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Matador de Goblins – Vol. 11 – Cap. 05.1 – Matador de Goblins em um País de Areia

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— Eles se foram?

— Parece que sim.

Com essa garantia de Alta Elfa Arqueira, Matador de Goblins sentou-se na plataforma rochosa. Escorregadia com a chuva recente (a primeira em muito tempo, ele supôs), a rocha molhada e a areia se combinaram para criar um frio perceptível. A noite estava chegando. Tinha certeza de que estaria frio durante a noite.

Por mais claro que o ar pudesse estar, avistar o navio da areia ao longe não era tarefa fácil. Mesmo ao meio-dia, com o telescópio de couro e cristal que conseguiu, teria sido impossível para Matador de Goblins. Contudo, os olhos de um elfo superior podiam perceber tais coisas facilmente. O fato parecia ter passado despercebido para Alta Elfa Arqueira, que estava com as orelhas abanando como se esta fosse apenas mais uma tarefa.

Matador de Goblins e os outros escaparam da cidade sob a cobertura do crepúsculo e prosseguiram para o oeste, na areia. Um túnel subterrâneo chamado qanat que direcionava a água de irrigação para a superfície, onde corria como um rio que parecia um espelho; só precisavam segui-lo de volta à sua fonte.

Quando chegaram lá, o grupo descobriu a fortaleza do castelo erguendo-se como uma grande silhueta escura contra a noite. Erguia-se de forma magistral sobre um penhasco de rocha acima do rio. Em qualquer outro momento poderia ter sido lindo, mas neste, parecia perverso e vil.

— Toda esta área é uma hamada, pura pedra, então não vamos precisar de esconderijos — disse Anão Xamã, tomando um gole delicado de seu suprimento cada vez menor de vinho de fogo. Agora que o navio da areia havia passado, tiveram um momento para respirar. — Pessoalmente, não sei muito sobre navios do deserto, mas aquele certamente parecia chique o suficiente para um rei.

— O que significa que nossas informações não estavam erradas. — Lagarto Sacerdote lentamente se desenrolou de onde estava encurvado nas sombras das rochas, sua forma enorme se endireitando. — Parece que nosso querido primeiro-ministro está muito interessado nesta fortaleza e tem comprado muitos escravos.

— Ou talvez não — acrescentou em murmúrio, bebendo de um odre que parecia excessivamente pesado para algo que deveria estar cheio de um simples líquido. Era natural, no entanto. Dentro havia um queijo grosso feito de leite de búfala. Lagarto Sacerdote quase o apertou garganta abaixo, estalando os lábios e anunciando: — Doce néctar! — Seus olhos rolaram em sua cabeça enquanto saboreava a guloseima, então olhou para Comerciante Feminina.

Ela tinha a mão na espada de prata em seu quadril e estava agachada numa postura baixa; parecia muito como se tivesse algo que quisesse dizer.

— E como, se me permite perguntar, as coisas correram para você? — Lagarto Sacerdote perguntou.

Comerciante Feminina piscou, então disse com alguma satisfação:

— …Ouvi a mesma coisa. Estão levando de tudo para aquela fortaleza; recursos, armas, provisões, escravos. Porém…

— Sim?

— Porém, mesmo na cidade, ninguém parecia pensar se realmente haviam contratado mais soldados. — Comerciante Feminina continuou com um olhar de inquietação e todos ficaram em silêncio.

Havia muitas explicações possíveis. Por exemplo, talvez não fossem soldados, mas escravos que estavam lutando. Se a única intenção era dar-lhes lanças e enviar uma multidão deles correndo contra o inimigo, havia pouca diferença entre escravos e civis recrutados, mas Sacerdotisa teve a nítida impressão de que havia mais do que isso em ação. Quando olhou para a estrutura escura e imponente, sentiu aquele formigamento familiar no pescoço.

Ela não sabia se era uma espécie de revelação ou simplesmente uma ideia compulsiva. Contudo…

— …O ponto é que estão expandindo as operações lá — murmurou apenas essas poucas palavras, o vento úmido parecia carregá-las com a areia.

— Sim. — Matador de Goblins disse com um aceno de cabeça. — Essa pelo menos parece ser a conclusão provável.

