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Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 01 – Cap. 06 – Razões para Respeitar

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Não saí de casa desde que cheguei a este mundo. Depois de certo momento, foi por opção minha.

Estava com medo.

Quando cheguei até o quintal e olhei para o além-mundo, as lembranças voltaram à minha mente: justo as daquele dia. A dor nas minhas costelas. O frio da chuva. O arrependimento. O desespero. A dor por ser atropelado por aquele caminhão.

Foi tão vívido que parecia ter acontecido tudo no dia anterior. Minhas pernas chegaram a tremer.

Podia olhar pela janela. Podia ir até o quintal. Mas não conseguia ir além. E eu sabia o porquê.

Essa paisagem pastoral, serena, que se estendia diante de mim poderia se transformar no inferno em um instante. O cenário parecia tão pacífico, isso jamais me aceitaria.

Na minha velha vida, sentado em casa, frustrado e excitado, fantasiava sobre o Japão de repente acabar envolvido em uma guerra. E então imaginava uma garota gostosa algum dia aparecendo e pedindo por um lugar para ficar. Eu sabia que, se isso acontecesse, aceitaria o desafio.

Essa fantasia era meu modo de fuga da realidade. Sonhei tantas vezes com isso. Naqueles sonhos, eu não era o maioral ou coisa do tipo – era só um cara normal. Só um cara normal, fazendo coisas normais, vivendo uma vida normal.

Mas então, acordava do sonho. Temia que, se desse um passo para fora de minha casa, também acordaria do sonho que estava vivendo. Acordaria e me encontraria de volta naquele momento de esmagador desespero, sendo atingida por inúmeras ondas de arrependimentos.

Não. Isso não era um sonho. Parecia real demais. Talvez poderia ser dito que era um VRMMORPG1MMORPG em Realidade Virtual., mas – não. Isso é real, disse a mim mesmo. Sabia que era. Real, e não um sonho.

Entretanto, ainda não consegui dar um passo para fora de casa.

Por mais que tentasse me tranquilizar, por mais que prometesse essas coisas a mim mesmo em voz alta, meu corpo não obedecia.

Eu queria chorar.

 

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A cerimônia de graduação aconteceria fora da vila, informou-me Roxy.

Protestei educadamente:

— Lá fora?

— Sim, nos arredores da vila. Já até preparei o cavalo.

— Não podemos fazer isso dentro de casa?

— Não, não podemos.

— Não podemos mesmo? — Eu estava perdido. Intelectualmente, sabia que um dia precisaria me aventurar pelo além-mundo. Entretanto, meu corpo se recusou a obedecer. Ainda se lembrava muito bem de tudo.

Lembrava da minha velha vida. De ser espancado por punks. Ser exposto ao ridículo. Experienciando o ato de tremer de desgosto. Não tendo nenhuma escolha além de se trancar.

— Por que, qual o problema? — perguntou Roxy.

— Um, bem, é só que… pode ter monstros ou algo assim por aí.

— Ah, não vamos encontrar nenhum deles por essas bandas, desde que não cheguemos perto demais das florestas. E mesmo se chegarmos, são fracos o suficiente para eu cuidar de tudo sozinha. Caramba, até você provavelmente poderia lidar com eles. — Roxy franziu a testa, questionando minhas ações e minha hesitação por não querer sair. — Ah, é isso, lembro de ter ouvido… Você nunca saiu de casa, não é, Rudy?

— É, não…

— É porque tem medo do cavalo?

— N-não, eu não… não tenho tanto medo de cavalos. — Na verdade, até gostava deles.

Cheguei até a jogar Derby Stallion2Um dos primeiros videogames de corrida de cavalos que saiu. e tudo mais.

— Hehe. Ah, então é isso — disse Roxy. — Acho que às vezes vocês se comporta de modo adequado à sua idade.

Ela entendeu completamente errado, mas eu não sabia o que dizer sobre meu medo de sair de casa. Seria ainda mais humilhante do que falar que tinha medo de cavalos. E ainda havia o meu senso de orgulho – meu minúsculo senso de orgulho fora da realidade.

Realmente, tudo que queria era não ter uma garota tão legal quanto ela tirando sarro de mim.

Ainda não me movi.

— Acho que então não tenho outra escolha — disse Roxy. — Hyup! — E me pegou e jogou por cima do ombro.

Bwuh?!

