treinar no caminho da espada? Huh. Essa era provavelmente a melhor perspectiva dele. Seria como terminar com Louise e Siesta no final daquela série de light novels.

Mas não era assim para mim. Lembrei do olhar de Zenith quando nossa reunião de família acabou. Eu queria ter um olhar daqueles em minha direção? Obrigado, mas uma esposa bastaria para mim.

— Bem, você é um cara — disse Paul. — Sabe como é. — Ele ainda estava se recusando a recuar.

Eu sabia o que queria dizer, mas isso não significava que concordava.

— O que um garoto de seis anos de idade saberia?

— Bem, fique com a Sylphie; você gosta dela, não é? Ela será linda quando crescer.

Bem, eu com certeza não poderia discordar disso.

— Acho que você está certo. Embora eu ache que ela já é muito fofa.

— Então você entende.

— Acho que sim.

— Heheheheh…

Olhei para Paul só para vê-lo todo sorridente. Seu olhar não estava direcionado para mim, mas para algo mais além. Me virei e vi Sylphie parada lá. Era raro ela vir em nossa casa.

Com um olhar mais minucioso, notei que estava ligeiramente corada, com as mãos inquietas. Devia ter escutado.

— Vamos lá, repita o que acabou de dizer — falou Paul.

Soltei um bufo. Não conseguia entender esse cara. Acho que Paul ainda tinha um longo caminho a percorrer.

Até palavras sinceras acabavam perdendo o impacto se fossem escutadas com tanta frequência para chegar ao ponto de se acostumar. Repetir as mesmas palavras era inútil. Então, só dei um sorriso mudo para Sylphie e dei um aceno. Além disso, ela tinha só seis anos; ainda era uma década cedo demais para pensar nesse tipo de coisa.

— Hum, digo… eu… também te acho legal, Rudy.

— Ah, é? Obrigado, Sylphie! — Revelei um enorme sorriso esperando que meus dentes brancos pudessem revelar um brilho deslumbrante (embora, claro, isso não aconteceu).

Sylphie era muito bem-educada; quase confundi aquele olhar em seu rosto com sinceridade. Certamente quis dizer que ela era fofa, mas não tinha nenhum sentimento romântico por trás disso.

Agora não, ainda era cedo.

— Tudo bem, Pai. Nós vamos dar uma saída — falei.

— Não fique se esfregando por aí, viu?

Ah, vamos lá! Como se eu fosse! Estamos falando de mim, não de você.

— Mãe! — Comecei a chamar. — O Pai…

— Gah! Não, pare!

E, assim, nossa casa voltou a ser pacífica.

 

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Logo após isso, Zenith deu à luz.

Foi uma experiência complicada, um parto pélvico1É quando o bebê não nasce em posição cefálica, mas sim sentado. Com Lilia grávida, chamou pela parteira da aldeia, uma mulher bem mais velha, mas até ela disse que essa situação era desesperadora. Foi bem ruim.

O parto levou algum tempo, com mãe e filho em risco. Lilia usou todo seu conhecimento para ajudar, e eu colaborei lançando vários feitiços de Cura, mesmo não sendo ótimo neles.

No final, nossos esforços foram o bastante e o parto foi bem-sucedido. O bebê chegou a este mundo em segurança, soltando seus primeiros gritos bem saudáveis.

Era uma garota. Ganhei uma irmã mais nova. Fiquei feliz por não ser um irmão.

Mas o alívio durou pouco, já que logo  depois Lilia também entrou em trabalho de parto. Todos já estávamos exaustos, de ombros baixos. As palavras “parto prematuro” inclusive passaram pela minha mente.

Desta vez, entretanto, a parteira conseguiu cuidar de tudo. Embora pudesse não ser boa com partos pélvicos, os prematuros eram algo com que alegava ter experiência. Às vezes a sabedoria realmente vem com a idade.

Fiz como a parteira instruiu, chutando a bunda de Paul para tirá-lo daquele transe para que levasse Lilia até o meu quarto. Enquanto ele cuidava disso, usei magia para preparar um banho para o recém-nascido, peguei todos os panos e toalhas limpas que tínhamos e voltei até a parteira.

Deixaria ela lidar com tudo a partir de então.

No momento em que o bebê nasceu, Lilia corajosamente chamou pelo nome de Paul.

Ele estava ao seu lado, esbanjando doçura, apertando sua mão.

O bebê era menor que o de Zenith, mas soltou o mesmo tipo de choro saudável. Também era uma garota. Duas meninas. Duas irmãzinhas. Paul riu timidamente consigo mesmo, refletindo sobre suas duas crianças serem meninas. Pela segunda vez naquele dia, pude ver o enorme sorriso bobo de um pai em seu rosto.

Ele estava em uma situação invejável. As mulheres em nossa casa agora tinham dobrado em número. Quem ia acabar sendo esquecido em uma situação assim? Provavelmente o cara que traiu a mulher batendo na porta da empregada.

Eu esperava me estabelecer como o irmão mais velho legal; e não parecia que Paul seria respeitado.

A filha de Zenith recebeu o nome de Norn. A de Lilia foi chamada de Aisha.

 


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