Reunir informações não foi a única coisa que fizeram depois de se dividirem em três grupos na cidade. Todas as pistas que adquiriram desde que chegaram a este país apontavam para esta fortaleza. Os soldados se passando por bandidos. O fato de que esses mesmos soldados pareciam ser aliados de uma horda de goblins. Goblins que tinham recursos suficientes para sustentar montarias e equipamentos para muitos lutadores. Era uma força em grande escala.

No entanto, a morte pairava no deserto. Tempestades de areia, mantas da areia, o sol escaldante. Além da falta de comida e água.

Os Mirmidões também não ignorariam os goblins, provavelmente.

O mapa que receberam do capitão Mirmidão era incrivelmente detalhado e uma só olhada nele revelava tudo. Não havia nenhum lugar nesta área para um grupo tão grande de goblins se esconder. Mesmo bandidos ou uma força do Caos teriam achado difícil. Ainda mais um grupo de goblins impacientes e indisciplinados.

Então, onde estava o ninho deles?

— Assim, supõe-se que a chave para o segredo dos goblins deve estar em algum lugar naquela fortaleza — disse Lagarto Sacerdote.

— É impossível ter certeza. Não saberemos até chegarmos lá — respondeu Matador de Goblins puxando o pergaminho de papiro de sua bolsa. Alta Elfa Arqueira olhou para ele com grande interesse enquanto o desenrolava. — Que é isso aí?

— Plantas. — Ele respondeu. As examinou e então, ignorando completamente a exclamação de “Ah!” de Alta Elfa Arqueira, rasgou o papiro em pedaços e os jogou fora. O vento prontamente pegou os pedaços e os carregou.

— Ei, eu ainda estava olhando isso! — Alta Elfa Arqueira guinchou.

— Prometi que não o mostraria a mais ninguém e que, depois de o ler, o destruiria.

Alta Elfa Arqueira não teve nenhuma refutação, em vez disso se contentou com um bufo de desagrado. Um segundo depois, porém, suas orelhas ficaram em pé e estufou seu peito plano o máximo que podia.

— Tudo bem! Memorizei com apenas uma olhada!

— Entendi. — A resposta de Matador de Goblins foi tão suave como sempre, provocando Alta Elfa Arqueira a estufar as bochechas com um “Grr!”

— Calminha, calminha… — Sacerdotisa disse apaziguadora, mesmo enquanto sorria um pouco, se pegou refletindo sobre como estava acostumada a esse tipo de brincadeira. Naquela primeira missão juntos — e por algum tempo depois — ela tinha a tendência de entrar em pânico quando Anão Xamã e Alta Elfa Arqueira trocavam socos.

Mas é realmente um bom sinal. Isso significa que não estão muito nervosos.

O nervosismo faz o corpo ficar tenso. Perder a capacidade de fazer julgamentos instantâneos.

— Hmm… — Sacerdotisa murmurou para si mesma. Então perguntou: — Mas como vamos entrar? Vamos direto pela porta da frente?

— Com meu salvo-conduto, posso conseguir que me aceitem como mercadora… — ofereceu Comerciante Feminina, mas não parecia ter certeza. Franziu as sobrancelhas bem formadas, o polegar descansando contra o lábio enquanto se preocupava com a unha.

Lagarto Sacerdote continuou a ideia.

— Não se pode esperar que ofereçam a pessoas de fora, digamos assim, uma visita guiada às suas instalações. Especialmente forasteiros de um estado hostil.

Sim, havia esse problema. Isso era diferente de simplesmente marchar para uma toca de goblins. Este ninho era bem guardado.

Matador de Goblins pensou silenciosamente por um momento, então o capacete de metal virou-se para Lagarto Sacerdote.

— O que você acha?

— Se considerarmos as histórias de heróis lendários, encontramos uma em que alguns se fizeram passar por membros do exército inimigo.

— E conseguiram entrar?

— Parece que sim — disse Lagarto Sacerdote. — Inventaram uma situação e fingiram estar em circunstâncias desesperadoras para obter informações importantes para seus camaradas.

— Seja lá o que finjamos ser, convidados, soldados ou o que quer que seja, não será fácil chegar ao forte, eu acho. — Anão Xamã interveio, acariciando sua barba.

— De fato, de fato. E o pior é que o forte não é nosso objetivo… — Lagarto Sacerdote parecia ainda mais sério do que antes. O que precisavam agora eram planos, ideias e cartas para jogar. Precisavam que isso emergisse da discussão. Lagarto Sacerdote entendeu que quando um grupo estava fazendo um brainstorming, a pior coisa que alguém poderia fazer era derrubar a ideia de outro.