— Quando você subir no cavalo, todos seus medos desaparecerão, prometo.

Não resisti. Parte de mim estava em conflito com o que estava acontecendo, mas a outra parte parecia que aceitava ser levada para longe.

Roxy me colocou sobre o cavalo e subiu atrás de mim. Pegou as rédeas, puxou-as e o animal saiu correndo, deixando a casa para trás.

 

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Foi a primeira vez que fui além do quintal. Roxy lentamente guiou pela vila. De vez em quando, os aldeões lançavam olhares afiados e descarados na minha direção.

Ah, por favor, não, pensei. Aqueles eram os mesmos olhares assustadores de sempre – especialmente aquele brilho de superioridade zombeteira que já conhecia tão bem. Não viriam me abordar adotando um tom sarcástico e condescendente… não é? Nem me conheciam. Como poderiam? As únicas pessoas que me conheciam neste mundo inteiro eram as daquela minúscula casinha.

Então, por que estavam olhando para mim? Parem de me encarar, resmunguei comigo mesmo. Voltem ao trabalho.

Mas – não. Não era para mim que olhavam.

Era para Roxy.

Percebi que algumas pessoas da cidade até se curvavam para ela. Então percebi: Roxy fez seu nome na aldeia, mesmo com o considerável preconceito que este reino tinha por demônios. E nós estávamos no interior, então essas atitudes ficavam ainda mais evidentes. No curto espaço de dois anos, ela se tornou alguém para quem alguns aldeões estavam dispostos a se curvar.

Percebendo isso, senti o quão confiável a presença dela tinha se tornado. Ela claramente conhecia o caminho e também as pessoas pelas quais estávamos passando. Se alguém tentasse me dizer algo, tinha certeza de que interviria.

Cara, como aquela garota espiando as peripécias noturnas de meus pais conseguiu se tornar uma pessoa tão estimada? A tensão deixou meu corpo após pensar nisso.

— Caravaggio está de bom humor — disse Roxy. — Parece feliz por você estar montando, Rudy.

Caravaggio era o nome do cavalo. Eu não tinha nem ideia de como identificar o humor de um animal.

— Ah, certo — falei vagamente, descansando no corpo de Roxy, seus modestos peitos estavam pressionados na parte de trás da minha cabeça. Tão bom.

Mas do que eu tinha medo? Por que alguém nesta vila tranquila iria zombar de alguma coisa?

Mas a voz de Roxy me tirou de meus pensamentos.

— Você ainda está com medo?

Balancei a cabeça. Os olhares dos aldeões não me assustavam.

— Não, estou bem.

— Viu? E o que eu disse?

Agora que tinha encontrado um pouco de compostura, consegui absorver por completo tudo que estava ao meu redor. Campos se espalhavam até onde eu podia ver, com casas localizadas aqui e acolá. Definitivamente passava a sensação de ser uma vila agrícola.

Muito mais longe, havia mais algumas casas. Se estivessem mais próximas, poderia considerar como uma cidade. Tudo o que precisava era de um moinho de vento e ficaria parecido com a Suíça, ou algo do tipo.

Na verdade, não tinham também moinhos de água?

Agora que relaxei, notei como as coisas estavam calmas. Nunca foram tão calmas quando eu e Roxy estávamos juntos. Mas também nunca ficamos realmente tão juntos e sozinhos. O silêncio não era ruim, sério; só um pouco estranho.

Então, decidi acabar com isso.

— Senhorita Roxy, o que eles cultivam nesses campos?

— Principalmente trigo asurano, usado para fazer pão. Provavelmente umas flores Vatirus e alguns vegetais também. Na capital, as flores Vatirus são transformadas em perfume. O resto é algo que você já cansou de ver na mesa durante as refeições.

— Ah, sim, vi até algumas pimentas! Você não pode comer elas, Senhorita Roxy?

— Não é que eu não possa comer, é só que não gosto muito.

Continuei fazendo perguntas do tipo. Hoje, de acordo com Roxy, seria meu exame final – o que significaria o fim de seu papel como minha tutora. E, sabendo o quão impaciente ela poderia ser, poderia acabar deixando minha casa logo na manhã seguinte. Se fosse esse o caso, era nossa última chance para passar algum tempo juntos. Imaginei que deveríamos conversar enquanto ainda podíamos.