— E se nós fôssemos nos esgueirando? — Matador de Goblins perguntou com um grunhido. — Supondo que possamos.

— Isso seria o ideal — disse Lagarto Sacerdote, revirando os olhos. — Mas é uma questão de quão rigoroso é o guarda. — Ele bateu o rabo contra o chão, fazendo com que pequenas nuvens de areia saltassem no ar. — Isso é bom, chuva forte pode ser um presente dos céus.

— Sim, você está certo… — disse Sacerdotisa olhando para o céu. Até pouco antes, chovia tanto que ninguém acreditaria que fosse um deserto. Atrás da cortina de precipitação, uma pessoa teria sido quase invisível, não importa aonde fosse.

— Além disso, não consigo imaginar nenhum guarda goblin levando seu trabalho muito a sério… — acrescentou Sacerdotisa. Parecia hesitante, mas mais envolvida do que o normal.

Sim, se fosse de um ninho de goblins que estivessem falando, tudo teria sido muito simples, mas uma fortaleza? …Um castelo? Na mente de Sacerdotisa, não tinha certeza de qual era a diferença. Já entrou em mais de um desses lugares em seu tempo, mas…

Fogo, talvez…?

Não, não. Ela balançou a cabeça. Pode haver cativos lá dentro. Teriam que ter certeza antes de considerar o uso do fogo. De volta à estaca zero.

— Que tipo de soldados você acha que estão aí? — Sacerdotisa perguntou.

— Os que encontramos na fronteira não pareciam muito mais do que ladrões ou bandidos, não é? — Alta Elfa Arqueira disse, acenando com a mão em desdém. Não via razão para se preocupar demais com pessoas assim, mas não havia garantias de que todos os soldados naquela fortaleza fossem tão negligentes. Uma uva podre — ou duas ou três — não significava que todo o cacho estava podre.

— Certo… — Anão Xamã, que estava com uma expressão pensativa, finalmente parou de mexer em sua jarra de vinho e virou-se para Alta Elfa Arqueira. Suas orelhas recuaram quando registrou o sorriso desagradável em seu rosto.

Não pretendemos nos fingir de escravas de novo, Orcbolg! Não vai rolar! — Apontou um dedo adorável para ele enfaticamente enquanto se levantava. Estava claramente tentando cobrir Sacerdotisa e Comerciante Feminina também, mas Anão Xamã apenas deu de ombros.

— Er, se for realmente necessário, então eu poderia… — começou Sacerdotisa.

— …Eu também… — acrescentou Comerciante Feminina.

Contudo, a elfa superior retrucou: — Não, vocês não podem! Sei que falamos em vencer por todos os meios necessários, mas é melhor se pudermos vencer sem recorrer a qualquer meio! — Então, acrescentou baixinho: — Além disso, se deixássemos Orcbolg por conta própria, inventaria as piores coisas.

Isso, pelo menos, Sacerdotisa entendia na pele.

— Bem, você não está errada… — disse o mais evasivamente que pôde.

Mesmo confrontado com tais ordens e exigências, Matador de Goblins apenas disse o que sempre dizia: — É mesmo? — Não se importava em repensar suas ideias, o que era parte do motivo pelo qual todos o consideravam seu líder. Não havia hierarquia no grupo, mas a capacidade de olhar para todos e depois tomar uma decisão era uma qualidade importante. Grupos que simplesmente concordavam com o que seu líder dizia e nunca o questionavam não duravam muito.

Quando, finalmente, disse o que todos esperavam: — Tenho um plano! — O ouviram atentamente. Então se viraram para ver o que o capacete de metal de aparência barata estava olhando.

— …? — Comerciante parecia completamente perplexa. Atrás dela estava tudo o que havia trazido para fazer negócios e todos os pertences do grupo, tudo em um rebanho de burros encaroçados.

 

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— Eeeeeei! Abra! Abra o portããããoo!

A voz clara e insistente despertou o guarda cochilando do outro lado do portão do castelo. Ficou tão paralisado pela visão incomum da chuva torrencial que deve ter adormecido.

Merda. Se alguém descobrisse… Ele perderia a cabeça. Na verdade, isso pode ser o melhor que poderia esperar.

O soldado rapidamente pegou sua lança, espreitando uma porta de flechas no lado da fortaleza. Olhou na direção da pequena ponte em frente ao portão principal, então pensou que poderia engasgar. Pois ali estava uma jovem bela e refinada em algum traje estrangeiro em um estilo que nunca tinha visto antes. Estava conduzindo vários camelos e uma espada de prata brilhava em seu quadril. Era como se ela tivesse saído de um conto.

— Não me ouviu? Abra o portão! — A jovem repetiu em sua voz de comando.

O guarda ficou totalmente intimidado, mas gritou de volta com uma voz que esperava ser igualmente ameaçadora: — Q-quem ou o que é você?!

— Quem ou o quê?! Essa é a saudação mais rude que já ouvi na minha vida!

O guarda descobriu que essa repreensão doía mais do que ser repreendido por seu comandante. A jovem abriu os braços como se não pudesse acreditar que tinha que fazer isso, mas em sua mão exibia um salvo-conduto.

— Vim do país vizinho para fazer negócios. Também recebi permissão para estudar sua terra. Não me diga que não ouviu nada?

Antes que o soldado pudesse focar seus olhos na escuridão bem o suficiente para ter certeza do que ela estava segurando, a mulher guardou o passe. Suas roupas bem ajustadas que enfatizavam seu peito generoso atraíram o olhar do guarda. Ele engoliu em seco.

Então o guarda ouviu a voz de seu comandante atrás dele.

— O que está acontecendo? Há algo de errado? — Ele congelou. Ficou surpreso ao perceber, porém, que este homem, que sentia como um espinho nas costelas um momento atrás, de repente parecia uma presença tão reconfortante.

— Sim, senhor… quero dizer, não senhor… digo… — O guarda manteve uma atitude obediente, enquanto tentava impingir toda a responsabilidade ao oficial. — Há uma comerciante estrangeira lá fora, ou assim ela afirma, e eu… preciso de ordens, senhor!

— O que disse? — O oficial não esperava por isso.

Deuses, se não é uma coisa, é outra!

Seus subordinados eram idiotas e seu próprio oficial superior, o capitão, estava sempre colocando essas ideias em sua cabeça. Mude de estação. Troque os dormitórios. Inverta as rotas de patrulha. Agora havia uma visitante e ele não se dignou a contar a ninguém. Era problema de cabo a rabo, se não fosse por seus privilégios (era como o homem pensava sobre o roubo que fazia), não sabia como teria lidado.

O oficial fez o guarda sair do caminho e olhou ele mesmo pela portinhola de flechas. Quando viu a adorável jovem parada ali, percebeu que poderia descarregar nela algumas de suas frustrações. Ninguém poderia reclamar se ele fizesse seu trabalho, então faria seu trabalho ao pé da letra. Não era da sua conta o que poderia acontecer por causa disso. Se a jovem de aparência imperiosa se incomodasse por isso ou se aquele comandante repreensível visse seus planos frustrados por causa disso, bem, isso não seria grande coisa.

— Não, nós não ouvimos — disse o oficial. — Você só vai ter que esperar aí até que possamos verificar.

— Estou vendo você aí em cima! — A jovem nobre gritou. Ela parecia ter visto claramente através de seu pequeno plano. Sua voz era afiada como uma flecha quando disse: — Acha que pode sair dessa fingindo ignorância? Esta é uma questão de responsabilidade. Você, qual é o seu nome?

— Ahem, er, eu… Hrm?

— Não terei escolha a não ser relatar que tive de esperar porque você estava com preguiça de se manter atualizado sobre as últimas comunicações. — Em contraste com o oficial cada vez mais perturbado, a jovem soava cada vez mais calma. Sua voz era como uma tempestade. E assim como uma tempestade, só porque se acalmou não significa que acabou. — Vá em frente, verifique com seus superiores, envie um cavalo postal para a cidade, faça o que quiser.

Mas faça isso sabendo o que provavelmente acontecerá com sua cabeça como resultado, hein?

O oficial podia ver a jovem sorrindo, mesmo através da cortina da noite. Ele engoliu em seco. Olhou para o homem que estava de guarda, mas apenas se endireitou e tentou parecer subordinado. Independentemente do que acontecesse, esse guarda era tão provável quanto aquela garota de apontar o oficial como o responsável.