Infelizmente, não consegui encontrar um bom assunto para a conversa, então acabei fazendo várias perguntas sobre minha aldeia.

De acordo com Roxy, morávamos em Buena Village, localizada na Região de Fittoa, na parte nordeste do Reino Asura. Atualmente, havia mais de trinta famílias alocadas, trabalhando nas terras agrícolas. Meu pai, Paul, era o cavaleiro designado para o local. Seu trabalho era vigiar os habitantes da cidade para garantir que estavam trabalhando direito, julgar quaisquer disputas e proteger a vila do ataque de monstros. Em suma, era basicamente um guarda aprovado pelo público.

Dito isto, os jovens da vila se revezavam na guarda, então Paul passava a maior parte de suas tardes em casa, depois das rondas matinais. A nossa vila era bastante pacífica, então tinha pouco trabalho a fazer.

Enquanto Roxy me contava essas coisas, os campos de trigo começaram a sumir. Parei de fazer perguntas e o silêncio voltou a perdurar por algum tempo. O resto de nossa jornada tomaria aproximadamente mais uma hora.

Logo, os campos desapareceram por completo, deixando-nos viajar por enormes prados vazios.

 

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Continuamos nosso caminho pelas planícies, rumo ao distante horizonte.

Não – ligeiramente, bem longe, podia ver montanhas. Bem, isso era algo que não podia ver no Japão. Lembrou-me das estepes da Mongólia, que vi em um livro de geografia ou coisa do tipo.

— Aqui deve estar bom — falou Roxy, parando o cavalo ao lado de uma árvore solitária. Ela desmontou e amarrou as rédeas na árvore.

Então, me pegou e me ajudou a descer, deixando-nos cara a cara.

— Vou lançar um ataque de Água de nível Santo, o feitiço Cumulonimbus — disse. — Isso vai criar trovões e provocará uma chuva torrencial em uma grande área.

— Certo.

— Por favor, siga minhas ações e tente lançar o feitiço.

Eu iria usar magia de Água do nível Santo. Agora tinha entendido: Este era o meu exame final. Roxy usaria o feitiço mais poderoso de seu repertório, e se eu pudesse usá-lo também, significaria que me ensinou tudo o que podia.

— Para fins de demonstração, vou desfazer o feitiço depois de um minuto. Se você puder manter a chuva caindo por, vejamos… pelo menos uma hora, digamos, estará aprovado.

— Viemos tão longe, a um lugar sem ninguém, porque isso envolve ensinamentos secretos? — perguntei.

— Não, viemos porque o feitiço pode ferir os outros ou causar danos às plantações.

Uau. Uma chuva tão forte que poderia danificar as plantações? Isso parecia incrível.

— Então, agora. — Roxy levantou as duas mãos para o céu. — Ó, espíritos das magníficas águas, suplico ao Príncipe do Trovão! Realizem meu desejo, abençoem-me com sua selvageria e revele a esta serva insignificante um vislumbre de seu poder! Que o medo assole o coração do homem, enquanto vosso martelo divino bate na bigorna e cobre a terra de água! Venha, ó chuva, e lave tudo com teu dilúvio de destruição – Cumulonimbus!

Ela entoou constante, lenta e propositalmente. Levou pouco mais de um minuto para concluir seu encantamento.

Um momento depois, tudo ficou escuro. Por alguns segundos, não aconteceu nada; então, uma chuva forte começou a cair. Um vento terrível rugiu, acompanhado por nuvens negras que tremeluziam com raios. Em meio às chuvas torrenciais, o céu começou a ribombar, e uma luz roxa atravessou as nuvens. A cada novo vislumbre de luz, surgia um raio ainda mais poderoso. Era quase como se a luz, por si só, estivesse tomando um peso palpável, crescendo e se dilatando, pronta para ir… abaixo.

Um raio atingiu a árvore bem ao nosso lado. Meus tímpanos tremeram e minha visão ficou dolorosamente turva.

Roxy soltou um grito alarmado quase na mesma hora. Momentos depois, as nuvens se dispersaram, a chuva e os trovões cessaram rapidamente.

— Ah, não… — murmurou Roxy enquanto corria até a árvore, seu rosto pálido.

Quando minha visão voltou ao normal, vi que o cavalo caíra, fumaça subia por todo o seu corpo. Roxy colocou as mãos no animal e rapidamente começou a entoar:

— Ó, deusa da maternal afeição, feche as feridas e restaure o vigor de seu corpo – Cura-X!