Malditos sejam os dois…

Em seu coração, o oficial amaldiçoou veementemente os deuses, o vento e os dados. Todavia, por mais que os amaldiçoasse, não melhoraria as coisas.

Abrir o portão e deixá-la passar ou não. A jovem estava ficando visivelmente mais irritada quanto mais esperava. Não havia como verificar quem ela era. O oficial cerrou os dentes.

— Por que está demorando tanto? Decida-se — exigiu a jovem, arrastando a terra irritada com a ponta das botas. Inspecionando mais de perto, o oficial pôde ver um homem alto e corpulento parado ao lado da jovem. Um felpubro… não, as mandíbulas que se projetavam do capuz sobre a cabeça eram inequivocamente as de um homem-lagarto.

Ela não estava sozinha. Claro que não. Se estivesse sozinha, poderiam ter sido capazes de lidar com ela de alguma forma.

O oficial odiava problemas como esse. Odiava ter que gastar tempo e esforço para lidar com as coisas. E acima de tudo, odiava ter a responsabilidade despejada sobre ele. Então havia outra consideração…

Pelo menos se cortarem minha cabeça, estará acabado. Mas, por favor, não me deixe acabar lá!

Por fim, pensando apenas em autopreservação, o oficial gritou: — Abram o portão!

— Sim senhor, abrindo o portão! — Seu subordinado disse alegremente e começou a trabalhar em uma roldana para levantar as portas levadiças duplas.

Ahh, que se dane!

Se a merda chegasse, ele simplesmente meteria o pé, pensou o oficial, deixando escapar um suspiro.

 

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— Obrigada — disse Comerciante Feminina, sorrindo, enquanto conduzia seus camelos pelo portão agora aberto. Quanto ao oficial da guarda que estava ali para acompanhá-la, seu rosto estava congelado em um olhar de profundo desgosto. Então ela colocou uma moeda de ouro na mão dele enquanto passava. Sabia como os negócios eram feitos aqui.

O oficial piscou momentaneamente surpreso, mas seu olhar suavizou um pouco, quase contra sua vontade. Os seres humanos eram movidos pela emoção, mas não sem referências ocasionais à motivação do lucro. Se uma pessoa serviu por muito tempo em algum lugar onde não pudesse esperar nenhum benefício ou ganho, é claro que ficaria ressentida.

Sei disso por experiência… Comerciante sentiu um gosto amargo no fundo da língua, mas sua educação nobre a ajudou a evitá-lo de mostrar em seu rosto. Se este lugar fosse mais próximo da cidade — se fosse realmente secreto — as coisas poderiam ter sido diferentes. Ou se fosse mais profunda ao lado do Caos, ironicamente, a disciplina poderia ter sido mais rígida, mas este homem ainda estava confiante de que poderia escapar da ira de seus superiores. Então era maleável.

De qualquer forma…

Foram as experiências de Comerciante Feminina nos palácios e lugares nobres do mundo que lhe permitiram fazer esses cálculos. Se apenas tivesse experimentado a vida como aventureira, provavelmente não teria sido tão tranquilo.

— A-ahem, permita-me mostrar-lhe o seu quarto, então… — disse o oficial relutantemente, mas Comerciante Feminina o deteve.

— Isso não será necessário. Como disse antes, a inspeção faz parte da minha atribuição. Se simplesmente passar o tempo todo no meu quarto, não saberei se meu investimento aqui me trará lucro. — Então deu a ele um pequeno sorriso que dizia: Eu sei o que quero. Posso ser sua aliada, mas não sou sua amiga.

Então havia ainda… O oficial ergueu os olhos e lá estava o enorme homem-lagarto parado atrás da jovem.

Exceto que não era um homem-lagarto, mas um guerreiro dragodente, convocado por uma oração profundamente sincera. Coberto com um manto e com uma arma para segurar, dando uma impressão convincente de um mercenário brutal. O que era engraçado, considerando que nas histórias de ninar que ouvia quando menina, essas criaturas eram apenas servos surpreendentemente frágeis de bruxos malignos.

Estranho como isso me parece agora.

Nunca teria sido capaz de enfrentar essa “batalha” sozinha. Forçando suas mãos e sua voz a não tremer, disse com firmeza:

— Portanto, talvez você possa me mostrar a guarnição em vez disso? Tenho certeza de que você deve ter pedido roupas de cama, vestimentas e comida.

— S-Senhora. Não é um lugar bonito…

— Em sinal de boa vontade, trouxe chá e lanches para todos os soldados, se é que me entende. — A mulher olhou incisivamente para a carga nos camelos. Isso daria ao pobre oficial a ideia conveniente de que, seja lá o que fosse, seria benéfico para ele.

— Er, ah, nós… estamos muito agradecidos, tenho certeza… Senhora?

— Primeiro, vou precisar de um lugar para amarrar esses burros encaroçados. Você tem um depósito? Ou talvez um curral? É por aqui?

Mesmo enquanto fazia a pergunta, Comerciante Feminina começou a andar com suas pernas finas.

Parecia ser algum tipo de nobre estrangeira. Uma investidora da fortaleza, no mínimo. Isso estava ficando cada vez melhor. E “chá e lanches”? A balança na mente do oficial oscilava loucamente entre o medo da maneira impertinente como a tratara e o bem em potencial que ela estava oferecendo a ele.

O efeito sobre ele — para não falar de seu subordinado — era óbvio quando o oficial corria atrás dela. As pessoas falam de “bons guardas” e “maus guardas”, mas as coisas eram mais simples do que isso.

Basta convencê-los de que precisam tomar uma decisão importante aqui e agora. Era o truque mais antigo do livro.

— Vocês terão que me perdoar, mas parece que precisarei de sua ajuda um pouco mais — disse Comerciante Feminina para os lamentáveis soldados, então ofereceu a eles seu sorriso mais arrebatador.

 

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Enquanto os soldados acima lutavam para dar à Comerciante Feminina a recepção que ela parecia merecer, ondulações apareceram no rio que corria, aparentemente tão largo quanto um mar, além da base do leito rochoso sobre o qual a fortaleza foi construída. A chuva agitava o rio e o turvava de lama, enquanto a noite acrescentava seu toque negro como tinta. Ninguém notou as ondulações ou a mão que se estendeu e agarrou a face da rocha.

Uma linda jovem elfa surgiu. Mesmo que alguém a tivesse visto, não teriam acreditado em seus olhos. Especialmente quando ela, com um chute, pulou nas pedras, pousando orgulhosa.

— …Tudo limpo. Não sinto ninguém por perto — disse com um movimento de suas longas orelhas. — Subam.

Após um pouco mais de respingos, alguns aventureiros apareceram. Eles não pareciam nem um pouco molhados, apesar do fato de terem acabado de ficar debaixo d’água; nem pareciam estar ofegantes. Alta Elfa Arqueira estendeu a mão e ajudou primeiro Matador de Goblins, depois Anão Xamã, então Sacerdotisa. Finalmente, Lagarto Sacerdote emergiu com a maior ondulação de todas, dizendo “Perdoem-me” enquanto cravava suas garras na rocha e subia.

— Meu Deus, nunca teria acreditado que um deserto pudesse inundar. — Anão Xamã sacudiu-se como um grande cão e pousou pesadamente nas rochas, enrolando-se. O poder de Respirar, conforme planejado, os manteve secos, mas talvez ele ainda não se sentisse seco.

— Pode ser inteligente manter um desses por perto… — Sacerdotisa, por sua vez, estava imersa em pensamentos. Gostava de pensar que não era muito apegada ao dinheiro, mas ainda assim. Se realmente quero ser a melhor aventureira que puder… Bem, talvez um ou dois itens mágicos não sejam ruins. Talvez quando alcançasse Safira, a sétima classificação.

— Só para esclarecer, a escolha de equipamento desse esquisito não é típica.

— Er. — Sacerdotisa soluçou de surpresa. Alta Elfa Arqueira parecia saber o que ela estava pensando. A elfa estava franzindo a testa abertamente, o que incomodou um pouco Sacerdotisa que pensou como este anel tinha sido bem útil em mais de uma ocasião.

— Mantenho o que disse. — A elfa superior repetiu, então se virou para Matador de Goblins. — Então, o que vem agora?

— Nós nos esgueiramos.

— Fica a pergunta: Como? — Matador de Goblins parecia tão certo sobre isso, mas Alta Elfa Arqueira apenas o encarou com um olhar. Ele grunhiu sob aquele capacete, então tateou no escuro, movendo-se ao longo da face da rocha.