O cântico de Roxy parecia perturbado, mas em pouco tempo o cavalo reagiu.

Não devia ter chegado tão perto da morte: só a meio passo dela.

Não era como se feitiços de cura pudessem trazer os mortos de volta à vida.

O cavalo parecia alarmado e suor escorria pela testa de Roxy.

— Nossa! Essa passou perto!

Sim, eu diria que passou bem perto. Esse era o único cavalo da minha família! Paul diligentemente cuidava dele todos os dias e de vez em quando fazia viagens longas, sempre com um sorriso brilhante no rosto. Não tinha uma raça particularmente especial, nem nada do tipo, mas meu pai e esse cavalo passaram por muita coisa juntos ao longo dos anos. Não seria demais dizer que, depois de Zenith, a coisa mais amada por ele era o cavalo. Era esse o nível de importância.

Claro, depois de passar os últimos dois anos morando conosco, Roxy também sabia disso. Mais de uma vez a vi espiando Paul e o cavalo com um rosto fascinado, apenas para depois se afastar.

— Poderíamos, ah, poderíamos por favor manter isso em segredo? — perguntou Roxy, seus olhos estavam cheios de lágrimas.

Ela era uma desastrada. Arranhões e quase acidentes como esse eram ocorrências comuns em seus dias. Ainda assim, dava tudo de si. Eu sabia que ficava acordada até tarde todas as noites, só para planejar minhas lições, e sabia que se esforçava ao máximo para manter um ar de dignidade, para que as pessoas não pensassem menos dela por sua tenra idade.

Gostava disso nela. Se não fosse por nossa diferença de idade, iria querer que nos casássemos.

— Não precisa se preocupar — falei. — Não vou contar para o meu pai.

Os lábios dela tremeram.

— Por favor, não faça isso.

Apesar de estar à beira de lágrimas, Roxy rapidamente balançou a cabeça, deu um tapa nas próprias bochechas e recuperou a compostura.

— Muito bem, Rudy. Vá em frente e tente. Cuidarei da segurança de Caravaggio.

O cavalo ainda parecia assustado, pronto para fugir a qualquer momento, mas Roxy entrou na frente dele, bloqueando o caminho com seu corpo minúsculo. Certamente não poderia dominar o animal com facilidade, mas, pouco a pouco, a criatura nervosa ficou mais dócil. Ela manteve sua posição e murmurou um encantamento bem baixinho.

Ambos foram engolidos por uma parede de terra, que se transformou em uma cúpula de terra não muito diferente de um iglu. Era o feitiço de terra de nível Avançado, Fortaleza de Terra. Isso devia ser o suficiente para mantê-los a salvo da tempestade.

Muito bem. Era a minha vez. Eu me demonstraria tão incrível que explodiria a mente de Roxy.

Mas qual era o encantamento mesmo? Ah, sim.

— Ó, espíritos das magníficas águas, suplico ao Príncipe do Trovão! Realizem meu desejo, abençoem-me com sua selvageria e revele a este servo insignificante um vislumbre de seu poder! Que o medo assole o coração do homem, enquanto vosso martelo divino bate na bigorna e cobre a terra de água! Venha, ó chuva, e lave tudo com teu dilúvio de destruição – Cumulonimbus!

Soltei as palavras sem parar sequer para respirar, e as nuvens começaram a ondular e inchar.

Agora tinha entendido a natureza do feitiço Cumulonimbus: além de conjurar nuvens no céu, simultaneamente teria que lidar com uma complexa série de movimentos para transformá-las em nuvens de trovões – ou algo do tipo. Teria que canalizar a magia continuamente, para o feitiço ou as nuvens não pararem de se mover ou se dissiparem. Deixando a magia de lado, seria horrível ter que ficar com as duas mãos levantadas por mais de uma hora.

Espera, não. Calma lá. Magos deviam ser criativos. Não precisariam manter uma pose assim por uma hora para fazer as coisas. Eu tinha que lembrar: Isso é um teste. Não deveria ficar parado por uma hora; depois de criar as nuvens, precisava usar algum tipo de Magia Combinada para manter o feitiço ativo.

Era a hora da verdade. Precisava colocar em prática tudo que aprendi.