— Inicialmente, considerei entrar por seja lá onde for que os banheiros saiam.

— Urgh — resmungou Alta Elfa Arqueira, claramente esperando ser poupada desse destino. Talvez estivesse olhando para as tábuas que sustentavam a fortaleza onde se projetava acima de suas cabeças.

— Mas seria uma tolice se a passagem se estreitasse parcialmente e ficássemos presos.

— Bem, pelo menos Orelhas Compridas não precisa se preocupar com isso. Sendo uma bigorna como é — disse Anão Xamã, então teve que conter sua própria risada.

Alta Elfa Arqueira rosnou para ele e Sacerdotisa olhou com o rosto vermelho para sua própria estrutura modesta.

— Fale por você, anão! — Alta Elfa Arqueira estalou. — Talvez eu consiga, mas com certeza você ficaria preso, sendo roliço como um barril!

— Sem falar que nunca se sabe quando pode haver necrófagos em um banheiro — disse Anão Xamã, ignorando totalmente Alta Elfa Arqueira. Então sorriu maldosamente e olhou para Alta Elfa Arqueira. — Não abriria aquela porta se eu fosse você, Orelhas Compridas. Nunca se sabe se pode haver uma lesma gigante comedora de cadáveres lá dentro.

— Você acabaria esmagado se entrasse lá sozinho. — Hmph. Alta Elfa Arqueira bufou, mas pareceu mais ou menos satisfeita. Essa foi a última de suas objeções.

Sacerdotisa não conseguia ver o que Matador de Goblins estava procurando, mas todo mundo parecia conseguir.

— Aqui está! — Ele disse, sua mão enluvada segurando um portão embutido na rocha. Sacerdotisa inclinou-se cuidadosamente para vê-lo; descobriu o que parecia ser a porta de uma cela de prisão. Tinha uma fechadura elegante e dobradiças limpas, sugerindo que deveria abrir e fechar em vez de permanecer fixa no lugar. Só uma coisa a incomodava: A fechadura não tinha buraco para chave, pelo menos não do lado de fora.

— Esta não é… uma porta normal, é? — Sacerdotisa questionou. — Ela leva direto para a água de qualquer maneira.

— Normal? Sim e não. Pode-se concebivelmente usar tal palavra para descrevê-la… — Lagarto Sacerdote sussurrou jovialmente, revirando os olhos em diversão. Esticando a língua, colocou uma mão com garras na fechadura. — De qualquer forma, acredito que este é o momento de nossa patrulheira brilhar.

— Sim, claro, mas esta não é minha classe principal, ok? Saiam do caminho. — Alta Elfa Arqueira deslizou para a frente e os outros saíram do caminho para onde a elfa estava. Ela passou um braço fino entre as barras, dobrou o pulso e inseriu um galho fino como uma agulha no buraco da fechadura. — Argh, cara, que merda — resmungou.

— Pare de choramingar — repreendeu Anão Xamã. — Se tiver muitos problemas, vamos simplesmente arrombar. Então relaxe, relaxe!

— Você parece um pouco relaxado demais! — Alta Elfa Arqueira respondeu com um sopro de bochechas nada apropriado para um elfo superior, mas após um breve momento, assentiu. — Aqui. Consegui. Vamos lá. — A fechadura se abriu com um clique e ela a segurou no ar, empurrando alegremente a porta destrancada.

Um passo para dentro e era como uma caverna sombria. O chão tinha sido alisado e esculpido quase como lajes, mas estava claro que este túnel havia sido escavado acima da rocha. Pedras grandes despontavam aqui e ali, fazendo Anão Xamã fungar com indignidade. Os anões nunca teriam feito um trabalho tão bruto.

— Embora não seja ruim para alguns humanos, eu acho. Admiro o esforço, mas…

— Urgh… — Ele foi interrompido por um gemido de Alta Elfa Arqueira, que assumiu a liderança.

Dentro do túnel, a brisa fresca que soprava do rio foi substituída por um odor fétido. Parecia ser o cheiro de alguém apodrecendo em vida, misturado com todo tipo de imundície. Quase parecia o fedor da própria morte.

— Não posso esperar algo muito melhor de uma prisão, suponho — disse Anão Xamã. — Não foi feito para ser um lugar feliz.

Houve um barulho e Sacerdotisa percebeu que a coisa pesada que acabara de roçar em seus tornozelos era um conjunto de correntes e algemas. Ela recuou, apenas para se encontrar cercada por uma rocha saliente. Não teve escolha a não ser ficar imóvel e se encolher o máximo possível enquanto esperava seus olhos se ajustarem à escuridão.

Anão Xamã falou novamente: — Parece que só vai para um lado. Faz sentido, eu acho.

— Sim. — Matador de Goblins respondeu brevemente, então tirou uma tocha de sua bolsa de itens e bateu uma pederneira nela. Houve um fwoosh e um brilho de luz laranja, descobriram que estavam realmente dentro de uma prisão esculpida na pedra. Estacas foram marteladas nas paredes com correntes presas a elas. Entretanto, o que realmente chamou a atenção de Sacerdotisa foi um espaço bem acima de tudo que parecia uma prateleira.

Era o degrau de uma escada esculpida na rocha que se estendia desde a prisão. Porém, que não levava a lugar nenhum; em vez disso, conduzia a várias vigas de madeira. Além das vigas — abaixo delas — havia um espaço vazio, preenchido apenas por algumas cordas de palha penduradas…

— Ah… — disse Sacerdotisa, juntando as peças. — Enforcaram os prisioneiros nessas barras…?! — Então descartaram os corpos. Não conseguiu dizer esta última parte em voz alta; sentiu sua garganta fechar.

— Qualquer castelo terá algo assim. Ainda mais se for perto de um lago ou rio. — Lagarto Sacerdote estava tentando confortá-la. Ele juntou as mãos em um gesto estranho. Um instante depois, Sacerdotisa juntou as próprias mãos com alguma incerteza e ofereceu uma breve oração. Para Lagarto Sacerdote, talvez parecesse um enterro adequado que os corpos fossem lavados para serem comidos pelos peixes. Sacerdotisa não conseguia se conformar com a ideia, mas, de qualquer forma, rezaram pelo repouso dos falecidos.

Enquanto os dois clérigos intercediam pela paz dos mortos com suas respectivas fés, Matador de Goblins examinava o chão. Pilhas de excremento, talheres, tudo seco: Se os prisioneiros não tivessem morrido de fome, os utensílios certamente não dariam sinais de terem sido usados.

— Acho que este lugar não foi ocupado por algum tempo — declarou Matador de Goblins.

— Bem, com certeza não há ninguém aqui agora — respondeu Alta Elfa Arqueira. — Os humanos são tão cruéis. Vocês dificilmente vivem por um século, mas vão prender as pessoas a maior parte desse tempo.

— É punição — disse Matador de Goblins suavemente por baixo do visor, balançando a cabeça. — Mas o que está acontecendo não é uma punição, mas uma sentença de morte.

Em todo caso, ele contava que não haveria prisioneiros. Isso significava que não haveria guardas. Esperaram o suficiente para que Comerciante Feminina  tivesse a maioria dos soldados na palma da mão. No entanto, ela só seria capaz de mantê-los assim por algum tempo.

Matador de Goblins parou na frente da pesada porta de ferro que separava a prisão do castelo propriamente dito e perguntou: — O que você acha?

Alta Elfa Arqueira, com quem estava falando, deu uma olhada na porta e estalou a língua com tanta elegância que era quase uma obra de arte.

— Não vai rolar, acho que não. Mesmo se conseguisse, levaria muito tempo.

— Sim, é claro. — Matador de Goblins assentiu com a cabeça e deu um tapinha nos selos da porta com a mão enluvada. — E as dobradiças, então?

— Isso é assunto dos anões — disse Anão Xamã, aproximando-se e cuspindo nas palmas das mãos. — Um momento, por favor.

O “um momento” acabou durando pouco mais de dois minutos e a porta estava fora do caminho. Seria ridículo tentar esse tipo de coisa numa masmorra ou em algumas ruínas antigas, mas não era onde estavam. Há um tempo e um lugar para cada ideia, com todas as suas vantagens e desvantagens. Como retirar a porta era, neste caso, melhor do que arrombar a fechadura, os aventureiros não hesitaram.

— …

Então uma grande abertura escura se abriu diante deles. Sacerdotisa não conseguia parar de pensar que parecia uma toca de goblins.

 

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Tradução: NERO_SL

Revisão: ZhX

 

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