— Certo, acho que lembro de ter visto isso na televisão uma vez. Então, quando as nuvens ainda estão se formando…

Algumas das nuvens que Roxy criara ainda remanesciam. Se bem lembrava, poderia conjurar um turbilhão de ar acima e aquecer o ar abaixo, criando uma corrente ascendente. E então, se esfriasse o ar acima da corrente ascendente, aumentaria a velocidade e…

Ao fazer tudo isso, acabei queimando metade das minhas reservas mágicas. Entretanto, fiz o que pude. Agora só tinha que ver se iria durar uma hora. Satisfeito, voltei para a cúpula que Roxy havia criado, a chuva caía enquanto um trovão retumbava pelos céus.

Roxy sentou-se contra a parede, as rédeas do cavalo bem seguras em suas mãos. Ao me ver, deu um pequeno aceno com a cabeça.

— Esta cúpula vai cair em cerca de uma hora — falou —, então ficaremos bem, desde que meu cálculo esteja certo.

— Tudo bem.

— Não se preocupe. Caravaggio vai ficar bem.

— Certo.

— Bem, se está tudo certo, volte para fora. Você precisa controlar as nuvens de tempestade por uma hora, lembre-se.

Hein?

— Controlar elas?

— Hmm? Bem, sim. O que há de tão estranho nisso? — perguntou Roxy.

— É só que… preciso controlar?

— Claro. Este é um feitiço mágico de Água de nível Santo, e se você não mantiver ele devidamente alimentado, suas nuvens vão se dissipar.

— Mas eu já tomei medidas para garantir que isso não vai acontecer — falei.

— Hein? Ah! — Roxy começou a sair correndo da cúpula, como se de repente tivesse percebido algo. Com isso, o iglu de terra começou a desmoronar.

Ei, você, lembre-se de controlar sua magia ou vai enterrar o cavalo vivo.

— Opa! — Roxy rapidamente recuperou o controle de seu feitiço, depois saiu. Ela olhou para o céu, surpresa. — Entendi! Você criou um turbilhão diagonal para empurrar as nuvens! — As nuvens cumulonimbus que criei ainda estavam crescendo, e pelo visto não iam parar.

Nada mal, se fosse para eu fazer algum comentário.

Há muito tempo, vi um especial na televisão, falava sobre a formação de supercélulas. Não lembrava dos detalhes, mas mantinha uma vaga impressão visual do processo. A partir disso, consegui criar algo suficientemente parecido.

— Rudy — disse Roxy —, você passou.

— Hein? Mas ainda não faz uma hora.

— Não precisa. Se você já pode fazer isso, é mais do que competente — respondeu. — Agora, então, pode fazer sumir?

— Hm, claro. Mas vai demorar um pouco. — Esfriei o chão de uma ampla área e depois esquentei o ar acima, a fim de criar uma corrente descendente, usando, no final, alguma magia de vento para espalhar as nuvens.

Quando terminei, eu e Roxy ficamos lá, ambos encharcados até os ossos.

— Parabéns — disse ela, agora você é um Santo da Água. — Roxy estava deslumbrante, com a mão afastando a franja molhada, e um raro sorriso no rosto.

 

 

 

Eu não tinha conquistado nada na minha vida passada. Mas fiz algo dessa vez. Assim que percebi, uma sensação curiosa brotou dentro de mim. E eu sabia o que era.

Era a sensação que vinha com a realização.

Pela primeira vez desde que cheguei a este mundo, senti como se realmente tivesse dado meu primeiro passo.

 

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No dia seguinte, Roxy estava na entrada de nossa casa com seu equipamento de viagem, era a imagem cuspida e escarrada daquela pessoa que chegara há dois anos. Minha mãe e meu pai também não pareciam muito diferentes. A única coisa que mudou foi que eu fiquei mais alto.

— Roxy — disse Zenith —, você é mais do que bem-vinda se quiser ficar. Ainda tenho muitas receitas que poderia te ensinar.

E Paul seguiu em frente.

— Certo. Seu papel como tutora particular pode ter chegado ao fim, mas estamos em dívida por sua ajuda durante a seca do ano passado. Tenho certeza de que os moradores ficariam felizes com você por perto.

Ali estavam meus pais, tentando impedir a partida de Roxy. Sem o meu conhecimento, aparentemente viraram bons amigos. O que fazia sentido; as tardes dela tinham uma enorme quantidade de tempo livre, e acho que gastava isso para melhorar seu círculo social. Ela não era apenas um interesse amoroso que encontrei em um videogame, cujas circunstâncias só mudavam quando o personagem principal fazia algo.

— Agradeço a oferta, mas temo não poder aceitar — respondeu. — Ensinar seu filho me fez perceber como ainda sou impotente, então vou sair e viajar pelo mundo por um tempo, quero aprimorar minha magia.

Ela ficou um pouco chocada por eu ter alcançado seu nível. E havia anteriormente dito que ter um aluno que excedia suas habilidades a deixava desconfortável.

— Entendo — disse Paul. — Suponho que isso é o que é. Lamento que nosso filho tenha abalado sua confiança em si mesma.

Ei! Não precisava colocar assim, pai!

— Ah, não — falou Roxy. — Sou grata por me mostrar como fui vaidosa.

— Eu dificilmente te chamaria de vaidosa, sendo que você é capaz de usar magia de Água do nível Santo — respondeu Paul.

— Mesmo se não pudesse, a engenhosidade do seu filho me mostrou que posso ser capaz de usar magias ainda melhores. — Fazendo careta, Roxy colocou a mão na minha cabeça. — Rudy, queria fazer mais por você, mas não tenho o que é preciso para te instruir melhor.

— Isso não é verdade. Você me ensinou todo tipo de coisa, Senhorita Roxy.

— Fico feliz em ouvir isso — disse ela. — Ah, e isso me lembra de uma coisa! — Enfiou a mão nas dobras de suas roupas, remexeu um pouco e puxou um pingente amarrado com um cordão de couro. Era feito de um metal que brilhava com uma luz verde, formando três lanças entrelaçadas. — Isso é para comemorar a sua graduação. Não tive muito tempo para pensar em algo, mas espero que seja o bastante.

— O que é isso?

— É um amuleto Migurd. Se encontrar algum demônio que te incomodar, mostre isso e mencione o meu nome, devem te deixar em paz… eu acho.

— Vou cuidar bem disso.

— Lembre-se, não estou garantindo nada. Não seja confiante demais.

Então, no final, Roxy mostrou um sorrisinho e partiu.

Antes que percebesse, estava chorando.

Ela realmente me forneceu tanto: sabedoria, experiência, técnica… Se nunca tivesse a conhecido, provavelmente ainda estaria fazendo o mesmo de antes, todo atrapalhado enquanto segurava Um Livro de Magia em uma mão.

Mas, mais do que tudo, ela me levou para fora.

Me levou para fora. Foi isso. Algo tão simples. Foi Roxy quem fez isso por mim. E isso significava algo. Ela, que chegou na vila há menos de dois anos. Ela, que parecia não se dar bem com estranhos. Ela, um demônio do qual os aldeões tiravam decisões precipitadas sem saber de nada.

Não Paul. Não Zenith. Foi Roxy quem me levou para fora, e isso significava algo.

Digo que ela me levou para fora, para o mundo, quando na verdade tudo o que fez foi me levar pelas redondezas. Ainda assim, a perspectiva de sair de casa definitivamente era traumática para mim, e Roxy me curou disso – simplesmente me levando até a vila. Isso foi o bastante para melhorar o meu ânimo. Ela não estava tentando me reabilitar, mas eu ainda consegui avançar graças às suas ações.

No dia anterior, após voltar para casa, encharcados, me virei para olhar o portão da frente e dei um passo além dele. E ali estava o chão. Apenas o chão e mais nada. Minhas ansiedades me deixaram.

Agora, era capaz de sair mesmo sozinho.

Roxy conseguiu fazer por mim algo que ninguém mais fez, nem mesmo os pais ou irmãos do velho eu. Foi ela quem fez isso por mim. Não me direcionou qualquer palavra dolorosa, só me encorajou.

Esse não era seu objetivo: eu sabia. Ela fez isso por si mesma, e eu também sabia disso. Mas a respeitava. Mesmo ela sendo tão jovem, a respeitava.

Prometi a mim mesmo que não iria desviar o olhar enquanto Roxy não desaparecesse de vista. Em minhas mãos, segurei firmemente a varinha e o pingente que ela me deu. Ainda tinha todas as coisas que me ensinara.

Então percebi: no meu quarto, ainda tinha também uma calcinha que roubei alguns meses atrás.

Sinto muito por isso, Roxy.

 


 

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